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ALIENAÇÃO


FEUERBACH - MARX - CHAUÍ
CIDADÃO
(Zé Geraldo/Lúcio Barbosa)


Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
e me diz desconfiado, tu tá aí admirado
ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
eu nem posso olhar pro prédio
que eu ajudei a fazer
CIDADÃO
(Zé Geraldo/Lúcio Barbosa)


Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
por que que eu deixei o norte
eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
mas o pouco que eu plantava
tinha direito a colher
CIDADÃO
(Zé Geraldo/Lúcio Barbosa)


Tá vendo aquela igreja moço? Não deixei nada faltar
Onde o padre diz amém Hoje o homem criou asas
Pus o sino e o badalo e na maioria das casas
Enchi minha mão de calo Eu também não posso entrar
Lá eu trabalhei também Fui eu quem criou a terra
Lá sim valeu a pena enchi o rio fiz a serra
Tem quermesse, tem novena Não deixei nada faltar
e o padre me deixa entrar Hoje o homem criou asas
Foi lá que Cristo me disse e na maioria das casas
Rapaz deixe de tolice Eu também não posso entrar
não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
enchi o rio fiz a serra
ALIENAÇÃO

A alienação é o fenômeno pelo qual os homens
criam ou produzem alguma coisa, dão
independência a essa criatura como se ela
existisse por si mesma e em si mesma, deixam-
se governar por ela como se ela tivesse poder
em si e por si mesma, não se reconhecem na
obra que criaram, fazendo-a um ser-outro,
separado dos homens, superior a eles e com
poder sobre eles.
ALIENAÇÃO RELIGIOSA

Os humanos projetam fora de si um ser superior dotado
das qualidades que julgam as melhores: inteligência,
vontade livre, bondade, justiça, beleza, mas as fazem
existir nesse ser superior como superlativas, isto é, ele é
onisciente e onipotente, sabe tudo, faz tudo, pode tudo.
Pouco a pouco, os humanos se esquecem de que foram
os criadores desse ser e passam a acreditar no inverso,
ou seja, que esse ser foi quem os criou e os governa.
Passam a adorá-lo, prestar-lhe culto, temê-lo. Não se
reconhecem nesse Outro que criaram.
ALIENAÇÃO RELIGIOSA

Por isso, aqui se aplica sem qualquer restrição a seguinte proposição: o
objecto do sujeito não é outra coisa senão a essência objectivada do próprio
sujeito. Tal como o homem é objecto para si, assim Deus é objecto para ele;
tal como pensa, tal como sente, assim é o seu Deus . Tal o valor que o
homem tem, assim o valor - e não mais -.que o seu Deus tem. A consciência
de Deus é a consciência de si do homem, o conhecimento de Deus o
conhecimento de si do homem.** Pelo seu Deus conheces o homem e; vice-
versa, pelo homem conheces o seu Deus; é a mesma coisa. O -que para o
homem é Deus, isso é o seu espírito, a sua alma, e o que para o homem é o
seu espírito, a sua alma, o seu coração, isso é o seu Deus: Deus é o interior
revelado, o si-mesmo do homem expresso, a religião é o desvendamento
festivo dos tesouros escondidos do homem, a confissão dos seus
pensamentos mais íntimos, a proclamação pública dos seus segredos de
amor.
ALIENAÇÃO RELIGIOSA

A religião, peIo menos a cristã, é a atitude do homem
para consigo mesmo, ou melhor, para com a sua essência,
(a saber, subjectiva)* , mas uma atitutide para com a sua
essência como se fosse uma essência diferente. A essência
divina nada é senão a essência senão a essência humana,
ou melhor, a essência do homem purificada, liberta das
limitações do homem individual ** , objectivada [49], isto
é, intuída e adorada como uma essência própria,
diferente, distinta dele - todas as determinações da
essência divina são; por isso, determinações humanas.
(FEUERBACH)
ALIENAÇÃO ECONÔMICA

QUANTO AO PRODUTO DO TRABALHO
“O objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, opõe-se a ele
como ser estranho, como um poder independente do produtor. O
produto do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, que
se transformou em coisa física, é a objetivação do trabalho”.
“A alienação do trabalho no seu produto significa não só que o
trabalho se transforma em objeto, assume uma existência
externa, mas que existe independentemente, fora dele e a ele
estranho, e se torna um poder autônomo em oposição a ele;
que a vida que deu ao objeto se torna uma força hostil e
antagônica”
ALIENAÇÃO ECONÔMICA

QUANTO AO PRODUTO DO TRABALHO.
“O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz,
quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O
trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior
número de bens produz. Com a valorização do mundo das coisas,
aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens”.

“Quanto mais o trabalhador se esgota a si mesmo, mais poderoso se


torna o mundo dos objetos, que ele cria diante de si, mais pobre ele
fica na sua vida interior, menos pertence a si próprio”. (...) “O
trabalhador produz coisas boas para os ricos, mas produz a escassez
para o trabalhador. Produz palácios, mas choupanas para o
trabalhador”.
ALIENAÇÃO ECONÔMICA

QUANTO AO PROCESSO DO TRABALHO.
“Se o produto do trabalho é a alienação, a produção em
si tem de ser alienação ativa – a alienação da atividade e
a atividade da alienação”.

“O trabalhador só se sente em si fora do trabalho,


enquanto no trabalho se sente fora de si. Assim, o seu
trabalho... não constitui a satisfação de uma
necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras
necessidades”.
ALIENAÇÃO ECONÔMICA

QUANTO AO PROCESSO DO TRABALHO.
“A exterioridade do trabalho para o trabalhador transparece
no fato de que ele não é o seu trabalho, mas o de outro, no
fato de que não lhe pertence, de que no trabalho ele não
pertence a si mesmo, mas a outro”.

“Chega-se à conclusão de que o homem (o trabalhador) só se


sente livremente ativo nas suas funções animais – comer,
beber e procriar, quando muito, na habitação, no adorno, etc.
– enquanto nas funções humanas se vê reduzido a animal. O
elemento animal torna-se humano e o humano, animal”.
ALIENAÇÃO ECONOMICA

2. A alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem
como produtores, nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu
trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica é
dupla:
Em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua
força de trabalho aos proprietários do capital (donos das terras, das
indústrias, do comércio, dos bancos, das escolas, dos hospitais, das
frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc.). Vendendo sua
força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os
trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um
preço, isto é, o salário. Entretanto, os trabalhadores não percebem que
foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; não
percebem que foram desumanizados e coisificados.
ALIENAÇÃO ECONÔMICA

Em segundo lugar, os trabalhos produzem alimentos (pelo cultivo da
terra e dos animais), objetos de consumo (pela indústria),
instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas),
condições para a realização de outros trabalhos (transporte de
matérias-primas, de produtos e de trabalhadores). A mercadoria
trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem as fazendas, as
usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos
supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá
foram colocadas (não pensamos no trabalho humano que nelas está
cristalizado e não pensamos no trabalho humano realizado para que
chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem um
preço.
ALIENAÇÃO ECONOMICA

O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase
nada do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela
cabeça que foi ele, não enquanto indivíduo e sim como classe
social, quem produziu tudo aquilo com seu trabalho e que não
pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do
que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário.
Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos
outros as coisas que ele fabrica, ou, se comerciário, que ele vende,
aceitando não possuí-las, como se isso fosse muito justo e natural.
As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do
trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas
(como a propaganda as mostra e oferece).
ALIENAÇÃO SOCIAL

Marx não se interessou apenas pela alienação religiosa, mas
investigou sobretudo a alienação social. Interessou-se em
compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são os
criadores da sociedade, da política, da cultura e agentes da
História. Interessou-se em compreender por que os humanos
acreditam que a sociedade não foi instituída por eles, mas por
vontade e obra dos deuses, da Natureza, da Razão, em vez de
perceberem que são eles próprios que, em condições históricas
determinadas, criam as instituições sociais – família, relações de
produção e de trabalho, relações de troca, linguagem oral,
linguagem escrita, escola, religião, artes, ciências, filosofia – e as
instituições políticas – leis, direitos, deveres, tribunais, Estado,
exército, impostos, prisões. A ação sociopolítica e histórica chama-
se práxis e o desconhecimento de suas origens e de suas causas,
alienação.
ALIENAÇÃO SOCIAL

1. A alienação social, na qual os humanos não se
reconhecem como produtores das instituições
sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou
aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido
como natural, divino ou racional, ou se rebelam
individualmente, julgando que, por sua própria
vontade e inteligência, podem mais do que a
realidade que os condiciona. Nos dois casos, a
sociedade é o outro (alienus), algo externo a nós,
separado de nós, diferente de nós e com poder total
ou nenhum poder sobre nós.

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