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Romanceiro da Inconfidência (1953)

I. Cecília Meireles (1901-1964)


Cecília Benevides de Carvalho Meirelles

Mortes:
Pai: três meses antes de nascer
Irmãos mais velhos: morreram ainda bebês
Mãe: perdeu aos 3 anos

Infância:
Passou a viver com a avó viúva / Solidão e silêncio
Paixão por livros / Destaque na escola (Medalha de louvor)

Educadora:
Diplomou-se para dar aulas na Educação Infantil
Participou de projetos de reforma educacional e leitura
Escreveu livros infanto-juvenis (Disseminação da leitura)

1º casamento:
Casa-se com 21 anos com o artista plástico Fernando C. Dias
Maternidade / Suicídio do marido em 1935
Entre o efêmero e o eterno

(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por
perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento
mesmo da minha personalidade.

(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem
negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi
sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios
inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o
segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde
foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e
seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo
como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida,
unidos como os fios de um pano."
I. Cecília Meireles (1901-1964)
Novo casamento / Jornalismo:
Casa-se novamente 5 anos depois
Escreve textos em jornais sobre educação

Carreira literária:
Iniciada precocemente aos 18 anos
Marcada pela influência do simbolismo
Conquistou diferentes prêmios em vida

Acadêmica:
Lecionou em universidades brasileiras, dos EUA e México
Viaja por diferentes lugares do mundo dando palestras

Morte:
Acometida de câncer no estômago morre em 1964
II. Poesia de Cecília Meireles

Poeta da Geração de 30:


Ligada ao grupo Festa / Influência dos poetas católicos
Volta à tradição (avesso à postura iconoclasta de 22)
Poesia como VERDADE (existenciais / espirituais)

Traços comuns:
Influência neossimbolista (o vago, a musicalidade, a transcendência etc)
Temas universalizantes (O tempo, a morte, a efemeridade do ser etc)
Interesse pelo místico / Sonoridade herdada da tradição lusitana
III. O chamado – A escrita do livro
Viagem à Ouro Preto:
A poeta visitou a cidade na Semana Santa
Escreveu um artigo sobre ela para Travel in Brazil (1942)

Vozes chamam a poeta:


Cecília sentiu-se tocada: paisagens, histórias, lutas, dores
Atende ao chamado dos fantasmas de Vila Rica e região
Homens e mulheres incorpóreos: Opressão x Liberdade

Pesquisa histórica:
Realizou uma grande pesquisa – 10 anos

Vila Rica (Ouro Preto) e região:


Investigou a vida em Minas no ciclo do ouro – séc. XVIII
Conheceu a fundo a Conjuração Mineira
Estudou os autos conhecidos pelo nome de Devassa
Esmiuçou a vida das famílias e dos poetas do Arcadismo
Tomou conhecimento da vida da rainha e de poderosos
Examinou as relações sociais e humanas no período
IV. O Romanceiro

O Gênero literário: Informações básicas


Forma literária nascida na Península Ibérica medieval
Marcado pelo hibridismo: épico e lírico
De origem popular / Marcado pela oralidade

Informações complementares:
Textos de preocupação moral ou reflexão social
Tom episódico (passagens de uma épica)
Acompanhados de instrumentos musicais
Inserção de aspectos líricos num tema épico
Valores coletivos que inserem o homem na história
V. Estrutura do livro:
a) As partes do livro:
Romances: episódios narrativos (Minas Gerais do século XVIII)
Falas: entremeadas aos romances (Interlocução do narrador)
Cenários: diferentes espaços onde ocorrem a ação

b) Estrutura de rosa:
Partes separadas que formam o todo
Estrutura não sequencial (não linear)

Leitor:
1º - Pode ler cada romance separadamente (Uma pétala)
2º - Pode ler um conjunto de romances ( Pétalas reunidas)
3º - Pode ler o poema inteiro (A rosa como um todo)
VI. A estrutura narrativa
Divisão proposta pelo crítico Darcy Damasceno:
História composta por cinco blocos narrativos:

1ª A Sociedade do Ouro:
Ambição, violência, tragédias pessoais
Sociedade enferma pela febre do ouro
Destaque: Chica da Silva / Contratador Fernandes / Felipe dos Santos
2ª A Preparação da Conjuração:
Clima de perseguição, conspiração, medo e autoritarismo
Influência iluminista em homens da elite nacional
Mito messiânico de Tiradentes / O traidor Silvério dos Reis (Judas)
A bandeira da Inconfidência / A liberdade (Tema central da obra)

3ª A Morte de Claudio M. da Costa e Tiradentes:


Dúvidas sobre a morte do poeta árcade
Morte do quixotesco- messiânico Tiradentes: morte por um ideal
Fala aos pusilânimes (fracos): O tempo dá a vitória aos justos
4ª A condenação de Tomás A. Gonzaga e Alvarenga Peixoto:
O degredo dos dois / A África inóspita
As vozes femininas: Marília / Bárbara Heliodora e Maria Ifigênia

5ª Início do século XIX:


A Inconfidência não mais existe / D. Maria I, a louca, no Brasil
Remorso pelos sofrimentos causados / Passeio pelo Rio de Janeiro
Os cavalos da Inconfidência / O testamento de Marília
VII. Hibridismo (Mistura de gêneros)
a) Entre a história e a literatura:

Desconstrução do discurso historiográfico tradicional:


O poema não se limita à voz da história oficial (fatos, datas etc)
Não se concentra na história contadas pelos vencedores
Versões limitadas ao fato ( Não tratam da interioridade humana)

História pelo viés literário:


O poema dá voz e/ou visibilidade aos anônimos da história
Mulheres, bêbados, carcereiros, tropeiros, cavalos
Mergulho nos pensamentos e sensações das personagens
Intimidades, conversas, sensações criadas pela poeta

b) Supremacia do literário sobre o histórico:

Aristóteles na Poética:
Literatura: Conta o que poderia ter sido
c) Entre a epopeia e a lírica:
A luta pela liberdade numa perspectiva lírica-reflexiva
Ver em Minas do século XVIII a luta de todas as épocas
Tomar de um acontecimento uma lição atemporal
OS IMPÍOS NUNCA VENCERÃO – O TEMPO É JUSTO
O poema declara a vitória dos Inconfidentes

d) Influência do gênero dramático:


Originalmente, Cecília havia pensado numa peça de teatro
Presença de cenários / Muito figurantes / Estrutura dialógica
Falas do narrador: apóstrofes, uso da 2ª pessoa etc
VIII. Narrador

Narrador:
Voz em 1ª pessoa / Realiza interlocuções (Postura dialógica)
Indaga / Lamenta / Louva / Reflete / Condena
Não apresenta uma postura neutra diante dos fatos e da história
Uso do parêntesis e itálica para marcar sua voz

Polifonia:
Além do narrador, outras vozes narram a história
Descentralização da voz épica (única / autoritária)

As várias vozes:
Popular, anônima / Poetas mineiros / Inconfidentes
Tiradentes / Ímpios / Tempo / Mulheres / Natureza
IX. Espaços
Espaços múltiplos:
Ouro Preto e cidades próximas especialmente
Rio de Janeiro / Tensão Brasil x Minas
Portugal: Espaço das decisões de poderosos
Casas: intimidade / Reuniões
Prisões / Lavras / Natureza mineira etc

Minas Gerais:
Espaço de autoritarismo e cobiça / Cobrança de impostos
Circulação de ideias iluministas / Dramas pessoais

Rio de Janeiro:
Prisão e degredo / Espaço de culpa (Rainha louca)

Metrópole:
Espaço de poder / Cobiça / Desumano
X. Tempo
Tempo: caleidoscópico (rosa)

Tempo da história:
Diferentes décadas entre os séculos XVIII e XIX
Em torno do Ouro, do Arcadismo e da Inconfidência

Tempos múltiplos:
A da poeta: século XX (1953)
A dos fatos : século XVIII especialmente Universalismo
A do gênero: século XIII (medieval)

Uso do Romanceiro:
Resgatar da Idade Média, via Alfares, valores como honra e nobreza
XI. Linguagem
Linguagem:
Grande apuro técnico
Uso comum de várias figuras de linguagem sobretudo a antítese
Antítese: revela a dualidade liberdade x opressão / justos e injustos
Forte presença do Presente do Indicativo – Presente Histórico (Universalismo)

Linguagem múltipla (rosa):


Poemas curtos / Poemas longos / Estrofes regulares e irregulares (Diferentes tamanhos)
Versos em redondilha / Versos sem métrica (Diferentes ritmos)
Versos rimados – rimas toantes em especial / Versos brancos (Diferentes sons)
Letras em itálico – voz do narrador / Letras sem uso do itálico – história (Diferentes grafias)

Sensorialismo: Cores / Plasticidade / Musicalidade


Cores simbólicas: Amarelo, Preto, Vermelho, Branco
Sons da época: Sinos, clarins, piano de M. Ifigênia, canto dos escravos
Plasticidade: Imagens de Minas: casarões, igrejas, natureza, pessoas, outros lugares
Parte I
Parte I – Sociedade do ouro (I-XIX)
Fala Inicial:
Eu lírico pelo Rio de Janeiro – Lugar de morte (Tiradentes)
Impressões sensoriais – Experiência simbolista
Proposta: da experiência histórica conhecer o universal

Cenário:
Descrições / Experiência mística
O chamado: o passado a chama
O tempo que tudo leva (TEMA UNIVERSAL)

Romances:
Chegada dos lusitanos à região
Épocas iniciais da mineração (Antitética relação: Ouro poder x Ouro sofrimento)

Histórias:
Donzela morta pelo pai / Felipe dos Santos / Coroa portuguesa opressora (Assumar)
A sina de Tiradentes (infância) / Chico Rei / Ouvidor quase morto por amor

Conjunto de poemas:
Contratador Fernandes de Chica da Silva / O pérfido Conde de Valadares
Fala inicial
O eu lírico e suas impressões do ambiente:
Rezas, morte, voz da condenação (Locus horrendus) Fala inicial
Avista a masmorra / a sombra do carcereiro
A multidão pasmada Não posso mover meus passos,
por esse atroz labirinto
Os sons: de esquecimento e cegueira
Patas de cavalos / A voz do brigadeiro em que amores e ódios vão:
- pois sinto bater os sinos,
percebo o roçar das rezas,
Meio-dia:
vejo o arrepio da morte,
21 de abril sinistro / Intriga de ouro e sonho à voz da condenação;
O tempo roubará as razões da punição - avisto a negra masmorra
Tudo é consumido pelo tempo e a sombra do carcereiro
que transita sobre angústias,
Sem rastros: com chaves no coração;
Não há rastros pelo chão dos muitos padecimentos - descubro as altas madeiras
do excessivo cadafalso
Proposta do eu lírico: e, por muros e janelas,
o pasmo da multidão.
“Não choraremos o que houve” (Histórico?)
“Choramos as forças que constituem as vidas” (Universal)
Proposta do eu lírico
Aqui, além, pelo mundo
ossos, nomes, letras, poeira...
Onde, os rostos? onde, as almas?
Nem os herdeiros recordam
rastro nenhum pelo chão.
Ó grandes muros sem eco,
presídios de sal e treva
onde os homens padeceram
sua vasta solidão...
Não choraremos o que houve,
nem os que chorar queremos:
contra rocas de ignorância
rebenta a nossa aflição.

Choramos esse mistério,


esse esquema sobre-humano,
a força, o jogo, o acidente
da indizível conjunção
que ordena vidas e mundos
em pólos inexoráveis
de ruína e de exaltação
Ó silenciosas vertentes
por onde se precipitam
inexplicáveis torrentes
por eterna escuridão!
Cenário
Ouro Preto

Descrição subjetiva:
Colinas: silêncio / solidão /gado
Angústia de amor estremecia à frente do eu lírico
Passeio pela cidade: ouro já tirado / impressões
Lugares vividos por outros no passado

As vozes ouvidas:
“A voz ouvi de amigos e inimigos”
Ouve e compreende sentimentos / acontecimentos passados
Flores / O esquartejado / Capelas / Torres / Neblinas
Pontes / Córregos / Muros / Lajes: Tudo chama pelo eu lírico
ALITERAÇÕES ASSONÂNCIAS – O VAGO NEOSSIMBOLISTA
As vozes presas / O cemitério das almas / Fantasmagorias
O tempo que levou: metáfora ceciliana do vento que leva
Das grotas de ouro às escadarias:
Memória e saudades se confundiam com os caminhos do eu lírico

Proliferação de imagens do passado brotam incompletas:


Inocentes / Vis / Coronéis / Ministros / Poetas

O tempo retrocede: O ambiente da poesia do Arcadismo


Árcades ultramarinos / Pastores / Ninfas / Metamorfoses
Os suspiros dos amores / Os prados

O ambiente da Inconfidência:
Agressores / Ferros

O Ambiente das pastoras amadas:


Isabéis, Doroteias / Eliodoras

Eu lírico nessa profusão de imagens:


Não sabe o que procura
“Tudo em redor é tanta coisa e nada”
Amadas? Mensageiros? Cartas? Quem reza?
“O passado não abre sua porta”
O eu lírico vê a mão do Alferes, que de longe acena
O passado não abre a sua porta
e não pode entender a nossa pena.
Mas, nos campos sem fim que o sonho corta,

vejo uma forma no ar subir serena:


vaga forma, do tempo desprendida.
É a mão do Alferes, que de longe acena.

Eloquência da simples despedida:


“Adeus! que trabalhar vou para todos!...”
(Esse adeus estremece a minha vida.)
Passei por essas plácidas colinas
e vi das nuvens, silencioso, o gado
pascer nas solidões esmeraldinas.

Largos rios de corpo sossegado


dormiam sobre a tarde, imensamente,
- e eram sonhos sem fim, de cada lado.

Entre nuvens, colinas e torrente,


uma angústia de amor estremecia
a deserta amplidão na minha frente.

Que vento, que cavalo, que bravia


saudade me arrastava a esse deserto,
me obrigava a adorar o que sofria?

Passei por entre as grotas negras, perto


dos arroios fanados, do cascalho
cujo ouro já foi todo descoberto.
Romance I ou Da Revelação do ouro
Mito de decadência:
Beleza natural x ambiciosos lusitanos

Os portugueses nos sertões americanos:


Grossos pés firmam-se em pedras:
Visão negativa (“povo desgrenhado” / “cara curtida”) sob os chapéus desabados,
Viajam em busca de ouro / Devoram coisas da natureza O olhar galopa no abismo,
Querem prata / ouro / Topázio vai revolvendo o planalto;
Olhares duros / Usam facões e machados descobre os índios desnudos,
Olham-se como rivais e são amigos falsos que se escondem, timoratos;
calcula ventos e chuvas;
Eu lírico: mede os montes, de alto a baixo;
Pergunta sobre ribeiros, montanhas, caminhos em rios a muitas léguas
vai desmontando o cascalho;
Perguntas que quebram os versos de invasão lusitana
em cada mancha de terra,
desagrega barro e quartzo.
Novas imagens na paisagem:
Urubus que comem homens mortos pela traição
Capelas onde se confessam pecados
Onças e veados se assustam com novo cheiro da morte
Eu lírico:
Pergunta sobre o Verbo Divino Encarnado

Natureza:
Espantada com o avanço dos homens alucinados E, atrás deles, filhos, netos,
seguindo os antepassados,
Morrem de audácia e miséria
vêm deixar a sua vida,
Ambiciosos e avarentos / Abomináveis e bravos caindo nos mesmos laços,
Olhos sem clareza / lábios secos e amargos perdidos na mesma sede,
teimosos, desesperados,
Eu lírico: por minas de prata e de ouro
Onde eles estão / O tempo os levou curtindo destino ingrato,
emaranhando seus nomes
Triste legado: para a glória e o desbarato,
quando, dos perigos de hoje,
Filhos e netos caindo nos mesmos laços
outros nascerem, mais altos.
Desesperados por prata e ouro
Que a sede de ouro é sem cura,
A sede de ouro é sem cura e, por ela subjugados,
Os homens matam-se e morrem os homens matam-se e morrem,
ficam mortos, mas não fartos.
Eu lírico: (Ai, Ouro Preto, Ouro Preto,
Lamenta que Ouro Preto assim foi revelado e assim foste revelado!)
Eis o trágico nascimento da cidade
Romance II ou do Ouro Incansável
A terra explorada:
A bateia e os sulcos na terra (extração do ouro)
A beleza do ouro e o seu poder entre homens
“É tão claro e turva tudo”
Mil galerias desabam;
Ouro: mil homens ficam sepultos;
Embeleza a vida dos poderosos mil intrigas, mil enredos
Acende sinistras rivalidades prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
O preço do ouro: que a noite é um mundo de sustos.
Vida de negros / Morte por febres e fome Descem fantasmas dos morros,
Existência de ladrões e contrabandistas vêm almas dos cemitérios:
Ódio, cobiça e inveja – Ninguém dorme tranquilo todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
Cansaços e mortes: mas vão sendo fabricadas
Os reis querem seus tributos muitas algemas de ferro.
Bateias não descansam / Mil galerias desabam
Vêm almas do cemitério pedindo ouro
Muitas algemas de ferros sendo fabricadas
Romance III ou do Caçador Infeliz

Caçador que andas na mata,


bem sei por que vais contente,
com grandes olhos felizes:
Versos dirigidos aos Caçadores da mata: vês que s de reino encantado,
O eu lírico sabe as razões da alegria do caçador pelo vale, pela serra,
Armado caça pepitas de ouro qualquer caminho que pises.
Em vez de bichos, caça ouro no meio das matas Tropeças em seixos de ouro,
em cascalho de diamantes,
nunca em singelas raízes.
Os grãos da tua escopeta
- e como vai carregada! -
para a caça que precises,
são pepitas de ouro puro...
Romance IV ou da Donzela Assassinada
O eu lírico desaparece / História narrada pela donzela:

Dezembro, próximo ao natal: “Era no mês de dezembro


Sacudia o lencinho para estendê-lo a secar pelo tempo do Natal.
Espaço encantador / Viu um rosto a mirá-la Tinha o amor na minha frente,
Teme acharem que ela sacudia o lencinho a ele tinha a morte por detrás:
Revela seu amor impossível por um homem mais pobre desceu meu pai pela escada,
feriu-me com seu punhal.
A morte da donzela: Prostrou-me a seus pés, de bruços,
Tinha o amor na sua frente (o homem) e a morte atrás (o pai) sem mais força para um ai!
Viu o homem / Seu pai veio por detrás e a matou Reclinei minha cabeça
Feriu-a com um punhal de ouro em bacia de coral.
O choro da mãe, o soluço do pai Não vi mais as nuvenzinhas
que Pasciam pelo ar.
Se o lencinho voasse: Ouvi minha mãe aos gritos
Contaria que morreu por causa do ouro (punhal de ouro) e meu pai a soluçar,
entre escravos e vizinhos,
A donzela cai morta: e não soube nada mais.
Já se esqueceu do nome que tinha
A donzela morta: destino errante
Vagueia sozinha pela sombra do quintal “Ai, minas de Vila Rica,
Pensa no triste corpo que não pode levantá-la santa Virgem do Pilar!
Procura o lencinho que não sabe aonde está Dizem que eram minas de ouro...
- para mim, de rosalgar,
Interlocução: para mim, donzela morta
Invoca Vila Rica e a Santa Virgem do Pilar pelo orgulho de meu pai.
Em vez das minas de ouro, a morte (Ai, pobre mão de loucura,
Morta pelo orgulho do pai / pelo punhal de ouro que mataste por amar! )
Reparai nesta ferida
Condição errante: que me fez o seu punhal:
Está há muito tempo morta e penando. gume de ouro, punho de ouro,
ninguém o pode arrancar!
Há tanto tempo estou morta!
E continuo a penar.”
Romance V ou Da destruição de Ouro Podre
O eu lírico dirige-se ao seu filho:
Pede para que durma, pois o mundo vai acabar

O Conde de Assumar ataca o Arraial do Ouro Podre:


Homens em seus cavalos colocam fogo na cidade
O Conde mentiu sobre não fazer mal aos moradores
Dorme, meu menino, dorme,
Aflição de todos: o fogo rolando vem
que o mundo vai se acabar.
D. Pedro: Vieram cavalos de fogo:
Viu de uma varanda desfazer-se o arraial são do Conde de Assumar.
A vilania do Conde / A brutal defesa da Coroa Pelo Arraial de Ouro Podre,
começa o incêndio a lavrar.
Mortes pela riqueza da terra:
Quantos morrem pelo ouro? / O ataque dos soldados O Conde jurou no Carmo
Pedido de proteção à Santa Ifigênia não fazer mal a ninguém.
(Vede agora pelo morro
Interlocução com o filho: que palavra o Conde tem!
Pede para que durma Casas, muros, gente aflita
Enforcaram e esquartejaram Felipe dos Santos no fogo rolando vêm!)
Corpo arrastado por cavalos
Na roca da ambição mais castigos são preparados
Conde de Assumar

Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos (1688-1756):


Nomeado governador da Capitania de São Paulo e Minas em 1717
Missão de colocar em prática um controle mais rígido à colônia
Famosa repressão à Revolta de Vila Rica em 1720
Filipe dos Santos
Filipe dos Santos Freire (1680-1720):
Tropeiro português / Representante das camadas populares
Instigou a Revolta de Vila Rica (1720)
Morto e esquartejado / Partes de seu corpo pela cidade

Contexto da Revolta de 1720:


Portugal queria evitar o contrabando de ouro
Criação das casas de fundição (1719) / Tributo do Quinto
Proibição da venda do ouro em pó
Conde de Assumar: assumiu o cargo de Governador
Veio implantar medidas mais rígidas de controle
Organiza-se um levante contra a política da metrópole

O levante:
Levante organizado por poderosos locais e por Filipe
Poderosos o traem / Filipe, o despossuído, é preso e morto.

Julgamento de Filipe dos Santos


Censura:
Se alguém diz que o ouro vai um dia secar
O carrasco vem e cala a voz justa

Dorme, meu menino, dorme: Dorme, meu menino, dorme,


A fumaça / O riso do Conde - que Deus te ensine a lição
Cobiçado ouro que fez arder minas gerais dos que sofrem neste mundo
Anuência de D. Pedro violência e perseguição.
Eu lírico pergunta: quem deu tanto poder ao Conde? Morreu Filipe dos Santos:
Os pequenos tiranos que mandam mais que o rei outros, porém, nascerão.

Voz em itálico corta o texto: Não há Conde, não há forca,


Jurisdição para tanto não tinha, Senhor; bem sei não há coroa real,
mais seguros que estas casas,
Lição ao filho: que estas pedras do arraial,
Um sofre violência e perseguição / outros nascerão deste Arraial do Ouro Podre
que foi de Mestre Pascoal.
Mensagem ao Conde:
Não há forca e coroa real mais seguros que as casas do arraial
Arraial do Ouro Podre que já foi de Mestre Pascoal
Evento histórico:
Falso perdão do Conde de Assumar aos revoltosos 1720
Motim contra o ouvidor e governador
Conde: Governador da província de SP e Minas do ouro

Queima do morro:
Queima das propriedades de Pascoal Guimarães no Morro Podre, atual
Morro da Queimada em Ouro Preto

Morro da Queimada em Ouro Preto, incendiado por


ordem do Conde de Assumar, governador das
Minas, durante a repressão à Revolta de 1720 .
Romance VI ou da transmutação dos metais
Eis que recebe a notícia
Ambiente da corte: de que ao porto são chegados
Preparativos para uma festa os quintos de ouro das minas
Celebrar o noivado entre Portugal e Espanha que do Brasil são mandados.
Como governar é confuso Ai, que alegria ressumam
seus olhos aveludados...
D. João V: Ai, que pressa, que alvoroço,
Calcula grandes despesas (artigos caros) por catorze mil cruzados!
Ai, que ventura tão grande,
Embora rei de muitas terras, tem cofres arrasados
depois de tantos cuidados!
Presentes caros enviados a outros reinos
Mas, quando, em sua presença,
A riqueza de Minas: os caixões são despregados,
Recebe a notícia da chegada dos quintos de ouro de Minas apesar de lacre e selos,
A felicidade se estampa no rosto do rei os fidalgos assombrados,
ai! só vêem de grãos de chumbo
O logro: cunhetes acogulados...
Aberto os caixões na frente do rei: Ai, que os monarcas traídos
não soltam pragas nem brados.
Em de ouro, grãos de chumbo
Ai, que as forcas e os degredos
são feitos para os culpados.
Mudança de núcleo narrativo: Sebastião Fernandes Rego
Cuiabanos, paulistas, nobres, soldados e escravos andara pelos povoados
Conversam sobre os quintos falsificados com grandes olhos severos,
Quais serão castigados pelo rei sempre a perseguir malvados.
Um homem afirma que o culpado foi a Providência Divina Ai, porém só perseguia
bandidos endinheirados...
Sebastião Fernandes Rego: Ai, conhecia os segredos
Uma voz em itálico narra ser ele o responsável pelo logro dos cofres aferrolhados..
E ai! trocara em grãos de chumbo
o ouro, nos caixões selados...
Famoso caso do roubo dos Quintos reais:

Fernandes do Rego:
Aventureiro português
Único objetivo, ficar rico, seja lá como fosse
Aplicava golpes em espertalhões como ele, roubando-lhes o ouro
Ficou muito rico / Influente na cidade
Tornou-se responsável pela cobrança do quinto

Roubo:
Organiza-o com o Governador Antônio da Silva Caldeira Pimentel
na primeira remessa dos quintos reais, substituíram a carga de ouro por chumbo.
O rei abriu os caixões na frente de seus convidados (Vergonha)

Prisão, malandragem e catolicismo:


Demorou um pouco, mas acabou preso
Levado à prisão do Limoeiro em Lisboa.
Mas gastou uma pequena parte da fortuna, distribuindo favores e propinas
Logo retorna livre e feliz ao Brasil.
Foi na época de sua prisão que mandou construir a capela que futuramente seria a Igreja dos Remédios.
Romance V ou dos negros nas catas

Já se ouve cantar o negro.


Por onde se encontrarão
essas estrelas sem jaça
que livram da escravidão,
Madrugada: pedras que, melhor que os homens,
Ouve-se o cantar do negro: sua alegria antes do dia nascer trazem luz no coração?
Os donos dormindo / Os feitores olhando
Já se ouve cantar o negro.
Saudade da terra / eu lírico lamenta a escravidão Chora neblina, a alvorada.
A beleza do canto / Penam muito e nada têm Pedra miúda não vale:
liberdade é pedra grada...
(A terra toda mexida,
a água toda revirada...

Deus do céu, como é possível


penar tanto e não ter nada!)
Romance VIII ou do Chico Rei
Eu lírico chama os seus: Chico Rei
Tigre está rugindo nas praias
Vamos cavar a terra / O Rei pede mais ouro a Portugal
Vamos abrir lama, povo / Remexer cascalho
Guardar na carapina negra o véu do pó do ouro

Memória: Mais ouro, mais ouro,


Em Luanda era bom viver ainda vêm buscar.
Clama para bater a enxada / descer as grotas Dobra a cabeça, e espera, povo,
No Congo, ele era rei. que este cativeiro
já nos escorrega dos ombros,
Liberdade do rei e de seu filho: já não pesa mais!
Liberdade do filho e do próprio Chico
Busca mais ouro e o cativeiro não pesa mais Olha a festa armada:
é vermelha e azul.
Liberdade de outros negros / Congada: Canta e dança agora, meu povo,
“Canta e dança agora, meu povo / livres somos todos” livres somos todos!
Louva a Virgem do Rosário / Tigre está rugindo nas praias Louvada a Virgem do Rosário,
Os brancos hoje também são tristes cativos vestida de luz.
Pedido para Virgem deixa-los descansar em paz
Francisco Rei (Chico Rei):
Personagem lendário da tradição oral de Minas Gerais

História:
Nascido no Congo / Comprou sua alforria e enriqueceu
Teria sido monarca no Congo / Nome original Galanga
Escravizado em Ouro Preto / Conquistou a liberdade
Comprou a Mina Encardideira e a alforria de outros negros

Religiosidade e Congado:
Associou-se à irmandade de S. Ifigênia
A 1ª a ter negros livres
Festas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário
Chico aparecia vestido como rei trazendo uma rainha
Cortejo antes da missa com músicas
Origem da festa do congado
Imagem da Mina de Chico Rei
Romance IX ou De vira-e-sai

À Santa Ifigênia, princesa núbia:


Pedido para que venha trabalhar
Santa Ifigênia fica invisível,
Para que venha com sua luz à mina de Chico Rei entre os escravos, de sol a sol.
Venha ver os homens negros que sofrem lá dentro Ouvem-se os negros cantar felizes.
Homens que dão joias e flores à Santa Toda a montanha faz-se ouro em pó.

Pedido para que pise na Mina de Chico Rei: Ninguém descobre a princesa núbia,
Folhagens de ouro vão se prender aos seus vestidos na vasta mina do Chico-Rei.
Invisível, venha ouvir os cantos felizes dos negros Depois que passam o sol e a lua,
Ninguém a veria ali
Santa Ifigênia passa, também.
Último pedido:
Subir a ladeira quase a dançar Santa Ifigênia, princesa núbia,
Sacudir o ouro dos pés e do manto sobe a ladeira quase a dançar,
Chama seus anjos, e vira-e-sai O ouro sacode dos pés, do manto,
chama seus anjos, e vira-e-sai.
Romance X ou Da Donzelinha pobre

Donzelinha, donzelinha,
À donzelinha: Sem os parentes em busca do ouro e diamante mira os santos nos altares,
Parentes andam longe / Donzelinhas de olhos sombrios que apontam, compadecidos,
Andam pelas serras e rios / Tentam a sorte em barrancos já vazios para celestes lugares,
Olha os santos olhando para o alto / Lágrimas por causa da busca onde são de ouro e diamante
quantas lágrimas chorares!
Pedido à Donzelinha:
Fecha os olhos: as montanhas altas e os ribeiros frios Donzelinha, donzelinha,
Reino do céus longe / O dos humanos, desvarios fecha esses olhos sombrios.
As montanhas são tão altas!
Os ribeiros são tão frios!
O reino de Deus, tão Longe
dos humanos desvarios!
Romance XI ou Do punhal e da flor
Semana Santa em Tejuco (Diamantina):
Uma donzela rezando na Igreja
O ouvidor Bacelar a mirava
Apaixonado pela moça
Jogou-lhe uma flor no colo
Sobe pela rua a tropa
O mundo masculino: que já se mandou chamar.
Vem raivoso Felisberto (parente da moça) E era à saída da igreja,
Estavam diante do altar da Igreja depois do ofício acabar.
Vede a mão que há pouco esteve
Beleza e violência: contrita, diante do altar!
Muito bela era a flor e a donzela
Onde existir formosura, existe desventura Num botão resvala o ferro:
e assim se salva o Ouvidor.
Um punhal: Todo o Tejuco murmura,
Brilha o punhal na mão do Contratador - uns por ódio, uns por amor.
Na rua, uma tropa (policiais) mandam chamar Subir um punhal nos ares,
Num botão resvala o ferro ? O ouvidor se salva por ter descido uma flor!
A cidade de Tejuco comenta o fato
Romance XII ou De Nossa Senhora da Ajuda
Capela do Pombal: Descrição de seus elementos (plasticidade)
Cortinas / Várias imagens de santos
S. Francisco e S.Antônio olhando para Jesus
Jesus explicava, noite e dia, sobre a cruz Sete crianças, na capela,
rezavam, cheias de fé,
Pratos, panos, castiçais: os santos, as virgens e Nosso Senhor
à grande Santa formosa.
Eram três de cada lado,
O que mais valia: os filhos do almotacé.
Era a Senhora da Ajuda: Seu cetro, manto e olhos de cristais
Suplicam as sete crianças
Sete crianças: que a Santa as livre do mal.
Dois grupos: 3 de cada lado / 3 meninas e 3 meninos Três meninas, três meninos...
Rezavam cheias de fé à Santa E um grande silêncio reina
Suplicam para a Santa os livrarem do mal na capela do Pombal.

(Mas esse, do meio,


A criança do meio: a sétima tão sério, quem é?
Joaquim José / Apresenta uma aparência muito séria - Eu, Nossa Senhora,
sou Joaquim José.)
Poderes da Santa:
Pequenos perto do menino
Menino sem Anjo da Guarda , sem madrinha
A Santa é uma grande imagem triste perto dele

Beleza da Santa x Violência: Sete crianças se levantam.


Um dos meninos da igreja será levado à forca Todas sete estão de pé,
Será açoitado (baraço) fitando a Santa formosa,
de cetro, manto e coroa.
Pedido do eu lírico: - No meio, Joaquim José.
Pede à Santa para que salve a criança
Salve o menino que tão contrito reza (Agora são tempos de ouro.
O menino que a santa não ouve Os de sangue vêm depois.
Vêm algemas, vêm sentenças,
As sete crianças levantam: vêm cordas e cadafalsos,
No meio, estava Joaquim José na era de noventa e dois.)

Profecia: Joaquim José (Tiradentes) (Lá vai um menino


Agora são tempos de ouro entre seis irmãos.
No futuro: algemas, sentenças, cordas e cadafalsos Senhora da Ajuda,
Ano de 1792 pelo vosso nome,
estendei-lhe as mãos!)
Pedido à Santa:
Estender as mãos ao menino que está com os seus 6 irmãos.
Diálogos entre obras

Imagens de Santos e/ou poesia sacra:


Gregório de Matos:
Poemas conceptistas

Claro Enigma:
Viagem de Drummond por Igrejas mineiras

A Relíquia:
Altar luxuoso de Titi
Romance XIII ou Do Contratador Fernandes

Conde de Valadares:
Chegada ao Serro Frio (Diamantina) Eis que chega ao Serro Frio,
Missão de perseguir o contratador José Fernandes à terra dos diamantes,
Tudo pelo ouro / Ele chega cansado e fingido o Conde de Valadares,
Vem ao Tejuco com sua soberba / Cobiçoso fidalgo de nome e sangue,
José Luís de Meneses
João Fernandes: de Castelo Branco e Abranches.
O dono da terra pergunta a razão da tristeza do Conde Ordens traz do grão Ministro
Aqui você tem todo o conforto da casa de perseguir João Fernandes.
Tudo pela febre e o medo do ouro
Até mesmo as mulatas e negras, menos Chica da Silva
- febre e medo que, antes,
deceparam no ar a estrela
dos contratadores Brantes.
Contratador José Fernandes de Oliveira
Origem:
Nasceu em Diamantina em 1721
Família rica com a extração de Diamante
Estuda na Europa / Título de Cavaleiro
Regressa ao Brasil na década de 1750

Contratador:
Termo que designa aquele que é autorizado a extrair Diamantes pela Coroa
Infiltrou-se na sociedade de Arraial de Tejuco (apadrinhamento)
Padrinho de mulatos, escravos, filhos bastardos etc

Paixão por Chica da Silva:


Teve 13 filhos com ela / Assumiu a paternidade de todos (incomum na época)
Financiou a construção de Igrejas

Período Pombalino:
O Marquês cancelou seu direito de Contratador
Foi perseguido pelo governador Conde de Valadares

Regresso à Europa:
Levou os filhos e deixou as filhas para Chica cuidar
Morreu em 1779, sem rever Chica da Silva
Romance XIII ou Do Contratador Fernandes

Resposta de José Fernandes:


A Fortuna é sempre cega e vária /Mesmo com os diferentes Fados
Quero ser seu amigo, Conde / Fique alegre e esqueça a tristeza
No teatro e nos poemas destes sítios, deixe o coração amargo (Ai, ouro negro das brenhas,
ai, ouro negro dos rios...
Reação do Conde: Por ti trabalham os pobres,
Por ti padecem os ricos.
Permanece sério / Nem com o vinho seu rosto resplandece
Por ti, mais por essas pedras
Depois da sobremesa, dão-lhe um pote com ouro que, com seu límpido brilho,
Só assim o jovem fidalgo sorri mudam a face do mundo,
tornam os reis intranquilos!
Considerações do eu lírico: Em largas mesas solenes,
“Ai ouro negro das brenhas” / “Por ti trabalham os pobres” vão redigindo os ministros
“Por ti padecem os ricos” / Mudam a face do mundo cartas, alvarás, decretos,
Em mesas solenes, os ministros redigem cartas, decretos, alvarás e fabricando delitos.)
Fabricam, pelo ouro, delitos
Romance XIV ou Da Chica da Silva

Canto de apresentação de Chica da Silva: Nem Santa Ifigênia,


Jogo entre 2 quartetos e um terceto entre parêntesis toda em festa acesa,
A Chica que manda / Famosa esposa de Fernandes brilha mais que a negra,
Mulher poderosa: cercada de escravos e mordomos na sua riqueza.
Dona do dono do Serro Frio
Contemplai, branquinhas,
Negra empoderada: na sua varanda,
Fidalgos se curvam diante da Chica-que-manda a Chica da Silva,
Nem Santa Ifigênia brilha mais que a negra em sua riqueza a Chica-que-manda!

Pedido do eu lírico: (Coisa igual nunca se viu.


“Contemplai, branquinhas,” o poder de Chica Dom João Quinto, rei famoso,
Nem Dom João V teve uma mulher assim não teve mulher assim!)
Chica da Silva (1732-1796)

Francisca da Silva de Oliveira, ou apenas Chica da Silva (Serro, ca. 1732 -


15 de fevereiro de 1796),[1] foi uma escrava, posteriormente alforriada,
que viveu no Arraial do Tijuco - atual Diamantina - então pertencente ao
município do Serro, Minas Gerais, durante a segunda metade do século
XVIII.[2]

Manteve durante mais de quinze anos uma união consensual estável com o
rico contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira,[3] tendo com
ele treze filhos.[1] O fato de uma escrava alforriada ter atingido posição de
destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de diamantes
deu origem a diversos mitos. E histórias fantasiosas.
Romance XV ou Das cismas da Chica da Silva
Chica está inquieta:
Em sua cama dourada, ela não dorme
Pensa no ouro, nas palavras do Conde
Alerta o marido sobre as reais intenções da visita do conde
Responde a Chica da Silva
O marido Contratador Fernandes responde: (assim dizem que pensava):
Afirma que o Conde sofre pelo familiares ausentes - Estes marotos do Reino
Se for de pobreza, o que custa ajudá-lo? só chegam por estas lavras
Os folhelhos de ouro iluminaram o homem para recolher o fruto
das grotas e das gupiaras.
Chica responde: Eles gastando na corte,
Este marotos do reino só vem às lavras em busca de ouro e a Morte aqui pelas catas,
Gastam na corte enquanto homens morrem na extração desmoronando barrancos,
Não sabe o que o conde quer , não gosta dele engrossando as enxurradas...
Não sei que tem este Conde:
O Conde: não gosto da sua cara!
Com os dia, foi perdendo o modo sério e sisudo
Caçadas, passeios, manda lapidar diamantes
E quando tiver fortuna, adeus aos formosos lugares
Romance XV ou Das cismas da Chica da Silva

E diz a Chica da Silva


Chica diz ao marido: ao ricaço do Tejuco:
Não acredito no Conde / Ele esconde alguma coisa - Eu neste Conde não creio;
As mulheres enxergam os que os homens não veem com seus modos não me iludo;
O Conde veio por outras questões ainda ocultas detrás de suas palavras,
anda algum sentido oculto.
Narrador: Os homens, à luz do dia,
João Fernandes escutava a mulher olham bem, mas não veem muito:
A extração do outro e das pedras continuava dentro de quatro paredes,
as mulheres sabem tudo.
Deus me perdoe, mas o Conde
vem cá por outros assuntos.
Romance XVI ou Da traição do Conde
Chegada de homens do reino:
Os trabalhadores cessam o ofício e observam
Param à porta do Contratador Fernandes
O Conde os lidera e anda na sala com fingida preocupação

Chica:
Sente que os seus pressentimentos estavam corretos Na sala passeia o Conde,
Tem pelo que vai ocorrer / Sabe que ele tem um segredo para trás e para diante.
- Por que me levais, amigo?
O Conde e o Contratador: (Era a voz de João Fernandes.)
O Conde informa que levará Fernandes Dei-vos o ouro que quisestes;
Fernandes não entende / Julga desleal a atitude ouro vos dei, mais diamantes,
Fingidamente, diz estar dividido entre a amizade e o Reino para a Casa dos Meneses
Fernandes lembra das palavras de Chica de Castelo Branco e Abranches
não soçobrar arruinada
Eu lírico ironicamente: enquanto andáveis distante.
(Como se fazem honrados / Os Condes de bolsos cheios) Como me levais agora
a prestar contas com os Grandes?

O narrador usa os parênteses constantemente como se fosse um recurso


teatral em que coloca seus comentários ou informações
Romance XVII ou Das lamentações no Tejuco

Narrador:
Evoca em tom de lamento diferentes imagens mineiras:
Natureza, mulatas, chicotes, capelas
Lamenta as diferentes vidas desgraçadas

Conta:
Que Fernandes foi levado para a Corte E lá seguiu para a Corte
Que uns sofrem na extração para outros terem lucros o dono do Serro Frio.
Chica ficou no Tejuco com doze mucamas Com suas doze mucamas,
ficava a Chica em suspiros.
O narrador amaldiçoa: Grossas vagas tenebrosas
O conde e o ouro nascem no humano destino!
Ouro é a causa de muitos males Uns, ali, nas rudes catas,
a apodrecerem nos rios,
Entre parêntesis: - e outros, ao longe, com os lucros
As doze mucamas gemiam dessas minas de martírio.
Prantos e dimantes Ai, que o coração não mente!
Romance XVIII ou Dos Velhos do Tejuco

Jogo poético: Voz dos velhos e (a do narrador) Ainda vai chegar o dia
Duas vozes: a dos fatos ocorridos e (a da reflexão atemporal) de nos virem perguntar:
- Quem foi a Chica da Silva,
Um dia vão nos perguntar quem foi Chica que viveu neste lugar?
(Tudo passa, o prazer é um intervalo na desgraça)
(Que tudo passa...
O Contratador foi levado como se fosse um negro fugido O prazer é um intervalo
(O poder destruidor do tempo) na desgraça...)

O Vento no Tejuco Já vereis noutro navio,


(Só a morte é soberana) levado por homens grandes,
igual a um negro fugido,
Nada deixaremos, nós velhos, nem o nome na caveira o Contratador Fernandes.
(A vida é a mesma coisa que a morte)
(Que tudo acaba!
Homens vivem num desvairio de poder Quem diz que montanha de ouro
não desaba?)
Romance XIX ou Dos maus presságios

Narrador:
Acabou o tempo da Chica e do Contratador
O poder do tempo / As minas vão nos navios
Na terra despojada, ficam lágrimas e sangue

Lamento: Mas é direção do tempo...


Constantes repetições da interjeição Ai E a vida, em severos lances,
Desejava que o tempo pudesse ser contido empobrece a quem trabalha
Impedir as desgraças de noivos, noivas, donzelas e enriquece os arrogantes
fidalgos e flibusteiros
que reinam mais que a Rainha
Desconcerto do mundo:
por estas minas distantes!
A vida empobrece quem trabalha
E enriquece os arrogantes
Parte II
Parte II – Preparação da conjuração (XX-XLVII)
Cenário:
Mudança de Tejuco para Vila Rica / Mudança temporal: Contexto da Inconfidência

Fala à Vila Rica:


A cidade fala? Fala numa linguagem que não compreendemos?

Oposição:
Ambiente de tensão política x Contexto do Arcadismo
Bucolismo utópico X Sofrimento pelo ouro / Opressão

Romances:
As paisagens árcades / os sofrimentos do ouro
A morte do príncipe D. José I / Maria, a Louca / Um Negro extraviou o ouro

Inconfidência
A bandeira da Inconfidência / O tropeiro Alferes (Quixote) / Influência iluminista / Maio
A Semana Santa / Os tropeiros riem / Silvério dos Reis / Tiradentes / Prisão de inconfidentes
O mito do embuçado / Os inconfidentes em Fuga

Fala aos pusilânimes: Os fortes vencerão com o tempo / O legado de submissão dos fracos
Cenário

Cenário:

Ambiente físico:
Estrada, ponte, montanha, a igreja branca
O cavalo, a soleira, o pátio, o lugar de esperança

Ambiente metafísico:
A fonte, a sombra, a voz que não fala
A névoa que forma nublados reinos de saudade e dor
Fala à Antiga Vila Rica

Como estes rostos


dos chafarizes,
foram cobertos
os vossos olhos
de véus de limo,
Eu lírico à cidade: de musgo e líquens,
Os rostos dos chafarizes cobertos de véus de limo e musgo paralisados no frio tempo,
fora das sombras
Eis o poder do tempo
que o sol regula.

As fontes falam numa linguagem própria ou não? Mas, ai! não fala
Nossos ouvidos é que não entendem? a vossa língua
como estas fontes,
- palavras d'água,
rápidas, claras,
precipitadas,
intermináveis.
Romance XX ou Do país da Arcádia
O país da Arcádia: Utópico / Imaginário
Está dentro de um leque O país da Arcádia
Sonho que guarda em pálpebra leve jaz dentro de um leque:
Emoção campestre sob mil grinaldas,
Menção a Cupido e sua aljava verde-azul floresce.
Por ele resvala,
O país da Arcádia: resvala e se perde,
Já dentro de um leque a aérea palavra
que o zéfiro escreve.
Nomes de pastores e pastoras do Arcadismo
A luz é sem data.
Ovelhinhas, Sanfonas e flautas Nomes aparecem
nas fitas que esvoaçam:
O país da Arcádia: Marília, Glauceste, Dirceu,
De repente, escurece / lágrimas / fim da alegria Nise, Anarda...
A tormenta cresce - o bosque estremece:
nos arroios, claras
Entre parêntesis: ovelhinhas bebem.
(o tempo é indelével Sanfonas e frautas
suspiros repetem.
Em cinza adormece o país da Arcádia
Criação do ambiente Árcade

Cecília lê a condição paradoxal do Arcadismo nacional:

1º A construção do lugar utópico grego:


Ovelhas, pastores, amores, bucolismo etc

2ª A construção do lugar distópico colonial:


O ouro, as intrigas, o poder, a Inconfidência
Romance XXI ou Das Ideias
O ambiente:
O campo, as lavras as serras, os diamantes, a terra revirada
Os negros, índios e mulatos, padres poetas, liteiras douradas
Igrejas barrocas, pontes conversas, gente que passa e ideias

A vida cotidiana: Arapongas, papagaios,


Casas amplas, rezas, mulatas e fidalgos, filhos bastardos passarinhos da floresta.
Salteadores, inveja, clero, povo, nobreza e ideias Essa lassidão do tempo
Mobílias, cortinas, nascimentos, batizados entre embaúbas, quaresmas,
Sermões, estudantes que partem, doutores cana, milho, bananeiras
e a brisa que o riacho encrespa.
Sombras perversas (ambiente de traições) e ideias
Os rumores familiares
que a lenta vida atravessam:
A vida cotidiana: elefantíases; partos; sarna;
Esposas, negras que amamentam, pássaros, alimentos torceduras; quedas; sezões;
A vida lenta, partos, doenças, picadas de cobra picadas de cobras;
Feiticeiros, unguentos, ervas, Senzala, Chibata sarampos e erisipelas...
“Ó imenso tumulto humano!” Candombeiros. Feiticeiros.
Banquetes, jogos, jornais, processos, alvarás cartas Ungüentos. Emplastos. Ervas.
Europa em guerra / Portugal em luto
Eu lírico contra a Coroa / Menção à Independência dos EUA:
“Triste rainha o governa” / Pedem mais ouro
“tão longe o trono se encontra” Doces invenções da Arcádia! Delicada
Recordação da Independência dos Eua primavera:
pastoras, sonetos, liras,
Ambiente árcade X Ambiente político-social: - entre as ameaças austeras
de mais impostos e taxas
Doces invenções: pastores, sonetos, lira
que uns protelam e outros negam.
Ambiente político: ameaças, impostos e taxas Casamentos impossíveis.
Casamentos impossíveis, sátiras Calúnias. Sátiras. Essa
Anarda, Nise, Marília paixão da mediocridade
O Novo Mundo x Os inimigos traidores / E as ideias que na sombra se exaspera.
E os versos de asas douradas,
que amor trazem e amor levam...
Anarda. Nise. Marília...
Romance XXII ou Do diamante extraviado
Jogo de estrofes:
Descrição e (comentários do eu lírico)
Um negro desceu do Serro.
Causo de um roubo:
Tinha roupa de encerado,
Um negro alto desceu do Serro com um diamante escondido nele com forro azul de vaqueta:
(Comparação com a noite negra que leva astros luminosos) e está provado
que o negro desceu do Serro
Escondeu o diamante na roupa: para vender o diamante.
Desceu para vender o diamante / Um soldado poderá prendê-lo.
(Quem teria coragem de ir prendê-lo) Sabe-se-lhe o peso e o preço,
e que o viajante,
Ninguém o prende: esse tal negro do Serro,
pode ainda ser encontrado,
Todos sabem o que ele traz / Vende a pedra na vila com sossego
se à Vila mandam depressa
(Ninguém na Vila terá mais sossego por causa desse extravio) algum soldado.

A cobiça dos homens da Vila: (Mas quem é que tem coragem


Um negro desceu do Serro / Desejo alvoraçado na vila de fazer parar o negro
(Com penas de pato, os invejosos fazem seus relatos (denunciam) nessa escandalosa viagem?)
Romance XXIII ou Das exéquias do Príncipe
Exéquias: Cerimônia fúnebre
Os sinos tocam pela morte do príncipe
Precoce morte do filho da Rainha (varíola, veneno ou outros)
Triste ano o de 1788
Já plangem todos os sinos,
Triste ano para Minas: pelo Príncipe, que é morto.
“Loucos” de Minas lamentam pelo herdeiro morto Como um filho de Rainha
Acreditavam que ele traria um melhor governo à colônia pode assim morrer tão moço?
Poetas, vigários, coronéis – os loucos de Minas Dizem que foi de bexigas;
de veneno - dizem outros –
O ambiente fúnebre e insano de Minas: que lhe deram os ministros
A notícia da morte / O sermão do padre para o não verem no trono.
Minas enganosa: ninguém quer ser vassalo Triste ano para a esperança,
este ano de 88!
“Todos se sentem seus donos!”

Ecos de emancipação política:


Mistério em cada encontro / Visconde planejando coisas
A palavra liberdade na boca ecoa ou sopra tímida
Maria I de Portugal:
Apelidada de “A Piedosa” e “A Louca”
Governou o país de 1777 até 1792
Temperamento melancólico

Foi responsável pelo episódio da Viradeira:


Retorno do conservadorismo em Portugal
Expulsou o Marquês de Pombal do poder

Rainha opressora à colônia:


Impôs maiores tributos à colônia
Impediu a industrialização local
Governava o reino na época da Inconfidência Mineira

1788:
Morte de seu filho primogênito D. José I
Tal fato contribui para o agravamento da insanidade da mãe
O narrador lamenta a morte do príncipe:
Morreu quem poderia trazer um novo tempo.
Ai, terras de Vila Rica,
Lamento por Vila Rica: os tempos andam revoltos!
Tempos revoltosos: sábios e tolos articulam Neste levante das almas,
trabalham sábios e tolos.
Uns, avançam com prudência,
Ambiente fúnebre:
outros partem, com denodo.
Os sinos plangem / Calai mulheres e crianças E alguns, de esguelha,
Exéquias são rezadas / Tudo é loucura e desacordo calculam, com finos olhares torvos:
da sorte dos companheiros
(Perdeu-se a oportunidade, neste ano de 88) fazem seu negócio e jogo
Romance XVI ou Da Bandeira da Inconfidência
Clima de encontros políticos e traições:
Casas com Luzes acesas (Encontros de pessoas) Atrás de portas fechadas,
Vizinhança de olho vigiando ações alheias à luz de velas acesas,
brilham fardas e casacas,
Nas casas de luzes acesas: junto com batinas pretas.
Brilham fardas, casacas, batinas (classes sociais dos rebeldes) E há finas mãos pensativas,
Mãos pensativas, fortes e de púlpito (metonímias / Hipálages) entre galões, sedas, rendas,
Citam Virgílio e Horácio (poetas latinos) – Homens letrados e há grossas mãos vigorosas,
de unhas fortes, duras veias,
Falam de Minas, impostos, fazendas, ministros, colônias inglesas
e há mãos de púlpito e altares,
de Evangelhos, cruzes, bênçãos.
Propostas: Uns são reinóis, uns, mazombos;
Uns sugerem, outros recusam, outros ovem ou aconselham e pensam de mil maneiras;
Se a Derrama for lançada haverá revolta com certeza mas citam Vergílio e Horácio
e refletem, e argumentam,
Perguntas: falam de minas e impostos,
Quais ações? Onde falar? de lavras e de fazendas,
Que bandeira usar? Usar símbolos da Igreja, da maçonaria? de ministros e rainhas
e das colônias inglesas.
Contexto:
Desde 1711, alta taxas sobre mineradores pela metrópole

Intendência de Minas:
Pagamento do Quinto (1/5 da produção)

Criação das casas de fundições:


Função de controlar a extração de ouro
Carimbo que evitava a extração clandestina

Medidas mais duras:


Cota anual de 100 arroubas (1500 Kg de Ouro)
Se não fosse atingida, confiscar-se-ia bens da população
Tal medida ficou conhecida como Derrama

Clima social na época da Inconfidência:


Terror e violência entre os moradores
Diminuição da produção de ouro

Conjurados:
Inspirados em ideias iluministas e na Independência dos EUA
Atrás das portas:
Entre o sigilo e a espionagem ocorre a Inconfidência

O Vigário ao poeta:
Pede para que escreva os versos de Virgílio num papel

O poeta pede:
Não mostre a ninguém: “Liberdade, ainda que tarde”
Liberdade - essa palavra
A bandeira: que o sonho humano alimenta:
Já está viva com a frase latina que não há ninguém que explique,
Os seus tristes inventores já são réus e ninguém que não entenda!)
Crime: ousaram falar em Liberdade

Os vizinhos:
Alvoraçados com os encontros / Especulam os homens
A palavra Liberdade: Todos entendem, mas não a explicam
Não sabem da bandeira, mas sentenciam os inconfidentes
Romance XXV ou Do aviso anônimo

Uma Carta anônima:


Veio de longe / Caiu como flor ao vento na Vila de S. João

Eu lírico adverte por Imperativos:


Correi senhores da terra / Rios de lágrima e sangue chegarão Veio uma carta de longe,
Parte / Notícias que prenunciam desgraças chegam não se sabe de que mão.
Atravessou esses campos,
Carta: Calúnias, suspeita, notícias incertas
caiu como flor ao vento
sobre a Vila de São João.
Notícia de Prisões:
Escondei pertences / Poderosos serão presos Correi, senhores da terra,
Queimou-se o que estava escrito (Textos proibidos) Ouvidor e Coronéis,
Fortes ecos de dor / Os escravos já sabem também enterrai vossas riquezas,
mandai para longe os trastes,
Contraste: escondei vossos papéis.
Meninos risonhos (quase órfãos) olham as nuvens
Olham o céu como anjos de ouro das Igrejas de S. João
Romance XXVI ou Da Semana Santa de 1789

Quartetos e (Tercetos): Ambiente religioso de negatividade

Lembrai dos altares e de seus anjos de olhos audazes


(Haverá sombra e umidade nas tristes pálpebras)

Vede os panos roxos / Os vultos desaparecem em saudade Lembrai-vos dos altares,


(Lutuoso véu de horizonte aguarda a fria fadiga) destes anjos e santos,
com seus olhos audazes
nos mundos sobre-humanos.
Recordai o alvo incenso
(Os pensamentos puros estremecerão fechados) (Haverá sombra e umidade
em vossas pálpebras tristes
Como é triste a carne, o sangue e o pranto com o céu preso numa grade.)
(como pedras sem ruído caiarão vossas rezas)

O amor não é doce; o bem não é suave; amarga a Liberdade


(Gemei sobre estes Ofícios)
Romance XXVII ou Do Animoso Alferes
O animoso (corajoso, forte) Alferes: Visão idealizada

A jornada do Alferes (visão heroico de um dia do herói)


Cavalga pelo monte e pela selva agreste (março místico) Pelo Monte Claro,
Conhece todas as plantas que curam (Hábil Tiradentes) pela selva agreste q
Todos o conhecem / Querido por diferentes classes sociais ue março, de roxo,
Com sua bússola atravessa a terra fértil (terra rica) místico enfloresce,
Terra de ouro e diamante / A tarde chega. Escurece cavalga, cavalga
o animoso Alferes.
O fidalgo Alferes voltará com muitos cruzados (dinheiro)
Não há planta obscura
Líder: que por ali medre
Discute / Reflete / Brinda novos tempos de que desconheça
Soldados, Mulheres , estalajadeiros – a todos diverte virtude que encerre,
Promete sossego e ventura o animoso Alferes - ele, o curandeiro
de chagas e febres,
No rancho: o hábil Tiradentes,
Descansa / Adormece / Dorme o animoso Alferes.
Deus, no Céu revolto, seu destino escreve
Na terra, ninguém o protege
Novo dia:
A bruma se afasta, acordam os pássaros
O Alferes volta à sua montaria / Cavalga como que no céu

Um sombra:
Persegue o Alfares / Conhece os seus passos

Narrador:
Que importa que o sigam ou o prendem?
Nomes de pastores árcades
Nenhum companheiro ele irá delatar Adeus aos caminhos!
Lá vai o que se oferece para o sacrifício - montes, águas, sebes,
ouro, nuvens, ranchos,
cavalos, casebres...
Despedida:
- Olham-no de longe
Adeus aos caminhos e à Natureza / Olham-nos os homens humildes os homens humildes.
Que venham soldados, escrivães, carrascos, maldições e preces E nos ares ergue a mão
Que o matem: ganhará quem perde sem retorno
que um dia os liberte.
O Alferes:
Desce espantado do cavalo / Parecem que sombras e janelas o olham
Falas sem sentido, perguntas, masmorras, sentença
Sentido esotérico: em sonho agradece – o audaz e valente Alferes
Romance XXVIII ou Da denúncia de Joaquim Silvério

No Palácio da Cachoeira:
Ai, que o traiçoeiro invejoso
Com sua pena bem aparada começa a escrever
junta às ambições a astúcia.
Vede a pena como enrola
Narrador: arabescos de volúpia,
Lamenta que o traiçoeiro distorça as palavras entre as palavras sinistras
Inclui palavras malignas na denúncia que faz desta carta de denúncia!
O traiçoeiro está contente com os horrores escritos
Homem subserviente aos ministros Que letras extravagantes,
com falsos intuitos de arte!
Intenções do traiçoeiro: Tortos ganchos de malícia,
grandes borrões de vaidade.
Ambiciona ter lucro com a delação
Quando a aranha estende a teia,
Distorce as verdades não se encontra asa que escape.

(No espelho do tempo, a verdade restabelece a verdade)


Joaquim Silvério dos Reis ( O traidor)

Joaquim Silvério dos Reis Montenegro Leiria Grutes (1756-1819)

Posição social:
Coronel da cavalaria, fazendeiro e proprietário de minas de ouro

Delação:
Carta de delação em 11 de abril de 1789 enviada ao V. de Barbacena
Informava o levante em Vila Rica, os ideais republicanos e a Independência

O que (supostamente) foi oferecido pela delação:


Ouro / Perdão de dívidas / Mansão / Cargo de tesoureiro / Pensão
Encontro com o príncipe regente D. João

No livro:
Assume o papel de Judas (O traidor sem caráter)
Avesso ao sonho de liberdade
Romance XIX ou Das velhas piedosas
Relato:
Atrás dele ia um cavaleiro levando um papel escrito
Era Semana Santa: Imagens dos santos cobertas
O traiçoeiro escreveu letras encaracoladas, mas não certas

(Lamento em razão do que escreve a mão de um traidor!)


O papel aceita
o que os homens traçam...
Traidor: E a mão inimiga
Comparado com uma aranha e suas teias como aranha estende
Teias: prendem padres, poetas, sábios, ricos com fios de tinta
(Lamento: as pessoas desconhecem o traidor) as teias da intriga.

Traidor: E lá ficam presos, na viscosa trama,


Gaba-se de evitar o levante e a Derrama os padres, os poetas,
os sábios, os ricos, e outros,
(Lamento: Não sabem que o traidor leva uma carta à corte)
invejados por causas secretas.

Pedido do narrador (velhas piedosas):


Pede para que os vizinhos notem a passagem de J. Silvério
Ouçam os dias escuros
(Lamento: Não sabem que o traidor chegou ao Rio)
Romance XXX ou Do riso dos tropeiros

Narrador: Tropeiros
Passou um louco, montado.
Um louco passou montado (Intert. Com Dom Quixote):
Passou um louco, a falar
Passou montado e disse que ia libertar a terra que isto era uma terra grande
Falava, montado, contra o governo e Portugal e que a ia libertar.

O narrador: Passou num macho rosilho.


Somos tropeiros / O louco já deve estar longe E, sem parar o animal,
O louco falava sobre as belezas da terra / Rica em metal falava contra o governo,
contra as leis de Portugal.
O riso dos tropeiros:
Nós somos simples tropeiros,
Existem pessoas que não levam a cabeça no lugar por estes campos a andar.
O louco já deve ir longe:
Se o louco voltar: mas inda o vemos pelo ar....
Por um decreto real o enforcarão
Romance XXXI ou De mais tropeiros
O LOUCO PROPAGA A IDEIA DE LIBERDADE:
Narrador: Outros tropeiros
Em cima da montaria, propagava sua ideia
O povo ria /
Fala das diferenças sociais e exploração dos ricos
O louco profetiza que outro virá lutar pela liberdade Por aqui passava um homem
- e como o povo se ria! -
Notícia da prisão do Homem que reformava este mundo
Dizem que foi preso de cima da montaria.
Cartas de denúncia entregues ao Vice-Rei e ao Visconde
Tinha um machinho rosilho.
O fim do riso: Tinha um machinho castanho.
Dizia: “Não se conhece país tamanho!”
Ninguém mais está rindo
Talvez o louco não volte, pois o matarão “Do Caeté a Vila Rica,
tudo ouro e cobre!
(Eu lírico: Pobre de quem sonha / O que é nosso, vão levando..
Pobre do Alferes de cavalaria) E o povo aqui sempre pobre!”

Por aqui passava um homem – o povo ria


Visconde de Barbacena

Luís António Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (1754-1830)

Visconde de Barbacena:
Nascido em Portugal / Formou-se em filosofia e leis / Professor
Protegido de Marquês de Pombal por sua notável inteligência
Nomeado em 1788 Governador de Minas Gerais
Veio substituir Luís da Cunha Meneses, acusado de corrupção

Governador de Minas na época da Inconfidência:


Missão de aumentar a tributação de minas para Portugal
Anunciou a Derrama em 1789

Atuação repressora:
Comandou prisões em Minas e no Rio de Janeiro
Responsável por degredos e pela execução de Tiradentes
Romance XXXII ou Das pilatas

Eu – Interlocução com uma camarada:


Deseja ir ao Rio para enriquecer
Riqueza para salvar os que sofrem na terra de ouro
Não se aflija por causa do meu filho
Vou deixar bens para ele

A interlocutora ( uma mulata): “Vou-me a caminho do Rio


Relata o que lhe dizia o homem minha boa camarada...
O tempo passou e ele não voltou
(O tempo passava.
Lágrimas, sofrimento, prisões e desgraças
O filho sem poder assentar praça...
Nos rios de ouro,
Conclusão da mulata: perdidas muitas lágrimas salgadas.
Não deve sonhar o pobre Nem canoas nem moinhos:
só prisões e mais desgraças...)
Romance XXXIII ou Do cigano que viu chegar o Alferes

O Homem que vem montado: Visão messiânica


Seu cavalo pouco vale / Parece ter a sina de ser perseguido
Sua estrela: metade brilho, metade escuridão (Predestinado)
Não há como deixar seu fado: ser ferido, ser glorificado
O Homem: Astro divino e Num poste enforcado
Vem montado no rosilho.
Vem montado num rosilho: (Igual a Cristo) No rosilho vem montado.
Atrás dele o inimigo (na sombra, calado) Mas, atrás dele, o inimigo
“Vejo, no alto, o fel e espinho / e a mão do Crucificado” cavalga em sombra, calado.
Vejo, no alto, o fel e o espinho
Lamento: e a mão do Crucificado.
Lamento pelo destino dos assinalados
Não há como fugir do fado
Romance XXXIV ou De Joaquim Silvério

Joaquim Silvério: Melhor negócio que Judas


Melhor negócio fez do que Judas: traiu um simples Alferes fazes tu, Joaquim Silvério:
Recebeu dinheiro, comendas e outras coisas que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Narrador: Interlocução com Silvério Recebeu trinta dinheiros..
Judas teve remorso e tu não / Judas se matou e você não - e tu muitas coisas pedes:
Grandes homens x os que são vermes pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glórias, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!
Tiradentes: Visão republicana (Messiânica)
Tiradentes: herói do século XIX
Alçado à condição e herói pelos republicanos
Visto como mártir / Herói libertador

Visão mítica:
Cecília parece tomar a mesma ideia de P. Américo
Associar Tiradentes a Cristo: o que veio nos salvar

Imagem santificada:
Pobre, despossuído, morto por ideais humanizados
Contrário ao apego aos bens
Viajante que dissemina ideias libertadoras

O messias traído:
Delatado por J. Silvério (Judas)
Tiradentes não traiu ninguém

Pedro Américo (1893)


Tiradentes: O Dom Quixote

Tiradentes: o alferes quixotesco


O homem de rosilho que as pessoas riam
Viajava pregando liberdade e justiça social
Pregava, aos olhos alheios, uma utopia

Homem de um ideal:
Sem poder (alferes) social, mas livre de alma
Figura do louco: rompe com a lógica existente

Cândido Portinari (1961)


Romance XXXV ou Do Suspiroso Alferes
Quadras + o verso: “Ah! Se eu me apanhasse em Minas...”

Sobre a terra mineira:


Terra de belezas e águas podres (negócios humanos)
Palácios, fidalgos, fofoqueiros
Rios inchados pela chuva, neblinas

Interlocução com Alferes: Mas os traidores labutam


nas funestas oficinas:
O que vens fazer com tuas loucas doutrinas
vão e vêm as sentinelas,
A quem queres libertar / Tal coisa custa carnificinas passam cartas de denúncia..
Por quem se sacrifica? “Ah! se eu me apanhasse em Minas...”

Minas de altas montanhas: (E tudo é tão diferente


Os traidores labutam altas oficinas do que em saudade imaginas!
Vão e vem as sentinelas / cartas de denúncia Onde estão os teus amigos?
Quem te ampara? Quem te salva,
Interlocução: mesmo em Minas?
mesmo em Minas?)
Quem te salva mesmo em Minas? Onde estão seus amigos?
Romance XXXVI ou Dos Sentinelas

Sentinelas:
De noite e de dia, seguem o Alferes
Estão disfarçados / São múltiplos
“Pobre do Alferes” – Não há neutralidade do narrador
Devem ser as sentinelas
Pergunta do Alferes à Joaquim Silvério: que amanhã me prenderão?
(Quem são esses vultos que seguem, Joaquim Silvério,
Quem nos leva á perdição) Quem as pôs sobre os meus passos?
Quem comete essa traição?
Intertextualidade: Cristo e Judas
Responde, Joaquim Silvério,
quem nos leva à perdição?)
Sem resposta:
O traidor cala diante do animoso Alferes
Romance XXXVII ou De maio de 1789

Tom de crônica / Diário:

Maio de 1789:
Primeiro de Maio
Frias Neblinas Coronéis e poetas
Silvério imaginando receber dinheiro Passou por aqui o Alferes?
Padres, doutores, desejo de liberdade Sim, passou, mas já vai longe.
Cartas suspeitas, soldados, desejo de ouro e diamante Quem vem agora atrás dele?

1º de maio: Quem voa pelo horizonte?


“Passou por aqui o Alferes? Silvério (Judas) vai atrás dele.” Dizem que é Joaquim Silvério!
Maldito Silvério: mesmo na Semana Santa delata (Maldito seja tal homem:
tem vilania de Judas
Escolhe o nome dos que vão ser perseguidos
com arrogância de Conde.)
(E o Tempo, que é só memória, / com sua sombra se assombre)
9 de maio:
Todos sabem que o Alferes está foragido
Em que fazenda, sobrado, perigoso se esconde?
Anjos de pratas quebrados o miram
Viam que ele mendigava um abrigo
- Minas da minha esperança,
10 de maio: Minas do meu desespero!
Escuridão, duros passos – Já se sabe quem foi preso Agarraram-me os soldados,
Todos se benzem de medo como qualquer bandoleiro.
Vim trabalhar para todos,
Pensamentos do Alferes: e abandonado me vejo.
Minas minha esperança, meu desespero Todos tremem. Todos fogem.
Eu que lutei, sou preso como bandoleiro A quem dediquei meu zelo?
Por qual causa lutava?
Meados de Maio:
Furriel, soldado, ordenança, etc
A notícia se esparrama / Por que Minas estremece?
Se só foi preso um mísero Alferes?

Fim de Maio: Sentam-se na cama, os doentes.


Clima de desassossego / Soldados vão vêm Choram de susto, os meninos.
Mil portadores galopam.
Levaram Gonzaga, Alvarenga, Toledo
Há mil corações aflitos.
Mandaram recado a Cláudio para que se esconda Por aqui brilhava a Arcádia,
Coração aflito: doentes, meninos com flores, versos, idílios...

A triste Arcádia: (Que querem dizer amores,


“Por aqui brilhava a Arcádia: flores, versos, idílios aos ouvidos dos meirinhos?)

(Que querem dizer amores aos ouvidos dos meirinhos?)


Romance XXXVIII ou Do Embuçado

O misterioso:
Homem ou mulher? Chapéu desabado / Todo embrulhado
Ele é o misterioso embuçado (rosto coberto)
Quem é? Fidalgo ou escravo?
Entra em casa errada / Assusta um menino

Recado que traz:


Pede para que fuja: a tropa vem – “sereis preso e enforcado”
“Fugi para lugares desconhecidos”
Quem era o embuçado? De onde veio?

Especulações sobre ele:


Era a Morte, o Amor, o Amigo, o Inimigo? Era o Embuçado.
Romance XXXIX ou De Francisco Antônio

SÉRIE DE PERSONAGENS PERSEGUIDOS PELO REINO

A) Francisco Antônio:
Gordo: vale por quatro / Vai montado para a Vila Formosa
Homem de parentes importantes / Dono de lugares e escravos
Vai comentando sobre a Derrama, Levante
Conspira, Organiza / Tão gordo, vale por quatro
Caça com amigos, pergunta quem foi Franklin (EUA)

Narrador:
Associa-o a um herói velhaco
Francisco Antônio

Francisco Antônio de Oliveira Lopes (1750-1794)

História:
Coronel / fazendeiro / Minerador
Participou da Inconfidência Mineira
Não estava com problemas financeiros como os demais
Obeso / Conhecido por falar muito rápido

Destino:
Degredado com TAG em 1792 para Moçambique
Romance XL ou do Alferes Vitoriano

B) A Fuga do Alferes Vitoriano:

Narrador indaga:
Para qual lugar ele vai? Nem amanheceu. Contrabando?
Advertência: Tenha cuidado – a sorte muda sempre

Vitoriano:
Vou na direção de Mariana / Leva uma carta e um recado

Narrador adverte:
Se te agarrarem, você vai ser preso e cumprirá sentença

Vitoriano:
Confessa que veio a mando do Coronel Francisco Antônio (Obeso)
Vinha, porém, tarde, pois ele estava preso ou morto
Romance XL ou do Alferes Vitoriano

Preso no caminho:
Barrado no caminho / Não houve quem o barrasse sua prisão
Penas, açoites – sem direito somente ao degredo
A carta não foi entregue / A masmorra o seu destino
Vitoriano Gonçalves Veloso:

Alfaiate mulato ( o único não branco entre os Inconfidentes)


O único condenado a chibatas e degredo.
Foi ele o mensageiro dos revoltosos
Ficou por dois dias sobre o seu cavalo a alertar seus companheiros da prisão de Tiradentes no Rio.
Por ser mulato, recebeu chibatadas em 1º de maio de 1792 antes de ser degredado.
Romance XLI ou Dos delatores

Boatos:
O preso, o carcereiro, o capitão etc / Boatos pela cidade
Carcereiro e capitão foram promovidos
Traição como meio de ter vantagens / Eles foram presos também

Delator:
Digo por ter ouvido que os filhos do reino em breve será cativos
Minha denúncia é breve: não sei se ocorreu delito ou conspiração
Mesmo assim marco nomes e calo o meu / Denúncia sem provas
Romance XLII ou Do Sapateiro Capanema
“Quadras + 14 versos”:

Quadras entremeadas à história:


Os branquinhos querem tomar a terra. Com o tempo a retomaremos
(A mesma quadra é repetida ao longo do texto)

O Sapateiro: 1ª pessoa
Noite de São Pedro / Viaja até Matosinhos
Bate à porta da taverna (quer diversão) / Está frio / Ninguém abre
O dono o trata como um bicho por não abrir

Conversas:
O Sapateiro conversou com pessoas sobre o fisco, prisões e levantes
Estava com seus amigos e o taverneiro na cama, sem abrir

Especula:
Será que o taverneiro tem medo? Ele está na cama?
O sapateiro e seus amigos gritam, mas não são ouvidos
Romance XLII ou Do Sapateiro Capanema

O sapateiro se apresenta:
Sou da comarca do Serro / Sapateiro por ofício
Não sabia do levante ? Preso pelas quadras que fez
Agora, na cadeia, entende muitas coisas (FIM DA ALIENAÇÃO)

História:
Foi buscar uma taverna e acabou encontrando a prisão
Espera a sentença: Açoites? Forca?

Narrador comenta:
Assim dizem que falava o sapateiro mulato
As quadras foram suas / O resto deve ser falso
Romance XLIII ou Das conversas indignadas

As prisões:
Eram muito mais participantes / Pegaram somente os delatados
Nada, nenhuma palavra, pode convencer o judiciário vendido

(Calem-se os apadrinhados / Fujam os parentes


Os mais fracos serão escolhidos para ser exemplos de castigo)

Quem será acusado?:


Sem amigo, parente, lavras
Metido em sonho de louco
Tiradentes será o acusado (Bode expiatório)
Romance XLIV ou Da testemunha falsa

A falsa testemunha: 1ª pessoa (antiépico)


Para se livrar do judiciário e da prisão acusaria qualquer um
Não se aflige por ninguém ( não pensa nos outros)
Melhor o remorso do que as torturas
Não pensa em inferno / Teme as dores da tortura
No futuro saberão da verdade / Não se importa

Visão de mundo:
O mal triunfa sobre o bem / Não há honra
Heróis são degolados / Não deseja ser um
A verdade é o que me convém

A delação:
Acusará qualquer um: basta que ordenem
Romance XLV ou Do Padre Rolin
História do Padre Rolin:
Carta de Vila Rica ao Tejuco: Ordem de prisão ?
Discutem se devem ou não prender o padre
Boatos sobre o seu paradeiro: já fugiu, está em casa etc

Qual a causa da prisão:


Boatos: mulheres, desvios de pedras etc

Soldados buscam o padre:


O padre já tinha fugido / escondido em casebre na mata
Deixara o tempo passar, a barba crescer

Padre de aventuras e pecados:


Envolvido com mulheres – não sabia dos limites alma-corpo
Padre de maçonaria: sonhava e conspirava
Padre amável e guloso / Mandava doces ao poeta Gonzaga
Padre Rolin (Figura do malandro?)
José da Silva e Oliveira Rolim (1747-1835)

História nada virtuosa:


Filho do contratador de diamante José da Silva de Oliveira
Amasiado com Quitéria Rita (filha de Chica da Silva)
Ligado a negócios ilegais / O mais rico dos Inconfidentes

Família paterna:
Ligada ao contrabando de pedras, usura e tráfico de escravos

Participação na Inconfidência:
Ligou-se à Inconfidência por causa da Derrama
Grande influência sobre a região do Serro (A Coroa o temia)

Prisão:
15 anos preso / Liberto, lutou oara reaver seus bens
Soment com a Independência do país foi indenizado
Romance XLVI ou do cacheiro Vicente

Narrador com empatia: Coloca-se no lugar de Tiradentes

O que doeria se fosse Tiradentes:


A boca dos maledicentes

O traidor hostilizado:
Vicente Vieira da Mota acusas, tu, Tiradentes
Dentes de víbora / Covarde / Peçonhento
Dentes de animal carniceiro que feria o Alferes
Romance XLVII ou dos Sequestros
O corrompido judiciário: ostentação e corrupção
Ordens mandadas, meirinhos apressados
As roupas engomadas do judiciário

Erudição vazia:
Tantos livros: Romanos, dicionários, tratados
Sugestões perigosas: França, EUA, Voltaire etc

Justiça vendida:
Meirinhos se preparam / Ordens já dadas
Curvam-se ao vil desejo

Meirinhos:
Monótono exercício de executar os sequestros

Considerações do narrador:
Pobres coisas desamadas
Qual a maior desgraça: a do réu ou dos que julgam?
Parte III
Parte III – Morte de CMC e Tiradentes (XLVIII- LXV)
Romances:
A vida como jogo:
Os lances / as estratégias – todos perdem / todos submissos a vontades superiores

Os árcades:
Cláudio Manuel da Costa (versões da morte?)
Tomás Antônio Gonzaga (noivado / prisão )

O Mártir:
Tiradentes (o que luta por ideias, o despossuído, o que veio trazer LIBERDADE)
Prisão (pluriperspectivismo – polifonia mais intensa)
Os pensamentos do Alfares / A reconstituição de seus momentos antes da morte
A caminhada até o cadafalso / A visão de um bêbado sobre a execução do Alferes

A pedra Crisólita:
A pedra sem valor comercial – Símbolo da não corrupção / de LIBERDADE

Das palavras aéreas:


O poder das palavras (Construção e destruição / beleza e horror)
Fala aos Pusilânimes
Fala aos pusilânimes (fracos): interlocução

Utopia:
Se não fossem pusilânimes, falariam de um lugar com belezas
Lugar de beleza natural, de cavalos livres
A bela paisagem, a algazarra dos negros, os indígenas, a Liberdade
Contraiam histórias em varandas / Repetiriam rezas feitas

Realidade:
Os pusilânimes fecharam as almas e as janelas (locus horrendus)
Escreveram cartas anônimas / Denunciam irmãos, pais e filhos
Esconderam ouro, fugiram com povos e remorsos
Condenaram a masmorras, à morte com línguas peçonhentas
Queimaram a primavera /
O sonho humano
Mas o tempo passa e no futuro:
Novos homens no futuro bradarão revoltas contra os ossos dos pusilânimes
Palpita no céu o luto pelo que desperdiçastes

Recado final:
Vós, que estais no inferno, olhai, vinde vê-lo, o seu nome:
Pusilanimidade
Romance XLVIII ou Do jogo de cartas

Narrador:
Jogos são jogados por anos, meses e dias: em todas as épocas
Todos (soldados, camponeses, fidalgos) compõem o baralho
Nas partidas, a perda é certa
Morrem culpados e justos / Ouros, espadas, naipes, enigmas, lance
Minas, sangue, sofrimento

O vento:
O vento bate no baralho e o jogo segue outras voltas
Romance XLIX ou de Cláudio Manuel da Costa

Interlocução com o poeta:


O embuçado havia pedido para que fugisse
Quem não tardaria sem ser preso / Queimasse os papéis
Vede o resultado: Preso e morto / Pescoço na corda

Versão duvidosa:
Contam ter sido enforcado, mas tal versão não é a certa
Uns dizem que foi morto por punhal, outros veneno
Que não foi suicídio, mas assassinado
Ninguém saberá o que ocorreu
Talvez colocaram outra pessoa em seu lugar
Romance XLIX ou de Cláudio Manuel da Costa

Poeta:
Homem de muita luz / respeitado pelo povo
Secretário do governo / Tinham uma casa enorme /Dinheiro emprestado
Afilhada de João Fernandes

O narrador:
Não acredita na versão dada: punhal, veneno etc
Versões não confiáveis de pessoas não confiáveis

Fica o mistério:
Glauceste Satúrnio morto ou vivo deixou de existir
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
Um homem letrado e rico:
Nascido em Mariana / pai ligado à mineração
Formou-se em Direito em Coimbra

Homem de leis e da burocracia lusitana:


Retorno ao Brasil: Ocupa o cargo de procurador e desembargador
Por duas vezes foi Secretário de Estado

Homem de letras:
Pseudônimo: Glausceste Satúrnio (importante poeta do Arcadismo)
Grande influência literária em Ouro Preto (lido por todos)

Homem de Conjuração:
Aos setenta anos de idade, foi preso / Interrogado uma única vez
Versão oficial de suicídio / Queima de arquivo?

Mistério de sua morte:


Tese de depoimento na Devassa adulterado
Possível medo de V. de Barbacena de ser delatado
Sua filha e genros foram assassinados no dia de sua morte
Romance L ou De Inácio Pamplona

Inácio Pamplona:
Homem de força e orgulho / Alegre / Passou em 4 de julho
Disse ter sido mandado para serra atrás de ouro e diamantes
Ele não o disse. Mas acharam o Dr. Cláudio morto neste dia
Passou com um fugitivo
Talvez seu companheiro fosse o Dr. Cláudio fugitivo.

Chegada dos ministros para a Devassa:


Chegaram para a Devassa/ Pamplona já estava longe.
Não tinha ouro ou serra brava ali perto
Ninguém explicava a morte do Dr. Cláudio.
Inácio Correia Pamplona (1731-1810)

História:
Bandeirante / Um dos delatores da Inconfidência
Comerciante / Comandante de tropa
Romance LI ou Das Sentenças

Sentenças:
Vem o peso do mundo com suas fortes sentenças.
Sobre mentira e verdades vêm as mesmas penas.
Masmorras, o peso da morte, inocentes ou culpados
Justiça mais severa com homens desonrados (pobres)

Justiça corrompida:
Peso da usura, as influências políticas
Culpados com dinheiro sempre fogem dos castigos
Vem o peso do tempo e da vida: tormentos e forças
Os donos da Justiça vêm com suas balanças e preços dar suas sentenças.
Romance LII ou Do carcereiro

Considerações sobre o condenado:


O embargo diz algo, mas eu (carcereiro) acho que a história terá mau fim.
Levarão este pela rua afora/ Nunca lhe deram nada. Darão agora?

Corrompida justiça:
O escrivão nunca escreve o que foi dito
Não tem lei ou justiça para quem nasceu infeliz
A verdade não defende acusados/ enredos (tramas) surgem
Morrem os justos nas tramas do mundo.
Romance LIII ou Das palavras aéreas

Lamento do narrador (Reflexões sobre as palavras)


Ai, palavras! Sois de vento/ estrato poder
Ides no vento e tenham sorte nova/ São doces e terríveis
Criam liberdade e prisão/ Povos, reinos, impérios

Por trás de grossas paredes:


Estais nas penas, nas mãos dos juízes, nos navios para os degredos
Pelas estradas afora erguendo muito murtas
Entre verdades e galhofas – voa incerta

Nova interlocução:
Mirai, palavras, o que sois agora
Acusações, sentinelas, perfídia, presídios úmidos, solidão, duro ferro
Esperança que não volta/ Coração que vacila
Romance LIV ou Do enxoval interrompido

Noivo: Preparativos do casamento em Maio


Esteve aqui o noivo bordando o vestido de seu enxoval
Era maio/ Rosas no quintal/ Neblina/ Lua como um presságio?
Noite na Vila/ Agulha de prata e ouro/ Luz de vela

Versos que lembram o Arcadismo (entre aspas)


“Sabeis, ó pastora, do zagal que andava num prado sobrenatural?”
“Teria um rival?” “Quem será o chacal?”

Agulhas do noivo:
Em sonhos trançava um novo madrigal/ “Ó, pastora, sabe por que colocam algema no noivo?”
A agulha quebrou/ “Procurai, pastora, o rosto do chacal?”
Lamento (clima de tristeza no ar)/ “Pastora, onde está o noivo que bordava?”
Romance LV ou De um preso chamado Gonzaga

Tercetos seguidos de sextetos:

De juiz a criminoso sem poder de defesa:


O que pensa um preso que conhece as leis e continua indefeso!
O digno magistrado agora é tido como criminoso

Narrador: sobre as mudanças do tempo


Pondero que tudo no mundo mente (daqui nem ouro quero)
Pode ser que lágrima corressem em sua face:
Do passado fica o semblante vero/ Hoje aqui padece
A vida é sem presente (Daqui nem ouro quero)

Falas perdidas:
Inocente, culpado? / Enganoso, sincero?
Nada do que falar trará o amor de volta
Ó surda gente, nem ouro quero.
Romance LVI ou da arrematação dos bens do Alferes

Os bens do Alferes tomados: Uso do Imperativo


( comentários irônicos – “lamentosos” do narrador)

Inventário de um despossuído: desapego dos bens materiais


O rosilho macho que avaliaram por 10 mil réis
As esporas, as navalhas, bolsinha dos ferros (preços)
canivete, espelho, fivela, horas guardadas no porteiro
Romance LVII ou dos vãos embargos

Embargos

Discurso entre aspas: Defesa de Tiradentes


“Este é o homem loquaz e sem reputação, sem bens que o tornassem capaz de semelhante ação.
Por indiscrição, proferiu quiméricas ideias – por ser louco, deve-se perdoar

Apelo ao que é justo:


Pois assim diz a lei de grandes imperadores
Era um homem loquaz e quis fazer de Minas uma grande nação”

Narrador: Digressão sobre o justo


(Ninguém faz o que quer, ninguém sabe o que faz, e os culpados quem são?)
Romance LVIII ou da grande madrugada
Grande Madrugada – Estrofe (5 versos) + Tercetos – tom dialógico

Madrugada: O dia da morte do Alferes


Quint: Se vai longe a alvorada, por que o dia tarda? Que negrume se levanta?
Terc: Não é nuvem, nem rochedo/ Detenha as rédeas ao medo. É o negro Capitania

Quint: Olhai vós, condenados, a grande sombra que avança/ Este é o que aperta o pescoço
Terc: Para o assombro de todos, ainda lhes cavalga os ombros e nos ares balança.

Tiradentes: Tranquilo na espera da algoz


Quint: Não fecheis vossos olhos/ Hoje é tempo de agonia/ Neste aposento, a noite principia
Terc: Vede o mártir como olha sereno sua desdita e o negro Capitania

Quint: Permite que te beije os pés e as mãos. Também morrei na cruz despido Cristo
Terc: Vede o carrasco ajoelhado, todo em lágrimas lavado, lamentar sua sorte

O caminho para a morte:


Quint: O mártir já anda/ A clerezia o cerca/ Clarins, soldados, calados – sombria carreta
Terc: Vou lhe seguindo os passos/ Onde há de vir em pedaços com o negro Capitania
A morte injusta transformada em espetáculo:
Quint: Povo apinhado nas janelas, nos morros/ Ouvidores, ministros sinistros em salas ricas
Terc: Roupas brancas ondulavam ao vento/ Rezam damas e donzelas

A hora da morte:
Quint: “Nem por um... traias teu Rei”/ Na praça, um silencioso tumulto
Grito de remorso oculto, sentimento de desgraça
Terc: Para o tempo, de repente, fica o dia diferente/ E agora a carreta passa.
Romance LIX ou da reflexão dos justos
O traído: reflexões
Foi trabalhar para todos/ Não conhece mais ninguém/ Quando vem a desgraça quem ajuda?
Tanto lugar visitado/ Agora um simples Alferes – louco, sozinho e perdido

Sozinho: abandonado por todos:


Talvez chore na masmorra, lembre-se dos seus sócios desta malograda empresa
Sábios, ilustres, ardentes – agora esquecidos da causa

Reconhecimento trágico: por quem lutava?


O forte pode chorar pela ingratidão daqueles por quem luta
Sem nome, seus filhos – seu corpo tomba por quem?

O legado dos pusilânimes:


Ambição gera injustiça, injustiça covardia: renunciar ao valor. O herói não
Desses exemplos nascem gerações aprisionadas: sem confiança em amigos e processos

Que tempos medonhos chegam:


No futuro quem saberá o que é certo/ Como será essa nova humanidade
Romance LX ou do caminho da forca

O caminho da forca
Os militares, o clero, os meirinhos, os fidalgos que o conheciam de vista
As donzelas, os meninos, os ciganos, os escravos, os seus pacientes veem ele chegar à forca
Ele pensa nos enganos e traições

Estrofe em itálico: Beleza de Minas longe da execução


Ambiente bucólico belo: tropeiros, nuvens, montes claros (longe de execução)

O caminho:
Pensamentos do Alferes: Ondes estão os poderosos? Eram fracos/ Almas mesquinhas
Morrerá sozinho no cadafalso
Hino de morte:
Ah, solidão do destino/ Ah, solidão do Calvário
Tocam os sinos. Qual igreja e santo? / Frades rezam
Caminha a bandeira da misericórdia

Recado a D. Maria I:
Os que foram salvos não livram o remorso dela em função de não perdoar o Alferes
Pobre rainha. Entre intrigas ficou demente: Gemendo a palavra Inferno.

Alferes:
Tudo leva na memória/ As belezas de Minas e os sofrimentos dos negros

Narrador:
Agora é quase um morto/ Partido em 4 pedaços
Para que Deus o aviste – foi levantado em poste alto

(A bandeira da misericórdia caminha)


Romance LXI ou Dos Domingos do Alferes
Jogo com a palavra Domingo(s) – Nome e dia

Os Domingos na vida de mulheres:


A mãe, acreditando vir uma menina:
Imaginava o nome Domingo Xavier Fernandes, nome do seu pai
A menina virou mulher e dizia Domingos da Silva dos Santos, o nome de seu marido
O nome de seu primeiro filho foi Domingos

Estrofe em itálico
O nome Domingos por toda a parte a seguia

Conversa:
Domingos de Abreu Vieira quem batizaria meu filho? Ela pergunta ao amigo poderoso
Teme os tempos que chegam

Domingos: As datas
Domingo após domingo. Cartas a Silvério, subida à cachoeira, etc
Soneto:
“Ai! De domingo a domingo chega ao caminho do rio”
Encontra Domingos Pires

Estrofe em itálico
Domingos conta a Domingos (é nome predestinado)
já vem da vila à cidade do Visconde ao Vice-Rei

Domingos
Vê sentinelas os seus passos rodarem
Sobe por aquela escada envolto na noite escura como um vil criminoso
Era a casa de Domingos na rua dos Latoeiros
Entre imagens de prata e crucifixos Domingos Fernandes Cruz
Estrofe em itálico:
Era a casa de Domingos no domingo
Última teia de sonho / agora os domingos seriam de prisão

Assassinato (execução)
Certa manhã tenebrosa – no Campo de São Domingos
Um homem de nome Domingos aponta a forca de 5 degraus
Num dia de domingo

Itálico:
Lá vai cortado em pedaços pela serra acima
Domingos Rodrigues Neves tranquilamente o conduz com os oficiais de justiça
Domingos Fernandes da Cruz:
O que escondeu Tiradentes

Tiradentes foi para o Rio de Janeiro e sabendo que o governo já tinha conhecimento da revolta tentou se
esconder. O padre Inácio Nogueira levou Tiradentes para a casa do artesão Domingos Fernandes da Cruz, 64
anos, solteiro, paulista de Mogi das Cruzes que morava sozinho com mais dois escravos na rua dos Latoeiros,
hoje rua Gonçalves Dias.
Domingos Fernandes Cruz aceitou esconder em sua casa/oficina um oficial fugitivo que nunca tinha visto antes
atendendo a um pedido de sua comadre Inácia (Gertrudes de Almeida) ­– a viúva explicou ao artesão que aquele
homem havia curado sua filha, portanto tinha a obrigação de ajudá-lo.
Tiradentes teve a casa cercada ainda no dia 10 de maio de 1789 por soldados originais da cidade de Estremoz.
Escondeu-se atrás das cortinas da cama, segurando um bacamarte carregado, cedido por Matias Sanches
Brandão, e mantendo duas pistolas por perto, cedidas por Francisco Xavier Machado. Quando os soldados
invadiram o quarto, Tiradentes entregou-se.
Romance LXII ou do bêbado descrente
1ª pessoa (bêbado):
Vi o penitente com a corda no pescoço
A morte era o menos, grande o alvoroço
Se morrer é triste, por que a cara de contente das pessoas?

(Lamento do narrador:
“Ai Deus, homens, rainhas/ Eu vi a forca e voltei/ Os paus vermelhos que tinha)

Bêbado:
“Sinos, tambores rufavam, uniforme cavalos
Se era criminoso, por que tantos veludos e sedas?
(Quando me respondereis?)”

Bêbado:
Parecia um santo! Mãos amarradas no meio das cruzes
Se já conheciam a sentença, por que retardaram a agonia?
(Não soube. Ninguém sabia)
Bêbado:
Traziam-lhe cestas doce e vinhos para ter forças no caminho
Se ia morrer, por que queriam que morresse forte?
(Ninguém sabia. Não sei)

Bêbado:
Não era festa, enterro, verdade ou erro
Por que se ouve salmo, ladainha, se tudo era vontade da rainha?
(Deus, homens, reis, rainhas – Grande desgraça a minha. Nunca vos entendereis!)
Romance LXIII ou Do silêncio do Alferes

Entre o desejo de liberdade e a surdez dos homens


“Vou trabalhar para todos” – disse a voz no alto da entrada
Mas o eco andava longe e os homens próximos não repercutiram nada
“Bebamos ao futuro” / Beberam com ele na pousada, mas agora não sabem nada
“Levai pólvora e chumbo”/ disse aos da boiada

Alferes quixotesco: o homem do rosilho


Homens que passavam riam do homem do rosilho.
“Quem me segue? Que me querem?” pergunta exportado.
Mas o traidor e os sentinelas nada respondem

Solidão do Quixotesco:
Amigos longe, sem amada. Leva uma estrela no sonho e uma tristeza e mais nada
(“Ah se eu me apanhasse em Minas” suspira com a voz cansada? Largo é o rio na serra)
Entre parênteses e itálico – conjunto de estrofes

Alfares: o despossuído
Os algozes sobem a escada com duros passos. Chumbo no bacamarte
Tanto tempo na masmorra. Os outros têm privilégios: amigos, ouro, parentes
Só ele nada tem

Interlocutor: O Quixote silenciado / Esquartejado


Vós sabeis vilas e estradas o que sofria para servir por nada
Já lhe tiram a vida/ Agora é puro silêncio
Repartido aos 4 ventos/ Já sem lembrança de nada
Romance LXIV ou De uma pedra crisólita
O homem e a crisólita:
Dizem que saiu dessa casa com uma crisólita na mão
Era noite numa triste ocasião/ Sentinelas escutavam seus passos na escuridão
Trazia de volta essa pedra que não pode ser lapidada/ Frustrada joia. De quem era?
A morte está sempre com pressa de não diz nada

Reconstituição dos passos de Tiradentes pela cidade:


Entrou pela sombra da rua com a pedra nos dedos/ Escuro/ Segredos na cidade
A noite era uma trama surda/ Denúncias e medos
Caminhou sozinho, veemente e calado, com sua crisólita fria
Seguiu por aquela esquina com seu passo condenado.

Dias depois: A morte


Preso/ rolou pelo esquecimento sua crisólita sem chama
Talvez não fosse crisólita/ Podia ser gotas de prato
Era o Alferes Tiradentes enforcado naquela praça.
Muita coisa não se compreende/ O tempo passa
Pedra: sem valor econômico, mas de preciosa pela LIBERDADE (Pedra do despossuído):
Mas sempre uma crisólita parece diamante sem jaça
Era uma simples pedra fosca sem lapidação
Quando nela se fala, a sombra se desfaz e sua luz ilumina o rosto do Alferes
Parte IV
Parte IV – Condenação de TAG e A. Peixoto(LXV- LXXX )
Cenário:
O desolador jardim de Tomás Antônio Gonzaga
O tempo que tudo destrói / Passeio pelo jardim do poeta

Romances:
Gonzaga:
Os maledicentes / os judiciário corrompido / a prisão / o degredo em Maio
Juliana de Mascarenhas / Novo casamento / Coração que se esqueceu de Marília

Marília:
Solidão daquela que ficou por casar / Vida de reclusão e solidão

Alvarenga Peixoto:
Prisão / Degredo na África / Morte /
Mulheres do poeta: Bárbara Heliodora e Maria Ifigênia

Rainha Maria I:
Melancolia: companheira de infância
Olhar voltado à transcendência / Culpa e remorsos
Cenário

Ambiente desolador: o jardim de Gonzaga


No jardim que foi de Gonzaga, a pedra é triste, a flor é débil
Luz amarga/ Espinhos selvagens crescem/ árvores sem primavera
Ervas secas/ candeeiro sem lume/ Fonte sem água/ teias de aranha/
Um flácido silêncio sobre os restos de histórias de sonhos, amor, prisões, sequestros, degredos, mortes,
acabamentos...
Vagas mulheres, pobres meninos inocentes circulam por essas escadas/ Pisam folhas secas
A névoa dos aposentos vem da cegueira/ Ninguém vê um livro aberto
Apenas rosas pálidas e murchas / Chão sem ouro ou diamantes
Romance LXV ou Dos maldizentes
Interlocução: conversas entre maldizentes (falam mal Gonzaga e dos árcades)
Ouves no papel a pena?/ Acumula embargos à sentença que o condena
Outrora tinha um alto cargo / Assim o destino é vário (TUDO MUDA)
Grande fim para o habitante de um país imaginário (Arcádia) / Que usavam nomes fingidos
Leram tanto o Voltério/ E se não fosse o cap. Joaquim Silvério

Reflexões sobre o tempo e o Destino:


Assim é vário o destino: negro é o desterro
Empenhou-se muito em ser namorado/ Agora um mísero coitado
Se olhasse para a água, veria o ralo cabelo (como diz Nuno Lira)
Falta-lhe o desvelo da pastora
Ai que ricos libertinos! Tudo era Inglaterra, França e Versos latinos

Conversas:
A esperança já foi / - Mas segue com seus embargos
São coisas de Fortuna (Destino/ Sorte)
Não sendo a hora oportuna, tudo se perde
Romance LXVI OU Das naus dos maldizentes
A nau parte:
Colocam os bens dos desterrados em leilão

Conversas: Dos bens de TAG


A- Que ficas de TAG:
B- Somente esporas de prata/ não dá muito dinheiro
(Nem tesouros, nem navalhas, nada de ferro – só esporas que ensinam o cavalo a abrir asas)

A – Que fica na fortaleza de TAG?


B – Par de esporas de prata/ Existem outras mais bem lavradas

A – Dizem que vai fazer falta, pois dizem que ele tinha um .... no mundo que pisava
B – Agora veremos cena do cavalo solto

A – Entre pastores vivia à sombra de sua amada – Marília e Dirceu


B – Já se ouviu mais tola história?

A – Já se viu gente mais parva?


B – Hoje não é mais dobro dos amores/ A pastorinha longe e agora não se casa
A – Tanto amor e desejo desfez-se/ Amores de poeta são aéreas palavras
B – A monção da ventura foi-se/ Veio o barco da desgraça / Um par de esporar ficou na fortaleza
(Ai, línguas maledicentes/ Nos quatro cantos/ Línguas que disseminam coisas falsas)

A – Tanta seda/
B – Tanto verso

A – Caiu das selas/


B – Restou nada

A – Mais devagar, cavaleiro, pois acabará na África!


Novos pregões:

A – Quem compra as esporas de TAG?


B – Ninguém sonha em ir longe, ir por esses campos da Arcádia

A – Só deixou um par de esporas


B – Quem sabe alcança a terra? A peste das bexigas anda até nos fidalgos

A – Ia dar leis ao mundo! O par de esporas não custa 39 oitavas


B – Longa correria – coisa fraca

A – Mar fora – ouvidor e libertino

(Ai de ti, Gonzaga, escapaste da forca, vê se te livras das febres)


Romance LXVII ou Da África dos Setecentos

Lamento:
- Ai, terras negras d’África, portos de desespero
- Quem sai é escravo, quem vem desterrado (África – litoral dos medos)

- Aqui falece a audácia/ as febres tomam conta


(Falece a audácia e não há apelo)

- Ai terras negras d’África, selva de pesadelos! Presos lutam com os sonhos


(noite grossa de enredos)

- Rolam de longe lágrimas/ Saudade – Pena de noite para cumprir o degredo


(Rolam lágrimas – Queríeis saber seu peso?)

- Ai terras da África – Céu de angústia e medo


Romance LXVIII ou De outro (maio) mais fatal

Em maio:
Fim da quaresma / Sol vagaroso nas montanhas / névoa fina
A ti, pobre pastor, te viram cercar a casa, dando-te voz de prisão
Choro grande dos fortes/ rudes ordens duros sons

Em maio:
Sem calhandra ou rouxinol/ Sem o correr das águas nas pedras
Adeus a Vila Rica/ Adeus: o bravo tempo agressor tudo nos tira
Já vem meirinhos com seus papeis
Adeus pontes sonolentas, riachos, montes/ Sairei das masmorras?

Maio:
Veio e se foi sem calhandra ou rouxinol/ as pedras das fortalezas são de pesado nó
Ai, como ao pé destas penhas roda o mar e escuna, triste (prisão no RJ)
Noite com os sons dos passos do carcereiro.
Maios se passaram:
Quantos maios já foram? O corpo gasto e a saudade maior
Quem sou, que não me conheço? Onde estou? Onde está a Arcádia e o pastor?

Maio:
Depois da forca e da festa, lá vai a nau pelos mares
Sem adeuses. O que espera no Oriente/ silêncio no peito
(Ouro nas minas fechado. Dizem que és o causador destes males)

Maio:
Sem calhandra ou rouxinol/ As amadas choram, falam os delatores
O ouvidor é levado ao degredo pela nau
Tudo longe: Minas os negros no trabalho, os fortes, o alto relógio, os santos: tudo

Em maio:
Por causa de maio! Mundo de fraco valor. Nem Deus te salvou
Olhos d’água... amargor/ Mártir no seu andor/ Semana Santa na Vila

(Por este mar de agonia com minha cruz também vou)


Romance LXIX ou Do exílio em Moçambique

Moçambique:
Quem passeia de cabeça descoberta sem perceber o que está em volta?
A sorte muda rapidamente
Entre negros e tristes noite, a morada abre em sonhos a janela
Ao som das águas ofuscam-se igrejas, cavalos, pontes (Minas)
A lua desponta

Interlocução:
Dize, Amor, qual é teu prazo? Quem se fia no futuro?
Acabou-se a estrela certa
Pode ser que não fique exilado para sempre, errante e calmo
Pode ser que vai notando a memória/ Moçambique pode alentá-lo

A lua:
Atravessa entre Igrejas, a Vila de ouro/ Ninguém ali canta amores e desejos
Assim, branca e límpida a noite/ No Oriente, que negro dia reconheço?
Romance LXX ou Do lenço do exílio

Voz feminina: Marília


Hei de bordar um lenço em lembrança destas Minas/ Lágrimas
(Ai, se ouvísseis o que penso!)

Voz escondida:
Se ouvísseis o que digo entre quatro paredes
Mas o tempo é seu amigo e não me ouves ou cedes (Minha dor é só comigo)
Casa triste, nobre e fria/ Sensação de prisão (Tudo é covardia)

Voz de lamento pelo degredo:


Ireis pelos mares/ Sonharei vosso degredo aqui (Imposições familiares)
Hei de bordar tristemente um lenço/ A dor de vos ter ausente
(à sombra desta montanha)
Romance LXI ou De Juliana Mascarenhas
Interlocução – Narrador à Juliana
O que andas a cismar, J.M./ Olhe o mar com seu rosto moreno
Uma nau já saiu e leva um harém para o degredo/ Em breve o encontrarás
O poeta de olhos azuis/ Era ele a flor do nosso tempo! / Lá se vai por estas ondas
O vento seca-lhe as lágrimas, seu desejo de cantar, seus ais, as saudades e os amores também

Interlocutor com J.M.


J.M., distante rosa oriental, olha com teus olhos negros a praia
Verá aquele que a sorte traz – quem sabe para o seu bem, ou para o seu mal

Interlocução às terras de Moçambique:


Preste atenção às falas que vêm do mar:
Aquele que vem de longe se mandou degredar. Três anos preso
Triste, ele pensava, sua estadia nas masmorras
Amigos para outros degredos/ A donzela que amava ficou em Minas
Deixou dobrado o enxoval com uma parte bordada
Muito longe é Moçambique – Que saudade o alcançara?
Interlocutor J.M.
Deus sempre sabe o que faz
Põe tuas boas roupas, joias
Poderás brilhar mais do que a bela Marília
Vem ver este homem tranquilo que mandaram degredar

Imaginária serenata: voz feminina


Vejo-te passando por aquela rua/ Pergunto quando poderei ser tua
Se vens ter comigo de tão negro porto /Quem me põe cadeias nos meus braços? /
Qual perigo sinto? / Em sonho rodeias meus ocultos passos
Vejo na Igreja, na ponte, na sala/ Meu castigo é você não me ver
Na minha janela pousa a luz da Lua/ O sono não me descansa/ O amor continua
Romance LXII ou D maio no Oriente
Maio novamente depois de anos de terror
Sem guardas ou correntes, não mais os caminhos de bosques e serras da prisão
Não mais a nau do degredo/ Não mais o tempo anterior
Juliana Mascarenhas se casa com o antigo Ouvidor

Estrofe de murmúrios à meia voz da Sé de Moçambique:


“Não tinha amor, nunca teve/ Loucura já passou/ Tudo era sonho da Arcádia
Palavras de poeta/ Verdes prados com o outro a crescer ao sol”.

Maio novamente depois de anos de terror:


Juliana de M. levantou-se do alto-mar e jurou ao noivo
(Ela está sendo hoje o que alguém não foi outrora/ O coração que já teve, quem lhe tirou?)

Estrofes de murmúrio:
Estrofe 1: Como era o vestido que sua mão bordou? Cetim? E o dedal?
Estrofe 2: Responde: Bordado só de quimeras com suspiro/ Dizem que pesava muito”.
Romance LXXVIII ou da Inconformada Marília
Marília:
Sofria nos sonhos: voava, procurava o amor perdido
Oráculos oníricos a aconselhavam regressar
O pastor não se lembrava mais dela
Dormindo gemia: “Só se ele estivesse alienado”

Os dias de Marília:
Andava em lágrimas / piedosas vozes a aconselhavam
Pediam para que não chorasse mais pelo amor acabado
O que poderia fazer o pastor exilado
Ela gemia: “Só se ele estivesse alienado”

Névoa da tarde:
A névoa vinha envolver a torre, a morte, o chafariz
O tempo passava / E os versos? As Juras? O vestido bordado?
Seu coração dizia que ele talvez tivesse esquecido, casado
Seu lábio, porém, gemia: “Só se estivesse alienado”
Marília (Maria J. Doroteia de Seixas)
Maria Joaquina Doroteia de Seixas Brandão (1767-1853):

História:
Filha de capitão de regimento / Nascida em Ouro Preto
Órfão de mãe, passou a morar na casa dos tios

História como TAG: Amor trágico


Conheceu o poeta quando tinha 15 anos (ele 38 anos)
Ficou noiva de TAG em 1789 (Aos 22 anos)
Envolveu-se com a Conjuração, mas não foi presa
Seu noivo foi preso e degredado

Vida reclusa: Verdade ou mito?


Retirou-se para a fazenda da família, onde ficou até 1815
Passou a ter uma vida reclusa / pouco saindo de casa
Morreu aos 85 anos (longa vida de solidão)
Existe a problemática versão de um suposto filho (Anacleto)
Romance LXXIV ou da Rainha Prisioneira

D. Maria I:
Ai, filha de Marianinha / Ai, neta do rei D. João!
Princesa de mãos suaves em oração / Lindas letras desenhava Maria
Melancólica princesa subirá ao trono – todos eles são amargos
Entre intrigas de nobres, criados, detestava pecados
Entre os sangue dos esquartejados e as lágrimas de quem olha o céu

Rainha:
Que um dia foi aclamada em roupas lampejantes
Mas com os olhos tristes mirava a tudo e a todos
Tendo o crucifixo na mão, ela fez seu juramento
Mandava abrir masmorras, alimentava pobres
Chorava por culpas e suplicava por piedade
Rainha:
Preservava-se isenta sobre os desencontros humanos
Seus olhos estavam voltados para o além-mundo
Muito além dos rebeldes americanos, ministros etc / Vê na terra, falência
Tenta elevar-se a esferas elevadas: Arte, Ciência e Pensamento
Achava-se livre de decretos sangrentos
Via outros ensinamentos nos livros, diferentes da realeza

Rainha:
Sem pai, sem marido, sem filho, sem confessor na densa noite
Pergunta pelos seus mortos / Sente-se no inferno com sua família
Piedosa e meiga, tornava-se desvairada
Clamam por ela Inconfidentes que a funda masmorra tortura.

Lamento pela Rainha:


Ai, a neta de D. João V, filha de D. José I, presa em muros de fúria brava
Mais doce do que o cativeiro dela (loucura / dor) é o da África
Ai, que a rainha jaz em cárcere verdadeiro – sem grades
Prisão perpétua, exílio estranho: sem juiz, sentença ou carcereiro
Fala à comarca do Rio das Mortes (S. João Del-Rei)
Fala à comarca do Rio das Mortes

Mudança do locus amoenus para o locus horrendus:


Onde estão o gado, os campos e as serras?
O sol, as águas, as antigas palavras? O trigo e o girassol?
As pedras e as montanhas parecem pobres e gastas
As casas estão caindo, as cores chorando, as janelas sem vidraças

O tempo age:
Sobre as sacadas as barbas dos velhos que não sabemos vivos ou não
Sobre as ruas cansadas – Ai que lenta morte / Um céu azul silencioso

Locus amoenus perdido:


Onde estão os canteiros de flores, as damas, os cavalos, os damascos?
Onde estão os vinhos, as bravatas, os lábios sorridentes?
Onde estão o padre Vigário Toledo e Bárbara Eliodora?
Interlocução:
Vinde coronéis, doutores com vossas finas casacas, respirai!
Longe já sua vida passada! Falai de versos e pastores da Arcádia
Onde estão as mesas em que os pastores jogavam?
Onde estão os livros de França e Inglaterra?
Quem falou de povos livres?

Interlocução:
Cantai pássaros das sombras sobre as esvaídas lavras
Os vagalumes brilham em festa nas solidões
Onde estão os santos da Igreja com ouro?
(Era de seda vermelha o sobrecéu que velava a cabeceira
Em que dormia o Padre Toledo)

O tempo:
Dois séculos se foram / Suas atividades diárias acabaram
O padre Toledo dormia / Nos seus altares, os santos esperavam

Indagações finais:
- Onde estão seus vastos sonhos, ò cidade abandonada?
De onde vinham? Para onde iam? Por onde passaram?
Alvarenga, Bárbara e M. Ifigênia
Inácio José de Alvarenga Peixoto (1742-1792):

História:
Nascido no Rio de Janeiro / Estudou direito em Coimbra
Lá conheceu o poeta Basílio da Gama de quem foi grande amigo

Vida pública / Casamento:


Juiz em Portugal / Ouvidor em Rio das Mortes
Casou-se com a poeta B. Heliodora / Teve 4 filhos
Deixou a magistratura para ser mineirador e fazendeiro

Inconfidência:
Amigo de pessoas ricas e intelectualizadas
Foi amigo de Rolim, TAG, CMC e outros
Atribui-se a ele o lema da Bandeira dos Inconfidentes
Preso e degredado para Angola / Morreu assim que lá chegou (febre tropical)
Seus bens foram leiloados em praça pública

Importante poeta árcade:


Deixou livros de poesia a esposa e filha: Bárbara Heliodora e Maria Ifigênia
Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira(1759-1819)

História:
Descendente da família do abastado Amador Bueno
Casou-se com Alvarenga, participante da Conjuração
Foi chamada de heroína da Inconfidência

Morte da filha primogênita:


Maria Ifigênia morreu aos 13 anos – Queda de um cavalo

Pós Inconfidência:
Marido degredado para Ambaca (Angola) / Bens confiscados
Suposta demência em função das desgraças pessoais
Romance LXXV ou De Dona Bárbara Heliodora

A história do arroio: Profecia de má sina


Três donzelas sentadas na campina /O arroio passa:
Ri-se de Policena, beijo o de dedo de Umbelina
Interlocução: Por que choras diante da terceira menina?
O campo festeja quando vê Bárbara Heliodora

(Donzela de graça tão peregrina, não merece a aflição vindoura


Mas a sorte é diferente de tudo o que se imagina
Eu vejo a triste donzela em ruína clamando ao céu por sua sina)

Má sina:
Das três donzelas, ela era a mias excelente / Era a coroa
Rolaram sombras na terra / Partiu-se a estrela Bárbara Heliodora
Romance LXXVI ou Do Ouro Fala

O Ouro fala: Valor de B. Heliodora


Ouro vem à flor da terra, Dona. B. Heliodora
Como santas e rainha, sois de ouro, Senhora?
Vale mais que diadema de Aurora, mas que 3 negros na cata
A sua fidalguia vale mais do que candelabros altivos

O Ouro Fala:
Nos longos canais abertos, ou ouro fala, o ouro delira
Nas lavras do Ouro Fala, o ouro fala e conspira
Muito além de lavras conhecidas por homens, há sítios de segredos

O ouro Fala: Lamentação por Alvarenga


Ai, Coronel Alvarenga, lá chegareis muito cedo
(Não ache que á a masmorra, mas o degredo)
Ouro fala: Falavam de mais longe de Medo e Morte
Romance LXXVII ou Da Música de Maria Ifigênia
Ecos do Rio da Morte:
Repeti, com agrado, o exercício inseguros da mãozinha ao piano
Ai como parece certo e como tudo vai errado...
Este som desafinado tem um destino marcado
Triste menina que estuda
Sua mãe será demente e o pai degredado

Ecos do Rio da Morte:


Os ventos no prado são felizes, os arroios, os pombos, os papagaios
Recordai o exercício vagaroso.
Antes fosse, menina, cavalinho e borboletas
Nesse piano do passado, fica uma infância perdida

Interlocução com Maria Ifigênia:


Mãos de M. Ifigênia, fantasma inocente
Vosso compasso perdeu-se por um tempo desgraçado
Ébano e marfim que fostes? Cemitério delicado.
Romance LXXVIII ou De um tal Alvarenga
O poeta Alvarenga:
Veio pelo mar residir em Minas o poeta e doutor
Desposou uma donzela que era a flor destas campinas
Andava por suas lavras ricas.
Mas como o ouro altera os homens!

Prisão do poeta e morte de sua esposa:


Por inveja, ódio, confusão e perversidade foi preso
Um homem de Lei e de Arte preso por ideais de Liberdade
Sua mulher tão bela, Bárbara, não salvara da morte
A morte foi muito longe: numa negra terra brava
Da nobreza nada restou no degredo

Soldados comentam:
Era ele o tal Alvarenga que teve apagada a sua antiga glória
Romance LXXIX ou Da morte de Maria Ifigênia

A morte da menina:
Se o Brasil fosse um reino, ela poderia ser princesa
O cavalo a levava nas negras terras de Ambacas

(Melhor que a desgraça é a Morte)

E a pequena amazona perde sua humanidade


Para além de réus e culpas e da própria liberdade
Romance LXXX ou do Enterro de Bárbara Heliodora
O enterro:
Nove padres, com tristeza, vão rezando no cortejo pela Igreja
B. Heliodora, dona de MG, a quem ninguém se compara
Vai para a fria campa entre palavras latinas, velas
Vai para o degredo sobre-humano

Nove padres rezando: Triste história


O marido nos calabouços frios
4 punhais na alma pela sorte dos filhos
Viram o seu desespero / Ela que era a Estrela do Norte / A bela
(Secou-lhe a tosse no peito / a febre na testa)
Agora está deitada num simples colchão de terra

Nove padres rezando:


Agora a pedra cobre-lhe o sono / As velas secam seu choro
Ela toma vida noutros mundos
Os padres se vão / Fica o silêncio
Retrato de Marília em Antônio Dias

Marília: a que espera (a morte)


(Essa que sobe a vagarosa ladeira de sua igreja foi outrora bela mulher
Seu cabelo não era esse de prata A que se inclina pensativa
Fecha os olhos nas missas vive em função da morte
As mulheres contemplam a mansidão de sua ruína em vozes latinas
Corpo quase sem pensamento, vestido de seda escura
Murmurando: Memento, Memento (Lembre-se)
Ajoelhada no pavimento que será sua sepultura
Parte V
Parte IV – Condenação de TAG e A. Peixoto(LXXXI-LXXXVI )

Cenário:
D. Maria no Rio de Janeiro – Velha, solitária, louca e culpada
Não se lembra com nitidez dos homens que condenou
Passeios pela cidade / Medo do Inferno

Romances:

Dos ilustres assassinos:


A vitória dos justos e a permanência da ideia de liberdade viva

Os cavalos da Inconfidência:
Poema síntese: imagem da Inconfidência pelos animais

Testamento de Marília:
A velhice e a solidão da antiga noiva de Gonzaga
Cenário
Triste coleção de cenas sobre o teatro da história

(Sentada a rainha em sua loucura, o que pensava?


Vagas coisas em afogada amargura)

A rainha e os lugares: D. Maria I no Rio de Janeiro


Nestas casas, tristes réus morreram, lágrimas banharam essas cadeias
Existiam forcas daquele lado / Soaram sinos de Igrejas por esses ares
E o retrato da Rainha pairava sobre a agonia dessas cenas
Ela a imagem da Justiça e da Clemência

Naus:
Buscaram terras de exílio / homens iam para eterna ausência

Morros:
Não existem mais lavras imensas / Só decadência
Floresta de silêncio e tristeza

(Sentada estava a Rainha a olhar a cidade


Quando tudo ocorreu? Em que lugar, época, vassalos de que reino?)
Romance LXXXI ou Dos ilustres assassinos:

Interlocução com os juízes / Ministros: Homens de poder:


Ó grandes oportunistas sobre o papel debruçados
Que assinam com penas altas embebidas de pecado
Ó personagens vestido como pavões
Presos e fascinados pela ilusão de poder

Pedido aos poderosos de outrora:


Levantai de suas mesas: vedes as masmorras, as algemas
e as sepulturas que nascem de suas penas

O tempo é implacável com os ímpios:


Eram divinos em suas sentenças e decretos
Hoje, no tempo eterno, são ilustres assassinos

A vitória dos vencidos:


Ó soberbos titulares: tão desdenhosos e altivos por fictícia austeridade
Inutilmente matastes: Vossos mortos são mais vivos
Sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos
Romance LXXXII ou Dos passeios da Rainha Louca
A Rainha Louca passeando pelo Rio de Janeiro:
Entre vassalos de joelho vai a Rainha Louca por uma cidade triste
Cidade que viu morrer na forca um homem que falava de liberdade
Segue a Rainha a sua comitiva nesses estranhos passeios

Lugares: Colinas, praias, flores:


nada apaga as visões amargas que atormentam a rainha

Lamento:
Ai parentes, ministros, fidalgos perseguidos, pobres inconfidentes

Falas da Rainha:
“Vou para o Inferno – murmura. Já estou no Inferno”
(Sobre chamas do Inferno que vai com celeridade a dourada sege)

Louca:
Do cetro nãos e lembra, nem de mortos ou coroas
Tem o demônio / Cabelo grisalho, vestida de preto
Velhinha chorando de medo: D. Maria I passeia pela cidade.
Romance LXXXIII ou Da Rainha morta

Lamento: A morte da rainha


Nem rogo, ladainha ou promessa: o sino toca
Ai, filha de Marianinha, gasta pela idade e pela loucura

O velório:
Prantos de criados / A cruz no altar / Mantos de Ordens religiosas
O braço esquerdo sobre o peito / A corte comovida / O beija-mão

Cortejo:
O clero, o povo e a nobreza acompanhavam o corpo levado
O resto era noite: lembrança da mão que causara degredo e morte
Assinatura que levou sofrimento e morte
Romance LXXXIV ou Dos Cavalos da Inconfidência

Os cavalos: sem a presença do humano


Eles eram muitos nas serras / Crinas ao vento / Galope em belo lugar
Donos dos ares e das ervas / Habituados a densas névoas

Os cavalos: propriedades humanas


Muitos eram nos campos onde escravos cantavam músicas com suspiros
Onde escravos ouviam o canto dos amigos, confessavam cansaços

Os cavalos eram muitos:


Forte e destemidos por Mariana, Serro Frio, Rio da Mortes, Vila Rica
Levavam coronéis, alferes, sacerdotes / Ouviram intrigas, sonetos e liras

Entre os podres poderes e esperanças:


Entre Mantiqueira e Ouro Branco levando esperanças e mensagens
Entre sonhos e contrabandos, alheios às paixões dos donos
Olhavam manso grotas, escravos, igrejas com santos
Eram muitos os cavalos:
Uns viam correntes, algemas; outros sangue e forca
Uns foram vendidos; outros pastaram
Uns depois da sentença levaram o Alferes cortado

Os cavalos ausentes: o tempo os levou


Morreram por estes montes, campos, abismos servindo a homens

Seres anônimos:
Ninguém sabe os seus nomes, sua origem ou pelagem
Iam tão alto e tão longe

Os cavalos ausentes: o tempo os levou


Eram muitos: jazem por aí, caídos / Misturados à brava serra
Nunca pensaram na morte ou souberam de exílios
Eram apenas cavalos cumprindo seu duro serviço

A cinza de seus cavaleiros:


Neles aprendeu o ritmo de subir e descer aos picos do mundo
E também de rolar pelos precípios
Romance LXXXV ou Do testamento de Marília
À pena que escreve:
Triste pena que pelo papel deslizas
Que cartas e poemas não escrevestes

Lamento:
Ai fortunas, dinheiros antigos, prêmios de traidores
dores de condenados

À Marília:
Escreve Marília seu pequeno testamento
Por que escreve se a morte é seu destino?
Cortesias de quem diz adeus ao mundo
Que sois vós, Ouro de Minas, no Oceano de Deus tão fundo?

Aos materialistas:
Triste pena / Triste Marília que escreve / Tão longa idade sofrida
Muitas missas (Que a terra lhe seja leve)
Fala aos Inconfidentes
Passado o tempo:
Treva da noite, agora tido jaz em silêncio
Amor, ódio, inocência: o tempo leva / Grosso cascalho da vida humana
Negros orgulhos, fingimentos, covardia: tudo dá volta no tempo

O poder do tempo:
O tempo dá voltas e tudo vai expor

Noite:
Parada a noite não se avistam os fundos leitos
Mas no horizonte que é a memória da eternidade
Referve o embate das antigas horas, dos antigos fatos e homens

Nós:
Ficamos contritos (pesarosos) ouvindo o desconforme
Submerso curso dessa torrente do purgatório

Pergunta final:
Quais os que tombam em crimes exaustos? Quais sobem purificados?

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