que sucederam a experiência jesuítica. • 1) O Diretório pombalino e las isntrucciones de Bucareli; • 2) A retomada da “livre administração” pelos colonos luso- brasileiros. • 3)Hipóteses de sobrevivência étnica. A HISTORIOGRAFIA E O PERÍODO PÓS-JESUÍTICO • A escrita da História das Missões é contemporânea às próprias Missões: • Produção literária jesuítica (Cartas e crônicas, edificantes) • Produção antijesuítica (Pombal: Libelos – Relação Abreviada [...]; Dedução Cronológica e Analítica Voltaire: Cândido) • A produção jesuítica e antijesuítica, contemporânea às Missões serviu de fonte As Missões e o RS na perspectiva dos lusitanistas • Os fastos da crônica missioneira ocorreram, assim, portanto, inteiramente estranhos aos fatores ativos da nossa tradição [...]. Era natural, já por isso, e nas penosas circunstâncias em que se realizou, que nada tenha transmitido, nenhum legado cultural, àqueles que acabaram senhores do território onde uma vez haviam sido as Missões Orientais”. (VELLINHO, Capitania D'El-Rei.p. 94). Período pós-jesuítico • Quando este território foi incorporado ao Brasil, em 1801, pelos heróis Borges do Canto e Santos Pedroso, nos Sete Povos restavam apenas "restos de gente que tinham sobrado entre as ruínas", "sombras apáticas e estuporadas", "escombros e vagas superstições". Para Vellinho, os aguerridos catecúmenos de outrora encontravam-se, naquele momento, num processo irreversível de regresso para sua condição de bárbaros [...] Eram os sobejos escarmentados de uma experiência frustrada de civilização. HISTORIOGRAFIA JESUÍTICA • O período que antecede aos missionários se caracteriza pela barbárie e o que sucede à expulsão dos padres representa a relaxação dos velhos costumes jesuíticos e, como tal, o retorno a uma condição inferior, considerada por muitos, semelhante àquela anterior à conquista espiritual. O que se salva da história dos guarani é a história dos jesuítas junto aos guarani. INFLAÇÃO DA OBRA JESUÍTICA X ANULAÇÃO DA CULTURA GUARANI • “Em suma, temos como explicação, ao menos parcial, do grande sucesso das Missões jesuíticas do Paraguai: • 1) a benção de Deus, que tantas e tão evidentes provas deu de ser sua a grande obra missionária; • 2) a perfeita unidade de comando e forte coesão internacional da Ordem inaciana; • 3) elevado número de ótimas vocações missionárias e a rigorosa formação e seleção dos candidatos; • 4) a minuciosa organização das Reduções; • 5) a lei que declarava os índios súditos diretos do rei (representado pelo governador), e proibia sua sujeição aos encomenderos espanhóis”. (Pe. Arnaldo Bruxel SJ) OS MÉRITOS DA OBRA • “A alma de toda essa organização, de toda essa civilização [as reduções] [...] era sempre o Pe. missionário. Ele era o pai, a mãe, o tutor, o defensor, o professor, o médico dos índios, sem o conselho e audiência do qual nada se fazia, sem a direção do qual nenhuma iniciativa conseguia vingar” (Bernardi, Mansueto). TEMAS PRELIMINARES • Tratado de limites • Transmigração • Política de aliciamento (Gomes Freire) • Instruções de Pombal • Expulsão da Cmp. De Jesus • Implantação de aldeias em território português • Diretório pombalino • Livre Administração DIRECTÓRIO POMBALINO INSTRUCIONES - BUCARELLI Cristianização e Civilização Cristianização e Civilização [...] os Índios deste Estado se conservaram até Dos son los objetos principales y agora na mesma barbaridade, como se que en las presentes vivessem nos incultos Sertões, em que circunstancias requieren una nasceram, praticando os péssimos e atenta reflexión: el primero es abomináveis costumes do Paganismo, não só radicar a estos indios en un privados dos adoráveis mistérios de nossa verdadero conocimiento de los Sagrada Religião, mas até das mesmas adorables misterios de Nuestra conveniências Temporais, que só se podem Santa Fe. [...] El segundo objeto conseguir pelos meios da civilidade, Cultura, e de la reflexión que encargo a do Comércio: [...] as paternas providências do Vd. Debe ser proporcionar a Nosso Augusto Soberano, se dirigem estos indios aquellos beneficios unicamente a cristianizar, e civilizar estes até y conveniencias temporales que agora infelizes, e miseráveis Povos, para que se adquiere por los medios de la saindo da ignorância , e rusticidade, a que se civilidad de la cultura y del acham reduzidos, possam ser úteis a si, aos comercio moradores, e ao Estado DIRECTÓRIO POMBALINO INSTRUCIONES - BUCARELLI Língua: Língua: Sempre foi máxima inalteravelmente praticada uno de los medios más em todas as Nações, que conquistaram novos eficaces para desterrar la Domínios, introduzir logo nos Povos rusticidad conquistados o seu próprio idioma, por ser indisputável, que este é um dos meios mais eficazes para desterrar dos Povos rústicos a barbaridade de seus antigos costumes; Terra: para nelas fazerem as plantações, e as Terra: como un medio de lavouras, de sorte, que com a abundância dos adquisición de bienes gêneros possam adquirir as conveniências, [...] por meio do comércio, em benefício comum do Estado. Comércio: Entre os meios, que podem Comércio: forma idónea para conduzir qualquer República a uma completa conducir la república a una felicidade nenhum é mais eficaz, que a completa felicitad introdução do Comércio, porque ele enriquece os Povos, civiliza as Nações, e constitui poderosas Monarquias DIRECTÓRIO POMBALINO INSTRUCIONES – BUCARELLI Distinções hierárquicas Distinções hierárquicas E tendo consideração a que nas Povoações civis Y considerando que en las deve precisamente haver diversa graduação de repúblicas civilizadas debe haber Pessoas à proporção dos ministérios que diversa graduación de personas, a exercitam, as quais pede a razão, que sejam proporción de los ministerios que tratadas com aquelas honras, que se devem aos exercen, y los que persuade la seus empregos: Recomendo aos Diretores, que razón sean tratados con aquellas assim em público, como em particular, horrem [sic], honras que se debe sus empleos, e estimem a todos aqueles Índios, que forem recomiendo mucho a Vd. Que así Juízes Ordinários, Vereadores, Principais, ou en público como en particular trate ocuparem outro qualquer posto honorífico; e con distinción a los caciques, também as suas famílias; dando-lhes assento na corregidores y a todos los indios sua presença; e tratando-os com aquela distinção, que fueren jueces y ocuparen que lhes for devida, conforme as suas respectivas algún empleo honorífico graduações, empregos, e cabedais; para que, vendo-se os ditos Índios estimados pública, e particularmente, cuidem em merecer com seu bom procedimento as distintas honras, com que são tratados; separando-se daqueles vícios, e dester rando aquelas baixas imaginações, que insensivelmente os reduziram ao presente abatimento e vileza. O Crise de identidade e transmigração UM PROJETO CIVILIZATÓRIO DO (E PARA O) ESTADO § 1 Sendo Sua Majestade servido pelo Alvará com força de Lei de 7 de Junho de 1755, abolir a administração Temporal, que os Regulares exercitavam nos Índios das Aldeias deste Estado; mandando-as governar pelos seus respectivos Principais, como estes pela lastimosa rusticidade, e ignorância, com que até agora foram educados, não tenham a necessária aptidão, que se requer para o Governo, sem que haja quem os possa dirigir, propondo-lhes não só os meios da civilidade, mas da conveniência, e persuadindo- lhes os próprios ditames da racionalidade, de que viviam privados, para que o referido Alvará tenha sua devida execução, e se verifiquem as Reais, e piíssimas intenções do dito Senhor, haverá em cada uma das sobreditas povoações, enquanto os Índios não tiverem capacidade para se governarem, um Diretor, que nomeará o Governador, e Capitão General do Estado, o qual deve ser dotado de bons costumes, zelo, prudência, verdade, ciência da língua, e de todos os mais requisitos necessários para poder dirigir com acerto os referidos Índios debaixo das ordens, e determinações seguintes, que inviolavelmente se observarão em quanto Sua Majestade o houver assim por bem, e não mandar o contrário Concordia Fratrum: Pombal com seus dois irmãos, Paulo de Carvalho, cardeal- inquisidor-geral e Mendonça Furtado. Pintura no teto do palácio de Oeiras A conversão dos índios passava pelo Estado português. Este frontispício da ISTORIA DELLE GVERRE DEL REGNO DEL BRASILE é uma alegoria do padroado Funções do Diretor de Aldeamento • vigiar e combater a congênita inclinação aos bárbaros costumes (§s 13, 14, 40, 41), • combater o vício da ociosidade (§ 20), • impulsionar a produção agrícola (§s 22, 23, 24, 25,26,27), • fomentar o comércio e proteger os índios do abuso dos comerciantes (§s 36, 37, 38, 39, 43), • fazer a cobrança dos dízimos dos índios (§s 27, 28, 29), • controlar as modalidades de trabalho e o número de índios habilitados às diversas tarefas (§s 66, 73), • introduzir sobrenomes e a língua portuguesa (§s 6, 7, 8, 11), • O Diretor devia ser: dotado de bons costumes, zelo, prudência, verdade, ciência da língua, e de todos os mais requisitos necessários para poder dirigir com acerto os referidos Índios debaixo das ordens, e determinações seguintes, que inviolavelmente se observarão em quanto Sua Majestade o houver assim por bem, e não mandar o contrário Implantação do Diretório no Rio Grande • o primeiro estabelecimento que se fez a essa miserável gente, foi sem método algum, pois que os deixaram na mesma desordem e brutalidade em que foram criados pelos jesuítas, sem que se cuidasse na sua civilização, na criação dos filhos; e o que é mais, até sem o conhecimento dos principais dogmas da religião católica romana: [...] com cuja ignorância perfidamente foram educados todos os seus antepassados por aquela infame gente, que pelo largo trato do tempo veio a fazer neles uma segunda natureza, até que chegaram ao ponto de se porem nessa indolência, que a V. Ex. consta, e que na verdade é. • Creio que V. Ex. levou alguns exemplares do Diretório [...] S. Maj. julga, que reduzido a praxe, no que for aplicável nessas partes do dito Diretório, se poderá tirar proveito, não dos índios brutos, que vieram com aquela má educação das missões, mas dos seus filhos, que são os que hão de vir a formar a povoação República estrangeira: economia e simbologia • Aqui temos os índios vivendo da mesma sorte, com que os padres os criaram e jamais deixarão de ser índios; pois é preciso que os façam trabalhar para o comum, e do monte maior se acuda as suas precisões o que de nenhuma sorte me parece útil; pois para o ser e para se civilizarem é preciso que venham para adiante viver com a mesma regularidade que os mais vassalos; porque do contrário viríamos a ter dentro do nosso país uma república estrangeira vivendo com diferentes usos e costumes, o que se deve procurar evitar • Devem ser: lançados com apelidos portugueses cada família e se há de por um maior cuidado em que falem a nossa língua e se esqueçam da guarani e de muitos dos seus ritos e superstições o que V. M. recomendará por serviço de Deus e de El Rei aos seus reverendos curas persuadindo aos ditos índios a que se sujeitem com gosto ao trabalho e ao ensino para se distinguirem dos brutos • Danças e festas se devem proibir rigorosamente tão continuadas, permitindo-lhes só festejarem as principais do ano e as dos seus oragos, e nunca nos dias de trabalharem Regulamentação do Trabalho Assalariado • Devido a rusticidade, e ignorância dos mesmos Índios, [...] pela incapacidade, que tem ainda agora de o [Salário] administrarem ao seu arbítrio, será obrigado o Tesoureiro geral a comprar com o dinheiro, que lhes pertencer na presença dos mesmos Índios aquelas fazendas de que eles necessitarem: (§ 58). • Porquanto é preciso que os índios situados nesta província sirvam os moradores e fazendeiros dela e que deste serviço percebam o lucro que merecem. O Capitão de Dragões Antônio Pinto Carneiro, a cujo cargo está a regência daqueles povos, alugará os ditos índios aos ditos moradores pelos preços abaixo declarados, obrigando-se os que ajustarem, [...] a satisfazer o que vencerem. De um mês até um ano se poderão alugar os ditos índios e índias cada mês por um índio para carretas, roças ou peão, 3$000r. Por um rapaz cada mês 1$500r. Por um índio domador por mês 3$600, por algum índio oficial de carpinteiro o que merecer. Por uma índia para servir por mês 1$800r. Por uma índia para ama de leite por mês 3$000. Casamentos inter-étnicos • Entre os meios mais proporcionados para se conseguir tão virtuoso, útil, e santo fim, nenhum é mais eficaz, que procurar por via de casamentos esta importantíssima união. Pelo que recomendo aos Diretores, que apliquem um incessante cuidado em facilitar, e promover pela sua parte os matrimônios entre os Brancos, e os Índios, para que por meio deste sagrado vínculo se acabe de extinguir totalmente aquela odiosíssima distinção, que as Nações mais polidas do mundo abominaram sempre [...] (§ 88). • Para facilitar os ditos matrimônios, empregarão os Diretores toda a eficácia do seu zelo em persuadir a todas as Pessoas Brancas, que assistirem nas suas Povoações, que os Índios tanto não são de inferior qualidade a respeito delas, dignando- se sua Majestade de os habilitar para todas aquelas honras competentes às graduações dos seus postos, conseqüentemente ficam logrando os mesmos privilégios as Pessoas que casarem com os ditos Índios; desterrado-se por este modo as prejudicialíssimas imaginações dos Moradores deste Estado, que sempre reputaram por infâmia semelhantes matrimônios (§ 89). Internato para os meninos (seminário) • Ao nascer do sol ou antes se levantarão e depois de se lavarem e pentearem rezarão as suas devoções e almoçarão (café da manhã). Às oito horas do dia irão para a escola aonde se conservarão até as onze ocupando-se em aprender a falar português, a ler escrever, rezar e argumentar. Ao meio dia jantarão e depois repousarão até as duas da tarde em que irão para a escola até às cinco horas na mesma forma dita; Depois de o sol posto rezarão o terço e suas devoções por espaço de meia hora, cantarão a Salve Rainha e o bendito e depois cearão e se recolherão a dormir. [...]. Só se permitirá que seus pais e parentes falem com os meninos do meio-dia às duas horas, mas sempre em português, cuja língua devem sempre e somente falar os meninos para perderem o guarani. Todos os dias antes da escola virão em colégio com o seu mestre a missa e o mesmo mestre [...] os persuadirá a que se confessem ao menos cada três meses. Cuidará o mestre em educar bem os meninos e que se conservem limpos do corpo e da roupa. [...] Nos dias santos, de sueto irão ao recreio juntos com o seu mestre e neles poderá o mesmo mestre licenciar os que lhe parecer para irem visitar seus pais procurando averiguar se fazem desordem para castigá-los e para não dar- lhes licença na semana seguinte. Nos sábados assistirão a missa solene de Nossa Senhora às horas que se disser e à noite cantarão na escola a ladainha. Nos domingos como devem acompanhar o terço cantando pelas ruas se dispensará à noite a reza dele. Todos os dias se nomearão os meninos que no seguinte deverem ajudar a cozinhar, pôr a mesa, varrer o refeitório, e a escola e dormitório, lavar a louça e dobrar a roupa etc. Todo menino que em qualquer ocasião falar a língua guarani será castigado e todo o que acusar terá um perdão Internato das Meninas • Em 1778, José Marcelino inaugurou o recolhimento para a educação das meninas dos povos guarani, instituindo, para o seu funcionamento, quinze regras que denotam, basicamente, os mesmos desígnios que o colégio dos meninos. Esse internato comportava até cinqüenta meninas que deveriam ter entre 6 e 12 anos de idade. O último parecer na aceitação das candidatas era do próprio governador. O enxoval, formado por uma saia, duas camisas, dois côvados de baeta, uma esteira, uma fronha e um rosário, era retirado da caixa comum da vila. A vigilância sobre o idioma guarani, os horários e os preceitos religiosos era similar a dos meninos. Quanto à formação, havia uma diferença: enquanto os meninos aprendiam a ler, a escrever, a contar e a argumentar, as meninas aprendiam as lides domésticas: fiar, tecer, costurar, lavar, tingir roupa e cozinhar. Essas meninas, dos seis aos doze anos, também produziam seu dote de casamento. Chegando aos doze anos estavam prontas para serem concedidas em casamento a quem o governador desejasse, como indica o documento abaixo: • Se alguma das meninas recolhidas for procurada para casar o comandante desta vila informando-se da capacidade do pretendente e da sua qualidade e posses informará com o seu parecer ao governador do continente para esperar sua resolução e para se lhes assinalar seu dote e enxoval e assim mesmo se tendo compreendido a língua portuguesa e a doutrina cristã seus respectivos pais ou parentes pretenderem levá-la para suas casas sendo capazes também se informará disto o governador. • persuado-me que só o atual de educar os meninos e meninas nos primeiros anos, poderá vencer a que aquelas gentes sejam como as nossas Bens da aldeia
• lavouras comunais e chácaras
• estância com bastantes mil cabeças de gado vacum, • duas olarias, • um moinho d'água, • um armazém, • um açougue • e um hospital. • um templo descente; • encerrou em uma casa com mestra, idéia de recolhimento, várias raparigas índias • estabeleceu escola de ler, escrever e contar para rapazes: • Companhia de Infantaria paga, composta inteiramente de índios; A Livre Administração • Das famílias guarani deveria se fazer: uma distribuição ou derrama daquelas famílias pela costa toda, Viamão, Laguna, Santa Catarina, Sete freguesias que ali há; Rio de São Francisco, Paranaguá, Cananeya, Iguapé, Santos, São Sebastião, Paraty, Ilha Grande, finalmente Rio de Janeiro, fazendo delas dizia eu uma derrama por todas estas vilas, tantas famílias a cada uma das vilas; [...]; e as mais povoações suavemente sustentando uns cinqüenta casais, ou uns quarenta, encostadas pelas casas de mais honra e posse, que lhes ensinasse a vida civil: [...] como vassalos de honra, a uns viria a tocar um índio pequeno; a outro um casal, os quais com o seu trabalho pagariam vestuário e sustento Livre administração • apreenderão da comunicação dos europeus, e muitos paulistas honrados; quanto mais que serão livres administrados que é o mesmo que dizer, livres instruídos para o Estado Civil pelas famílias e vassalos de honra: ali apreenderão vender a farinha com seus preços regulados, ali apreenderão pescar, comprar o sal, ali se aplicarão a esta ou aquela sementeira que virem tem melhor venda, ali verão se lhes tecer o linho, fabricá-lo; ali verão fazer o queijo, bater a manteiga, e ultimamente conseguiremos o fim pretendido, sem vexame dos vassalos, sem muitas e avultadas despesas da Real Fazenda [...] • A livre administração indígena era apresentada como um serviço ao rei e aos próprios índios. Aliás, quanto às vantagens do cativeiro para os próprios índios • Domingos Jorge Velho: [...] e se ao depois [de reduzir os índios] nos servimos deles para as nossas lavouras; nenhuma injustiça lhes fazemos; pois tanto é para os sustentarmos a eles e a seus filhos como a nós e aos nossos; e isto bem longe de os cativar, antes se lhes faz um irremediável serviço em os ensinar a saberem lavrar, plantar, colher e trabalhar para seu sustento, coisa que antes que os brancos lho ensinem, eles não sabem fazer. O melhor estudos para os índios • Aplicação da mão-de-obra indígena: quebrar e arrancar pedras de toda a qualidade, assim lioz como lajedo, ou seixo redondo e [...] sem determinação de quantidade; transferir as olarias da Aldeia N. S. dos Anjos para as imediações da Vila de Rio Grande e empregar os índios no fabrico de telhas e tijolos; cortar madeiras e transportar pedra, cal, areia, telha, tijolo, e madeira para servir a construção das casas. • Em seguida o autor sugere esta reflexão: e empregados nestes trabalhos os índios, que melhores estudos haverá para eles? E que melhores comodidades para os senhorios das casas? • Em vez da escola para as meninas, o projeto de dos colonos propunha alugar as fêmeas para servirem aos moradores do continente, e não constituí-las, ou infundir-lhes uma tal nobreza, que as faz incorrigíveis, viciosas, e inimigas de trabalhar • Nas palavras do governador, a experiência tem mostrado que nada se deve esperar (dos colégios); pois os índios instruídos na doutrina cristã, em trabalhar e cultivar as terras, e ajudar ou exercer alguns ofícios mecânicos, sabem tudo quanto não é justo que ignorem. Que são os índios na visão dos colonos? • Pelo que a V. Ex.a. tenho exposto, e consta dos supra citados documentos, e pelo, que a experiência me tem mostrado acho não haver esperança de que estas Famílias Guaranis dêem de si o desejado fruto, que a tantos anos se espera delas, porque o caracter das fêmeas é libidinoso em grande excesso, volúvel, e ocioso; o dos homens, eles só para peões é que tem serventia por ser esta toda sua inclinação, e em tudo o mais que os procurarem tem natural e insanável negações. • tão indóceis e mortos na fé Católica que professam que, como bons discípulos dos primeiros mestres que tiveram em suas Missões, não fazem mais que darem a entender serem os Mandamentos da Lei de Deus só oito e pouco restritos; porque com o seu cego procedimento bem escurecem o sexto e o sétimo • “São por natureza ingratos ainda aos mais avultados benefícios e tão incenssíveis no trato que ainda não abraçaram a nossa língua, nem traje; não havendo entre eles um que se anime a calçar sapatos” Que são os índios na visão dos colonos? • uns homens, que, em geral, parece que a Onipotência Divina quis que fossem muito inferiores aos talentos de todos os outros homens, e pouco mais superior ao instinto dos animais • Em vez da escola para as meninas, o projeto de Bettamio propunha alugar as fêmeas para servirem aos moradores do continente, e não constituí-las, ou infundir-lhes uma tal nobreza, que as faz incorrigíveis, viciosas, e inimigas de trabalhar. Privatização dos bens • As terras comunais dos índios passaram a ser consideradas excessivas. Os açorianos serviriam de exemplo de trabalho para que os índios aumentassem sua produção agrícola. O colono teria mais capacidade de conservar as suas excelentes benfeitorias do que qualquer outro índio, mais inclinado ao desprezo do que à estimação e à ociosidade do que à fadiga
• A venda pública dos bens da Aldeia, acirrou o
empobrecimento da população indígena e a concentração de renda das camadas abastadas, Antônio José de Alencastre, arrendou o engenho d’água, a olaria grande estância das famílias guaranis e o açougue. “Roubo” de índios para civilizá-los • a 11 do corrente mês lhe foi arrebatada com violência uma filha menor por nome Marcelina para se entregar, como com efeito se entregou a Francisco Antônio de Vasconcelos fabricante, não obstante a repugnância do Suplicante, e sua mulher (1813). • [...] com o falso pretexto de civilização, [...] e que sem dúvida (a filha) terá a mesma educação em casa do Suplicado que teria na de seus pais com a diferença de servir naquela como escrava, e nesta como filha, portanto, Pede a V. Exa. humildemente seja servido lembrar-se do amor paternal, e por em prática as virtudes do Pio coração de V. Exa. e deferir ao Suplicante como requer. • Sait Hilaire ainda registrou a vigência dessa prática, em 1821. Ao visitar a sede da escola da antiga redução de São Miguel, já incorporada ao império luso, observou que: dos quinze alunos apenas dois ou três passavam de dez anos. Logo que eles estão aptos a qualquer serviço, são furtados ou fogem. • Os roubos de indiozinhos são abusos dos mais terríveis que praticam aqui. São levados a trabalhar como escravos [...] Resistência e sobrevivência étnica • Profissões exercidas por índios em 1822: oficial de pintor, sapateiro, vive das suas lavouras, peão de campo, peão, carpinteiro e 2 que vivem da sua arte de música. (São Nicolau do Rio Pardo) • Pe. Antônio Sepp afirmava ter: arquitetos, marceneiros, tecelões, fiandeiros, curtidores, oleiros, pintores, escultores, fundidores e artífices de instrumentos musicais tão qualificados como os da Europa. 2º Sepp Estes índios paraguaios são, por natureza como que talhados para a música, de maneira que aprendem a tocar com surpreendente facilidade e destreza toda a sorte de instrumentos, e isto em tempo brevíssimo. • Nicolau Dreys -1817 e 1825 - Os indígenas das Missões têm disposição inata para a música e é rara no país uma missa que não seja cantada, mormente nos domingos; o único tocador de rebeca que se costumava alugar para os bailes da alta sociedade no Rio Grande era índio das Missões com todo o complemento do vestido local, e não era pouco admirável o contraste que fazia esse Orfeu dos matos, com poncho de lã grosseira e barrete vermelho, no meio de uma reunião onde se patenteava a elegância e riqueza do luxo europeu. Os índios das Missões parecem ter herdado essa propensão filarmônica dos seus antepassados instruídos pelos jesuítas. Resistência e sobrevivência étnica • Em 1815, bispo do Rio de Janeiro foi recebido por uma numerosa música de Índios Guaranis [...] e à noite, ao luar, assistiu a cantos dos pequenos guaranis em sua língua. • Nicolau Dreys afirma que: em Rio Pardo, a ocorrência da língua guarani – sonora, eufônica e extremamente pitoresca – era tão familiar quanto a portuguesa. • Isso significa que o idioma guarani e as melodias missioneiras foram transmitidos de pai para filho e que, sessenta anos após o estabelecimento dos guarani- missioneiros em Rio Pardo, este grupo havia incorporado menos a língua portuguesa do que os luso- brasileiros o idioma guarani. Símbolos missioneiros resguardados