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Objetivo

Analisar distintos projetos civilizatórios


que sucederam a experiência
jesuítica.
• 1) O Diretório pombalino e las
isntrucciones de Bucareli;
• 2) A retomada da “livre
administração” pelos colonos luso-
brasileiros.
• 3)Hipóteses de sobrevivência étnica.
A HISTORIOGRAFIA E O
PERÍODO PÓS-JESUÍTICO
• A escrita da História das Missões é
contemporânea às próprias Missões:
• Produção literária jesuítica (Cartas e
crônicas, edificantes)
• Produção antijesuítica (Pombal: Libelos –
Relação Abreviada [...]; Dedução
Cronológica e Analítica Voltaire: Cândido)
• A produção jesuítica e antijesuítica,
contemporânea às Missões serviu de fonte
As Missões e o RS na perspectiva
dos lusitanistas
• Os fastos da crônica missioneira ocorreram,
assim, portanto, inteiramente estranhos aos
fatores ativos da nossa tradição [...]. Era natural,
já por isso, e nas penosas circunstâncias em
que se realizou, que nada tenha transmitido,
nenhum legado cultural, àqueles que acabaram
senhores do território onde uma vez haviam
sido as Missões Orientais”. (VELLINHO,
Capitania D'El-Rei.p. 94).
Período pós-jesuítico
• Quando este território foi incorporado ao Brasil, em
1801, pelos heróis Borges do Canto e Santos
Pedroso, nos Sete Povos restavam apenas "restos
de gente que tinham sobrado entre as ruínas",
"sombras apáticas e estuporadas", "escombros e
vagas superstições". Para Vellinho, os aguerridos
catecúmenos de outrora encontravam-se, naquele
momento, num processo irreversível de regresso
para sua condição de bárbaros [...] Eram os
sobejos escarmentados de uma experiência
frustrada de civilização.
HISTORIOGRAFIA JESUÍTICA
• O período que antecede aos missionários se
caracteriza pela barbárie e o que sucede à
expulsão dos padres representa a relaxação
dos velhos costumes jesuíticos e, como tal, o
retorno a uma condição inferior, considerada
por muitos, semelhante àquela anterior à
conquista espiritual. O que se salva da
história dos guarani é a história dos jesuítas
junto aos guarani.
INFLAÇÃO DA OBRA JESUÍTICA
X
ANULAÇÃO DA CULTURA GUARANI
• “Em suma, temos como explicação, ao menos parcial, do
grande sucesso das Missões jesuíticas do Paraguai:
• 1) a benção de Deus, que tantas e tão evidentes provas
deu de ser sua a grande obra missionária;
• 2) a perfeita unidade de comando e forte coesão
internacional da Ordem inaciana;
• 3) elevado número de ótimas vocações missionárias e a
rigorosa formação e seleção dos candidatos;
• 4) a minuciosa organização das Reduções;
• 5) a lei que declarava os índios súditos diretos do rei
(representado pelo governador), e proibia sua sujeição
aos encomenderos espanhóis”. (Pe. Arnaldo Bruxel SJ)
OS MÉRITOS DA OBRA
• “A alma de toda essa organização, de
toda essa civilização [as reduções] [...] era
sempre o Pe. missionário. Ele era o pai, a
mãe, o tutor, o defensor, o professor, o
médico dos índios, sem o conselho e
audiência do qual nada se fazia, sem a
direção do qual nenhuma iniciativa
conseguia vingar” (Bernardi, Mansueto).
TEMAS PRELIMINARES
• Tratado de limites
• Transmigração
• Política de aliciamento (Gomes Freire)
• Instruções de Pombal
• Expulsão da Cmp. De Jesus
• Implantação de aldeias em território português
• Diretório pombalino
• Livre Administração
DIRECTÓRIO POMBALINO INSTRUCIONES - BUCARELLI
Cristianização e Civilização Cristianização e Civilização
[...] os Índios deste Estado se conservaram até Dos son los objetos principales y
agora na mesma barbaridade, como se que en las presentes
vivessem nos incultos Sertões, em que circunstancias requieren una
nasceram, praticando os péssimos e atenta reflexión: el primero es
abomináveis costumes do Paganismo, não só radicar a estos indios en un
privados dos adoráveis mistérios de nossa verdadero conocimiento de los
Sagrada Religião, mas até das mesmas adorables misterios de Nuestra
conveniências Temporais, que só se podem Santa Fe. [...] El segundo objeto
conseguir pelos meios da civilidade, Cultura, e de la reflexión que encargo a
do Comércio: [...] as paternas providências do Vd. Debe ser proporcionar a
Nosso Augusto Soberano, se dirigem estos indios aquellos beneficios
unicamente a cristianizar, e civilizar estes até y conveniencias temporales que
agora infelizes, e miseráveis Povos, para que se adquiere por los medios de la
saindo da ignorância , e rusticidade, a que se civilidad de la cultura y del
acham reduzidos, possam ser úteis a si, aos comercio
moradores, e ao Estado
DIRECTÓRIO POMBALINO INSTRUCIONES -
BUCARELLI
Língua: Língua:
Sempre foi máxima inalteravelmente praticada uno de los medios más
em todas as Nações, que conquistaram novos eficaces para desterrar la
Domínios, introduzir logo nos Povos rusticidad
conquistados o seu próprio idioma, por ser
indisputável, que este é um dos meios mais
eficazes para desterrar dos Povos rústicos a
barbaridade de seus antigos costumes;
Terra: para nelas fazerem as plantações, e as Terra: como un medio de
lavouras, de sorte, que com a abundância dos adquisición de bienes
gêneros possam adquirir as conveniências,
[...] por meio do comércio, em benefício
comum do Estado.
Comércio: Entre os meios, que podem Comércio: forma idónea para
conduzir qualquer República a uma completa conducir la república a una
felicidade nenhum é mais eficaz, que a completa felicitad
introdução do Comércio, porque ele enriquece
os Povos, civiliza as Nações, e constitui
poderosas Monarquias
DIRECTÓRIO POMBALINO INSTRUCIONES – BUCARELLI
Distinções hierárquicas Distinções hierárquicas
E tendo consideração a que nas Povoações civis Y considerando que en las
deve precisamente haver diversa graduação de repúblicas civilizadas debe haber
Pessoas à proporção dos ministérios que diversa graduación de personas, a
exercitam, as quais pede a razão, que sejam proporción de los ministerios que
tratadas com aquelas honras, que se devem aos exercen, y los que persuade la
seus empregos: Recomendo aos Diretores, que razón sean tratados con aquellas
assim em público, como em particular, horrem [sic], honras que se debe sus empleos,
e estimem a todos aqueles Índios, que forem recomiendo mucho a Vd. Que así
Juízes Ordinários, Vereadores, Principais, ou en público como en particular trate
ocuparem outro qualquer posto honorífico; e con distinción a los caciques,
também as suas famílias; dando-lhes assento na corregidores y a todos los indios
sua presença; e tratando-os com aquela distinção, que fueren jueces y ocuparen
que lhes for devida, conforme as suas respectivas algún empleo honorífico
graduações, empregos, e cabedais; para que,
vendo-se os ditos Índios estimados pública, e
particularmente, cuidem em merecer com seu bom
procedimento as distintas honras, com que são
tratados; separando-se daqueles vícios, e dester­
rando aquelas baixas imaginações, que
insensivelmente os re­duziram ao presente
abatimento e vileza.
O
Crise de identidade e transmigração
UM PROJETO CIVILIZATÓRIO DO (E PARA O) ESTADO
§ 1 Sendo Sua Majestade servido pelo Alvará com
força de Lei de 7 de Junho de 1755, abolir a
administração Temporal, que os Regulares
exercitavam nos Índios das Aldeias deste Estado;
mandando-as governar pelos seus respectivos
Principais, como estes pela lastimosa rusticidade,
e ignorância, com que até agora foram educados,
não tenham a necessária aptidão, que se requer
para o Governo, sem que haja quem os possa
dirigir, propondo-lhes não só os meios da
civilidade, mas da conveniência, e persuadindo-
lhes os próprios ditames da racionalidade, de que
viviam privados, para que o referido Alvará tenha
sua devida execução, e se verifiquem as Reais, e
piíssimas intenções do dito Senhor, haverá em
cada uma das sobreditas povoações, enquanto os
Índios não tiverem capacidade para se
governarem, um Diretor, que nomeará o
Governador, e Capitão General do Estado, o qual
deve ser dotado de bons costumes, zelo,
prudência, verdade, ciência da língua, e de todos
os mais requisitos necessários para poder dirigir
com acerto os referidos Índios debaixo das
ordens, e determinações seguintes, que
inviolavelmente se observarão em quanto Sua
Majestade o houver assim por bem, e não mandar
o contrário
Concordia Fratrum: Pombal com seus dois irmãos, Paulo de Carvalho, cardeal-
inquisidor-geral e Mendonça Furtado. Pintura no teto do palácio de Oeiras
A conversão dos índios passava pelo Estado português. Este
frontispício da ISTORIA DELLE GVERRE DEL REGNO DEL
BRASILE é uma alegoria do padroado
Funções do Diretor de Aldeamento
• vigiar e combater a congênita inclinação aos bárbaros
costumes (§s 13, 14, 40, 41),
• combater o vício da ociosidade (§ 20),
• impulsionar a produção agrícola (§s 22, 23, 24, 25,26,27),
• fomentar o comércio e proteger os índios do abuso dos
comerciantes (§s 36, 37, 38, 39, 43),
• fazer a cobrança dos dízimos dos índios (§s 27, 28, 29),
• controlar as modalidades de trabalho e o número de índios
habilitados às diversas tarefas (§s 66, 73),
• introduzir sobrenomes e a língua portuguesa (§s 6, 7, 8, 11),
• O Diretor devia ser: dotado de bons costumes, zelo,
prudência, verdade, ciência da língua, e de todos os mais
requisitos necessários para poder dirigir com acerto os
referidos Índios debaixo das ordens, e determinações
seguintes, que inviolavelmente se observarão em quanto Sua
Majestade o houver assim por bem, e não mandar o contrário
Implantação do Diretório no Rio Grande
• o primeiro estabelecimento que se fez a essa miserável gente,
foi sem método algum, pois que os deixaram na mesma
desordem e brutalidade em que foram criados pelos jesuítas,
sem que se cuidasse na sua civilização, na criação dos filhos; e
o que é mais, até sem o conhecimento dos principais dogmas
da religião católica romana: [...] com cuja ignorância
perfidamente foram educados todos os seus antepassados por
aquela infame gente, que pelo largo trato do tempo veio a fazer
neles uma segunda natureza, até que chegaram ao ponto de se
porem nessa indolência, que a V. Ex. consta, e que na verdade
é.
• Creio que V. Ex. levou alguns exemplares do Diretório [...] S.
Maj. julga, que reduzido a praxe, no que for aplicável nessas
partes do dito Diretório, se poderá tirar proveito, não dos índios
brutos, que vieram com aquela má educação das missões, mas
dos seus filhos, que são os que hão de vir a formar a povoação
República estrangeira: economia e simbologia
• Aqui temos os índios vivendo da mesma sorte, com que os padres
os criaram e jamais deixarão de ser índios; pois é preciso que os
façam trabalhar para o comum, e do monte maior se acuda as suas
precisões o que de nenhuma sorte me parece útil; pois para o ser e
para se civilizarem é preciso que venham para adiante viver com a
mesma regularidade que os mais vassalos; porque do contrário
viríamos a ter dentro do nosso país uma república estrangeira
vivendo com diferentes usos e costumes, o que se deve procurar
evitar
• Devem ser: lançados com apelidos portugueses cada família e se há
de por um maior cuidado em que falem a nossa língua e se
esqueçam da guarani e de muitos dos seus ritos e superstições o
que V. M. recomendará por serviço de Deus e de El Rei aos seus
reverendos curas persuadindo aos ditos índios a que se sujeitem
com gosto ao trabalho e ao ensino para se distinguirem dos brutos
• Danças e festas se devem proibir rigorosamente tão continuadas,
permitindo-lhes só festejarem as principais do ano e as dos seus
oragos, e nunca nos dias de trabalharem
Regulamentação do Trabalho Assalariado
• Devido a rusticidade, e ignorância dos mesmos Índios, [...] pela
incapacidade, que tem ainda agora de o [Salário]
administrarem ao seu arbítrio, será obrigado o Tesoureiro geral
a comprar com o dinheiro, que lhes pertencer na presença dos
mesmos Índios aquelas fazendas de que eles necessitarem: (§
58).
• Porquanto é preciso que os índios situados nesta província
sirvam os moradores e fazendeiros dela e que deste serviço
percebam o lucro que merecem. O Capitão de Dragões
Antônio Pinto Carneiro, a cujo cargo está a regência daqueles
povos, alugará os ditos índios aos ditos moradores pelos
preços abaixo declarados, obrigando-se os que ajustarem, [...]
a satisfazer o que vencerem. De um mês até um ano se
poderão alugar os ditos índios e índias cada mês por um índio
para carretas, roças ou peão, 3$000r. Por um rapaz cada mês
1$500r. Por um índio domador por mês 3$600, por algum índio
oficial de carpinteiro o que merecer. Por uma índia para servir
por mês 1$800r. Por uma índia para ama de leite por mês
3$000.
Casamentos inter-étnicos
• Entre os meios mais proporcionados para se conseguir tão
virtuoso, útil, e santo fim, nenhum é mais eficaz, que procurar
por via de casamentos esta importantíssima união. Pelo que
recomendo aos Diretores, que apliquem um incessante
cuidado em facilitar, e promover pela sua parte os
matrimônios entre os Brancos, e os Índios, para que por meio
deste sagrado vínculo se acabe de extinguir totalmente aquela
odiosíssima distinção, que as Nações mais polidas do mundo
abominaram sempre [...] (§ 88).
• Para facilitar os ditos matrimônios, empregarão os Diretores
toda a eficácia do seu zelo em persuadir a todas as Pessoas
Brancas, que assistirem nas suas Povoações, que os Índios
tanto não são de inferior qualidade a respeito delas, dignando-
se sua Majestade de os habilitar para todas aquelas honras
competentes às graduações dos seus postos,
conseqüentemente ficam logrando os mesmos privilégios as
Pessoas que casarem com os ditos Índios; desterrado-se por
este modo as prejudicialíssimas imaginações dos Moradores
deste Estado, que sempre reputaram por infâmia semelhantes
matrimônios (§ 89).
Internato para os meninos (seminário)
• Ao nascer do sol ou antes se levantarão e depois de se lavarem e pentearem
rezarão as suas devoções e almoçarão (café da manhã). Às oito horas do dia
irão para a escola aonde se conservarão até as onze ocupando-se em
aprender a falar português, a ler escrever, rezar e argumentar. Ao meio dia
jantarão e depois repousarão até as duas da tarde em que irão para a escola
até às cinco horas na mesma forma dita; Depois de o sol posto rezarão o
terço e suas devoções por espaço de meia hora, cantarão a Salve Rainha e o
bendito e depois cearão e se recolherão a dormir. [...]. Só se permitirá que
seus pais e parentes falem com os meninos do meio-dia às duas horas, mas
sempre em português, cuja língua devem sempre e somente falar os meninos
para perderem o guarani. Todos os dias antes da escola virão em colégio
com o seu mestre a missa e o mesmo mestre [...] os persuadirá a que se
confessem ao menos cada três meses. Cuidará o mestre em educar bem os
meninos e que se conservem limpos do corpo e da roupa. [...] Nos dias
santos, de sueto irão ao recreio juntos com o seu mestre e neles poderá o
mesmo mestre licenciar os que lhe parecer para irem visitar seus pais
procurando averiguar se fazem desordem para castigá-los e para não dar-
lhes licença na semana seguinte. Nos sábados assistirão a missa solene de
Nossa Senhora às horas que se disser e à noite cantarão na escola a
ladainha. Nos domingos como devem acompanhar o terço cantando pelas
ruas se dispensará à noite a reza dele. Todos os dias se nomearão os
meninos que no seguinte deverem ajudar a cozinhar, pôr a mesa, varrer o
refeitório, e a escola e dormitório, lavar a louça e dobrar a roupa etc. Todo
menino que em qualquer ocasião falar a língua guarani será castigado e todo
o que acusar terá um perdão
Internato das Meninas
• Em 1778, José Marcelino inaugurou o recolhimento para a educação das
meninas dos povos guarani, instituindo, para o seu funcionamento, quinze
regras que denotam, basicamente, os mesmos desígnios que o colégio dos
meninos. Esse internato comportava até cinqüenta meninas que deveriam ter
entre 6 e 12 anos de idade. O último parecer na aceitação das candidatas era
do próprio governador. O enxoval, formado por uma saia, duas camisas, dois
côvados de baeta, uma esteira, uma fronha e um rosário, era retirado da caixa
comum da vila. A vigilância sobre o idioma guarani, os horários e os preceitos
religiosos era similar a dos meninos. Quanto à formação, havia uma diferença:
enquanto os meninos aprendiam a ler, a escrever, a contar e a argumentar, as
meninas aprendiam as lides domésticas: fiar, tecer, costurar, lavar, tingir roupa
e cozinhar. Essas meninas, dos seis aos doze anos, também produziam seu
dote de casamento. Chegando aos doze anos estavam prontas para serem
concedidas em casamento a quem o governador desejasse, como indica o
documento abaixo:
• Se alguma das meninas recolhidas for procurada para casar o comandante
desta vila informando-se da capacidade do pretendente e da sua qualidade e
posses informará com o seu parecer ao governador do continente para
esperar sua resolução e para se lhes assinalar seu dote e enxoval e assim
mesmo se tendo compreendido a língua portuguesa e a doutrina cristã seus
respectivos pais ou parentes pretenderem levá-la para suas casas sendo
capazes também se informará disto o governador.
• persuado-me que só o atual de educar os meninos e meninas nos primeiros
anos, poderá vencer a que aquelas gentes sejam como as nossas
Bens da aldeia

• lavouras comunais e chácaras


• estância com bastantes mil
cabeças de gado vacum,
• duas olarias,
• um moinho d'água,
• um armazém,
• um açougue
• e um hospital.
• um templo descente;
• encerrou em uma casa com
mestra, idéia de recolhimento,
várias raparigas índias
• estabeleceu escola de ler,
escrever e contar para rapazes:
• Companhia de Infantaria paga,
composta inteiramente de
índios;
A Livre Administração
• Das famílias guarani deveria se fazer: uma
distribuição ou derrama daquelas famílias pela
costa toda, Viamão, Laguna, Santa Catarina, Sete
freguesias que ali há; Rio de São Francisco,
Paranaguá, Cananeya, Iguapé, Santos, São
Sebastião, Paraty, Ilha Grande, finalmente Rio de
Janeiro, fazendo delas dizia eu uma derrama por
todas estas vilas, tantas famílias a cada uma das
vilas; [...]; e as mais povoações suavemente
sustentando uns cinqüenta casais, ou uns
quarenta, encostadas pelas casas de mais
honra e posse, que lhes ensinasse a vida civil:
[...] como vassalos de honra, a uns viria a tocar um
índio pequeno; a outro um casal, os quais com o
seu trabalho pagariam vestuário e sustento
Livre administração
• apreenderão da comunicação dos europeus, e muitos paulistas
honrados; quanto mais que serão livres administrados que é o mesmo
que dizer, livres instruídos para o Estado Civil pelas famílias e vassalos
de honra: ali apreenderão vender a farinha com seus preços regulados, ali
apreenderão pescar, comprar o sal, ali se aplicarão a esta ou aquela
sementeira que virem tem melhor venda, ali verão se lhes tecer o linho,
fabricá-lo; ali verão fazer o queijo, bater a manteiga, e ultimamente
conseguiremos o fim pretendido, sem vexame dos vassalos, sem muitas e
avultadas despesas da Real Fazenda [...]
• A livre administração indígena era apresentada como um serviço ao rei e aos
próprios índios. Aliás, quanto às vantagens do cativeiro para os próprios índios
• Domingos Jorge Velho: [...] e se ao depois [de reduzir os índios] nos servimos
deles para as nossas lavouras; nenhuma injustiça lhes fazemos; pois tanto é
para os sustentarmos a eles e a seus filhos como a nós e aos nossos; e isto
bem longe de os cativar, antes se lhes faz um irremediável serviço em os
ensinar a saberem lavrar, plantar, colher e trabalhar para seu sustento, coisa
que antes que os brancos lho ensinem, eles não sabem fazer.
O melhor estudos para os índios
• Aplicação da mão-de-obra indígena: quebrar e arrancar pedras de
toda a qualidade, assim lioz como lajedo, ou seixo redondo e [...]
sem determinação de quantidade; transferir as olarias da Aldeia N.
S. dos Anjos para as imediações da Vila de Rio Grande e
empregar os índios no fabrico de telhas e tijolos; cortar madeiras e
transportar pedra, cal, areia, telha, tijolo, e madeira para servir a
construção das casas.
• Em seguida o autor sugere esta reflexão: e empregados nestes
trabalhos os índios, que melhores estudos haverá para eles? E
que melhores comodidades para os senhorios das casas?
• Em vez da escola para as meninas, o projeto de dos colonos
propunha alugar as fêmeas para servirem aos moradores do
continente, e não constituí-las, ou infundir-lhes uma tal nobreza,
que as faz incorrigíveis, viciosas, e inimigas de trabalhar
• Nas palavras do governador, a experiência tem mostrado que nada
se deve esperar (dos colégios); pois os índios instruídos na
doutrina cristã, em trabalhar e cultivar as terras, e ajudar ou
exercer alguns ofícios mecânicos, sabem tudo quanto não é justo
que ignorem.
Que são os índios na visão dos colonos?
• Pelo que a V. Ex.a. tenho exposto, e consta dos supra citados
documentos, e pelo, que a experiência me tem mostrado acho
não haver esperança de que estas Famílias Guaranis dêem
de si o desejado fruto, que a tantos anos se espera delas,
porque o caracter das fêmeas é libidinoso em grande
excesso, volúvel, e ocioso; o dos homens, eles só para
peões é que tem serventia por ser esta toda sua
inclinação, e em tudo o mais que os procurarem tem natural
e insanável negações.
• tão indóceis e mortos na fé Católica que professam que,
como bons discípulos dos primeiros mestres que tiveram em
suas Missões, não fazem mais que darem a entender serem
os Mandamentos da Lei de Deus só oito e pouco restritos;
porque com o seu cego procedimento bem escurecem o
sexto e o sétimo
• “São por natureza ingratos ainda aos mais avultados
benefícios e tão incenssíveis no trato que ainda não
abraçaram a nossa língua, nem traje; não havendo entre eles
um que se anime a calçar sapatos”
Que são os índios na visão dos colonos?
• uns homens, que, em geral, parece que a
Onipotência Divina quis que fossem muito
inferiores aos talentos de todos os outros
homens, e pouco mais superior ao instinto
dos animais
• Em vez da escola para as meninas, o projeto de
Bettamio propunha alugar as fêmeas para
servirem aos moradores do continente, e não
constituí-las, ou infundir-lhes uma tal nobreza,
que as faz incorrigíveis, viciosas, e inimigas de
trabalhar.
Privatização dos bens
• As terras comunais dos índios passaram a ser
consideradas excessivas. Os açorianos serviriam de
exemplo de trabalho para que os índios aumentassem
sua produção agrícola. O colono teria mais
capacidade de conservar as suas excelentes
benfeitorias do que qualquer outro índio, mais inclinado
ao desprezo do que à estimação e à ociosidade do que
à fadiga

• A venda pública dos bens da Aldeia, acirrou o


empobrecimento da população indígena e a
concentração de renda das camadas abastadas,
Antônio José de Alencastre, arrendou o engenho
d’água, a olaria grande estância das famílias guaranis
e o açougue.
“Roubo” de índios para civilizá-los
• a 11 do corrente mês lhe foi arrebatada com violência uma filha menor por
nome Marcelina para se entregar, como com efeito se entregou a Francisco
Antônio de Vasconcelos fabricante, não obstante a repugnância do
Suplicante, e sua mulher (1813).
• [...] com o falso pretexto de civilização, [...] e que sem dúvida (a filha) terá
a mesma educação em casa do Suplicado que teria na de seus pais com a
diferença de servir naquela como escrava, e nesta como filha, portanto,
Pede a V. Exa. humildemente seja servido lembrar-se do amor paternal, e
por em prática as virtudes do Pio coração de V. Exa. e deferir ao Suplicante
como requer.
• Sait Hilaire ainda registrou a vigência dessa prática, em 1821. Ao visitar a
sede da escola da antiga redução de São Miguel, já incorporada ao império
luso, observou que: dos quinze alunos apenas dois ou três passavam de
dez anos. Logo que eles estão aptos a qualquer serviço, são furtados ou
fogem.
• Os roubos de indiozinhos são abusos dos mais terríveis que praticam aqui.
São levados a trabalhar como escravos [...]
Resistência e sobrevivência étnica
• Profissões exercidas por índios em 1822: oficial de pintor,
sapateiro, vive das suas lavouras, peão de campo, peão,
carpinteiro e 2 que vivem da sua arte de música. (São Nicolau
do Rio Pardo)
• Pe. Antônio Sepp afirmava ter: arquitetos, marceneiros, tecelões,
fiandeiros, curtidores, oleiros, pintores, escultores, fundidores e
artífices de instrumentos musicais tão qualificados como os da
Europa. 2º Sepp Estes índios paraguaios são, por natureza como
que talhados para a música, de maneira que aprendem a tocar
com surpreendente facilidade e destreza toda a sorte de
instrumentos, e isto em tempo brevíssimo.
• Nicolau Dreys -1817 e 1825 - Os indígenas das Missões têm
disposição inata para a música e é rara no país uma missa que
não seja cantada, mormente nos domingos; o único tocador de
rebeca que se costumava alugar para os bailes da alta sociedade
no Rio Grande era índio das Missões com todo o complemento do
vestido local, e não era pouco admirável o contraste que fazia
esse Orfeu dos matos, com poncho de lã grosseira e barrete
vermelho, no meio de uma reunião onde se patenteava a
elegância e riqueza do luxo europeu. Os índios das Missões
parecem ter herdado essa propensão filarmônica dos seus
antepassados instruídos pelos jesuítas.
Resistência e sobrevivência étnica
• Em 1815, bispo do Rio de Janeiro foi recebido por uma
numerosa música de Índios Guaranis [...] e à noite, ao
luar, assistiu a cantos dos pequenos guaranis em sua
língua.
• Nicolau Dreys afirma que: em Rio Pardo, a ocorrência da
língua guarani – sonora, eufônica e extremamente
pitoresca – era tão familiar quanto a portuguesa.
• Isso significa que o idioma guarani e as melodias
missioneiras foram transmitidos de pai para filho e que,
sessenta anos após o estabelecimento dos guarani-
missioneiros em Rio Pardo, este grupo havia
incorporado menos a língua portuguesa do que os luso-
brasileiros o idioma guarani.
Símbolos missioneiros resguardados

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