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Epistemologia
Provável forma usada por Pitágoras para demonstrar o teorema que leva o seu nome.
Pode-se dizer que a epistemologia se origina em Platão. Ele opõe a crença ou opinião
("δόξα", em grego) ao conhecimento. A crença é um determinado ponto de vista
subjetivo. O conhecimento é crença verdadeira e justificada.
A teoria de Platão abrange o conhecimento teórico, o saber como. Tal tipo de
conhecimento é o conjunto de todas aquelas informações que descrevem e explicam o
mundo natural e social que nos rodeia. Este conhecimento consiste em descrever,
explicar e predizer uma realidade, isto é, analisar o que ocorre, determinar por que
ocorre dessa forma e utilizar estes conhecimentos para antecipar uma realidade futura.
Há outro tipo de conhecimento, não abrangido pela teoria de Platão. Trata-se do
conhecimento prático, o saber que.
A epistemologia também estuda a evidência (entendida não como mero sentimento que
temos da verdade do pensamento, mas sim no sentido forense de prova), isto é, os
critérios de reconhecimento da verdade.
Ante a questão da possibilidade do conhecimento, o sujeito pode tomar diferentes
atitudes:
• Dogmatismo: atitude filosófica pela qual podemos adquirir conhecimentos
seguros e universais, e ter certeza disso.
• Cepticismo: atitude filosófica oposta ao dogmatismo, a qual duvida de que seja
possível um conhecimento firme e seguro, sempre questionando e pondo à prova
as ditas verdades. Esta postura foi defendida por Pirro de Élis.
• Relativismo: atitude filosófica defendida pelos sofistas que nega a existência de
uma verdade absoluta e defende a idéia de que cada indivíduo possui sua própria
verdade, que é em função do contexto histórico do indivíduo em questão.
• Perspectivismo: atitude filosófica que defende a existência de uma verdade
absoluta, mas pensa que nenhum de nós pode chegar a ela senão a apenas uma
pequena parte. Cada ser humano tem uma visão da verdade. Esta teoria foi
defendida por Nietzsche e notam-se nela ecos de platonismo.
Estudos recentes
Segundo Lalande, trata-se de uma filosofia das ciências, mas de modo especial,
enquanto "é essencialmente o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos
resultados das diversas ciências, destinado a determinar sua origem lógica (não
psicológica), seu valor e seu alcance objetivo". Para Lalande, ela se distingue, portanto,
da teoria do conhecimento, da qual serve, contudo, como introdução e auxiliar
indispensável.
Portanto, temos que epistemologia é o estudo sobre o conhecimento científico, ou seja,
o estudo dos mecanismos que permitem o conhecimento de determinada ciência.
Japiassu distingue dois tipos de Epistemologia
• a Epistemologia global ou geral que trata do saber globalmente considerado,
com a virtualidade e os problemas do conjunto de sua organização, quer sejam
especulativos, quer científicos;
• a Epistemologia específica que trata de levar em conta uma disciplina
intelectualmente constituída em unidade bem definida do saber e de estudá-la de
modo próximo, detalhado e técnico, mostrando sua organização, seu
funcionamento e as possíveis relações que ela mantém com as demais
disciplinas.
Segundo Trindade “todo conhecimento torna-se, devido à necessária vinculação do
meio ao indivíduo que pertence ao próprio meio, um auto-conhecimento. Essa interação
faz-se cogente pela gênese unívoca entre os muitos integrantes do mundo da vida, sem
olvidar que o homem é um desses integrantes. [...] Ocorre, deste modo, um acoplamento
estrutural entre o sistema nervoso do observador e o meio proporcionando, assim, uma
mútua transformação/adaptação. O ser é modificado pelo meio ao qual o próprio ser
pertence e modifica”. (2007, p. 97).
O que é a epistemologia?1
Michael Williams
Universidade de Johns Hopkins
1
adquirir conhecimento, ou há várias, dependendo do tipo de conhecimento em
questão? Por exemplo, alguns filósofos têm defendido que há diferenças
fundamentais entre as ciências naturais e as sociais ou humanas. b) O problema
do desenvolvimento (progresso) coloca a questão seguinte: Podemos melhorar
as nossas formas de investigação? No séc. XVII este era um problema de
importância capital para os filósofos que defendiam os avanços científicos contra
o que consideravam ser o dogmatismo estéril da escolástica (a versão semi-
oficial das posições filosóficas e científicas de Aristóteles ensinada nas
universidade e “escolas”). c) Finalmente, o problema da “razão” ou da
“racionalidade”. A preocupação aqui é saber se há métodos de investigação, ou
de fixação de crenças, que sejam claramente racionais e, se há, quais são.
4. O problema do cepticismo: Será de facto possível obter algum conhecimento?
Este problema é difícil porque há argumentos poderosos, alguns bastante
antigos, a favor da resposta negativa. Por exemplo, embora o conhecimento não
possa assentar em pressupostos brutos, todos os argumentos têm de acabar por
chegar ao fim. Parece que, em última análise, as opiniões das pessoas assentam
em indícios que elas não podem justificar e não podemos considerar
conhecimento genuíno. O problema que aqui se coloca, então, é o de conhecer
os argumentos do cepticismo filosófico, a tese que defende a impossibilidade do
conhecimento. Uma vez que há uma ligação forte entre conhecimento e
justificação, o problema do cepticismo está intimamente ligado ao problema da
justificação.
5. O problema do valor: Os problemas esboçados são significativos somente se
faz sentido possuir conhecimento. Mas será faz, e se sim porquê? Supondo que
sim, para que o queremos? Queremo-lo de qualquer forma, ou por causa de
determinados objectivos e em determinadas situações? O conhecimento é o
único objectivo da investigação, ou há outros com igual (ou maior) importância?
Obviamente que estes problemas não são independentes. O modo como lidamos com
um impõe constrangimentos ao modo como lidamos com os outros. Mas o modo como
um dado filósofo ajuíza a sua importância relativa determinará o sentido que uma dada
teoria do conhecimento necessita alcançar e como pode ser defendida. Isto é típico na
filosofia, porquanto se verificam profundos desacordos não apenas em relação à
correcção das respostas a um conjunto determinado de perguntas mas também às
próprias questões.
Muitos filósofos atribuem um estatuto privilegiado ao problema do cepticismo na teoria
do conhecimento. Com efeito, identificam praticamente o problema do conhecimento
com este problema. The Problem of Knowledge, de Ayer (1956), é um exemplo cabal
disto.
Há muito a favor desta perspectiva. Há um consenso generalizado relativamente ao
facto de a idade moderna da filosofia começar com Descartes (1596-1650), e que o seu
contributo fundamental foi ter induzido a filosofia a realizar uma viragem enfaticamente
epistemológica.
Descartes escreveu durante um período de grande produção intelectual quando (entre
outras coisas) a visão medieval do mundo, uma síntese de algum modo instável entre a
filosofia aristotélica e a teologia cristã, começou a ser crescentemente pressionada por
novas ideias científicas emergentes. Insatisfeito com o ensino do seu tempo e sedento
de promoção da nova ciência, Descartes defende um corte radical com o passado.
Pretende construir uma visão do mundo e o nosso conhecimento dele a partir dos
alicerces. Ao promover esta reconstrução, afirma que aceita como princípios básicos
apenas aqueles que, logicamente falando, não podem ser colocados em dúvida. Com
efeito, utiliza o argumento céptico como um filtro para eliminar todas as opiniões
duvidosas: devemos aceitar apenas as proposições que resistam ao mais determinado
assalto céptico. Por confiar no facto de ter encontrado tais proposições, Descartes não é
realmente um céptico. Não obstante, a sua “dúvida metódica” coloca os problemas do
cepticismo no centro da reflexão.
Conjuntamente com estas considerações históricas, há razões teóricas fortíssimas a
favor da posição que afirma que os problemas cépticos são a força motriz por detrás
das teorias filosóficas do conhecimento. Uma das formas mais esclarecedoras para
compreender a diferença entre as teorias tradicionais do conhecimento é considerá-las
tentativas de descolagem de ideias concorrentes sobre os erros dos argumentos
cépticos. […]
Colocar as preocupações com o cepticismo no centro da epistemologia torna muito claro
o que distingue a reflexão filosófica acerca do conhecimento. Tal reflexão responde a
preocupações profundas sobre se de facto o conhecimento é possível. Isto não pode ser
considerado uma matéria científica estrita na medida em que o cepticismo questiona
todo o alegado conhecimento, incluindo o científico.
[…] [A] ameaça do cepticismo não foi nunca o verdadeiro motivo da reflexão filosófica
sobre o conhecimento humano. Uma distinção útil aqui é a que se pode estabelecer
entre o objectivo do filósofo e a sua tarefa: isto é, entre o que ele espera alcançar e o
modo como pensa que deve prosseguir (devo esta terminologia útil a RobertFogelin). O
cepticismo tem sido o problema epistemológico dominante na idade moderna não
porque “refutar o céptico” seja sempre o objectivo da reflexão epistemológica mas
porque eliminar a argumentação céptica é quase invariavelmente uma das suas tarefas
fundamentais. Por exemplo, se suspeitamos que certo tipo de afirmações são mais
vulneráveis aos ataques cépticos do que outras, explorar os limites do cepticismo
oferecerá uma via para definir demarcações significativas. Ou, dito de outro modo, se
pudermos mostrar onde erram os argumentos cépticos, é de esperar aprender
importantes lições sobre conhecimento e justificação. Não é necessário estar no espaço
das conclusões cépticas para nos interessarmos pelos argumentos cépticos.
[…] [E]mbora a epistemologia moderna tenha mostrado uma tendência definitiva para
seguir o paradigma cartesiano, colocando o cepticismo em primeiro lugar, a minha
caracterização da epistemologia no que diz respeito à listagem dos problemas, deixa em
aberto a possibilidade de desenvolver outras abordagens. Este aspecto da minha
abordagem da epistemologia será importante quando discutirmos se o tema se esgotou.
Epistemologia e a “tradição ocidental”
Dos meus cinco problemas, o do valor é o menos discutido pelos filósofos
contemporâneos. Mas todos os outros problemas dependem deste. Se o conhecimento
não tivesse importância, não perderíamos tempo a imaginar como o definir, como o
obter, nem a traçar linhas à sua volta. Nem nos interessaria refutar o céptico. Se não
víssemos valor no conhecimento, o cepticismo seria provavelmente ainda um puzzle
mas não um problema. Contudo, parece-me que o conhecimento tem importância (para
a maioria de nós, pelo menos algumas vezes); se não o conhecimento de acordo com
alguns critérios muito estritos, pelo menos outros conceitos epistemológicos, tais como
justificação ou racionalidade. Porquê?
Uma resposta é que a preocupação com o conhecimento (ou com realidades afins) está
de tal modo enraizada na nossa tradição ocidental que não é opcional. Esta tradição,
que nos seus aspectos filosóficos e científicos, tem as suas origens na Grécia clássica, é
globalmente e no seu sentido mais lato uma tradição racionalista e crítica. A ciência e a
filosofia começam quando as ideias acerca da origem e natureza do universo se
separam do mito e da religião e são tratadas como teorias que se podem discutir: isto
é, comparadas com (e porventura superadas por) teorias concorrentes. Como observou
Karl Popper, esta abordagem globalmente racionalista para compreender o mundo pode
ser considerada como um tipo de tradição de “segunda ordem”: o que conta não são
crenças particulares — encaradas como sagradas, ancestrais, e desse modo mais ou
menos inquestionáveis — mas a prática do exame crítico das ideias correntes para que
se possa reter apenas o que fica depois da inspecção. Ter herdado esta tradição explica
a nossa tendência para contrastar conhecimento com preconceito ou com a (simples)
tradição. A distinção é invejosa, o que é uma outra forma de dizer que o conhecimento
importa. E isto não é apenas uma preconceito local. Uma vez desperto para o facto de
mesmo as nossas mais compartilhadas posições poderem ser desafiadas, não há
retorno para um estádio pré-crítico, para uma perspectiva tradicionalista. É por isso que
a preocupação com o conhecimento já não é opcional.
A perspectiva racionalista pode aplicar-se a ela própria. Quando o é temos a
epistemologia: um estudo de terceira ordem, segundo uma tradição de reflexão
metacrítica sobre os nossos objectivos e procedimentos epistemológicos. Temos uma
tradição de investigação centrada no tipo de questões que iniciamos.
Dada esta perspectiva de epistemologia, é fácil ver por que razão o cepticismo é
especialmente difícil de ignorar. O cepticismo é o gato com o rabo de fora do
racionalismo ocidental: um ataque argumentativamente sofisticado à própria
argumentação racionalista. Representa o caso extremo da tradição da investigação
crítica reflexivamente aplicada. Desde os primórdios da filosofia ocidental, tem havido
uma contra-tradição que defende que os limites da razão são muito mais estreitos do
que os epistemólogos optimistas gostam de pensar, que a própria ideia de razão é uma
armadilha e uma ilusão e que, mesmo que não o fosse, o conhecimento científico e
filosófico acaba por não ser o que se pensa que é. Se o cepticismo não pode ser
refutado, a perspectiva racional destrói-se a si própria.
O pensamento epistemológico
Cap 3
Em suma:
A contemporaneidade trouxe algumas respostas ao homem. No campo
científico, por exemplo, o avanço das pesquisas genéticas tem dado, a todos, alento
suficiente para poder enfrentar seus dissabores físicos com esperança. Pelo avanço
dessas pesquisas, é bem provável que nossa geração ainda veja a cura de doenças, hoje
consideradas crónicas, como o diabetes. No campo da pesquisa científica empregada na
tecnologia, temos vários exemplos de avanço considerável.
Mas no campo do pensamento, o homem ainda tacteia. Que modelo
epistemológico utilizar para compreender melhor a realidade? Não há resposta
satisfatória a esta pergunta. Uns defenderão o modelo A; outros, o modelo B; e outros,
ainda o Z. Quem está correcto? Quem erra?
Cap4
As ciências e nos copiar texto em pdf
Rupturas epistemológicas
A ciência, ao longo do século XX, passou por um amplo debate sobre os seus princípios
básicos de construção. O racionalismo, o determinismo e o mecanicismo foram
superados pela incerteza proposta pela própria ciência, dando origem a possíveis
rupturas epistemológicas e a busca por "novos" paradigmas.
O físico e historiador Kunh levou à formulação de uma teoria inovadora para a evolução
da ciência, onde o conceito de «paradigma» ocupa o lugar central. A actividade da
ciência, distinguida entre períodos extensos de normalidade (intraparadigmáticos) e
períodos curtos, fecundos e revolucionários (de alteração de paradigmas), é a tese que
defende.
Para Carnap, a linguagem científica deve ser alvo de critérios rígidos. O sentido
empirista das proposições deve ser traduzido numa linguagem lógica e directamente
referenciado aos dados observáveis. Carnap propôs, então, um conjunto de quatro
critérios enumerados por ordem decrescente de restringimento: «testabilidade
completa», «confarmibilidade completa», «testabilidade» e «confirmabilidade». As
proposições resistentes aos critérios de verificação são designadas por «científicas»; são
as proposições da categoria I.
Na categoria II, Carnap inclui as proposições que designa por «pseudo científicas»,
onde os elementos observáveis se entrelaçam com os mitos e as crendices populares, e
que têm sentido, embora não científico; por fim estabelece uma categoria III proposta
por enunciados sem sentido cognitivo, os «pseudo-enunciados».
O Círculo de Viena defendia um programa de unificação enciclopédica das ciências,
sendo o factor linguístico um dos seus problemas fulcrais. A linguagem designada por
«fenomenista» incidia sobre os dados sensíveis primários; por outro lado, a linguagem
«fisicalista» ou «coisal», versava directamente sobre a matéria e as suas propriedades
observáveis.
Fronteiras Científicas
J. Monod ensaia uma alternativa ao ligar a ciência à ética, fundando essa aproximação
no postulado extracientífico de objectividade do conhecimento.
Vemos assim complexificar-se a imagem tradicional do cientista que surge agora como
um infatigável construtor de redes (M. Callon, 1989) que lhe permitam uma relação
favorável com os meios não apenas científicos mas económicos, políticos, religiosos e
uma opinião pública que, indirectamente, suportam a sua actividade. (Novas
competências se lhe exigem e não o estamos a treinar, profissionalmente, para elas).
Como ultimo reparo, é essencial referir que ciência pode ser definida
como uma “colecção de respostas” a uma permanente interrogação, interior
ou exterior sendo um elemento indispensável do diálogo interminável dos
homens com o seu mundo, um dispositivo cognitivo, retórico e comunitário
de produção de estratégias de sobrevivência do homem, a “mola” do
progresso material das sociedades. Segundo Edgar Morin “um diálogo com
a Natureza”. A ciência e a tecnologia mudaram o mundo, logo, o homem é o
sujeito da natureza, da história e do processo de conhecimento, daí a
ciência não compreender apenas o mundo, mas também procura
ultrapassar e superar através da tecnologia. As fronteiras científicas
definem-se portanto pela delimitação de uma ciência e o começo de outra.
Cap 5
Conhecimento
Ato ou efeito de abstrair idéia ou noção de alguma coisa, como por exemplo:
conhecimento das leis; conhecimento de um fato (obter informação); conhecimento de
um documento; termo de recibo ou nota em que se declara o aceite de um produto ou
serviço; saber, instrução ou cabedal científico (homem com grande conhecimento).
O tema "conhecimento" inclui, mas não está limitado a, descrições, hipóteses,
conceitos, teorias, princípios e procedimentos que são ou úteis ou verdadeiros. O estudo
do conhecimento é a gnoseologia. Hoje existem vários conceitos para esta palavra e é de
ampla compreensão que conhecimento é aquilo que se sabe de algo ou alguém. Isso em
um conceito menos específico. Contudo, para falar deste tema é indispensável abordar
dado e informação.
Dado é um emaranhado de códigos decifráveis ou não. O alfabeto russo, por exemplo,
para leigos no idioma, é simplesmente um emaranhado de códigos sem nenhum
significado especifico. Algumas letras são simplesmente alguns números invertidos e
mais nada. Porém, quando estes códigos até então indecifráveis, passam a ter um
significado próprio para aquele que os observa, estabelecendo um processo
comunicativo, obtém-se uma informação a partir da decodificação destes dados. Diante
disso, podemos até dizer que dado não é somente códigos agrupados, mas também uma
base ou uma fonte de absorção de informações. Então, informação seria aquilo que se
tem através da decodificação de dados, não podendo existir sem um processo de
comunicação. Essas informações adquiridas servem de base para a construção do
conhecimento. Segundo esta afirmação, o conhecimento deriva das informações
absorvidas.Se constrói conhecimentos nas interações com outras pessoas, com o meio
físico e natural. Podemos conceituar conhecimento da seguinte maneira: conhecimento
é aquilo que se admite a partir da captação sensitiva sendo assim acumulável a mente
humana. Ou seja, é aquilo que o homem absorve de alguma maneira, através de
informações que de alguma forma lhe são apresentadas, para um determinado fim ou
não. O conhecimento distingue-se da mera informação porque está associado a uma
intencionalidade. Tanto o conhecimento como a informação consistem de declarações
verdadeiras, mas o conhecimento pode ser considerado informação com um propósito
ou uma utilidade.
A definição clássica de conhecimento, originada em Platão, diz que ele
consiste de crença verdadeira e justificada.
O conhecimento não pode ser inserido num computador por meio de uma representação,
pois neste caso seria reduzido a uma informação. Assim, neste sentido, é absolutamente
equivocado falar-se de uma "base de conhecimento" num computador. No máximo,
podemos ter uma "base de informação", mas se é possível processá-la no computador e
transformar o seu conteúdo, e não apenas a forma, o que nós temos de facto é uma
tradicional base de dados.
Associamos informação à semântica. Conhecimento está associado com pragmática,
isto é, relaciona-se com alguma coisa existente no "mundo real" do qual temos uma
experiência directa.
O conhecimento pode ainda ser aprendido como um processo ou como um produto.
Quando nos referimos a uma acumulação de teorias, idéias e conceitos o conhecimento
surge como um produto resultante dessas aprendizagens, mas como todo produto é
indissociável de um processo, podemos então olhar o conhecimento como uma
atividade intelectual através da qual é feita a apreensão de algo exterior à pessoa.
A definição clássica de conhecimento, originada em Platão, diz que ele consiste de
crença verdadeira e justificada. Aristóteles divide o conhecimento em três áreas:
CIENTÍFICA, PRÁTICA e TÉCNICA.
Cap 6
Epistemologia genética
A Epistemologia Genética defende que o indivíduo passa por várias etapas de
desenvolvimento ao longo da sua vida. O desenvolvimento dá-se através do equilíbrio
entre a assimilação e a acomodação, resultando em adaptação. Segundo esta
formulação, o ser humano assimila os dados que obtém do exterior, mas uma vez que já
tem uma estrutura mental que não está "vazia", precisa adaptar esses dados à estrutura
mental já existente. O processo de modificação de si próprio é chamado de acomodação.
Este esquema revela que nenhum conhecimento nos chega do exterior sem que sofra
alguma alteração pela nossa parte. Ou seja, tudo o que aprendemos é influenciado por
aquilo que já tínhamos aprendido. Piaget somente veio a conhecer as pesquisas de
Vygotsky muito depois da morte deste. Originalmente um biólogo, com a
especialização em moluscos do Lago Genebra, fez seus estudos de psicologia do
desenvolvimento entrevistando milhares de crianças e inicialmente observando como
seus filhos cresciam.
As teorias de Piaget sobre o desenvolvimento psicológico mostraram-se muito
influentes. Entre outros, o filósofo e cientista social Jürgen Habermas as incorporou em
seu trabalho, mais notadamente em A Teoria da Ação Comunicativa. O historiador da
Ciência Thomas Kuhn e o pensador marxista Lucien Goldmann tiveram em Piaget um
interlocutor importante. A influência de Piaget na pedagogia é notável. Na área da
alfabetização temos a obra de Emília Ferreiro. No Brasil, suas ideias começaram a ser
difundidas na época do movimento da Escola Nova, principalmente por Lauro de
Oliveira Lima.
Seymour Papert usou o trabalho de Piaget como fundamentação ao desenvolver a
linguagem de programação Logo. Alan Kay usou as teorias de Piaget como base para o
sistema conceitual de programação Dynabook, que foi inicialmente discutido em Xerox
PARC. Estas discussões levaram ao desenvolvimento do protótipo Alto, que explorou
pela primeira vez os elementos do GUI, ou Interface Gráfica do Usuário, e influenciou a
criação de interfaces de usuário a partir dos anos 80.
Teoria
Através da minuciosa observação de seus filhos e principalmente de outras crianças,
Piaget impulsionou a Teoria Cognitiva, onde propõe a existência de quatro estágios de
desenvolvimento cognitivo no ser humano: sensório-motor, Pré-operacional (Pré-
Operatório), Operatório concreto e Operatório formal.
Karl Popper já é um autor conhecido entre os portugueses. Muitos dos seus livros estão
disponíveis nas nossas livrarias, mas, curiosamente, isso não sucede com as suas três
obras mais significativas (The Logic of Scientific Discovery (traduzida no Brasil),
Conjectures and Refutations (entretanto traduzida em Portugal) e Objective
Knowledge), em que Popper desenvolveu uma teoria da ciência abrangente e inovadora,
que constitui um dos marcos da filosofia do século XX. É claro que também existe a
filosofia política de Popper, mas a importância desta vertente do seu pensamento é
muito mais questionável. O Mito do Contexto, o título agora publicado pelas Edições
70, não exclui essa vertente política, mas situa-se sobretudo no domínio da filosofia da
ciência. Apresenta-se, aliás, como uma defesa da ciência e da racionalidade.
O Mito do Contexto reúne diversos ensaios, muitos baseados em conferências, em que
Popper discute, de forma extremamente acessível, os temas que sempre lhe foram caros.
No ensaio que intitula o livro, desenvolve a sua oposição a uma das teorias filosóficas
mais influentes: o relativismo. Ao aceitarem o mito do contexto, os relativistas
defendem que qualquer discussão racional produtiva exige que os participantes
partilhem um contexto comum de pressupostos básicos. Sem deixar de denunciar os
perigos de um optimismo excessivo quanto aos poderes da razão, Popper tenta mostrar
que esta doutrina está errada. Depois de considerá-la em diversos contextos específicos,
como o da linguagem e o da ciência, conclui com uma apreciação lógica geral: salienta
que o mito do contexto resulta "da visão errónea de que toda a discussão racional tem de
começar a partir de "princípios" ou, como muitas vezes são denominados, "axiomas", os
quais, por seu turno, devem ser aceites dogmaticamente, se pretendermos evitar um
retrocesso infinito."
O mito do contexto, no entanto, não é o único que Popper pretende dissolver. Os mitos
de que a objectividade científica depende do "espírito imparcial dos cientistas", de que a
ciência se baseia em observações puras, não impregnadas de teoria, de que as teorias
científicas, sendo apenas instrumentos para a realização de previsões, não proporcionam
qualquer descrição profunda da realidade, contam-se entre os alvos principais das
críticas de Popper. Todas estas críticas, dispersas pelos restantes ensaios, se integram na
defesa da concepção falsificacionista da ciência. Segundo esta concepção, o método
científico não se caracteriza pelo uso de inferências indutivas, ou seja, fazer ciência não
é estabelecer teorias a partir de dados observacionais. Os dados observacionais só têm
relevância quando são utilizados para tentar refutar ou falsificar teorias científicas. Estas
começam por ser conjecturas ousadas e injustificadas, e só adquirem valor em virtude
de sobreviverem a tentativas severas de refutação. Deste modo, a evolução do
conhecimento científico tem um carácter darwinista.
Uma das questões que recebe mais atenção em O Mito do Contexto é a do estatuto das
ciências sociais. Será que estas diferem crucialmente das ciências naturais? Popper
defende que não, atribuindo a popularidade da resposta contrária a uma imagem errada
do método das ciências naturais. Em "Razão ou Revolução?", sem dúvida o ensaio mais
polémico do livro, esta questão conduz a uma crítica dura ao tipo de investigação
sociológica promovido pela escola de Frankfurt. "Alguns dos expoentes famosos da
sociologia alemã", declara Popper, "que dão o seu melhor em termos intelectuais e que
o fazem com a melhor consciência do mundo estão, todavia, creio, apenas a falar de
trivialidades numa linguagem sonante, tal como foram ensinados." Denunciando o
"culto da incompreensibilidade", que desde Hegel tem afectado um amplo sector da
cultura alemã (e não só), Popper defende que tal culto acaba por traduzir-se em "dizer as
maiores banalidades em linguagem sonante". Para quem foi educado neste culto,
acrescenta, é "inconcebível que possa haver ideias importantes que valha a pena
compreender, com as quais não possamos concordar ou das quais não possamos
discordar de imediato."
Este tipo de crítica não surpreenderá quem já estiver familiarizado com o pensamento
de Popper. Na verdade, O Mito do Contexto, que em diversos momentos se torna
repetitivo e até simplista, não traz nada de significativamente novo ao legado
popperiano. Ainda assim, constitui uma boa introdução. E vem reforçar um aspecto
curioso de Popper: embora tenha sempre insistido na importância de sermos críticos em
relação às nossas próprias ideias, foi um dos filósofos que menos mudou de ideias ao
longo da sua obra.
Filosofia da ciência
Filosofia da Ciência é o campo da pesquisa filosófica que estuda os fundamentos,
pressupostos e implicações filosóficas da ciência, incluindo as ciências naturais como
física e biologia, e as ciências sociais, como psicologia e economia. Neste sentido, a
filosofia da ciência está intimamente relacionada à epistemologia e à ontologia. Busca
explicar coisas como:
• a natureza das afirmações e conceitos científicos,
• a forma como são produzidos,
• como a ciência explica, prediz e, através da tecnologia, domina a
natureza,
• os meios para determinar a validade da informação,
• a formulação e uso do método científico,
• os tipos de argumentos usados para chegar a conclusões,
• as implicações dos métodos e modelos científicos para a sociedade e
para as próprias ciências.
Uma visão é que todas as ciências possuem uma filosofia subjacente independente do
que se afirme ao contrário:
Não há tal coisa como ciência livre de filosofia; há apenas ciência
cuja bagagem filosófica é tomada a bordos sem examinação —Daniel
Dennett, Darwin's Dangerous Idea, 1995.
Interdisciplinaridade
Trata-se de um movimento, um conceito e uma prática que está em processo de
construção e desenvolvimento dentro das ciências e do ensino das ciências, sendo estes,
dois campos distintos nos quais a interdisciplinariedade se faz presente.
Definir um objeto que está em construção, co-existindo com aquele que o estuda é uma
tarefa difícil e até certo ponto parcial, uma vez que este objeto está se transformando e
se alterando, assim, toda discussão sobre interdisciplinaridade é passível de análise
comparativa com o material contemporâneo sobre o tema até que este esteja melhor
desenvolvido e articulado, muito mais pela prática do que pela teoria, uma vez que a
interdisciplinariedade esta acontecendo, e a partir disso, uma teria tem sido
desenvolvida.
Um estudo epistemológico é proveitoso para a delimitação do tema: Existem quatro
palavras que são particularmente relacionadas entre si e todas delimitam uma
abordagem cientifica e educacional:
Pluridisciplinaridade; Multidisciplinaridade; Interdisciplinaridade e
Transdisciplinaridade.
O que há em comum nestas palavras é a palavra disciplinaridade/disciplina, que deve
ser entendida como aquelas "fatias" dos estudos cientificos e das disciplinas escolares,
tais como matemática, biologia, ciencias naturais, historia, etc. e de um esforço em
superar tudo o que esta relacionado ao conceito de disciplina. Assim,
interdisciplinaridade é parte de um movimento que busca a superação da
disciplinaridade
Origem e conceitos
A interdisciplinaridade tem suas raízes na historia da ciência moderna, sobretudo aquela
produzida a partir do seculo XX, por isso para compreender este movimento, é
necessário apresentar algumas considerações sobre esta tematica.
Principio dos estudos cientificos
Desde o século XV a ciência passou por uma grande mudança em toda a sua estrutura, o
que resultou numa explosão de novos conhecimentos, novas praticas e técnicas de
pesquisa, isso tem inicio com o renascimento e com a perda, por parte da igreja, do
poder que exercia sobre o homem e a sociedade. Pesquisas até então condenadas e
censuradas começavam a ser feitas, por exemplo pesquisa da anatomia humana através
da dissecação de cadáveres. Galileu, Da Vinci, Copernico, entre outros, surgem com
grandes inovações e idéias que alterariam o pensamento humano. Com tudo isso surge
definitivamente a ciência e a pesquisa cientifica, tomando lugar entre a teologia e a
filosofia, com a missão de apresentar a razão em oposição a fé e a pesquisa em oposição
ao discurso e a retórica.
Disciplinarização do conhecimento
Num período muito curto, a ciencia tem seus fundamentos desenvolvidos e sua principal
função torna-se a de compreender as coisas partindo do macro, do todo, até chegar no
micro, na menor particula, na menor parte, a fim de ter uma visão mais profunda do
todo. Então o movimento que a ciencia passa a realizar é partir da compreensão já
existente das coisas, por exemplo, das ideias postas do que é o homem, seu corpo, seus
membros, seus sistemas, o funcionamento do corpo, etc. em direção a menor particula
que possa ajudar a definir e compreender esse mesmo homem, assim iniciam-se as
pesquisas em anatomia humana, pesquisas em microbiologia humana, até, bem
recentemente, chegar-se a um grande contingente de informações e conhecimentos do
que é o homem, tendo chegado até o DNA. Importante observar que, segundo o
exemplo dos estudos do homem, com o tempo o volume de estudos e de informações
levantadas foi ficando grande ao ponto de ser necessária a criação de novas
subcategorias que dessem conta de continuar as pesquisas e dominar os conhecimento
adquiridos, em outras palavras, a disciplina de ciencias passa a ter uma nova disciplina
especifica que responderia então por um conhecimento especifico da ciencia absoluta.
Esse processo se repete exatamente como se dá a divisão celular, quando uma disciplina
esta desenvolvida o suficiente, ela se divide e da origem a outra disciplina, distinta da
primeira em seu objeto de estudo e exigente quando ao pesquisador que deve dominá-la,
que é o especialista. Através deste movimento, partindo do século XV, em que existia
somente a disciplina de ciência, que era dominada por todos os estudiosos envolvidos,
chega-se ao século XXI com uma infinidade de disciplinas especializadas nas mais
diversas frações da ciência, tais como ciencias sociais, sociologia, antropologia,
psicologia, anatomia geral, anatomia especifica ou neurologia, cardiologia, fisiologia,
etc. ciências da natureza, biologia, microbiologia, ciencias exatam, quimica, fisica, e
muitas outras, cada uma sendo responsável por uma pequena fração, ou especialidade da
ciencia, e cada uma com um especialista diferente, que domina somente a sua
especialidade, aquela fração do conhecimento.
[Diferenciação entre disciplina escolar e cientifica
Embora o termo disciplina seja empregado para mencionar tanto as frações do
conhecimento científico, como frações dos estudos escolares, e em muitos casos tenham
os mesmos nomes, tais como historia, matemática, química, física, etc. As ligações entre
umas e outras esta somente nisso. Não há relação direta entre uma disciplina cientifica e
uma disciplina escolar com mesmo nome, o que se dá é que remotamente o objeto de
estudo de uma e outra disciplina é o mesmo, porem a disciplina escolar não apresenta
todos os conhecimentos da disciplina cientifica, por vezes até foge um pouco desses
conhecimentos, como no caso da disciplina escolar de Geografia, que não comtempla a
cartografia, a geologia, dentre outras. Isso se dá porque as funções de uma e outra
disciplina são diferentes. É importante observar que as disciplinas escolares tomam
muito daquilo que é produzido pelas disciplinas cientificas e reveste esses
conhecimentos de funções didáticas que tem a função de levar os alunos a conhecerem,
mesmo que minimamente, o que é produzido pelo homem em termos de conhecimento e
estudos.
Aplicação na ciência
Como indicado anteriormente, a interdisciplinaridade surge no século XX como um
esforço de superar o movimento de especialização da ciencia e superar a fragmentação
do conhecimento em diversas areas de estudo e pesquisa. A ciencia, no século XX,
tornou-se especializada ao ponto de não ser mais possível realizar o movimento
pretendido quando do inicio da especialização, que era chegar ao micro para conseguir
ver o todo de forma plena e completa, e também, chegou-se ao ponto em que em
algumas areas não era mais possível continuar aprofundando no conhecimento, tendo
chegado ao limite do que era possivel a determinadas especialidades pesquisar. Então a
interdisciplinaridade surge como proposta para a realização do movimento inverso,
partir do micro e retornar ao todo. Com isso, com a aplicação da interdisciplinaridade na
ciencia, surgem novas disciplinas agregadoras, que unem areas especificas do
conhecimento a fim de compreender fenômenos que seriam incompreensiveis com os
conhecimento de apenas uma área, como é o caso da bioengenharia, que une as areas da
biologia e engenharia a fim de dar conta de estudos que uma ou outra disciplina sozinha
não daria conta.
[
Principais autores
A pesquisa sobre interdisciplinaridade ainda é muito recente, mesmo assim existem
alguns autores já destacados por sua produção sobre o tema, são eles: Ivani Fazenda,
que possui varias publicações sobre o tema e sua relação com a educação e é
coordenadora de uma equipe de pesquisadores da PUC-SP que desenvolve diversas
pesquisas sobre o tema; Hilton Japiassu, que possui também diversas publicações sobre
o tema, tanto em sua manifestação na educação como na ciencia; em Portugal se destaca
a autora Olga Pombo, que é também pesquisadora sobras as manifestações do tema no
Brasil e em Portugal e já esteve no país ministrando diversas palestras sobre o assunto.
Interdisciplinaridade é a integração de dois ou mais componentes curriculares na
construção do conhecimento. A interdisciplinaridade surge como uma das respostas à
necessidade de uma reconciliação epistemológica, processo necessário devido à
fragmentação dos conhecimentos ocorrido com a revolução industrial e a necessidade
de mão de obra especializada. A interdisciplinaridade buscou conciliar os conceitos
pertencentes às diversas áreas do conhecimento a fim de promover avanços como a
produção de novos conhecimentos ou mesmo, novas sub-áreas.
Edgar Morin
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum (Paris, 8 de Julho 1921), é um
antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita.
Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formado
em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e
Epistemologia. Autor de mais de trinta livros, entre eles: O método (6 volumes),
Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes
necessários para a educação do futuro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa.
É considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais
teóricos da complexidade.
Pensamento
A principal obra de Edgar Morin é a constituída por seis volumes, "La Méthode" (em
português, O Método). Foi escrita durante três décadas e meia. Trata-se de uma das
maiores obras de epistemologia disponível. Morin inicia os primeiros escritos de "La
Méthode" em 1973, com a publicação do livro "O Paradigma Perdido: a Natureza
Humana", uma transformação epistemológica por questionar o fechamendo ideológico e
paradigmático das ciências, além de apresentar uma alternativa à concepção de
"paradigma" encontrada em Thomas Kuhn. Seu primeiro livro traduzido para o
português é O cinema ou o homem imaginário, em 1958.
O pensamento complexo
Complexo vem do Latim complexus, que quer dizer “aquilo que é tecido em conjunto”.
Segundo o próprio Morin, nós somos:
Homo (gênero) Homo sapiens sapiens
Edgar Morin diz que é sistemático demais possuirmos um sapiens ou dois, em nossa
autodenominação; é preciso acrescentar um demens, ficando: Homo sapiens sapiens
demens, o que mostra o quanto somos descomedidos, loucos. Todo homem é duplo: ao
mesmo tempo que é racional apresenta certa demência.
Na busca do verdadeiro pensamento complexo de Morin, esbarramos no entendimento
de outros conceitos, entre eles, é o de operadores de complexidade:
• Operador dialógico que é diferente de operador dialético
• Operador recursivo
• Operador hologramático
O operador dialógico envolve o entrelaçar coisas que aparentemente estão separadas:
Exemplos:
• Razão e emoção
• Sensível e inteligível
• O real e o imaginário
• A razão e os mitos
• A ciência e a arte
Trata-se da não existência de uma síntese. Tudo isto consiste o chamado dialogizar.
O operador recursivo, trata principalmente do fato de que sempre aprendemos que uma
causa A produz um efeito B. Na recursividade a causa produz um efeito, que por sua
vez produz uma causa.
Exemplo: Somos produto de uma união biológica, entre um homem e uma mulher e por
nossa vez seremos geradores de outras uniões.
O operador hologramático, trata de situações em que você não consiga separar a parte
do todo. A parte está no todo, assim como o todo está na parte. Esses três operadores
são as bases do pensamento complexo. Em resumo temos:
• Juntar coisas que estavam separadas
• Fazer circular o efeito sobre a causa
• Idéia de totalidade: Não dissociar a parte do todo. O todo está na
parte assim como a parte está no todo.
Com esses três operadores, você criará a noção de totalidade, mas ao mesmo tempo,
criará uma concepção de que a simples soma das partes não leva a esse total. A
totalidade (no pensamento complexo), é mais do que a soma das partes e
simultaneamente menos que a soma das partes.
- Nós somos considerados seres que:
• Falam;
• Fabricam seus próprios instrumentos;
• Simbólicos, pois criamos nossos símbolos, nossos mitos, e nossas
mentiras.
O pensamento complexo afirma também que, além disso, somos complexos. Isto porque
estamos inscritos numa longa ordem biológica e porque somos produtores de cultura.
Logo, somos 100% natureza e 100% cultura. O conhecimento complexo não está
limitado à ciência, pois há na literatura, na poesia, nas artes, um profundo
conhecimento. Todas as grandes obras de arte possuem um profundo pensamento sobre
a vida. Segundo o próprio Morin, devemos romper com a noção de que devemos ter as
artes de um lado e o pensamento científico do outro.
Tetragrama organizacional
Qualquer atividade de seres vivos é guiada por uma tetralogia. Envolve relações de:
• Ordem;
• Desordem;
• Interação;
• (re)Organização.
Isto é o tetragrama organizacional.
Unindo este tetragrama aos operadores de complexidade, temos as bases do pensamento
complexo.
Diz Marx: “Qualquer reforma do ensino e da educação começa com a reforma dos
educadores.” Esta é uma das citações mais utilizadas por Morin quando trata da questão
do pensamento complexo e da reforma dos educadores no processo de criação de uma
nova educação. A razão cartesiana impôs um paradigma. Ela nos ensinou a separar a
razão da des-razão. Temos que religar tudo o que a ciência cartesiana separou, segundo
Morin.
Cap 7
A obra “Um discurso sobre as Ciências” apresenta em suas primeiras páginas a crise de
identidade das ciências no tempo em que vivemos. Esse assunto será desdobrado ao
longo da obra, sendo analisados aspectos históricos das ciências naturais e sociais, bem
como o atual contexto cientifico em que nos encontramos e as perspectivas para o futuro.
O autor sustenta, inicialmente, que nos encontramos em uma fase de transição entre
“tempos” científicos. Para uma melhor compreensão, Boaventura utiliza-se do exemplo de
Rousseau, que na obra “Discours sur Le Sciences et lês Arts”, de 1750, buscou respostas
por meio de perguntas elementares e simples. Para tanto, o autor estrutura a sua obra da
seguinte maneira: 1º) caracteriza a ordem científica hegemônica; 2º) analisa, sob
condições teóricas e sociológicas, a crise dessa hegemonia; 3º) propõe um perfil de uma
ordem científica emergente, novamente sob condições teóricas e sociológicas.
2. O PARADIGMA DOMINANTE
A ordem científica dominante, tratada na obra como “O paradigma dominante”, diz respeito
ao modelo de racionalidade herdado a partir do século XVI e consolidado no século XIX.
Essa nova racionalidade científica vislumbra uma única forma de se atingir o conhecimento
verdadeiro, aquela decorrente da aplicação de seus próprios princípios epistemológicos e
de suas regras metodológicas. Sendo um modelo totalitário, esta nova visão de mundo
apresentava distinções fundamentais aos modelos de “saberes” aristotélicos e medievais:
1º) opunham-se conhecimento científico e conhecimento do senso comum (desconfiava-se
das evidências da experiência imediata e do senso comum e buscava-se respostas na
observação científica sistemática, rigorosa e controlável dos fenômenos naturais); 2º)
opunham-se natureza e pessoa humana (buscava-se conhecer a natureza para poder
controlá-la e dominá-la).
Decorre daí, em meados do século XIX, a emergência das chamadas ciências sociais, as
quais assumiriam duas correntes distintas de absorção do modelo mecanicista: 1ª)
aplicava, dentre as possibilidades existentes, os princípios epistemológicos e
metodológicos do estado da natureza (ciências sociais como extensão das ciências
naturais); 2ª) estabelecia uma metodologia própria para as ciências sociais, com base na
“especificidade do ser humano e sua distinção polar em relação à natureza”(2).
Apesar de serem aparentemente diversas, as duas correntes acabam por dar maior
relevância às ciências naturais do que às ciências sociais. De fato, a segunda vertente
serviria como um indício da crise do modelo até então hegemônico.
A terceira condição teórica está baseada na teoria de Gödel, a qual acaba por questionar o
rigorismo matemático como regra absoluta da constituição da natureza. A principal
conseqüência dessa teoria é possibilitar a formulação de proposições “indecidíveis”
mesmo à matemática, proporções que não podem ser matematicamente nem refutadas,
nem demonstradas.
4. O PARADIGMA EMERGENTE
5. ANÁLISE CRÍTICA
Aproveito esta parte do trabalho para propor algumas observações sobre assuntos já
apresentados por Boaventura em sua obra. Também neste momento, creio que seja
relevante uma análise dos quatro pontos propostos pelo autor em seu novo paradigma
(último capítulo da obra).
Boaventura de Sousa Santos propõe um novo modelo de ciência a partir da inter-relação
entre ciências naturais e ciências sociais, fraturando o modelo totalitário das ciências
naturais, via única e possível para atingir-se uma “verdade universal”. “Verdade” essa
adquirida por herança do deslumbramento ocasionado pelas teorias surgidas,
principalmente a partir do século XIX, como o evolucionismo de Darwin, o positivismo de
Comte e a criminologia de Lombroso. Essas teorias possuíam em seu âmago uma
semelhança universal, a de sustentarem os seus estudos, como o a origem da natureza e
a natureza do homem, em valores matemáticos, os quais explicariam o mundo
racionalmente (e mensuravelmente), garantindo a previsibilidade fenomenológica da
natureza.
Não distantes do século XIX, os dias atuais ainda demonstram que a impregnação da idéia
deslumbrante da cientificidade (natural) moderna ainda persiste no ensino prestado pelas
mais diversas instituições de ensino. Não que as ciências naturais não possuam relevante
valor, pelo contrário, contribuem e muito. Porém, ocorre que o modelo mensurável de
“verdade” parece ser, ainda hoje, por muitos almejado como maneira perfectibilizada de
alcançar-se o onicompreensivismo, mesmo nos campos em que haja tremenda
subjetividade, como são aqueles em que a sociedade e, principalmente, o homem, como
indivíduo, aparecem como principais objetos de análise.
Ora, me baseio nessa observação por meio de uma experiência propriamente vivida. A
matemática, verdadeiro paradigma de ciência natural, onde a regra dos “números
previsíveis” impera, sempre foi sobremaneira valorizada em detrimento das disciplinas que
envolviam o estudo de questões onde suas regras não poderiam ser aplicadas diretamente
(em grande parte pela presença da subjetividade), como por exemplo a filosofia. Não por
acaso, uma vez que a herança de teorias como a darwinista persiste em nosso meio,
demonstrando clara necessidade de reavaliação dos métodos e valores acerca ensino
acadêmico. Deve-se almejar um sistema de ensino do conhecimento onde prevaleçam
conjuntamente, em paridade de relevância, disciplinas inerentes tanto às ciências sociais
quanto às ciências naturais. Permite-se com essa conduta, um melhor acesso ao
conhecimento da sociedade, do ser humano e da cultura pelos aprendizes.
A Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida ao longo do século XX, tendo o biólogo Karl
Ludwig von Bertalanffy como relevante precursor teórico, vai, em grande parte, ao
encontro da proposta de paradigma emergente apresentado por Boaventura de Sousa
Santos, senão vejamos. A Teoria dos Sistemas, tendo hoje grande representação literária
na obra “A teia da Vida” (cujo título original é “The Web of Life”) de Fritjof Capra, apresenta
dentre suas linhas mestres uma valorização maior do “comportamento coletivo” em relação
à atuação independente dos sujeitos que compõem um determinado sistema. A questão
nevrálgica a ser explorada pela Teoria dos Sistemas não é a
compreensão/controle/previsibilidade sobre um objeto isolado de uma análise (como a
ciência moderna pretendeu), mas sim compreender a estrutura organizacional e as
conexões interiores e exteriores entre o objeto de estudo e o ambiente do qual ele faz
parte(11). Dito de outra maneira, o estudo isolado de um objeto (ou parte dele) ou o estudo
de uma simples causalidade de um determinado problema (determinismo mecanicista)
dificilmente explicará, completamente, a relação que existe entre o objeto da pesquisa e o
ambiente que o cerca. Portanto, é necessário que o estudo desenvolvido considere ao
mesmo tempo as multirelações (seja entre objeto-objeto, seja entre objeto-ambiente, seja
entre outro tipo de relação) e as multicausalidades (seja entre objeto e resultado, seja
entre ambiente e influência em resultado, seja, novamente, em outro tipo de relação)
existentes entre ambos, objeto e ambiente.
A terceira proposta feita pelo autor lusitano ao novo paradigma que emerge é a de que
“todo o conhecimento é autoconhecimento”(12). Dentre outras observações, apresenta-se
a separação que a chamada ciência moderna (principalmente no campo das ciências
naturais) fez entre o sujeito de investigação e objeto de investigação. O sujeito que
investiga não se confundiria com o objeto que estaria por ser estudado, como no exemplo
da antropologia que tinha como sujeito de investigação o europeu civilizado e como objeto
de investigação o indivíduo “primitivo”. Toda a subjetividade da natureza humana que
pudesse interferir nos resultados da pesquisa era afastada. Da mesma maneira, a religião
também havia sido afastada, evitando-se que valores morais ou éticos pudessem interferir
nos estudos realizados.