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LUCRO IMOBILIÁRIO NO IMPOSTO DE RENDA

Imposto de Renda (IR) é tributo de competência


federal, pelo qual cada responsável tributário, pessoa física ou
jurídica, está obrigada a deduzir/recolher uma dada percentagem
(alíquota) de seu aumento de capital anual (receita) à União.

Os ganhos financeiros em negócios imobiliários –


denominado “lucro imobiliário” - também estão sujeitos à tributação
do IR, ou seja, apresenta-se como fato gerador desse tributo. A base
de cálculo, por outro lado, que dará o resultado deste acréscimo de
receita, é a diferença aritmética entre o valor de compra do imóvel e
o valor de revenda do mesmo à terceiro. Vale salientar que o imposto
só é devido quando existe o ganho de capital.

A disciplina legal do lucro imobiliário está disciplinada,


atualmente, na Instrução Normativa nº 84/2001 da Secretaria da
Receita Federal.

Por esta, estão sujeitos à apuração de ganho de capital


todas as operações com bens imóveis que decorram de alienação, a
qualquer título, de bens ou direitos, tais como as realizadas por
compra e venda, permuta, desapropriação, adjudicação, dação em
pagamento, promessa de compra e venda, cessão de direitos e
contratos afins (art. 3º, I), sendo esses caracterizados como fato
gerador da tributação.

O lucro imobiliário sujeita-se à incidência do imposto


de renda sob a forma de tributação definitiva, calculado à alíquota de
15 % sobre a diferença positiva entre o custo de aquisição e o valor
da alienação. O recolhimento sobre o lucro imobiliário deve ser
realizado até o último dia útil do mês subseqüente àquele em que for
efetuado o negócio de alienação e auferido o ganho de capital
correspondente, seja o negócio celebrado através de escritura pública
ou contrato particular.

Mas não é todo lucro imobiliário que se enquadra como


fato gerador dessa espécie tributária, vez que poderemos apontar
quatro casos de isenção. E são esses casos de não tributação legal
que mais interessam quando o assunto é o que ora nos propomos.

O primeiro fato livre de tributação é no caso de


alienação de imóvel com valor inferior a R$ 440.000,00 (quatrocentos
e quarenta mil reais), quando o alienante possuir um único imóvel, e
não alienou, a qualquer título, nenhum outro imóvel nos últimos 5
anos. Para o direito a este benefício, não importa o tamanho, valor ou
localização dos imóveis.

Esta modalidade de isenção pode encontrar guarida no


art. 6º da Constituição, que inclui a moradia como um dos direitos
básicos do cidadão. Uadi Lammego Bulos, ao comentar o artigo
preceitua: “Todavia, o acréscimo procurou levar em conta uma
realidade social: poucos brasileiros têm casa própria. Mas não basta
alcançar a matéria em nível constitucional, se providências concretas
não forem tomadas para que ela saia do papel. O importante é
cumprir a promessa”.1

Isento também está qualquer ganho de capital


auferido na alienação de bens e direitos de pequeno valor (até R$ 35
mil), no mês em que esta se realizar. Se ocorrer a alienação, num
mesmo mês, de mais de um bem de pequeno valor, então, para

1
BULOS, Uadi Lammego. Constituição Federal Anotada. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2005
efeito de isenção de IR, deve ser considerada a soma dos bens de
mesma natureza alienados.

Fato interessante é na regulação da isenção quando da


alienação dos imóveis adquiridos até 1969. Uma vez que até 1988 a
legislação do imposto de renda disciplinava que a base de cálculo do
lucro imobiliário teria desconto de 5% (cinco por cento) por cada ano
que o proprietário permanecesse com o bem, ou seja, até
31/12/1988, o proprietário que permanecesse com o imóvel por 20
anos, quando o alienasse, por qualquer valor, estaria isento do
imposto. Quando esta isenção foi suprimida, permaneceu o direito ao
desconto para os imóveis adquiridos até aquela data.
Sobre tal assunto, se pronunciou Antônio da Silva
Cabral, no sentido de quê, as deduções foram estabelecidas como
incentivo, para que de tal forma, o bem pudesse incorporar o valor
perdido em razão da inflação vigente, “(...) pois a inflação tornava
ilusório esse lucro em muitos casos. (...)2”

É importante mencionar que o proprietário do imóvel


residencial adquirido no período de 1969 a 1988 terá o direito de se
valer da redução de 0,5% até dezembro de 1988.

A Receita Federal, através da Instrução Normativa


599/05, regulamentou a aplicação da Lei 11.196/2005, no sentido de
evitar erros no recolhimento. Mesmo assim, os especialistas na área
recomendam o recolhimento do imposto pelo valor que for
encontrado, para posteriormente acertar com a Receita qualquer
diferença para maior ou menor.

2
CABRAL, Antonio Silva. Tributação das Operações Imobiliárias. São Paulo: Resenha Tributária,
1978.
Outrossim, para os casos de inventário e/ou
arrolamento, entendo neste momento, salvo melhor arbítrio (aqui os
especialistas e colegas tributaristas poderão opinar), que o valor dos
bens imóveis devem ser atualizados de acordo com a legislação em
vigor, com a finalidade de que esses bens entrem no patrimônio dos
herdeiros pelo valor já atualizado, não se sujeitando ao lucro
imobiliário de 15% sobre esse lucro, mas sim e tão somente quando
esses imóveis forem alienados pelos herdeiros, já na qualidade de
proprietários, e ai sujeitos aos critérios da nova legislação,
considerando que não ocorrerá a duplicidade de aplicação da lei, já
que a redução ocorrerá nos bens integrantes do espólio e partir daí
nos bens dos herdeiros. Desta forma, o valor do imóvel entra no
patrimônio dos herdeiros atualizados, sem a incidência do imposto, e
somente será tributado o ganho de capital a partir desta situação,
considerando o valor dos imóveis e o valor de venda. Para os demais
casos, inclusive o ganho decorrente de alienação de bens imóveis, o
prazo para pagamento vai até o último dia útil do primeiro decêndio
do mês subseqüente.

O último e mais presente fato é quando há venda de


imóvel residencial e todo o produto da venda é utilizado na compra
de outro imóvel residencial no prazo de 180 dias. Não existe
impedimento ao contribuinte que vende um e compra mais de um
imóvel, ou vende mais de um e compra um ou mais imóveis. Por
outro lado, o uso parcial do produto da venda, na aquisição, implica o
pagamento de imposto sobre o lucro na proporção da parcela não
utilizada.

A isenção prevista tem caráter indutor, pois incentiva a


aquisição de novos imóveis residenciais com o fruto da venda dos
bens de semelhante natureza, acrescido do valor do imposto que
seria originalmente devido. O Estado abre mão da arrecadação,
destinando o recurso do imposto para benefício do contribuinte e
fomento do mercado imobiliário.

Quem faz doação de imóvel também precisa verificar


se ficou sujeito ao imposto de ganho de capital. A doação é isenta de
IR se o imóvel for entrar na declaração do beneficiário pelo mesmo
valor pelo qual era informado na declaração do doador. Se o
beneficiário quiser atualizar o valor do imóvel em sua declaração, o
doador terá de pagar imposto sobre a diferença dos valores.

A isenção aplica-se, inclusive:


I – aos contratos de permuta de imóveis residenciais;
II – à venda ou aquisição de imóvel residencial em
construção ou na planta.

A isenção não se aplica, dentre outros:


I – à hipótese de venda de imóvel residencial com o
objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de
aquisição a prazo ou à prestação de imóvel residencial já possuído
pelo alienante;
II – à venda ou aquisição de terreno;

III – à aquisição somente de vaga de garagem ou de


boxe de estacionamento.

No que se refere às operações realizadas à prestação,


aplica-se a isenção, observada as condições precedentes:

I – nas vendas à prestação, e nas aquisições à vista, à


soma dos valores recebidos dentro do prazo de 180 (cento e oitenta)
dias, contado da data da celebração do primeiro contrato de venda e
até a(s) data(s) da(s) aquisição (ões) do(s) imóvel(is) residencial(is);
II – nas vendas à vista e nas aquisições à prestação,
aos valores recebidos à vista e utilizados nos pagamentos dentro do
prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data da celebração
do primeiro contrato de venda;

III – nas vendas e aquisições à prestação, à soma dos


valores recebidos e utilizados para o pagamento das prestações,
ambos dentro do prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da
data da celebração do primeiro contrato de venda.

Não integram o produto da venda, para efeito do valor


a ser utilizado na aquisição de outro imóvel residencial, as despesas
de corretagem pagas pelo alienante.

Por fim, deve-se ter atenção ao fato que o montante


investido com benfeitorias realizadas no imóvel podem ser
incorporados ao valor do mesmo para cálculo do ganho de capital; ou
seja, o que for realizado com melhorias, tais como – reformas,
aumento de área construída, acessórios fixos como armários
embutidos – troca de materiais – inclusive, mão-de-obra, são
computados, desde que tudo isso seja comprovado, com
documentação hábil e idônea e discriminados na declaração de
reajuste anual. Desta feita, aconselha-se que, os valores despendidos
com registro, impostos e taxas cartoriais, também devem ser
apresentados como causas redutoras da diferença de ganho de
capital, pois isso também justifica o aumento no valor do bem ao
longo dos anos, servindo para diminuir o ganho de capital no
montante da venda.

A despesa de corretagem paga ao corretor pela


intermediação na aquisição do imóvel pode integrar o custo de
aquisição, desde que o adquirente tenha suportado o ônus. (Art. 17,
I, “c” do IN SFR nº 84/2001).

Com relação a integralização de capital, o resultado


obtido pelo sócio com a transferência de imóvel do seu patrimônio
para integralizar participação no capital social de pessoa jurídica está
sujeito à tributação do Imposto de Renda, pois é considerada uma
alienação a título oneroso, a não ser que se trate de prédio com duas
unidades imobiliárias ou, então, no caso em que a alienação tenha
ocorrido após o prazo de 60 meses da averbação da construção do
prédio no Registro Imobiliário.

A decisão é do Superior Tribunal de Justiça (STJ) num


processo em que a Fazenda Nacional questionou uma decisão
proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4)
segundo a qual não havia qualquer intenção de lucro na operação
efetivada entre três irmãos do Rio Grande do Sul que repassaram um
edifício com vinte e cinco apartamentos para a empresa da qual
também eram sócios.

O TRF-4, no caso, considerou que houve simples


transferência de patrimônio pessoal para o social da empresa, não se
tratando de alienação em sua conformação legal. A decisão desse
Tribunal concluía que não se tratava de incorporação típica nos
termos do disposto no artigo 28 da Lei n. 4591/64, mas de simples
transferência do patrimônio de pessoas físicas dos sócios para o
capital social da pessoa jurídica sem qualquer intenção de lucro.

Segundo a Segunda Turma do STJ, é totalmente


legítima a atuação do Fisco em tributar a diferença entre o custo de
aquisição do imóvel e o valor pelo qual houve a transferência à
sociedade. No caso em discussão no STJ, três irmãos compraram e
construíram um edifício e alienaram à empresa de cereais Indube,
também formada por eles. Para o relator, ministro Castro Meira, não
cabe ao Judiciário ampliar a norma tributária para situações ali não
previstas.

Ainda sobre a matéria, pode-se destacar julgado


recente do STJ, que declara não ser possível tributar lucro imobiliário
no Imposto de renda de imóvel proveniente de herança. O relator,
Ministro Castro Meira teve esse entendimento, pois acredita que com
o implemento do Decreto Lei nº 94/66 houve a revogação da Lei
3470/58, que autorizava a cobrança do imposto de renda em imóveis
provenientes de herança.

Além, a defesa do herdeiro alegou que os artigos 97,


99 e 109 do Código Tributário Nacional (CTN) foram desrespeitados.
O artigo 97 versa que apenas lei pode criar, diminuir ou ampliar
impostos e definir o seu fato gerador. Já o artigo 99 estabelece que
decreto só pode atuar nos limites da lei, e o artigo 109 define como
os princípios gerais do direito devem ser aplicados à legislação
tributária.

Sendo assim, o relator, Ministro Castro Meira, decidiu


pela procedência do Recurso, visto que a portaria nº 80/79, tratava-
se de matéria submetida à reserva legal e por este motivo só poderia
ser regulada por Lei, sendo, pelos motivos explicitados a determinada
portaria considerada ilegal.

RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA.GANHO


DECORRENTE DA ALIENAÇÃO DE IMÓVEL ADQUIRIDO POR
HERANÇA. PORTARIA 80⁄79 DO MINISTRO DA FAZENDA.
ILEGALIDADE. TRIBUTO INDEVIDO. PRECEDENTES.1. Não se admite a
tributação do imposto de renda sobre o ganho decorrente da alienação de
bem imóvel adquirido por herança com fundamento na Portaria MF 80⁄79,
uma vez que esse ato normativo tratou de matéria submetida à reserva
legal. Precedentes: EREsp 23999 ⁄ RJ, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ
19.12.1997 e REsp 57415⁄RJ, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ
10.04.1995. 2. Sendo possível dar provimento ao recurso especial sem
analisar a suposta violação do art. 535 do CPC, essa questão fica
prejudicada. 3. Recurso especial provido. (Rel. Min. Castro Meira, DJ
25.09.2008 e RESP nº 1042739 RJ)

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