Você está na página 1de 67

c 

Este trabalho tem por objetivo, estudar as controvérsias sobre a legislação do


aborto, trazendo a tona um tema muito bastante polemico apreciando-se por
diversos pontos de vista. Desta forma, torna-se indispensável uma discussão ampla
acerca da questão do aborto no Brasil, principalmente neste momento em que tal
assunto acerta no mesmo ponto de confluência de necessidades históricas que o
país experimenta.

Devido ao próprio processo acelerado dos acontecimentos no mundo, o Brasil


encontra em necessidade de reavaliação de seus ³Códigos de Referência´; o
assunto dom aborto é um dos tópicos e, na certa, um dos mais complexos.

Nesta exposição estarão presentes algumas definições jurídicas no Brasil e


de outros países, mas a abordagem geral do trabalho gira em torno das
controvérsias sobre a legalização do aborto, que é o foco das atenções legais, e, é
no contexto da problemática gerada pelas disposições atuais que se desenvolvem
todas as tendências e opiniões que dizem respeito aos trâmites da evolu ção do
processo pelos caminhos do Congresso Nacional.

Os reflexos de caráter social, histórico, cultural, econômico, político e ético, de


acordo com a época, organizou -se um breve histórico de como as idéias transitaram
pelas vias do Poder Legislativo sob a forma de projetos de lei, requerimentos e
outros até a atualidade.

É justamente na atualidade que se encontra o ápice de todo o debate que


pode se desenrolar de forma a satisfazer as ansiedades de determinados grupos
sociais de maneira positiva, grupos esses que serão chamados de atores sociais
que reivindicam, com gradações diversas, determinações legais mais próximas ao
favorecimento do aborto, ou , pelo contrário, tudo pode tender para outro lado, onde
outros atores sociais que se aproximam das concepções de projetos mais
conservadores.

Com todo esse desenvolvimento não se pretende apresentar soluções ou


conclusões definitivas sobre o tema, mas delinear o panorama dos acontecimentos
atuais sob uma ótica de tendências variadas e também históricas.
Contribui-se, desta forma, para a discussão se torne mais acessível a que se
propõe a estudá-la

No artigo 5º da Constituição Federal, em seu caput elenca o direito à vida


como sendo um dos direitos fundamentais do ser humano. Esta pesquisa, não se
submete a buscar a definição exata do que seja ³vida´, mas cabem alguns
comentários sucintos no tocante tema.

No texto constitucional, ³vida´ não significa tão somente o aspecto puramente


biológico da existência, o mistério da auto -atividade funcional, peculiar a toda
matéria orgânica. Excede de muito esse enfoque, de vez que procura acepção mais
elástica, mais extensa.

³Vida´ é assim, algo dinâmico, um processo instaurado com a concepção, que


se transforma continuamente e evolui; todos os fatores que interferirem no na tural
fluir da existência são conseqüentemente, contrários à vida.

³A vida humana é composta de elementos materiais (físicos e psíquicos) e


imateriais (espirituais). Dentro do alcance constitucional, ³vida´ envolve dignidade,
privacidade, integridade físico-corporal e, principalmente, direito à existência´ 1

O direito à existência consiste no direito de estar vivo, de se defender e


permanecer vivo, e de não ter interrompido o processo vital senão pela morte
natural. Com base no conceito acima declinado é a legislação pátria pune quase
todas as formas de interrupção artificial do existir, além de reputar dentro da lei a
autodefesa ou até mesmo o ataque direto a quem tentar tirar de outrem a vida. É a
tecnicamente denominada legítima defesa, prevista no Código Penal.

A proposta de uma existência digna pela Constituição da República tem como


definição a existência de algo muito relativo, podendo levar a abusos.

O aborto é a interrupção da gravidez com a conseqüência morte do produto


da concepção. Este passa por várias, fase durante a gravidez, sendo chamado de
ovo nos dois primeiros meses, e de embrião nos dois meses seguintes, e,
finalmente, de feto no período restante. Por questões meramente didáticas
menciona-se apenas a palavra feto para abranger as três hipót eses.

Š
 
 Ë 
 Š
†ó se pode cogitar de crime de aborto quando uma mulher está grávida.
Assim, evidentemente não constitui aborto a conduta de quebrar um tubo de ensaio
que contém um óvulo fertilizado in vitro.

†e o feto já estiver morto por causa natural e o médico a penas faz a retirada,
não há crime, pois o que se pune no crime de aborto é a condita de tirar a vida do
feto.

O aborto eugênico ou eugenésico é conceituado por alguns doutrinadores da


seguinte forma:

Aborto eugênico significa ³aquele que trata de impedir o nascimento de seres


infelizes marcados por uma carga degenerativa´ 2

³Ocorre esta espécie quando há sério e grave perigo para o feto, seja em
virtude de predisposição hereditária, seja por doenças da mãe, durante a gravidez,
seja ainda por efeito de drog as por ela tomadas, durante esse período, tido podendo
3
acarretar para aquela enfermidade psíquica, corporal, deformidades, etc.´

A ilicitude também é denominada causas de exclusão da antijuricidade,


causas de justificação, e exclusão de crime existente, ou tipos permissivos.
Conforme explica Enrique Bacigalupo:

³É uma ação típica que não será justificada . (...) A antijuricidade consiste na
falta de autorização da ação típica. Matar alguém é uma ação típica porque infringe
a norma que diz ³não deves matar´; esta mesma ação típica será antijurídica se não
for praticada sob o amparo de uma causa de justificação (legítima defesa estando de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito)´ 4

Conforme diz o artigo 17 do Código Penal Brasileiro, ³também não há crime,


se o feto está morto e o agente, sem saber disso, pratica uma manobra abortiva´.
Não ocorre o crime de aborto se o meio utilizado pelo agente não pode provocar o
mesmo, como no caso da ingestão de medicamentos que não têm o potencial de
provocar a morte do feto, ou na realização de rezas ou simpatias para provocá -lo.

´
               !  Š"´!   # 
   !Š$$%! ´ ´Š
"
 &' &!(`   `  
)
 *+ 

  `
+ ,-
!Š$.)! ..
Este trabalho divide -se em 4 partes onde no Capítulo 1 ± Aborto encontra-se:
aspectos etimológicos, conceitos e evolução histórica.

O Capítulo 2 ± Direito Brasileiro, apresenta, Constituição Federal; Código


Penal; espécies de aborto; exclusão da punibilidade; características gerais da
legislação.

No Capítulo 3 ± Legislação, apresentará, comparada; o aborto em Portugal, o


aborto nos EUA; o aborto na China e o aborto na África do †ul.

E o Capítulo 4 ± Controvérsias, encontra-se o argumento social e o


argumento do direito a vida; legalização do aborto solução ou problema?; posições
favoráveis; posições desfavoráveis. E para finalizar, conclusão e referências
bibliográficas.
K  
  



   

 

Para podermos dar uma melhor entendimento a está pesquisa será


apresentado neste capítulo os aspectos etimológicos, o conceito do que vem a ser o
aborto e sua evolução histórica

A colocação mencionada é fragmentada, pois não há uma orientação direta


do período que pode ser considerado um aborto, para complementar os dizeres
deste autor, Bitencourt (2006) nos oferece uma resposta mais eficaz a respeito do
aborto, na sua perspectiva. "± a interrupção da gravidez antes de atingir o limite
fisiológico, isto é, durante o período compreendido entre a concepção e o início do
parto".5

Uma questão objeto de grandes discussões em diferentes ramos da


sociedade é o aborto. Etimologicamente, o termo aborto advém do latim abortus,
onde ab significa privação e ortus, nascimento. Há discordâncias a respeito da
conceituação desse termo entre médicos e juristas, sendo que, para os primeiros, a
palavra utilizada deveria ser abortamento para designar a conduta de abortar e o
produto morto ou expelido é o que seria considerado aborto. No universo jurídico,
por sua vez, entende-se por aborto o ³ato de interromper o processo de uma
gravidez com a conseqüente expulsão do feto do interior uterino´. 6

O feto geralmente é considerado viável após o sexto mês de gestação. O feto


abortado pesa menos de mil gramas. Acima deste peso o feto geralmente é viável e
é utilizado o termo trabalho de parto prematuro. Porém, uma definição usada em
obstetrícia no Brasil, refere-se ao aborto como uma ³interrupção espontânea ou
provocada de gestação com idade de até vinte semanas, ou concepto de peso
inferior a quinhentos gramas (vinte e oito semanas). ³A interrupção da gravidez ou

È
/0+ 


´ ! ŠÈ$


  +   
 +1-   2 ! 2 

Š$$%! Š.


expulsão do conteúdo do útero gravídico antes do feto ser viável é denominada
abortamento´ 7

De acordo com Maranhão (1995) a morte é a cessação da vida, mas que tal
assertiva não tem qualquer significado, pois não sabemos o que é a vida. †abe -se
que a vida se expressa por um complexo e dinâmico c onjunto de fenômenos
bioquímicos regidos por leis fixas, que normalmente se traduz num equilíbrio
biológico e físico-químico. Quando a morte ocorre, essas leis deixam de ser válidas
e o corpo inerte passa a ser um cadáver e sofre influências de ordem físic a, química
e microbiana. Contudo, a morte não deve ser entendida como fato instantâneo, mas
como processo, pois órgãos, sistema, tecidos não morrem ao mesmo tempo. 8

A criminalização da prática do aborto tem sido muito eficiente em manter uma


indústria rendosa de aborto ilegal, sustentada pelas mulheres que o podem realizar
em condições seguras e, também por aquelas que não dispõem dessas mesmas
condições, mas pagam segundo suas possibilidades, expondo -se às seqüelas e
riscos de vida devido às condições inse guras. 9 É com estas mulheres que não
dispõem de possibilidades seguras que o Ministério da †aúde deve ter
preocupações. Para entender melhor o por que a questão de saúde é importante
neste tema, devemos observar os problemas que as mulheres estão se expond o, o
mesmo dossiê menciona que as conseqüências do aborto clandestino em geral são:
perfuração do útero, hemorragia e infecção, que podem acarretar diferentes graus
de morbidade, seqüelas e morte.

A morte clínica é um conceito rígido, exige a parada irrev ersível da atividade


cardíaca, foi adota pela Lei nº 5.479/68, que versava sobre remoção e transplante de
órgãos, ao indicar, em seu artigo 5º, § 1º, os requisitos para a afirmação do óbito a
ausência de atividade cerebral, comprovada pelo traçado absolutamente linear do
eletro-encefalograma, e ausência de batimentos cardíacos por mais de cinco
minutos.

Para efeitos jurídicos, se faz necessário firmar um termo inicial da vida e outro
final, indicativo do evento morte. Para tal os juristas recorrem à ciência que nos

%
 #   /    3   4  ! /
 ! 4 
     3 !
/'5/# !Š$$È! "6"$
.
( 
 &/,
  !Š$$È! ´Š"
$
 
 7!´ È!+80  Š 
apresenta dois conceitos de morte: morte clínica ou cardiorrespiratória e a morte
encefálica.


 K 
 

A doutrina apresenta vários conceitos sobre aborto, o conceito médico legal,


redunda a respeito que aborto é a interrupção da gestação antes de completar 20
semanas ou 139 dias, com expulsão parcial ou total dos produtos da concepção,
com ou sem identificação do embrião ou feto vivo ou morto, pesando menos de 500
g. Pode-se dividir em precoce, se ocorrer antes de 12 semanas, ou tardio,se entre
12 e 20 semanas.10
†egundo Damásio, no campo jurídico a definição do aborto consiste em O
aborto é a interrupção da gravidez com a m orte do produto da concepção, que pode
ser ovo, embrião ou o feto, conforme a fase de sua evolução. Pode ser espontânea,
natural ou provocado, sendo nesse último caso criminoso, exceto se praticado em
uma das formas do artigo 128. ³Ëborto é a interrupção da gravidez com a
conseqüente morte do feto (produto da concepção). No sentido etimológico, aborto
quer dizer privação de nascimento. Ëdvém de ab, que significa privação, e ortus,
nascimento´.11
A palavra abortamento tem maior significado técnico que abort o. Aquela
indica a conduta de abortar; esta, o produto da concepção cuja gravidez foi
interrompida. Entretanto, de observar que a expressão aborto é mais comum e foi
empregada pelo CP nas indicações marginais das disposições incriminadoras.
A jurisprudência, na voz do †upremo Tribunal Federal entendeu, que ³pode
ocorrer aborto desde que tenha havido a fecundação´ , sendo esta, portanto,
pressuposto para a configuração do delito.

Š
     
!Š$$%! )$
ŠŠ
4
, 4  !´ Š! .


    
 


Os precursores de práticas de métodos abortivos f oram descobertos na


China, por volta do século XXVIII, a.C.. A história da humanidade inúmeros povos
estudaram e discutiram a respeito do aborto, entre eles os israelitas no século XVI,
a.C., na Mesopotâmia, Grécia e Roma, que culminou em estudos e discussão em
inúmeros povos com a polêmica do aborto

De acordo com Matielo, foi no período da Antigüidade que, ³Hipócrates, o


grande gênio da incipiente medicina, estudou todo o quadro clínico do aborto,
estendendo ainda suas preocupações ao tratamento e aos métodos para induzi-
lo´.12

A aceitação do aborto como exceção à regra geral da proibição esta revestida


de norma oral ou legal - surgindo com extrema raridade em algumas legislações
antigas, mas impreterivelmente vinculadas ao preenchimento de rigorosos
requisitos, já previamente determinados .13

Neste período o aborto foi praticado em todo o mundo, embora essa pratica
tenha sido discutida e reprovada pela maioria das civilizações, em determinadas
épocas foi aceita sob o prete xto de que servir para controlar o crescimento
populacional, situação esta que naquela época preocupava diversos estudiosos.

†eus primeiros defensores pretendiam proteger não somente o ser em


formação, mas também a gestante e a própria sociedade. ³ Talmud, não fez
qualquer referência ao aborto, posição esta também adotada por outro respeitável
documento da época, denominado Pentateuco ´14

³†e alguns homens renhirem, e um deles ferir mulher grávida, e for causa de
que aborte, mas ficando ela com vida, será obrigado a ressarcir o dano segundo o
que pedir o marido da mulher, e os árbitros julgarem. Mas, se o desfecho desta
situação for à morte dela, dará vida por vida. Olho por olho, dente por dente, pé por
pé. Queimadura por queimadura, ferida por ferida, pis adura por pisadura. Alguns
doutrinadores afirmam que as palavras acima transcritas ± encontradas nos textos
da Bíblia, constituem reflexo estatuído no Código de Hamurabi, pois este,

Š´
  
 Ë 
 ŠŠ
Š"
( #4  ! Š´
Š)
5
!#4  ! Š´
considerado um dos mais antigos diplomas jurídicos, já previa indenizações em
casos de aborto provocado, cujo valor variava conforme as conseqüências geradas
por este. Pesava-se também se a mulher era livre ou escrava, nesta o valor a
indenizar era menor limitando -se a uma quantia paga a seu senhor, já em relação
àquela o valor de ressarcimento era bem maior, onde a reparação do dano poderia
até mesmo dar-se com a morte de uma filha do provocador do abortamento ´15

Assim sendo há um ponto de ligação entre ambas as legislações, eis que,


tanto na Bíblia como no Código de Hamurabi, já na Antigüidade preocupavam-se
bem menos com o aborto propriamente dito e muito mais com o ressarcimento ou
compensação do dano por este causado.

Para Matielo (1996) o início da civilização romana, a punição em relação ao


aborto assumiu caráter privado, já que o poder familiar, ou ³ pater familiae´i -
expressão que designava o pai, como o chefe da família -, atribuía a este o poder
absoluto sobre os filhos, inclusive daqueles que ainda estavam por nascer. Aqui,
caso a esposa procurasse abortar sem o consentimento do esposo, este poderia
puni-la severamente, até mesmo com a morte.

Já no período da República Romana, o aborto foi considerado um ato imoral,


todavia teve larga utilização entre as mulheres, principalmente entre aquelas que se
preocupavam com a aparência física, o que neste período histórico possuía uma
grande importância no meio social (herança do tempo do Império). Assim sendo,
cresceu monstruosamente o número de abortos a ponto dos legisladores passarem
a considerá-lo um ato criminoso. Como conseqüência a Lei Cornélia punia a mulher
com pena de morte se esta consentisse com a prática abortiva. Já em relação a
quem praticasse o ato, aplicava -se a mesma sanção, com a possibilidade de
abrandamento caso a gestante não falecesse em decorrência das m anobras
abortivas nela praticadas. 16

O autor ainda fornece referencias ao início do cristianismo que modificou


vertiginosamente a visão que existia até então a respeito do aborto.

³Pois, juntamente com o nascimento do cristianismo vieram à tona diversos


prismas na conceituação do aborto e a crença de que o homem possuía uma alma,

ŠÈ
5
!#4  ! Š´6Š"
Š
c  #4   ` 
e que esta era imortal. que além do mais, sendo o homem criado à imagem e
semelhança de Deus, não deveria então, ter o poder de vida e morte sobre os
demais, atributo este exclusivamente do Criador´. 17

Nesta época a questão passou a versa sob duas correntes distintas, a


primeira afirmava que o feto só adquiria alma no momento em que se separasse
completamente do corpo materno, isto é, após findo o parto. A essa exigência
acrescia-se que o nascente respirasse, pois a alma entraria em seu corpo, no exato
momento.

Barchifontaine (1999), destaca que no fim da idade média, através de †anto


Tomás de Aquino, o aborto passou a ser permitido, nas condições que em sua tese
de que a animação se dava para o homem em apenas quarenta dias após a
concepção, e para mulher em oitenta dias.

O conceito acima citado predominou até meados do século XIX, quando foi
aceita a teoria do homúnculo e a partir de então o aborto foi terminantemente
proibido. De modo que, mesmo quando a vida da gestante corria perigo vital dava -se
preferência ao feto, pois se baseavam no argumento de que a mãe já havia recebido
o sacramento do batismo, e assim, tinha a possibilidade de alcançar o Reino dos
Céus.18

³No final do século XIX e no início do século XX, surgiu na Europa, com mais
força na Inglaterra e França, movimentos feministas, preconizando a anticoncepção
e defendendo o direito da mulher ao aborto. Entretanto, a partir da década de 20,
nos países escandinavos e socialistas, houve flexibilidade maior na legislação. Na
Rússia, com a Revolução de 1917, o aborto deixou de ser considerado crime,
legislação que influenciou os demais países socialistas nos anos de 50 ´.19

Em meados de 1930, a †uécia e a Dinamarca, países protestantes


conquistaram com menor dificuldade que os países católicos uma lei a cerca do
aborto, embora esta apresentasse restrições.

³Leis mais liberais instituíram na década de 60 em outros países ocidentais ,


como é o caso da lei inglesa de 1967, que diz respeito à legislação contra o
aborto na Inglaterra foi revogada pelo Abortion Act de 1967. Esta lei,

Š%
c !#4  ! ŠÈ
Š.
/&  4+&9  




Š$$$! ŠÈ
Š$
c !
9&
 ! Š%
teoricamente, não permite o aborto a pedido. Existem quatro cláusulas em
que a gestante deve poder ser enquadrada para obter o aborto, e é
necessário o exame preliminar de dois médicos que devem decidir, "de boa
fé", conforme reza a lei, se tais requisitos são ou não satisfeitos. Entretanto,
na prática não é necessário ser enquadrado em nenhum requisito, e é
extremamente fácil conseguir um aborto por qualquer motivo, ou sem
nenhum motivo. A situação real do aborto na Inglaterra depois da
legalização ficou muito clara através de um trabalho realizado em Londres
por dois jornalistas free lance. O trabalho foi publicado sob forma de um
livro denominado Babies for Burning, nome tirado da prescrição da lei
inglesa exigindo que os fetos abortados sejam incinerados, prescrição que
os jornalistas descobriram nem sempre ser cumprida. Michael Litchfield e
†usan Kentish consultaram- se primeiramente com um médico de sua
confiança e conseguiram um atestado escrito de que †uzan não apenas
não estava grávida como também era estéril e não seria capaz de
20
engravidar.³

O aborto se uma questão política, popularizando as opiniões, com partidos


conservadores e democratas-cristãos se opondo nos parlamentos e partidos
socialistas, social-democratas e comunistas, a favor´.

´
c !
9&
 ! Š%

K   c c c c

 


 K 

  

 PROJETO DE LEI Nº 5058, DE 2005

O Deputado Osmânio Pereira Regulamenta o Artigo 226, § 7º, da Constituição


Federal, dispondo sobre a inviolabilidade do direito à vida, definindo a eutanásia e a
interrupção voluntária da gravidez como crimes hediondos, em qualquer caso.

O Congresso Nacional decreta:

Artigo 1º esta Lei regulamenta o Artigo 226, 7º, da Constituição Federal,


dispondo sobre a inviolabilidade do direito à vida, definindo a eutanásia e a
interrupção voluntária da gravidez co mo crimes hediondos, em qualquer caso.

Artigo 2º O Artigo 122 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940,


passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:

³Artigo 122 - Parágrafo único. Incorre na mesma pena aquele que de algum
modo contribuir para a realização de eutanásia´ .

Artigo 3º Fica revogado o Artigo 128, caput e incisos I e II, do Decreto-Lei nº


2.848, de 7 de dezembro de 1940.

Artigo 4º O Artigo 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar


acrescidos dos seguintes incisos VIII, IX e X:

³Artigo 1º - VIII ± aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


(Artigo 124 do Código Penal);

IX ± aborto provocado por terceiro ( Artigoss. 125 e 126 do Código Penal);

X ± eutanásia (Artigo 122, parágrafo único, do Código Penal ).

Artigo 5º O planejamento familiar de que trata o § 7º do Artigo 226 da


Constituição Federal é entendido , para os efeitos de sua regulamentação e
aplicação, como o conjunto de medidas que viabilizam a decisão livre e consciente
do casal sobre quando começar a ter filhos, quantos filhos ter, qual o intervalo entre
eles e quando parar, vedados o recurso à esterilização voluntária, exceto por
necessidade médica comprovada, com autorização expressa do paciente, bem
como quaisquer medidas que ocasionem a inte rrupção de gravidez já iniciada.

§ 1º A utilização de métodos de controle de fertilidade, por indivíduos que não


estejam incluídos no conceito de casais, nos termos definidos por esta Lei, não é
reconhecida como planejamento familiar para os efeitos da pro teção estabelecida no
Artigo 226, 7º, da Constituição Federal.

§ 2º. A obrigação do Estado de propiciar meios para o planejamento familiar,


a que se referem esta Lei e o Artigo 226, § 7º, da Constituição Federal, não inclui a
liberação e divulgação de méto dos de controle da natalidade.

§ 3º. O planejamento familiar levará em conta a idade, a situação familiar, as


condições de saúde e a preferência pessoal de seus eventuais usuários.

§ 4º. †ão vedadas todas as formas de propaganda, promoção ou divulgação,


comercial ou institucional, explícita ou implícita, do uso de métodos de controle de
natalidade.

§ 5º. É vedada a participação direta ou indireta de quaisquer governos,


entidades e organizações estrangeiras ou internacionais em atividades de
planejamento familiar, no território nacional, inclusive a prestação de serviços de
consultoria ou assessoria, onerosas ou gratuitas, por pessoas que tenham vínculos
com organizações e entidade estrangeiras que defendam o controle da natalidade, a
esterilização voluntária e o aborto, que sejam por elas patrocinadas.

Artigo 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Ao garantir os direitos individuais fundamentais e invioláveis a todas as


pessoas, sem qualquer distinção e, portanto, sem distinguir, tampouco, o es tágio da
vida em que se encontrem, a Constituição Federal cita, em primeiro lugar, o direito à
vida. Com toda a lógica, posto que, sem esse direito, que é de todos o primeiro,
nenhum sentido teriam os demais.

É dever do Estado, portanto, garantir a todos, antes de mais nada, o direito à


vida, obrigação que se impõe mais ainda quando os sujeitos do direito são
indefesos, sem condições próprias para reagirem, como é o caso dos nascituros,
cujos direitos o Artigo 4º de nosso Código Civil determina que sejam p rotegidos pela
lei, independentemente da personalidade jurídica vir a ser obtida com o nascimento.
Os nascituros são, portanto, sujeitos de direitos, do mesmo modo que os já
nascidos, nessas hipóteses resguardadas pela lei. Não haveria nenhuma razão para
que esses direitos fossem garantidos aos nascituros, como a propriedade, a
herança, entre outros, se, antes de tudo, o direito à vida não lhes fosse assegurado.

Do mesmo modo que os nascituros não possuem meios de defesa contra as


agressões externas, os doentes e os idosos também são merecedores de proteção
especial, dada a sua condição de fragilidade. No entanto há quem defenda a prática
da eutanásia com relação a estas pessoas desprotegidas. Além de não possuírem
condições de defesa, encontram -se psicologicamente fragilizados pela debilidade
física ou pela doença. Assim, é possível, que neste estado de debilidade física e
mental, acabem concordando com antecipação de sua morte, pela adoção da
eutanásia, até mesmo para se verem livres do sofrimento que tanto lhes angustia.
Essas pessoas, levadas pelo sofrimento, perdem o instinto inato de preservação e
sobrevivência, ficando vulneráveis física e psicologicamente.

Desse modo, como bem lembra o Professor Ives Gandra da †ilva Martins, em
seu trabalho ³Fundamento s do Direito Natural à Vida´, ³o aborto e a eutanásia são
violações ao direito natural à vida, principalmente porque exercidos contra
insuficientes´. É indispensável, portanto, que se explicite a natureza hedionda de tais
crimes, bem como se vedem legalmente quaisquer ações nesse sentido.

É também imperioso que se defina, de forma clara, o que se entende por


³planejamento familiar´, para os efeitos da aplicação do § 7º do Artigo 226 da
Constituição Federal. Em primeiro lugar, nem o aborto nem a esterilizaçã o voluntária
podem ser considerados como métodos de planejamento familiar. O casal não pode
ter o direito legal de exercitar esses métodos nem mesmo pretender que o Estado
ofereça tais serviços nas redes públicas de saúde. Por essa razão, o aborto, em
qualquer hipótese passa a ser considerado crime, com a revogação do Artigo 128 do
Código Penal.

Do mesmo modo, esses esclarecimentos são necessários para impedir que o


planejamento familiar seja utilizado como desculpa para o gasto de recursos úblicos
com métodos indiscriminados e irresponsáveis de controle da natalidade.

De fato, embora seja elogiável que se deseje reduzir o número de gravidezes


e a incidência de doenças sexualmente transmissíveis entre adolescentes, isso deve
ser feito por meio de programas educativos, visando a um comportamento sexual e
social verdadeiramente responsável, e não pelo oferecimento de facilidades, pagas
com recursos do contribuinte, para que os jovens se tornem cada vez mais
promíscuos e irresponsáveis.

Pretende-se, com este Projeto, que o planejamento familiar seja realizado por
³livre decisão do casal´, como determina a Constituição, sem a manipulação por
meio de campanhas promocionais. É importante proteger nossos cidadãos contra a
³campanha mundial de divulgação do planejame nto familiar´, que vem sendo
insistentemente proposta pelas sobejamente conhecidas organizações
internacionais interessadas em controlar o crescimento populacional dos países em
desenvolvimento, com o objetivo de favorecer os interesses econômicos dos país es
industrializados. Parece-nos pouco provável que, se for submetido a uma campanha
maciça nesse sentido, nosso povo continue em condições de tomar decisões
realmente livres a respeito.

Este Projeto visa a impedir a interferência de países e entidades estr angeiras


e internacionais em questões como a defesa da vida, o planejamento familiar e o
controle demográfico, que atingem tão de perto a soberania nacional. Lembramos, a
propósito, que por falta de uma lei que o impeça, continuam atuando no País, sem
qualquer restrição, as entidades internacionais e estrangeiras identificadas, pela
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que examinou a questão, como as
principais responsáveis pela esterilização em massa de mulheres brasileiras.

Com ralação à eutanásia, passa -se a prever, no parágrafo único acrescido ao


Artigo 122 do Código Penal, sua punição como crime, de forma expressa.

Além disto os crimes de aborto e eutanásia passam a configurar crime


hediondo, punição esta mais consentânea com a gravidade dessas condutas
criminosas.

Em resumo, objetivo deste Projeto é a defesa da vida bem como da


Constituição e da soberania do nosso País, contra a ³cultura da morte´, que vêm
tentando nos impor os países estrangeiros onde isso já impera e con tra pessoas e
entidades que, conscientemente ou não trabalham à serviço desse propósito
assassino.


  K 
  

Legislação - seguem abaixo as principais leis em vigor no Brasil, nesta última


década, em torno das quais se desenvolve a discussão sobre a questão do aborto
no país Conforme editada por Valéria Pandjiarjian segue:

Legislação Penal - O Código Penal brasileiro em vigor é de 1940, no qual, em


seu capítulo intitulado "Dos Crimes contra a Vida", encontra -se regulamentado o
aborto, da seguinte f orma:

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento - Artigo 124.


Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena -
detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Aborto provocado por terceiro - Artigo 125. Provocar aborto, sem o


consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.

Artigo 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena -


reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo
anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatroze) anos, ou é alienada ou débil
mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

Forma qualificada - Artigo 127. As penas cominada nos dois artigos


anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos
meios empregados para provocá -lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza
grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Artigo 128. Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de


estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz,
de seu representante legal.

A Lei das Contravençõe s Penais, de 1941, por sua vez, no capítulo "Das
Contravenções referentes à Pessoa" dispõe:

Anúncio de meio abortivo ou anticoncepcional - Artigo 20. Anunciar processo,


substância ou objeto destinado a provocar aborto ou evitar a gravidez: Pena ± multa
Legislação Civil - O Código Civil brasileiro, de 1916, embora não trate
especificamente do aborto, contém dispositivo relevante em torno do qual se discute
a proteção dos direitos do feto:

Artigo 4o. A personalidade civil do homem começa do nascimento com vi da;


mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro.

Legislação Trabalhista - A Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943, no


capítulo relativo às "Férias Anuais", estabelece:

Artigo 131. Não será considerada falta ao serviço, para os efe itos do artigo
anterior a ausência do empregado: (...) II - durante o licenciamento compulsório da
empregada por motivo de maternidade ou aborto não criminoso, observados os
requisitos para percepção do salário -maternidade custeado pela Previdência †ocial;

Legislação Constitucional - A Constituição Federal de 1988 não trata


especificamente do aborto, mas garante o direito à vida, nos seguintes termos:

Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direito e obrigações, nos termos desta


Constituição;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação"

No que diz respeito às Constituições Estaduais, de 1989, dos 26 Estados que


compõem a República Federativa do Brasil, apenas oito referem -se ao aborto
legalmente permitido, visando garantir sua efetiva implementação, a saber:
Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, †ão Paulo e
Tocantins.

Amazonas - Artigo 186. †erá garantida à mulher a livre opção pela


maternidade, compreendendo -se como tal a assistência ao pré-natal, parto e pós-
parto, a garantia do direito de evitar e, nos casos previstos em lei, interromper a
gravidez sem prejuízos para a sua saúde.
Parágrafo 1o. Nos casos de interrupção da gravidez, previstos em lei, o
Estado, através da Rede Pública de †aúde e outros órgãos, prestará o atendimento
clínico, judicial, psicológico e social imediato à mulher.

Bahia - Artigo 279. A família receberá, na forma da lei, proteç ão do Estado


que, isoladamente ou em cooperação com outras instituições, manterá programas
destinados a assegurar:

IV - o acolhimento de mulheres, crianças e adolescentes, vítimas de violência


familiar e extra familiar, preferencialmente em casa especializ adas, incluindo as
portadoras de gravidez não -desejada, assegurando treinamento profissionalizante e
destinação da criança, em organismos do Estado ou através de procedimentos
adicionais.

Artigo 282. O Estado garantirá, perante a sociedade, a imagem social da


mulher como mãe, trabalhadora e cidadã em igualdade de condições com o homem,
objetivando:

III - regulamentar os procedimentos para a interrupção da gravidez, nos casos


previstos em lei, garantindo acesso à informação e agilizando mecanismos
operacionais para o atendimento integral à mulher.

Goiás - Artigo 153. Ao †istema Unificado de †aúde e Descentralizado de


†aúde compete, além de outras atribuições:

XIV - garantir à mulher vítima de estupro, ou em risco de vida por gravidez de


alto risco assistência médica e psicológica e o direito de interromper a gravidez, na
forma da lei, e atendimento por órgãos do †istema.

Minas Gerais - Artigo 190. Compete ao Estado, no âmbito do †istema Único


de †aúde, além de outras atribuições previstas em lei federal:

X - garantir o atendimento prioritário nos casos legais de interrupção da


gravidez.

Pará - Artigo 270. Parágrafo único. A Rede Pública prestará atendimento


médico para a prática do aborto, nos casos previstos na lei federal.

Rio de Janeiro - Artigo 291. O Estado garantirá assistência integral à saúde


da mulher em todas as fases de sua vida através da implantação de política
adequada, assegurando:
IV - assistência à mulher, em caso de aborto, provocado ou não, como
também em caso de violência sexual, asseguradas dependências especiais nos
serviços garantidos ou, indiretamente, pelo Poder Público (...)

†ão Paulo - Artigo 224. Cabe à Rede Pública de †aúde, pelo seu corpo
clínico especializado, prestar o atendimento médico para a prática do aborto nos
casos excludentes de antijuridicidade, previstos na legislação penal.

Tocantins - Artigo 148. Parágrafo 3o. É garantido à mulher o atendimento, nos


casos legais de interrupção da gravidez, nos órgãos do †istema Estadual de †aúde

Artigo 152. Ao †istema Único de †aúde co mpete, além de outras atribuições,


nos termos da lei:

XVII - garantir à mulher, vítima de estupro, assistência médica e psicológica


nos órgãos do †istema Único de †aúde;

O Espírito †anto é o único Estado a considerar, em seu texto constitucional,


inaceitável o aborto diretamente provocado por atentar contra a vida humana,
colocando-o ao lado do genocídio, do suicídio, da eutanásia, da tortura e de outras
formas de violência.

Espírito †anto - Artigo 199. Parágrafo único. †ão inaceitáveis, por atentar
contra a vida humana, o aborto diretamente provocado, o genocídio, o suicídio, a
eutanásia, a tortura e a violência física, psicológica ou moral que venham a atingir a
dignidade e a integridade da pessoa humana.

Legislação Municipal - Em nível municipal, somente se teve acesso à Lei


Orgânica do Município de †ão Paulo, que, nos termos de seu Artigo 216, estabelece
que compete ao município, através do †istema Único de †aúde, nos termos da lei,
além de outras atribuições: assegurar à mulher a assistência integral à s aúde no
pré-natal, no parto e no pós-parto, assim como, nos termos da lei federal, o direito
de evitar e o de interromper a gravidez, sem prejuízo a seu bem estar, garantindo
seu atendimento na Rede Pública Municipal de †aúde.

Em †ão Paulo, em 1985, a depu tada estadual Ruth Escobar apresentou


projeto no mesmo sentido.

Em 1986 e 1987, com os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte,


"grupos de mulheres passaram a articular -se nacionalmente, com o apoio do CNDM
- Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, para definir uma estratégia sobre o
direito ao aborto junto aos parlamentares constituintes". 21 As feministas pretendiam,
no início, que o direito ao aborto fosse declarado pela nova Constituição, mas a
igreja católica e os deputados evangélicos atuavam em forte lobby para que o aborto
fosse declarado crime e a "proteção à vida" se estendesse "desde o momento da
concepção". Era o lobby dos evangélicos versus o lobby do batom.

Em 1988, com o advento da Constituição Federal, não houve qualquer


referência específica em relação ao aborto e a garantia da inviolabilidade do direito à
vida não veio acompanhada da expressão "desde o momento da concepção".
Assim, permaneceu em aberto a regulamentação jurídica do abortamento.

Em 1989, o deputado federal José Genoíno apresentou ao Congresso


Nacional um Projeto de Lei com seis artigos, declarando a livre opção da mulher de
ter ou não filhos; o direito de interromper a gravidez, nos primeiros 90 dias de
gestação; o direito a que esta interrupção fosse realizada na rede p ública hospitalar
em seus diversos níveis (federal, estadual e municipal), bem como em clínicas
particulares. O deputado Luis Alfredo †alomão, no mesmo ano, também apresentou
projeto que tornava o aborto lícito até o terceiro mês de gestação e dava outras
providências. Ambos os projetos não foram apreciados pelo Congresso.

"Em 1989, por ocasião da elaboração das Constituições Estaduais" (ver Artigo
11 das Disposições Transitórias da Constituição Federal de 1988) "por pressão do
movimento de mulheres, a questão do aborto foi tratada, em alguns estados, de
forma a garantir a atenção na rede pública hospitalar para mulheres com indicações
legais para interromper a gravidez" 22 .

Em 1990, a elaboração de Leis Orgânicas Municipais possibilitou estender


essa atenção hospitalar à rede de saúde pública municipal No ano de 1990, o
Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de †ão Paulo, através da presidência do
Fórum dos Conselhos Estaduais, baseado em estudos de advogadas feministas,
apresentou uma proposta de alteração ao Código Penal No tocante ao aborto, a
proposta suprimia o artigo 124 (auto -aborto), deixando de ser punida a mulher que
pratica o aborto em si mesmo, ou que permite que outrem lho provoque. Mantin ha a

21
Barsted, CLADEM, 1995, p. 397
22
Barsted, CLADEM, 1995, p. 399
redação do artigo 125 (aborto sem o consentimento d a gestante). Propunha
alteração ao artigo 126, considerando o aborto provocado com o consentimento da
gestante como crime somente se praticado depois de 90 dias de gestação. Incluía
parágrafo para não aplicação da pena prevista se o aborto fosse provocado por
relevante valor social ou moral. Ampliava, ainda, os permissivos legais do artigo 128,
para incluir os casos de anomalia fetal grave .

Em 1991, o Conselho Federal de Medicina apresentou proposta de lei que


admitia "... a interrupção da gravidez até a vigésima quarta semana, por indicação
médica, nas gestantes cujo produto da concepção seja portador de condições
capazes de determinar alteração patológica i ncompatível com a plenitude da vida e
sua integração na sociedade".

Bartsed chama a atenção para o f ato de que, "o debate lega l sobre o aborto,
durante todo esse tempo, utilizou categorias como "descriminalizar" e "legalizar" .23

Em 1991, também diversos projetos foram apresentados ou reapresentados


no Congresso Nacional, entre eles, o mais relevante atua lmente, em 1997, no Brasil
(PL 20/91), que dispõe sobre a obrigatoriedade de atendimento dos casos de aborto
previstos no Código Penal, pelo †istema Único de †aúde , já bastante mencionado
no presente trabalho.

Ainda, referendo ao ano de 1991, vale ressalt ar os seguintes projetos de lei:

1) Projeto de Lei No. 2.023, do deputado federal Eduardo Jorge, que permite
a prática do abortamento nos termos do Artigo 128, I do Código Penal, sempre que a
mulher estiver contaminada pelo vírus HIV;

2) Projeto de Lei 1.0 97, do deputado Nobel Moura, que legaliza o aborto até a
décima semana de gestação, tornando -o livre, e até a vigésima quinta semana, nos
casos de previsão de anomalia física ou psíquica grave ou incurável do feto.
Estabelece, ainda, que o aborto é permiti do, com qualquer idade gestacional, nos
casos já previstos pelo Artigo 128 do Código Penal: risco de vida da mãe e estupro;

3) Projeto de Lei No. 1.104, dos deputados federais Eduardo Jorge e †andra
†tarling, que dá nova redação ao Artigo 131, II da Consol idação das Leis do

23
Barsted, CLADEM, 1995, p 400
Trabalho - CLT, tornando compulsório o licenciamento da empregada, inclusive por
motivo de aborto, bem como salário -maternidade custeado pela Previdência †ocial;

4) Projeto de Lei No. 1.135, também dos deputados Eduardo Jorge e †andra
†tarling, que suprime o Artigo 124 do Código Penal, que trata do aborto provocado
pela gestante e do consentimento dado por ela para que outra pessoa o provoque,
estando em conformidade com a reivindicação feminista, expressa, inclusive, no
documento entregue às lideranças do Congresso Nacional em março de 1990.

5) Projeto de Lei No. 1.174, de Eduardo Jorge e †andra †tarling, que amplia
as hipóteses de aborto legal previstas no Artigo 128 do Código Penal. Ao inciso I,
que atualmente se refere ao perigo de vid a da gestante, acrescenta o perigo para a
saúde física ou psíquica da gestante. Introduz o seguinte inciso que passa a ocupar
o lugar do antigo inciso II (que vira III): "se for constatada no nascituro enfermidade
grave ou hereditária ou se alguma moléstia ou intoxicação ou acidente sofrido pela
gestante comprometer a saúde do nascituro;

6) Projeto de Lei No. 2.006, do deputado Gilvam Borges, que assegura à


mulher o direito ao aborto até o 3o. mês de gestação, desde que haja aquiescência
do cônjuge ou companheiro. Este projeto está, em parte, de acordo com a proposta
do movimento de mulheres. Embora a aquiescência do cônjuge ou companheiro
seja desejável e de inquestionável relevância, entende -se que deve prevalecer a
autonomia e a autodeterminação da mulher ;

7) Projeto de Lei No. 2.023, de 1991, de Eduardo Jorge, que permite a prática
do abortamento nos termos do Artigo 128, I do Código Penal, sempre que a mulher
estiver contaminada pelo vírus HIV.

Em sentido contrário aos projetos ora mencionados, com o pro pósito de


aumentar a penalização para os casos de aborto, o projeto No. 1107/91, do
deputado Matheus, foi definitivamente arquivado em 1992.

No ano de 1992, vale ressaltar a apresentação do Projeto de Lei No. 3.005,


de 1992, do deputado federal Celso Berna rdi, que acrescenta inciso ao Artigo 128
do Código Penal, ampliando as hipóteses em que não se punirá o aborto provocado
por médico, quando houver contaminação pelo vírus da AID†, comprovada
laboratorialmente e o aborto for precedido de consentimento. Tamb ém cite-se o
Projeto de Lei No.3.280, de 1992, de Luiz Moreira, que autoriza a interrupção da
gravidez até a vigésima quarta semana, se o feto for portador de anomalias físicas
ou mentais irreversíveis, precedida de indicação médica. Exige o consentimento
formal da gestante, do cônjuge ou representante legal, e da informaçã o da anomalia
fetal e das conseqüências de risco de vida inerentes ao procedimento.

No ano de 1993, a deputada Jandira Feghali e a †enadora Eva Blay


apresentaram projetos de lei propondo a legalização do aborto a partir de ampla
consulta ao movimento de mulheres, 24 tornando-o lícito nos três primeiros meses de
gestação e, com prazo mais avançado, em casos específicos.

Analisando os projetos de lei, ainda em vias de ser apreciados pelo


Congresso Nacional, tanto como as propostas do ante-projeto, evidencia-se que o
debate legal optou pela legalização do aborto, ou seja, que cumpridas determinadas
condições, o aborto será considerado um ato lícito. Portanto, o debate legislativo no
país discute a extensão dessa legalização (ampla ou gradualista) e as exigências
para sua adoção ser praticada por médico, prazos, consentimento único da gestante
ou necessidade de consentimento do marido .

Assim, pode-se citar, como exemplos de projetos de legalização ampla, os


dos deputados José Genoíno, Luiz Alfredo †alomão, Jandira Feghali e da †enadora
Eva Blay, respeitando exclusivamente a autonomia da mulher. Quanto ao ante -
projeto do Conselho Federal de Medicina, pode -se considerá-lo de legalização
restrita aos casos indicados no Código Penal e a inclusão da indicação por anomalia
fetal, além de colocar a questão da exigência do consentimento do marido. O Projeto
de Cristina Tavares, apesar de gradualista, representava, na prática, uma
legalização ampla. 25

Em 1995, uma proposta de emenda constitucional reacendeu o debate do


tema. A exemplo do lobby evangélico da época da Assembléia Constituinte,
pretendia incluir no texto constitucional a garantia da inviolabilidade do direito à vida
"desde a concepção", dando nova redação ao caput do Artigo 5o. da Constituição
Federal de 1988. As manifestações na imprensa e especialmente a atuação de
diversos atores sociais junto aos parlamentares resultaram no arquivamento da
referida proposta. Vale ressaltar, a propósito, que fo i criada uma Comissão Especial

24
Barsted, CLADEM, 1995, p. 400.
25
Barsted, CLADEM, 1995, p. 401
destinada a proferir parecer à PEC 20/95, na qual médicos, juristas, feministas,
profissionais da área da saúde, representantes da igreja, do governo e outros
prestaram seus depoimentos.

Podemos resumir, aqui, os principais motivos que levaram o relator da


referida Comissão Especial a votar pela sua rejeição e arquivamento:

1) admitir-se a tese de que em caso de perigo de vida da gestante poder -se-ia


recorrer ao estado de necessidade não é apenas voltar a 1940, mas retroceder
muito mais no tempo. O Código Criminal do Império, promulgado em 11 de outubro
de 1890, já previa, em seu Artigo 302 a possibilidade do médico proceder a
intervenção abortiva para salvar a gestante de modo inevitável .26

2) "devemos ter em mente que os problemas sociais têm de ser resolvidos


através da implantação de um conjunto de medidas que visem minorá -los ou
erradicá-los, mas nunca pela mera promulgação de uma lei, seja ela ordinária ou
constitucional";

3) antes do nascimento há apenas uma expectativa de direito e é justamente


por expectativa que a lei protege os direitos do nascituro, direitos estes que são o
objeto da lei civil, ou seja, direitos patrimoniais além dessas questões jurídicas, há
que se ter em mente que este tema foge ao âmbito constitucional. não podemos nos
esquecer que a grande tarefa que temos no congresso Nacional hoje é a da
desconstitucionalização. A aprovação desta PEC, portanto, além de ir em sentido
contrário à atual tendência, causaria um eng essamento nada saudável para nossa
sociedade. O enrijecimento de concepções prevalentes em uma determinada época
é típico de uma constituição totalitária e a nossa pretendemos seja democrática;

4) a posição oficial dos representantes dos três Ministérios que aqui vieram,
†aúde, Justiça e Relações Exteriores, é unânime no sentido da rejeição;

5) não fosse tudo isso, conforme tantas vezes frisado perante essa Comissão,
o Brasil é composto por uma sociedade plural, por várias raças, diferentes crenças e
diversas realidades. Não seria democrático impedir que a sociedade, em sua
totalidade, tivesse sua pluralidade respeitada ou ainda impedir que todos

26
Maria Isabel Baltar Rocha. Congresso Nacional e a Questão do Aborto: relatório preliminar de
pesquisa. 1994. (mimeo), p. 38.
participassem do debate sobre temas polêmicos do seu interesse sempre que no
futuro surgir oportunidade. Por ou tro lado, como constitucionalizar temas morais e
éticos.

No ano de 1996, a deputada federal, psicanalista e feminista, Marta †uplicy


apresentou o Projeto de Lei No. 1.956, que autoriza a interrupção da gravidez,
quando o produto da concepção não apresentar condições de sobrevida em
decorrência da malformação incompatível com a vida ou de doença degenerativa
incurável, precedida de indicação médica, ou quando por meios científicos se
constatar a impossibilidade de vida extra -uterina.

Determina, ainda, o projeto, a necessidade do consentimento da gestante ou


de seu representante legal, nos casos de incapacidade, após a constatação de
anomalia fetal, e orientação por médico especialista sobre as reais implicações para
o feto de tal diagnóstico. †egundo o proje to, o abortamento nesse caso será feito em
instituições hospitalares públicas ou privadas, a fim de evitar quaisquer
eventualidades de risco de vida.

No ano de 1997, a discussão sobre o projeto de lei 20/91, que trata do aborto
legal na rede pública de saúde, toma conta do debate legislativo. Projeto que, na
verdade, não altera o "status" legal do aborto, mas somente operacionaliza um
direito que há 57 anos encontra -se consagrado no código Penal brasileiro e não é
garantido, na prática, às mulheres.

Com a ampliação das discussões sobre saúde e direitos reprodutivos, tanto


no campo internacional como nacional, talvez o movimento de mulheres e a
sociedade organizada possam sensibilizar os parlamentares na votação dos projetos
em andamento e avançar na legislação brasileira em relação ao aborto nessa virada
de século e milênio.

†em dúvida, os temas de direitos reprodutivos, em especial, o aborto,


parecem ser um dos mais difíceis de serem legislados. Em uma reflexão particular,
dificilmente o país conseguirá ter em breve a descriminalização do aborto; talvez
isso nunca ocorra. Mas, com certeza, as discussões sobre a legalização do aborto,
ainda que de forma mais gradual, estão servindo a um melhor tratamento do tema. E
se não chegamos fácil à "descriminalização ", talvez estejamos alcançando um
patamar de menor "discriminação" em relação ao tema. Conforme palavras da
pesquisadora Maria Isabel Baltar da Rocha: 27 a partir dos anos 80 - com o avanço
do processo de democratização do País e com a intensificação da lut a pela
descriminalização e/ou legalização do aborto - muitos parlamentares de partidos
políticos progressistas, individualmente, alguns deles parlamentares mulheres, têm
se identificado com as reivindicações do movimento feminista. ... Isto demonstra que
o tema aborto provocado vem apresentando, muito mais, uma feição política de
movimento social, do que um perfil de natureza político -partidária.

As decisões já tomadas, ou ainda a serem tomadas, no âmbito do Congresso


Nacional, acerca do tema - de conservar a legislação em vigor, modificá -la parcial ou
mesmo profundamente - dependem deste jogo de poder entre estes diversos grupos
políticos e sociais que atuam no Parlamento. No entanto, a tensão política mais
forte, na atualidade, situa -se entre as seguintes posições: de uma lado, as iniciativas
do movimento organizado de mulheres e de parlamentares progressistas, seus
aliados, no sentido de descriminalizar e/ou legalizar o aborto; e , de outro lado, a
postura da hierarquia da Igreja Católica e das igrejas eva ngélicas, contrária à
permissibilidade do aborto, postura esta que representa, geralmente, uma reação
àquelas iniciativas

O trabalho do movimento organizado de mulheres e de alguns parlamentares,


homens e mulheres, têm sido, de fato, fundamental para o ava nço no debate
legislativo do tema. Em 1998 teremos, na Câmara de Deputados Federais, que
compõe junto com o †enado Federal o Congresso Nacional brasileiro, eleições para
a nova legislatura (1999 -2003). Ojalá tenhamos bancadas mais sensíveis ao tema e
ingressamos no século XXI com melhores perspectivas para o respeito à saúde e
autonomia da mulher.

Propostas Normativas - Vale ressaltar que, na época da Assembléia Nacional


Constituinte, o movimento de mulheres, junto com o Conselho Nacional dos Direitos
da Mulher, em 26 de agosto de 1986, escreveram a histórica Carta da Mulher
Brasileira aos Constituintes, com reivindicações específicas em diversas áreas de
interesse da mulher.

27
Maria Isabel Baltar Rocha. Congresso Nacional e a Questão do Aborto: relatório preliminar de
pesquisa. 1994. (mimeo), p. 38-41.
Quanto à saúde e, especificamente, ao aborto, a Carta estabelecia: †erá
garantido à mulher o direito de conhecer e decidir sobre seu próprio corpo;

Garantia de livre opção pela maternidade, compreendendo -se tanto a


assistência ao pré-natal, ao parto e pós-parto, como o direito de evitar ou
interromper a gravidez sem prejuízo para a saúde da mulher

Embora a questão do aborto não tenha avançado no texto constitucional, ao


menos não retrocedeu. A Carta da Mulher Brasileira teve 80% de suas
reivindicações contempladas pela Constituição Federal de 1988, apesar de não
conseguir incluir o direit o ao aborto no texto.

Em março de 1990, o Fórum dos Conselhos Estaduais de Mulheres


encaminhou Proposta de Lei ao Congresso Nacional que, no tocante ao aborto
previsto na legislação penal:

1) Pede a revogação do Artigo 124 do Código Penal, que trata do abo rto
provocado pela gestante ou com o seu consentimento, com a seguinte justificativa:

Trata-se do caso em que a gestante, numa providência extrema, provoca


aborto em si mesma ou permite que outra pessoa o faça. Entendemos
desnecessário aplicar qualquer pen alidade adicional ao ser humano que já sofreu
brutal agressão. Além do que, nosso ordenamento penal, em momento algum, pune
a auto-lesão nem a tentativa de suicídio. Não se pode desconsiderar, inclusive, que
em situação limite, o aborto representa risco co nsciente de morte.

2) Mantém a redação do Artigo 125 do Código Penal, que trata do aborto


provocado por terceiros sem o consentimento da gestante.

3) Determina a seguinte reformulação ao Artigo 126. do Código Penal, que


trata do aborto provocado com o consentimento da gestante:

Provocar aborto com o consentimento da gestante após noventa dias de


gestação - Pena - detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Parágrafo único. Os julgadores podem deixar de aplicar pena sempre que


constatar ter sido aborto provo cado por relevante valor social ou moral.

Para esse caso dá-se a seguinte justificativa: a proibição do abortamento é


absoluta no Código Penal vigente. Existem dois casos em que a interrupção da
gravidez foi admitida (Artigo 128 do CP). É reivindicada agor a, a ampliação dessas
possibilidade para proteção da mulher, em especial da pauperizada. É sabido que a
ampla proibição que vigora não impede a prática, e que, de acordo com a
Organização Mundial da †aúde, são praticados de três a quatro milhões de abortos
clandestino/ano, no Brasil, com alto índice de mortalidade feminina, entre outras
seqüelas, resultantes da precariedade dessa prática. †er o ato clandestino gera a
impossibilidade de controle e fiscalização por parte das autoridades competentes,
além de abusos e corrupção.

A ampliação da previsão legal para a interrupção da gravidez é medida


urgente, no sentido de proteger a vida e a saúde da mulher e de eliminar uma
indústria mantida pela exploração do desespero. 28 Acresce que o Direito Comparado
da atualidade aponta para uma relevância do prazo de noventa dias de limitação,
por constituir-se em um marco da passagem do embrião ao feto, além de oferecer
menores riscos à saúde da gestante. Quanto à proposição de diminuição da pena
imposta para o abortamento após noventa dias de gestação, deve -se ao fato de que
o autor do aborto ilegal não apresenta periculosidade tal que justifique reclusão e
extensão de punição como nos modelos vigentes.

O parágrafo único procura justificar a inclusão do perdão judicial rela tivo ao


motivo de relevante valor social ou moral, por dar a possibilidade aos julgadores, no
uso de seu poder discricionário, de uma terceira opção, que não se limite a tão -só
condenar ou absolver. Assim, em casos de grande dramaticidade, pode até haver
uma condenação do ato em si, mas sem a aplicação (por desnecessária) da pena
prevista.

4) Requer reformulação do Artigo 128, o qual trata dos casos em que não se
pune o aborto inicialmente. A princípio, havia sido incluso apenas um novo inciso
sobre o aborto por anomalia fetal grave. Após reflexão mais cuidadosa a respeito e o
conhecimento do texto do projeto de lei No. 1174, de 1991, dos deputados Eduardo
Jorge e †andra †tarling, também foi pedida retificação do artigo e de seu inciso I.

Importa deixar claro que é legal o aborto nos casos especificados e não
apenas impunível. Importa inclusive alargar e enriquecer o conceito de vida como o
fizeram brilhantemente os autores do projeto. Vale ainda dizer que esta formulação

28
Maria Isabel Baltar Rocha. p. cit. 38-41.
abrange os casos de gestante portador a do vírus HIV, preocupação também do
deputado Celso Bernardi, expressa no projeto de lei No. 3.005, de 1992:

Artigo 128. É legal o aborto quando praticado por médico: I - se a gravidez


determinar perigo para a vida ou a saúde física ou psíquica da gestant e; II - se a
gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal; III - se comprovada grave anomalia
fetal.

Projetos de Lei em nível federal - Em relação ao tema do aborto, vale


ressaltar os principais projetos em tramitação no Congresso Nacional. A maioria
deles vem ao encontro das propostas do movimento de mulheres ou nele são
inspirados: Projeto de Lei No. 20, de 1991, de Eduardo Jorge e †andra †tarling

Conforme texto atual, aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de


Redação - CCJR, em 20/08/97, o projeto dispõe sobre a obrigatoriedade de
atendimento dos casos de aborto previstos no Código Penal, pelo †istema Único de
†aúde. Esse é o projeto de lei que vem causando maior polêmica no país e é
basicamente em torno dele que o tema do aborto vem sendo discutido.

Tendo em vista que o direito previsto no Código Penal não tem sido
implementado e que somente cerca de oito hospitais em todo o Brasil realizam o
abortamento legal, o projeto pretende determinar a obrigatoriedade de sua prática na
rede de saúde pública de todo país, garantindo assim o exercício desse direito a
todas as mulheres e especialmente às pobres, que não podem recorrer às clínicas
particulares que, beneficiando -se do comércio clandestino, praticam abortos legais e
ilegais.

Alguns Municípios - †ão Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Brasília - e o


Estado do Pernambuco já dispõem dos serviços de aborto legal, e em Goiânia e
Porto Alegre estes serviços estão sendo implantados.

Com esse projeto aprovado tornar -se-ia desnecessária a regulamentação


desse direito por Estados e Municípios; a lei federal simplesmente obrigaria a todos
os hospitais de rede pública de saúde do país a realizarem o abortamento legal. Na
verdade, por exemplo, em †ão Paulo, o serviço foi implementado através de uma
portaria da prefeitura, porque a lei já permite isso. †egundo o próprio autor do
projeto, o que existe na verdade é uma resistência cultural muito forte, o que levou a
"lutarmos para ter uma lei federal para reforçar o Código Penal". Diz o autor do
projeto: "é uma lei de reforço e quebra do preconceitos, o que vai possibilitar com
muito mais rapidez que os Estados e Municípios organizem os serviços. Mas a rigor
os Estados e Municípios já estão respaldados".

Dada a importância desse projeto de lei, em anexo segue a íntegra do texto


aprovado na Comissão. Projeto de Lei 1.097, de 1991, de Nobel Moura - Legaliza o
aborto até a décima semana de gestação, tornando -o livre, e até a vigésima quint a
semana, nos casos de previsão de anomalia física ou psíquica grave ou incurável do
feto.

Estabelece, ainda, que o aborto é permitido, com qualquer idade gestacional,


nos casos já previstos pelo Artigo 128 do Código Penal: risco de vida da mãe e
estupro.

A estes PL estão apensados os projetos: 1.135/91, 1.174/91, 2.006/91 e


3.280/92. Projeto de Lei No. 1.104, de 1991, de Eduardo Jorge e †andra †tarling . Dá
nova redação ao Artigo 131, II da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
tornando compulsório o licenciamento da empregada, inclusive por motivo de aborto,
bem como salário-maternidade custeado pela Previdência †ocial.

Projeto de Lei No. 1.135, de 1991, de Eduardo Jorge e †andra †tarling -


†uprime o Artigo 124 do Código Penal, que trata do aborto provoc ado pela gestante
e do consentimento dado por ela para que outra pessoa o provoque, estando em
conformidade com a reivindicação feminista, expressa, inclusive, no documento
entregue às lideranças do Congresso Nacional em março de 1990. Apensado ao PL
1.097/91.

Projeto de Lei No. 1.174, de 1991, de Eduardo Jorge e †andra †tarling -


Amplia as hipóteses de aborto legal previstas no Artigo 128 do Código Penal. Ao
inciso I, que atualmente se refere ao perigo de vida da gestante, acrescenta o perigo
para a saúde física ou psíquica da gestante. Introduz o seguinte inciso que passa a
ocupar o lugar do antigo inciso II (que vira III): "se for constatada no nascituro
enfermidade grave ou hereditária ou se alguma moléstia ou intoxicação ou acidente
sofrido pela gestante comprometer a saúde do nascituro. Apensado ao PL 1.097/91.
Projeto de Lei No. 2.006, de 1991, de Gilvam Borges - Assegura à mulher o
direito ao aborto até o 3o. mês de gestação, desde que haja aquiescência do
cônjuge ou companheiro. Apensado ao PL 1.097/ 91.29

Este projeto está, em parte, de acordo com a proposta do movimento de


mulheres. Embora a aquiescência do cônjuge ou companheiro seja desejável e de
inquestionável relevância, entende -se que deve prevalecer a autonomia e a
autodeterminação da mulher.

Projeto de Lei No. 2.023, de 1991, de Eduardo Jorge - Permite a prática do


abortamento nos termos do Artigo 128, I do Código Penal, sempre que a mulher
estiver contaminada pelo vírus HIV. Apensado ao PL 1.174/91

Projeto de Lei No. 3.005, de 1992, de Celso B ernardi - Acrescenta inciso ao


Artigo 128 do Código Penal, ampliando as hipóteses em que não se punirá o aborto
provocado por médico, quando houver contaminação pelo virus da AID†,
comprovada laboratorialmente e o aborto for precedido de consentimento. Ape nsado
ao PL 1.174/91

Projeto de Lei No.3.280, de 1992, de Luiz Moreira - Autoriza a interrupção da


gravidez até a vigésima quarta semana, se o feto for portador de anomalias físicas
ou mentais irreversíveis, precedida de indicação médica. Exige o consentim ento
formal da gestante, do cônjuge ou representante legal, e da informaçãp da anomalia
fetal e das consequências de risco de vida inerentes ao procedimento.

Projeto de Lei No. 78, de 1993, de Eva Blay - O projeto segue, em sua maior
parte, os termos do su bstitutivo ao PL No. 1097/91, apresentado pela deputada
Jandira Feghali, com pequenas alterações.

Projeto de Lei No. 3.609, de 1993, de José Genoíno - Torna livre a opção pela
interrupção da gravidez até 90 dias de idade gestacional, bastando para tanto a
reivindicação da gestante. Também prevê que os hospitais públicos e aqueles
conveniados com a Rede Pública serão obrigados a prestar atendimento a mulheres
que desejarem a realização do aborto, obedecendo aos termos da lei.

29
Maria Isabel Baltar Rocha. p. cit. 38-41.
Proposta de Emenda Constituciona l No. 20, de 1995, de †everino Cavalcanti -
A exemplo do lobby evangélico da época da Assembléia Constituinte, pretendia
incluir no texto constitucional a garantia da inviolabilidade do direito à vida "desde a
concepção", dando nova redação ao caput do Art igo 5o. da Constituição Federal de
1988

Projeto de Lei No. 1.956, de 1996, de Marta †uplicy - O projeto autoriza a


interrupção da gravidez, quando o produto da concepção não apresentar condições
de sobrevida em decorrência da malformação incompatível com a vida ou de doença
degenerativa incurável, precedida de indicação médica, ou quando por meios
científicos se constatar a impossibilidade de vida extra -uterina. Determina, ainda, o
projeto, a necessidade do consentimento da gestante ou de seu representante legal,
nos casos de incapacidade, após a constatação de anomalia fetal, e oerientação por
médico especialista sobre as reais implicações para o feto de tal diagnóstico.
†egundo o projeto, o abortamento nesse caso será feito em instituições hospitalares
públicas ou privadas, a fim de evitar quaisquer eventualidades de risco de vida.

Projetos de Lei em nível estadual - Projeto de Lei No. 28, de 1992, de


Afanásio Jazadji (†ão Paulo)

Visa dar eficácia ao Artigo 224 da Constituição do Estado de †ão Paulo,


dispondo sobre a obrigatoriedade de atendimento médico nos hospitais e nos
ambulatórios da rede pública para o procedimento do aborto, nos casos previstos
em lei. †egundo esse projeto, as unidades hospitalares e ambulatoriais que não
prestem atendimento à mulher ficam excluídas dessa obrigatoriedade, salvo em
casos de emergência.

Projeto de Lei No. 432, de 1993, de Bia Pardi (†ão Paulo) - Penaliza o
atendimento desumano e desrespeitoso nos hospitais e postos na rede pública às
pacientes necessitadas de assistência para tratamento do aborto incompleto, bem
como para a prática do abortamento em casos permitidos pela legislação penal.

Projeto de Lei No. 195, de 1992, de Marcos Rolim (Rio Grande do †ul) -
Determina a obrigatoriedade de atendimento médico para o procedi mento de
abortamento nas unidades hospitalares e ambulatoriais pertencentes ou
conveniadas à Rede de †aúde Pública do Estado do Rio Grande do †ul, nos casos
de antijuridicidade previstos na legislação.
Projeto de Lei No. 28, de 1991, de Gilmar Machado (Min as Gerais) - Dispõe
sobre a obrigatoriedade de atendimento nos casos de aborto previstos no Código
Penal, pelo †istema Único de †aúde (Artigo 128 CP). Institui uma Comissão
Multiprofissional em cada unidade hospitalar, constituída por cinco servidores,
atribuindo-lhes o dever de emitir parecer, quando solicitados a se manifestar sobre
os documentos apresentados pela gestante.

Aspectos Jurisprudenciais - Podemos identificar algumas características e


tendências da jurisprudência, nesses últimos dez anos, a qu e se tem acesso por
meio de publicação em revistas especializadas ou pesquisas já realizadas.

A Revista dos Tribunais, teoricamente de alcance nacional, que publica


decisões proferidas pelos Tribunais de Justiça do país, é uma das mais conhecidas
e consultadas, tanto por operadores do Direito quanto por estudantes e
pesquisadores. A publicação dessas decisões é aleatória e não representa o número
de casos julgados pelos Tribunais.

Dada a sua relevância e a seu fácil acesso, a pesquisadora Danielle Ardaillon ,


em sua tese de doutorado, procedeu à investigação jurisprudencial do tema na
referida revista, referente ao período de 1970 a 1992.

De 1985 a 1992, por exemplo, logrou -se encontrar 26 acórdãos publicados.


"Nota-se que, embora aleatório, o número de decis ões publicadas anualmente para
esse tipo de crime é bem pequeno e tem decrescido desde 1986" (Ardaillon,
1997:110). É ainda considerado pequeno o número de casos de aborto que chegam
à Justiça, comparando-se com a polêmica causada por esse crime na sociedade. A
verdade é que a Justiça não é muito invocada a decidir casos de aborto e, quando o
é, na maioria das vezes, demonstra não possuir "intenção condenatória", mas sim
"absolutória", conforme constata Ardaillon (1997:111).

Foram pesquisados e analisados, também por Ardaillon, processos de aborto


dolo. Tribunal de Júri de †ão Paulo, entre 1970 e 1989, ou seja, em um período de
20 anos. Em um total de 765 casos (100%):

Nota-se imediatamente a pequena percentagem de condenações: 4%.


†omando as condenações e as absolvições pelo Júri, vê-se que apenas 13% dos
processo foram a julgamento, o que indica que em 87% dos casos não foi possível a
µconfiguração delitiva", ou seja, não foi possível reunir os elementos que
comprovassem a existência do crime de aborto (Ardaillon, 1997:111, grifo no
original).

E prossegue Ardaillon em sua análise (1997:114): Do total que não foi a


julgamento, 53% são inquéritos policiais arquivados, indicando que mais da metade
das suspeitas de aborto não conseguem ser comprovadas. Por que r azão?

Finalmente, 24% do total de decisões pertencem à categoria "outras", na sua


maioria µextinção de punibilidade¶. †ob essa denominação estão os casos em que o
acusado faleceu ou ainda que houve prescrição em vista do excessivo tempo
decorrida desde a ocorrência do crime.

Diz ainda Ardaillon - o fato dos Júris não punirem as acusadas não significa
que sejam favoráveis às mulheres. Por sua vez, a sociedade que abriga ao mesmo
tempo um judiciário ambivalente em relação ao aborto, tanto nas intenções
condenatória e absolutória dos seus membros, como nas decisões de júris pouco
propensos a condenar, e mulheres que enfrentam sistematicamente o desrespeito
de sua cidadania e o desprezo para com seu corpo reprodutor, está mostrando os
seus problemas. (1997:164):

A determinação da autoria e da materialidade do crime são os dois pólos ao


redor dos quais gravitam as interpretações e tentativas comprobatórias, que revelam
de orientações doutrinárias e jurisprudenciais distintas. Orientações que refletem,
por sua vez, o contexto cultural em que nascem. Abundam indícios sobree a
existência de uma intenção dos atores do julgamento em relação ao crime de aborto.
Embora não haja como encontrar alguma lógica do Júri em si, já que cada Júri tem a
sua, pode-se encontrar o que eu chamo de µintenção" seja condenatória, seja
absolutória do aborto nas sentenças do Juiz, nas denúncias do Promotor e nas
alegações da Defesa. A intenção absolutória, entretanto, não é inspirada pelo
reconhecimento às mulheres de um direito de opção, de decidir sobre o rumo de
suas vidas e sobre o exercício de sua sexualidade (1997:167).

No entanto, sem dúvida, nesta década (de 85 pra cá), o aspecto


jurisprudencial mais relevante, de fato, refere -se às autorizações concedidas pelo
Poder Judiciário para a prática de abortamento em casos de má formação fetal.
Inevitavelmente, aqui, a questão da defesa do direito ao aborto está intimamente
ligada ao avanço da ciência e tecnologia da medicina, na detecção de anomalias
fetais graves e irreversíveis.

Vale ressaltar que o Poder Judiciário brasileiro tem outorgado estas


autorizações, apesar de não haver qualquer previsão legal específica para tanto.
Calcula-se que existam cerca de 350 alvará concedidos por todo o Brasil nesses
casos. Os mais comuns referem-se à: anencefalia (ausência de parte do cérebro),
gastroquisis, síndrome de Turner, síndrome d e Arnold Chiari II e acondrogênesis.

Para Ardaillon (1997:164) - No debate público aberto sobre a questão do


aborto, há uma demanda de descriminalização que não parece ser ouvida, ao
contrário de manifestações de médicos que amparam sentenças de juízes contra
elegem, no sentido de se ampliar os atuais permissivos da lei de aborto, para
anomalias fetais.

Vale ressaltar, por fim, que dentro do período estabelecido para a presente
investigação, "o Júri Popular, no estado do Paraná, absolveu uma mulher por prát ica
de aborto, sob a justificativa de que a ré recorreu à interrupção voluntária da
gravidez face ao µestado de necessidade¶, devido à penúria de sua situação
econômica e da existência de uma prole numerosa. Não se poderia exigir da ré, face
a tais situações, que mantivesse a gravidez pondo em risco a própria sobrevivência
dos filhos já nascidos".30

Vale, então, reproduzir a conclusão da pesquisa de Ardaillon (1997:167)


quanto ao estudo de decisões do Judiciário:

Após verificar que o aborto é hoje um crime raramente punido quando as


acusadas são as gestantes, levemente penalizado no caso das µparteiras¶ e outros
agentes, mesmo quando esses mesmos agentes provocam a morte das gestantes,
eu concluo na existência de um enorme investimento social na sua proibiçã o e
pouco interesse na sua penalização de fato.

30
Barsted, CLADEM 1995, p. 391.
 
 
   

O Código Penal brasileiro, mandado executar pelo Dec. 847, de 11.10.1890,


tratou do crime de aborto nos artigos. 300, 301 e 302, e a única possibilidade de
benefício legal prevista encontrava-se no parágrafo único do artigo 301, que
estabelecia redução da 3ª parte da pena prevista para o crime de "provocar aborto
com anuência e acordo da gestante", se o crime fosse cometido para ocultar a
desonra própria. Permitia, entretanto, o aborto legal ou o aborto necessário, desde
que provocado por médico ou parteira, para salvar a gestante de morte inevitável. 31

Comenta Renato Marcão a respeito do Código Penal atual, Decreto-Lei 2.848,


de 07.12.1940, como o outro, pune o aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento (artigo 124), o aborto provocado por terceiro (artigo 125), o aborto
provocado com o consentimento da gestante (artigo 126), e prevê formas
qualificadas em caso de superveniência de lesões graves ou morte da gestan te
(artigo 127). Por outro lado, aumentou o rol de causas de exclusão da punibilidade,
no artigo 128, expressando não ser punível o aborto praticado por médico: "(...) II -
se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal", além, é claro, daquele
autorizado para salvar a vida da gestante (inc iso I).

O Anteprojeto do Código Penal elaborado pela Comissão encarregada de


estudar reformas na Parte Especial do Código em vigor vai mais além. Embora
mantendo as figuras típicas como estão, propõe mudanças consideráveis nas penas
a serem aplicadas, chegando ao extremo de reduzir drasticamente a reprovabilidade
do crime de aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento, na forma
simples, colocando-o em situação de mera infração de pequeno potencial ofensivo,
com procedimento regulado pela Lei 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais
Criminais para as ações penais de pequeno potencial ofensivo, veja-se, pequeno
potencial ofensivo, já que pela proposta tal crime seria punido com detenção, de um
a nove meses, o que acaba por permitir transação penal, em tese, e aplicação de
penas restritivas de direitos ou exclusivamente pecuniária, não ge rando nem mesmo


#   
 
`
= ´ ´
a possibilidade de reincidência caso a( o) beneficiada(o) venha a praticar novo crime
posteriormente (§ 4º do artigo 76).

Renato Marcão em seu artigo destaca o que mais chama a atenção,


entretanto, é o rol previsto no artigo 128, que trata das hipóteses de exclusão de
ilicitude. Enquanto a legislação atual autoriza o aborto, no caso do inc. I do precitado
artigo, apenas para salvar a vida da gestante, desde que praticado por médico e não
haja outro meio, na proposta elaborada acrescentou -se ao referido inciso a
possibilidade do aborto para preservar a saúde da gestante.

É evidente que a previsão em questão poderá levar à prática incontrolável de


abortos acobertados pela "legalidade", a critério único e exclusivo dos profissionais
da área médica. É que a compreensão que se pode dar à expressão "preservar a
saúde da gestante" é por demais extensa e se circunscreve ao domínio da ciência
médica.

O inciso II do artigo 128 do Anteprojeto amplia a possibilidade de aborto lícito,


antes restrita ao caso da gravidez resultante de estupro, para autorizá -lo sempre que
a gravidez resultar de violação da liberdade sexual ou do emprego não consentido
de técnica de reprodução assistida .

Em arremate, o § 1º do artigo em testilha estabelece que, nos casos dos


incisos II e III, e da segunda parte do inc iso I, o aborto deve ser precedido de
consentimento da gestante ou, quando menor, incapaz ou impossibilitada de
consentir, de seu representante legal, do cônjuge ou de seu companheiro.

Nitidamente procurou-se afastar qualquer discussão quanto à possibilidade de


aborto legal em razão de gravidez resultante de outras práticas sexuais,
notadamente do crime de atentado violento ao pudor (coito inter femora, por
exemplo), adotando-se a universalidade "violação da liberdade sexual", muito
embora já se admitisse a analogia in bonam partem. 32

A Comissão que pretender autorizar o aborto quando a gravidez seja


resultante da prática não autorizada dessas ciências modernas. É que na verdade o
resultado é o mesmo daquelas outras hipóteses: gravidez não desejada. Por fim, o


4
,`

` 
!Š$..! Š".Ë` !´ ´
inciso III autoriza o aborto quando há fundada probabilidade, atestada por dois
outros médicos, de o nascituro apresentar graves e irreversíveis anomalias físicas ou
mentais. É evidente que a intenção do legislador é obter o aval de outros médicos
para a prática extrema, além daquele externado pelo que venha executar o aborto,
visando assegurar a possibilidade da prática somente nos casos comprovadamente
necessários, sob o aspecto clínico que se procurou preservar. 33

Parto parcial - Nesse caso, puxa-se o bebê para fora, deixando apenas a
cabeça dentro, já que ela é grande demais. Daí, introduz -se um tubo em sua nuca,
que sugará a massa cerebral, levando-a à morte. †ó então o bebê consegue ser
totalmente retirado.

†egundo a legislação americana atual, um feto pode ser morto em qualquer


momento, até o nono mês de gestação, por quaisquer motivos. Matar a criança após
o nascimento é considerado infanticídio. Mas, se esta classificação se aplica na
verdade a todo óvulo fecundado, o que dizer do assassinato de uma criança de 9, 8
ou até mesmo 7 meses, que pode sobreviver fora do útero materno.

Aborto Espontâneo - O aborto espontâneo ocorre involuntariamente, por


acidente, por anormalidades orgânicas da mulher ou por defeito do próprio ovo.
Ocorre normalmente nos 1º dias ou semanas da gravidez, com um sangramento
quase igual ao fluxo menstrual, podendo confundir muitas vezes a mulher do que
realmente está acontecendo.

Há dois tipos de aborto espontâneo: o aborto iminente e o inevitável. - O


aborto iminente é uma ameaça de aborto. A mulher tem um leve sangramento
seguido de dores nas costas e outras parecidas com as cólicas menstruais. O aborto
inevitável é quando se tem a dilatação do útero pa ra expulsão do conteúdo seguido
de fortes dores e hemorragia. O aborto inevitável é dividido em três tipos: o
incompleto que é quando ocorre depois da saída dos coágulos a saída restante do
conteúdo e o aborto preso, que é quando o ovo morre, mas não é exp elido.

""
  
 
`
 
Aborto Provocado - O aborto provocado é todo aquele que tem como
causador um agente externo, que pode ser um profissional ou um "leigo" que utiliza
as seguintes técnicas:

Dilatação ou corte - Uma faca, em forma de foice, dilacera o corpinho do fet o


que é retirado em pedaços.

†ucção ou Aspiração - O aborto por sucção pode ser feito até a 12ª semana
após o último período menstrual (amenorréia). Este aborto pode ser feito com
anestesia local ou geral. Com a local a paciente toma uma injeção intramuscu lar de
algum analgésico. Já na mesa de operação faz um exame pra determinar o tamanho
e a posição do útero. †e for anestesia geral, toma -se uma hora antes da operação
uma injeção intramuscular de Thionembutal. Inicia então uma infusão intravenosa. O
Thionembutal adormece o paciente e um anestésico geral por inalação como o
Óxido de Nitroso é administrado através de uma máscara. A partir daí o
procedimento é o mesmo da anestesia geral e local. O colo do útero é imobilizado, e
lentamente dilatado pela inserçã o de uma série de dilatadores cervicais.

Depois está relacionada a quantidade de semanas de gestação. Liga -se esta


ponta ao aparelho de sucção, no qual irá evacuar completamente os produtos da
concepção. A sucção afrouxa delicadamente o tecido da parte ut erina e aspira-o,
provocando contrações do útero, o que diminui a perda de sangue. Com a anestesia
local, usa-se uma injeção de Ergotrate para contrair, o que pode causar náusea e
vômitos.

Curetagem - Na curetagem é feita a dilatação do colo do útero e com uma


cureta (instrumento de aço semelhante a uma colher) é feita a raspagem suave do
revestimento uterino do embrião, da placenta e das membranas que envolvem o
embrião. A curetagem pode ser realizada até a 15ª semana após a última
menstruação. Este tipo de aborto é muito perigoso, por que pode ocorrer
perfuramento da parede uterina, tendo sangramento abundante. Outro fator
importante é que se pode tirar muito tecido, causando a esterilidade.
Drogas e Plantas - Existem muitas substâncias que quando tomadas causam
o aborto. Algumas são tóxicos inorgânicos, como arsênio, antimônio, chumbo, cobre,
ferro, fósforo e vários ácidos e sais.

As plantas são: absinto (losna, abuteia, alecrim, algodaro, arruba, cipómil ±


homens, esperradura e várias ervas amargas). Todas estas substâncias tem de ser
tomadas em grande quantidade para que ocorra o aborto. O risco de abortar é tão
grande como o de morrer, ou quase.

Mini-Aborto - É feito quando a mulher está a menos de 7 semanas sem


menstruar. O médico faz um exame manual interno para determinar o tamanho do
feto e a posição do útero. Lava-se a vagina com uma solução anti-séptica e com
uma agulha fina, anestesia o útero em três pontos, prende -se o órgão com um tipo
de fórceps chamado tenáculo, uma sonda de plástico fino e f lexível é introduzida no
útero. A esta sonda liga-se um aparelho de sucção e remove-se o endométrio e os
produtos de concepção. A mulher que faz o mini-aborto, depois da operação pode
Ter cólicas uterinas, náuseas, suor e reações de fraqueza. A mesma não p ode Ter
relações sexuais e nem usar tampão nas 3 ou 4 semanas seguintes para evitar
complicações ou infecções.

Envenenamento por sal - É feito do 16ª à 24ª semana de gestação. O médico


aplica anestesia local num ponto situado entre o umbigo e a vulva, no qual irá
ultrapassar a parede do abdome, do útero e do âmnio ( bolsa d¶água). Com esta
seringa aspira-se o fluído amniótico, no qual será substituído por uma solução salina
ou uma solução de protaglandina. Após um prazo de 24 à 48 horas, por efeito de
contrações do feto é expulso pela vagina, como num parto normal. O risco
apresentado por este tipo de aborto é a aplicação errada da anestesia, e a solução
ter sido injetada fora do âmnio, causando a morte instantânea.

†ufocamento - Este método de aborto é chamado de "parto parcial". Nesse


caso, puxa-se o bebe pra fora deixando apenas a cabeça dentro, já que ela é grande
demais. Daí introduz-se um tubo em sua nuca, que sugará a sua massa cerebral,
levando-o à sua morte. †ó então o bebê consegue ser totalmente r etirado.
Esquartejamento - O feto é esquartejado ainda dentro da mãe. Deixando -o em
pedaços. Retirada do liquido amniótico. Esta é uma das maneiras mais lentas de
praticar o aborto: O abortista retira o liquido amniótico de dentro do útero e coloca
uma substância contendo sal.

     




 

Aborto necessário - Diz o artigo 128 que ³não se pune o aborto praticado por
médico: se não outro meio de salvar a vida da gestante´ é também chamado de
aborto terapêutico que na verdade é uma forma de estado de necessidade, pois os
seus requisitos são: perigo atual ou iminente de vida da gestante e a inexistência de
outro meio para salvá-la, dentro desse contexto, admitimos que o chamado aborto
necessário, na falta de médico, poder ser realizado por qualquer pessoa, nos
termos do artigo 23, I e 24 do CP.

Aborto humanitário - Diz o artigo 128 que ³não se pune o aborto praticado por
médico: se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal´, também conhecido
como aborto ético ou sentimental.

Não é necessário ordem judicial ou instauração de procedimento criminal, o


que se exige é prova inequívoca de que houve o estupro e que haja o consentimento
da gestante ou do representante legal.

É recomendável que o médico exija o consentimento por escrito e procure se


inteirar da situação do estupro, deixando arquivado no prontuário da paciente, o
consentimento e qualquer outro tipo de prova que serviu para convencer o médico
que houve o estupro.

Por fim, o aborto somente ocorre antes do início do parto, dif erentemente do
infanticídio que ocorre durante ou logo após o parto.


  K

 
  

O aborto é contemplado, pela primeira vez, em legislação específica, no


Brasil, em 1830, com a promulgação do Código Criminal do Império. O Capítulo
referente aos "Crimes contra a segurança da pessoa e da vida", estabelecia:

Artigo199 ± "Ocasionar aborto por qualquer meio empregado interior ou


exteriormente com consentimento da mulher pejada. Penas - de prisão com trabalho
por um a cinco anos. †e este crime for cometido sem consentimento da mulher
pejada. Penas - dobradas".

Artigo 200 ± Fornecer com conhecimento de causa drogas ou qua isquer


meios para produzir o aborto, ainda que este não se verifique. Penas - de prisão
com trabalhos por dois ou seis anos.

†e este crime for cometido por medico, boticário, cirurgião ou praticante de


tais artes. Penas - dobradas.

A objetividade jurídica é a vida em formação (vida intra -uterina), entretanto, o


produto da concepção não pode ser considerado como pes soa. Nos casos do aborto
praticado por terceiro a proteção se estende a gestante.

†ujeito ativo - No auto-aborto e no aborto consentido é a gestante (crime de


mão própria); no aborto provocado por terceiro o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa.

O sujeito passivo ± no auto-aborto ou no aborto consentido é o ovo, embrião


ou feto; no aborto provocado por terceiro é o feto e a gestante. Para Heleno Cláudio
Fragoso o produto da concepção, qualquer que seja o grau de desenvolvimento, é
objeto material da ação, mas não é sujeito passivo do crime (Fragoso, Lições; P.E.
9ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 1987, v.1, p. 112).

Adequação típica subjetiva - O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, a vontade


livre e consciente de interromper a gravidez, matando (dolo dire to) ou assumindo o
risco de matar (dolo eventual) o produto da concepção. A lei não prever a
modalidade culposa. O terceiro que pratica aborto culposamente, responde por
lesões corporais culposa.

Meios de execução - Trata-se de crime de forma livre, qualqu er meio de


execução é admissível, desde que tenha idoneidade para produzir o resultado. Em
regra o crime é praticado através de meios mecânicos diretos ou indiretos e de
ingestão de substâncias abortivas.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consenti mento. O tipo penal
previsto no artigo 124 do Código Penal traz dois verbos, o primeiro provocar,
significa promover, causar, produzir o aborto, a gestante provoca em si mesma a
interrupção da gravidez. O segundo verbo consentir, que significa anuir, permi tir,
tolerar que terceiro provoque o aborto. Quando a gestante pratica ou consente que
terceiro pratique o aborto, a gestante responde pelo crime previsto no Artigo 124,
enquanto o terceiro que pratica o aborto com o consentimento da gestante responde
pelo crime previsto no artigo 126, é exceção à regra contida no artigo 29 do código
Penal. Entretanto, se o terceiro instiga, indica o local, paga ou conduz a gestante
para fazer o aborto, responderá pelo tipo previsto no artigo 124 c/c o artigo 29 do
Código Penal.

Aborto provocado sem o consentimento da gestante - O tipo em exame admite


todos os meios idôneos, pode ser mediante violência, fraude, grave ameaça,
simulação, dissimulação, ardil, o que se exige é o dissenso da gestante, podendo
ser presumido nos casos de menor de 14 anos, alienado mental ou resistência nula
(Artigo 224 do CP).

Aborto provocado com o consentimento da gestante - Trata-se de uma


exceção à regra contida no artigo 29 do Código Penal, embora haja concurso
necessário são considerados crimes autônomos. †e o consentimento for viciado o
agente responde pelo tipo previsto no artigo 126, parágrafo único com a pena do
artigo 125 do Código Penal.

O consuma-se com a morte do ovo, embrião ou feto, dentro ou fora do ventre.


É necessário que haja co mprovação que o ovo, embrião ou feto estava vivo e foi a
ação dolosa do agente que motivou a morte.
K    c K   


      

O aborto em Portugal, também denominado interrupção voluntária da


gravidez, é permitido com o consentimento da mulher grávida (por princípio) quando
realizado por um médico em estabelecimento de saúde aut orizado em determinadas
situações.

Permitda até às dez semanas de gestação a pedido da grávida. A Lei nº


16/2007 de 17 de Abril indica que é obrigatório um período mínimo de reflexão de
três dias e tem de ser garantido à mulher "a disponibilidade de acompa nhamento
psicológico durante o período de reflexão" e "a disponibilidade de acompanhamento
por técnico de serviço social, durante o período de reflexão" quer para
estabecimentos públicos quer para clínicas particulares. A mulher tem de ser
informada "das condições de efectuação, no caso concreto, da eventual interrupção
voluntária da gravidez e suas consequências para a saúde da mulher" e das
"condições de apoio que o Estado pode dar à prossecução da gravidez e à
maternidade;". Também é obrigatório que seja providenciado "o encaminhamento
para uma consulta de planeamento familiar."

Permitida até às dezesseis semanas em caso de violação ou crime sexual


(não sendo necessário que haja queixa polici al).

Permitida até às vinte e quatro semanas em caso de malformação do feto.

Permitida em qualquer momento em caso de risco para a grávida "perigo de


morte ou de grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou
psíquica da mulher grávida" ou no caso de fetos inviáveis.

Nas situações permitidas a interrupção voluntária da gravidez pode ser


realizada quer em estabelecimentos públicos quer em clínicas particulares
devidamente autorizadas.

As mulheres que tenham realizado uma interrupção volunt ária da gravidez ou


tenham tido um aborto espontâneo têm direito a licença por um mínimo de 14 dias e
um máximo de 30 dias.
O aborto provocado por terceiros sem consentimento da grávida é punível
com 2 anos de prisão, e com 3 no caso de consentimento da grávida. Estas penas
são aumentadas em caso de "morte ou ofensa à integridade física grave da mulher
grávida", ou no caso de tal prática ser habitual.

A própria mulher g rávida que faça uma interrupção voluntária da gravidez


ilegal é punível com 3 anos de prisão 34.

Em 28 de junho de 1998 foi realizado um referendo no qual o não à


despenalização ganhou com 51% dos votos expressos (apenas 31% do eleitorado
foi às urnas). No referendo 1.308.130 pessoas votaram [1] sim, 1.356.754 votaram
não e a pergunta era: Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da
Gravidez, se realizada por opção da mulher nas primeiras 10 semanas em
estabelecimento de saúde legalmente autorizado .

Em outubro de 2006, a Assembleia da República, com os votos favoráveis do


Partido †ocialista (P†) e Bloco de Esquerda (BE), a abstenção do Partido †ocial-
Democrata (P†D) e o voto contra do Partido Comunista Português (PCP), dos
Verdes e do CD†-PP, decidiu convocar um novo referendo. O Presidente da
República Aníbal Cavaco †ilva marcou o referendo para o dia 11 de Fevereiro de
2007. O referendo teve a seguinte pergunta:  oncorda com a despenalização da
interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras
dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?» . O resultado
oficial [2] foi 59,25% "sim" (2.231.529 votantes) e 40,75% "não" (1.534.669 votantes).

O comparecimento às urnas não foi suficiente para tornar vinculativo o


referendo (tal como tem acontecido em todos os referendos até à altura realizados
em Portugal). Porém, o Parlamento aprovou por ampla maioria a legalização do
aborto até a 10ª semana de gravidez. Em abril de 2007, o presidente de Portugal,
Aníbal Cavaco †ilva, sancionou a lei que não estabelece restrições adicionais, mas
pede por um período obrigatório de reflexão de três dias antes que o procedimento
seja realizado.

Em 17 de Abril de 2007 foi publicado no Diário da República as alterações


que permitem a realização do mesmo a pedido da mulher de acordo com os

34
4
,
!´ "! ŠŠ
resultados do referendo de 2007, com efeito prático 5 dias depois. No entanto o
governo ainda terá de regulamentar a lei dispondo de 90 dias para tal.

       

Legalização do aborto - Há três décadas e meia a †uprema Corte dos EUA


aprovou a legalização do aborto sem restrições após julgar o caso de uma jovem
que ficou grávida após alegar ter sido estuprada. A decisão foi um marco na história
da luta das mulheres por seus direitos democráticos. Desde então, a cruzada da
Igreja e do governo norte-americano iniciou uma campanha de perseguição contra
as mulheres e as clínicas de aborto, incluindo mortes e incêndios
7 de julho de 2008

No dia 22 de janeiro completou-se o aniversário de 35 anos do caso Roe


contra Wade. O caso representa até hoje uma das maiores batalhas jurídicas do
século XX, iniciado em um tribunal no Texas e que culminou na legalização do
aborto em todos os cinqüenta estados norte -americanos.

De acordo com Hungria 35 neste dia, em 1973, a decisão da †uprema Corte


estampou a capa de todos os jornais norte -americanos, competindo com a foto e a
manchete sobre a morte do presidente Lyndon Johnson, que morrera naquele
mesmo dia. Na edição do jornal The New York Times, o título em letras garrafais
trazia: ³Lyndon Johnson, 36º presidente, está morto; foi o arquiteto do p rograma
µgrande sociedade¶. A manchete era histórica e ímpar, mas não pôde deixar de
dividir com uma outra de importância igualmente histórica: ³†uprema Corte aprova
aborto legal nos três primeiros meses´.

Até antes da sentença, praticamente todos os estad os consideravam ilegal a


prática do aborto. Todas as leis que restringiam esta prática foram convertidas
inconstitucionais e o serviço de aborto passou a ser seguro e acessível para as
mulheres em todo País. O caso influenciou também na derrubada de pelo m enos 30
outros casos de mesma natureza julgados pela †uprema Corte.

35
Nelson Hungria. omentários ao ódigo Penal. p. 206.
No ano de 1970, a texana Norma McCorvey, conhecida mundialmente como
Jane Roe, recorreu à †uprema Corte ± a mais alta instância jurídica dos EUA ± para
reivindicar o direito de abortar. Roe era uma mulher solteira, pobre, drogada e à
margem da sociedade.

Não sabia nem mesmo quem era o pai do seu filho. Até antes de 1973, a
pena no Texas para quem praticasse aborto era de cinco anos de prisão. Como o
processo se estendeu por três anos, Roe acabou não abortando e seu filho foi
adotado.

A lei federal do aborto legal não impõe nenhuma restrição até o momento em
que o feto se transforme em ³viável´, ou seja, quando é potencialmente capaz de
viver fora do útero materno sem ajuda artificial.

A ³viabilidade´ do feto chega aos cerca de sete meses (28 semanas) de


gravidez, mas pode ocorrer até quatro semanas antes. Neste caso, a †uprema Corte
decidiu dar o direito ao aborto quando se é necessário proteger a vida da mulher.

†ua época refletia ainda o auge do movimento feminista nos EUA e da luta
pelos direitos civis. No verão de 1969, Norma McCorvey, vivia em Dallas. Não
conseguia, portanto, encontrar um médico disposto a interromper a gestação do feto.
Finalmente acabou encontrando duas jovens advogad as recém formadas, †arah
Weddington e Linda Cofee, que colocaram o nome fictício de Jane Roe para
representá-la em um processo contra as leis do Texas, que negava -lhe o direito de
interromper sua gravidez. Roe alegou que sua gravidez foi o resultado de um
estupro.

Do outro lado, para representar o estado do Texas, foi chamado o experiente


advogado texano Henry Menasco Wade, famosa por ter participado anos antes de
outro dos maiores casos da história dos EUA ± representou Jack Ruby, o guarda
noturno que matou Lee Harvey Oswald, assassino virtual de John F. Kennedy. †eria
uma luta de Davi contra Golias.

Após uma série modificações e sessões no tribunal, a Corte do distrito


favoreceu Jane Roe, mas negou restringir as leis contra o aborto até então vigentes.
Litigado várias vezes, finalmente chegou ao †upremo Tribunal e, em 1973, resultou
na legalização do aborto. A sentença estabeleceu que a maioria das leis contra ao
aborto nos EUA violavam ³o direito constitucional à privacidade´. A decisão obrigou
todas as leis federais e estaduais a serem modificadas.

A vitória de um direito essencial das mulheres, no entanto, não significou que


o problema da mulher na sociedade capitalista fosse resolvido. Na verdade, a luta
pelo aborto legal é a ponta de lança para a luta p elas liberdades democráticas da
mulher, dos negros, da juventude e de toda classe operária, isto é, dos setores
explorados.

Desde que a lei do aborto fora aprovada nos EUA, hoje, mais do que nunca, a
cruzada reacionária e obscurantista contra este direito está a todo vapor. †ó nos
últimos anos, por exemplo, extremistas de direita e fanáticos católicos já mataram
médicos e empregados de clínicas. Muitas clínicas foram alvo de bombas e
incendiadas.

Enquanto a campanha anti -aborto reverbera em todos os meios ± até na


esquerda brasileira, como no caso da ex-senadora do Psol Heloísa Helena ±
realizam ao mesmo tempo, de maneira criminosa e clandestina, atos mais grotescos
do que os executados no período da Inquisição. Milhões são gastos na propaganda
destinada principalmente às mulheres jovens que o aborto é ³imoral´ e deve ser
proibido.

A †uprema Corte assinalou em 1992 que a capacidade das mulheres de


participar na vida social e econômica do País facilitou com a possibilidade de
controlar sua vida reprodutiva.36 Além da questão do aborto ser uma questão de
saúde pública, o direito de tomar decisões sobre o próprio corpo também permitiu às
mulheres mais oportunidades de estudo e de trabalho, que, assim como acontece
hoje na grande maioria dos países abaixo da linha do Equador, era uma tarefa
impossível.

Antecedentes do aborto legal - No final dos anos 60, movimentos


democráticos, defensores dos direitos das mulheres e clínicas de saúde
pressionavam o governo de cada estado para reformar leis vigentes desde o século
XIX, inclusive leis que passavam por cima de outras leis datadas do período colonial.

36
Planned Parenthood of †outheastern Pennsylvania v. Casey, 1992
Já nesta época se autorizava o aborto antes que se começasse a sentir os
movimentos do bebê dentro da barriga.

Entre 1967 e 1973, quatro estados - Alasca, Havaí, Nova Iorque e


Washington - derrubaram as leis de proibição do aborto e treze outros estados
aprovaram reformas limitadas. Anos antes do caso Roe vs. Wade, processos em
mais de dez estados já exigiam e questionavam as leis que penalizavam o aborto.

Roe vs. Wade se converteu no pilar do movimento feminista que desde a


década de 60 vinha expressando as mudanças morais e comportamentais como
resultado da crise do capitalismo e da falência do status quo. Por outro lado, foi um
divisor de águas por separar dois campos distintos na sociedade: as alas pró-aborto
e pró-vida. Esta última tendência erroneamente classificada, pois acusa moralmente
os defensores do direito ao aborto de defenderem o assassinato em massa de
bebês (infanticídio).

Um dos casos que aspirou à legalização em meio a este movimento político


aconteceu em 1965, quando o diretor da empresa Planned Parenthood League de
Connecticut foi acusado e processado por entregar pílulas anticoncepcionais para
mulheres casadas. †egundo as leis vigentes, estava cometendo o grave delito de
controle de natalidade.

O caso ficou conhecido como Griswold contra Connecticut. Era mais um caso
entre as dezenas de outros em todo País que tiveram de ser revisados pela
†uprema Corte após a legalização. Desde a sua legalização, o gover no não podia
mais interferir nas decisões pessoais a respeito da procriação, do casamento e de
outros aspectos da vida familiar. Foi estabelecido que qualquer lei de restrição ao
controle de natalidade violava o direito da privacidade.

Por sete votos a favor e dois contra, o juiz Harry Blackmun, autor do caso,
decretou a legalidade do aborto. É necessário destacar aqui que um mero decreto
decidido por um juiz pago pelo Estado não significa de forma alguma a decisão de
um único ser supremo que, isoladamente, decidiu legalizar o aborto e mudar a
história.

Um marco para a história dos EUA está muito longe de ser o resultado da
ação de um único homem, mas, muito pelo contrário, refletiu o exato ponto de
inflexão da situação política nos EUA e o movimento revolu cionário das classes
sociais.

Lei só pode ser garantida com a luta das mulheres - Não só a Igreja, mas esta
ofensiva contra o aborto conta com o apoio dos mais altos níveis do governo desde
a vitória do caso. Impõem-se restrições ao financiamento e acesso ao aborto. Assim,
a partir do final dos anos 80 e começo dos 90, a †uprema Corte deu aos estados o
direito de restringir o aborto. †e por um lado homens como Ronald Reagan, George
Bush (pai e filho) são abertamente contra esta prática, por outro, o democra ta Bill
Clinton se coloca a favor, mas faz pouco caso.

Embora a campanha democrata para a presidência deste ano passe longe


deste debate, movimentos pró-aborto depositam suas esperanças de que um
eventual governo de Barack Obama possa garantir a conquista das mulheres,
enquanto que, como John McCain, a campanha contra o aborto será ainda mais
intensa. †ão apenas duas posições com o mesmo conteúdo. Republicanos são
contra e democratas não são contra, mas também não são a favor.

Há mais de três décadas as mulheres norte-americanas continuam sendo


bombardeadas pela propaganda moral, confusa, mentirosa, apelativa e anti -
científica. Idéias como, por exemplo, de que os fetos são bebês, que o aborto é
assassinato ou então fazem o uso de imagens de fetos despedaçad os e sangrentos.
Nenhum destes casos tratam de saúde pública, mas da exploração política pela
direita norte-americana.

Ainda que o aborto seja um direito constitucional nos EUA, milhões de


mulheres não têm este direito devido às restrições impostas pelas l eis estaduais ao
longo dos últimos anos. Mulheres pobres, negras, latinas, ameríndias e jovens, das
zonas urbanas ou rurais, que têm sua reprodução controlada e vigiada por uma corja
reacionária, corrupta e, muitas vezes, depravada.

Além disso, a campanha contra o aborto nos EUA e no mundo não é um caso
isolado, mas faz parte de toda uma operação ultra -reacionária da burguesia contra a
população. Os ataques sempre são direcionados às mulheres, negros, imigrantes,
que são censurados, reprimidos, perseguidos, cuja única intenção é impor a
supremacia do homem branco anglo -saxão protestante, modelo da moral cristã
fundamentalista financiada pelo imperialismo.
    K


O poder executivo da República da China (Taiwan) propôs uma emenda à


legislação vigente sobre o aborto que, entre outras coisas, estabelece um período de
"reflexão" de três dias para todas as mulheres que desejem abortar. Isto devido a
recentes estatísticas que revelam um número maior de abortos que de nascimentos
por ano no país. †egundo um estudo de 1992 publicado pelo ournal of the Royal
Society of Health, 46 por cento das mulheres de Taiwan já se submeteram a um
aborto. A agência Ëssociated Press informa que vários proeminentes ginecólogos de
Taiwan actualmente crêem que há mais abortos que nascimentos por ano, uma cifra
estimada em 230 mil abortos.

A emenda obrigaria as mulheres a provar que consultaram seu médico antes


de buscar um aborto, e as menores de 18 anos teriam que contar com autorização
de seus pais ou tutores.

    
  

A Organização Mundial de †aúde (OM†) estima que 3,7 milhões de abortos


inseguros são realizados todos os anos na América Latina e das Caraíbas, que se
reduz a quase um aborto para cada três nascidos vivos. Na África, onde 99% destas
intervenções são feitas ilegalmente, o número de abortos inseguros é estimado em
4,2 milhões de euros, representando um aborto durante sete nascidos vivos. No
intuito de melhor compreender as mudanças e evolução da situação sobre estes
dois continentes, uma equipa de investigaçã o conjunta envolvendo o IRD e de "El
Colégio de México" analisou os resultados de uma série de estudos realizados
desde o início da década de 1990, abordando a questão de uma ciências sociais
ângulo (perfil das mulheres abrangidas pelo aborto, conseqüência s para a sua
saúde e à vida em sociedade, o papel dos homens e assim por diante). Eles também
investigaram a legislação sobre o aborto direitos, as alterações de que, ao longo dos
últimos 15 anos e os debates que correr relativas a estas questões. O quadro
legislativo para o aborto na América Latina e das Caraíbas continua a ser restritiva,
mas é ainda mais para o Africano, em países onde é fundada em leis datam da
época colonial.
Os dados na área do aborto ainda é muito fragmentado, difícil de obter devid o
às pesadas sanções legais e sociais das mulheres se decidirem risco de ter um
aborto em países em que este ato é de acesso limitado, ainda que não totalmente
proibida. Para a América Latina, além de um estudo executado nas áreas urbanas
da Colômbia e de largo alcance inquéritos com base em amostras representativas
da população são escassos. Na África, ainda não há um debate público sobre a
questão do aborto, e os poucos estudos realizados, na maioria das vezes entre as
mulheres que foram vítimas de complicações médicas, mostrou um aumento
especialmente acentuado de tais intervenções nas áreas urbanas.

Atualmente, apesar de nenhum dos 53 países sobre o continente Africano


proibir totalmente o aborto, apenas Cabo Verde, Tunísia e África do †ul permitir o
aborto a pedido da mulher. Desde a Conferência do Cairo de 1994, durante o qual o
Africano países assumiram o compromisso de respeitar os direitos reprodutivos das
mulheres, 20 delas têm feito pequenas melhorias do quadro legal para o aborto. No
entanto, na realidade, os progressos realizados é bastante limitada, a gravidez na
maioria das vezes rescisão de lhes ser permitido estritamente por razões médicas.
As condições legais para o acesso ao aborto têm na verdade piorou desde meados
da década de 1990, torna ndo-se mais restritivas em quatro países da África. Congo,
Malawi e †uazilândia agora permitir -la apenas como um meio de salvar a vida da
mãe. Argélia só aceita-la de tal circunstância e para preservar a mulher da saúde
física ou mental, assim como 17 dos 41 países da América Latina e das Caraíbas.
Em 2006, seis outros países (Chile, El †alvador, Honduras, República Dominicana, o
neerlandês parte de †aint Martin, Nicarágua) ele ainda era proibido. Grupos
feministas e de uma organização civil Católica de mul heres nestes países ( "para os
católicos o direito de decidir"), fazem campanha para a descriminalização do aborto.
Mas estes movimentos são confrontados com as posições conservadoras das
instituições, associações e até mesmo os profissionais de saúde que, por vezes opor
à legislação pró-aborto razões éticas ou religiosas.

Os pesquisadores também procuraram para definir melhor o perfil das


mulheres que recorrem ao aborto. Em princípio, a prática diz respeito a todas as
mulheres em idade fértil. No entanto, na realidade raparigas adolescentes são os
mais afetados por práticas inseguras. A ausência de reconhecimento de sua
sexualidade, ou mesmo pura e simples proibição, torna o acesso à contracepção
complicado para eles, tornando o aborto bastante freq üente entre as mulheres
jovens. Mas os dados científicos sobre esta questão para a África, América Latina e
as Caraíbas são ainda extremamente desigual. Um melhor conhecimento da
situação adequada é essencial para definir políticas de saúde, fazendo alterações ao
aborto legislação possível e aumentar a sensibilização entre os diferentes atores
sociais sobre as repercussões sociais e de saúde que podem ser provocadas por
um quadro legal que penaliza o aborto.

A partir do ponto de vista da saúde pública, abortament o inseguro práticas


acentuar significativamente a mortalidade materna, mas limita o acesso ao aborto e
não respeito dos direitos reprodutivos também torná -la uma questão de injustiça
social


K   K c 


     
      

 
 

No Brasil o aborto sentimental, em caso de gravidez proveniente de estupro ±


crime como a liberdade sexual da mulher, admitindo -se a interrupção da vida viável
do feto, e o mesmo não se admita diante de diagnóstico de gestação de feto acéfalo.

†e a violência sexual contra a mulher causa indubitável sofrimento e trauma


psicológico ± não apenas pelas lembranças da violência sofrida, mas pelo
necessário convívio com o fruto que desta tenha resultado, mesmo que se afirme ser
o feto inocente, tendo a sociedade através do ordenamento jurídico, considerado
aquelas causas suficientes e justificadoras da interrupção da gravidez, o mesmo se
deve afirmar diante do sofrimento e da dor provocados pelo diagnóstico da
anencefalia, cujo resultado imediato é o abalo emocional e o trauma psicológico
diante do veredicto antecipado da morte do filho que se deseja e espera.

Ignorar o sofrimento da gestante nesse caso implica negar -lhe o direito à


gestação digna e contemplar desigualdade, estabelecendo-se dois pesos e duas
medidas, ferindo os princípios da razão e do Direito. 37

Nesse conflito que se estabelece entre a vida intra -uterina, extremamente


precária, absolutamente dependente dos sentidos vitais da mãe, que no máximo
chegará a ser exígua e vegetativa vida extra-uterina, sem qualquer perspectiva ou
potencialidade de se tornar vida de relação, e o direito à saúde ± estado completo do
bem-estar físico, mental e psicológico, e a dignidade de uma pessoa humana,
psíquica e fisicamente formada, parece razoável que se mitigue a reivindicação do
direito à vida intra-uterina do feto, cedendo espaço à preservação dos direitos da
gestante, já condenada a conviver com a dor da lembrança dos acontecimentos,
devendo ser poupada do sofrimento que o prolongamento do contato materno com o
feto certamente lhe proporcionará.

Em 1941 quando entrava em vigor o Código Penal, os dispositivos dos artigos


124 a 128, refletiam o resultado das discussões sociais e jurídicas, baseadas nas

37
5
!
 
informações científicas e técnicas disponíveis. Portanto, seria impossível o legislador
ter incluído entre as hipóteses excludentes de ilicitude a realização de aborto diante
de diagnóstico de má-formação grave e irreversível, incompatível com a vida
autônoma,

Alexandre de Moraes38 afirma que a Constituição Federal proclama o direito à


vida, e que em razão disso cabe ao Estado assegurá-la em sua dupla acepção,
sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e a segunda de se ter vida
digna quanto à sua subsistência.

Nesse sentido o mestre José Afonso da †ilva 39 afirma que a vida, indicada e
protegida como direito fundamental no caput do Artigo 5º da CF/88, não será
considerada apenas no seu sentido biológico, compreendido como incessante
auto-atividade funcional, mas na sua acepção biográfica mais compreensiva, que
alguns autores denominam de vida de relação.

O direito à vida é a fonte primária de todos os outros bens jurídicos e no


conteúdo de seu conceito se envolvem o direito à dignidade da pessoa humana, o
direito à privacidade, o direito à integridade físico -corporal, o direito à integridade
moral, especialmente, o direito à existência.

Consistindo esse último no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de


defender à própria vida, de permanecer vivo.

O artigo 1º da Constituição Federal indica como um dos fundamentos do


Estado brasileiro a dignidade da pessoa humana, valor supremo que atrai o
conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, que se inicia com o direito à
vida. A dignidade da pessoa humana não p ode ter seu sentido reduzido à defesa
dos direitos pessoais tradicionais, ou ser invocada apenas para construção da
³teoria do núcleo da personalidade´ individual,sendo ignorada nos casos de direitos
sociais, econômicos e culturais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA, no artigo 7º, que tratando do


direito à vida e à saúde, também exige expressamente condições dignas de
existência.

38
#:    
!´ ´ )
39
1#9    
`!Š$$" Š.Š
Assim sendo, não basta falar em direito à vida, para que se realize
plenamente, em todas as suas potencialidades, deve se desenvolver em condições
dignas. Entretanto, admite -se que o critério da dignidade é relativo, devendo-se
analisar a conjuntura política, religiosa e socioeconômica existente. †endo um
conceito jurídico indeterminado se faz necessária a integração normativa ao caso
concreto, para que o julgador aprecie se a dignidade está sendo respeitada por
todos e assegurada pelo Estado em cada caso. 40

Flávio Augusto Monteiro de Barros 41 afirma a indisponibilidade e


inviolabilidade da vida. É irrenunciável e protegível, inclusive, com emprego de força
contra aquele sujeito que voluntariamente pretende abandoná -la.

O ordenamento jurídico brasileiro não confere às pessoas o direito à morte, e


não podendo tirar a própria vida ninguém estará autorizado a fazê-lo em relação à
vida de outrem. Donde decorre a tipificação dos delitos praticados contra a vida intra
e extra-uterina.

Alexandre de Moraes 42, representando os autores que se filiam a corrente


conceptista 43, afirma que a vida do ponto de vista biológico se inicia com a
fecundação resultando um ovo ou zigoto, e a vida viável começa com a nidação44.

Ressalte-se que embora a discussão em torno da proteção e violação da vida


seja iniciada normalmente fazendo -se referência aos dispositivos constitucionais, o
texto da CF/88 não protege expressamente o direito à vida desde a concepção,
ficando esta relevante discussão para ser resolvida pela legislação
infraconstitucional.

Assim, dispõe o Código Civil brasileiro de 2002 no Artigo 2º que ³a


personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida; mas a lei põe a

)
 3

  
  !Š$$$ Š%6%
41
,#  +  

`
!Š$$% .6$
42
`  ! )
43
/  *
9 

  ;#9


 9
     0
44
'! 1 

  * < 9
   16
 ,! 
  9
  
 
   

  9      
   2    ! 1 

  
 *    
  

  !      *     


  0 , 53=#!     
c !"
 #  
!$ ` % %
    
 
  `!" 

  -
3!´ ´ ) 6Š
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro´. Por sua vez o Código Penal
brasileiro prevê nos artigos 124 a 127 a tipificação do aborto provocado pela
gestante, por terceiro com ou sem o consentimento da mesma.

   
            

Conforme o tratamento dado ao nascituro pela legislação civil, verifica -se que
ao mesmo se atribui apenas a chamada personalidade formal, garantias ao
desenvolvimento ininterrupto e adequado da vida, pois até que ocorra o nascimento
com vida existe apenas uma expectativa de vida plena e autônoma, extra -uterina,
que poderá não se concretizar, por isso alguns ainda se referem ao nascituro como
spes personae 45.

Quanto ao direito penal, independente da disc ussão da personalidade plena


ou formal, o nascituro é considerado pessoa, e o aborto classificado como crime
contra a pessoa, no capítulo dos crimes contra vida.

Entende-se por gravidez o estado em que a mulher se encontra durante todo


o tempo necessário ao desenvolvimento do produto da concepção. Do ponto de
vista médico, a gravidez viável só se verifica com a fixação do óvulo fecundado na
mucosa uterina já preparada para recebê -lo, ou seja, com a implantação do óvulo no
útero materno, e se conclui com o início do parto, após a ruptura da placenta. †ob o
aspecto jurídico ela vai desde a fecundação até o início do parto.

No sentido etimológico, aborto quer dizer privação de nascimento; ab, que


significa privação, e ortus, nascimento46. A expressão aborto designa o produto
morto ou expelido no abortamento. Usualmente designa a interrupção da gravidez,
com destruição do produto da concepção, do ovo, embrião ou feto, a destruição da
vida antes do início do parto, em qualquer fase do ciclo gravídico 47

45
,#  + `   ! ´
46
4
,
!´ " ŠŠ$
47
 &' &
-  #1>/
 # &!´  
È)
O aborto pode ser espontâneo ou natural, resultado de causas mórbidas de
várias categorias, problemas de saúde da gestante, que provocam a morte fetal e a
expulsão do produto da concepção. Tratando -se efetivamente de causa patológica,
a matéria permanece no âmbito da terapêutica e da profilaxia, trata -se de matéria de
ordem clínica. Existe ainda o aborto acidental conseqüente a circunstâncias
eventuais, em que fatores traumáticos, tóxicos ou infecciosos provoquem a morte do
feto, também essa modalidade não é punível. 48

Diferente das hipóteses de aborto espontâneo e acidental, existe o aborto


violento ou provocado (aborto criminoso) no qual ocorre a interrupção do ciclo
gravídico por meio artificial, cujas causas podem ser de natureza econômica, moral
ou individual (vaidade, egoísmo, horror à responsabilidade etc), é passível de
punição.

Trata-se, a tipificação penal do aborto, de proteção jurídica da vida, claro não


se trata de vida autônoma, mas não há negar que durante a gestação já existe vida,
vida intra-uterina, biológica, fetal. Em qualquer momento, o produto da concepção
está vivo, pois cresce e se aperfeiçoa, assimila as substâncias que lhe são
fornecidas pelo corpo materno, tem metabolismo orgânico exclusivo, e, ao menos
nos últimos meses da gravidez, se movimenta e revela uma atividade cardíaca,
executa funções típicas de vida, mas vida em formação ou elaboração.

†ão elementos indispensáveis para que determinada conduta possa ser


tratada como crime de aborto: estado fisiológico da gravidez; emprego de meios
dirigidos à provocação do aborto; morte do produto da concepção; dolo. A
identificação desses elementos nos conduz a temas insuperavelmente
49
controversos.

   
 
 

Para que se possa falar em prática criminosa de aborto, a gravidez há de ser


normal, diferente da extra -uterina e da molar. †endo a extra-uterina a que se dá no

48
( 
 &&'  
(
!Š$$" Š.
49
,#  + `  ! È
ovário, fímbria, trompas, parede uterina tendo como conseqüências entre outras o
aborto tubário. A gravidez molar (patológica) é a formação degenerativa do ovo
fecundado. A interrupção da gravidez extra-uterina não é aborto, pois o produto da
concepção não atingirá a vida própria, a gravidez não pode chegar a termo;
sobrevirão, antes, conseqüências muito graves, matando a mulher, ou pondo em
sério risco sua vida. A expulsão da mola também não é crime, já que não existe
vida, não tem possibilidade de destino humano. 50

O aborto para ser considerado crime consiste na vontade livre e consciente,


portanto, dolosa, de interromper a gravidez, provocando a morte do produto da
concepção. Conclui-se que não há crime na antecipação do parto, nem no aborto
acidental e natural, em razão da ausência da provocação intencional.

No aborto a consumação se dá com a morte do produto da concepção,


resultante da interrupção da gravidez, por tratar-se de crime contra a vida. Desta
forma, se antes de qualquer prática abortiva o feto já estiver morto, o crime é
impossível, por falta de objeto jurídico, intra -uterina, o mesmo se diga na hipótese de
não haver gravidez.

†egundo Nelson Hungria 51, ³se a gravidez se apresenta como processo


verdadeiramente mórbido, de modo a não permitir sequer intervenção cirúrgica que
pudesse salvar a vida do feto, não há falar em aborto, para cuja existência é
necessária a presumida possibilidade de continuação da vida do feto´.

Odon Ramos Maranhão 52 diz que a morte é a cessação da vida, mas que tal
assertiva não tem qualquer significado, pois não sabemos o que é a vida. †abe-se
que a vida se expressa por um complexo e dinâmico conjunto de fenômenos
bioquímicos regidos por leis fixas, que normalmente se traduz num equilíbrio
biológico e físico-químico. Quando a morte ocorre, essas leis deixam de ser válidas
e o corpo inerte passa a ser um cadáver e sofre influências de ordem física, química
e microbiana. Contudo, a morte não deve ser entendida como fato instantâneo, mas
como processo, pois órgãos, sistema, tecidos etc não morrem ao mesmo tempo.

50
 &' & `   ! ÈÈ
51
' 8  '

!Š$)´!È! ´.
52
( 
 & `   ! ´"Š6´
Para efeitos jurídicos, se faz necessário firmar um termo inicial da vida e outro
final, indicativo do evento morte. Para tal os juristas recorrem à ciência que nos
apresenta dois conceitos de morte: morte clínica ou cardiorrespiratória e a morte
encefálica.

A morte clínica é um conceito rígido, exige a parada irreversível da atividade


cardíaca, foi adota pela Lei nº 5.479/68, que versava sobre remoção e transplante de
órgãos, ao indicar, em seu Artigo 5º, § 1º, os requisitos para a afirmação do óbito a
ausência de atividade cerebral, comprovada pelo traçado absolutamente linear do
eletroencefalograma, e ausência de batimentos cardíacos por mais de cinco
minutos.

A morte encefálica ou morte cerebral consiste na cessação da atividade


elétrica desse principal órgão do corpo humano, que se caracteriza pelo traçado
permanentemente nulo do EEG (eletroencefalograma). Este é o conceito adotado
atualmente pelo legislador, referido na Lei nº 9434/97 que requer a morte cerebral ou
encefálica, para que se autorize retirada de tecidos, partes e órgãos do corpo
humano destinado a transplante ou tratamento. 53

A morte cerebral, irreversível perd a de todas as funções cerebrais,


caracteriza-se pela ausência de sinais de atividade do tronco cerebral: arreflexia
pupilar à luz, ausência do reflexo córneo -palpebral, ausência de desvio ocular aos
dévios cefálicos e às provas calóricas, apnéia. Há equivalência de conceitos de
morte cerebral, morte encefálica e simplesmente morte, em termos práticos, ainda
que diversos em termos técnicos.




   
 


Diante do quadro que ilustra a situação do país, quando se traz à luz da


reflexão os problemas, as contribuições e as dúvidas referentes ao aborto no Brasil,
alguns chegam a mencionar com insistência que se trata de uma imagem de
hipocrisias dispersas pela realidade crua e aberrante .

53
4# ! `  Ë  


´ )
Conforme Alvarenga 54 leva a entender que as classe diretamente envolvidas
nas discussões sobre o tema (Igreja, †ociedade Feministas, médicos e políticos),
ninguém lembra da questão até que ela esteja bem próxima. O fato é que, como o
Código Penal somente prevê legalidade para o aborto em duas situações quando
tratar de encefálico ou ao trazer riscos para a mãe, a cada ano são realizados no
Brasil cerca de um milhão e quatrocentos mil de abortos ilegais dos quais seiscentos
mil sofrem complicações como hemorragias, infecções, câncer de útero e até
esterilidade, quando não há mortes 55.

A lei parece estar defasada em relação aos acontecimentos. Enquanto os


abortos acontecem, obviamente na clandestinidade, alguns juízes já se antecipam
ao processo de reformulação do Código .

Mas a questão se entende de forma mais drástica pelo caminho da saúde


pública: além das clínicas clandestinas que realizam o aborto e que somente são
acessíveis a uma população de poder aquisitivo para o pagamento da intervenção,
existe uma gama ampla de parteiras que fazem abortos por curetagem, com
instrumentos não esterilizados, em suas casas, outras que conhecem e disseminam
técnicas populares como chás e remédios abortivos, introdução de corpo estranho
no útero (sendo usado até talos de vegetais e agulhas de tricô), introdução de
objetos no ânus e a seguir na vagina a fim de promover uma infecção, massagens e
pancadas violentas na barriga e outras tantas técnicas que podem induzir um aborto
séptico. Isto afeta não só a saúde mas também a imagem social da mulher.

Pressupondo-se que o ordenamento jurídico é um sistema, para que seus


elementos normativos sejam interpretados coerentemente temos que concluir que as
disposições presentes na lei de transplante e doação de órgãos, Lei nº 9434/97,
demonstram a adoção da morte encefálica como critério médico e jurídico
determinante da morte, aplicável para a solução de quaisquer questões jurídicas.

†egundo laudo médico-pericial oficial firmado por Demerindo Brandão, citado


por Warley Rodrigues Belo:

³Anencefalia, ou ausência de cérebro, é afecção irreversível, que impede


inquestionavelmente a ocorrência de vida. Equivale à morte cerebral,
situação que permite não só desligamento de aparelhos médicos, como a

54
4# !( !´ )
55
Malu Oliveira e Gleides Pamplona. Ëborto: surto de hipocrisia., 1994, p. 40-42
própria doação de órgãos. Não se trata, nesse caso de interrupção da vida
56
por defeito ou formação, ou para se prevenirem sofrimentos´.

Patrick Verspieren 57 , afirma que a ³anencefalia consiste na ausência no feto


dos dois hemisférios cerebrais. Não corresponde exatamente, no plano médico, à
morte cerebral. O sinal inequívoco desta, admite-se hoje, reside na verificação da
ausência de função total e definitiva do tronco cerebral. A função do tronco cerebral
está presente nos fetos anencéfalos e permite, em alguns casos, uma sobrevivência
de alguns dias, fora do claustro materno.

Antropologicamente falando, as duas situações são, sem embargo, similares:


a ausência de hemisférios cerebrais, no primeiro caso, e sua afetação definitiva, no
segundo, suprimem para sempre o suporte indispensável para toda forma de
consciência e da relação com o outro.

No segundo caso, reconhece-se a morte da pessoa. Não há razão para deixar


de afirmar que, no primeiro caso, a vida que subsiste não é propriamente uma vida
humana, a vida de um ser humano destinado a chegar a ser pessoa humana´. 58

O feto acéfalo, enquanto ligado ao ventre materno, está se desenvolvendo,


mas a sua vida é absolutamente precária, só excepcionalmente pode atingir de dois
a três dias de vida. †obrevive no útero porque, ali, lhe é possível a circulação
sanguínea, para renovação do seu próprio sangue através da placenta. †eparado do
ventre materno, somente sobreviverá se colocado em respiração artificial. Terá vida
vegetativa e curta. †e houvesse o prolongamento de sua vida ± hipótese
cientificamente inadmissível, ainda assim, não teria vida de relação.

Resende e Monte-Negro 59 afirmam que ausente o cérebro, falta -lhe comando


para o aparelho respiratório. Ausente a respiração, falta -lhe oxigênio, advindo-lhe a
morte. A morte advirá, também, porque deixarão de funcionar os sistemas simpático
e parassimpático, o sistema mobilizado pela força volitiva, que é o sistema límbico, e
deixará de funcionar, também, porque falta o comando do sistema nervoso central.

56
Warley Rodrigues Velo. Ëborto: considerações jurídicas e aspectos correlatos. 1999. p. 100.
57
?=   `   ! Š 
58
c   
59
   6' 
 % 
 
 
5 -@A + ` ! ŠŠŠ6´
Até mesmo se admitirmos o seu funcionamento, que cientificamente é
possível através do chamado sistema autônomo, ainda assim ele não excederia a
uma vida de dois ou três dias num ambiente extra -uterino.

Desta forma, afirma-se ser o feto acéfalo, morto cerebral, que chegando a
nascer, só estará a espera do desligamento de sua mãe para que se consume sua
morte clínica. A gravidez pode ser interrompida licitamente, inclusive sem
necessidade de autorização judicial, pois se trata do exercício regular de um direito,
não havendo vida intra-uterina, a interrupção da gravidez será conduta atípica. Não
houve morte dolosa, a afecção mórbida apresentada pelo feto independe de
qualquer prática realizada pela gestante ou por terceiro.

Dogmaticamente, a razão da descriminalização do aborto do feto acéfalo


prende-se à atipicidade, fundada em três causas sendo a primeira falta de objeto
jurídico, ou seja, preservação da vida humana; a segunda, falta de sujeito passivo,
feto, pois se trata de cadáver; a terceira, falta de objeto material. 60

60
4#  2 4

  ` 
K K 

Após termos cumprido os objetivos de estudar as controvérsias sobre a


legislação do aborto,

O aborto é tema discutido há séculos, e apesar disso causa sempre muita


polêmica entre os diversos setores da sociedade, principalmente entre cientistas
juristas e religiosos. Dentre todos os aspectos relevantes o mais atual se refere ao
aborto no caso de diagnóstico de anencefalia.

O direito á vida é a fonte primária de todos os outros bens jurídicos e em seu


conteúdo está presente o direito à dig nidade da pessoa humana, que se expressa
por meio das condições econômica, sociais e culturais dignas de existência.

A vida humana é juridicamente protegida em todas as suas formas, intra e


extra-uterina, donde advém a tipificação dos crimes contra a vida.

Para que exista o crime de aborto pressupõe -se o estado fisiológico da


gravidez normal, o emprego de meios dirigidos à provocação do aborto; morte do
produto da concepção; dolo da gestante ou de terceiro.

Ausente o cérebro, no caso de anencefalia, a mor te do feto advirá por


ausência de comando do sistema nervoso central para o aparelho respiratório e
porque deixarão de funcionar os sistemas simpático e parassimpático. Não há
ocorrência de qualquer prática abortiva, muito menos dolo, a morte decorre de má-
formação congênita.

O ordenamento jurídico brasileiro, através da lei de transplante e doação de


órgãos, Lei nº 9434/97, adotou a morte encefálica como critério médico e jurídico
determinante da morte, aplicável para a solução de quaisquer questões jurídicas.

A descriminalização da interrupção da gravidez de feto acéfalo decorre da


atipicidade da conduta por ausência de objeto jurídico, de sujeito passivo e de objeto
material. Trata-se de crime impossível, não há aborto se não há vida a proteger.

O aborto eugênico consiste na permissão à gestante, diante do diagnóstico


mórbido do feto, para decidir manter ou interromper licitamente uma gestação
desprovida de sua finalidade, incapaz de gerar uma vida.
Não se confunde com extermínio indiscriminado de fetos, nem com
aperfeiçoamento genético de uma raça, nem com a eliminação de crianças
³defeituosas´.

O anteprojeto de reforma da parte especial do Código Penal prevê uma nova


hipótese de excludente de ilicitude, art. 128, III, em caso de aborto fundado na
probabilidade, atestada por dois médicos, de nascituro apresentar graves e
irreversíveis anomalias incompatíveis com a vida extra-uterina.

Diante da tensão que se estabelece entre o direito à vida intra-uterina do feto


acéfalo e à vida digna da gestante, deverá o aplicador do direito fazer uso da
interpretação sistemática e teleológica, e do princípio da concordância prática ou da
harmonização constitucional, para garantir a dignidade da pessoa humana no caso
concreto. 


   Kc c ccK 

ALVARENGA, Dílio Procópio Drummond de. 


  . Jus Navegandi,
Teresina, a. 8, n. 324, 27 mai. 2004. Disponível em: http://www1.jus.com.br/doutrina/
texto.asp?id=5167.Acesso em:jul/2008.

Apostila do Curso de 



     
 , Campinas, Departamento de
Medicina Legal, FCM/UNICAMP, 1995, p. 36 -39.

BARRO†, Flávio Augusto Monteiro de. K


      . †ão Paulo:
†araiva, 1997. p. 8-9

BELLINO, Francisco.     



      
 i
 
   
 . Bauru: EDU†C, 1997. Disponível em
http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=1469&idArea†el=19&seeArt
=yes, acesso Jul/2008.

BELO, Warley Rodrigues.     


 
   
    . Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 100.

BITENCOURT, Cezar Roberto.  



  . Editora †araiva. 5ª edição
revista e atualizada, 2006. Parte Especi al Vol.2. Capitulo V)

DE BARCHIFONTAINE. Christian de Paul. 


  . Ed. Loyola.
ed. 15ª. 1999.

GALVÃO, Pedro - 
    
   . Lisboa: Dinalivro,
2005.

HUNGRIA, Nelson. K 


 K 
  . Rio de Janeiro: Forense, 1942,
v. 5, p. 286.

JE†U†, Damásio E. de 

  
 , 10. ed., †ão Paulo: †araiva,
1988, v. 2, p. 138.

_______________ de. |    i . ed. †ão Paulo: †araiva, 2003.

LI†BOA, Roberto †enise.       



  

. v.1, Teoria geral do
direito civil, 1. ed. †ão Paulo: Juarez de Oliveira, 1999. p. 176 -7.

LÔBO, Cecília Érika D´Almeida. 


i 
   . Artigo aceito
em 22/06/2007, Disponível em www.ffb.edu.br/_download/Dialogo_Juridico , acesso
em jul/2008

MARANHÃO, Odon Ramos. K  


   

  . 6. ed. †ão Paulo:
Malheiros, 1995.

MARCÃO, Renato.           K 


    artigo
2002.Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2961 , acesso,
jul/2008 
MATIELO, Fabrício Zamprogna.    

  . 3ª edição. Porto Alegre:
†agra-DC Luzzatto editores. 1996

MORAE†, Alexandre de. 



  

 11. ed. †ão Paulo: Atlas, 2002. p.
64.

NORONHA, E. Magalhães. 

   
 . at. Adalberto José Q. T.
de Camargo Aranha, v. 2, †ão Paulo: †araiva, 2000.

OLIVEIRA DA †ILVA, Miguel -     . I†BN 9789722117463

PENICHE, Andrea -       



         


 
 

 . Porto: Afrontamento, 2007. I†BN 978-972-36-0865-6

PINTO, Davi †ouza de Paula. Ê


   
 
,, Belo Horizonte. 2005.
Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista ,
acesso em Jul/2008.

REIS, Nando. c   


    
          
 i   in Valéria Pandjiarjian , Disponível em
www.cladem.org/portugues/nacionais/brasil/informe_aborto_brasilp.asp. acesso
jul/2008.

†ILVA, José Afonso da. K 



  

  

 . 9. ed. rev., †ão
Paulo: Malheiros, 1993.

TAVARE†, Manuela -            . Lisboa: Livros


Horizonte, 2007

VER†PIEREN, Patrick.  
         
 . Reflexión ética. In:
BELO, Warley Rodrigues. p. cit., p. 106.

Você também pode gostar