Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ë
ó se pode cogitar de crime de aborto quando uma mulher está grávida.
Assim, evidentemente não constitui aborto a conduta de quebrar um tubo de ensaio
que contém um óvulo fertilizado in vitro.
e o feto já estiver morto por causa natural e o médico a penas faz a retirada,
não há crime, pois o que se pune no crime de aborto é a condita de tirar a vida do
feto.
³Ocorre esta espécie quando há sério e grave perigo para o feto, seja em
virtude de predisposição hereditária, seja por doenças da mãe, durante a gravidez,
seja ainda por efeito de drog as por ela tomadas, durante esse período, tido podendo
3
acarretar para aquela enfermidade psíquica, corporal, deformidades, etc.´
³É uma ação típica que não será justificada . (...) A antijuricidade consiste na
falta de autorização da ação típica. Matar alguém é uma ação típica porque infringe
a norma que diz ³não deves matar´; esta mesma ação típica será antijurídica se não
for praticada sob o amparo de uma causa de justificação (legítima defesa estando de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito)´ 4
´
! "´! #
!$$%!´ ´
"
&'
&!(`
`
)
*+
`
+,-
!$.)!..
Este trabalho divide -se em 4 partes onde no Capítulo 1 ± Aborto encontra-se:
aspectos etimológicos, conceitos e evolução histórica.
È
/0+
´ !È$
+
+1-
2!
2
$$%!.
expulsão do conteúdo do útero gravídico antes do feto ser viável é denominada
abortamento´ 7
De acordo com Maranhão (1995) a morte é a cessação da vida, mas que tal
assertiva não tem qualquer significado, pois não sabemos o que é a vida. abe -se
que a vida se expressa por um complexo e dinâmico c onjunto de fenômenos
bioquímicos regidos por leis fixas, que normalmente se traduz num equilíbrio
biológico e físico-químico. Quando a morte ocorre, essas leis deixam de ser válidas
e o corpo inerte passa a ser um cadáver e sofre influências de ordem físic a, química
e microbiana. Contudo, a morte não deve ser entendida como fato instantâneo, mas
como processo, pois órgãos, sistema, tecidos não morrem ao mesmo tempo. 8
Para efeitos jurídicos, se faz necessário firmar um termo inicial da vida e outro
final, indicativo do evento morte. Para tal os juristas recorrem à ciência que nos
%
# /
3 4
! /
! 4
3!
/'5/# !$$È!"6"$
.
(
&/,
!$$È!´"
$
7!´ È!+80
apresenta dois conceitos de morte: morte clínica ou cardiorrespiratória e a morte
encefálica.
K
!$$%!)$
4
,
4
!´ !.
Neste período o aborto foi praticado em todo o mundo, embora essa pratica
tenha sido discutida e reprovada pela maioria das civilizações, em determinadas
épocas foi aceita sob o prete xto de que servir para controlar o crescimento
populacional, situação esta que naquela época preocupava diversos estudiosos.
³e alguns homens renhirem, e um deles ferir mulher grávida, e for causa de
que aborte, mas ficando ela com vida, será obrigado a ressarcir o dano segundo o
que pedir o marido da mulher, e os árbitros julgarem. Mas, se o desfecho desta
situação for à morte dela, dará vida por vida. Olho por olho, dente por dente, pé por
pé. Queimadura por queimadura, ferida por ferida, pis adura por pisadura. Alguns
doutrinadores afirmam que as palavras acima transcritas ± encontradas nos textos
da Bíblia, constituem reflexo estatuído no Código de Hamurabi, pois este,
´
Ë
"
(#4
!´
)
5
!#4
!´
considerado um dos mais antigos diplomas jurídicos, já previa indenizações em
casos de aborto provocado, cujo valor variava conforme as conseqüências geradas
por este. Pesava-se também se a mulher era livre ou escrava, nesta o valor a
indenizar era menor limitando -se a uma quantia paga a seu senhor, já em relação
àquela o valor de ressarcimento era bem maior, onde a reparação do dano poderia
até mesmo dar-se com a morte de uma filha do provocador do abortamento ´15
È
5
!#4
!´6"
c #4
`
e que esta era imortal. que além do mais, sendo o homem criado à imagem e
semelhança de Deus, não deveria então, ter o poder de vida e morte sobre os
demais, atributo este exclusivamente do Criador´. 17
O conceito acima citado predominou até meados do século XIX, quando foi
aceita a teoria do homúnculo e a partir de então o aborto foi terminantemente
proibido. De modo que, mesmo quando a vida da gestante corria perigo vital dava -se
preferência ao feto, pois se baseavam no argumento de que a mãe já havia recebido
o sacramento do batismo, e assim, tinha a possibilidade de alcançar o Reino dos
Céus.18
³No final do século XIX e no início do século XX, surgiu na Europa, com mais
força na Inglaterra e França, movimentos feministas, preconizando a anticoncepção
e defendendo o direito da mulher ao aborto. Entretanto, a partir da década de 20,
nos países escandinavos e socialistas, houve flexibilidade maior na legislação. Na
Rússia, com a Revolução de 1917, o aborto deixou de ser considerado crime,
legislação que influenciou os demais países socialistas nos anos de 50 ´.19
%
c !#4
!È
.
/&
4+&9
$$$!È
$
c !
9&
!%
teoricamente, não permite o aborto a pedido. Existem quatro cláusulas em
que a gestante deve poder ser enquadrada para obter o aborto, e é
necessário o exame preliminar de dois médicos que devem decidir, "de boa
fé", conforme reza a lei, se tais requisitos são ou não satisfeitos. Entretanto,
na prática não é necessário ser enquadrado em nenhum requisito, e é
extremamente fácil conseguir um aborto por qualquer motivo, ou sem
nenhum motivo. A situação real do aborto na Inglaterra depois da
legalização ficou muito clara através de um trabalho realizado em Londres
por dois jornalistas free lance. O trabalho foi publicado sob forma de um
livro denominado Babies for Burning, nome tirado da prescrição da lei
inglesa exigindo que os fetos abortados sejam incinerados, prescrição que
os jornalistas descobriram nem sempre ser cumprida. Michael Litchfield e
usan Kentish consultaram- se primeiramente com um médico de sua
confiança e conseguiram um atestado escrito de que uzan não apenas
não estava grávida como também era estéril e não seria capaz de
20
engravidar.³
´
c !
9&
!%
K c
c c
c
K
³Artigo 122 - Parágrafo único. Incorre na mesma pena aquele que de algum
modo contribuir para a realização de eutanásia´ .
Desse modo, como bem lembra o Professor Ives Gandra da ilva Martins, em
seu trabalho ³Fundamento s do Direito Natural à Vida´, ³o aborto e a eutanásia são
violações ao direito natural à vida, principalmente porque exercidos contra
insuficientes´. É indispensável, portanto, que se explicite a natureza hedionda de tais
crimes, bem como se vedem legalmente quaisquer ações nesse sentido.
Pretende-se, com este Projeto, que o planejamento familiar seja realizado por
³livre decisão do casal´, como determina a Constituição, sem a manipulação por
meio de campanhas promocionais. É importante proteger nossos cidadãos contra a
³campanha mundial de divulgação do planejame nto familiar´, que vem sendo
insistentemente proposta pelas sobejamente conhecidas organizações
internacionais interessadas em controlar o crescimento populacional dos países em
desenvolvimento, com o objetivo de favorecer os interesses econômicos dos país es
industrializados. Parece-nos pouco provável que, se for submetido a uma campanha
maciça nesse sentido, nosso povo continue em condições de tomar decisões
realmente livres a respeito.
K
A Lei das Contravençõe s Penais, de 1941, por sua vez, no capítulo "Das
Contravenções referentes à Pessoa" dispõe:
Artigo 131. Não será considerada falta ao serviço, para os efe itos do artigo
anterior a ausência do empregado: (...) II - durante o licenciamento compulsório da
empregada por motivo de maternidade ou aborto não criminoso, observados os
requisitos para percepção do salário -maternidade custeado pela Previdência ocial;
Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
ão Paulo - Artigo 224. Cabe à Rede Pública de aúde, pelo seu corpo
clínico especializado, prestar o atendimento médico para a prática do aborto nos
casos excludentes de antijuridicidade, previstos na legislação penal.
Espírito anto - Artigo 199. Parágrafo único. ão inaceitáveis, por atentar
contra a vida humana, o aborto diretamente provocado, o genocídio, o suicídio, a
eutanásia, a tortura e a violência física, psicológica ou moral que venham a atingir a
dignidade e a integridade da pessoa humana.
"Em 1989, por ocasião da elaboração das Constituições Estaduais" (ver Artigo
11 das Disposições Transitórias da Constituição Federal de 1988) "por pressão do
movimento de mulheres, a questão do aborto foi tratada, em alguns estados, de
forma a garantir a atenção na rede pública hospitalar para mulheres com indicações
legais para interromper a gravidez" 22 .
21
Barsted, CLADEM, 1995, p. 397
22
Barsted, CLADEM, 1995, p. 399
redação do artigo 125 (aborto sem o consentimento d a gestante). Propunha
alteração ao artigo 126, considerando o aborto provocado com o consentimento da
gestante como crime somente se praticado depois de 90 dias de gestação. Incluía
parágrafo para não aplicação da pena prevista se o aborto fosse provocado por
relevante valor social ou moral. Ampliava, ainda, os permissivos legais do artigo 128,
para incluir os casos de anomalia fetal grave .
Bartsed chama a atenção para o f ato de que, "o debate lega l sobre o aborto,
durante todo esse tempo, utilizou categorias como "descriminalizar" e "legalizar" .23
1) Projeto de Lei No. 2.023, do deputado federal Eduardo Jorge, que permite
a prática do abortamento nos termos do Artigo 128, I do Código Penal, sempre que a
mulher estiver contaminada pelo vírus HIV;
2) Projeto de Lei 1.0 97, do deputado Nobel Moura, que legaliza o aborto até a
décima semana de gestação, tornando -o livre, e até a vigésima quinta semana, nos
casos de previsão de anomalia física ou psíquica grave ou incurável do feto.
Estabelece, ainda, que o aborto é permiti do, com qualquer idade gestacional, nos
casos já previstos pelo Artigo 128 do Código Penal: risco de vida da mãe e estupro;
3) Projeto de Lei No. 1.104, dos deputados federais Eduardo Jorge e andra
tarling, que dá nova redação ao Artigo 131, II da Consol idação das Leis do
23
Barsted, CLADEM, 1995, p 400
Trabalho - CLT, tornando compulsório o licenciamento da empregada, inclusive por
motivo de aborto, bem como salário -maternidade custeado pela Previdência ocial;
4) Projeto de Lei No. 1.135, também dos deputados Eduardo Jorge e andra
tarling, que suprime o Artigo 124 do Código Penal, que trata do aborto provocado
pela gestante e do consentimento dado por ela para que outra pessoa o provoque,
estando em conformidade com a reivindicação feminista, expressa, inclusive, no
documento entregue às lideranças do Congresso Nacional em março de 1990.
5) Projeto de Lei No. 1.174, de Eduardo Jorge e andra tarling, que amplia
as hipóteses de aborto legal previstas no Artigo 128 do Código Penal. Ao inciso I,
que atualmente se refere ao perigo de vid a da gestante, acrescenta o perigo para a
saúde física ou psíquica da gestante. Introduz o seguinte inciso que passa a ocupar
o lugar do antigo inciso II (que vira III): "se for constatada no nascituro enfermidade
grave ou hereditária ou se alguma moléstia ou intoxicação ou acidente sofrido pela
gestante comprometer a saúde do nascituro;
7) Projeto de Lei No. 2.023, de 1991, de Eduardo Jorge, que permite a prática
do abortamento nos termos do Artigo 128, I do Código Penal, sempre que a mulher
estiver contaminada pelo vírus HIV.
24
Barsted, CLADEM, 1995, p. 400.
25
Barsted, CLADEM, 1995, p. 401
destinada a proferir parecer à PEC 20/95, na qual médicos, juristas, feministas,
profissionais da área da saúde, representantes da igreja, do governo e outros
prestaram seus depoimentos.
4) a posição oficial dos representantes dos três Ministérios que aqui vieram,
aúde, Justiça e Relações Exteriores, é unânime no sentido da rejeição;
5) não fosse tudo isso, conforme tantas vezes frisado perante essa Comissão,
o Brasil é composto por uma sociedade plural, por várias raças, diferentes crenças e
diversas realidades. Não seria democrático impedir que a sociedade, em sua
totalidade, tivesse sua pluralidade respeitada ou ainda impedir que todos
26
Maria Isabel Baltar Rocha. Congresso Nacional e a Questão do Aborto: relatório preliminar de
pesquisa. 1994. (mimeo), p. 38.
participassem do debate sobre temas polêmicos do seu interesse sempre que no
futuro surgir oportunidade. Por ou tro lado, como constitucionalizar temas morais e
éticos.
No ano de 1997, a discussão sobre o projeto de lei 20/91, que trata do aborto
legal na rede pública de saúde, toma conta do debate legislativo. Projeto que, na
verdade, não altera o "status" legal do aborto, mas somente operacionaliza um
direito que há 57 anos encontra -se consagrado no código Penal brasileiro e não é
garantido, na prática, às mulheres.
27
Maria Isabel Baltar Rocha. Congresso Nacional e a Questão do Aborto: relatório preliminar de
pesquisa. 1994. (mimeo), p. 38-41.
Quanto à saúde e, especificamente, ao aborto, a Carta estabelecia: erá
garantido à mulher o direito de conhecer e decidir sobre seu próprio corpo;
1) Pede a revogação do Artigo 124 do Código Penal, que trata do abo rto
provocado pela gestante ou com o seu consentimento, com a seguinte justificativa:
4) Requer reformulação do Artigo 128, o qual trata dos casos em que não se
pune o aborto inicialmente. A princípio, havia sido incluso apenas um novo inciso
sobre o aborto por anomalia fetal grave. Após reflexão mais cuidadosa a respeito e o
conhecimento do texto do projeto de lei No. 1174, de 1991, dos deputados Eduardo
Jorge e andra tarling, também foi pedida retificação do artigo e de seu inciso I.
Importa deixar claro que é legal o aborto nos casos especificados e não
apenas impunível. Importa inclusive alargar e enriquecer o conceito de vida como o
fizeram brilhantemente os autores do projeto. Vale ainda dizer que esta formulação
28
Maria Isabel Baltar Rocha. p. cit. 38-41.
abrange os casos de gestante portador a do vírus HIV, preocupação também do
deputado Celso Bernardi, expressa no projeto de lei No. 3.005, de 1992:
Tendo em vista que o direito previsto no Código Penal não tem sido
implementado e que somente cerca de oito hospitais em todo o Brasil realizam o
abortamento legal, o projeto pretende determinar a obrigatoriedade de sua prática na
rede de saúde pública de todo país, garantindo assim o exercício desse direito a
todas as mulheres e especialmente às pobres, que não podem recorrer às clínicas
particulares que, beneficiando -se do comércio clandestino, praticam abortos legais e
ilegais.
Projeto de Lei No. 78, de 1993, de Eva Blay - O projeto segue, em sua maior
parte, os termos do su bstitutivo ao PL No. 1097/91, apresentado pela deputada
Jandira Feghali, com pequenas alterações.
Projeto de Lei No. 3.609, de 1993, de José Genoíno - Torna livre a opção pela
interrupção da gravidez até 90 dias de idade gestacional, bastando para tanto a
reivindicação da gestante. Também prevê que os hospitais públicos e aqueles
conveniados com a Rede Pública serão obrigados a prestar atendimento a mulheres
que desejarem a realização do aborto, obedecendo aos termos da lei.
29
Maria Isabel Baltar Rocha. p. cit. 38-41.
Proposta de Emenda Constituciona l No. 20, de 1995, de everino Cavalcanti -
A exemplo do lobby evangélico da época da Assembléia Constituinte, pretendia
incluir no texto constitucional a garantia da inviolabilidade do direito à vida "desde a
concepção", dando nova redação ao caput do Art igo 5o. da Constituição Federal de
1988
Projeto de Lei No. 432, de 1993, de Bia Pardi (ão Paulo) - Penaliza o
atendimento desumano e desrespeitoso nos hospitais e postos na rede pública às
pacientes necessitadas de assistência para tratamento do aborto incompleto, bem
como para a prática do abortamento em casos permitidos pela legislação penal.
Projeto de Lei No. 195, de 1992, de Marcos Rolim (Rio Grande do ul) -
Determina a obrigatoriedade de atendimento médico para o procedi mento de
abortamento nas unidades hospitalares e ambulatoriais pertencentes ou
conveniadas à Rede de aúde Pública do Estado do Rio Grande do ul, nos casos
de antijuridicidade previstos na legislação.
Projeto de Lei No. 28, de 1991, de Gilmar Machado (Min as Gerais) - Dispõe
sobre a obrigatoriedade de atendimento nos casos de aborto previstos no Código
Penal, pelo istema Único de aúde (Artigo 128 CP). Institui uma Comissão
Multiprofissional em cada unidade hospitalar, constituída por cinco servidores,
atribuindo-lhes o dever de emitir parecer, quando solicitados a se manifestar sobre
os documentos apresentados pela gestante.
Diz ainda Ardaillon - o fato dos Júris não punirem as acusadas não significa
que sejam favoráveis às mulheres. Por sua vez, a sociedade que abriga ao mesmo
tempo um judiciário ambivalente em relação ao aborto, tanto nas intenções
condenatória e absolutória dos seus membros, como nas decisões de júris pouco
propensos a condenar, e mulheres que enfrentam sistematicamente o desrespeito
de sua cidadania e o desprezo para com seu corpo reprodutor, está mostrando os
seus problemas. (1997:164):
Vale ressaltar, por fim, que dentro do período estabelecido para a presente
investigação, "o Júri Popular, no estado do Paraná, absolveu uma mulher por prát ica
de aborto, sob a justificativa de que a ré recorreu à interrupção voluntária da
gravidez face ao µestado de necessidade¶, devido à penúria de sua situação
econômica e da existência de uma prole numerosa. Não se poderia exigir da ré, face
a tais situações, que mantivesse a gravidez pondo em risco a própria sobrevivência
dos filhos já nascidos".30
30
Barsted, CLADEM 1995, p. 391.
"
#
`
= ´ ´
a possibilidade de reincidência caso a( o) beneficiada(o) venha a praticar novo crime
posteriormente (§ 4º do artigo 76).
"´
4
,`
`
!$..!".Ë`
!´ ´
inciso III autoriza o aborto quando há fundada probabilidade, atestada por dois
outros médicos, de o nascituro apresentar graves e irreversíveis anomalias físicas ou
mentais. É evidente que a intenção do legislador é obter o aval de outros médicos
para a prática extrema, além daquele externado pelo que venha executar o aborto,
visando assegurar a possibilidade da prática somente nos casos comprovadamente
necessários, sob o aspecto clínico que se procurou preservar. 33
Parto parcial - Nesse caso, puxa-se o bebê para fora, deixando apenas a
cabeça dentro, já que ela é grande demais. Daí, introduz -se um tubo em sua nuca,
que sugará a massa cerebral, levando-a à morte. ó então o bebê consegue ser
totalmente retirado.
""
`
Aborto Provocado - O aborto provocado é todo aquele que tem como
causador um agente externo, que pode ser um profissional ou um "leigo" que utiliza
as seguintes técnicas:
ucção ou Aspiração - O aborto por sucção pode ser feito até a 12ª semana
após o último período menstrual (amenorréia). Este aborto pode ser feito com
anestesia local ou geral. Com a local a paciente toma uma injeção intramuscu lar de
algum analgésico. Já na mesa de operação faz um exame pra determinar o tamanho
e a posição do útero. e for anestesia geral, toma -se uma hora antes da operação
uma injeção intramuscular de Thionembutal. Inicia então uma infusão intravenosa. O
Thionembutal adormece o paciente e um anestésico geral por inalação como o
Óxido de Nitroso é administrado através de uma máscara. A partir daí o
procedimento é o mesmo da anestesia geral e local. O colo do útero é imobilizado, e
lentamente dilatado pela inserçã o de uma série de dilatadores cervicais.
Aborto necessário - Diz o artigo 128 que ³não se pune o aborto praticado por
médico: se não outro meio de salvar a vida da gestante´ é também chamado de
aborto terapêutico que na verdade é uma forma de estado de necessidade, pois os
seus requisitos são: perigo atual ou iminente de vida da gestante e a inexistência de
outro meio para salvá-la, dentro desse contexto, admitimos que o chamado aborto
necessário, na falta de médico, poder ser realizado por qualquer pessoa, nos
termos do artigo 23, I e 24 do CP.
Aborto humanitário - Diz o artigo 128 que ³não se pune o aborto praticado por
médico: se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal´, também conhecido
como aborto ético ou sentimental.
Por fim, o aborto somente ocorre antes do início do parto, dif erentemente do
infanticídio que ocorre durante ou logo após o parto.
K
Aborto provocado pela gestante ou com seu consenti mento. O tipo penal
previsto no artigo 124 do Código Penal traz dois verbos, o primeiro provocar,
significa promover, causar, produzir o aborto, a gestante provoca em si mesma a
interrupção da gravidez. O segundo verbo consentir, que significa anuir, permi tir,
tolerar que terceiro provoque o aborto. Quando a gestante pratica ou consente que
terceiro pratique o aborto, a gestante responde pelo crime previsto no Artigo 124,
enquanto o terceiro que pratica o aborto com o consentimento da gestante responde
pelo crime previsto no artigo 126, é exceção à regra contida no artigo 29 do código
Penal. Entretanto, se o terceiro instiga, indica o local, paga ou conduz a gestante
para fazer o aborto, responderá pelo tipo previsto no artigo 124 c/c o artigo 29 do
Código Penal.
34
4
,
!´ "!
resultados do referendo de 2007, com efeito prático 5 dias depois. No entanto o
governo ainda terá de regulamentar a lei dispondo de 90 dias para tal.
35
Nelson Hungria. omentários ao ódigo Penal. p. 206.
No ano de 1970, a texana Norma McCorvey, conhecida mundialmente como
Jane Roe, recorreu à uprema Corte ± a mais alta instância jurídica dos EUA ± para
reivindicar o direito de abortar. Roe era uma mulher solteira, pobre, drogada e à
margem da sociedade.
Não sabia nem mesmo quem era o pai do seu filho. Até antes de 1973, a
pena no Texas para quem praticasse aborto era de cinco anos de prisão. Como o
processo se estendeu por três anos, Roe acabou não abortando e seu filho foi
adotado.
A lei federal do aborto legal não impõe nenhuma restrição até o momento em
que o feto se transforme em ³viável´, ou seja, quando é potencialmente capaz de
viver fora do útero materno sem ajuda artificial.
ua época refletia ainda o auge do movimento feminista nos EUA e da luta
pelos direitos civis. No verão de 1969, Norma McCorvey, vivia em Dallas. Não
conseguia, portanto, encontrar um médico disposto a interromper a gestação do feto.
Finalmente acabou encontrando duas jovens advogad as recém formadas, arah
Weddington e Linda Cofee, que colocaram o nome fictício de Jane Roe para
representá-la em um processo contra as leis do Texas, que negava -lhe o direito de
interromper sua gravidez. Roe alegou que sua gravidez foi o resultado de um
estupro.
Desde que a lei do aborto fora aprovada nos EUA, hoje, mais do que nunca, a
cruzada reacionária e obscurantista contra este direito está a todo vapor. ó nos
últimos anos, por exemplo, extremistas de direita e fanáticos católicos já mataram
médicos e empregados de clínicas. Muitas clínicas foram alvo de bombas e
incendiadas.
36
Planned Parenthood of outheastern Pennsylvania v. Casey, 1992
Já nesta época se autorizava o aborto antes que se começasse a sentir os
movimentos do bebê dentro da barriga.
O caso ficou conhecido como Griswold contra Connecticut. Era mais um caso
entre as dezenas de outros em todo País que tiveram de ser revisados pela
uprema Corte após a legalização. Desde a sua legalização, o gover no não podia
mais interferir nas decisões pessoais a respeito da procriação, do casamento e de
outros aspectos da vida familiar. Foi estabelecido que qualquer lei de restrição ao
controle de natalidade violava o direito da privacidade.
Por sete votos a favor e dois contra, o juiz Harry Blackmun, autor do caso,
decretou a legalidade do aborto. É necessário destacar aqui que um mero decreto
decidido por um juiz pago pelo Estado não significa de forma alguma a decisão de
um único ser supremo que, isoladamente, decidiu legalizar o aborto e mudar a
história.
Um marco para a história dos EUA está muito longe de ser o resultado da
ação de um único homem, mas, muito pelo contrário, refletiu o exato ponto de
inflexão da situação política nos EUA e o movimento revolu cionário das classes
sociais.
Lei só pode ser garantida com a luta das mulheres - Não só a Igreja, mas esta
ofensiva contra o aborto conta com o apoio dos mais altos níveis do governo desde
a vitória do caso. Impõem-se restrições ao financiamento e acesso ao aborto. Assim,
a partir do final dos anos 80 e começo dos 90, a uprema Corte deu aos estados o
direito de restringir o aborto. e por um lado homens como Ronald Reagan, George
Bush (pai e filho) são abertamente contra esta prática, por outro, o democra ta Bill
Clinton se coloca a favor, mas faz pouco caso.
Além disso, a campanha contra o aborto nos EUA e no mundo não é um caso
isolado, mas faz parte de toda uma operação ultra -reacionária da burguesia contra a
população. Os ataques sempre são direcionados às mulheres, negros, imigrantes,
que são censurados, reprimidos, perseguidos, cuja única intenção é impor a
supremacia do homem branco anglo -saxão protestante, modelo da moral cristã
fundamentalista financiada pelo imperialismo.
K
K K c
37
5
!
informações científicas e técnicas disponíveis. Portanto, seria impossível o legislador
ter incluído entre as hipóteses excludentes de ilicitude a realização de aborto diante
de diagnóstico de má-formação grave e irreversível, incompatível com a vida
autônoma,
Nesse sentido o mestre José Afonso da ilva 39 afirma que a vida, indicada e
protegida como direito fundamental no caput do Artigo 5º da CF/88, não será
considerada apenas no seu sentido biológico, compreendido como incessante
auto-atividade funcional, mas na sua acepção biográfica mais compreensiva, que
alguns autores denominam de vida de relação.
38
#:
!´ ´)
39
1#9
`!$$".
Assim sendo, não basta falar em direito à vida, para que se realize
plenamente, em todas as suas potencialidades, deve se desenvolver em condições
dignas. Entretanto, admite -se que o critério da dignidade é relativo, devendo-se
analisar a conjuntura política, religiosa e socioeconômica existente. endo um
conceito jurídico indeterminado se faz necessária a integração normativa ao caso
concreto, para que o julgador aprecie se a dignidade está sendo respeitada por
todos e assegurada pelo Estado em cada caso. 40
)
3
!$$$%6%
41
,#
+
`
!$$%.6$
42
`
!)
43
/
*
9
;#9
9
0
44
'! 1
* < 9
16
,!
9
9
2
! 1
*
Conforme o tratamento dado ao nascituro pela legislação civil, verifica -se que
ao mesmo se atribui apenas a chamada personalidade formal, garantias ao
desenvolvimento ininterrupto e adequado da vida, pois até que ocorra o nascimento
com vida existe apenas uma expectativa de vida plena e autônoma, extra -uterina,
que poderá não se concretizar, por isso alguns ainda se referem ao nascituro como
spes personae 45.
45
,#
+`
!´
46
4
,
!´ "$
47
&'
&
- #1>/
#
&!´
È)
O aborto pode ser espontâneo ou natural, resultado de causas mórbidas de
várias categorias, problemas de saúde da gestante, que provocam a morte fetal e a
expulsão do produto da concepção. Tratando -se efetivamente de causa patológica,
a matéria permanece no âmbito da terapêutica e da profilaxia, trata -se de matéria de
ordem clínica. Existe ainda o aborto acidental conseqüente a circunstâncias
eventuais, em que fatores traumáticos, tóxicos ou infecciosos provoquem a morte do
feto, também essa modalidade não é punível. 48
48
(
&&'
(
!$$".
49
,#
+`
!È
ovário, fímbria, trompas, parede uterina tendo como conseqüências entre outras o
aborto tubário. A gravidez molar (patológica) é a formação degenerativa do ovo
fecundado. A interrupção da gravidez extra-uterina não é aborto, pois o produto da
concepção não atingirá a vida própria, a gravidez não pode chegar a termo;
sobrevirão, antes, conseqüências muito graves, matando a mulher, ou pondo em
sério risco sua vida. A expulsão da mola também não é crime, já que não existe
vida, não tem possibilidade de destino humano. 50
Odon Ramos Maranhão 52 diz que a morte é a cessação da vida, mas que tal
assertiva não tem qualquer significado, pois não sabemos o que é a vida. abe-se
que a vida se expressa por um complexo e dinâmico conjunto de fenômenos
bioquímicos regidos por leis fixas, que normalmente se traduz num equilíbrio
biológico e físico-químico. Quando a morte ocorre, essas leis deixam de ser válidas
e o corpo inerte passa a ser um cadáver e sofre influências de ordem física, química
e microbiana. Contudo, a morte não deve ser entendida como fato instantâneo, mas
como processo, pois órgãos, sistema, tecidos etc não morrem ao mesmo tempo.
50
&'
&`
!ÈÈ
51
'
8
'
!$)´!È!´.
52
(
&`
!´"6´
Para efeitos jurídicos, se faz necessário firmar um termo inicial da vida e outro
final, indicativo do evento morte. Para tal os juristas recorrem à ciência que nos
apresenta dois conceitos de morte: morte clínica ou cardiorrespiratória e a morte
encefálica.
53
4#
!
` Ë
´ )
Conforme Alvarenga 54 leva a entender que as classe diretamente envolvidas
nas discussões sobre o tema (Igreja, ociedade Feministas, médicos e políticos),
ninguém lembra da questão até que ela esteja bem próxima. O fato é que, como o
Código Penal somente prevê legalidade para o aborto em duas situações quando
tratar de encefálico ou ao trazer riscos para a mãe, a cada ano são realizados no
Brasil cerca de um milhão e quatrocentos mil de abortos ilegais dos quais seiscentos
mil sofrem complicações como hemorragias, infecções, câncer de útero e até
esterilidade, quando não há mortes 55.
54
4#
!(!´ )
55
Malu Oliveira e Gleides Pamplona. Ëborto: surto de hipocrisia., 1994, p. 40-42
própria doação de órgãos. Não se trata, nesse caso de interrupção da vida
56
por defeito ou formação, ou para se prevenirem sofrimentos´.
56
Warley Rodrigues Velo. Ëborto: considerações jurídicas e aspectos correlatos. 1999. p. 100.
57
?=
`
!
58
c
59
6'
%
5
-@A+`
!6´
Até mesmo se admitirmos o seu funcionamento, que cientificamente é
possível através do chamado sistema autônomo, ainda assim ele não excederia a
uma vida de dois ou três dias num ambiente extra -uterino.
Desta forma, afirma-se ser o feto acéfalo, morto cerebral, que chegando a
nascer, só estará a espera do desligamento de sua mãe para que se consume sua
morte clínica. A gravidez pode ser interrompida licitamente, inclusive sem
necessidade de autorização judicial, pois se trata do exercício regular de um direito,
não havendo vida intra-uterina, a interrupção da gravidez será conduta atípica. Não
houve morte dolosa, a afecção mórbida apresentada pelo feto independe de
qualquer prática realizada pela gestante ou por terceiro.
60
4#
24
`
K K
Kc c ccK
GALVÃO, Pedro -
. Lisboa: Dinalivro,
2005.
JEU, Damásio E. de
, 10. ed., ão Paulo: araiva,
1988, v. 2, p. 138.
NORONHA, E. Magalhães.
. at. Adalberto José Q. T.
de Camargo Aranha, v. 2, ão Paulo: araiva, 2000.
VERPIEREN, Patrick.
. Reflexión ética. In:
BELO, Warley Rodrigues. p. cit., p. 106.