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Augé, Marc. Não Lugares Introdução A Uma PDF
Augé, Marc. Não Lugares Introdução A Uma PDF
Apresentação
Traduzido para a língua portuguesa por Maria Lúcia Pereira e editado pela Editora
Papirus/Campinas (SP), em 2012, a obra de Marc Augé, professor na École des Hautes
Études en Science Sociales, traz ao público brasileiro uma intrigante reflexão sobre o papel
daqueles lugares nos quais permanecemos em trânsito, em espera ou apenas de passagem.
Não lugares se consolidam na contemporaneidade supermoderna e tendem a exercer uma
espécie de efeito dissolvente sobre a maneira pela qual nós nos relacionamos ou pensamos
nossa identidade e a representamos.
Essa desconcertante constatação opera uma verdadeira mutação na análise
antropológica na medida em que a localização e a interação dos indivíduos que formam
comunidades, suas relações de identidade e seus espaços de representação compartilham e
ultrapassam matrizes espaciais específicas das culturas e apresentam outras mediações
marcadas pela presença de não lugares que se intensificaram recentemente.
Não lugares é o termo que Marc Augé emprega para designar um espaço de passagem
incapaz de dar forma a qualquer identidade. Para trabalhar com o conceito de não lugares,
Augé inicia sua obra discutindo como a Antropologia analisa e interpreta a sociedade atual.
Segundo o autor “a Antropologia sempre foi uma Antropologia do aqui e do agora.”
Em Não lugares, Augé define a questão da Antropologia da contemporaneidade tanto quanto
a da supermodernidade, poder-se-ia dizer que esse é “o lado ‘cara’ de uma moeda da qual a
pós-modernidade só se nos apresenta como o lado ‘coroa’ – o positivo e o negativo e o
negativo respectivamente”. (AUGÉ, 2012, p.33).
Augé procura realizar uma reflexão renovada sobre a Antropologia na
contemporaneidade ante o deslocamento de uma discussão que deslizou do método para se
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Lamia Jorge Saadi Tosi, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da FFC / UNESP –
Marília na área de concentração Cultura, Identidade e Memória. e-mail: lamiajorgesaadi@yahoo.com.br
fixar no objeto, um objeto que requer novos métodos. É dessa mudança de foco, que o autor
se afasta do termo pós-modernidade, e elege a palavra supermodernidade para discutir a ideia
de comunidade como modalidade de vida mediada pelos laços de solidão.
A supermodernidade se distingue por meio daquilo que o autor chama de “figuras de
excesso”, ou seja, a superabundância espacial e a individualização das referências, que nos
remetem à necessidade de compreender a transformação das categorias de tempo, de espaço e
de indivíduo. A transformação operada nos objetos pela supermodernidade coloca em
discussão o próprio estatuto da Antropologia e sua capacidade de apreender sociedades
complexas em movimento.
Augé rejeita o termo pós-modernidade porque seu emprego, notadamente pela
antropologia norte-americana, confere uma noção de ruptura inexistente. Enquanto o termo
supermodernidade indica continuidade e possibilidade de apreensão desses objetos quando
não se abandona a temporalidade e quando os colocamos justamente como mais do mesmo. O
autor entende, ainda, que o termo pós-modernidade é limitante na medida em que é mais
descritivo do que analítico, mais enunciador de diversidades humanas e sociais do que
sinalizador daquilo que não pode ser entendido de forma fixa, mas se constitui em traço
comum na cultura e na identidade dos seres humanos. Ademais, supermodernidade promove
um retorno a elementos de nossa cultura que estão presentes desde o século XVIII.
Para conferir algum sentido ao presente, o autor trabalha com hipótese da renovação
da categoria tempo que, para ele, se concretiza no aceleramento da história pelo excesso de
informações e das interdependências do “sistema mundo”. É nesse sentido que ele se
contrapõe à perspectiva pós-moderna para a qual atribui a chancela da perda da
inteligibilidade da história em virtude da decadência da ideia de progresso.
Augé afirma que o excesso de espaço remete paradoxalmente ao encolhimento do
mundo, e essa aparente ambiguidade altera escalas que incidem, em termos planetários, sobre
concentrações urbanas, migrações populacionais e contribuem para a produção de não
lugares. Esses não lugares se materializam: nos aeroportos, nas vias expressas, nas salas de
espera, nos centros comerciais, nas estações de metrô e também nos campos de refugiados, ou
seja, “lugares” por onde circulam muitas pessoas e bens, cujas relações são incapazes de
criarem identidade de grupo.
A terceira categoria de excesso constitui-se na pessoa do indivíduo na medida em que
ele - na terceira pessoa - acredita estar no centro do mundo, colocando-se como referência
para interpretar as informações que lhes chegam. Mas essa tradução individual do mundo é
incapaz de tecer representações coletivas.
Para o autor a pesquisa antropológica tem por objetivo saber compreender a forma de
interpretação que “outros” fazem da categoria do outro, nos diferentes níveis que se situam o
lugar dele e se impõem suas necessidades.
A segunda ocorrência diz respeito ao mundo onde a Antropologia descobre seus
objetos e principalmente ao mundo contemporâneo. O mundo contemporâneo que, devido às
suas transformações aceleradas, chama o olhar antropológico sobre a categoria alteridade.
Pode-se pensar a alteridade sobre três transformações de organização social.
A primeira diz respeito, não somente a percepção do tempo, mas ao uso que fazemos
dele, como dispomos desse tempo. O ideal de progresso humano é descaracterizado perante as
guerras, genocídios, intolerância e violência.
A categoria tempo, devido ao mundo hight tec, é acelerada. Hoje, o ontem já é
História, tudo se torna acontecimento e que, por haver tantos fatos, já nada é acontecimento.
Um objeto pode ser analisado de múltiplas formas, isso se dá devido à busca do ser humano
em conferir sentido ao mundo.
Para Augé:
é, portanto, por uma figura do excesso – o excesso de tempo – que se definirá
primeiro, a situação de supermodernidade, sugerindo que, pelo próprio fato de suas
contradições, ela oferece um magnífico campo de observação e, no sentido lato do
termo, um objeto para a pesquisa antropológica. (AUGÉ, 2012, p.32-33).
Dessa forma, organizar o mundo a partir da categoria tempo já não tem mais sentido.
A segunda transformação acelerada, própria do mundo contemporâneo é a figura do
excesso. Do excesso de espaço às constantes transformações espaciais, à mobilidade social, à
troca de bens e serviços e ao enorme fluxo de informação, todos nos levam a pensar que o
mundo encolheu.
Assim o autor nos ensina:
Os não lugares são tanto as instalações necessárias à circulação acelerada das
pessoas e bens (vias expressas, trevos rodoviários, aeroportos) quanto os próprios
meios de transporte ou os grandes centros comerciais, ou ainda os campos de
trânsito prolongado onde são alojados ou refugiados do planeta. (AUGÉ, 2012,
p.36).