Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO Os Maias PDF
RESUMO Os Maias PDF
Tal como acontecera com o classicismo, também o romantismo sofreu uma evolução
que, levada até às últimas consequências, assinala um forte desequilíbrio.
Manifesta um predomínio da emoção, da exaltação do espírito, da melancolia que vai
levar ao tédio da vida e, consequentemente, ao desejo da morte, ao fatalismo.
A natureza é triste e vai até ao domínio do tétrico, do macabro, com fantasmas,
sepulturas, ajustando-se assim ao estado de alma do poeta. Afirma-se o gosto pelo melodrama
tão longe do equilíbrio do drama romântico.
Assiste-se a um excesso de sentimentalismo, tornando-se as poesias maçadoras,
enfadonhas, de horizontes muito limitados.
Aqui e ali, sente-se uma certa religiosidade que está, muitas vezes, ligada à magia, à
crença num regresso das almas a este mundo.
O medievalismo conduz ao predomínio de uma poesia de carácter popular mais
espontânea e de gosto arcaizante: as xácaras, os solaus, as trovas, as cantilenas.
O vocabulário é rebuscado, com termos eruditos (cerúleo, purpúreo, hircano,
gemebundo, carme…), mas pobre, com um acentuado preciosismo de linguagem encostada
aos clássicos.
A sintaxe é pobre, afectiva, de tipo feminino, com anacolutos, exclamações,
reticências. Abundam as metáforas e a versificação monótona.
A GERAÇÃO DE 70
CARACTERÍSTICAS DO REALISMO
Estava, pois, definitivamente preparado o clima para a eclosão do realismo entre nós.
Parte dos objectivos da escola vimo-los já enunciados, por Eça, na sua conferência do
Casino:
• «É a proscrição do convencional, do enfático, do piegas».
Proclama uma literatura arejada, sã, positiva, com uma natureza soalheira, viva,
matizada, aberta à observação e não propensa ao devaneio.
• «É a crítica do homem»
É a arte que vai reformar, moralizando, quando põe a nu os podres de uma
sociedade que a arte dos clássicos e o sentimentalismo dos românticos tinham
deixado camuflados. («Cacher l’imaginaire sous le réel« – Zola)
REALISMO/NATURALISMO
REALISMO
ROMANCE REALISTA
NATURALISMO
O Naturalismo surge muito próximo do Realismo e chega a ser confundido com ele.
Mas, se tem semelhanças, também tem diferenças. O Naturalismo pode definir-se como uma
concepção filosófica que considera a Natureza como única realidade existente, recusando
explicações que transcendam as ciências naturais. Graças às teorias positivistas e
experimentais, passa a interessar-se pelo estudo analítico. Não lhe bastam os quadros
objectivos da realidade, mas analisa também as circunstâncias sociais que envolvem cada
personagem.
Como num laboratório de ciências médico-biológicas, a obra naturalista procura
explicar as suas personagens através da análise aos problemas e doenças hereditárias, aos
antecedentes familiares, à sua educação, ao meio social em que foram criadas e em que
desempenham as suas actividades ou a sua posição económica.
ROMANCE NATURALISTA
Estas duas faces da obra não se opõem entre si, antes se interpenetram, formando um
todo.
Intriga secundária:
Pedro, único filho de Afonso e de Maria Eduarda Runa, apaixona-se fatalmente por
Maria Monforte, mulher bela que aparece em Lisboa, acompanhada pelo pai, que enriquecera
com o tráfico de negros.
Contra a vontade de Afonso, Pedro casa com Maria Monforte e dela tem dois filhos,
Maria Eduarda e Carlos Eduardo.
O casal vive faustosamente em Lisboa, no palacete de Arroios e, um dia, Pedro traz
para casa um belo príncipe italiano com quem Maria Monforte foge, levando consigo a filha,
Maria Eduarda. Nesse mesmo dia, Pedro corre para o palacete de Benfica, reconcilia-se com o
pai, após quatro anos de separação, entrega-lhe o filho que Maria lhe deixara, e suicida-se
cobardemente.
O palacete é fechado e Afonso da maia parte com o neto para Santa Olávia.
Intriga principal:
E, 1875, Carlos Eduardo, após ter-se formado em Medicina, em Coimbra, vem viver
com o seu avô, Afonso da Maia, no Ramalhete, em Lisboa.
Carlos tenta concretizar os seus projectos profissionais, mas acaba por falhar todos os
seus planos. Entretanto integra-se na elite da capital, frequentando espaços sociais
requintados, onde priva com os importantes do Reino.
É no peristilo do Hotel Central, antes do jantar em honra do banqueiro Cohen, que
Carlos, em companhia de Craft, observa a chegada de Maria Eduarda por quem se apaixona de
imediato.
Depois de várias tentativas para conhecer pessoalmente Maria Eduarda, Carlos convive
com esta, envolvendo-se numa profunda paixão, plenamente correspondida.
É na Toca, situada nos Olivais, comprada a Craft, que os dois apaixonados cometem
involuntariamente o incesto.
O amor de Carlos por Maria Eduarda é tão forte que resiste ao facto de saber que ela
tivera um passado pouco recomendável, havendo mesmo uma filha – Rosicler. No entanto, a
felicidade de Carlos será completamente destruída pelas revelações de uma carta de Maria
Monforte, na qual Maria Eduarda é identificada como filha de Pedro da Maia (irmã de Carlos).
Apesar de conhecer a verdade, Carlos comete incesto de forma consciente e Afonso
morre de desgosto. Sentindo-se extremamente culpado e arrependido, Carlos separa-se
definitivamente de Maria Eduarda, que parte para França.
Carlos viaja para o estrangeiro com o seu amigo Ega e fica a residir em Paris,
regressando a Portugal apenas no ano de 1887.
Pedro Carlos
1 - Vida dissoluta; - Vida dissoluta;
2 Encontro fortuito com Maria Monforte -> Encontro fortuito com Maria Eduarda ->
PAIXÃO PAIXÃO
3 Pedro procura encontro com Maria Carlos procura encontro com Maria Eduarda
Monforte
4 Encontro através de Alencar/ Melo Encontro através de Dâmaso (indirecto)
5 Elemento de Oposição: a negreira -> Elemento de oposição: a amante -> oposição
oposição real de Afonso potencial de Afonso
6 Encontro e casamento Encontro e relações
7 Vida de casados: viagem ao estrangeiro, Vida de relações: viagem ao estrangeiro e
vida social em Arroios, nascimento dos casamento adiados, vida social na Toca
filhos
8 Retardamento do encontro com Afonso Retardamento por causa de Afonso
9 Elemento desencadeador do drama: o Elemento desencadeador da tragédia:
napolitano Guimarães
10 Infidelidade e fuga de Maria Monforte – Descoberta do incesto – reacções de Carlos
reacções de Pedro
11 O DRAMA A IMINÊNCIA DA TRAGÉDIA
12 Regresso de Pedro ao Ramalhete, Encontro de Carlos com Afonso, mudo, sem
diálogo com Afonso e suicídio de Pedro diálogo e motivação para o suicídio de Carlos
13 Motivação para a morte de Afonso Morte de Afonso
A partir deste esquema fácil é verificar o paralelismo existente nas histórias de Pedro e
de Carlos. Contudo, convém destacar algumas diferenças.
Pedro, senhor de uma força romanticamente pertinaz, assume até ao fim o seu papel –
social e racionalmente fraco, emocionalmente entregue a todos os excessos.
Carlos, controlado, em parte, por uma educação positivista à inglesa, parece superar
com maior lucidez e frieza de ânimo o caos afectivo, embora talvez não totalmente (… Carlos
ficara ainda abalado… no fundo do seu coração permanecia, pesada e negra, a memória da
“semana terrível”…»)
A história de Carlos repete, desenvolvendo-a em pormenores indiciais e informativos,
a tragédia de Pedro, retirando-lhe, contudo, a força absurda e cega que conduz, sem desvios
nem falsas esperanças, à destruição completa.
A TRAGÉDIA
Rasgos estruturais da tragédia em Os Maias
1 – A personagem trágica
Carlos e Maria Eduarda destacam-se como figuras eleitas, pertencentes a uma elite,
dotados de qualidades superiores, requintados, seres de excepção, não integrados numa
sociedade grosseira, limitada e suja. Carlos e Maria Eduarda elevam-se ao nível da tragédia
amorosa, definindo-se não como meros tipos sociais, mas como símbolos de uma fatalidade
superior.
3 – Indícios do destino
«… Andava lendo uma novela de que era heróis o último Stuart, o romanesco príncipe
Carlos Eduardo; e, enamorada dele, das suas aventuras e desgraças, queria dar esse nome a
seu filho… Carlos Eduardo da Maia! Um tal nome parecia-lhe conter o destino de amores e
façanhas…» (cap. II)
«… um sopro de paixão, mais forte que as leis humanas, condicionado pela força do
destino…»
«… Carlinhos da minha alma, é inútil que ninguém ande à busca da “sua mulher”. Cada
um tem a “sua mulher”, e necessariamente tem de a encontrar. Tu está aqui, na Cruz dos
Quatro Caminhos, ela talvez em Pequim: mas tu, aí a raspar o meu repes com o verniz dos
sapatos, e ela a orar no tempo de Confúcio, estais ambos insensivelmente, irresistivelmente,
fatalmente, marchando um para o outro!...» (cap. VI)
«… Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome dela, e pareceu-lhe
perfeito, condizendo bem com a sua beleza serena. Maria Eduarda, Carlos Eduardo… Havia
uma similitude nos seus nomes. Quem sabe se não pressagiava a concordância dos seus
destinos!» (cap. XI)
«Mas o velho pôs o dedo nos lábios, indicou Carlos lá dentro, que podia ouvir… E
afastou-se, todo dobrado sobre a bengala, vencido enfim por aquele implacável destino que,
depois de o ter ferido na idade da força com a desgraça do filho – o esmagava ao fim da
velhice com a desgraça do neto.» (cap. XVII)
4 – Indícios da tragédia
«… aludia a uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do
Ramalhete…»
Pedro submete-se a esse destino trágico que o separa e o lança nos braços de Maria
Monforte que, com a sua fuga, o conduz ao suicídio. O próprio Carlos, educado num ambiente
saudável de positivismo, não escapa à influência da onda trágica que vem envolvendo a
família. Ega, ironizando, profetiza-lhe – tal com Don Juan – um fim trágico:
«Para perceber este caso, de um carácter nobre apanhado dentro de uma implacável
rede de fatalidades, seria necessário um espírito mais dúctil, mais mundano que o do avô… O
velho Afonso era um bloco de granito: não se podiam esperar dele as subtis discriminações de
casuísta moderno.» (cap. XV)
«Mas Maria Eduarda não gostou destes amarelos excessivos. Depois impressionou-se,
ao reparar num painel antigo, defumado, ressaltando em negro do fundo de todo aquele oiro
– onde apenas se distinguia uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro de um
prato de cobre. E para maior excentricidade, a um canto, de cima de uma coluna de carvalho,
uma enorme coruja empalhada fixava no leito de amor, com ar de meditação sinistra, os seus
dois olhos redondos e agoirentos…» (cap. XIII)
«- Há três anos, quando o sr. Afonso me encomendou aqui as primeiras obras, lembrei-
lhe eu que, segundo uma antiga lenda, eram sempre fatais aos Maias as paredes do
Ramalhete. O sr. Afonso da Maia riu de agouros e lendas… Pois fatais foram!» (cap. XVII)
De facto, tudo parece condenar a ligação dos dois amantes: a sociedade, o pretenso
marido de Maria Eduarda, a revelação da mentira, o «puritanismo» de Afonso e a própria
consciência dos dois amantes.
Logo aquando de um dos primeiros encontros na Rua de S. Francisco, Maria Eduarda
afirma ser portuguesa, mas recusa-se a falar do seu passado.
Carlos encontra em Maria Eduarda semelhanças com o avô.
«Foi um encanto para Carlos quando Maria o associou às suas caridades, pedindo-lhe
para ir ver a irmã da sua engomadeira, que tinha reumatismo, e o filho da srª Augusta, a velha
do patamar, que estava tísico. Carlos cumpria esses encargos com o fervor de acções
religiosas. E nestas piedades achava-lhe semelhanças com o avô.» (cap. XI)
Ela, por sua vez, refere-se à parecença dele com a sua mãe. Maria Eduarda «nascera»
em Viena; Carlos sabia da «morte» da mãe e da irmã também em Viena.
A propósito da «hipotética morte» da filha de Pedro e Maria Monforte, facilmente se
verifica que o leitor é induzido em erro e levado a pensar que essa criança morreu. Contudo, se
o leitor estiver atento, facilmente chegará à conclusão de que a criança morta não é a filha de
Maria Monforte e de Pedro, senão comparemos as descrições das respectivas crianças:
De destacar ainda a importância dos nomes das personagens: Maria Eduarda Runa,
Maria Eduarda e Carlos Eduardo.
«…Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome dela; e pareceu-lhe
perfeito, condizendo bem com a sua beleza e serenidade. Maria Eduarda, Carlos Eduardo…
Havia uma similitude nos seus nomes. Quem sabe se não pressagiava a concordância dos seus
destinos…»
«… Carlos achava lindo este nome de Niniche. E era curioso, tinha tido uma galguinha
italiana que se chamava Niniche…»
Ao que parece, tudo se conjuga para aproximar as duas personagens de um modo
absolutamente inevitável, como se uma força misteriosa os atraísse irremediavelmente. Ou
então, talvez essa aproximação seja um indício da verdadeira identidade de Maria Eduarda.
OS FIGURANTES DE OS MAIAS
Alencar/ Ega:
Literatura
Cruges: Portuguesa Craft:
Talento não Aristocracia
reconhecido Inglesa
Rufino: Eusébio:
Oratória Educação
«balofa» Portuguesa
Palma
Conde de
«Cavalão»/
Gouvarinho:
Neves:
Política Jornalismo
Dâmaso: Steinbroken/
Corrupção/ filho do Sousa
Decadência Mulheres da Neto:
moral sociedade; Diplomacia
Mulher
portuguesa
EPISÓDIOS
Chás e jantar
Corridas de Sarau no
Jantar no Hotel em casa do No jornal A Passeio final
Cavalos no Teatro da
Central Conde de Tarde de Carlos e Ega
Hipódromo Trindade
Gouvarinho
(cap. VI) (cap. XV) (cap. XVIII)
(Cap. X) (cap. XVI)
(cap.s X e XII)
OS EPISÓDIOS MAIS IMPORTANTES
OBJECTIVOS:
- homenagear o banqueiro Jacob Cohen;
- proporcionar a Carlos um primeiro contacto com o meio lisboeta;
- apresentar a visão crítica de alguns problemas:
- proporcionar a Carlos a visão de Maria Eduarda.
INTERVENIENTES:
- João da Ega, promotor da homenagem e representante do Realismo/ Naturalismo;
- Cohen, o homenageado, representante das Finanças;
- Tomás de Alencar, o poeta ultra-romântico;
- Dâmaso Salcede, o novo-rico, representante dos vícios do novo-riquismo burguês;
- Carlos da Maia, o médico e o observador crítico;
- Craft, representante da cultura artística e britânica.
TEMAS DISCUTIDOS
A LITERATURA E A CRÍTICA LITERÁRIA
Tomás de Alencar: João da Ega
- opositor do Realismo/ Naturalismo; - Defensor do Realismo/
- Incoerente: condena no presente o que cantara no passado – Naturalismo;
o estudo dos vícios da sociedade; - Exagera, defendendo o
- Falso moralista: refugia-se na mora,, por não ter arma de cientificismo na literatura;
defesa: acha o realismo/ naturalismo i moral; - Não distingue Ciência e Literatura.
- Desfasado do seu tempo;
- Defensor da crítica literária de natureza académica:
preocupado com aspectos formais em detrimento da dimensão
temática; preocupado com o plágio.
Carlos e Craft O narrador
- Recusam o ultra-romantismo de Alencar; - Recusa o ultra-romantismo de
- Recusam o exagero de Ega; Alencar;
- Carlos acha intoleráveis os ares científicos do realismo; - Recusa a distorção do Naturalismo
- Carlos defende que os caracteres se manifestam pela acção; contido nas afirmações de Ega;
- Craft defende a arte como idealização do que há de melhor na - Afirma uma estética próxima de
natureza; Craft: «estilos novos, tão preciosos e
- Craft defende a arte pela arte tão dúcteis» - tendência parnasiana
AS FINANÇAS
- O país tem absoluta necessidade dos empréstimos ao estrangeiro;
- Cohen é calculista e cínico: tendo responsabilidades pelo cargo que desempenha, lava as mãos e
afirma alegremente que o país vai direitinho para a bancarrota.
A HISTÓRIA E A POLÍTICA
João da Ega Tomás de Alencar
- Aplaude as afirmações de Cohen; - Teme a invasão espanhola: é um perigo para a
- Delira com a bancarrota como determinante da independência nacional;
agitação revolucionária; - Defende o romantismo político: uma república
- Defende a invasão espanhola; governada por génios; a fraternização dos povos;
- Defende o afastamento violento da Monarquia; - Esquece o adormecimento geral do país.
- Aplaude a instalação da República;
- A raça portuguesa é a mais covarde e miserável
da Europa;
- «Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há
nada.».
Jacob Cohen Dâmaso Salcede
- Há gente séria nas camadas políticas dirigentes; - Se acontecesse a invasão espanhola, ele
- Ega é um exagerado. «raspava-se» para Paris;
- Toda a gente fugiria como uma lebre.
CONCLUSÕES A TIRAR:
• Falta de personalidade;
- Alencar muda de opinião quando Cohen o pretende;
- Ega muda de opinião quando Cohen quer;
- Dâmaso, cuja divisa é «Sou Forte», aponta o caminho fácil da fuga.
OBJECTIVOS:
- Novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;
- Visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de
Carlos;
- Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;
- Cosmopolitismo (postiço) da sociedade;
- Possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que viu à entrada do Hotel
Central.
AS CORRIDAS:
- 1ª Corrida: a do prémio dos «Produtos»;
- 2ª Corrida: a do Grande Prémio Nacional;
- 3ª Corrida: a do Prémio de El-Rei;
- 4ª Corrida: a do Prémio de Consolação.
VISÃO CARICATURAL:
• O hipódromo parecia um palanque de arraial;
• As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;
• As senhoras traziam «vestidos sérios de missa»;
• O bufete tinha um aspecto nojento;
• A 1ª Corrida terminou numa cena de pancadaria;
• As 3ª e 4ª Corridas terminaram grotescamente.
CONCLUSÕES A TIRAR:
• Fracasso total dos objectivos das corridas;
• Radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;
• O verniz de civilização estalou completamente;
• A sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça.
3 - O JANTAR DOS GOUVARINHOS
OBJECTIVOS:
- Reunir a alta burguesia e aristocracia;
- Reunir a camada dirigente do país;
- Radiografar a ignorância das classes dirigentes.
ALVOS VISADOS
CONDE DE GOUVARINHO: SOUSA NETO:
- Voltado para o passado; - Acompanha as conversas sem intervir;
- Tem lapsos de memória; - Desconhece o sociólogo Proudhon;
- Comenta muito desfavoravelmente as - Defende a imitação do estrangeiro;
mulheres; - Não entra nas discussões;
- Revela uma visível falta de cultura; - Acata todas as opiniões alheias, mesmo
- Não acaba nenhum assunto; absurdas;
- Não compreende a ironia sarcástica do Ega; - defende a literatura de folhetins, de cordel;
- Vai ser ministro. - É deputado.
CONCLUSÕES A TIRAR:
• Superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado;
• Incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.
OBJECTIVOS:
JORNAIS ATINGIDOS
A «CORNETA DO DIABO» «A TARDE»
- O director é o Palma «Cavalão», um imoral; - O director é o deputado Neves;
- A redacção é um antro de porcaria; - Recusa publicar a carta de retractação de
- Publica um artigo contra Carlos mediante Dâmaso porque o confunde com um seu
dinheiro; correligionário;
- Vende a tiragem do número do jornal onde - Desfeito o engano, serve-se da mesma carta
saíra o artigo; como meio de vingança contra o inimigo
- Publica folhetinzinhos debaixo nível. político;
- Só publica artigos ou textos dos seus
correligionários políticos.
CONCLUSÕES A TIRAR:
• Baixo nível;
• A intriga suja;
• O compadrio político;
• Tais jornais, tal país.
5 - O SARAU DA TRINDADE (CAP. XVI)
OBJECTIVOS:
OS ORADORES
RUFINO: ALENCAR:
- O bacharel transmontano; - O poeta ultra-romântico
- O tema do Anjo da Esmola; - O tema da Democracia Romântica;
- O desfasamento entre a realidade e o - O desfasamento entre a realidade e o
discurso; discurso;
- A falta de originalidade; - O excessivo lirismo carregado de conotações
- O recurso a lugares-comuns; sociais;
- A retórica oca e balofa; - A exploração do público seduzido por
- A aclamação por parte do público tocado no excessos estéticos estereotipados;
seu sentimentalismo. - A aclamação do público.
CONCLUSÕES A TIRAR:
• As classes dirigentes alheadas da realidade;
• Uma sociedade deformada pelos excessos líricos do Ultra-Romantismo;
• Tal oratória, tal país.
O último capítulo funciona como o epílogo do romance, dez anos depois de acabada a
intriga. O passeio final de Carlos e Ega em Lisboa ocorre dez anos depois dos episódios até
agora analisados. É semelhante aos outros nos objectivos críticos e diferente porque tem uma
dimensão ideológica e o processo de representação é de carácter simbólico. Os espaços
percorridos estão impregnados de conotações históricas e ideológicas.
Os espaços percorridos por Carlos e Ega podem agrupar-se em três conjuntos: o
primeiro domina a estátua de Camões que, triste, evoca o passado glorioso da epopeia
portuguesa (anterior a 1580) e desperta um sentimento de nostalgia. Com efeito encontra-se
perdida e envolvida por uma atmosfera de estagnação. No segundo, dominam aspectos
ligados a Portugal absolutista (anterior a 1820): é a parte antiga da cidade. Embora recusado
este tempo pela perspectiva de Carlos, não deixa de manifestar uma autenticidade nacional,
destruída pelo presente afrancesado e decadente. No terceiro domina o presente (o tempo da
Regeneração, a partir de 1851), tempo da decadência, do fracasso da restauração, da
destruição. As tentativas de recuperação não mobilizaram o país, quer porque de alcance
muito restrito (caso do monumento dos Restauradores), quer porque imitações erradas de
modelos culturais alheios (caso do francesismo).
O Ramalhete integra-se neste conjunto no sentido em que, atingido pela destruição e
pelo abandono, pode funcionar como sinédoque da cidade e do país, retirada a dimensão
individual.
Em conclusão, o plano da crónica de costumes, que constitui o espaço social de Os Maias,
possibilitou um exame profundamente crítico da alta sociedade lisboeta da segunda metade
do século XIX. Este espaço social será também precioso para detectarmos algumas
coordenadas da estética naturalista.
À volta de cada uma das personagens-centro das gerações tratadas no livro desenha-
se uma série de figuras representativas de classes, grupos sociais, tendências, vícios e virtudes
nacionais.
Estes tipos vão surgindo, lenta e naturalmente, em pequenas «cenas» que reflectem
aspectos da vida social, servindo o propósito crítico do autor.
De uma maneira geral, as situações criadas obedecem à seguinte orientação comum:
Eça dá-nos tipos sociais (não individualidades), que requerem ser apresentados nos
diversos e particulares espaços sociais em que actuam. O escritor apresenta uma visão da
sociedade do seu tempo, onde a classe burguesa ocupa um espaço predominante.
Por sua vez, esta composição global da sociedade portuguesa é limitada, uma vez que
se centra apenas em Lisboa, ou quase só em Lisboa (resumo de todo o país).
Os vários quadros de representação social surgem como zonas de irradiação de um
núcleo espacial permanente: o Ramalhete, local de onde partem e onde regressam os
principais elementos de uma elite intelectual.
Verifica-se que:
- O caso do Eusebiozinho
A EDUCAÇÃO EM OS MAIAS
Eusebiozinho, juntamente com Pedrinho e Carlos, serve para ilustrar a educação que
se ministrava em Portugal nos finais do século XIX. De um lado, temos Eusébio e Pedro, que
vão receber a educação tradicional portuguesa, do outro lado, temos Carlos, que recebe uma
educação moderna (britânica). A tese que se pretende provar é que a educação é um factor
determinante na formação/ deformação, no sucesso/ insucesso do indivíduo.
Mediante estes dois tipos de educação tão contrários, é lógico que as expectativas são
completamente diferentes. Em relação ao primeiro modelo (educação tradicional portuguesa),
as expectativas são negativas. À partida, o indivíduo assim educado está condenado ao
fracasso, que é uma consequência praticamente inevitável. Daí se entender o resultado final
de Pedro (suicida-se) e de Eusébio (é obrigado a casar com uma mulher que lhe dá valentes
tareias).
Já em relação ao segundo modelo (educação moderna britânica), espera-se que o
indivíduo alcance o sucesso desejado. Contudo, Carlos acaba também por fracassar. Todos os
seus projectos caem por terra (abandona o consultório, abandona o laboratório, abandona o
projecto de escrever um livro sobre medicina, abandona o ideal de fazer alguma coisa para
tirar o país da mediocridade a que estava votado).
Igualmente no plano afectivo o fracasso é total. Depois da tragédia que se abate sobre
a família, Carlos desiste de viver e desiste de amar.
Carlos fracassa ainda como ser humano. O homem que surge, após a descoberta da
verdade identidade de Maria Eduarda, é um ser fragilizado, sem dignidade, sem honra, um ser
monstruoso e repugnante. É pensando apenas em si, agindo de modo egoísta, que Carlos
revela brutalmente a seu avô a verdade sobre Maria Eduarda, sem pensar sequer no
sofrimento daquele homem já bastante velho e maltratado pela vida.
Carlos é um homem que se deixa dominar completamente pelo coração, pelos
sentidos e pelas sensações, incapaz de enfrentar uma situação difícil. Não tem pejo em voltar a
cometer o incesto, mas já de uma forma perfeitamente consciente, e não uma vez, mas duas.
Finalmente, é um cobarde, que foge para Santa Olávia, deixando a Ega a delicada missão de
revelar toda a verdade a Maria Eduarda. É um heróis fraco e com «pés de barro».
Porque fracassa Carlos?
Pedro fracassou por causa da educação, mas Carlos fracassou apesar da educação.
Não podemos esquecer que Carlos é um português. A educação britânica não é
suficiente para o tornar diferente do resto dos portugueses. A verdade é que ele, devido á sua
personalidade latina, ao típico sentimentalismo, ao espírito pouco prático, à alma romântica,
ao gosto pelos «vocabulário mavioso» está condenado a ser mais um «vencido da vida».
A própria sociedade onde o indivíduo se insere é também responsável por esse
fracasso. Quem compreenderia Cruges, se ele compusesse uma ópera? Quem entenderia Ega,
se ele escrevesse uma obra-prima? Quem seria capaz de entender Carlos, se ele fizesse um
estudo apurado sobre a medicina? NINGUÉM!
Além disso, não se pode esquecer a força do destino, que parece perseguir a família
dos Maias e condena Carlos a um final trágico.
A LINGUAGEM SIMBÓLICA
RAMALHETE
Quintal do Ramalhete:
1ª descrição: «um pobre quintal inculto, abandonado às ervas bravas com um cipreste,
um cedro, uma cascatazinha seca, um tanque entulhado, e uma estátua de mármore (onde
Monsenhor reconheceu logo Vénus de Citereia) enegrecendo a um canto na lenta humidade
das ramagens silvestres» (cap.I)
2ª descrição: «seu quintalejo (…) tinha o ar simpático com os seus girassóis perfilados
ao pé dos degraus do terraço, o cipreste e o cedro envelhecendo juntos como dois amigos
tristes, e a Vénus Citereia parecendo agora, no seu tom claro de estátua de parque, ter
chegado de Versalhes, do fundo do grande século… E desde que a água abundava a
cascatazinha era deliciosa (…) com os seus pedregulhos arranjados em despenhadeiro
bucólico» (cap.I)
3ª descrição: «em baixo o jardim, bem areado, limpo e frio na sua nudez de Inverno,
tinha a melancolia de um retiro esquecido, que já ninguém ama, uma ferrugem verde de
humidade, cobria os grossos membros de Vénus Citereia; i cipreste e o cedro envelheciam
juntos como dois amigos num ermo: e mais lento corria o prantozinho da cascata» (cap. XVIII)
SIMBOLISMO
QUINTAL
JARDIM
1ª descrição:
Tristeza 2ª descrição: 3ª descrição:
decadência Alegria Morte
Recuperação Esquecimento
Decadência
VÉNUS
DE CITEREIA
3ª descrição:
1ª descrição: 2ª descrição:
Corresponde à visão de
Visão negativa da mulher Visão positiva da mulher
Carlos no último encontro
(Maria Monforte) (Maria Eduarda)
com Maria Eduarda
CIPRESTE
E CEDRO
2ª descrição: 3ª descrição:
1ª descrição:
Valor intemporal da Valor intemporal da
Valor intemporal da
amizade incorruptível amizade incorruptível
amizade incorruptível
CASCATAZINHA
3ª descrição: tristeza,
1ª descrição: ausência de 2ª descrição: alegria
abandono, recordação
vida felicidade
saudosa
Nos diversos símbolos destacados não é difícil lermos o percurso da família dos Maias.
Desde o início, desabitado, quando Afonso vive no retiro de santa Olávia, o Ramalhete não tem
vida: em seguida, habitado, preparado para receber Carlos, torna-se símbolo da esperança e
da vida: a estátua e a cascata transformam-se. É como que um renascimento; finalmente, a
tragédia bate-se sobre a família e eis a cascata chorando, esfiando as últimas gotas de água, a
estátua coberta de ferrugem. Tudo aponta para um carácter funéreo, uma espécie de
cemitério areado e limpo, tendo como guardas o cipreste e o cedro – árvores que, pela sua
longevidade, significam a vida e a morte. Foram testemunhas das várias gerações dos Maias
que se foram.
Os móveis do escritório de Afonso estão cobertos de panos brancos que são
comparados a mortalhas com que se envolvem os cadáveres. A morte instala-se
definitivamente nesta família. E, se os Maias representarem Portugal, a morte instalou-se
neste país.
TOCA
«O melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que nós lhe dávamos. Nós
chamávamos-lhe a Toca» (cap. XIII)
«só o meter a chave devagar e com uma inútil cautela na fechadura daquela morada
discreta, foi para Carlos um prazer» (cap. XIII)
«uma tarde, (…) experimentam ambos essa chave» (cap. XIV)
«Era uma alcova recebendo a claridade de uma sal forrada de tapeçarias, onde
desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte» (cap. XIII)
Simbolismo: relação incestuosa entre irmãos
«painel antigo, defumado, ressaltando em negro do fundo de todo aquele oiro – onde
apenas se distinguia uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro de um prato
de cobre.» (cap. XIII)
Simbolismo: sacrifício de Afonso devido à relação incestuosa dos netos
«a um canto, de cima de uma coluna de carvalho uma enorme coruja empalhada
fixava no leito de amor, com um ar de meditação sinistra, os seus dois olhos redondos e
agoirentos…» (cap. XIII)
Simbolismo: tragédia, infelicidade, morte.
«o famoso armário, o “móvel divino” do Craft» (cap. XIII
«na base quatro guerreiros» (cap. XIII)
«a peça superior era guardada aos quatro cantos pelos quatro evangelistas» (cap. XIII)
«espigas, foices, cachos de uvas e rabiça de arados» (cap. XIII)
«dois faunos, recostados em simetria, indiferentes aos heróis e aos santos» )cap. XIII)
«Mas o que mais agradou foram as faianças» (cap. III)
«era ao centro um ídolo japonês de bronze, um deus bestial» (cap. XIII)
Toca é o nome dado à habitação de certos animais, o que, desde logo, parece
simbolizar o carácter animalesco deste relacionamento amoroso. Carlos introduz a chave no
portão da Toca com todo o prazer, o que sugere não só o símbolo do poder, mas também o do
prazer das relações incestuosas (símbolo fálico); da segunda vez que se alude à chave, os dois
experimentam-na. É evidente que a chave se torna símbolo da mútua aceitação e entrega.
Os aposentos de Maria simbolizam o carácter trágico da sua relação, a profanação das
leis humanas e cristãs, a sensualidade pagã excessiva.
Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os troféus
agrícolas, o trabalho; qualidades que terão existido um dia nesta família (e em Portugal) e que
agora estão completamente arredados.
Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude hedonista e desprezadora de
tudo e de todos.
O ídolo japonês remete para a sensualidade exótica, heterodoxa, bestial desta ligação
incestuosa.
AS CORES (dominantes)
Vermelho
«ao lado de Maria com uma camélia escarlate na casada» (cap. I)
«aquela sombrinha escarlate (…) quase o envolvia, parecia envolvê-lo todo. Como uma
larga mancha de sangue» (cap. I)
«abria lentamente um grande leque negro pintado de flores vermelhas» (cap. XV)
«todas as cadeiras forradas de repes vermelhos» (cap. XI)
«transparentes novos de um escarlate estridente» (cap. VI)
Negro
«seus olhos muito negros» (cap. III)
«dois olhos maravilhosos irresistíveis» (cap. I)
Negro – morte, tristeza, sofrimento
Maria Monforte e Maria Eduarda, mãe e filha, conjugam estas três cores: cabelos de
ouro, olhos pretos e leque negro pintado de flores vermelhas, sombrinha escarlate. Elas são a
vida e a morte; o divino e o humano; a aparência e a realidade; a força que se torna fraqueza.
PERSONAGENS DA INTRIGA
Afonso da Maia
«Afonso era um pouco baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes: e com a sua face
larga de nariz aquilino, a pele corada, quase vermelha, o cabelo branco todo cortado à
escovinha, e a barba de neve aguda e longa» (cap. I)
Enquanto jovem, adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo pai, a sair de casa.
Instala-se em Inglaterra, em casa de uma tia e aí vive no meio do conforto. Falecido o pai, volta
a Lisboa e casa com Maria Eduarda Runa, filha do conde de Runa. Vive muito para o neto
Carlos.
Já velho, passa o tempo em conversa com os amigos, lendo e emitindo juízos sobre a
necessidade de renovação do país. Morre de uma apoplexia quando tem conhecimento dos
amores incestuosos de seus netos, Carlos e Maria Eduarda.
É apresentado pelo narrador como o símbolo do velho Portugal, que contrasta com o
novo Portugal – o da Regeneração -, cheio de defeitos.
Era nobre, rico, ateu, de ideologia liberal, preconceituoso, austero, simpático, afável,
caridoso, culto.
Pedro da Maia
«O Pedrinho (…) ficara pequenino e nervoso como Maria Eduarda (…) a sua linda face
oval de um trigueiro cálido, os dois olhos maravilhosos e irresistíveis, prontos sempre a
humedecer-se, faziam-no assemelhar a um belo árabe (…) Era em tudo um fraco; e esse
abatimento contínuo de todo o seu ser resolvia-se a espaços em crises de melancolia negra,
que o traziam dias e dias mudo, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho. O seu
único sentimento vivo, intenso, até aí, fora a paixão pela mãe» (cap. I)
É o prolongamento físico e temperamental da mãe. É vítima do meio baixo lisboeta e
de uma educação retrógrada. Falha no casamento e falha como homem, suicidando-se.
Era instável, boémio, dado a crises de devoção.
Maria Monforte
Era bela, loira, «de um oiro fulvo», tinha a «testa curta e clássica: os olhos
maravilhosos iluminavam-na toda», «carnação de mármore», «perfil grave d estátua»,
elegante, esbelta, com toilettes excessivas «sempre decotada como em noites de gala»,
«resplandescente de jóias» (cap. I)
É sensual e vítima da literatura romântica. É uma desconhecida em Lisboa, mas causa
sensação pela sua beleza e pelo seu luxo. Pedro apaixona-se por esta mulher, com quem casa.
Foge com o napolitano Tancredo, levando consigo a filha Maria Eduarda e abandonando o
marido e o filho. Morto Tancredo num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na
miséria.
Era caprichosa, exigente, leviana e adúltera.
Carlos da Maia
«Era decerto um formoso e magnífico moço, alto, bem feito, de ombros largos, com
uma testa de mármore sob os anéis dos cabelos pretos e os olhos dos Maia, aqueles olhos
irresistíveis do pai, de um negro líquido, ternos como os dele e mais graves. Trazia a barba
toda, muito fina, castanho-escura, rente na face, aguçada no queixo – o que lhe dava, com o
bonito bigode arqueado aos cantos da boca, uma fisionomia de belo cavaleiro da Renascença.»
(cap. IV)
A narrativa, no que se refere a esta personagem, compreende as seguintes etapas: a
época da formação de Carlos (cap. III), os seus estudos em Coimbra (cap. IV), a vida social em
Lisboa e a sua intriga (cap.s IV – XVII), o seu regresso a Lisboa, não para se reinstalar, mas para
a apresentação de significados simbólicos e ideológicos (cap. XVIII).
Destacam-se, na sua personalidade, as características seguintes: homem viajado, culto,
de bom gosto, amante do luxo, cosmopolita, sensual, inteligente, diletante e dandy.
Falhou em parte devido ao meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa,
fútil, sem estímulos – e em parte devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do
pai, o egoísmo, a futilidade e o espírito boémio da mãe.
João da Ega
«Figura esgrouvinhada e seca», com «os pêlos do bigode arrebitados», «nariz adunco,
um quadrado de vidro entalado no olho direito» (cap. IV)
É a projecção literária de Eça de Queirós. É uma personagem contraditória: por um
lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítica sarcástico do Portugal do
Constitucionalismo. Diletante, concebe grandes projectos literários que nunca chega a realizar.
Nos últimos capítulos, ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ela que
Guimarães entrega o cofre com os dados biográficos de Maria Eduarda. É ele que procura
Vilaça para lhe revelar a identidade de Maria Eduarda. Ele e Carlos revelam a novidade a
Afonso. É ele que revela a verdade a Maria Eduarda. É ainda ele que a acompanha ao comboio
e se despede, quando ela parte definitivamente para Paris.
Amigo íntimo de Carlos, estudante de Direito, original, ateu, demagogo, audaz,
revolucionário, boémio, satânico, rebelde, sentimental.
Eusebiozinho
Em criança: o morgadinho, uma «maravilha muito falada naqueles sítios» (Santa
Olávia), adoentado, macilento, «facezinha trombuda», «olhinhos vagos e azulados»,
«perninhas bambas», «vestido de escocês», apático, molengão, passivo, subornável,
melancólico. (cap. III)
Em adulto: «cabelo chato», «amarelado, despenteado, carregado de luto», «lunetas
pretas» (cap. VIII)
Viúvo, fúnebre, forreta, macambúzio.
Craft
Baixo, loiro, pele rosada e fresca, aparência fria, musculatura de atleta, vestido de
fraque, de educação britânica, modo calmo e plácido, excêntrico, viajado, rico, coleccionador
de obras de arte.
Steinbroken
Vestido de modo britânico, «olhar azul claro e frio», «cabelos de loiro de espiga»
Diplomata fino, grande entusiasta de Inglaterra, entendedor de vinhos, acrítico.
Cruges
Grenha crespa, olhinhos piscos, nariz espetado, melancólico, tímido, reservado, músico
talentoso.
Conde de Gouvarinho
Alto, de luneta de ouro, bigode encerado, pêra curta, «poseur», «um asno», «um
caloteiro», maçador, pequinhento, forreta, aborrecido, grosseiro, provinciano, voz lenta e
rotunda, desmemoriado, sem cultura histórica, deputado, pertencente ao Centro Progressista.
Condessa Gouvarinho
Trinta e três anos, «cabelos cor de brasa, «pele de cetim», «pé fino e comprido»,
«arzinho de provocação e de ataque», «aroma de verbena», requintada, burguesa adúltera e
frustrada.
Dâmaso
Rapaz baixote, gordo, bochechudo, cabelo frisado, ar provinciano, vestido de modo
ridículo, exibicionista, vaidoso, cobarde e grosseiro na expressão linguística.
Alencar
Muito alto, todo abotoado numa casaca preta, face escaveirada, nariz aquilino,
«longos, espessos, românticos bigodes grisalhos» (cap. VI), calvo na frente, grenha muito seca,
dentes estragados, teatral «em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial
e de lúgubre» (cap. VI). Poeta ultra-romântico.
(Jacob) Cohen
Baixo, apurado, de olhos bonitos, suíças pretas e luzidias, mão com diamante, irónico,
irresponsável. Director do Banco Nacional.
Raquel Cohen
Trinta anos, alta, pálida, de saúde frágil, «cabelos negros ondeados, belos pesados», ar
lânguido, luneta de ouro presa por um fio de ouro, culta. Era considerada uma das primeiras
da elite portuguesa.
Palma «Cavalão»
Gordo, baixo, «sem pescoço», «com luneta de vidros grossos», «face larga, balofa e cor
de cidra», «face luzidia», «dedos moles e de unhas roídas» (cap. VIII), linguagem e modos
grosseiros, cobarde e materialista. Director do jornal Corneta do Diabo.
Neves
Palavroso, de grande vozeirão, grave, mal vestido, exibicionista, parcial, tendendioso,
oportunista, admirador do Conde de Gouvarinho, deputado, director do jornal A Tarde.
Sousa Neto
«Três enormes corais no peitilho da camisa», ignorante, apático, arrogante. Oficial
superior da Instrução Pública.
O TEMPO
1 - TEMPO HISTÓRICO
A obra abrange nada menos de quatro gerações, ou seja, desenrola-se desde fins do
século XVIII, princípios do século XIX (Caetano e Afonso) até 1886 (Carlos). Os factos narrados
ocupam um período de cerca de 67 anos ( entre 1820 e 1887).
Em Os Maias há ainda a distinguir:
a) O tempo da novela;
b) O tempo do romance.
A) O tempo da novela
Novela – rápido encadeamento de factos que sucedem uns aos outros num apressado
fluir temporal. Encontramos exactamente este processo na primeira parte da obra (até ao cap.
III, inclusive).
Uma vez integrado o leitor no cenário do Ramalhete reabitado, ele é conduzido a uma
rápida viagem no tempo. Em dois capítulos passam a juventude de Afonso, a paixão trágica de
Pedro e o nascimento do último varão da família dos Maias – Carlos. Em seguida, assiste-se ao
fluir da infância/ juventude de Carlos com a mesma rapidez. Só entramos definitivamente no
romance, quando Afonso deixa Santa Olávia e Carlos regressa da sua viagem: «Chegara esse
Outono de 1875…».
B) O tempo do romance
Tempo real – Do cap. IV até ao final, vamos encontrar um ano de poucos meses da vida
de Carlos. No Outono de 1875, Carlos regressa a Lisboa, após uma linga viagem do fim de curso
e em Janeiro de 1877 Carlos parte definitivamente do Ramalhete.
Uma longa série de extensos capítulos para abarcar aproximadamente 15 meses
(Outubro de 1776 a Janeiro de 1877): é a réplica que o romance dá à novela que se ocupa, em
três capítulos, dos longos anos das três gerações.
3 – TEMPO PSICOLÓGICO
«… É curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a
minha existência inteira!»
No universo do romance, o tempo por vezes demora, acompanhando o fluir dos dias, o
escorrer das horas, ou pára mesmo, asfixiado pelas múltiplas descrições, pelos diversos
comentários do narrador.
No exemplo nota-se a capacidade de distorção íntima do tempo entre o tempo real
(um ano) e o tempo interior (existência inteira).
O tempo psicológico é o tempo do sonho, da procura, do projecto, que afasta as
personagens do tempo real:
- Carlos imagina uma idílica felicidade conjugal com Maria Eduarda;
- Carlos imagina uma cena de ruptura após a visita de Castro Gomes;
- Ega revive os momentos de intensidade amorosa passados com Raquel;
- Afonso envelhecido pelos amores incestuosos dos netos;
- etc.
O ESPAÇO
1 – O Espaço Físico
Por uma análise, leve que seja, concluímos a existência duma grande variedade de
espaços com predominância do espaço interior, o que está perfeitamente de acordo com as
características da obra. Efectivamente, no romance realista, o cenário tende a funcionar como
pano de fundo, fora das personagens, escrito como um universo, súmula de pormenores que
permitem reconstituir não só ambientes, mas até retratos físicos das personagens.
Em Os Maias, o espaço exterior abrange a província e a cidade: Santa Olávia, Benfica,
Inglaterra, Lisboa, Sintra, Olivais, etc.
ESPAÇOS EXTERIORES
SANTA OLÁVIA • Infância e educação de Carlos
COIMBRA • Estudos de Carlos
• Primeiras aventuras amorosas
LISBOA: • Vida social de Carlos
• Baixa • Local onde passa a intriga principal
• Aterro • Local privilegiado para a visão crítica da
• Campo Grande sociedade portuguesa da 2ª metade do século
• Olivais XIX
ESPAÇOS INTERIORES
O RAMALHETE • Salas de convívio e de lazer
• O escritório de Afonso tem «uma severa
câmara de prelado»
• O quarto de Carlos tem um ar de «quarto de
bailarina»
• O jardim tem um valor simbólico
A VILA BALZAC • Reflecte a sensualidade de Ega
O CONSULTÓRIO DE CARLOS • Revela o dandismo de Carlos
• A predisposição para a sensualidade
A TOCA • Espaço carregado de simbolismo
• Revela amores ilícitos
ETC.
É no espaço interior, porém, que desfila numa série de pormenores requintados de
luxo que deixam transparecer o gosto aristocrático, burguês e cosmopolita de Carlos e de
quem ele se rodeia, como reflexo de uma época e de um modo de vida:
«… entregou-lhe as quatro paredes do Ramalhete, para ele ali criar, exercendo o seu
gosto, um interior confortável, de luxo inteligente e sóbrio…»
«… pôs-lhe o nome de Paço de Celas, por causa de luxos então raros na Academia, um
tapete na sala, poltronas de marroquin, panóplias de armas, e um escudeiro de libré…»
«… um dos maiores cuidados dele, agora, era embelezar a Toca: nunca voltava de
Lisboa sem trazer alguma figurinha de Saxe, um marfim, uma faiança…»
2 – O Espaço Social
Às finanças: irresponsabilidade e
incompetência do director do
Bando Nacional – Cohen
À mentalidade retrógrada
Corrida de Cavalos Alta sociedade lisboeta, caracterizada À imitação do estrangeiro
(cap. X) por:
• Inadequação do espaço Ao provincianismo
• Feição provinciana
• Falta de motivação Ao mau gosto e ao «postiço»
• Contraste entre o ser e o
parecer
• Inadequação dos
comportamentos
Jantar em casa do Alta burguesia e aristocracia, À mediocridade mental
Conde de caracterizada por:
Gouvarinho (cap. • Futilidade À ignorância
XII) • ociosidade
À falta de conhecimento sobre o
estrangeiro
À incapacidade de diálogo da
camada dirigente do País
Jornal A Tarde Director de um jornal/ político/ Ao jornalismo político, parcial e
(cap. XV) deputados da província, caracterizados tendencioso
por:
• macrocefalia da capital em
relação à província
Teatro da Trindade Alta sociedade lisboeta caracterizada por: Aos comportamentos postiços
(cap. XVI) • superficialidade
• valores ultra-românticos À permanência dos valores ultra-
• ignorância românticos
Passeio de Carlos e Alta sociedade lisboeta, caracterizada À estagnação de Portugal
de Ega (cap. XVIII) por:
• subdesenvolvimento À falta de originalidade
• ociosidade
• ridículo À incapacidade de evoluir
3 – O Espaço Psicológico
CARLOS • Sonho de Carlos, no qual evoca a figura de Maria Eduarda (cap. VI)
• Nova evocação de Maria Eduarda em Sintra (cap. VIII)
• Reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda
(cap. XVII)
• Visão do Ramalhete e do avô, após o incesto (cap. XVII)
• Contemplação de Afonso da Maia, morto, no jardim (cap. XVII)
EGA • Reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria
Eduarda (cap. XVI)
NARRADOR
- O verbo: Eça revela um gosto particular pelo gerúndio, pelo pretérito imperfeito e
pela conjugação perifrástica, o que confere aos acontecimentos relatados o sentido de
duração, de continuidade - «… que esse fantasia andara medindo e dispondo…».
- A hipálage -«mãos nervosas das senhoras» (cap. X); «cerravam filas de cabeças
embebidas, enlevadas» (cap. XVI)
- Os diminutivos: largamente utilizado, ora para exprimir carinho (Carlinhos), ora num
sentido irónico e pejorativo: «…com craniozinho calvo de sábio…» (cap. III)