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CURSO DE DIREITO AMBIENTAL – MÓDULO ÚNICO

Elaboração: Profº Renato Cosmi – Bacharel em Direito, Especialista em Gestão


Ambiental.

Centro Cientifico Conhecer - Goiás

“A terra existiu sem os nossos inimagináveis ancestrais, poderia muito bem


existir hoje sem nós, existirá amanhã ou mais tarde ainda, sem nenhum de
nossos descendentes, mas nós não podemos viver sem ela.”

Michael Serres
EMENTA:

1 - Conceito de Direito;
1.1 – As dimensões do Direito;
1.2 - Princípios do Direito Ambiental;
2 - Teoria Geral do Direito Ambiental: Notas preliminares;
2.1 – Direito Ambiental: Natureza Jurídica;
3 – Meios processuais para a defesa do meio ambiente;
4 – Ação popular;
4.1 – Inquérito Civil;
5. O Meio Ambiente na Constituição Brasileira;
5.1 – Competências;
5.2 – Competência comum;
5.3 – Competência privativa da União;
5.4 – Competência concorrente;
5.5 – Competência municipal;
6 – Inversão do ônus da prova – defesa do consumidor e a questão ambiental;
7 – O poder de polícia municipal e o licenciamento ambiental;
8 – A regra do artigo 333 CPC;
8.2 – A aplicabilidade do ônus da Prova na ação civil pública ambiental;
9 – Conceito de responsabilidade;
9.1 – Responsabilidade Civil;
10 – Dano Ambiental;
10.1 – Reparação do dano ambiental;
11 – Breve histórico da evolução da Legislação Penal Ambiental Brasileira;
11.1 – As Normas Penais Ambientais;
12 – A responsabilidade da pessoa jurídica por crimes ambientais;
12.1 – A aplicação da sanção.
13 – Estudos de caso
1 - CONCEITO DE DIREITO: NOTA INTRODUTÓRIA

No Século XXI, é fácil observar que a sobrevivência humana no planeta,


desde os primórdios, esteve sempre condicionada à sua interação com o meio
ambiente. No entanto, essa percepção nem sempre ocorreu de forma tão nítida
como a que temos nos dias de hoje, visto que a evolução dos conhecimentos
foi lenta e gradual.
À época das cavernas, os humanos nômades, viviam ainda em estado
de natureza: de acordo com suas necessidades físicas buscavam este ou
aquele local, sob a condição única de encontrarem água e alimentação, vez
que ainda não se tinha notícias de quaisquer técnicas agrícolas ou pecuaristas.
Logo, a primeira idéia de proteção da natureza foi concebida não pela
consciência de sua necessidade e utilidade na vida do homem, mas sim pelo
temor a Deus, já que o homem temia ser julgado por aquilo que fizesse contra
a natureza. E isso é ilustrado pelo pensamento inicial deste, sobre o que o
Filósofo Michael Serres disse sobre a natureza e sua continuidade.
Importante também é mencionar o surgimento dos Direitos Humanos,
Fundamentais para o reconhecimento do próprio homem, como também,
séculos mais tarde, do meio ambiente. Para Bobbio, doutrinador de renome
internacional, o surgimento e o crescimento de determinados direitos estão
intimamente ligados à transformação da sociedade e suas necessidades.
Assim, do ponto de vista jurídico, o meio ambiente, além de ser
elemento essencial para a manutenção da sadia qualidade de vida no planeta,
é um Direito Fundamental de 3ª Geração e um bem difuso.
Não há como falar em Direitos Fundamentais, sem mencionar o fato de
que por muitos séculos, perdurou no direito ocidental, cuja gênese é o Direito
Romano, a idéia de que os conflitos sociais poderiam ser dirimidos tendo como
base o direito positivo, ou seja, aquele estabelecido através de uma lei, sob o
ponto de vista individual.
A palavra direito pode ser utilizada em dois sentidos: o primeiro, o que se
refere à norma estabelecida na lei, ou seja, a regra jurídica; e o segundo, o que
se refere à faculdade, que todos temos, de exigir um determinado
comportamento alheio, em defesa de nossos direitos. Assim, o Direito, no
sentido de direito objetivo, é um preceito hipotético e abstrato, destinado a
regulamentar o comportamento humano na sociedade, e cuja característica
essencial é a sua força coercitiva, que lhe é atribuída pela própria sociedade.
Essa força, inerente apenas à norma jurídica, significa que a organização
social, o Estado, interfere, ou deve interferir, para que o preceito legal seja
obedecido. Para essa finalidade, a regra jurídica contém, normalmente, além
do mandamento regulamentador da conduta humana, uma outra disposição,
aquela que estabelece as conseqüências para o caso de transgressão da
norma. Essa outra disposição da regra jurídica se chama sanção.
Mas devemos pensar no que é o Direito ou o que deve ser o Direito?
Para Kelsen, que pretendeu afastar da teoria jurídica a preocupação com o que
é justo e o que é injusto, discutir sobre a justiça é tarefa da Ética, ciência que
não se preocupa com as normas jurídicas, mas com o certo e o errado, com o
justo e o injusto.
O Direito, não resta dúvida, é um produto da própria convivência social.
As regras jurídicas são produzidas e aplicadas pelos governantes, que
conquistam o poder, ou nele se mantêm, através de diversos processos, ditos
democráticos ou autocráticos, e supostamente, sempre, com a finalidade de
obter o bem comum e a paz social. O problema é que, às vezes, ou até com
muita freqüência, como o Direito não é suficiente para controlar o poder, os
governantes abusam, e se preocupam mais com os seus interesses e com as
suas paixões, do que com o interesse público.
Evidentemente, se a nossa Constituição afirma que o poder pertence ao
povo, e hoje nenhum governante teria a coragem de negar esse fato - ou essa
mentira, dependendo das circunstâncias -, não resta dúvida de que a
conservação e também o acréscimo desse poder dependerão, ou ao menos
deveriam depender, da aquiescência do povo, porque é preciso que o exercício
do poder corresponda aos interesses de quem a ele está submetido. Em caso
contrário, sem a concordância do povo, o governante, para se manter,
dependerá sempre da repressão ou da dissimulação, e para se justificar
produzirá discursos de verdade, através de regras jurídicas que ocultem o fato
da dominação, que legitimem o seu poder e que estabeleçam a obrigação legal
da obediência, obtendo, assim, a paz social, embora através da hipocrisia. Em
outras palavras: se o governante não respeitar o interesse do povo, precisará
enganá-lo, ou apelar para a violência, pura e simplesmente. E, como
conseqüência, não teremos Direito, no sentido de justiça. Mas, apesar disso,
teremos as milhares de normas jurídicas, nacionais, federais, estaduais e
municipais; os juristas, os advogados e as escolas de Direito; as casas
legislativas, os administradores e os tribunais. Enfim, toda uma enorme,
complexa e dispendiosa parafernália, paga com os nossos tributos, destinada a
produzir e a aplicar o Direito. Ou melhor: aquilo que o Estado impõe, como se
fosse o Direito.
Segundo o professor Fernandez, “o Direito não é mais nem menos que
uma estratégia sócio-adaptativa – cada vez mais complexa, mas sempre
notavelmente deficiente, empregada para articular argumentativamente - de
fato, nem sempre com justiça - , por meio da virtude da prudência, os vínculos
sociais relacionais elementares, através dos quais os homens constroem
estilos aprovados de interação e estrutura social; ou seja, um artefato cultural
que deveria ser manipulado para desenhar um modelo normativo e institucional
que evite, em um entorno social prenhe de assimetrias e desigualdades, a
dominação e a interferência arbitrária recíprocas e que, na mesma medida,
garantindo uma certa igualdade material, permita, estimule e assegure a
titularidade e o exercício de direitos (e o cumprimento de deveres) de todo
ponto inalienáveis e que habilitem publicamente a existência dos cidadãos
como indivíduos plenamente livres”.
Então, cada nação tem o Direito que merece, porque o coração de todo
sistema jurídico é exatamente este: o equilíbrio, maior ou menor, do poder
social. Se as pessoas estão sujeitas ao poder organizado do Estado, que
impõe as suas leis, não basta que essas leis tenham sido elaboradas pelos
representantes do povo – o que é já uma parcela essencial no discurso de
verdade, ou na socialização da hipocrisia -, mas é preciso que os governados
possam resistir ao poder. É preciso que os detentores do poder possam ser
controlados, para que se evitem os abusos, porque quando alguém abusa do
poder, muitos sofrerão perdas mais ou menos radicais em seu poder e em sua
liberdade; em sua capacidade de viver; de bem viver.
A História da Humanidade é o relato da luta pelo poder, e da resistência
ao poder. É o relato das tentativas de justificação do poder, que se confundem
com a própria legitimação da ordem jurídica, porque a idéia de poder está ínsita
no conceito de ordem jurídica. Para Ihering, o objetivo do Direito é a paz, mas a
luta é o meio de consegui-la.
A doutrina de Ihering, da luta pelo direito, corresponde, evidentemente, à
luta pelo poder, porque “o Direito terá que rechaçar o ataque causado pela
injustiça – e isso durará enquanto o mundo estiver de pé. A vida do Direito é a
luta, a luta de povos, de governos, de classes, de indivíduos. Todo o Direito do
mundo foi assim conquistado, todo ordenamento jurídico que se lhe contrapôs
teve que ser eliminado e todo Direito, assim como o direito de um povo ou o de
um indivíduo, teve que ser conquistado com luta”.
Em resumo: os direitos do povo são mais importantes do que os lucros
dos legisladores, dos governantes, dos políticos, dos juízes e dos advogados.
O Governo, as Casas Legislativas e os Tribunais existem, na verdade, apenas
para servir o povo, e não para atender aos interesses egoístas de uma minoria
privilegiada. Aqui em baixo, porém, as leis são diferentes.

1.1 - MEIO AMBIENTE: DIREITO FUNDAMENTAL DE 3ª GERAÇÃO (OU


DIMENSÃO)
Os Direitos Fundamentais nascem e evoluem de acordo com as
necessidades que os seres humanos vão apresentando no decorrer dos
tempos. Historicamente, nem sempre todos os homens foram reconhecidos
como pessoas, sujeitos de direitos, mas sim como coisas, "res". Na sociedade
greco- romana, os homens eram escravizados, por que não lhes era assistido o
direito de liberdade. O seu corpo, sua alma e bens materiais, não lhe
pertenciam. Quem os detinha era o Estado.
O atual entendimento do que sejam Direitos Fundamentais se deu
graças ao Cristianismo, através da separação entre corpo e alma, pelo qual, o
corpo e os bens materiais pertenciam ao Estado, mas alma, esta, sim pertencia
ao indivíduo, de sorte a ocasionar a liberdade na ordem social. Outros valores
também foram impressos, como a igualdade e a unidade, já que os filhos do
mesmo Deus não podiam se odiar.
Mais tarde, na Idade Média, o que se verificava era a eterna imobilidade
social, vez que existiam estamentos, onde cada um tinha direitos específicos: o
alto clero (1º estamento) e a nobreza (2º estamento) não pagava impostos, ao
passo que o 3º estamento, formado pelos servos, custeavam os ricos e os bem
nascidos daquela época.
A Revolução Francesa, representando os interesses da burguesia em
ascensão, trouxe consigo profundas mudanças políticas: liberdade, igualdade e
fraternidade, refletindo a primeira geração de Direitos Fundamentais. Logo, a
Primeira Geração de Direitos está relacionada aos direitos e garantias
individuais políticos clássicos, remontando a época da “Magna Cartha".
Como o passar do tempo, apenas os direitos de primeira geração não
eram suficientes frente às necessidades de garantir a dignidade da pessoa
humana. Na época de Revolução Industrial, o que se assistia era a exploração
total dos trabalhadores, inclusive mulheres e crianças. Clama-se, então, a partir
dos meados do Séc. XIX, pelo que passaria a ser conhecido como Segunda
Geração de Direitos, contrapondo o Estado Liberal. Destarte, todas as Cartas
Constitucionais, pós Primeira Guerra Mundial reconhecessem os direitos
econômicos, sociais e culturais, ainda que não efetivados, porém, visando
principalmente apaziguar os conflitos de classe, baseado em um modelo
corporativo, coletivo, já que tornara-se impossível solucionar os embates,
apoiando-se no antigo paradigma, pelo qual cada indivíduo é dono de bens e
ponto final.
Os Direitos de Terceira Geração, mais recentes, surgem após a
Segunda Grande Guerra, período em que grandes correntes filosóficas,
ideológicas e políticas, abaladas pelos horrores nazistas, passaram a ter maior
interesse pelos Direitos Humanos Fundamentais. Nessa categoria de direitos,
estão relacionados os direitos difusos, como meio ambiente, a qualidade de
vida, o direito à paz e ao progresso, observado a autodeterminação dos povos.
Alguns doutrinadores entendem que os Direitos Fundamentais já
estariam em sua Quarta Geração. Estes direitos são relacionados com as
descobertas científicas e os avanços tecnológicos, como o direito informático, a
proteção à propriedade intelectual e imaterial e as questões relacionadas com
a bioética e a biotecnologia.

1.2 - PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


Para o tema Direito Ambiental é necessário abordar um panorama
introdutório sobre o que vem a ser os Princípios Gerais do Direito, onde
exploraremos quais suas funções, qual sua natureza etc.

Princípios Gerais do Direito:


Princípio, do latim "principiu", significa o ato de principiar, momento de
origem, ponto de partida.
Nos dicionário, a expressão é assim definida:
1. Momento ou local ou trecho em que algo tem origem;
2. Causa primária;
3. Elemento predominante na Constituição de um corpo orgânico;
4. Preceito, regra, lei;
5. P. ext. Base; germe;
6. Filos. Fonte ou causa de uma ação;
7. Filos. Proposição que se põe no início de uma dedução, e que não é
deduzida de nenhuma outra dentro do sistema considerado, sendo admitida,
provisoriamente, como inquestionável. São princípios os axiomas, os
postulados, os teoremas etc"(AURÉLIO, 1986, p.1393).

Miguel Reale, em seu livro, "Noções Preliminares de Direito" afirma que


os princípios são:
"Verdades fundantes de um sistema de
conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou
por terem sido comprovadas, mas também por motivos de
ordem prática de caráter operacional, isto é, como
pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da
práxis" (REALE, 1995, p.299).
Paulo Bonavides afirma que os princípios indicam as diretrizes de nosso
ordenamento jurídico, ou seja, há uma supremacia dos princípios frente:
"...a pirâmide normativa; supremacia que não é
unicamente formal, mas sobretudo material, e apenas possível
na medida em que os princípios são compreendidos e
equiparados e até mesmo confundidos com os valores, sendo,
na ordem constitucional dos ordenamentos jurídicos, a
expressão mais alta da normatividade que fundamenta a
organização do poder"(BONAVIDES, 1996,).

No mesmo sentido temos: "os princípios constituem a base, o alicerce


de um sistema jurídico. São verdadeiras proposições lógicas que fundamentam
e sustentam um sistema" (MARCO, 2008, p.10).
Assim, como se apreende do próprio nome, princípio é aquilo que inicia
algo, o ponto de partida, o marco zero de alguma ciência, assim "não se faz
ciência sem princípio" (PORTANOVA, 2001, p.01).
É o principio que vai indicar que norte tomará todo o rumo de uma
ciência, sendo para a ciência do direito, portanto, de maior valia do que as
normas jurídicas em si, pois aqueles estão contidos nestas, porém, não ocorre
o contrário.
Os princípios também são sempre usados em casos em que as normas não
conseguem abranger o caso em tela.
Principais princípios ambientais:
 Princípio da responsabilidade ou do poluidor-pagador – todo aquele
que lesar o meio ambiente é obrigado a reparar o dano e a cessar. A
responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente é de natureza
objetiva, derivada do risco da atividade, sendo desnecessário a
comprovação de dolo ou culpa. A responsabilidade é solidária. Sujeita-se
à responsabilidade civil, penal e administrativa.
 Princípio da prevenção – o principal objetivo é evitar que ocorra dano
ao meio ambiente. Deve ter iniciativa de forma repressiva no controle, a
conservação e a fiscalização do meio ambiente.
 Princípio da educação – visa promover a conscientização coletiva em
torno da necessidade de preservação do meio ambiente.
 Princípio da função social de propriedade – a preservação do meio
ambiente constitui um dos elementos fundamentais da propriedade no
exercício da sua função social. Não cumpre a função social da
propriedade rural que degrada o meio ambiente.
 Princípio da participação e cooperação – todos devem participar,
tanto o poder público quanto a coletividade. Todos devem primar pela
construção de valores sociais e iniciativas voltadas para o meio
ambiente.
 Princípio do desenvolvimento sustentável – o desenvolvimento
econômico deve compatibilizar-se com a preservação do meio ambiente.
A exploração do meio ambiente é necessária, no entanto, deve ser
realizada de forma equilibrada, para que não ocorra o esgotamento dos
recursos naturais existentes.
 Princípio da intervenção estatal obrigatória – o Poder Público tem o
dever de assegurar a efetivação das garantias à preservação do meio
ambiente. A tutela do meio ambiente é responsabilidade do Poder
Público.
 Princípio da ubiqüidade – a garantia de um meio ambiente equilibrado,
pautado em uma vida saudável, constitui bem jurídico universalmente
tutelado.

2 - TEORIA GERAL DO DIREITO AMBIENTAL

CONCEITO DE MEIO AMBIENTE


Inúmeros são os conceitos de meio ambiente. Cabe dizer que o termo
meio ambiente é bastante criticado por doutrinadores de vários ramos do
conhecimento, isso porque, a palavra meio diz respeito a aquilo que é o centro
de alguma coisa. Do mesmo modo, ambiente quer indicar uma área onde se
encontram os seres vivos. Logo, do ponto de vista lingüístico, estaríamos,
diante de um pleonasmo.
O meio ambiente é o habitat dos seres vivos. Esse habitat (meio biótico),
formado por um conjunto harmonioso de condições essenciais para a
existência da vida como um todo. A biologia estuda os seres vivos de modo
isolado, independentemente do seu meio ambiente. A ecologia estuda os a
relação dos seres vivos com o meio ambiente. A expressão ecologia provém
das palavras gregas oikos (casa) e logos (estudo), ou seja, estudo do habitat
dos seres vivos. (SIRVINSKAS, 2003, 28).
Do ponto de vista legal, o conceito de meio ambiente, em se tratando de
Brasil, é encontrado no bojo da Lei 6938/81.
Art. 3º- Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I- meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas.

MEIO AMBIENTE NATURAL (OU FÍSICO): Constituído pelo solo, água, ar


atmosférico, flora e fauna ( Art. 225, § 1º, 1 e VII da Constituição Federal de
1988). É a natureza como ela se apresenta, sem a intervenção humana,
chamada de antropização. Quando ocorre a substituição de uma vegetação
nativa por uma espécie cultivada, é um caso de antropização do meio
ambiente. Por exemplo, a criação de pastagens.

MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL: Mesmo o meio ambiente alterado pelo homem,


continua sendo meio ambiente. É o meio ambiente artificializado, antropizado.
Pode ser compreendido pelo espaço urbano construído, consistindo no
conjunto de edificações (chamado espaço urbano fechado) e pelos
equipamentos públicos (espaço urbano aberto)

MEIO AMBIENTE CULTURAL: É necessário ter cuidado para estabelecer uma


delimitação. O meio ambiente cultural é constituído pelo patrimônio histórico,
artístico, arqueológico, paisagístico e turístico, que embora artificial, como obra
do homem, difere do ambiente natural (que também é cultural) pelo sentido de
valor especial.
O art. 216 da Constituição Federal de 1988: Constituem o patrimônio
cultural brasileiro:
I- as formas de expressão;
II- os modos de criar, fazer e viver;
III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Parágrafo primeiro: "O Poder Público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação."
Inclui-se dentro do patrimônio cultural, as cavidades naturais
subterrâneas: "As cavidades naturais subterrâneas existentes no território
nacional constituem patrimônio cultural brasileiro, e, como tal, serão
preservadas e conservadas de modo a permitir estudos e pesquisas de ordem
técnico-científica, bem como atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural,
turístico, recreativo e educativo." (Decreto 99.556, 01/10/1990).

2.1 - DIREITO AMBIENTAL: NATUREZA JURÍDICA


O Direito Ambiental trabalha as normas jurídicas dos vários ramos do
direito, e se relaciona com outras áreas do saber humano como a biologia, a
física, a engenharia, o serviço social, etc. É, portanto o Direito Ambiental uma
matéria transdisciplinar que busca adequar o comportamento humano com o
meio ambiente que o rodeia.
É um ramo bastante recente dentro do ordenamento jurídico: no Brasil,
até 1981, não se falava em tal disciplina de forma autônoma, sendo a mesma
considerada um desdobramento do Direito Administrativo.
Com o advento da Lei 6938/81 e, por conseguinte, da Política Nacional
do Meio Ambiente (PNMA), o Direito Ambiental adquiriu status de ramo
independente do direito, sendo perfeitamente possível estabelecer seu regime
jurídico, suas definições, princípios, conceitos, diretrizes, instrumentos e órgãos
peculiares.
É um ramo do Direito Público, mas os interesses defendidos pelo Direito
Ambiental não diz respeito à categoria dos direitos públicos, nem tampouco dos
direitos privados, por se tratar uma disciplina que cuida dos direitos que pairam
entre a zona do público e do privado; a categoria dos direitos difusos.

3 - MEIOS PROCESSUAIS PARA A DEFESA DO MEIO AMBIENTE


Como vivemos em um Estado Democrático de Direito, não nos é
assistido o direito de "fazer justiça com as próprias mãos”. Deste modo, cabe
ao Judiciário, toda vez que provocado dizer o direito, solucionando a lide
proposta por um autor(es) contra determinado(s) réu(s). Este é o Princípio
da Indeclinabilidade da Jurisdição.
No caso específico da proteção do meio ambiente, existem algumas
ações que podem ser utilizadas como a Ação Civil Pública, a Ação Popular, o
Mandado de Segurança Coletivo e o Mandado de Injunção.
Para efeitos didáticos, vamos tratar apenas da Ação Civil Pública e da
Ação Popular, meios processuais de defesa, além da atuação do Ministério
Público, extremamente relacionados com o Princípio da Participação, pelo qual
há uma efetiva participação social, na defesa e proteção de um bem que
pertence a todos.
A modalidade de ação prevista constitucionalmente no Art. 129, III é
legalmente através da Lei 7.347/85. É ajuizada no Juízo Cível visando defender
e proteger bens sociais e públicos e os interesses coletivos e difusos.
A Lei 7.347/85 prevê duas espécies de tutela: a repressiva (ocorre
quando o agente já cometeu a conduta lesiva ao meio ambiente) e a preventiva
(permite evitar a consumação de danos ao meio ambiente). A tutela preventiva
pode ser exercida mediante a utilização de dois mecanismos distintos: através
da ação cautelar (acautela o direito- Art. 4º da Lei), ou através da liminar
(desde que presentes o "periculum in mora" e o "fumus boni iuris" - Art. 12 da
Lei).
Em se tratando da legitimidade ativa (legitimidade para propor a ação), a
União, os Estados e os Municípios, o Ministério Público, como também as
Autarquias, Empresas Públicas, Fundações, Sociedade de Economia Mista e
Associações, fundadas há mais de um ano, nos termos da lei civil, que inclua
entre suas finalidades institucionais a proteção ao meio ambiente ou a qualquer
outro bem ou interesse difuso/ coletivo estão aptas para propor a ACP.
Importante ressaltar que é permitido o Litisconsórcio (quando há mais de um
autor propondo a mesma ação) e a Assistência (pelo Ministério Público, por
exemplo).
Quanto ao pólo passivo, não há qualquer especificidade. Assim, tanto
pessoas físicas quanto jurídicas que de alguma forma causaram ou
contribuíram para que o dano ambiental ocorresse serão demandadas.

O causador do dano ou poluidor poderá ser condenado, dependendo da


natureza do pedido formulado na ação, de acordo com o caso concreto,
conforme diz o Art. 3º, pelo qual as condenações na ACP poderão ter por
objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento da obrigação de fazer ou
não fazer.

4 - AÇÃO POPULAR
A Ação Popular é uma antiga forma jurisdicional, cujas origens remontam
o Direito Romano, porquanto o direito defendido não correspondia ao
individual, mas sim do indivíduo como membro da sociedade.
No Brasil, essa garantia constitucional foi prevista primeiramente na
Constituição de 1934.
A Constituição Federal de 88 em seu Art. 5º, LXXIII, dispõe que qualquer
cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular o ato lesivo
contra o meio ambiente e outros direitos e interesses difusos.
O pressuposto para a propositura da Ação Popular é a ocorrência de um
ato lesivo contra o meio ambiente.
A finalidade da Ação Popular é anular o ato lesivo, portanto desconstituir
o ato já praticado. No entanto, se for um ato material propriamente dito, por
exemplo, se uma empresa sem licença para funcionar desrespeitar a norma e
poluir o ambiente, a pretensão da Ação Popular será eliminar o ato que está
sendo praticado, de modo a prescrever a abstenção da prática.
É importante salientar que, estando o ato consumado, ainda que as
conseqüências nocivas ao meio ambiente estejam sendo produzidas, não
caberá Ação Popular, porquanto esta não se presta a reparação do dano-
senão estaríamos no campo de incidência da ACP, além do que visa atacar o
ato e não suas conseqüências.
Para a determinação do rito processual a ser seguido, deverá ser levado
em conta o bem tutelado. Na defesa dos bens públicos deverá ser observado o
procedimento prescrito pela Lei 4.717/65 e na defesa do meio ambiente o
procedimento adotado é o da Lei 7.347/ 85 e o Código de Defesa do
Consumidor (CDC).
Em se tratando da legitimidade ativa, estabelece a Lei 4.717/ 65 ser
necessária a prova de cidadania para ingresso em juízo, feita mediante a
apresentação do título eleitoral ou documento equivalente. No entanto, parte da
doutrina têm afirmado que na defesa do meio ambiente, seria o título eleitoral
uma prova dispensável, justamente pelo fato de ser o meio ambiente um bem
difuso.

4.1 - INQUÉRITO CIVIL


Procedimento administrativo de caráter investigatório e natureza
inquisitorial, exclusivo do Ministério Público, destinado a fornecer provas e
demais elementos de convicção que fundamentem uma futura ação judicial, na
busca da defesa de valores e interesses trans-individuais.
Como se trata de procedimento administrativo não destinado a aplicação
de penas ou sanções, mas sim para a apuração de fatos para embasamento
de uma futura ação judicial (Ação Civil Pública- ACP), não confere ao
investigado a Ampla Defesa e o Contraditório. Esta característica se torna
ainda mais evidente quando a lei dos crimes ambientais explicita em seu Art.
19, Parágrafo Único que a perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível
poderá ser aproveitada no processo penal, instaurando- se o contraditório.
Todavia, se o Promotor de Justiça entender já existirem elementos
convincentes, poderá promover de imediato a ACP, além do que, poderá
promover a Ação Penal Pública, desde que haja materialidade de crime e
indícios de autoria.
Portanto, o pressuposto para a instauração do Inquérito Civil é a
existência de fato determinado, do qual decorra ou possa decorrer lesão ao
meio ambiente. Cabe dizer ainda, que o Inquérito Civil será instaurado por meio
de portaria, por despacho admitindo representação, por determinação do
Procurador Geral de Justiça ou do Conselho Superior do Ministério Público.
A conclusão do Inquérito Civil se dá com a propositura da ACP ou o seu
arquivamento. Fato curioso é que a Lei 7.347/85 não estipulou prazo para a
conclusão do Inquérito Civil, deixando tal determinação a cargo do Ministério
Público local, através de suas Leis de Organização.
Se o Promotor de Justiça entender ser o caso de arquivamento, o
Inquérito Civil deverá ser enviado para o Conselho Superior do Ministério
Público para exame, do qual, poderá se chegar as seguintes conclusões: a
ratificação do arquivamento (não haverá prosseguimento no Inquérito, nem a
propositura da ACP) ou a discordância com o arquivamento (outro Promotor
será designado para prosseguir com as investigações ou para ajuizar a ACP).
Uma vez arquivado o Inquérito Civil, fica o Ministério Público impedido
de propor ACP. Mas, nada impede que os outros legitimados o façam.

5 - O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA


Em 1.988 nossa Lei Fundamental, pela primeira vez na história, abordou
o tema meio ambiente, dedicando a este um capítulo, que contempla não
somente seu conceito normativo, ligado ao meio ambiente natural, como
também reconhece suas outras faces: o meio ambiente artificial, o meio
ambiente do trabalho, o meio ambiente cultural e o patrimônio genético,
também tratados em diversos outros artigos da Constituição.
O Art. 225 exerce na Constituição o papel de principal norteador do meio
ambiente, devido a seu complexo teor de direitos, mensurado pela obrigação
do Estado e da Sociedade na garantia de um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, já que se trata de um bem de uso comum do povo que deve ser
preservado e mantido para as presentes e futuras gerações.

Artigos Constitucionais dedicados ao meio ambiente ou a ele vinculados:


Art. 5º : XXIII; LXXI; LXXIII
Art. 20: I; II; III; IV; V; VI; VII; IX; X; XI e § § 1º e 2º
Art. 21: XIX; XX; XXIII a, b e c; XXV
Art. 22: IV; XII; XXVI
Art. 23: I;III; IV; VI; VII; IX; XI
Art. 24: VI; VII; VIII
Art. 43: § 2º, IV e §3º
Art. 49: XIV; XVI
Art. 91: § 1º, III
Art. 129: III
Art. 170: IV
Art. 174: §§ 3º e 4º
Art. 176 e §§
Art 182 e §§
Art. 186
Art. 200: VII; VIII
Art. 216: V e §§ 1º, 3º e 4º
Art. 225
Art. 231
Art. 232
Arts. 43 e 44 do ADCT.

5.1 - COMPETÊNCIAS
A Constituição, além de consagrar a preservação do meio ambiente,
anteriormente protegido somente a nível infraconstitucional, procurou definir as
competências dos entes da federação, inovando na técnica legislativa, por
incorporar ao seu texto diferentes artigos disciplinando a competência para
legislar e para administrar. Essa iniciativa teve como objetivo promover a
descentralização da proteção ambiental. Assim, União, Estados, Municípios e
Distrito Federal possuem ampla competência para legislarem sobre matéria
ambiental, apesar de não raro surgem os conflitos de competência,
principalmente junto às Administrações Públicas.

Competência Privativa da União


Somente pode ser exercida pela União, salvo mediante edição de Lei
Complementar que autorize os Estados a legislarem sobre as matérias
relacionadas com as águas, energia, populações indígenas, jazidas e outros
recursos minerais, além das atividades nucleares de qualquer natureza.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


IV- águas, energia, informática, telecomunicações e radiofusão;
XII- jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XXVI- atividades nucleares de qualquer natureza;
Parágrafo Único: Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar
sobre questões específicas das matérias relacionadas a este artigo.

5.2 - COMPETÊNCIA COMUM


O Art. 23 concede à União, Estados, Municípios e o Distrito Federal
competência comum, pela qual, os entes integrantes da federação atuam em
cooperação administrativa recíproca, visando alcançar os objetivos descritos
pela própria Constituição. Neste caso, prevalecem as regras gerais
estabelecidas pela União, salvo quando houver lacunas, as quais poderão ser
supridas, por exemplo, pelos Estados, no uso de sua competência supletiva ou
suplementar.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios:
III- proteger os documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e
cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;
IV- impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de
outros bens de valor histórico, artístico e cultural;
VII- preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII- fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX- promover programas de construção de moradias e a melhoria das
condições habitacionais e de saneamento básico;
X- combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização,
promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI- registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais e m seus territórios;
Parágrafo Único: Lei complementar fixará normas para a cooperação entre a
União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o
equilíbrio do desenvolvimento e do bem- estar em âmbito nacional.

5.4 - COMPETÊNCIA CONCORRENTE


Implica no estabelecimento de moldes pela União a serem observados
pelos Estados e Distrito Federal.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
VI- florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e
dos recursos naturais, proteção ao meio ambiente e controle da poluição;
VII- proteção ao patrimônio histórico, artístico, turístico e paisagístico;
VIII- responsabilidade por dano meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, turístico e paisagístico.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á
a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
competência legislativa plena, para atender suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia
da lei estadual, no que lhe for contrário.

COMPETÊNCIA MUNICIPAL
A Constituição estabelece que mediante a observação da legislação
federal e estadual, os Municípios podem editar normas que atendam à
realidade local ou até mesmo preencham lacunas das legislações federal e
estadual (Competência Municipal Suplementar).
Art. 30. Compete aos Municípios:
I- legislar sobre assuntos de interesse local;
II- suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

CONCEITO DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


É um direito garantido pelo Código de Defesa do Consumidor, através do
qual se consagra a proteção à parte mais vulnerável da relação de consumo: o
consumidor.
Assim, abre-se a possibilidade de o juiz inverter o ônus da prova,
quando, segundo as regras de experiência, achar verossímil a alegação ou
quando o consumidor for hipossuficiente. Verifica-se, em verdade, que tal
possibilidade só pode ocorrer em fase processual civil (dentro de um processo),
pois cabe apenas ao juiz a decisão de inverter o ônus da prova.
Em nosso ordenamento jurídico, por excelência, o ônus da prova cabe a
quem alega. Ocorre que, para o consumidor, na maioria das vezes, conseguir a
prova é muito difícil.
Assim, há a transferência ao responsável pelo dano, do ônus de provar
que não foi sua a culpa, que não houve dano, que a culpa foi exclusivamente
da vítima ou que houve fato superveniente.
Em regra, ações judiciais que visam apurar responsabilidade civil por
danos ao meio ambiente demandam realização de prova pericial, cujo corpo
técnico, invariavelmente, compreende profissionais de várias áreas, tais como:
biologia, agronomia, geografia, geologia etc. Contudo, essas ações, quase
sempre promovidas pelo Ministério Público, por organizações não
governamentais e até pelo Poder Público, costumam ter seu trâmite suspenso
por ocasião da prova pericial.
Os autores dessas demandas não estão obrigados por lei a promover a
"antecipação dos honorários periciais", conforme arts. 27, do CPC1, e 18, da
Lei da Ação Civil Pública2. Paralelamente, os réus, por opção estratégica e sob
o argumento de que a prova dos "danos" compete ao(s) autor(es) (CPC, art.
333, I), deixam de requerer tais provas. Instaura-se, assim, nessa fase
processual, uma busca, muitas vezes sem sucesso, para se localizar
profissionais habilitados aos trabalhos técnicos e que aceitem receber seus
honorários, bem como o reembolso das despesas necessárias à prova,
somente ao final pelo vencido.
Essa circunstância vem tornando letra morta inúmeros dispositivos
legais que versam sobre matéria ambiental, em especial o disposto no art. 225,
caput, da CF/88: "Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações".
Impõe-se, portanto, proceder a uma releitura do tema à luz dos valores e
regras constitucionais, com também em sintonia com os princípios que regem o
Direito Ambiental. Cumpre ter em mente que a responsabilidade civil ambiental
se reveste de nítido interesse público, consistente na conservação e
recuperação dos bens ambientais degradados; volta-se, inclusive, à mudança
do modus operandi que conduziu a prováveis situações de risco ou de dano3, e
a atuar como instrumento do princípio do desenvolvimento sustentável. Por
esses motivos, a tutela ambiental, direito difuso por excelência e de conteúdo
intergeracional, deve ser interpretado e aplicado com base em sua relevância e
magnitude, não se equiparando, nem à distância, com a tutela de direitos
individuais, em que, por exemplo, visa-se ao mero ressarcimento de danos
patrimoniais.
Por este motivo, por exemplo, que o legislador previu a responsabilidade
objetiva em casos de danos ao meio ambiente, dispensando o elemento culpa
para se impor comando indenizatório (Lei 6.938/81, art. 14, §1º). Além disso,
percebeu-se que o sistema tradicional, orientado pela responsabilidade
subjetiva, afigurava-se insuficiente para atender aos reclames e peculiaridades
da matéria. Sim, porque se sobrecarregava, por demais, o autor da ação, que
devia, dentre outros aspectos, provar a culpa do agente degradador, o que, na
prática, não era tarefa difícil concretização, conduzindo à improcedência dos
pedidos, em detrimento do "meio ambiente".
Nesse contexto, com o escopo de se restabelecer a operosidade do
sistema, ora comprometido por circunstâncias técnico-processuais, deve-se
recorrer, por analogia, ao art. 6º, inc. VIII, do Código de Defesa do Consumidor,
que prevê a possibilidade de inversão do ônus da prova pelo juiz, desde que
presentes a verossimilhança das alegações oua hipossuficiência do autor. Por
esse prisma, teria o juiz o "poder-dever" de, no caso concreto, constatada a
presença dos pressupostos legais retro, inverter o ônus da prova, não em prol
do autor, mas da sociedade que tem o direito de saber se há, ou não, danos ao
meio ambiente, bem como ver reparada, compensada e/ou indenizada possível
prática lesiva ao meio ambiente.
O emprego, por analogia, do art. 6º, VIII, do CDC, vem ao encontro a
uma série de princípios inerentes ao Direito Ambiental, dentre os quais os
princípios da supremacia do bem ambiental, do poluidor-pagador, da
prevenção, da precaução, do desenvolvimento sustentável, da função social e
ambiental da propriedade.
Isto ocorre porque de nada adianta se ter uma legislação ambiental
avançada por um lado, prevendo responsabilidade civil objetiva, passível de ser
objeto de ações coletivas, repleta de sanções pesadas, mas manietada por
aspectos processuais de menor importância, incompatíveis e
descontextualizados com a relevância do bem ambiental.
Não existe motivo para supor que a inversão do ônus da prova somente
é viável quando prevista em lei. Aliás, a própria norma contida no art. 333 não
precisaria estar expressamente prevista, pois decorre do bom senso ou do
interesse na aplicação da norma de direito material.
A par disso, cabe ressaltar que a inversão do ônus da prova em matéria
ambiental, a exemplo do que ocorre nas relações de consumo, não tem o
condão de compelir uma das partes ao custeio de eventual prova pericial,
sobretudo se postulada pela parte adversa. Apenas imputa a determinada parte
o ônus probatório em relação a determinado aspecto, sob pena de responder
pelas conseqüências processuais de sua inércia6. Dessa forma, como não há
hierarquia entre as provas, poderá referida parte desincumbir-se de seu ônus
por meio de todas as provas em direito admitidas (CPC, art. 332), seja
documental, testemunhal, pareceres técnicos etc., como também a pericial,
cabendo ao magistrado, por ocasião do julgamento, proceder à devida
valoração (CPC, art. 131).
Desta forma, atender-se-á aos ditames constitucionais, legais e
princípios lógicos que regem o Direito Ambiental, restabelecendo-se o equilíbrio
na distribuição dos ônus probatórios, tendo como objetivo, a tutela do bem
ambiental eventualmente comprometida em certas circunstâncias, de modo a
se expedir, se for o caso, comando reparatório, compensatório e/ou
indenizatório em favor do meio ambiente e da sociedade em geral, presente e
futura.

O PODER DE POLÍCIA MUNICIPAL E O LICENCIAMENTO AMBIENTAL


Ainda que o Município detenha competência legislativa apenas para
complementar ou suplementar a legislação federal e estadual, no que couber
(art. 24, inciso VI, c/c art. 30, incisos I e II, todos da CF), sua competência
executiva, ou administrativa, em matéria de proteção ao meio ambiente e
combate a poluição, é plena, por força do art. 23, VI, da CF.
A competência executiva, ou administrativa, delimita a atuação do Poder
Público na execução dos atos e das medidas para o cumprimento das leis.
Consubstancia-se no poder de fiscalizar, estabelecer regulamentos e padrões e
zelar pelo seu cumprimento. Quer dizer, é a competência executiva
constitucional do art. 23, VI, que legitima o exercício do poder de polícia
ambiental do Município.
É conseqüência natural do retrocitado dispositivo constitucional,
portanto, a competência do município para realizar o licenciamento ambiental,
como exercício do poder de polícia que detém sobre todos os assuntos locais,
a partir da promulgação da Constituição Federal.
Não obstante, alguns pretenderam rechaçar a possibilidade do exercício
deste poder, constitucionalmente assegurado, pelo Município, com base na já
citada Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente. É que seu art. 10, trata do licenciamento
ambiental, relata o "prévio licenciamento por órgão estadual competente,
integrante do SISNAMA".
De fato, esta aparente omissão legislativa é facilmente explicada. É que,
na época da promulgação da retrocitada lei, no já longínquo ano de 1981, a
posição majoritária da doutrina e da jurisprudência era de que o Município não
se constituía como entidade estatal integrante da federação e, como tal, não
detinha competência para proceder ao licenciamento ambiental, que era
realizada pelo órgão estadual, na forma prevista pelo art. 10 da Lei nº 6.938/81.
Entretanto, com o advento da Constituição Federal de 1988, esta situação ficou
esclarecida de uma vez por todas. Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de
Mello: "A Constituição de 1988 modifica profundamente a posição dos
Municípios na Federação, porque os considera componentes da estrutura
federativa. (...) Nos termos, pois, da Constituição, o Município brasileiro é
entidade estatal integrante da Federação, como entidade político-administativa,
dotada de autonomia política, administrativa e financeira”.
A partir da promulgação da CF/1988, apenas aqueles diplomas legais
pré-existentes que se conformavam com as normas contidas no diploma
constitucional foram recepcionados pela nova ordem jurídica. Quer dizer,
somente as normas compatíveis com a CF foram por ela recepcionadas, sendo
consideradas válidas e surtindo seus devidos efeitos; todas as demais são
consideradas inconstitucionais e, portanto, ficaram eivadas de eficácia prática
ou jurídica.
Entendemos, assim, que a Lei nº 6.938/81 não foi totalmente
recepcionada pelo ordenamento jurídico vigente desde a promulgação da
Constituição Federal.
Compete ao Município legislar sobre "assuntos de interesse local", de
acordo com o art. 30, inciso I, e também proteger o meio ambiente, juntamente
com as demais esferas governamentais, segundo o art. 23, inciso VI e art. 225,
todos da CF/1988.
Assim, é princípio do direito "in eo quod plus est semper inest et minus"
[11], ou seja, aquele que pode o mais, pode o menos. Se é facultado ao
Município legislar sobre assuntos locais, pode também exercer a fiscalização
naquele âmbito.
No mesmo sentido é o entendimento do mestre ambientalista Edis
Milaré:
"A seguir, a Constituição de 1988,
recepcionando a Lei nº 6.938/81, deixou claro
que os diversos entes da Federação devem
partilhar as responsabilidades sobre a
condução das questões ambientais, tanto no
que tange à competência legislativa, quanto no
que diz respeito à competência dita
implementadora ou de execução”.

Assim, integrando o licenciamento o âmbito da competência de


implementação, os três níveis de governo estão habilitados a licenciar
empreendimentos com impactos ambientais, cabendo, portanto, a cada um dos
entes integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente promover a
adequação de sua estrutura administrativa com o objetivo de cumprir essa
função, que decorre diretamente da Constituição.
Neste contexto, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
editou a Resolução nº 237, em 19 de dezembro de 1997, publicada no D.O.U.
de 22 de dezembro, que em seu art. 6º explicita o preceito constitucional
supracitado, ao estabelecer que "compete ao órgão ambiental municipal,
ouvidos os órgãos competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal,
quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de
impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por
instrumento legal ou convênio".
Agiu o CONAMA em perfeita consonância com suas atribuições, ao
aclarar a questão da competência municipal para o licenciamento ambiental.
Porém, ressalte-se que a Resolução nº 237/1997 nada cria de novo,
meramente explicitando regras de competência que advieram da Constituição
Federal de 1988, ainda que não fossem aplicadas em sua plenitude.
Com o advento da Resolução nº 237/1997, entretanto, surgiram críticas
no sentido de que um mero ato administrativo do CONAMA não seria o
instrumento adequado para dar ao Município tal competência, por conflitar,
supostamente, com a Lei nº 6.938/81. E, neste caso, alegam os defensores
desta tese, aplicar-se-ia a regra geral de que o diploma normativo superior (lei)
derrogaria o diploma normativo inferior (resolução).
Ocorre que esta interpretação, conforme já exposto, não é a mais
correta, e enormes prejuízos traz à nação, por gerar uma séria insegurança
jurídica, especialmente porque, em muitos casos, os órgãos ambientais
estaduais nela buscam guarida, efetivamente impedindo o licenciamento
ambiental por parte dos municípios, num processo de deslegitimação dos
órgãos ambientais locais. Para os empreendedores, a situação muitas vezes é
crítica, visto que pela falta de coordenação e entendimento entre os órgãos
ambientais municipais, estaduais e federais, se vêem obrigados a buscar o
licenciamento ambiental concomitantemente em todos estes órgãos. É evidente
que a excessiva burocratização que se lhes impõe tende a dificultar a
viabilização de tais projetos, o que leva ao desaquecimento da economia, à
informalidade e à ilegalidade.
Em alguns casos, os órgãos estaduais realizam convênios com os
órgãos municipais como forma de legitimar sua competência, o que é elogiável.
Entretanto, sequer isto seria necessário, porque sua competência para a
matéria decorre diretamente de preceito constitucional.

A REGRA DO ART. 333, CPC: INADEQUAÇÃO À COMPLEXIDADE DO


DANO AMBIENTAL
A responsabilidade civil por danos ambientais foge à regra da
responsabilidade civil tradicional. Daí a necessidade de utilização de regras
jurídicas adequadas a esse tipo de demanda.
A dificuldade de responsabilização ambiental tem, como principal causa,
a complexidade do dano ambiental, decorrente da causalidade complexa
(fontes múltiplas do dano), da multiplicidade de agentes, vítimas e causas
(emissões indeterminadas e anônimas), da incerteza quanto aos causadores e
efeitos, dos efeitos invisíveis, transfronteiriços, intertemporais (futuros) e
cumulativos. Vale destacar que o dano ambiental, diferentemente da
danosidade comum, projeta em si a própria "forma complexa de atuação em
‘rede’".
Tendo em vista esses aspectos, a responsabilidade civil por danos ao
ambiente foi objetivada, independendo de culpa (art. 14, § 1º, Lei 6938/81). A
objetivação da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente representou
um grande avanço no sistema de responsabilização civil ambiental, uma vez
que reduziu o objeto da prova em relação à responsabilidade tradicional
baseada na culpa, exigindo-se, tão-somente, para a sua configuração, a prova
do dano, da autoria e do nexo de causalidade entre a atividade e o dano. No
entanto, tal inovação não significou, necessariamente, a facilitação na
comprovação dos fatos. Isso porque remanesce a dificuldade de prova do nexo
de causalidade, que determina justamente a existência de relação lógica entre
causa e efeito.
A regra geral de distribuição do ônus da prova nas demandas
individuais, enunciada pelo art. 333, CPC, determina que o ônus da prova
incumbe: ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; ao réu, quanto à
existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
Portanto, "o ônus da prova recai sobre aquele a quem aproveita o
reconhecimento do fato". Trata-se de regra dispositiva, cunhada pelos valores
liberais da segurança jurídica e da isonomia formal.
Contudo, não se pode confundir o livre-arbítrio com a impossibilidade de
produzir provas: no primeiro caso, a inércia decorre da autonomia da vontade;
no segundo, da impossibilidade material em fazê-lo.
Nesse sentido, verifica-se que o ônus do autor, em provar fatos
constitutivos do seu direito, representa, no caso do meio ambiente, atribuição
de encargo excessivo. Parte o autor de grande desvantagem, porquanto o réu
pode limitar-se a negar os fatos pura e simplesmente, sem obrigação de provar
essa negativa.

Assim, Nota-se que a aplicação do art. 333, CPC, às demandas


ambientais, estimula posições de inércia e sonegação de provas de interesse
para o processo.
A regra do art. 333, CPC, é, portanto, inadequada à tutela dos interesses
supra-individuais, mas foi excepcionada pelo Código de Defesa do
Consumidor.

ART. 6º, VIII, CDC: INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


O art. 6º, VIII, do Código de defesa do Consumidor, estabelece que,
entre os direitos básicos do consumidor, está a facilidade de defesa "inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiência" (grifou-se). Ao permitir tratamento
diferenciado às relações de consumo, o art. 6º, VIII, CDC, rompeu com um
vício herdado do racionalismo e da noção de neutralidade do procedimento
ordinário, evidenciando que o ônus da prova deve ser tratado de acordo com
as necessidades do direito material.
A redistribuição do encargo probatório, estabelecida pelo CDC, é
instrumento característico do novo processo civil supra-individual, que privilegia
as técnicas de efetividade, do qual o processo civil ambiental é expressão.
Assim sendo, determinada a inversão do ônus da prova, a inércia da
parte ré significa a assunção do risco de sofrer a desvantagem, com a
incidência das regras de experiência a favor do consumidor.
Essa técnica de cunho consumerista é, da mesma forma, a mais
adequada à tutela processual do direito material ao ambiente equilibrado,
superando os óbices da complexidade do dano, e da dificuldade e onerosidade
da prova processual.

A APLICABILIDADE DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA AÇÃO CIVIL


PÚBLICA AMBIENTAL

A aplicabilidade do mecanismo da inversão do ônus da prova às


demandas ambientais advém da integração dos diplomas consumerista e civil
público, que, em conjunto, formam o sistema processual coletivo.
O art. 21, LACP, não permite a utilização da inversão do ônus da prova
pela Lei da Ação Civil Pública, porquanto parece restringir a integração das
duas normas ao Título III do CDC, que versa sobre a defesa do consumidor em
juízo.
Em síntese, constituem o sistema processual coletivo: a LACP, o Título
III do CDC, e as demais disposições processuais que se encontram pelo corpo
do CDC.
Cumpre destacar, ademais, que o CDC é diploma principiológico,
estando essa característica presente nos arts. 6º e 7º, que tratam,
respectivamente, dos direitos básicos do consumidor e das fontes dos direitos
do consumidor.
Assim, em razão da integração dos diplomas consumerista e civil
público, do caráter principiológico do CDC e do cunho processual e
principiológico do art. 6º, VIII, do CDC, pode-se afirmar que o mecanismo da
inversão do ônus da prova é perfeitamente aplicável às demandas difusas,
tuteladas por ação civil pública, aí incluídas as ambientais.
A inversão do ônus da prova aplica-se a qualquer interesse difuso,
coletivo ou individual homogêneo, tutelados por ação civil pública. Pode-se,
inclusive, afirmar que o mecanismo é aplicável ainda às ações civis públicas
não ambientais, previstas nos incisos I, III, IV, V, VI e VII, do art. 1º, LACP.
Além da integração do Código de Defesa do Consumidor e civil público,
a inversão do ônus da prova nas demandas ambientais justifica-se em razão da
vulnerabilidade do meio ambiente e da coletividade. A hipossuficiência técnica,
científica e econômica da parte autora da demanda ambiental, muitas vezes,
inviabiliza a atividade probatória.
A inversão do ônus da prova atua aí como princípio da isonomia (art. 5º,
caput e inciso I, CRFB), equilibrando a relação poluidor/pessoa humana. Trata-
se de garantir às partes igualdade de oportunidades com observância do
princípio do contraditório.
Outrossim, a inversão do ônus da prova destaca-se como instrumento
fundamental para efetivação do princípio ambiental da responsabilização civil.
Contribui, ademais, para a efetivação do princípio do poluidor-pagador, auxiliar
da responsabilização civil.
A adoção desse mecanismo decorre, ainda, da preponderância do
interesse coletivo (meio ambiente ecologicamente equilibrado) sobre o
interesse individual (mormente, o lucro). O direito constitucional fundamental ao
ambiente equilibrado tem carátersupra-individual, de bem de uso comum do
povo, pertencente a toda a coletividade, incorpóreo, indisponível, indivisível,
inalienável, impenhorável, intergeracional, insuscetível de apropriação
exclusiva, essencial à qualidade de vida e à dignidade da pessoa humana, sem
valor pecuniário correspondente, cujos danos são de difícil ou impossível
reparação. Trata-se de bem vital à existência humana.
Assim, considerando a inversão do ônus da prova decorrência natural da
difusidade do bem ambiental (pertencente a toda a coletividade), conclui-se
pela desnecessidade de inclusão expressa de dispositivo na Lei da Ação Civil
Pública. Trata-se de mecanismo de criação doutrinária e utilização
jurisprudencial, com utilização subsidiária do art. 6º, VIII, CDC.

CONCEITO DE RESPONSABILIDADE
A palavra responsabilidade significa obrigação de natureza contratual do
Direito Romano, pela qual o devedor se vinculava ao credor nos contratos
verbais, tendo, portanto, a idéia e concepção de responder por algo.
A responsabilidade pode adquirir um significado sociológico, no qual
ganha aspecto de realidade social, pois decorre de fatos sociais, é fato social.
Segundo Pontes de MIRANDA apud DIAS (1997, p. 7-10) os julgamentos de
responsabilidade são reflexos individuais, psicológicos, do fato exterior social,
objetivo, que é a relação de responsabilidade. Já sob o ponto de vista jurídico,
a idéia de responsabilidade adota um sentido obrigacional: é a obrigação que
tem o autor de um ato ilícito de indenizar a vítima pelos prejuízos a ela
causados.

RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil é a situação de indenizar o dano moral ou
patrimonial, decorrente de inadimplemento culposo, de obrigação legal ou
contratual, ou imposta por lei.
De acordo com o exposto, a noção de responsabilidade, no campo
jurídico, amolda-se ao conceito genérico de obrigação, o direito de que é titular
o credor em face do dever, tendo por objeto determinada prestação. No caso
assume a vítima de um ato ilícito a posição de credora, podendo, então, exigir
do autor determinada prestação, cujo conteúdo consiste na reparação dos
danos causados.
Quando se aplica essa idéia à responsabilização civil, quem deve é o
devedor e quem responde pelo débito, ou pela reparação do dano é o seu
patrimônio.
Quanto à classificação da responsabilidade civil, há duas teorias: a
subjetiva e a objetiva.
A teoria subjetiva tem na culpa seu fundamento basilar, só existindo a
culpa se dela resulta um prejuízo. Todavia, esta teoria não responsabiliza
aquela pessoa que se portou de maneira irrepreensível, distante de qualquer
censura, mesmo que tenha causado um dano. Aqui, argüi-se a
responsabilidade do autor quando existe culpa, dano e nexo causal.
A teoria objetiva não exige a comprovação da culpa, e hodiernamente
tem sido subdividida em pura e impura.
A responsabilidade civil é objetiva pura, quando resultante de ato lícito
ou de fato jurídico, como alguém que age licitamente e, mesmo assim, deve
indenizar o prejuízo decorrente de sua ação. Neste caso, a lei deve dizer,
expressamente, que o indenizador deve indenizar independentemente de
culpa, como nos danos ambientais (art. 14, º 1º, da Lei 6938/81), nos danos
nucleares (art. 40, da Lei 6453/77) e em algumas hipóteses do Código do
Consumidor.
Por outro lado, a responsabilidade civil objetiva impura existe quando
alguém indeniza, por culpa de outrem, como no caso do empregador que,
mesmo não tendo culpa, responde pelo ato ilícito de seu empregado (art. 1521,
III, do Código Civil, e Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal).

Pressupostos da responsabilidade civil ambiental


A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente - Lei n. 6.938/81 – criou, em
seu artigo 14, § 1o, o regime da responsabilidade civil objetiva pelos danos
causados ao meio ambiente. Dessa forma, é suficiente a existência da ação
lesiva, do dano e do nexo com a fonte poluidora ou degradadora para
atribuição do dever de reparação.
Comprovada a lesão ambiental, torna-se indispensável que se
estabeleça uma relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e
o dano dele advindo. Para tanto, não é imprescindível que seja evidenciada a
prática de um ato ilícito, basta que se demonstre a existência do dano para o
qual exercício de uma atividade perigosa exerceu uma influência causal
decisiva.
Vale ressaltar que, mesmo sendo lícita a conduta do agente, tal fator
torna-se irrelevante se dessa atividade resultar algum dano ao meio ambiente.
Essa nada mais é do que uma conseqüência advinda da teoria do risco da
atividade ou da empresa, segundo a qual cabe o dever de indenizar àquele que
exerce atividade perigosa, consubstanciando ônus de sua atividade o dever de
reparar os danos por ela causados. Tal teoria decorre da responsabilidade
objetiva, adotada pela Lei de Política Nacional do Meio Ambiente.
A responsabilidade civil objetiva aos danos ambientais pode assumir
duas acepções diferentes. Por um lado, a responsabilidade objetiva tenta
adequar certos danos ligados aos interesses coletivos ou difusos ao anseio da
sociedade, tendo em vista que o modelo clássico de responsabilidade não
conseguia a proteção ambiental efetiva, pois não inibia o degradador ambiental
com a ameaça da ação ressarcitória. Por outro lado, a responsabilidade
objetiva visa a socialização do lucro e do dano, considerando que aquele que,
mesmo desenvolvendo uma atividade lícita, pode gerar perigo, deve responder
pelo risco, sem a necessidade da vítima provar a culpa do agente. Desse
modo, a responsabilidade estimula a proteção a meio-ambiente, já que faz o
possível poluidor investir na prevenção do risco ambiental de sua atividade.
Quando se fala sobre a responsabilidade civil ambiental, que se sabe é
objetiva, faz-se imperioso refletir a respeito do princípio de Direito Ambiental do
Poluidor-Pagador.
Segundo este princípio, quem polui deve arcar com as despesas que
seu ato produzir, e não, como querem alguns ,que quem paga pode poluir. Tal
princípio pretende internalizar no preço as externalidades produzidas, o que se
denomina custo ambiental. Desta forma, existe a imposição ao sujeito causador
do problema ambiental em sustentar financeiramente a diminuição ou
afastamento do dano. Visa, ainda, impedir a socialização dos prejuízos
decorrentes dos produtos inimigos ao meio ambiente.
Existem vários tipos de externalidades, podendo elas serem negativas
ou positivas. Para compreender melhor, veja os exemplos:
Externalidades negativas:
a) Empresa despeja efluentes em rio que servia para pescadores
ribeirinhos tirarem seu sustento. É causado prejuízo financeiro.
b) Igreja executa som em volume muito elevado, o que impede que um
senhor que mora ao lado, alugue quartos para estudantes.
c) Um morador armazena materiais reclicláveis de forma inadequada em
seu lote, causando acúmulo de água e a proliferação de mosquitos
transmissores de dengue. Os vizinhos são constantemente acometidos pela
doença, tendo prejuízos financeiros com o tratamento e com a impossibilidade
de trabalhar.
Externalidades positivas:
a) Um fazendeiro criou um pomar de laranjeiras, e seu vizinho, criador
de abelhas foi beneficiado com a disponibilidade de flores, o que lhe gerou
mais lucro.
b) Um empreendedor compra um grande terreno baldio na periferia e
constrói um shopping-center. O fato valoriza todos os imóveis da região.

Assim, compreendemos que o correto é que o poluidor incorpore nos


seus custos o preço da degradação que causa – operação que decorre da
incorporação das externalidades ambientais e da aplicação do princípio
poluidor-pagador – a responsabilidade civil proporciona o ambiente político-
jurídico necessário à operacionalização do princípio da precaução, pois
prevenir passa a ser menos custoso que reparar.
Dessa forma, distingue-se no princípio duas esferas básicas: busca
evitar a ocorrência de dano ambiental – caráter preventivo; e ocorrido o dano,
visa a sua reparação – caráter repressivo.
Dentro desse princípio, mais precisamente em seu caráter repressivo é
que se insere a idéia de responsabilidade civil pelo dano causado ao meio-
ambiente.

DANO AMBIENTAL
Sendo o dano, pressuposto indispensável para a formulação de uma
teoria jurídica adequada de responsabilidade ambiental, faz-se necessária uma
breve incursão no seu conceito jurídico.
O dano é toda a ofensa a bens ou interesses alheios protegidos pela
ordem jurídica.
Dano é o prejuízo causado a terceiros, ao se lesar bens juridicamente
protegidos. Ele pode ser visto sob dois aspectos: patrimonial, no qual se atinge
o patrimônio econômico do lesado; e extrapatrimonial ou moral, quando o
prejuízo é causado no psicológico da vítima, ou seja, os direitos da
personalidade que são afetados.
No que concerne ao dano ambiental, sua caracterização dependerá da
valoração dada ao bem jurídico lesado pelo dano e protegido pela ordem
jurídica. Destarte, para a definição do dano ambiental, torna-se essencial,
preliminarmente, que se caracterize o conceito jurídico de meio ambiente.
Meio ambiente é um bem jurídico, que pertence a todos os cidadãos
indistintamente, podendo, desse modo, ser usufruído pela sociedade em geral.
Contudo, toda a coletividade tem o dever jurídico de protegê-lo, o qual pode ser
exercido pelo Ministério publico, pelas associações, pelo próprio Estado e até
mesmo por um cidadão.
O conceito de meio ambiente foi, primeiramente trazido pela Lei
6.938/81, no seu artigo 3º, I, conhecida como Lei de Política Nacional do Meio-
Ambiente. Tal definição posteriormente foi recepcionada pela Constituição
Federal de 1988, que, de acordo com o seu artigo 225, tutelou tanto o meio
ambiente natural, como o artificial, o cultural e o do trabalho, como pode ser
constatado:
“Art. 225 - Todos tem direito ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”.
Diante do que foi exposto, o dano ambiental, pode ser compreendido
como sendo o prejuízo causado a todos os recursos ambientais indispensáveis
para a garantia de um meio ecologicamente equilibrado, provocando a
degradação, e conseqüentemente o desequilíbrio ecológico.
O dano ambiental, assim como o dano, tanto pode ser tanto patrimonial
como moral. É considerado dano ambiental patrimonial, quando há a obrigação
de uma reparação a um bem ambiental lesado, que pertence a toda a
sociedade. O dano moral ambiental, por sua vez, tem ligação com todo prejuízo
que não seja econômico, causado à coletividade, em razão da lesão ao meio-
ambiente.
Não se pode olvidar da questão social desencadeada pelo dano
ambiental. O dano ao meio-ambiente representa lesão a um direito difuso, um
bem imaterial, incorpóreo, autônomo, de interesse da coletividade, garantido
constitucionalmente para o uso comum do povo e para contribuir com a
qualidade de vida das pessoas.
Assim, não apenas a agressão à natureza que deve ser objeto de
reparação, mas também a privação do equilíbrio ecológico, do bem estar e da
qualidade de vida imposta à coletividade.

REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL


Existindo um dano ambiental, há o dever de repará-lo. A reparação é
composta de dois elementos: a reparação in natura do estado anterior do bem
ambiental afetado e a reparação pecuniária, ou seja, a restituição em dinheiro.
Quando não for possível o retorno ao status quo, recairá sobre o
poluidor a condenação de um quantum pecuniário, responsável pela
recomposição efetiva e direta do ambiente lesado. Porém, na legislação pátria,
não há critérios objetivos para a determinação do referido quantum imposto ao
agente degradador do meio-ambiente. A doutrina, entretanto, dá alguns rumos
que devem ser seguidos, como, por exemplo, a reparação integral do dano,
não podendo o agente degradador ressarcir parcialmente a lesão material,
imaterial e jurídica causada.
Na tentativa de recuperação do status quo ante, a Constituição Federal
Brasileira, no seu artigo 225, IV, disciplinou o estudo do impacto ambiental que
tem entre suas finalidades precípuas traçar uma solução técnica adequada à
recomposição do ambiente modificado por atividade licenciada. Assim sendo,
uma avaliação prévia dos danos facilitaria uma posterior reparação ao
ambiente impactado.
CF/88, art. 225, § 1º, IV: "Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade."
É de grande valia ressaltar que, nem todo dano se indeniza. É
impossível determinar o montante a ser pago no caso da extinção de uma
forma de vida, da contaminação de um lençol freático ou da devastação de
uma floresta. Nesses casos, a composição monetária é absolutamente
insatisfatória.
Há ainda que se examinar a questão do dano extrapatrimonial ambiental
e sua reparação. O dano moral ao meio-ambiente é a lesão que desvaloriza
imaterialmente o meio-ambiente ecologicamente equilibrado e também os
valores ligados à saúde e à qualidade de vida das pessoas. Se o meio-
ambiente é um direito imaterial, incorpóreo, de interesse da coletividade, pode
ele ser objeto do dano moral, pois este é determinada pela dor física ou
psicológica acarretada à vítima. É possível afirmar a partir daí, que a
degradação ambiental geradora de mal-estar e ofensa à consciência psíquica
das pessoas físicas ou jurídicas pode resultar em obrigação de indenizar aos
seus geradores.
Os danos causados ao meio ambiente poderão ser tutelados por
diversos instrumentos jurídicos, com destaque para a ação civil pública, ação
popular e mandado de segurança coletivo. Dentre estes, a ação civil pública
ambiental tem sido a ferramenta processual mais adequada para apuração da
responsabilidade civil ambiental.

A nova concepção ética da tutela ao meio ambiente


Meio ambiente é tudo o que nos cerca. Na definição de TOURINHO
NETO constitui o meio ambiente "um conjunto em que o homem está inserido,
dele dependendo para sobreviver biológica, espiritual e socialmente".
Curiosamente, alguns questionam o porquê da proteção ao meio
ambiente, ou, qual o motivo do empenho do legislador ao elaborar normas
penais que venham a tutelar o tão defendido bem jurídico em questão. Busca-
se resguardar o ambiente para o próprio beneficio do homem, para se alcançar
uma boa qualidade de vida, ou seja, proteger-se o ecossistema para a garantia
da própria sobrevivência humana na Terra. Não se defende o bem jurídico
porque está na moda, porque é politicamente correto, mas para a
sobrevivência e bem-estar do homem, pois, sem ele, o homem não pode viver.
Aos poucos vem sendo inserida no contexto da proteção ao meio
ambiente a questão da ética ambiental, que é uma ciência da moral e pode ser
definida como a "teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em
sociedade". Essa nova ética vem surgindo e ganhando forças no que diz
respeito ao trato com o meio ambiente. Assim como a legislação vai com o
tempo se aprimorando no sentido de se enquadrar às necessidades atuais, a
ética tradicional deu lugar à ética ambiental, que vem sendo muito divulgada.
Segundo seus estudiosos, toda a sociedade é responsável pela
degradação do meio ambiente. O mais rico polui com a sua atividade industrial
e comercial e o mais pobre por falta de condições econômicas de viver
condignamente e por pouco acesso às informações ecológicas.
Surge então uma nova forma de conduta frente à natureza, devido à
grande degradação atual, de forma a conscientizar o homem de que a natureza
existe para proporcionar-lhe meios de sobrevivência, tendo em vista que o
meio ambiente vinha sendo posto em último lugar na hierarquia de valores,
devido à extrema valoração dos direitos individuais.

BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO PENAL AMBIENTAL


BRASILEIRA
Estudiosos da matéria penal, no que diz respeito ao tema em questão,
ou seja, o meio ambiente e sua tutela por parte da legislação, apontam em
suas pesquisas que desde o séc. XVI já se verificava a existência de uma
ampla legislação protecionista vigente no Brasil, porem não era suficiente para
se ter uma tutela autêntica, segundo WAINER, que analisou a legislação
portuguesa e também a brasileira, vigentes no país após o descobrimento, que
já se preocupavam com o abastecimento de gêneros alimentícios que se
tornavam escassos em Portugal, contendo regras de proteção à caça de
animais e a alguns alimentos básicos, como o pão e a farinha, riquezas como o
ouro, a prata, dentre outros.
Com a instituição do Governo Geral do Brasil, surgem os chamados
Regimentos do Governo Geral, buscou-se prevenir a devastação exacerbada
das florestas, que tinham por fim a construção de navios para incremento da
frota portuguesa.
O Código Filipino, ou Ordenações Filipinas, promulgado em 1603 trazia
em seu bojo a tipificação de vários crimes contra o meio ambiente, como o
dano causado em olivais e pomares pelo pasto de animais pertencentes a
vizinhos, restrições sobre a caça e a pesca, poluição das águas, e ainda um
dispositivo que proibia a qualquer pessoa jogar material nas mesmas, que
pudesse sujá-las ou matar os peixes.
A aplicação da legislação extravagante penal que acompanhou o
processo de desenvolvimento do Brasil-colônia foi difícil, devido às extensões
das terras coloniais que se faziam maiores a cada dia, com grandes distâncias
a serem vencidas.
O primeiro Código Penal, promulgado em 1830 já continha dispositivos
que puniam o corte ilegal de árvores e o dano ao patrimônio cultural, seguido,
já em 1850, pela Lei 601 ("Lei das Terras"), que estabelecia sanções
administrativas e penais, no seu art. 2°, para o dano causado pela derrubada
das matas e queimadas.
Foi em meados de 1850 que surgiu no Mundo Velho, a expressão hoje
tão conhecida por "ecologia", introduzida pelo alemão Ernerst Haeckel, em
1866, figurando juntamente com ele Charles Darwin, Malthus e outros
cientistas que, com seus estudos, contribuíram e figuraram na história da
proteção ambiental.
Em 1917, o Código Civil veio dar aos bens ambientais um tratamento
sob a ótica dos interesses privados. Encontramos também essa proteção em
nível administrativo no Dec. 4.421/21, que veio a criar o Serviço Florestal do
Brasil, objetivando a conservação dos recursos florestais, já vistos como bens
de interesse público. Só então em 1934 surge o primeiro Código Florestal (Dec.
23.793/34), que vem tutelar juridicamente o meio ambiente, tipificar as ofensas
cometidas na utilização das florestas, classificando-as com crimes e
contravenções penais. Surge também a nova Constituição Federal, contendo
alguns dispositivos ambientalistas, o Código de Águas (Dec. 24.643/34) e o
Código de Caça (Dec. 24.645/34).
Pouco tempo depois, foi promulgado um novo Código Penal (Dec.-lei
2.848/40), bem como a Lei das Contravenções Penais (Dec. 3.688/41), sendo
que, quanto ao primeiro, vimos que pouca atenção foi dispensada à questão
ambiental.
Mais tarde, na década de 60, época onde houve uma intensa elaboração
legislativa na área ambiental, surge uma nova reformulação foi feita no que
tange à tutela penal ambiental, surgindo um novo Código Florestal (Lei
4.771/65). Também preocupou-se com a proteção à fauna (Lei 5.197/67), a
pesca (Dec.-lei 221/67) e também com a poluição das águas (Dec. 50.877/61,
alargado pelo Dec.-lei 303/67), que, além das águas tuteladas pelo primeiro,
passaram também ao âmbito de proteção o ar e o solo, mas foi somente com a
Lei 6.938/81 é que se promoveu a adequação do conceito às novas exigências
e à nova visão da proteção ambiental, partindo, então dos efeitos que as
degradações da qualidade ambiental podem causar nas condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente, por cujos danos seu autor deverá ser
responsabilizado, tendo como obrigação reparar tal dano.
A Constituição Federal de 1988 veio então inovar em várias questões
concernentes à proteção ambiental e tivemos ainda a elaboração de mais leis
extravagantes na área ambiental, nas suas modalidades mais atuais, que
expressam as necessidades ao mundo moderno, frente à evolução tecnológica,
como a necessidade de proteção à camada de ozônio, a regulamentação do
uso de agrotóxicos, comercialização e utilização da moto-serra, a
regulamentação das atividades nucleares frente aos sérios danos que
possivelmente possam ser causados, como o acidente na usina nuclear de
Chernobill, há alguns anos atrás.
Como bem observa FERREIRA:

"Ao lado dessa profusa legislação


especificamente ambiental, embora não
exclusivamente penal, subsistem e podem ser
aplicados todos aqueles dispositivos que, tanto
no Código Penal quanto na Lei das
Contravenções Penais podem ser referidos às
ofensas ambientais, embora não tivessem sido
imaginados para tal, constituindo um conjunto
legislativo de proteção ambiental por extensão
ou por interpretação, já que aí foram colocados
pelo legislador com outros objetivos sendo,
porém, adequados à tutela nessa área, como
são, principalmente, os crimes contra a saúde
pública e contra a incolumidade pública. Essa
interpretação coaduna-se com o espírito da lei,
e serve de paliativo enquanto se aguarda o
adequado cumprimento dos mandamentos
constitucionais e a elaboração de uma
legislação penal ambiental mais eficiente".

A tutela penal ao meio ambiente


Não era sólida, antes da Constituição Federal de 1988, a idéia de se
editar normas para tutelar o meio ambiente. E, começaram assim, grandes
cobranças sociais, pois o assunto já era polêmico no mundo todo, e não
tínhamos nenhuma norma a respeito.
Assim, com a promulgação da Constituição de 1988, buscou inserir em
seu bojo, a matéria relacionada com a preservação do meio ambiente, e ainda
imposição de medidas coercitivas no âmbito penal aos infratores das normas,
conforme dispõe o art. 3° do artigo 225, e de certa forma buscou ainda, a
conscientização dos indivíduos da importância em suas vidas e para suas
gerações futuras, procurando assim um respeito mútuo entre o homem e a
natureza.
Sendo de caráter extremamente necessário a intervenção penal,
deparamos, contudo, que o nosso Código Penal não atende todos os anseios
sociais, em virtude de ter se desatualizado, pois foi o mesmo editado em 1940
e estando até a presente data em vigor, não acompanhando as novas
exigências e situações que ocorreram em conseqüência da evolução
tecnológica e da vida moderna em face do crescimento urbano.
A tutela do direito Penal visa, primordialmente, a conservação da vida
humana, não permitindo que o homem saia destruindo, produzindo danos à
vida, à sociedade, ao patrimônio, enfim causando um verdadeiro caos a toda a
coletividade. Busca proteger não só o homem, como também os animais.
Observamos a importância do direito penal, pois visa resguardar os
valores fundamentais, bem como fazer valer sempre quando necessário tais
normas, tendo atuação diretamente sobre o infrator.
Abraçaremos o posicionamento de DOTTI, para quem:
"em tal proceder histórico, o direito penal vai
assimilando, em maior ou menor proporção e
tempo, as exigências e as solicitações
necessárias à preservação e ao
desenvolvimento da personalidade. Como
conseqüência, na medida em que se modificam
as bases necessárias aos comportamentos
individuais e coletivos, também se alteram as
estruturas formais do direito penal". E
acrescenta ainda: "Frente a esta perspectiva o
jurista deve agir como um autêntico depositário
de consciência pública vertendo-se sobre a
realidade social e as aspirações mais
profundas da comunidade. Os posicionamentos
mais modernos buscam excitar um senso de
responsabilidade ecológica, pois se o homem
continua com essa degradação massiva do
meio ambiente, daqui algum tempo não haverá
mais vida na Terra, pois tudo funciona como
um ciclo ecológico. Cada ser tem sua
participação nessa cadeia ecológica,
obrigatoriamente ligadas entre si. Se destruída
uma parte dessa cadeia, automaticamente, e
mesmo que ´demore´ ver os resultados, o
restante da cadeia não sobreviverá.”
Nessa linha de raciocínio o Direito Penal moderno, busca atender os
anseios, de acordo com a atualidade levando em consideração a
"criminalização ou descriminalização". Conforme ensina FERREIRA:
"uma tendência para a descriminalização de
certas condutas tipificadas na lei penal, de fato
instala-se na doutrina contemporânea,
sobretudo pela falência das penas privativas de
liberdade e sua impossibilidade de evitar a
ocorrência de crimes e conseguir a
repercussão dos criminosos, sendo motivada
também pela descrença na administração da
justiça penal para resolver o problema da
violência e da criminalidade na sociedade
moderna".
O maior desafio, sem dúvida alguma, é a implantação segura de normas
que tutelam o meio ambiente no caso concreto, evitando injustiças cometidas
diariamente, pois, principalmente as grandes empresas aproveitam de brechas
da lei para auferir vantagens econômicas, podendo citar, v.g., a Petrobrás,
empresa que constantemente derrama petróleo nas águas do mar, causando a
morte de vários animais, sendo que apenas lhe é aplicada multa, que para ela
não faz muita diferença. Sobre essa falta de tutela adequada, ficamos com o
posicionamento de LOPES:
"a má definição dos tipos, de modo a deixar
duvida sobre a ação proibida ou ordenada, ou
uma cominação de pena imprópria ou
desproporcionada pode, realmente, redundar
cm graves e irreparáveis conseqüências para
os direitos humanos".
A tutela ambiental, além da Constitucional, deve ser efetivada também
mediante o direito administrativo (tutela administrativa), com aplicações de
sanções administrativas, e o direito civil (tutela civil).
Se a aplicação de tais sanções, tanto na esfera cível como na
administrativa não lograrem êxito, entra em cena o direito penal (tutela penal),
em ultima ratio, através da tipificação de condutas ofensivas ao meio ambiente.
A preservação do meio ambiente é o objeto jurídico do crime ambiental,
segundo TOURINHO NETO. O objeto material, portanto, dependerá do crime,
podendo ser contra a fauna, as florestas, as águas etc.
Tem como tipo subjetivo o dolo ou vontade livre e consciente de causar
dano, consumando-se com a mera verificação de possibilidade de dano.
Encontramos também a forma culposa nos tipos descritos pelo Código Penal.
Os crimes ambientais, geralmente, são crimes de perigo, bastando a
possibilidade de dano e o sujeito passivo principal é a sociedade.
O texto constitucional do art. 225, § 3° serve de supedâneo à
imprescindível tutela penal ambiental. Segundo PRADO:
"as leis anteriores à lei 9.605/98 tratavam-se de
normas de difícil aplicação, tortuosas e
complexas, excessivamente prolixas,
casuísticas e tecnicamente imperfeitas".
A intervenção penal na proteção do meio ambiente deve ser feita de
forma limitada e cuidadosa.

ASPECTOS DA LEI N° 9.605/98


A lei 9.605/98, proposta pelo Governo e, após sete anos de tramitação
no Congresso Nacional, foi então aprovada em regime de urgência pelo Poder
Legislativo, devido ao reclamo social à tutela do bem jurídico, vindo dispor
sobre as sanções não só penais como administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, sendo que estas últimas ainda carecem
de regulamentação. Caracteriza-se como um diploma normativo moderno,
dotado de regras avançadas, estabelecendo coerentemente quase todas as
condutas administrativas e criminais lesivas ao meio ambiente, sem prejuízo
das sanções civis, já existentes em outras leis específicas.
Antes, as regras no que tange ao meio ambiente eram confusas e
geralmente conflitantes entre si. Agora, com a nova lei, as normas de direito
penal ambiental estão sistematizadas adequadamente, possibilitando o seu
conhecimento pela sociedade e sua execução pelos entes estatais. Contudo,
como era de se esperar, nem todos os atos lesivos contra o meio ambiente
foram abrangidos pela nova lei, ao contrário da intenção de seus idealizadores.
Essas lacunas serão ainda preenchidas pelo Código Penal, Lei das
Contravenções Penais e pelo Código Florestal, como é o caso do delito de
difusão de doença ou praga, de poluição sonora e de proibição da pesca de
certos animais marinhos, entre outros.
Segundo o promotor de justiça, Miguel Sales, "a referida lei, lapidada por
juristas de renome, assemelha-se, no seu formato, ao Estatuto da Criança e do
Adolescente e ao Código de Defesa do Consumidor, que são leis de terceira
geração, visando promover a qualidade de vida e a dignidade humana, num
País cheio de contrastes e marginalização social".
A lei veio aplicar a noção de responsabilidade penal, já que as infrações
praticadas contra o meio ambiente possuem características próprias em
relação à maior parte das práticas delituosas já disciplinadas pelo direito penal
e também disciplinar penas alternativas, como substituição das penas
restritivas de liberdade de até 4 anos.
Tal conjunto de normas dá força de lei à fixação da multa administrativa,
dependendo do ilícito cometido pelo infrator.
A principal novidade trazida pela lei 9.605/98 ao nosso ordenamento
jurídico é a responsabilidade penal da pessoa jurídica, prevendo para elas tipos
e sanções e bem definidos, diferentes daquelas que só se aplicam à pessoa
humana.. Tal questão, no entanto, é bastante polêmica e será comentada no
item seguinte. A nova lei trouxe uma grande inovação ao transformar os ilícitos
que antes eram apenas contravenções penais para crimes contra o meio
ambiente, como o desmatamento não autorizado, maltratar animais domésticos
e realizar experiências dolorosas ou cruéis em animais vivos, mesmo que seja
para fins didáticos ou científicos. Corrigiu distorções existentes no Código de
Caça, como a que tipificava de crime inafiançável, com alta punição, o fato de
um simples camponês abater um animal silvestre para o consumo; enquanto os
imensos latifúndios, pulverizados com agrotóxicos, ficavam isentos de sanção
penal, mesmo que houvesse a dizimação de um ecossistema por inteiro.
Confere também, àquele que reparar o dano causado pelo ilícito, o
direito de se eximir da punição. Exime-se de pena também aquele que mata
animal silvestre para saciar a sua própria fome ou de seus familiares, o que
não ocorria antes dessa lei.
Com essa nova lei, os produtos apreendidos da fauna e flora podem ser
doados ou até destruídos, e os instrumentos utilizados na infração podem ser
vendidos.
Como não poderia deixar de ser, críticas estão sendo alvejadas por
renomados juristas, no sentido de que a lei em referência não prospera em seu
conteúdo, quando, v. g., responsabiliza penalmente a pessoa jurídica, ou
tipifica culposamente o ato de "destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de
ornamentação em propriedade privada alheia" (art. 49), assim como, ao
estabelecer reprimenda mais elevada (art. 32, pena: detenção de três meses a
um ano e multa) àquele que "maltrata animais silvestres ou domesticados,
nativos ou exóticos", ao passo que ao próprio ser humano, a lei penal prevê a
magra pena de detenção de dois meses a um ano ou multa ao delito de maus
tratos (art. 136, CP).
O legislador de 98 utiliza termos amplos e indeterminados,
freqüentemente vazados em normas penais em branco e com um liame muito
tênue com o direito administrativo, o que é prejudicial devendo acontecer só em
caso de necessidade.
Como brilhantemente afirma SALES, é preciso cautela na aplicação da
lei de crimes ambientais, pois, desde que não agrida realmente a natureza,
devemos utilizar a madeira, o minério, a caça, a pesca e outros recursos
naturais.
Não se deve esquecer que a maioria do nosso povo é pobre e vive do
extrativismo. O puro conservadorismo serve mais a países como Estados
Unidos, Alemanha, Canadá, que depredaram florestas, mataram seus solos,
secaram suas fontes de água e, agora, querem ditar regras para os países
emergentes como o Brasil, sem deixar de explorar os seus recursos naturais e
de ter qualquer preocupação com o subdesenvolvimento que nos assola.
Em suma, cumpre observar a lei em questão com bons olhos, pois, no
geral, foi positiva, porque deixou o campo exclusivo da abstração (normalmente
predominante entre as normas) e procurou com essa e outras inovações, trazer
melhor exeqüibilidade no tratamento das sanções penais, naquelas situações
delituosas não enquadradas como de grave ameaça ou violência à pessoa,
estando, assim, em substancial consonância com a problemática penitenciária
do país que em tais casos, não mais salvaguarda o intuito preventivo
repressivo da pena, mediante a privação da liberdade do criminoso.

AS NORMAS PENAIS AMBIENTAIS


As normas penais ambientais não se diferem das outras normas penais,
exceto no que se refere à sua independência, pois, com certa freqüência, se
apresentam como normas penais em branco, pois necessitam de
complementação por parte dê outras leis, sejam elas penais ou até extra-
penais.
Segundo PRADO, isso ocorre com as normas penais ambientais, pelas
conotações especiais que a proteção ao meio ambiente apresenta, em virtude
do seu caráter complexo, técnico e multidisciplinar, bem como pela sua estreita
ligação com as normas administrativas, facilitando-lhes a aplicação.
Cabe ressaltar que, devido à questão levantada sobre a legitimidade de
normas ambientais emanadas dos Estados, tanto as leis emanadas da União,
Estados ou Municípios, poderão complementar as normas penais ambientais
que necessitarem de complementação, pois, ao contrário do que se dizia, que,
se tais normas originassem de órgãos inferiores, estaria infringindo o art. 22 da
Constituição Federal, que delega a atribuição legislativa penal, como atribuição
privativa da União, não podendo, "dessa forma, os Estados legislar sobre a
matéria fundamental do Direito Penal". Tais normas, tanto uma quanto a outra
podem servir de complementação ao preceito das normas penais ambientais,
se tiver sido adotado o modelo da norma penal em branco para a construção
do tipo penal e quando aquela forem de ordem secundária e facultativa.
Também, dentro dessa controvérsia doutrinária, entende RAMIREZ que
tal complementação é permitida, pois vem a evitar possíveis arbitrariedades no
momento da tipificação, não ferindo, portanto o princípio da reserva legal, como
outros autores afirmam. Importante considerar que a função primordial da
norma penal ambiental é a proteção dos bens jurídicos de relevante valor na
comunidade, dirigindo-se somente às ações mais graves, contra bens
fundamentais, que são tidas como intoleráveis, extremas, onde encontramos os
direitos fundamentais da pessoa humana, os direitos sociais, onde se encontra
inserida a proteção ao meio ambiente. Contudo, segundo COSTA JR. [18],
essa intervenção penal deverá ser feita "com um sistema articulado em tipos
idôneos à finalidade perseguida e equipado com sanções proporcionais à real
entidade do dano social acarretado".
A efetividade da tutela que se quer prestar ao meio ambiente depende
da construção do tipo penal e, pela enorme gama desses bens relativos ao
meio ambiente, tornando difícil sua especificação pelo legislador, dão um certo
grau de indeterminação aos elementos descritivos da norma penal, como no
caso das noções de "poluição", "degradação", "descarga", "emissões", que
fundamentam várias normas penais ambientais.
Qual seria então a maneira de se lidar com essa falta de clareza do
legislador? Segundo FERREIRA:
“é a utilização, pelo próprio legislador de uma
interpretação autêntica de terminologia ou das
expressões empregadas, esclarecendo o
sentido das palavras mais técnicas, ou
daquelas que têm um determinado sentido
comum, mas um significado especial no
contexto da lei (...)".
Outro problema com o qual deparamos é o do "tipo aberto", o qual
também pode levar à incerteza jurídica, o qual abre margem de dúvidas quanto
à correia verificação da conduta, que é legalmente indeterminada. O "tipo
aberto", segundo WELZEL, encontrado na norma penal, é aquele onde
somente uma parte da conduta está legalmente descrita, devendo a outra ser
construída pelo juiz para a complementação do tipo.
Os tipos penais ambientais são de regra dolosos, sendo poucas as
hipóteses nas quais encontramos tais tipos na forma culposa (onde, segundo
COSTA JR., implícita está a vontade delituosa na prática de determinadas
condutas vedadas, como é o caso da descarga de poluentes no curso de um
rio, sem autorização), ficando impassíveis de punibilidade, embora a Lei das
Contravenções Penais traga vários tipos onde apenas se requer a mera
voluntariedade da conduta. Quando expressamente prevista na configuração
do tipo, a forma culposa dos crimes ambientais deve possuir os seguintes
requisitos: a omissão do cuidado objetivamente exigível e a previsibilidade do
resultado, que deverão culminar na aplicação da pena, juntamente com os
quesitos negligência, imprudência e imperícia (art. 18, CP).
Na verdade, embora não expressamente previstas, a maioria das infrações
penais ambientais assume essa modalidade delituosa culposa, pois quase
sempre decorrem de negligência ou imperícia de quem não agiu com
observância quanto ao trato com aos recursos naturais. Nesse afã, discute-se,
atualmente, em matéria ambiental, a respeito da previsão mais freqüente de
tipos penais culposos.
Os delitos penais são, em sua maioria, crimes de perigo, embora
existam alguns de dano, dado à dificuldade de se estabelecer um nexo causal
entre a conduta e o resultado nesses tipos de crime e à pluralidade de agentes
que é comum a esses crimes.
Verifica-se também o emprego cada vez maior de crimes de perigo
abstrato ou presumido na legislação penal ambiental.
Sobre a necessidade de se verificar a existência de culpabilidade do
agente na conduta definida como crime ambiental, trata-se de questão
incontroversa na doutrina, utilizando-se do princípio nulla poena sine culpa,
pois podia o infrator saber que tal ato era contrário ao direito e que era possível
agir de outra maneira. No ordenamento jurídico atual, o grau de culpabilidade é
que determina os limites da punibilidade, verificando-se se o agente tinha
capacidade de entender o caráter atípico do fato e de determinar-se com
consciência e vontade; se sabia que sua conduta infringiria valores tutelados
penalmente e se podia agir de outra forma.

A RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA POR CRIMES


AMBIENTAIS
Discute-se no sistema penal a possibilidade de se atribuir
responsabilidade penal às pessoas jurídicas que venham a infringir normas que
tutelem o meio ambiente. Há muita controvérsia no que diz respeito a esse
assunto, com posicionamentos favoráveis e contrários por parte da doutrina,
onde se discute a punibilidade das ofensas praticadas por empresas e
instituições, sejam elas publicas ou privadas, FERREIRA faz objeções quanto a
isso, pois, a pena, segundo ela, deve ter caráter individualizado e a verificação
da culpabilidade é medida como condição pessoal, advindo de conduta de
pessoa humana. PRADO vai mais além, admitindo somente a aplicação de
medidas sancionatórias extra-penais às pessoas jurídicas. Já COSTA JR. milita
em favor da responsabilização da pessoa jurídica, clamando por inovações na
legislação, a qual deva conter sanções específicas para tais casos, pois
também reconhece a natureza personalista da responsabilidade penal. Embora
sendo co-autor da mesma obra, juntamente com Paulo José da Costa Jr.,
CERNICCHIARO entende que a responsabilização da pessoa jurídica não é
possível, pois os princípios fundamentais da legalidade, da responsabilidade
pessoal, da culpabilidade, da presunção de inocência e o da individualização
da pena não lhe são aplicáveis. Como antecedente lógico da penalização, há a
responsabilidade subjetiva, repudiando qualquer resquício de responsabilidade
objetiva e de presunção do crime. A responsabilidade da pessoa física é
individual. A da pessoa jurídica é coletiva. Trata-se de institutos jurídicos
diversos e inconfundíveis. Não deve-se, então, aplicar nomen juris a institutos
jurídicos diversos.
Portanto, em vista de todos estes entendimentos, cabe-nos acolher o
ponderado entendimento de que a responsabilização da pessoa jurídica
enquanto infratora de normas penais ambientais só será possível se forem
criadas sanções próprias a essa natureza. Tal entendimento, possivelmente, é
o mais razoável.

A APLICAÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS AMBIENTAIS


As normas penais ambientais são encontradas tanto no próprio Código
Penal, como em leis extravagantes, as quais visam promover a tutela legal. Tal
tutela é mais facilmente alcançada através das leis extravagantes, pois são
mais recentes e já se enquadram à realidade aluai, ao contrário do Código, que
já se faz ultrapassado, em alguns pontos.
Porém a legislação penal especial não está totalmente desvinculada dos
princípios gerais do Direito penal, valendo tal regra também para a.s
contravenções penais.
Como estão subordinadas aos princípios gerais do Direito Penal, as
sanções aplicáveis às infrações ambientais também acolherão as penas
previstas no velho Código, quais sejam, a privativa de liberdade (reclusão e
detenção), restritiva de direitos e multa.
Para as contravenções previstas na legislação penal ambiental, a pena
privativa de liberdade a ser aplicada será a de prisão simples, cumprida em
rigor penitenciário, em estabelecimento especial, ou seção especial de prisão
comum, em regime aberto ou semi-aberto, como reza o art. 6º da Lei das
Contravenções Penais. Já as penas restritivas de direitos limitam-se à
prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e
limitação de fins de semana. Contudo, na área ambiental as medidas
alternativas, como a interdição de direitos pode ser aplicada de forma muito
mais ampla.
A pena de multa também pode ser largamente aplicada e deve ser
individualizada para que se evite injustiças, mas fixado o seu quantum de
acordo com as condições econômicas do infrator.
O Direito Penal Ambiental adotou as sanções clássicas do Direito Penal
comum, que são as penas privativas de liberdade e a pena de multa, reguladas
pelo Código Penal e pela Lei de Execução Penal.
Na maioria dos crimes ecológicos é utilizada a pena de reclusão; a de
detenção é menos freqüente, e a pena de multa é alternativa ou cumulativa
com a de privação de liberdade. Num único caso, estabelecido na Lei das
Contravenções Penais, a punição é somente pecuniária, preferindo o legislador
deixá-la para a área administrativa, onde exerce o predomínio.
Não foram acolhidas as medidas alternativas da prisão, hoje em voga no
Direito Penal comum sob a forma de penas restritivas de direitos. Estas, como
penas principais, consistem em: prestação de serviços à comunidade,
interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana. Todavia, apenas
uma das modalidades da interdição de direitos seria, em princípio, condizente
com a natureza das infrações ecológicas: a proibição do exercício de profissão,
atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
autorização do Poder Público. A sua aplicabilidade porém é limitada, segundo o
art. 56 do Código Penal, aos casos em que houver abuso no exercício da
atividade ou com infração de dever a ela inerente.
As penas privativas de liberdade costumam ser bastante criticadas pelos
efeitos deletérios que a prisão exerce sobre o condenado, e pela ineficácia
para conseguir a readaptação social do criminoso. Deve-se porém ter em conta
que o Direito Penal Ambiental tem uma função subsidiária, se comparado com
a regulamentação administrativa das questões ecológicas, devendo intervir
apenas nos casos mais graves, de dano ou perigo para os bens ambientais.
Por isso justifica-se maior severidade, já que somente chegarão à
Justiça penal os casos mais graves, que exigem maior rigor na repressão para
que se alcance os desejados efeitos da prevenção geral e especial contidos na
norma.
Maior relevo, porém, poderia ser dado à pena de multa como sanção
penal para os crimes ecológicos. Deveria ela significar realmente um ônus, que
desencoraje o agente e outros prováveis infratores à prática das condutas
proibidas; somente assim funcionaria como eficaz alternativa à pena de prisão,
podendo ser aplicada como pena única.

RELAÇÃO DE CONCEITOS PERTINENTES:

Abiótico – é o componente não vivo do meio ambiente. Inclui as condições


físicas e químicas do meio.

Aceiro – prática utilizada por bombeiros e agricultores no combate e prevenção


de incêndios florestais. Consiste numa faixa de terra aberta em volta da área
que está sendo queimada ou que se quer proteger, mantida livre de vegetação,
com capina ou poda, a qual impede a invasão do fogo.

Adubo verde – vegetal incorporado ao solo com a finalidade de adicionar


matéria orgânica que vai se transformar, parcialmente, em húmus, bem como
em nutrientes para a planta. Os adubos verdes podem consistir de ervas,
gramíneas, leguminosas, etc.

Aeróbico – ser ou organismo que vive, cresce ou metaboliza apenas em


presença do oxigênio.

Ambiente: Local onde se vive, estabelecido por um conjunto de condições que


envolvem e sustentam os seres vivos no interior da biosfera, incluindo clima,
solo, recursos hídricos e outros organismos.

Antrópico – resultado das atividades humanas no meio ambiente.

Área de Proteção Ambiental (APA) – categoria de unidade de conservação


cujo objetivo é conservar a diversidade de ambientes, de espécies, de
processos naturais e do patrimônio natural, visando a melhoria da qualidade de
vida, através da manutenção das atividades sócio-econômicas da região. Esta
proposta deve envolver, necessariamente, um trabalho de gestão integrada
com participação do Poder Público e dos diversos setores da comunidade.
Pública ou privada, é determinada por decreto federal, estadual ou municipal,
para que nela seja discriminado o uso do solo e evitada a degradação dos
ecossistemas sob interferência humana.

Área de Preservação Permanente: Área protegida nos termos do Código


Florestal, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem estar das populações humanas"

Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) – é declarada por ato do


Poder Público e possui características extraordinárias ou abriga exemplares
raros da biota regional, com, preferencialmente, superfície inferior a cinco mil
hectares.

Arrasto – atividade de pesca em que a rede é lançada e o barco permanece


em movimento. É uma prática considerada predatória quando a malha das
redes é pequena, fora dos padrões fixados pelo IBAMA, pois nestes casos há
captura de peixes e outros organismos aquáticos jovens. Outro prejuízo
causado pelo arrasto é o revolvimento do fundo do mar, o que prejudica
sensivelmente o ambiente e a fauna bentônica (que vive no fundo).

Assoreamento – processo em que lagos, rios, baías e estuários vão sendo


aterrados pelos solos e outros sedimentos neles depositados pelas águas das
enxurradas, processos erosivos ou por outros processos.

Aterro controlado – aterro para lixo residencial urbano, onde os resíduos são
depositados recebendo depois uma camada de terra por cima. Na
impossibilidade de se proceder a reciclagem do lixo, pela compostagem
acelerada ou pela compostagem a céu aberto, as normas sanitárias e
ambientais recomendam a adoção de aterro sanitário e não do controlado.

Aterro sanitário – aterro para lixo residencial urbano com pré-requisitos de


ordem sanitária e ambiental. Deve ser construído de acordo com técnicas
definidas, como: impermeabilização do solo para que o chorume não atinja os
lençóis freáticos, contaminando as águas; sistema de drenagem para chorume,
que deve ser retirado do aterro sanitário e depositado em lagoa próxima que
tenha essa finalidade específica, vedada ao público; sistema de drenagem de
tubos para os gases, principalmente o gás carbônico, o gás metano e o gás
sulfídrico, pois, se isso não for feito, o terreno fica sujeito a explosões e
deslizamentos.

Autótrofos – seres vivos, como as plantas, que produzem seus próprios


alimentos à custa de energia solar, do CO2 do ar e da água do solo. Palavra
originada do grego autos = próprio + trophos = nutrir.

Avifauna – conjunto das espécies de aves que vivem numa determinada


região.

Bacia hidrográfica – conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus


afluentes. A noção de bacias hidrográfica inclui naturalmente a existência de
cabeceiras ou nascentes, divisores d’água, cursos d’água principais, afluentes,
subafluentes, etc. Em todas as bacias hidrográficas deve existir uma
hierarquização na rede hídrica e a água se escoa normalmente dos pontos
mais altos para os mais baixos. O conceito de bacia hidrográfica deve incluir
também noção de dinamismo, por causa das modificações que ocorrem nas
linhas divisórias de água sob o efeito dos agentes erosivos, alargando ou
diminuindo a área da bacia.

Banco de germoplasma – o mesmo que banco genético. Expressão genética


para designar uma área de preservação biológica com grande variabilidade
genética. Por extensão, qualquer área reservada para a multiplicação de
plantas a partir de um banco de sementes ou de mudas, ou laboratório onde se
conserva, por vários anos, sementes ou genes diferentes.

Bentos – conjunto de seres vivos que vivem restritos ao fundo de rios, lagos,
lagos ou oceanos.

Bhopal – cidade central da Índia onde ocorreu um vazamento de químicos de


uma fábrica de agrotóxicos, matando mais de mil pessoas. Ainda hoje
continuam morrendo pessoas que foram atingidas pelo pesticida.

Biocenose – conjunto equilibrado de animais e de plantas de uma


comunidade.

Biodegradável – substância que se decompõe pela ação de seres vivos.

Biodiversidade – representa o conjunto de espécies animais e vegetais


viventes.

Biogás – mistura de gases cuja composição depende da forma como foi


obtida. De modo geral sua composição é variável e é expressa em função dos
componentes que aparecem em maior proporção. Assim o biogás pode conter
50 a 70% de metano (CH4), 50 a 30% de gás carbônico e traços de gás
sulfídrico (H2 S). Pode ser obtido partindo-se de diversos tipos de materiais,
tais como resíduos de materiais agrícolas, lixo,, vinhaça, casca de arroz,
esgoto, etc. Nos digestores, pelo processo da fermentação anaeróbica
(digestão) através de uma seqüência de reações que termina com a produção
de gases como o metano e o carbônico.

Bioma – amplo conjunto de ecossistemas terrestres caracterizados por tipos


fisionômicos semelhantes de vegetação, com diferentes tipos climáticos. É o
conjunto de condições ecológicas de ordem climática e características de
vegetação: o grande ecossistema com fauna, flora e clima próprios. Os
principais biomas mundiais são: tundra, taiga, floresta temperada caducifólia,
floresta tropical chuvosa, savana, oceano e água doce.

Biomassa – quantidade de matéria orgânica presente num dado momento


numa determinada área, e que pode ser expressa em peso, volume, área ou
número.
Biosfera – sistema único formado pela atmosfera (troposfera), crosta terrestre
(litosfera), água (hidrosfera) e mais todas as formas de vida. É o conjunto de
todos os ecossistemas do planeta.

Biota – conjunto de seres vivos que habitam um determinado ambiente


ecológico, em estreita correspondência com as características físicas, químicas
e biológicas deste ambiente.

Biótico – é o componente vivo do meio ambiente. Inclui a fauna, flora, vírus,


bactérias, etc.

Biótipo – grupo de indivíduos geneticamente iguais.

Buraco da camada de ozônio – abertura resultante da redução da camada de


ozônio na estratosfera, constatada entre setembro e novembro de 1989 na
Antártida e que tem sido motivo de alarme. Essa camada é essencial à
preservação da vida do planeta, porque filtra os raios ultravioleta do sol,
mortíferos às células. Observações recentes mostram que o buraco tem se
estendido até o extremo sul da América do Sul e à Nova Zelândia.

Cadeia alimentar – é a transferência da energia alimentar que existe no


ambiente natural, numa seqüência na qual alguns organismos consomem e
outros são consumidores. Essas cadeias são responsáveis pelo equilíbrio
natural das comunidades e o seu rompimento pode trazer conseqüências
drásticas, como é o caso quando da eliminação de predadores de insetos.
Estes podem proliferar rapidamente e transformar-se em pragas nocivas à
economia humana. A cadeia alimentar é formada por diferentes níveis tróficos
(trophe = nutrição). A energia necessária ao funcionamento dos ecossistemas é
proveniente do sol e é captada pelos organismos clorofilados (autótrofos), que
por produzirem alimento são chamados produtores (1º nível trófico). Estes
servem de alimento aos consumidores primários (2º nível trófico ou
herbívoros), que servem de alimento aos consumidores secundários (3º nível
trófico) que servem de alimento aos consumidores terciários (4º nível trófico) e
assim sucessivamente Todos os organismos ao morrerem, sofrem a ação dos
saprófagos (sapros = morto, em decomposição; phagos = devorador), que
constituem o nível trófico dos decompositores.

Camada de ozônio – camada de gás o3, situada a 30 ou 40 km de altura, atua


como um verdadeiro escudo de proteção, filtrando os raios ultravioleta emitidos
pelo sol. Gases nitrogenados emitidos por aviões e automóveis, assim como o
CFC (clorofluorcarbono) têm efeito destrutivo sobre a camada de ozônio. O
preço desta destruição é o aumento da radiação ultravioleta, o que provoca
uma maior taxa de mutações nos seres vivos, acarretando, por exemplo, maior
incidência de câncer no homem. Além disso é muito provável a ocorrência de
distúrbios na formação de proteínas vegetais, com comprometimento do
crescimento das plantas e a redução das safras agrícolas. Admite-se que o
clima sofra transformações, principalmente com o aquecimento da superfície
do planeta.
Canibalismo – variante do predatismo, onde o indivíduo mata e come o outro
da mesma espécie.

Carcinogênicos – substâncias químicas que causam câncer ou que


promovem o crescimento de tumores iniciados anteriormente por outras
substâncias. Há casos em que o câncer aparece nos filhos de mães expostas a
estas substâncias. Algumas substâncias são carcinogênicas a baixos níveis,
como a dioxina, e outras reagem com mais vigor. A maioria das substâncias
carcinogênicas é também mutagênica e teratogênica..

Césio 137 – trata-se de um elemento químico que se caracteriza como um pó


azul brilhante, altamente radiativo, que provoca queimaduras, vômitos e
diarréia até a morte. Cientificamente, o césio 137 é um radioisótopo que era
usado no tratamento do câncer e em processos industriais como fonte de
calibração de instrumentos e de medição de radiatividade. O organismo
humano necessita de 110 dias para eliminá-lo. Atualmente é substituído pelo
cobalto. O césio 137 tornou-se famoso no Brasil a partir do ocorrido em
Goiânia-GO, em setembro de 1987: um homem acha um cilindro de ferro e
chumbo e o vende a um ferro velho, onde é quebrado. Dentro está uma
cápsula de césio, a qual é imediatamente liberada. Em decorrência, 22
pessoas morrem e mais uma centena fica aleijada. O lixo altamente tóxico
desse acidente foi colocado em barris lacrados a céu aberto no estado de
Goiás. Não é usado em aparelhos de raios-X.

Chorume – resíduo líquido proveniente de resíduos sólidos (lixo),


particularmente quando dispostos no solo, como por exemplo, nos aterros
sanitários. Resulta principalmente de água de chuva que se infiltra e da
decomposição biológica da parte orgânica dos resíduos sólidos. É altamente
poluidor.

Chuva ácida – precipitação de água sob a forma de chuva, neve ou vapor,


tornada ácida por resíduos gasosos proveniente, principalmente, da queima de
carvão e derivados de petróleo ou de gases de núcleos industriais poluidores.
As precipitações ácidas podem causar desequilíbrio ambiental quando
penetram nos lagos, rios e florestas e são capazes de destruir a vida aquática.

Ciclo vital – compreende o nascimento, o crescimento, a maturidade, a velhice


e a morte dos organismos.

CITES: Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas de


Extinção. Tratado assinado por cerca de 80 países, desde 1973, proibindo o
comércio internacional de mais de 600 espécies mais raras de plantas e
animais, e exigindo uma licença do país de origem para a exportação de 200
outras espécies.

Clímax – complexo de formações vegetais mais ou menos estáveis durante


longo tempo, em condições de evolução natural. Diz-se que está em equilíbrio
quando as alterações que apresenta não implicam em rupturas importantes no
esquema de distribuição de energia e materiais entre seus componentes vivos.
Pode ser também a última comunidade biológica em que termina a sucessão
ecológica, isto é, a comunidade estável, que não sofre mais mudanças
direcionais.

Clorofila – pigmento existente nos vegetais, de estrutura química semelhante à


hemoglobina do sangue dos mamíferos, solúvel em solventes orgânicos. Capta
a energia solar para realização da fotossíntese.

Cobertura morta – camada natural de resíduos de plantas espalhadas sobre a


superfície do solo, para reter a umidade, protegê-lo da insolação e do impacto
das chuvas.

Código Florestal – código instituído pela Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de


1965 em cujo artigo 1º está previsto que as florestas existentes no território
nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras
que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do país.

Compostagem – técnica de elaborar mistura fermentada de restos de seres


vivos, muita rica em húmus e microorganismos, que serva para, uma vez
aplicada ao solo, melhorar a sua fertilidade.

Conservação da natureza – uso ecológico dos recursos naturais, com o fim


de assegurar uma produção contínua dos recursos renováveis e impedir o
esbanjamento dos recursos não renováveis, para manter o volume e a
qualidade em níveis adequados, de modo a atender às necessidades de toda a
população e das gerações futuras.

Conservação do solo – conjunto de métodos de manejo do solo que, em


função de sua capacidade de uso, estabelece a utilização adequado do solo, a
recuperação de suas áreas degradadas e mesmo a sua preservação.

Dano ambiental – qualquer alteração provocada por intervenção antrópica.

Conservação "in situ": Conservação de ecossistema e habitats naturais e a


manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios
naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivas, nos meios onde
tenham desenvolvido suas propriedades características. “in situ” significa no
próprio local.

DDT – iniciais do nome químico “dicloro-difenil-tricloroetano”, inseticida


orgânico de síntese, empregado em forma de pó, em fervura ou em aerossol,
contra insetos. O DDT se bioacumula na cadeia alimentar, sendo considerado
uma substância potencialmente cancerígena.

Decompositores – organismos que transformam a matéria orgânica morta em


matéria inorgânica simples, passível de ser reutilizada pelo mundo vivo.
Compreendem a maioria dos fungos e das bactérias. O mesmo que saprófitas.

Degradação da Qualidade Ambiental: "a alteração adversa das


características
do meio ambiente"
Desenvolvimento sustentado – modelo de desenvolvimento que leva em
consideração, além dos fatores econômicos, aqueles de caráter social e
ecológico, assim como as disponibilidades dos recursos vivos e inanimados, as
vantagens e os inconvenientes, a curo, médio e longo prazos, de outros tipos
de ação. Tese defendida a partir do teórico indiano Anil Agarwal, pela qual não
pode haver desenvolvimento que não seja harmônico com o meio ambiente.
Assim, o desenvolvimento sustentado que no Brasil tem sido defendido mais
intensamente, é um tipo de desenvolvimento que satisfaz as necessidades
econômicas do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras.

Desertificação – opõe-se à biologização, indicando redução de processos


vitais nos ambientes. Tem sido usado para especificar a expansão de áreas
desérticas em países de clima quente e seco. Há fortes evidências de que
resultam, em muitos casos, das formas antibiologizantes desenvolvidas pelas
atividades humanas. Implica portanto, na redução das condições agrícolas do
planeta. Milhares de hectares de terras produtivas são transformadas em zonas
irrecuperáveis anualmente no mundo. Para tanto, contribuem o
desmatamento, o uso de tecnologias agropecuárias inadequadas e as
queimadas.

Ecodesenvolvimento – visão moderna do desenvolvimento consorciado com


o manejo dos ecossistemas, procurando utilizar os conhecimentos já existentes
na região, no âmbito cultural, biológico, ambiental, social e político, evitando-se
assim a agressão ao meio ambiente.

Ecoeficiência - implicam em produtos e serviços que satisfaçam as


necessidades humanas, que progressivamente reduzam os impactos
ambientais e o uso dos recursos não renováveis, a níveis compatíveis com o
que se estima ser a capacidade do ambiente local e em última estância do
próprio Planeta Terra. (fonte: World Business Council for Sustainable
Development, WBCSD)

Ecologia – ciência que estuda a relação dos seres vivos entre si e com o
ambiente físico. Palavra originado do grego: oikos = casa, moradia + logos =
estudo.

Ecossistema – conjunto integrado de fatores físicos, químicos e bióticos, que


caracterizam um determinado lugar, estendendo-se por um determinado
espaço de dimensões variáveis. Também pode ser uma unidade ecológica
constituída pela reunião do meio abiótico (componentes não-vivos) com a
comunidade, no qual ocorre intercâmbio de matéria e energia. O ecossistemas
são as pequenas unidades funcionais da vida.

Ecótipo – raças de uma mesma espécie que diferem unicamente em alguns


caracteres morfológicos e que se encontram adaptadas às condições locais.

Ecótono – região de transição entre dois ecossistemas diferentes ou entre


duas comunidades.

Ecótopo – determinado tipo de habitat dentro de uma área geográfica ampla.


Ecoturismo – também conhecido como turismo ecológico é a atividade de
lazer em que o homem busca, por necessidade e por direito, a revitalização da
capacidade interativa e do prazer lúdico nas relações com a natureza. É o
segmento da atividade turística que desenvolve o turismo de lazer, esportivo e
educacional em áreas naturais utilizando, de forma sustentável, o patrimônio
natural e cultural, incentivando sua conservação, promovendo a formação de
uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente e
garantindo o bem-estar das populações envolvidas.

Educação ambiental – conjunto de ações educativas voltadas para a


compreensão da dinâmica dos ecossistemas, considerando efeitos da relação
do homem com o meio, a determinação social e a evolução histórica dessa
relação. Visa preparar o indivíduo para integrar-se criticamente ao meio,
questionando o comportamento da sociedade junto à sua tecnologia, seus
valores e até o seu cotidiano de consumo, de maneira a ampliar a sua visão de
mundo numa perspectiva de integração do homem com a natureza.

Efeito cumulativo – fenômeno que ocorre com inseticidas e compostos


radioativos que se concentram nos organismos terminais da cadeia alimentar,
como o homem.

Efeito estufa – fenômeno que ocorre quando gases, como o dióxido de


carbono entre outros, atuando como as paredes de vidro de uma estufa,
aprisionam o calor na atmosfera da Terra, impedindo sua passagem de volta
para a estratosfera. O efeito estufa funciona em escala planetária e o fenômeno
pode ser observado, como exemplo, em um carro exposto ao sol e com as
janelas fechadas. Os raios solares atravessam o vidro do carro provocando o
aquecimento de seu interior, que acaba “guardado” dentro do veículo, porque
os vidros retém os raios infravermelhos. No caso específico da atmosfera
terrestre, gases como o CFC, o metano e o gás carbônico funcionam como se
fossem o vidro de um carro. A luz do sol passa por eles, aquece a superfície do
planeta, mas parte do calor que deveria ser devolvida à atmosfera fica presa,
acarretando o aumento térmico do ambiente. Acontecendo em todo o planeta,
seria capaz de promover o degelo parcial das calotas polares, com a
conseqüente elevação do nível dos mares e a inundação dos litorais.

Efluente: Qualquer tipo de água, ou líquido, que flui de um sistema de coleta,


de transporte, como tubulações, canais, reservatórios, elevatórias, de um
sistema de tratamento ou disposição final, para estações de tratamento e
corpos dágua.

Epífitas – plantas que crescem agarradas a outras plantas, tais como as


orquídeas, musgos, líquens, bromélias, etc.

Erosão – processo pelo qual a camada superficial do solo ou partes do solo


são retiradas pelo impacto de gotas de chuva, ventos e ondas e são
transportadas e depositadas em outro lugar. Inicia-se como erosão laminar e
pode até atingir o grau de voçoroca.
Espécie pioneira – espécie vegetal que inicia a ocupação de áreas
desabitadas de plantas em razão da ação do homem ou de forças naturais.

Estação ecológica – áreas representativas de ecossistemas destinadas à


realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à produção do
ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista. Nas
áreas circundadas às estações ecológicas, num raio de 10 quilômetros,
qualquer atividade que possa afetar a biota ficará subordinada às normas
editadas pelo CONAMA. Têm o objetivo de proteger amostras dos principais
ecossistemas, equipando estas unidades com infra-estrutura que permita às
instituições de pesquisas fazer estudos comparativos ecológicos entre áreas
protegidas e aquelas que sofreram alteração antrópica.

Estudo de Impacto Ambiental (EIA) – sigla do termo Enviromment Impact


Assessment, que significa Avaliação de Impactos Ambientais, também
chamado de Estudos de Impactos Ambientais.

Etologia – ciência que estuda o comportamento dos seres vivos, visando


estabelecer os efeitos e as causas, assim como os mecanismos responsáveis
por diferentes formas de conduta.

Eutrofização – fenômeno pelo qual a água é acrescida, principalmente, por


compostos nitrogenados e fosforados. Ocorre pelo depósito de fertilizantes
utilizados na agricultura ou de lixo e esgotos domésticos, além de resíduos
industriais como o vinhoto, oriundo da indústria açucareira, na água. Isso
promove o desenvolvimento de uma superpopulação de microorganismos
decompositores, que consomem o oxigênio, acarretando a morte das espécies
aeróbicas, por asfixia. A água passa a ter presença predominante de seres
anaeróbicos que produzem o ácido sulfídrico (H2 S), com odor parecido ao de
ovos podres.

Extrativismo – ato de extrair madeira ou outros produtos das florestas ou


minerais.

Fator ecológico – refere-se aos fatores que determinam as condições


ecológicas no ecossistema.

Fator limitante – aquele que estabelece os limites do desenvolvimento de uma


população dentro do ecossistema, pela ausência, redução ou excesso desse
fator ambiental.

Fauna - conjunto de animais que habitam determinada região.

Fitoplâncton – conjunto de plantas flutuantes, como algas, de um ecossistema


aquático.

Flora – totalidade das espécies vegetais que compreende a vegetação de uma


determinada região, sem qualquer expressão de importância individual.
Floresta Nacional, Estadual ou Municipal – área extensa, geralmente bem
florestada e que contém consideráveis superfícies de madeira comercializável
em combinação com o recurso água, condições para sobrevivência de animais
silvestres e onde haja oportunidade para recreação ao ar livre e educação
ambiental. Os objetivos de manejo são os de reproduzir, sob o conceito de uso
múltiplo, um rendimento de madeira e água, proteger os valores de recreação e
estéticos, proporcionar oportunidades para educação ambiental e recreação ao
ar livre e, sempre que possível, o manejo da fauna. Partes desta categoria de
unidades de conservação podem ter sofrido alterações pelo homem, mas
geralmente as florestas nacionais não possuem qualquer característica única
ou excepcional, nem tampouco destinam-se somente para um fim.

Fotossíntese – processo bioquímico que permite aos vegetais sintetizar


substâncias orgânicas complexas e de alto conteúdo energético, a partir de
substâncias minerais simples e de baixo conteúdo energético. Para isso, se
utilizam de energia solar que captam nas moléculas de clorofila. Neste
processo, a planta consome gás carbônico (CO2) e água, liberando oxigênio
(O2) para a atmosfera. É o processo pelo qual as plantas utilizam a luz solar
como fonte de energia para formar substâncias nutritivas.

Gerenciamento costeiro: é uma aplicação do zoneamento ambiental com


normas específicas para compatibilizar as atividades econômicas com a
preservação ou recuperação das características ambientais nas zonas
costeiras. A Constituição Federal considera a zona costeira e seus
ecossistemas como patrimônio nacional.

Habitat – ambiente que oferece um conjunto de condições favoráveis para o


desenvolvimento, a sobrevivência e a reprodução de determinados
organismos. Os ecossistemas, ou parte deles, nos quais vive um determinado
organismo, são seu habitat. O habitat constitui a totalidade do ambiente do
organismo. Cada espécie necessita de determinado tipo de habitat porque tem
um determinado nicho ecológico.

Hidrosfera – parte da biosfera representada por toda massa de água


(oceanos, lagos, rios, vapor d’água, água de solo, etc.).

Homeostase – capacidade de adaptação que um ser vivo apresenta no intuito


de manter o seu organismo equilibrado em relação às variações ambientais.

Homeotermos – ou endotermos, são animais que mantém constantemente


sua temperatura corporal, independentemente da temperatura externa,
despendendo uma grande quantidade de energia na realização do seu
controle.

Húmus – fração orgânica coloidal (de natureza gelatinosa), estável, existente


no solo, que resulta da decomposição de restos vegetais e animais.

Ictiofauna – é a fauna de peixes de uma região.


Impacto ambiental – qualquer alteração das propriedades físico-químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam
a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as atividades sociais e
econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente,
enfim, a qualidade dos recursos ambientais.

Impacto ecológico – refere-se ao efeito total que produz uma variação


ambiental, seja natural ou provocada pelo homem, sobre a ecologia de uma
região, como, por exemplo, a construção de uma represa.

Indicadores ecológicos – referem-se a certas espécies que, devido a suas


exigências ambientais bem definidas e à sua presença em determinada área
ou lugar, podem se tornar indício ou sinal de que existem as condições
ecológicas para elas necessárias.

Inquilinismo – associação interespecífica harmônica em que os indivíduos de


uma espécie alojam-se em outra, obtendo proteção e suporte.

Lixiviação – arraste vertical, pela infiltração da água, de partículas da


superfície do solo para camadas mais profundas.

Lixo nuclear – rejeito de reações nucleares, que pode emitir radiações em


doses nocivas por centenas de anos.

Lixo tóxico – é composto por resíduos venenosos, como solventes, tintas,


baterias de carros, baterias de celular, pesticidas, pilhas, produtos para
desentupir pias e vasos sanitários, dentre outros.

Manancial – todo corpo d’água utilizado para o abastecimento público de água


para consumo.

Manejo – aplicação de programas de utilização dos ecossistemas, naturais ou


artificiais, baseada em teorias ecológicas sólidas, de modo a manter, de melhor
forma possível, nas comunidades, fontes úteis de produtos biológicos para o
homem, e também como fonte de conhecimento científico e de lazer.

Mata ciliar: mata existente à beira dos rios. A legislação estabelece o tamanho
mínimo, de acordo com o tamanho do curso dágua.

Meio ambiente – Tudo o que cerca o ser vivo, que o influencia e que é
indispensável à sua sustentação. Estas condições incluem solo, clima, recursos
hídricos, ar, nutrientes e os outros organismos. O meio ambiente não é
constituído apenas do meio físico e biológico, mas também do meio sócio-
cultural e sua relação com os modelos de desenvolvimento adotados pelo
homem.

Metais pesados – metais como o cobre, zinco, cádmio, níquel e chumbo, os


quais são comumente utilizados na indústria e podem, se presentes em
elevadas concentrações, retardar ou inibir o processo biológico aeróbico ou
anaeróbico e serem tóxicos aos organismos vivos.

Microclima – conjunto das condições atmosféricas de um lugar limitado em


relação às do clima geral.

Migração – deslocamento de indivíduos ou grupo de indivíduos de uma região


para outra. Pode ser regular ou periódica, podendo ainda coincidir com
mudanças de estação.

Mimetismo – propriedade de alguns seres vivos de imitar o meio ambiente em


que vivem, de modo a passarem despercebidos.

Monitoramento ambiental – medição repetitiva, descrita ou contínua, ou


observação sistemática da qualidade ambiental.

Mutações – variações descontínuas que modificam o patrimônio genético e se


exteriorizam através de alterações permanentes e hereditárias. Se constituem
em fatores de relevante importância no sentido da adaptação do ser vivo ao
meio ambiente.

Mutualismo – associação interespecífica harmônica em que duas espécies


envolvidas ajudam-se mutuamente.

Nicho ecológico – espaço ocupado por um organismo no ecossistema,


incluindo também o seu papel na comunidade e a sua posição em gradientes
ambientais de temperatura, umidade, pH, solo e outras condições de
existência.

Nível trófico – ou nível alimentar, é a posição ocupada por um organismo na


cadeia alimentar. Os produtores ocupam o primeiro nível, os consumidores
primários o segundo nível, os secundários o terceiro nível e assim por diante.
Os decompositores podem atuar em qualquer nível trófico.

ONGs – sigla de organizações não governamentais. São movimentos da


sociedade civil, independentes, que atuam nas áreas de ecologia, social,
cultural, dentre outras.

Onívoro – os consumidores de um ecossistema podem participar diferentes


níveis tróficos, caso em que são denominados onívoros. O homem, por
exemplo, ao comer arroz, é consumidor primário; ao comer carne é secundário;
ao comer cação, que é um peixe carnívoro, é um consumidor terciário.

Parques Nacionais, Estaduais ou Municipais – são áreas relativamente


extensas, que representam um ou mais ecossistemas, pouco ou não alterados
pela ocupação humana, onde as espécies animais, vegetais, os sítios
geomorfológicos e os habitats ofereçam interesses especiais do ponto de vista
científico, educativo, recreativo e conservacionista. São superfícies
consideráveis que contém características naturais únicas ou espetaculares, de
importância nacional, estadual ou municipal.
Patrimônio ambiental – conjunto de bens naturais da humanidade.

Piracema – movimento migratório de peixes no sentido das nascentes dos rios,


com o fim de reprodução. Ocorre em épocas das grandes chuvas, no período
da desova.

Pirâmide de biomassa – engloba toda a biomassa de cada nível trófico. De


modo geral, à medida que se sobe na pirâmide, a biomassa de cada nível
diminui (quantidade de matéria orgânica), ao passo que a biomassa individual
aumenta.

Pirâmide de energia – mostra o fluxo unidirecional de energia e explica a


estrutura das pirâmides de números e de biomassa. A quantidade de energia
disponível em cada nível é progressivamente menor, pois apenas uma fração
da energia passa de um nível para outro.

Pirâmide alimentar – representações gráficas dos dados fornecidos pelas


cadeias alimentares e que podem ser divididas em três tipos: de números, de
biomassa e de energia.

Plano de manejo – plano de uso racional do meio ambiente, visando à


preservação do ecossistema em associação com sua utilização para outros fins
(sociais, econômicos, etc.).

Poluição – efeito que um poluente produz no ecossistema. Qualquer alteração


do meio ambiente prejudicial aos seres vivos, particularmente ao homem.
Ocorre quando os resíduos produzidos pelos seres vivos resultante de
atividades que direta ou indiretamente: a)- prejudiquem a saúde, a segurança e
o bem-estar de população; b)- criam condições adversas às atividades sociais
e econômicas; c)- afetem desfavoravelmente a biota; d)- afetem as condições
estéticas ou sanitárias do meio ambiente; d)- lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Poluidor: "a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,


responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental."

Predador: Um animal (raramente uma planta) que mata e se alimenta de


outros animais.

Predatismo – relação ecológica que se estabelece entre uma espécie


denominada predadora e outra denominada presa. Os predadores
caracterizam-se pela capacidade de capturar e destruir fisicamente as presas
para alimentar-se.

Preservação ambiental – ações que garantem a manutenção das


características próprias de um ambiente e as interações entre os seus
componentes.
Radioatividade – características de alguns átomos instáveis como o urânio e o
césio, de se transformarem em outros elementos através da expulsão de
partículas ou raio do núcleo, com liberação de energia. A radiação pode causar
mutações e outros danos, como câncer e morte aos organismos que a ela
ficam expostos. Entretanto, a radioatividade pode ser benéfica em algumas
situações em que é controlada, como mutações para melhoramento genético
de algumas plantas, na esterilização de material, na esterilização de insetos e
na medicina, para eliminar algumas formas de tumores cancerígenos.

Reflorestamento – processo que consiste no replantio de árvores em áreas


que anteriormente eram ocupadas por florestas.

Reserva biológica – unidade de conservação visando a proteção dos recursos


naturais para fins científicos e educacionais. Possui ecossistemas ou espécies
da flora e fauna de importância científica. Em geral não comportam acesso ao
público, não possuindo normalmente belezas cênicas significativas ou valores
recreativos. Seu tamanho é determinado pela área requerida para os objetivos
científicos a que se propõe, garantindo sua proteção.

Reserva ecológica – unidade de conservação que tem por finalidade a


preservação de ecossistemas naturais de importância fundamental para o
equilíbrio ecológico.

Reserva extrativista - esse tipo de unidade de conservação surgiu a partir da


proposta do seringalista e líder sindical Chico Mendes, assassinado em
dezembro de 1989. As reservas extrativistas são espaços destinados à
exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis
por uma população com tradição extrativista, como os seringueiros por
exemplo, baseada na experiência do extrativismo do látex na região de Xapuri,
Acre.. O projeto de assentamento extrativista se materializa pela concessão de
uso de áreas com potencial a populações que se ocupam ou venham a se
ocupar do extrativismo de forma economicamente viável e ecologicamente
sustentável.

Reserva indígena – área caracterizada por possuir sociedades indígenas.


Geralmente, as reservas indígenas são isoladas e remotas e podem manter
sua inacessibilidade por um longo período de tempo. Os objetivos de manejo
são proporcionar o modo de vida de sociedades que vivem em harmonia e em
dependência do meio ambiente, evitando um distúrbio pela moderna tecnologia
e, em segundo plano, realizar pesquisas sobre a evolução do homem e sua
interação com a terra.

Reserva da biosfera – o programa do Homem e Biosfera, das Nações Unidas,


iniciou um projeto de estabelecimento de reservas da biosfera em 1970. Estas
reservas devem incluir: amostras de biomas naturais; comunidades únicas ou
áreas naturais de excepcional interesse; exemplos de uso harmonioso da terra;
exemplos de ecossistemas modificados ou degradados, onde seja possível
uma restauração a condições mais naturais. Uma reserva da biosfera pode
incluir unidades de conservação como parques nacionais ou reservas
biológicas.
Reserva do patrimônio mundial – a Conservação Internacional para a
Proteção do Patrimônio Cultural (Unesco-1972) prevê a designação de áreas
de valor universal como reserva do patrimônio mundial. Essas reservas devem
preencher um ou mais dos seguintes critérios: conter exemplos significativos
dos principais estágios da evolução da Terra; conter exemplos significativos de
processos geológicos, evolução biológica e interação humana com o ambiente
natural; conter únicos, raros ou superlativos fenômenos naturais, formações de
excepcional beleza; conter habitats onde populações de espécies raras ou
ameaçadas de extinção possam ainda sobreviver.

Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,


excetuada a de preservação permanente, necessária ou uso sustentável dos
recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à
conservação da biodiversidade e ao abrigo de proteção de fauna e flora
nativas. Seu tamanho é determinado por lei e varia conforme a cobertura
vegetal e a região do país.

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – área de domínio privado


onde, em caráter de perpetuidade, são identificadas condições naturais
primitivas, semiprimitivas, recuperadas ou cujo valor justifique ações de
recuperação destinadas à manutenção, parcial ou integral, da paisagem, do
ciclo biológico de espécies da fauna e da flora nativas ou migratórias e dos
recursos naturais físicos, devidamente registrada. Áreas consideradas de
notável valor paisagístico, cênico e ecológico que merecem ser preservadas e
conservadas às gerações futuras, abrigadas da ganância e da sanha
predadora incontrolável dos destruidores do meio ambiente. Esta categoria de
unidade de conservação foi criada pelo Decreto n.º. 98.914, de 31 de janeiro de
1990. Compete, contudo, ao IBAMA, reconhecer e registrar a reserva particular
do patrimônio natural, após análise do requerimento e dos documentos
apresentados pelo interessado. O proprietário titular gozará de benefícios, tais
como isenção do Imposto Territorial Rural sobre a área preservada, além do
apoio e orientação do IBAMA e de outras entidades governamentais ou
privadas para o exercício da fiscalização e monitoramento das atividades
desenvolvidas na reserva.

Resíduos – materiais ou restos de materiais cujo proprietário ou produtor não


mais considera com valor suficiente para conservá-los. Alguns tipos de
resíduos são considerados altamente perigosos e requerem cuidados especiais
quanto à coleta, transporte e destinação final, pois apresentam substancial
periculosidade, ou potencial, à saúde humana e aos organismos vivos.

RIMA – sigla do Relatório de Impacto do Meio Ambiente. É feito com base nas
informações do EIA - Estudo de Impacto Ambiental que é obrigatório para o
licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como
construção de estradas, metrôs, ferrovias, aeroportos, portos, assentamentos
urbanos, mineração, construção de usinas de geração de eletricidade e suas
linhas de transmissão, aterros sanitários, complexos industriais e agrícolas,
exploração econômica de madeira, etc.
Ruderal: Diz-se da vegetação que cresce sobre escombros, em terrenos
baldios,etc.
Rupestre: Gravado, traçado ou desenvolvido sobre a rocha. Em biologia,
referese ao vegetal que cresce sobre rochedos. Este termo também é usado
para se referir a desenhos antigos feitos por habitantes de cavernas.

Seleção natural – processo de eliminação natural dos indivíduos menos


adaptados ao ambiente, os quais, por terem menos probabilidade de êxito dos
que os melhor adaptados, deixam uma descendência mais reduzida.

Seres consumidores – seres como os animais, que precisam do alimento


armazenado nos seres produtores.

Seres decompositores – seres consumidores que se alimentam de detritos


dos organismos mortos.

Seres produtores – seres que, como as plantas, possuem a capacidade de


fabricar alimento usando a energia da luz solar.

Silicose – doença pulmonar que resulta da inalação de sílica ou de silicatos


existentes no ar poluído.

Simbiose – associação interespecífica harmônica, com benefícios mútuos e


interdependência metabólica.
Síndrome da China – nome que designa um acidente nuclear imaginário, com
o derretimento incontrolado de um reator atômico. Segundo a ficção, a
quantidade de calor era tão grande que causaria o derretimento do solo desde
os Estados Unidos até a China.

Sobrepesca – ocorre quando os exemplares de uma população são


capturados em número maior do que o que vai nascer para ocupar o seu lugar.
Ocorre também quando os estoques das principais espécies encontram-se sob
exploração por um número de embarcações que ultrapassa o esforço máximo
tecnicamente recomendado para uma pesca sustentável.

Sucessão ecológica – seqüência de comunidades que se substituem, de


forma gradativa, num determinado ambiente, até o surgimento de uma
comunidade final, estável denominada comunidade-clímax.

Teratogênico – produto químico que, ingerido por um indivíduo do sexo


feminino, pode causar deformações no filho que ele gerar. Como exemplos
temos a talidomida, mercúrio, etc.

Tolerância – capacidade de suportar variações ambientais em maior ou menor


grau. Para identificar os níveis de tolerância de um organismo são utilizados os
prefixos euri, que significa amplo, ou esteno, que significa limitado. Assim, um
animal que suporta uma ampla variação de temperatura ambiental é
denominado euritermo, enquanto um organismo que possui pequena
capacidade de tolerância a este mesmo fator é chamado estenotermo.
Unidades de conservação – áreas criadas com o objetivo de harmonizar,
proteger recursos naturais e melhorar a qualidade de vida da população.

Voçoroca – último estágio da erosão. Termo regional de origem tupi-guarani,


para denominar sulco grande, especialmente os de grandes dimensões e
rápida evolução. Seu mecanismo é complexo e inclui normalmente a água
subterrânea como agente erosivo, além da ação das águas de escoamento
superficial.

Xerófita: vegetação adaptada a habitat seco. Exemplo: Palma, Cactus, etc.

Zoneamento agroecológico – é o ordenamento, sob forma de mapas,


informações relativas ao tipo de vegetação, geologia, solo, clima, recursos
hídricos, climáticos e áreas de preservação, de uma determinada região.

Zooplâncton – conjunto de animais, geralmente microscópicos, que flutuam


nos ecossistemas aquáticos e que, embora tenham movimentos próprios, não
são capazes de vencer as correntezas.
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