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Artigo - Reação Álcali Agregado PDF
Artigo - Reação Álcali Agregado PDF
EDIFÍCIOS
Renilda Batista da Silva Lima1
Antonio Sergio Ramos da Silva2
Fernanda Nepomuceno Costa3
RESUMO: Neste artigo constam as definições e tipos de reação álcali agregado. Apresenta também
alguns casos de obras com manifestações patológicas de reação álcali agregado no Brasil e mundo,
em especial na região metropolitana de Recife. São apresentados ainda, alguns ensaios para
avaliação da potencialidade reativa dos agregados da região metropolitana de Salvador, além de
apresentar a norma brasileira e os métodos de investigação e mitigação desse tipo de patologia.
1 INTRODUÇÃO
A RAA é uma reação química que se processa, numa argamassa ou concreto, entre os
íons hidroxilas (OH-) associados aos álcalis óxido de sódio (NA2O) e óxido de potássio
(K2O), provenientes do cimento ou de outras fontes, e certos tipos de agregado (FIGUERÔA
& ANDRADE, 2008). A reação álcali-agregado é um fenômeno químico que ocorre em
determinados minerais potencialmente reativos existentes nos agregados, á presença dos
álcalis dos cimentos e a presença de umidade.
Em resumo, entende-se por reação álcali-agregado o processo de deterioração do
concreto endurecido, provocando assim a formação do gel expansivo (exceto para a reação
álcali carbonato) a partir de reação química que ocorre em alguns tipos de agregados reativos
ou potencialmente reativos, quando em contato com os álcalis existentes no cimento Portland,
Óxido de Sódio(Na2O) e Óxidos de Potássio(K2O). A proporção da degradação depende da
quantidade de álcalis disperso no cimento. A figura 1 demonstra topo de pilar de vertedouro
de barragem afetado por RAA.
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Figura 1 - topo de pilar de vertedouro de barragem afetado por RAA.
Fonte: Kuperman, 1997
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2.1.1 Reação álcali-sílica
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2.1.3 Reação álcali-carbonato
Acredita-se que se o conteúdo alcalino do cimento for menor que 0,6%, não ocorrem
danos provenientes de RAA, independentemente dos agregados reativos (MEHTA &
MONTEIRO, 1994). Entretanto, em concretos contendo um consumo muito alto de cimento
há possibilidade de ocorrência de danos até para conteúdo de álcalis menor que 0,6%.
Investigações na Alemanha e Inglaterra mostram que conteúdo total de álcalis menor que 3
kg/m3 provavelmente não causam danos por RAA (MEHTA & MONTEIRO, 1994).
Segundo Paulon (1981) o limite de 0,6% deve ser assumido como um critério
insuficiente de segurança contra a RAA. A concentração de álcalis é decisiva para a
ocorrência de reação e depende do conteúdo de álcalis do cimento, do suprimento de álcalis
das circunvizinhanças e dos consumos de água e cimento do concreto. Ou seja, utilizar como
parâmetro os níveis de álcalis constantes no cimento não garante que a estrutura não sofrerá
manifestações patológicas da reação álcali-agregado.
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3.2 Agregados
Com os agregados alguns fatores são necessários para que sejam reativos a álcalis,
como (temperatura e tamanho das partículas), têm-se os silicatos ou minerais de sílica, sílica
hidratada (opala) ou amorfa (obsidiana, vidro de sílica), podendo reagir com soluções
alcalinas, porém diversas dessas reações são insignificantes.
Entre as rochas deletérias reativas a álcalis estão os quartzitos e quartzos fraturados,
tensionados e preenchidos por inclusões (METHA & MONTEIRO, 1994).
As dimensões das partículas influem no tamanho das reações, se forem pequenas
aumentam a expansões, mas se forem muito pequenas da ordem de mícrons, pode ocorrer o
inverso. Segundo Paulon (1981), agregados reativos de dimensões muito reduzidas provocam
uma reação profunda e total antes que o gel tenha se formado. Grandes quantidades de
materiais finos, devido a sua grande superfície específica, provocam redução rápida na
concentração de álcalis de tal forma que os agregados maiores não tenham oportunidade de
sofrer as reações secundárias que provocam a formação do gel expansivo, conforme figura 2.
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de água for em excesso, ou seja, se o fator água/cimento for superior ao necessário para que
ocorra o processo de hidratação do concreto, ou se a estrutura tem contato externo direto com
água, nível de lençol freático na face dos blocos de fundação. Ou ainda se a umidade relativa
do ar for superior a 85% a 20°C, que associada à temperatura podem ter seu nível elevado
(FIGUERÔA & ANDRADE, 2007).
4 HISTÓRICO DA RAA
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estrutura afetada (POOLE, 1992). Biczok em 1972 apresentou em seu trabalho sobre corrosão
e proteção de concreto um caso com fortes expansões e fissurações após sete anos de
construção. Para se ter uma noção de quanto tempo é necessário para que o fenômeno de
reação álcali-agregado se manifeste dependerá da taxa de álcalis existente no cimento, o tipo
do agregado, a umidade e a temperatura.
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01
Apesar de não ter sito citado por Priszkulnik como dado apresentado na “Second
International Conference on Alkali-aggregate Reactions in Hydroelectric Plants and Dams”
(ANDRIOLO, 1997 apud HEIJNEN), ressalta o grande aumento nos números de estruturas
afetadas pela reação expansiva na Holanda. Nesse país, em aproximadamente 50 anos houve
um aumento de três casos para 35 casos, entre os anos de 1990 e 1995.
No Japão, onde os primeiros casos registrados de RAA são de 1982, uma publicação
de 1989, depois de cinco anos de investigação, descobriu 47 casos em diferentes tipos de
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estruturas e uma ponte em concreto protendido em Tottori foi destruída, após 15 anos de
construção. No reino unido, um programa de investigação encontrou em média de 200
estruturas afetadas por RAA, construídas entre 1931 e 1975. No Texas, em 1998, uma
inspeção em 69 pontes em concreto protendido revelou problemas de RAA e ataque por
sulfatos em 56 obras. Também são citados mais de 100 casos de obras com RAA
documentados na Argentina (FIGUEIRÔA & ANDRADE, 2007).
Já no Brasil houve um aumento considerável de estruturas afetadas pelo fenômeno
expansivo, onde passou de três casos registrados para mais de trinta, após os casos de blocos
de fundação em diversos edifícios na Região Metropolitana do Recife, estado de Pernambuco.
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4.2.1 Ocorrências de RAA em Recife/PE
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ser visualizadas fotos de pilares da fundação do Edifício Solar da Piedade que apresenta
quadro similar ao do Areia Branca.
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Figura 6 - Casos de colapso na estrutura por RAA são raros, mas a reação possibilita uma perigosa
entrada para outras formas de deterioração da estrutura.
Fonte: Andrade, 2007
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Existem diversos métodos de investigação para detectarmos a presença de reação
álcali agregados no concreto endurecido, constarão a seguir alguns deles onde poderão ser
analisados o que melhor se adéqua e os que têm resposta mais rápida.
5.1 Método Osipov
É um método térmico de ensaio mais conhecido como Método Osipov devido aos
Eng.° Albert Osipov ter criado e desenvolvido no Institute Hydroproject de Moscou.
Este método submete os agregados, com dimensões de 20 a 50 mm, a alta temperatura
aproximadamente 1000° por 60 segundos. Considera-se que o agregado, caso possua
mineralógica reativa, venha desagregar-se quando exposta à temperatura elevada. Havendo
fragmentação do agregado, isto seria um indício da potencialidade reativa da rocha analisada
(VALDUGA, 2002 apud Furnas, 1997).
Entretanto mais isso não determina que se o agregado não desagregar-se ele não
poderá ser potencialmente reativo, sendo necessário análises complementares.
É um método que foi desenvolvido entre 1947 e 1952 por Richard Melem, onde foram
avaliados 71 agregados, verificando Sílica Dissolvida (Sd) e a redução da alcalinidade (Rc) e
passando estes resultados para um gráfico, onde representava o limite entre os materiais
deletérios e inócuos. A NBR 9774-87 normatiza esse método.
Esses ensaios têm vantagens e desvantagens. A vantagem é a rapidez com que é
realizado mas com isso vem a desvantagem devido ao fato de os agregados ficarem expostos
as condições de ambiente agressivas por apenas 24 horas, poderá levar a resultados não tão
precisos.
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amostra consiste em ambiente com solução de NaOH a concentração 1N à temperatura de 23°
C. As leituras de expansão são feitas nas idades de 7, 14, 21 e 28 dias, podendo o ensaio ser
levado até 1 ano. A NBR 10340/88, porém, não fixa limites de expansão (VALDUGA, 2002).
Possui algumas desvantagens que são citadas por VALDUGA apud FONTOURA,
1999: a dificuldade de obtenção de um testemunho que seja bastante representativo da rocha
analisada, e a duração do ensaio, que pode ser muito longa.
Este ensaio tem uso bastante restrito no Brasil, pois as rochas carbonáticas (contendo
proporções de dolomita, calcita e material insolúvel que conduzirão a desdolomitização) não
compreendem a principal fonte de fornecimento de agregados no país (VALDUGA, 2002
apud FONTOURA, 1999).
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Este método determina, por meio da variação de comprimento de barras de argamassa,
a suscetibilidade de um agregado participar da reação expansiva álcali- sílica na presença dos
ínos hidroxila associados aos álcalis do cimento (ABNT NBR 15577-4/08).
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Figura 8 e 9. Acomodação das barras em recipiente com solução de NaOH 1N; b) em estufa a 80º C.
Fonte: Kormann, 2004
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É um método de ensaio de longa duração que representa melhor às condições para
avaliação da reação álcali agregados, pois utiliza prisma de concreto e não argamassa como
no método acelerado. A solução NaOH é adicionada na água de amassamento aumentando a
concentração dos álcalis da mistura, respeitando o limite especificado. Além dos prismas
permanecerem saturados a uma temperatura de 38°C, em recipientes especiais, os corpos de
prova não podem ter contato direto com a água nem paredes do recipiente. As expansões são
limitadas por uma taxa de 0,04%, ou seja, para expansões inferiores a 0,04% os agregados são
considerados inócuo.
5.7.1 Definição
5.7.2 Importância
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Face os diversos problemas ocorridos em Recife, são importantes as verificações dos
agregados potencialmente reativos de cada região. Com o crescimento do pólo das
construções, a realização desses ensaios é imprescindível para que se possa ter a certeza de
que a edificação não sofrerá com esse tipo de patologia.
Como os agregados graúdos utilizados pelo setor da construção civil na Cidade de
Salvador são extraídos em pedreiras localizadas na mesma faixa geológica, foram levantados
alguns dados de ensaios de caracterização de agregados graúdos e miúdos e método acelerado
de barras de argamassa utilizando o cimento-padrão de acordo a norma ASTM C-1260.
Conforme gráfico abaixo serão apresentados 04 amostras de agregado graúdo (brita 19 mm).
0,5
0,45
0,4
0,35
Expansão (%)
amostra 1
0,3
amostra 2
0,25
Reativo amostra 3
0,2
amostra 4
0,15 Potencialmente
0,1 Reativo
0,05
Inócuo
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Idade de Cura (dia)
Figura 10 – Representação dos ensaios de métodos acelerado de barras de argamassa, agregados da região
metropolitana de Salvador.
Fonte: Autor, 2009
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possibilidade de RAA. (adaptado BATTAGIN, 2008). Como pode ser verificado na figura
abaixo, na classificação de risco das estruturas de desenvolvimento da reação segundo ABNT
NBR 15577-1, 2008 adaptado por BATTAGIN (2008).
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As medidas mitigadoras da norma brasileira visam classificar quanto ao risco de
ocorrência de RAA, como apresentado na figura acima, determinando assim o grau de
intensidade das mitigações. Definindo com isso se a escolha do cimento com adições ativas
são suficientes para prevenir afeitos danosos da reação.
Nas ações preventivas de mínima intensidade podem ser utilizadas: cimentos CPII-E,
CPII-Z (ABNT NBR 11578), CP III (ABNT NBR 5735) E CP IV (ABNT NBR 5736).
Quando as ações preventivas forem de moderada intensidade terão que ser utilizadas: os
cimentos de alto forno CP III com pelo menos 60% de escória ou cimento pozolânico, com no
mínimo 30 % de pozolana. Mas para isso são consideradas as obras de concreto que não
contenham elementos maciços, não estejam em presença constante com água, dispensando-se
a realização de ensaios comprobatórios da mitigação (adaptado de BATTAGIN, 2008).
No entanto, a presença de escória de alto forno e materiais pozolânicos em alguns
tipos de cimento não significam garantia de mitigação a RAA, pois dependerá também do teor
em que a adição está presente, do grau de reatividade do agregado e do teor total de álcalis do
concreto. (MUNHOZ, 2008).
Para as demais intensidade é indispensável à realização dos ensaios, para comprovar a
potencialidade reativa do agregado e a mitigação da reação pelo uso de materiais inibidores.
Como os cimentos com adições não são comercializados em todo o País, devido à
disponibilidade de escória e pozolanas, outras medidas deverão ser tomadas, como adição de
cinzas volantes, metacaulim e sílica ativa, além de apresentar respostas positivas quanto à
mitigação, suas adições podem variar de 10 a 20%. Deverão ser realizados ensaios para a
determinação das porcentagens de adições conforme agregado a ser utilizado na mistura.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da Reação Álcali Agregado - RAA não provocar efeitos destrutivos a estrutura,
a sua presença poderá desencadear outros tipos de agressões químicas como os ataques por
íons cloreto e sulfato, dióxido de carbono, ataques de ácidos, que poderão levar a estrutura ao
colapso.
Com a crescente ocorrência de novos casos de prédios residências e comerciais
afetadas por esse fenômeno, na região Metropolitana de Recife, onde a equipe técnica local
fazem estudos e identificam tais estruturas, faz-se pertinente incentivar os profissionais do
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ramo a promover soluções corretivas e preventivas às manifestações patológicas relacionadas
à Reação Álcali Agregado.
7 AGRADECIMENTOS
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8 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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