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Tani Go Cinesiologia Educação Física e Esporte Ordem Emanante Do Caos Na Estrutura Acadêmica
Tani Go Cinesiologia Educação Física e Esporte Ordem Emanante Do Caos Na Estrutura Acadêmica
Fisiologia do E x e r c í c i o e a B i o m e c â n i c a .
se a E d u c a ç ã o F í s i c a pretende sintonizar-se com o d i n a m i s m o
O segundo acontecimento importante observado nesses ú l t i m o s c a r a c t e r í s t i c o da c i ê n c i a e tecnologia e responder adequadamente à s
anos f o i a r e e s t r u t u r a ç ã o dos cursos de p r e p a r a ç ã o profissional com a m u d a n ç a s sociais e às consequentes alterações no mercado de trabalho,
i m p l a n t a ç ã o do bacharelado. N a realidade, a R e s o l u ç ã o no.3 do ela n ã o p o d e r á ficar alheia, por m u i t o tempo, ao segundo tipo de
Conselho Federal de E d u c a ç ã o , de 16 de j u n h o de 1987, provocou r e a ç ã o à instabilidade acima descrita.
uma verdadeira c o n v u l s ã o nas i n s t i t u i ç õ e s de n í v e l superior em O terceiro acontecimento importante foi o repensar da E d u c a ç ã o
E d u c a ç ã o F í s i c a , q u a n d o da sua p r o m u l g a ç ã o . U m a e s t r u t u r a Física Escolar (Tani, no prelo). A p ó s um período de relativo abandono,
a c a d é m i c a e administrativa que permaneceu estagnada por longos em f u n ç ã o da ê n f a s e ao Esporte, a E d u c a ç ã o F í s i c a Escolar f o i
anos, alheia ao d i n a m i s m o da sociedade e da cultura de uma forroa colocada na ordem do dia das d i s c u s s õ e s a c a d é m i c a s , n ã o s ó nas
geral, viu-se diante de uma incerteza assustadora: c o m o enfrentar o universidades, como t a m b é m nos eventos c i e n t í f i c o s e p e d a g ó g i c o s
desafio de um n o v o curso de p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l c o m uma realizados em diferentes pontos do País. U m dos frutos desse p e r í o d o
estrutura desacostumada com tudo que é novo? de m a i o r a t e n ç ã o à E d u c a ç ã o Física Escolar é a e x i s t ê n c i a , hoje, de
Certamente, n ã o f o i e n ã o tem sido fácil, para os profissionais uma quantidade substancial de p u b l i c a ç õ e s , das mais variadas
envolvidos, compreender o significado da m u d a n ç a e as características abordagens, à d i s p o s i ç ã o dos professores e n v o l v i d o s c o m esse
e i m p l i c a ç õ e s de um curso de bacharelado. Muitas vezes, as tentativas segmento de a t u a ç ã o profissional. Sem d ú v i d a , algo i m p e n s á v e l a t é
de c o m p r e e n d ê - l o s os t ê m remetido à uma r e f l e x ã o do que fizeram a d é c a d a de 80, em que praticamente toda a literatura provinha de
ao longo de toda a sua carreira, e isso tem provocado a t é a perda da autores estrangeiros, traduzida para o p o r t u g u ê s , sobre temas variados
n o ç ã o do que seja a l i c e n c i a t u r a , o ú n i c o curso de p r e p a r a ç ã o mas nem sempre com i m p l i c a ç õ e s diretas para a E d u c a ç ã o Física
profissional desenvolvido a t é e n t ã o . Escolar.
A perspectiva de i m p l a n t a ç ã o do bacharelado provocou uma Em 1988 publicamos um livro intitulado " E d u c a ç ã o Física
instabilidade no sistema. A instabilidade leva, em geral, à duas r e a ç õ e s Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista" (Tani,
d i s t i n t a s . A p r i m e i r a é a de p r o c u r a r preservar a e s t a b i l i d a d e M a n o e l , K o k u b u n & P r o e n ç a ) , em cuja i n t r o d u ç ã o d e f e n d í a m o s a
neutralizando as fontes de instabilidade, o que resulta na m a n u t e n ç ã o necessidade de abordagens diversificadas para a E d u c a ç ã o Física
do status quo. A segunda é a de fazer da instabilidade uma fonte de Escolar. N o nosso entender, a p r o p o s i ç ã o de diferentes abordagens,
nova ordem, ou seja, a busca de uma nova estabilidade num nível a l é m de enriquecer as d i s c u s s õ e s , poderia, com o tempo, convergir
superior de o r g a n i z a ç ã o e complexidade (Prigogine & Stengers, 1984). progressivamente em d i r e ç ã o à uma proposta curricular capaz de
Ela parte do pressuposto de que instabilidade é salutar e n e c e s s á r i a satisfazer adequadamente as expectativas e necessidades dos nossos
para qualquer processo de m u d a n ç a , pois s ó h á desenvolvimento se escolares. Em outras palavras, a diversidade de c o n t r i b u i ç õ e s seria
houver m u d a n ç a e m u d a n ç a implica em instabilidade ou quebra de um p r é - r e q u i s i t o para um a v a n ç o qualitativo. E, portanto, um m o t i v o
estabilidade. de s a t i s f a ç ã o constatar, na literatura atual, diferentes abordagens para
Infelizmente, parece que a E d u c a ç ã o F í s i c a tem optado, ao a E d u c a ç ã o F í s i c a Escolar (veja, por exemplo, Betti, 1991; Castelani
menos nesse início, pela p r i m e i r a alternativa, pois o que se c o m e ç a a
Filho, l 9 8 8 ; D a ó l i o , 1995; Faria J ú n i o r , 1981; Ferreira, 1984; Freire,
presenciar é o mecanismo de feedback atuar com toda a sua f o r ç a no
1989; M a r i z Oliveira, Betti & Mariz de Oliveira, 1988; Medina, 1 983;
sentido de preservar ao m á x i m o a estabilidade vigente. Esse e s f o r ç o
M o r e i r a , 1 9 9 1 ; Negrine, 1 983; O l i v e i r a , 1980; Soares et a l i i , 1992;
pode ser percebido de v á r i a s formas: mudar o nome da d i s c i p l i n a
Taffarel, 1985; só para citar algumas p u b l i c a ç õ e s em forma de livros),
sem alterar o seu c o n t e ú d o , aumentar o n ú m e r o isciplinas pela simples
que se constituem alternativas concretas à s duas abordagens a t é e n t ã o
d i v i s ã o do c o n t e ú d o j á desenvolvido, mudar a estrutura c u r r i c u l a r
h e g e m ó n i c a s , aquela de o r i e n t a ç ã o para o esporte e aquela de
sem mudar a c o n c e p ç ã o subjacente e assim por diante. N o entanto,
o r i e n t a ç ã o para a a p t i d ã o física.
Universidade Gama Killig
Revista de D i v u l g a ç ã o Cientificado Mestrado e Doutorado c m E d u c a ç ã o Física
Todavia, apesar dessa s i t u a ç ã o favorável da E d u c a ç ã o Física E d u c a ç ã o F í s i c a n ã o estava preparada para conviver num ambiente
Escolar em c o m p a r a ç ã o a alguns anos atrás, um problema central de diversidade e pluralidade de conhecimentos, ideias e p o s i ç õ e s ,
ainda persiste, visto que a p r o p o s i ç ã o de diferentes abordagens n ã o onde o conflito e debate a c a d é m i c o s fossem estimulados, mas que,
foi acompanhada de uma análise rigorosa da relação entre a disciplina ao final, a força do argumento prevalecesse, mesmo que em caráter
curricular de E d u c a ç ã o Física e a sua respectiva área de conhecimento. p r o v i s ó r i o , visto ser essa uma c a r a c t e r í s t i c a inerente a qualquer
Se comparado à outras disciplinas curriculares, observa-se que a Física empreendimento científico.
existe independentemente do ensino da Física, da mesma forma a N o bojo dessas d i s c u s s õ e s , n ã o raro a c i ê n c i a foi colocada
Q u í m i c a , a M a t e m á t i c a , a Biologia e assim por diante (Tani, 1991). como o v i l ã o da história. Ressalte-se, entretanto, que, na maioria das
Neste sentido, cabe indagar: qual seria a á r e a de conhecimento vezes, a c i ê n c i a que se criticava era a chamada c i ê n c i a c l á s s i c a ,
correspondente ao ensino da E d u c a ç ã o Física? Qual seria o seu objeto caracterizada, entre outras coisas, pelo reducionismo, determinismo
de estudo, e que tipo de conhecimento estaria ela produzindo? Enfim, e linearidade, e n ã o a c i ê n c i a atual, onde q u e s t õ e s como propriedades
qual seria o c o n t e ú d o do conhecimento a ser trabalhado na E d u c a ç ã o emergentes, a u t o - o r g a n i z a ç ã o , n ã o - l i n e a r i d a d e , ordem e desordem
Física Escolar? 2 s ã o alguns dos t ó p i c o s que c o m p õ e m o centro das p r e o c u p a ç õ e s (por
Em s í n t e s e , esse conjunto de acontecimentos, nos ú l t i m o s exemplo, Jantsch. 1980; L e w i n , 1993; Prigogine & Stengers, 1984;
quinze anos, provocou, na E d u c a ç ã o Física, uma ampla r e f l e x ã o da Yates, 1987). A l é m disso, as d i f e r e n ç a s e r e l a ç õ e s entre c i ê n c i a ,
sua p r ó p r i a identidade, dando origem a uma fase de t u r b u l ê n c i a s em tecnologia e t é c n i c a (Bunge, 1981), e entre pesquisa aplicada e
que aspectos como p r e p a r a ç ã o profissional, a t u a ç ã o profissional, pesquisa básica, foram frequentemente desconsideradas. Em outras
identidade a c a d é m i c a , pesquisa e p ó s - g r a d u a ç ã o foram questionados palavras, a c i ê n c i a foi descontextualizada, tanto espacialmente como
e discutidos (veja, por exemplo, Moreira, 1992; Passos, 1988; SBDEF, temporalmente, e essa atitude fez revelar o q u ã o n e c e s s á r i o se faz
1992). N u m a perspectiva Kuhniana (Kuhn, 1970), a E d u c a ç ã o F í s i c a uma i n c u r s ã o mais profunda sobre a história da ciência, a filosofia da
mergulhou numa fase de crise, onde a necessidade de m u d a n ç a c i ê n c i a e a epistemologia em nosso meio. Lamentavelmente, ainda é
conceituai, estrutural e operacional foi reconhecida por uns, descartada comum rotular-se essa reflexão, sobre a m a c r o - v i s ã o da ciência, como
por outros, e isto gerou choques entre o v e l h o e o n o v o em uma viagem estratosférica desprovida de qualquer significado prático,
praticamente tudo que a envolve. isto é, um filosofar no sentido pejorativo ( M a n o e l , 1995).
C o m o n ã o poderia deixar de ser, o processo v i v i d o pela Paralelamente às m u d a n ç a s internas à área, t ê m ocorrido, nestes
E d u c a ç ã o Física, nestes ú l t i m o s anos, t a m b é m refletiu o p r ó p r i o ú l t i m o s anos, m u d a n ç a s significativas no plano social e profissional.
processo pelo qual passou a sociedade brasileira como um todo, ou Comparado a alguns anos atrás, existem sinais evidentes de que a
seja, de reflexão e questionamento de sua estrutura e o r g a n i z a ç ã o c o n s c i ê n c i a sobre a i m p o r t â n c i a da atividade física para a qualidade
política, social, cultural e e c o n ó m i c a . O momento histórico favoreceu de v i d a o u b e m estar g e r a l das pessoas, t e m m e l h o r a d o
n ã o apenas as d i s c u s s õ e s a c a d é m i c a s sobre problemas e s p e c í f i c o s da gradativamente. E m termos concretos, h á mais pessoas de diferentes
área, mas t a m b é m q u e s t õ e s mais amplas, particularmente aquelas idades, de diferentes camadas sociais e de ambos os sexos, praticando
relacionadas à matriz Filosófica das diferentes v i s õ e s de E d u c a ç ã o atividade física regular, caminhando e correndo pelas ruas e parques
F í s i c a , de c i ê n c i a e de u n i v e r s i d a d e . H o u v e t a m b é m u m a da cidade. A s r e i v i n d i c a ç õ e s por e s p a ç o s adequados à p r á t i c a de
i d e o l o g i z a ç ã o e p o l i t i z a ç ã o das d i s c u s s õ e s e as disputas decorrentes atividades físicas no planejamento urbano e residencial t ê m crescido.
extrapolaram, muitas vezes, a esfera do a c a d é m i c o , e provocaram H á maior n ú m e r o de pessoas frequentando as chamadas "academias
confrontos entre correntes com propostas de mudar a E d u c a ç ã o Física, de g i n á s t i c a " . O n ú m e r o de pessoas com acesso a programas de
quando, na verdade, o oponente comum a ser combatido seria aquela atividades físicas orientadas nos p r ó p r i o s locais de trabalho tem
corrente estagnada avessa a qualquer tipo de m u d a n ç a . Parecia que a aumentado significativamente. H á maior n ú m e r o de pacotes turísticos
1K
Universidade G a m a Filho Revista de D i v u l g a ç ã o Cientifica do Mestrado c Doutorado em F d u c a ç ã o Física
produzi-los. A E d u c a ç ã o Física n ã o apenas acreditava que o seu trabalhos (Canfield, I 9 9 3 ; K o k u b u n , 1995; L i m a , 1994; M a n o e l ,
c o n t e ú d o era c o n s t i t u í d o , na sua maior parte, de material tomado 1986; M a r i z de Oliveira, 1988; Tani, 1988, 1989; Teixeira, 1993),
dessas disciplinas, como t a m b é m que os seus p r i n c í p i o s poderiam m o t i v o pelo qual uma a n á l i s e mais detalhada será aqui o m i t i d a .
ser formulados a partir dos conhecimentos bem estabelecidos em Mesmo assim, alguns aspectos dessa t r a n s f o r m a ç ã o da E d u c a ç ã o
cada uma delas. Isso foi um grande e q u í v o c o . A E d u c a ç ã o Física Física merecem ser abordados, pois tanto os seus pontos positivos
estava, de fato, esvaziada de c o n t e ú d o e dessa forma n ã o justificava como negativos c o m e ç a m a influenciar profundamente a E d u c a ç ã o
sequer a sua p r e s e n ç a no ensino superior, c o m o um curso de Física em nosso p a í s .
p r e p a r a ç ã o profissional academicamente orientado, muito menos na Duas p o s s í v e i s estruturas foram propostas e discutidas para o
universidade, enquanto uma área de conhecimento (Tani, 1988; 1989). desenvolvimento de estudos em E d u c a ç ã o Física, uma de c a r á t e r
Em suma, a visão da E d u c a ç ã o Física, centrada na p r e p a r a ç ã o interdisciplinar e outra transdisciplinar (crossdisciplinar). De acordo
profissional, e a consequente ênfase histórica à p r e s t a ç ã o de s e r v i ç o s com B r o o k s ( 1 9 8 1 ) , a estrutura i n t e r d i s c i p l i n a r significa que a
ou ao aspecto profissional, inibiu a e s t r u t u r a ç ã o de um corpo de disciplina está baseada nos conhecimentos fornecidos por várias outras
conhecimentos que, além de proporcionar identidade a c a d é m i c a à disciplinas. Estabelece-se, dessa forma, uma certa d e p e n d ê n c i a da
á r e a , pudesse fornecer s u s t e n t a ç ã o teórica e científica à p r á t i c a e à E d u c a ç ã o F í s i c a em r e l a ç ã o a d i s c i p l i n a s t r a d i c i o n a i s c o m o a
p r e p a r a ç ã o profissional. Anatomia, a Fisiologia, a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia,
E demais conhecido que, embora preocupar-se em contribuir pois ela se caracterizaria pela aplicação dessas disciplinas a problemas
para as pessoas seja f u n d a m e n t a l para u m a p r o f i s s ã o , o n ã o e s p e c í f i c o s da á r e a . A estrutura interdisciplinar ficou claramente
desenvolvimento de um corpo de conhecimentos capaz de dar uma evidenciada quando se associou o nome de uma determinada disciplina
s u s t e n t a ç ã o a c a d ê m i c o - c i e n t í f i c a à prática profissional coloca em tradicional a um objeto e s p e c í f i c o da nossa área para a f o r m a ç ã o de
cheque n ã o apenas a sua autenticidade, mas t a m b é m a sua p r ó p r i a s u b - á r e a s de i n v e s t i g a ç ã o , como ocorreu, por exemplo, no caso da
s o b r e v i v ê n c i a (Lawson, 1984; M o r f o r d , 1972; Tani, 1988; 1989). Psicologia do Esporte, Sociologia do Esporte e H i s t ó r i a do Esporte.
A l é m disso, dessa d e f i n i ç ã o de i d e n t i d a d e e n q u a n t o á r e a de Entretanto, a estrutura interdisciplinar foi e tem sido objeto de
conhecimento e a consequente p r o d u ç ã o , o r g a n i z a ç ã o e difusão de muitas críticas, porque, além do problema da d e p e n d ê n c i a que poderia
c o n h e c i m e n t o s depende, f u n d a m e n t a l m e n t e , a j u s t i f i c a t i v a da resultar, em ú l t i m a instância, em c o o p t a ç ã o dessas s u b - á r e a s pelas
p e r m a n ê n c i a , ou n ã o , da E d u c a ç ã o F í s i c a no c o n t e x t o de uma d i s c i p l i n a s m ã e s , sem n e n h u m a c o n t r i b u i ç ã o e f e t i v a para a
universidade. e s t r u t u r a ç ã o e desenvolvimento da E d u c a ç ã o F í s i c a enquanto uma
N o cenário internacional, um importante passo para transformar disciplina a c a d é m i c a , ela implicava uma a u s ê n c i a de o r i e n t a ç ã o no
essa estrutura tradicional da E d u c a ç ã o Física deu-se em meados da sentido da i n t e g r a ç ã o h o r i z o n t a l ou t e m á t i c a do c o n h e c i m e n t o
d é c a d a de 60, quando nos E U A , se iniciou um amplo m o v i m e n t o (Lawson & M o r f o r d , 1979).
para a c a r a c t e r i z a ç ã o da E d u c a ç ã o Física enquanto uma disciplina A d e p e n d ê n c i a da E d u c a ç ã o Física em r e l a ç ã o à s disciplinas
a c a d é m i c a ( H e n r y , 1964; 1978). N o B r a s i l , os impactos desse m ã e s n ã o se manifestava apenas em termos da " ' i m p o r t a ç ã o " de
movimento c o m e ç a r a m a ser sentidos apenas no início da d é c a d a de conhecimentos, mas t a m b é m de profissionais para desenvolverem
80, quando da i m p l a n t a ç ã o dos cursos de p ó s - g r a d u a ç ã o estrito senso. os seus c o n t e ú d o s nos cursos de p r e p a r a ç ã o profissional. Para esses
Mais recentemente, suas influências têm chegado t a m b é m aos cursos profissionais, a estrutura interdisciplinar, obviamente, era mais prática
de g r a d u a ç ã o , a t r a v é s da i m p l a n t a ç ã o dos cursos de bacharelado.
e conveniente, pois i m p l i c a v a apenas a a p l i c a ç ã o das teorias e
Embora as d i s c u s s õ e s a respeito das características desse m o v i m e n t o
metodologias de pesquisa próprias da sua área de f o r m a ç ã o a c a d é m i c a
e de suas i m p l i c a ç õ e s ainda n ã o sejam um lugar c o m u m no nosso
aos problemas da E d u c a ç ã o Física.
meio, os seus desdobramentos t ê m sido documentados em v á r i o s H e n r y ( 1 9 6 4 ; 1978), entretanto, p r o p ô s que a d i s c i p l i n a
*/int,,<: nnrnnr/s. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p . 9 - 5 0 . dez. 1996 Motus Corporis. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p . 9-50. dez. 1996
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Universidade G a m a Filho
Revista de D i v u l g a ç ã o Científica do Mestrado e Doutorado em E d u c a ç ã o Física
a c a d é m i c a de E d u c a ç ã o Física teria uma estrutura transdisciplinar, Aprendizagem Motora / Psicologia do Esporte, Sociologia e E d u c a ç ã o
pois n ã o consistia da a p l i c a ç ã o das disciplinas tradicionais ao estudo do Esporte, H i s t ó r i a e F i l o s o f i a da E d u c a ç ã o F í s i c a e T e o r i a
da atividade física ou performance humana. Se assim fosse, ela n ã o A d m i n i s t r a t i v a em Esporte e E d u c a ç ã o Física (Park, 1989). C o m o se
seria u m a d i s c i p l i n a a c a d é m i c a , mas sim u m a á r e a t é c n i c a ou pode o b s e r v a r , a e m e r g ê n c i a de s u b - d i s c i p l i n a s n ã o s e g u i u
profissional. Pelo c o n t r á r i o , a E d u c a ç ã o Física seria c o n s t i t u í d a de estritamente uma estrutura inter ou transdisciplinar, dificultando a
certas p o r ç õ e s dessas disciplinas e cabia a ela i n t e g r á - l a s e a m p l i á - v i s u a l i z a ç ã o de uma estrutura coerente para a área.
las. O foco de a t e n ç ã o seria o estudo do m o v i m e n t o humano, no
N a â n s i a de obter, o mais r á p i d o p o s s í v e l , o status e a
s e n t i d o a m p l o , a t r a v é s de u m a s é r i e de estudos o r g a n i z a d o s
respeitabilidade a c a d é m i c o s , esse m o v i m e n t o deu muita ê n f a s e à
horizontalmente, como t a m b é m verticalmente, em profundidade.
pesquisa básica, estimulando e valorizando sobremaneira aquelas sub-
O p o n t a p é inicial dado por Henry ( 1964), cujas p r o p o s i ç õ e s se disciplinas de i n v e s t i g a ç ã o mais relacionadas às c i ê n c i a s naturais,
c o n s t i t u í r a m um verdadeiro paradigma para a E d u c a ç ã o Física, foi em detrimento de pesquisas relacionadas às ciências sociais e humanas
fundamental para a d e f i n i ç ã o do seu c o n t e ú d o , mas v á r i o s outros e, principalmente, de pesquisas aplicadas comprometidas com s o l u ç ã o
estudos (por exemplo, B r o w n , 1967; Metheny, 1 9 6 7 ; N i x o n , 1967; de problemas enfrentados na prática profissional. O resultado concreto
P h e n i x , 1967; R a r i c k , 1967; S t e i n h a u s , 1967) c o n t r i b u í r a m desse investimento foi um inegável a v a n ç o a e a d ê m i c o - c i e n t í f i c o ,
significativamente para estabelecer a estrutura inicial da disciplina evidenciado, entre outras coisas, pelo aumento significativo no volume
a c a d é m i c a de E d u c a ç ã o Física, que possibilitou o desenvolvimento de estudos conduzidos, no n ú m e r o de p e r i ó d i c o s especializados, na
de estudos e pesquisas devidamente identificados. Essa iniciativa foi
q u a n t i d a d e de eventos c i e n t í f i c o s r e a l i z a d o s , no n ú m e r o de
imediatamente seguida por v á r i o s profissionais, particularmente por
p u b l i c a ç õ e s até mesmo em p e r i ó d i c o s de r e p u t a ç ã o em áreas de maior
aqueles engajados em pesquisas nas universidades, caracterizando
t r a d i ç ã o a c a d é m i c a . Por outro lado, n ã o f o i p o s s í v e l observar um
aquilo que é comumente denominado de " m o v i m e n t o disciplinar"
impacto mais significativo dos conhecimentos produzidos na melhoria
da E d u c a ç ã o Física. Para esses profissionais, a E d u c a ç ã o Física
da p r á t i c a profissional.
s i g n i f i c a v a mais do que uma á r e a cuja responsabilidade era a
Inicialmente, acreditou-se que as pesquisas desenvolvidas
p r e p a r a ç ã o de professores para atuar nas escolas ( L a w s o n , 1984).
nessas sub-disciplinas pudessem contribuir para a f o r m a ç ã o de um
Eles viam a E d u c a ç ã o Física como uma á r e a de estudo relacionada
corpo integrado de conhecimentos que desse identidade a c a d é m i c a à
com a i n v e s t i g a ç ã o da natureza e significado do m o v i m e n t o humano
á r e a e s u s t e n t a ç ã o t e ó r i c a à p r á t i c a e à p r e p a r a ç ã o profissional.
em suas v á r i a s formas, e t a m b é m com o estudo n ã o s ó do como, mas
Entretanto, em f u n ç ã o da influência do paradigma científico adotado
do p o r q u ê da atividade física ( K r o l l , 1982). Esse m o v i m e n t o trouxe
das c i ê n c i a s naturais, de c a r a c t e r í s t i c a eminentemente a n a l í t i c a ,
profundas m o d i f i c a ç õ e s na área n ã o apenas em termos de pesquisa,
c o m e ç a r a m a se desenvolver pesquisas que enfocavam aspectos cada
mas t a m b é m de p r e p a r a ç ã o profissional e p ó s - g r a d u a ç ã o .
vez mais e s p e c í f i c o s acerca do f e n ó m e n o m o v i m e n t o humano. A
Os anos que se seguiram foram caracterizados por um crescente i n c o r p o r a ç ã o desse paradigma fez com que a i n t e g r a ç ã o horizontal e
interesse pela pesquisa, e a t e n d ê n c i a observada foi a e s p e c i a l i z a ç ã o vertical dos conhecimentos produzidos se tornasse cada vez mais
cada vez mais intensa dos temas investigados que, por sua vez, deu difícil, caracterizando, desta forma, o processo de f r a g m e n t a ç ã o do
origem à c r i a ç ã o de v á r i a s sub-disciplinas, cada qual c o m seus conhecimento (Hoffman, 1985; Tani, l 988; Thomas, 1987).
ojpjetivos e p r e o c u p a ç õ e s a c a d é m i c a s p r ó p r i a s . Essas sub-disciplinas É amplamente reconhecido que a i n t e g r a ç ã o h o r i z o n t a l t
se organizaram de tal maneira que criaram suas a s s o c i a ç õ e s p r ó p r i a s , v e r t i c a l dos conhecimentos é fundamental para dar identidade
seus c o n g r e s s o s e s p e c í f i c o s e seus v e í c u l o s de p u b l i c a ç ã o a c a d é m i c a a uma área de conhecimento. Embora haja d ú v i d a s se ;
e s p e c i a l i z a d o s . A s p r i n c i p a i s s u b - d i s c i p l i n a s que e m e r g i r a m e s p e c i a l i z a ç ã o das s u b - d i s c i p l i n a s l e v a n e c e s s a r i a m e n t e ;
inicialmente foram as de Fisiologia do E x e r c í c i o , B i o m e c â n i c a , f r a g m e n t a ç ã o do conhecimento (Greendorfer, I987; Thomas, 198;
18 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 9-50, dez. 1996 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 9-50, dez. 1996 1<
I Iniversidade Gatna Filho Revista de D i v u l g a ç ã o Cientifica do Mestrado e Doutorado em E d u c a ç ã o Física
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Revisla de D i v u l g a ç ã o Científica do Mestrado e Doutorado em E d u c a ç ã o Física
Universidade G a m a Filho
A o m e u ver, ambos os c o n h e c i m e n t o s - a c a d é m i c o s e
e s p e c í f i c o s e difíceis de serem generalizados. Por outro lado, para
profissionais - s ã o importantes e n e c e s s á r i o s para a a t u a ç ã o e,
pessoas de t e n d ê n c i a mais profissional, os conhecimentos que os
consequentemente, para a p r e p a r a ç ã o profissional e, portanto, entendo
profissionais necessitam s ã o aplicados e n ã o b á s i c o s . O argumento
que a busca de autenticidade e respeitabilidade profissionais implica
por elas apresentado é de que os conhecimentos b á s i c o s t ê m sido
a e l a b o r a ç ã o e desenvolvimento de um corpo de conhecimentos,
produzidos de forma fragmentada e n ã o existe uma c o r r e s p o n d ê n c i a
a c a d é m i c o s e profissionais, a t r a v é s de pesquisas e a sua u t i l i z a ç ã o
entre eles e a s i t u a ç ã o real de prática.
para melhorar a qualidade da prática profissional (veja, por exemplo,
Basicamente, essa disputa em torno do corpo de conhecimentos
Park, 1 9 9 1 ) . A o s cursos de p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l cabe a
em que se fundamenta a prática profissional tem se desencadeado
responsabilidade de selecionar e organizar esses conhecimentos em
tendo como critério ú n i c o a sua utilidade prática. Neste particular, é
função do perfil do profissional que se pretende formar, e de transmiti-
preciso enfatizar que a r e l e v â n c i a do corpo de conhecimentos n ã o
los o r g a n i z a d a m e n t e a t r a v é s do c o n j u n t o de suas d i s c i p l i n a s
pode ser medida somente pela sua eficácia na s o l u ç ã o de problemas
curriculares. Neste sentido, o que se necessita é uma estrutura
imediatos encontrados na prática (Tani, no prelo). Ele tem uma função
a c a d é m i c a claramente articulada e aceitável que organize a p r o d u ç ã o
m u i t o mais ampla, pois a sua p r e s e n ç a é, por exemplo, uma c o n d i ç ã o
e s i s t e m a t i z a ç ã o de conhecimentos a c a d é m i c o s e profissionais
sine qua non para distinguir-se uma profissão de uma o c u p a ç ã o . A
devidamente identificados e caracterizados.
principal d i f e r e n ç a entre o c u p a ç ã o e p r o f i s s ã o , segundo Lawson
(1984), é que numa o c u p a ç ã o as pessoas aceitam e deixam v á r i o s Essa p r o p o s i ç ã o é r e f o r ç a d a quando se c o m e ç a a detectar, no
trabalhos ou tarefas e o seu m é t o d o de trabalho é dependente da Brasil, vários indicadores que evidenciam a a u s ê n c i a de uma estrutura
t r a d i ç ã o ou tentativa e erro. Enquanto isso, numa profissão, as pessoas que oriente e integre num todo a p r o d u ç ã o de conhecimentos, a
estão comprometidas com uma carreira, em que a maneira de executar p r e p a r a ç ã o profissional e a p ó s - g r a d u a ç ã o . A crescente s u b d i v i s ã o
o seu trabalho está baseada no conhecimento sobre a e s s ê n c i a do da á r e a com a c r i a ç ã o de diferentes s u b - á r e a s , cada qual com suas
s e r v i ç o que oferecem e sobre a pessoa a quem prestam esse s e r v i ç o . o r g a n i z a ç õ e s p r ó p r i a s como a B i o m e c â n i c a , a Historia da E d u c a ç ã o
A l é m do mais, pelo fato do p r ó p r i o conhecimento mudar com as Física e a E d u c a ç ã o Física Adaptada j á é uma realidade, e pode levar
t r a n s f o r m a ç õ e s sociais, essas pessoas são capazes de adaptar ou alterar a uma maior f r a g m e n t a ç ã o do conhecimento. Os programas de p ó s -
a sua maneira de trabalhar. g r a d u a ç ã o existentes refletem diferentes c o n c e i t u a ç õ e s do corpo de
conhecimentos entre as universidades. As á r e a s de c o n c e n t r a ç ã o e as
A i n d a n ã o h á c o n c o r d â n c i a sobre o n ú c l e o b á s i c o de
suas respectivas nomenclaturas, de t ã o variadas que s ã o , dificilmente
conhecimento t e ó r i c o e a c a d é m i c o que um profissional da á r e a deve
f a z e m t r a n s p a r e c e r que p e r t e n c e m a u m a m e s m a á r e a de
possuir para ser claramente identificado como tal. Esse é um assunto
conhecimento. A diversificação dos programas de g r a d u a ç ã o c o m e ç a
muito importante, pois ele define a estrutura e a o r g a n i z a ç ã o das
a criar uma c o n f u s ã o em r e l a ç ã o a títulos de grau a ser outorgado. A s
faculdades n ã o s ó em termos de p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l , c o m o
d e n o m i n a ç õ e s de departamentos mesclam nomenclaturas tradicionais
t a m b é m em termos de p r o d u ç ã o de conhecimentos (Razor, 1988 ).
profissionalmente orientadas, com nomenclaturas mais recentes
Embora cada i n s t i t u i ç ã o desenvolva um c u r r í c u l o consistente academicamente orientadas.
com sua particular m i s s ã o , em c o n s o n â n c i a com as particularidades
e e x i g ê n c i a s locais, uma profissão é geralmente caracterizada pela Em 1981, Harris assim descreveu a E d u c a ç ã o Física: U m a casa
a d e r ê n c i a a certas c o n c e p ç õ e s fundamentais sobre a natureza e dividida, com uma o r g a n i z a ç ã o inadequada de ensino e pesquisa;
e x t e n s ã o de conhecimentos que os seus membros devem possuir (Park, com uma falha de i n t e r p r e t a ç ã o de um corpo de conhecimentos
1991). N a realidade, os p r o f i s s i o n a i s d e v e m d o m i n a r n ã o s ó apropriado; com uma disputa interna de poder; com uma r e d u n d â n c i a
conhecimentos t e ó r i c o s mas t a m b é m habilidades e sensibilidades de foco; e com um bando de o r g a n i z a ç õ e s e sociedades representando
profissionais ( L a w s o n , 1984). á r e a s especializadas que falharam em solucionar os problemas dela.
° ° A «• r w f - u - . r i c Dtr\rie* innpirn v 3. n. 2. D. 9 - 5 0 , dez. 1996 Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 9-50, dez. 1996 23
Universidade G a m a Filho Revista de D i v u l g a ç ã o Científica do Mestrado e Doutorado em E d u c a ç ã o Física
É para essa E d u c a ç ã o F í s i c a que estamos caminhando ou queremos Ghiraldelli J ú n i o r , 1995; Lovisolo, 1995; Santin, l 995b; Taffarel &
caminhar, seguindo os mesmos passos e os mesmos p e r c a l ç o s ? Se Escobar, 1994) no meio a c a d é m i c o . Entretanto, a maioria desses
um dos atributos singulares do ser humano é a sua capacidade de estudos tem enfocado q u e s t õ e s conceituais e n ã o tem resultado na
aprender das e x p e r i ê n c i a s de outros, n ã o poderia a nossa E d u c a ç ã o p r o p o s i ç ã o concreta de uma estrutura a c a d é m i c a para a área.
F í s i c a evitar aquelas etapas p r o b l e m á t i c a s que os outros p a í s e s Embora a d i s c u s s ã o sobre a estrutura a c a d é m i c a da á r e a n ã o
enfrentaram como a f r a g m e n t a ç ã o do conhecimento, a disputa em seja ainda m u i t o difundida em nosso meio, existe hoje uma v i s ã o
torno da c a r a c t e r i z a ç ã o da E d u c a ç ã o Física como uma área a c a d é m i c a bastante aceita de que h á necessidade de uma á r e a de conhecimento
ou profissional, as d i v e r g ê n c i a s em r e l a ç ã o a nomenclatura da área, que se preocupe em estudar o movimento humano de fornia abrangente
entre outras, e dar um salto qualitativo? e profunda, em m ú l t i p l o s n í v e i s de a n á l i s e , desde o n í v e l mais
Naturalmente, a definição de identidade a c a d é m i c a e a sua m i c r o s c ó p i c o (por exemplo, b i o q u í m i c o ) a t é o mais m a c r o s c ó p i c o
c o n s o l i d a ç ã o a t r a v é s de pesquisas abrangentes e profundas s e r á um (por exemplo, a n t r o p o l ó g i c o ) . H á t a m b é m uma c o m p r e e n s ã o de que,
empreendimento extremamente complexo e difícil por v á r i a s r a z õ e s . em f u n ç ã o dessas c a r a c t e r í s t i c a s , a d e n o m i n a ç ã o E d u c a ç ã o F í s i c a
Em p r i m e i r o lugar, n ã o será fácil definir um paradigma para a área torna-se m u i t o restritiva e deixa de ser adequada para expressar toda
no m o m e n t o em que a p r ó p r i a ciência, como um todo, passa por uma a a b r a n g ê n c i a dessa á r e a de conhecimento (Renson, 1989). N o
verdadeira metamorfose (Prigogine & Stengers, 1984), procurando contexto internacional, d e n o m i n a ç õ e s como Cineantropologia
libertar-se de um paradigma caracterizado pelo r e d u c i o n i s m o , (Renson, 1989), M o t r i c i d a d e Humana (Cunha, 1988; O r o , 1994;
d e t e r m i n i s m o e linearidade para assumir um paradigma em que Tojal, 1994), C i ê n c i a do M o v i m e n t o Humano ( B r o o k e & W h i t i n g ,
q u e s t õ e s como propriedades emergentes, a u t o - o r g a n i z a ç ã o , ordem e 1973), Cinesiologia ( A r n o l d , l 993; N e w e l l , 1989, 1990a; Roberts,
d e s o r d e m c o m p õ e m o c e n t r o das p r e o c u p a ç õ e s , c o m o v i s t o 1985; Wade, 1991), C i ê n c i a do Exercício (Katch, 1989,1990), C i ê n c i a
anteriormente. Em segundo lugar, definir o seu objeto de estudo e do Esporte (Thomas, l 987) e v á r i a s outras (mais de uma centena de
buscar metodologias de i n v e s t i g a ç ã o adequadas, num momento em d e n o m i n a ç õ e s , segundo Razor & Brassie, l 990) t ê m sido utilizadas
que as diferentes áreas do conhecimento t ê m procurado desenvolver para substituir a E d u c a ç ã o Física, tanto como d e n o m i n a ç ã o de uma
pesquisas crescentemente temáticas, de característica multidisciplinar, á r e a a c a d é m i c a como t a m b é m nome de departamentos e cursos de
com a utilização de tecnologias altamente sofisticadas, fruto do a v a n ç o p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l . A m u d a n ç a de nomenclatura tem sido
notável nas c i ê n c i a s da c o m p u t a ç ã o , c o n s t i t u i r - s e - ã o outro grande defendida com base em diferentes argumentos como, por exemplo,
desafio para a área. Entretanto, tratando-se de um problema vital separar os aspectos disciplinares e a c a d é m i c o s dos p r á t i c o s numa
para a área, n ã o é n e c e s s á r i o maiores argumentos sobre a necessidade tentativa de obter respeitabilidade a c a d é m i c a , uma maneira de os
e importância de se apresentar propostas, fomentar d i s c u s s õ e s e buscar a c a d é m i c o s evitarem o estigma de serem vistos como professores
soluções. p r á t i c o s e t a m b é m como um e s f o r ç o l e g í t i m o para.redefinir a á r e a
(Wade & Baker, 1990).
U M A PROPOSTA DE ESTRUTURA A C A D É M I C A N a busca de u m a m e l h o r d e n o m i n a ç ã o que f a c i l i t e a
i d e n t i f i c a ç ã o da identidade a c a d é m i c a da área, tenho sugerido e
A d i s c u s s ã o e p i s t e m o l ó g i c a sobre a identidade a c a d é m i c a da adotado o termo Cinesiologia (Tani, 1989; 1995a; 1995b) que é o
E d u c a ç ã o Física, no Brasil, teve um impulso inicial com as r e f l e x õ e s mais difundido entre eles e que significa, literalmente, estudo do
de Cunha (1988) que resultaram na p r o p o s i ç ã o de uma C i ê n c i a da m o v i m e n t o ( v e j a N e w e l l , 1990a, para m a i o r e s d e t a l h e s ) . A
Motricidade Humana. Gradativamente, esse assunto vem se tornando Cinesiologia poderia ser definida como uma á r e a do conhecimento
um foco de forte atenção (por exemplo, Bracht, 1993; 1995a; Lovisolo, que tem como objeto de estudo o movimento humano, com o seu
1992; Santin, 1995a) e certa " t e n s ã o " (Bracht, 1995b; Gaya, 1994; foco de p r e o c u p a ç õ e s centrado no estudo de movimentos g e n é r i c o s
oA Motus Corooris. Rio d& Jan&iro, v. 3, n. 2. p. 9-50, dez. 1996 Motus Corporis, Rio de Joneiro, v. 3, n. 2, p. 9-50. dez. 1996 25
Universidade G a m a Filho Revista de D i v u l g a ç ã o Científica du Mestrado e Doutorado em E d u c a ç ã o Física
* ,o ^ r n n n c p / o cie Janeiro, v. 3. n. 2, p. 9-50, dez. 1996 Motus Corporis. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50. dez. 1996 27
Universidade G a m a Filho Revista de D i v u l g a ç ã o Cientificado Mestrado e Doutorado em E d u c a ç ã o Física
movimento humano, mas t a m b é m os processos de m u d a n ç a que o onde os modos de d e s c r i ç ã o , embora i r r e d u t í v e i s , s ã o vistos como
mesmo m a n i f e s t a ao l o n g o do seu c i c l o de v i d a , seja c o m o complementares (Pattee, 1978), acredita-se que o conjunto das
c o n s e q u ê n c i a do desenvolvimento ou da aprendizagem. Ela estudaria c o n t r i b u i ç õ e s de estudos, dentro dessa v i s ã o do m o v i m e n t o humano,
t a m b é m o significado bio-psico-sócio-cultural do movimento humano possa r e s u l t a r n u m c o r p o de c o n h e c i m e n t o s c o e r e n t e m e n t e
em suas d i f e r e n t e s formas de m a n i f e s t a ç ã o e, neste s e n t i d o , o r g a n i z a d o s , capaz de e v i d e n c i a r u m a i d e n t i d a d e a c a d é m i c a
necessitaria modificar a v i s ã o restrita de m o v i m e n t o de outrora, claramente definida. Nessa perspectiva, para que a Cinesiologia possa
passando a c o n s i d e r á - l o na r e l a ç ã o d i n â m i c a entre o ser humano e o ser bem sucedida, é fundamental a c o m p r e e n s ã o de que, em cada
meio a m b i e n t e . E preciso ver o m o v i m e n t o c o m o um sistema nível de a n á l i s e , existem epistemologias e metodologias adequadas
organizado horizontalmente a t r a v é s da i n t e r a ç ã o entre os elementos (veja, por exemplo, A r n o l d , 1993; Estes, 1994; Park, 1991), mesmo
que o c o m p õ e m e estruturado verticalmente em m ú l t i p l o s níveis, que de forma p r o v i s ó r i a , c a r a c t e r í s t i c a essa inerente à c i ê n c i a . Se,
assumindo c a r a c t e r í s t i c a do que é c o m u m e n t e d e n o m i n a d o de por exemplo, a fenomenologia e a h e r m e n ê u t i c a s ã o consideradas
complexidade organizada. E, por ser complexo, ele deve ser merecedor abordagens e p i s t e m o l ó g i c a s e m e t o d o l ó g i c a s apropriadas para se
de uma abordagem em diferentes níveis de a n á l i s e . estudar f e n ó m e n o s m a c r o s c ó p i c o s em nível sócio-cultural de análise,
N a realidade, com essas c o l o c a ç õ e s , e s t á - s e enfatizando a a abordagem experimental tem mostrado sua eficácia nos estudos
r e l e v â n c i a do paradigma s i s t é m i c o para a e s t r u t u r a ç ã o dessa área de em níveis mais m i c r o s c ó p i c o s . Certamente, a possibilidade de sucesso
conhecimento. O paradigma s i s t é m i c o pode ser descrito de diferentes da abordagem h e r m e n ê u t i c a é remota na B i o q u í m i c a do E x e r c í c i o ,
formas. Por exemplo, como uma v i s ã o s i s t é m i c a (Laszlo, 1 972), em assim como da abordagem experimental na A n t r o p o l o g i a do Jogo.
que o todo n ã o é visto como s o m a t ó r i o de partes, mas sim como algo A l é m disso, apesar de i n t i m a m e n t e relacionadas, é i m p o r t a n t e
que surge da interação das partes. A visão s i s t é m i c a procura entender distinguir-se epistemologia reducionista e metodologia reducionista.
o todo n ã o a partir das partes, mas sim a partir do todo identificar a A busca da r e l a ç ã o causa-efeito simples, p r o p o s i ç ã o b á s i c a do
função das partes e a r e l a ç ã o que as partes m a n t ê m entre si para que reducionismo, tem-se mostrado limitada no estudo de sistemas n ã o -
o objetivo do todo seja a l c a n ç a d o . E uma v i s ã o do todo organizado lineares, o que remete à necessidade de uma m u d a n ç a p a r a d i g m á t i c a
hierarquicamente, ou seja, em diferentes níveis em que a relação todo- nas pesquisas b á s i c a s . Entretanto, as l i m i t a ç õ e s do reducionismo
parte n ã o é absoluta, mas r e l a t i v a . Em outras palavras, ela é enquanto metodologia t ê m sido t a m b é m impostas pelo próprio estágio
h o l o n ô m i c a (Koestler, 1967). O paradigma s i s t é m i c o implica uma de desenvolvimento da ciência e tecnologia. Muitas vezes, a natureza
v i s ã o de sistemas abertos, isto é, sistemas que interagem com o meio do problema a ser investigado sugere prontamente uma epistemologia
ambiente através da troca de m a t é r i a / e n e r g i a e i n f o r m a ç ã o e que estão mais adequada, mas n ã o os detalhes m e t o d o l ó g i c o s n e c e s s á r i o s para
em constante busca de estados mais complexos de o r g a n i z a ç ã o via a o p e r a c i o n a l i z a ç ã o do estudo. Por exemplo, o problema da a v a l i a ç ã o
a d a p t a ç ã o . Sistemas abertos s ã o sistemas em n ã o e q u i l í b r i o que da veracidade de uma particular i n t e r p r e t a ç ã o constitui-se uma das
mudam, evoluem e evitam o aumento de entropia previsto pela 2 lei a
grandes dificuldades em estudos s ó c i o - c u l t u r a i s (Harris, 1981).
da t e r m o d i n â m i c a ( B e r t a l a n f f y , 1968). Recentes a v a n ç o s do Naturalmente, a abordagem de um determinado objeto de
paradigma s i s t é m i c o t ê m projetado uma v i s ã o de sistemas d i n â m i c o s estudo exige constantes a p e r f e i ç o a m e n t o s , n ã o s ó m e t o d o l ó g i c o s
n ã o - l i n e a r e s , em que a i n t e r a ç ã o entre os componentes faz surgir como t a m b é m conceituais e t e ó r i c o s , e isso remete à necessidade de
uma ordem m a c r o s c ó p i c a emergente n ã o p r e v i s í v e l a partir do se manter sintonia com as d i s c u s s õ e s e e v o l u ç õ e s do pensamento
conhecimento das partes, e esta ordem m a c r o s c ó p i c a é retroalimentada científico que são essencialmente d i n â m i c a s . A Cinesiologia n ã o pode
influenciando o comportamento das partes ( L e w i n , 1993). deixar de acompanhar as m u d a n ç a s p a r a d i g m á t i c a s da própria ciência.
Entendendo-se que f e n ó m e n o s e eventos complexos podem, M u i t o s estudos conduzidos na á r e a ainda t ê m como background o
dentro do paradigma s i s t é m i c o , ser analisados em diferentes n í v e i s , paradigma da c i ê n c i a c l á s s i c a , onde f e n ó m e n o s s ã o vistos como
Cinesiologia seriam de natureza básica, ou seja, sem p r e o c u p a ç ã o Treinamento Esportivo e A d m i n i s t r a ç ã o Esportiva (Figura 2). Essas
com a s o l u ç ã o de problemas p r á t i c o s . Os conhecimentos produzidos duas s u b - á r e a s t a m b é m j á t ê m uma longa t r a d i ç ã o em nosso meio,
pela Cinesiologia poderiam ser utilizados em pesquisas aplicadas n ã o dispensando, portanto, maiores e x p l i c a ç õ e s .
apenas pela E d u c a ç ã o Física, agora no sentido mais restrito, como
t a m b é m p o r o u t r a s á r e a s a p l i c a d a s que n e c e s s i t a r i a m de p
conhecimentos acerca do movimento humano como a Fisioterapia e E CINESIOLOGIA
a Terapia Ocupacional, só para citar algumas delas. S
Q
A E d u c a ç ã o Física, neste contexto, caracterizaria uma á r e a de U BIODINÂMICA ESTUDOS
I DO COMPORTAMENTO SÓCIO-
pesquisa eminentemente aplicada, de p r e o c u p a ç ã o p e d a g ó g i c a e S. MOTOR HUMANO
profissional, cujos conhecimentos serviriam de base para a e l a b o r a ç ã o A MOVIMENTO CULTURAIS
DO
B HUMANO
e desenvolvimento de programas de E d u c a ç ã o Física em nível formal Á MOVIMENTO
( e s c o l a r ) e n ã o f o r m a l ( T a n i , 1989). A s s i m f i c a c l a r a m e n t e S HUMANO
I
caracterizada a d i s t i n ç ã o e as r e l a ç õ e s entre a C i n e s i o l o g i a e a C
A
E d u c a ç ã o Física. A E d u c a ç ã o Física estudaria academicamente os
aspectos p e d a g ó g i c o s e profissionais a ela pertinentes a t r a v é s de
pesquisas aplicadas. Essas pesquisas i m p l i c a r i a m em s í n t e s e de
conhecimentos produzidos pela Cinesiologia nas suas t r ê s s u b - á r e a s
- B i o d i n â m i c a do M o v i m e n t o Humano, C o m p o r t a m e n t o M o t o r TREINAMENTO ADMINISTRAÇÃO
Humano e Estudos S ó c i o - C u l t u r a i s do M o v i m e n t o Humano -, além ESPORTIVO ESPORTIVA
de uma i n t e r a ç ã o com outras á r e a s , particularmente a E d u c a ç ã o e a
Medicina, como tem ocorrido historicamente. A E d u c a ç ã o Física seria
c o n s t i t u í d a de duas s u b - á r e a s : Pedagogia do M o v i m e n t o Humano e
A d a p t a ç ã o do M o v i m e n t o Humano. A Pedagogia do M o v i m e n t o
H u m a n o já é uma s u b - á r e a t r a d i c i o n a l que dispensa maiores
e x p l i c a ç õ e s . A A d a p t a ç ã o do M o v i m e n t o Humano seria r e s p o n s á v e l ESPORTE
por estudos que procuram produzir conhecimentos que sirvam de
Figura 2: Estrutura Académica de Cinesiologia e Esporte.
base para o desenvolvimento de programas de E d u c a ç ã o F í s i c a a
p o p u l a ç õ e s especiais, n ã o s ó de portadores de d e f i c i ê n c i a s , mas Embora fuja um pouco do tema central desse trabalho, uma
t a m b é m de gestantes, cardiopatas, a s m á t i c o s e assim por diante. c o n s i d e r a ç ã o acerca da d i s t i n ç ã o e r e l a ç ã o entre os conceitos de
Para uma melhor c o m p r e e n s ã o da r e l a ç ã o entre Cinesiologia e E d u c a ç ã o F í s i c a e Esporte se faz oportuna. A s s e m e l h a n ç a s e
outras á r e a s que tratam do movimento humano, e tomando o Esporte d i f e r e n ç a s entre E d u c a ç ã o Física e Esporte, enquanto f e n ó m e n o s ou
como outro exemplo, é possível adotar o seguinte raciocínio: o esporte p r á t i c a s sociais, t ê m sido objeto de i n ú m e r o s estudos. Uns t ê m
enquanto f e n ó m e n o constitui-se uma das formas de m a n i f e s t a ç ã o do destacado as s e m e l h a n ç a s , outros as d i f e r e n ç a s , mas no geral os
m o v i m e n t o h u m a n o e, c o m o t a l , seria o b j e t o de e s t u d o da argumentos apresentados têm sido suficientemente esclarecedores para
C i n e s i o l o g i a . Por o u t r o l a d o , o E s p o r t e , e n q u a n t o u m a á r e a mostrar que se trata de dois f e n ó m e n o s distintos, p o r é m relacionados
profissionalizante, caracterizaria uma área de pesquisa aplicada, cuja (para uma a n á l i s e mais detalhada veja, por exemplo, Betti, 1991).
p r e o c u p a ç ã o seria de produzir conhecimentos capazes de solucionar O Esporte tem sido c o n c e i t u a d o c o m o uma a ç ã o social
problemas p r á t i c o s da v i d a real, a t r a v é s de suas duas s u b - á r e a s : institucionalizada, convencionalmente regrada, que se desenvolve com
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w inneim v. 3. n. 2. p. 9-50. Pez. 1996 Motus Corporis. Rio de Janeiro, v. 3. n. 2. p. 9-50. dez. 1996 33
Universidade G a m a Filho
Revista de D i v u l g a ç ã o Científica do Mestrado e Doutorado em E d u c a ç ã o Física
base l ú d i c a , em forma de c o m p e t i ç ã o entre duas ou mais partes O esporte-rendimento caracteriza-se, entre outras coisas, pelos
oponentes ou contra a natureza, cujo objetivo é , a t r a v é s de uma seguintes aspectos: ele objetiva o m á x i m o em termos de rendimento
c o m p a r a ç ã o de desempenhos, designar o vencedor ou registrar o pois visa a c o m p e t i ç ã o ; ocupa-se com o talento e portanto preocupa-
recorde; seu resultado é determinado pela habilidade e e s t r a t é g i a do se essencialmente c o m o potencial das pessoas; submete pessoas a
p a r t i c i p a n t e , e é para este g r a t i f i c a n t e tanto i n t r í n s e c a c o m o treinamento c o m o r i e n t a ç ã o para a especificidade, o u seja, uma
extrinsecamente (Betti, 1991:24). modalidade e s p e c í f i c a ; enfatiza o produto e resulta em constante
Entretanto, em f u n ç ã o da ênfase a determinados aspectos, o i n o v a ç ã o . O interesse principal do esporte-rendimento é a p e r p e t u a ç ã o
Esporte pode assumir características diferenciadas como, por exemplo, do sistema ou a sua a u t o - p r e s e r v a ç ã o e o sistema s ó se perpetua com
o esporte-rendimento, em que a busca de resultados e recordes é o recordes. Os motivos desse interesse podem ser culturais, e c o n ó m i c o s ,
seu objetivo maior, e o Esporte enquanto c o n t e ú d o a ser desenvolvido políticos e ideológicos.
na E d u c a ç ã o Física, ou seja, habilidades e conhecimentos específicos N u m a perspectiva diferente, o Esporte pode ser visto como
que possibilitem o aluno a c o m p r e e n d ê - l o como elemento que pode um p a t r i m ô n i o cultural da humanidade e, como tal, um c o n t e ú d o a
contribuir para o seu bem estar geral e a p r a t i c á - l o ao longo de sua ser transmitido a t r a v é s do processo educacional. A f i n a l , u m dos
v i d a (Figura 3). grandes objetivos da E d u c a ç ã o é a t r a n s m i s s ã o do p a t r i m ô n i o cultural
da humanidade. A s c r i a n ç a s de hoje devem ter acesso a todo o
CONCEITO DE ESPORTE p a t r i m ô n i o cultural criado, a p e r f e i ç o a d o , transformado e transmitido
de g e r a ç ã o para g e r a ç ã o . Isso implica duas atividades relacionadas,
ESPORTE/ ESPORTE/CONTEÚDO mas que necessitam ser diferenciadas: a a q u i s i ç ã o dos conhecimentos
RENDIMENTO DA E D U C A Ç Ã O FÍSICA
acerca do Esporte e a a q u i s i ç ã o de habilidades motoras e s p e c í f i c a s
do Esporte.
MÁXIMO ÓTIMO Quando se discute se o Esporte, tal como se apresenta, é
Objetiva o
ESPORTE c o m p a t í v e l com objetivos educacionais e, portanto, pode constituir-
APRENDIZAGEM se ou n ã o c o n t e ú d o a ser ensinado na E d u c a ç ã o Física, a p o l é m i c a
Visa a COMPETIÇÃO
gira em torno da a q u i s i ç ã o de habilidades motoras, sobretudo quando
Ocupa-se c o m TALENTO PESSOA COMUM a ê n f a s e é dada ao aspecto de c o m p e t i ç ã o c o m todas as suas
c o n s e q u ê n c i a s físicas, psicológicas e sociais (Tani, Teixeira & Ferraz,
Preocupa-se c o m P O T E N C I A L PATRIMÔNIO POTENCIAL E 1994). Se cabe à E d u c a ç ã o Física projetar um sistema que possibilite
CULTURAL LIMITAÇÃO
DA
a todas as c r i a n ç a s e x p l o r a r ao m á x i m o suas potencialidades,
Submete a TREINAMENTO HUMANIDADF PRÁTICA especialmente motoras, respeitadas as suas características individuais
e l i m i t a ç õ e s (Tani, M a n o e l , Kokubun & P r o e n ç a , 1988), a u t i l i z a ç ã o
Orienta-se para ESPECIFICIDADE GENERALIDADE do Esporte como c o n t e ú d o a ser ensinado merece cuidados conceituais
e m e t o d o l ó g i c o s adequados (Betti, 1991; M a r i z de Oliveira, 1988).
Enfatiza o PRODUTO PROCESSO O Esporte c o m e c o n t e ú d o da E d u c a ç ã o F í s i c a tem as seguintes
c a r a c t e r í s t i c a s : o b j e t i v a o ó t i m o de rendimento, respeitando as
Resulta e m INOVAÇÃO DIFUSÃO características individuais, as expectativas e as aspirações das pessoas;
ocupa-se com a pessoa c o m u m , preocupando-se n ã o apenas com o
seu potencial mas t a m b é m com a sua l i m i t a ç ã o ; visa à aprendizagem
Figura 3: O Conceito de Esporte
e portanto submete pessoas à p r á t i c a vista como um processo de
s o l u ç ã o de problemas motores; orienta-se para a generalidade, dando s i s t e m a t i z a ç ã o dos mesmos e t a m b é m contribua para a e s t r u t u r a ç ã o
oportunidades de acesso a diferentes modalidades; enfatiza o processo dos cursos de p r e p a r a ç ã o profissional.
e n ã o o p r o d u t o em forma de rendimentos ou recordes, e essa A p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l é um processo e x t r e m a m e n t e
o r i e n t a ç ã o resulta na difusão do esporte como um p a t r i m ô n i o cultural. c o m p l e x o . Ela i m p l i c a , antes de mais nada, uma f i l o s o f i a de
O importante é compreender que o Esporte enquanto f e n ó m e n o p r e p a r a ç ã o profissional que defina claramente o perfil profissional
é o b j e t o de p r e o c u p a ç ã o a c a d é m i c a da C i n e s i o l o g i a . Os da pessoa que se quer f o r m a r . Esse p e r f i l , por sua vez, e s t á
conhecimentos produzidos pela Cinesiologia acerca do f e n ó m e n o intimamente relacionado às necessidades sociais e à s c a r a c t e r í s t i c a s
Esporte, por exemplo, as O l i m p í a d a s com todas as suas i m p l i c a ç õ e s , do mercado de trabalho, ambas de natureza m u i t o d i n â m i c a . A
podem fazer parte do c o n t e ú d o a ser trabalhado pela E d u c a ç ã o Física p r e p a r a ç ã o profissional exige, desta f o r m a , r e f l e x õ e s amplas e
no ensino formal, desde que devidamente selecionados e organizados profundas e, portanto, n ã o se constitui objetivo do presente trabalho
à luz dos seus objetivos e s p e c í f i c o s , para dar, aos escolares, o acesso discuti-la exaustivamente.
a c o n h e c i m e n t o s sobre um i m p o r t a n t e p a t r i m ô n i o c u l t u r a l da Todavia, o entendimento de que a e x i s t ê n c i a de um corpo de
humanidade. Quando o Esporte é visto na perspectiva de c o n t e ú d o conhecimentos que d ê suporte a c a d é m i c o e c i e n t í f i c o à p r á t i c a
da E d u c a ç ã o Física, ele se transforma em objeto de estudo a ser p r o f i s s i o n a l é u m a c o n d i ç ã o f u n d a m e n t a l para a p r e p a r a ç ã o
investigado, por exemplo, em termos de metodologia de ensino das profissional, foi um tema central desse estudo. M u i t o se discute sobre
habilidades, tanto pela s u b - á r e a de Pedagogia como A d a p t a ç ã o do qual seria o n ú c l e o b á s i c o de c o n h e c i m e n t o s de u m curso de
M o v i m e n t o Humano. Os conhecimentos assim produzidos p o d e r ã o p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l . Uns t ê m defendido conhecimentos
ser utilizados pela E d u c a ç ã o Física, tanto no ensino formal como eminentemente profissionalizantes. Outros t ê m se colocado no
n ã o formal, para auxiliar escolares e n ã o escolares a adquirirem extremo oposto, defendendo conhecimentos essencialmente
habilidades motoras específicas do Esporte com o objetivo de melhorar a c a d é m i c o s . Conforme foi colocado anteriormente, no meu entender,
a qualidade de suas vidas. ambos os conhecimentos s ã o importantes. H á que se ter uma f o r m a ç ã o
U m aspecto fundamental da presente proposta é a d i s t i n ç ã o b á s i c a de conhecimentos a c a d é m i c o s amplos e gerais sobre o objeto
clara de duas áreas, uma preocupada com aspectos a c a d é m i c o s acerca de estudo - m o v i m e n t o humano -, assim c o m o uma f o r m a ç ã o
do m o v i m e n t o humano (Cinesiologia), e a outra preocupada com específica de conhecimentos profissionalizantes e aplicados, úteis na
aspectos profissionalizantes e aplicados do mesmo objeto de estudo s o l u ç ã o de p r o b l e m a s que surgem na a t u a ç ã o p r o f i s s i o n a l . A
( E d u c a ç ã o F í s i c a e E s p o r t e ) . A i n t e n ç ã o é que ambas sejam p r e p a r a ç ã o profissional n ã o deve visar à f o r m a ç ã o de um mero
fortalecidas, cada qual dentro da sua especificidade, ou seja, com solucionador de problemas práticos, mas sim de um profissional com
pesquisas devidamente caracterizadas e identificadas. N o s E U A , por conhecimentos a m p l o s , capaz de refletir c r i t i c a m e n t e sobre os
exemplo, essas duas á r e a s n ã o foram diferenciadas, ao c o n t r á r i o , problemas, anal.isando-os num contexto mais geral e colocando-os
colocadas sob uma mesma estrutura. N o meu entender, muitas das numa perspectiva diferente, quando pertinente.
d i v e r g ê n c i a s e conflitos que se alastraram por longos anos em torno Cabe aos cursos de p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l selecionar e
da q u e s t ã o "disciplina a c a d é m i c a versus p r o f i s s ã o " foram causados organizar esses conhecimentos em f u n ç ã o do perfil do profissional
por essa n ã o diferenciação. Atribuir à Cinesiologia pesquisas t a m b é m que se quer formar, e d i s s e m i n á - l o s de forma sequencial e organizada
aplicadas de cunho profissionalizante, simplesmente perpetua a a t r a v é s do conjunto de suas disciplinas curriculares, ou seja, de uma
ambiguidade e inibe o crescimento de ambas. grade c u r r i c u l a r coerentemente estruturada. U m a vez definido o
Espera-se que a estrutura proposta, diferenciando as á r e a s c o n t e ú d o a ser trabalhado no curso de p r e p a r a ç ã o profissional, existem
a c a d é m i c a (Cinesiologia) e profissionalizante ( E d u c a ç ã o Física e v á r i a s alternativas sobre a maneira de d i s s e m i n á - l o . U m a delas, que
E s p o r t e ) , e s t i m u l e a p r o d u ç ã o de c o n h e c i m e n t o s , f a c i l i t e a tem sido adotada com f r e q u ê n c i a , parte dos conhecimentos mais
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