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PATOLOGIA DO INTERSTÍCIO

 O interstício constitui o “espaço” entre as células, ocupado pela matriz extracelular; é constituído
por uma rede complexa de macromoléculas que preenchem os espaços intercelulares;
 Por entre a malha há líquido tecidual que banha a célula.
 Seus componentes são sintetizados por uma diversidade de células, dependendo do tecido:
fibroblastos, condroblastos, osteoblastos, odontoblastos, células epiteliais e musculares lisas, etc.

COLÁGENO E FIBRAS COLÁGENAS


 O colágeno é a proteína mais abundante do interstício e constitui 25% das proteínas do organismo;
 É constituído principalmente por glicina (33%), prolina (10%), hidroxiprolina e hidroxilisina (10%);
 Sua molécula é formada por três cadeias polipeptídicas, do tipo alfa, enroladas de modo semelhante
ao de uma corda torcida (tripla hélice) e direcionadas para a direita;
 Existem cerca de 20 tipos de cadeias alfa, cujas combinações são capazes de formar até mil ou mais
diferentes tipos de colágeno;
 Os mais bem definidos são os tipos I, II, III e IV.
 Os colágenos do tipo I ao III formam fibrilas que se organizam em fibras visíveis ao microscópio de
luz;
 O colágeno tipo IV não forma fibrilas, organizando-se como uma rede nas membranas basais.
 A síntese dessa molécula pode ser resumida nos seguintes passos:
1. Ativação de genes da cadeia alfa, com síntese de RNAm; a expressão desses genes é controlada
por fatores de crescimento;
2. Síntese de cadeia alfa em polissomos
3. Penetração dos polipeptídeos nascentes nas cisternas do RER;
4. Hidroxilação da prolina e da lisina, na presença de O2 e vitamina C;
5. Associação das três cadeias em forma de hélice – formação de pró colágeno;
6. Glicosilação das moléculas no complexo de Golgi;
7. Excreção das moléculas pela membrana citoplasmática.
8. Moléculas de pró colágeno sofrem ação de peptidases;
9. Associação das moléculas de colágeno (agora sem peptídeos terminais) para formação de
fibrilas;
10. Moléculas organizadas em fibrilas passam a formar ligações cruzadas, originando as fibras
colágenas, que variam de acordo com os tecidos.

 O processo de síntese do colágeno é dependente de fibroblastos, que controlam a expressão de


genes da cadeia alfa, da síntese de outras proteínas, dos proteoglicanos que auxiliam na
organização das fibrilas, etc;
 O processo em geral pode apresentar variações, como ocorre com o colágeno tipo IV.
Tipo Forma Características Localização
estruturais
I Fibrilar Fibras largas Pele, ossos, córnea,
(-) carboidratos útero
(-) hidroxilisina
II Fibrilar Fibras mais finas Cartilagem, disco
(+) carboidratos intervertebral, humor
(+) hidroxilisina vítreo
III Fibrilar Fibras finas Pele, vasos sanguíneos,
(+) hidroxiprolina submucosas
(-) hidroxilisina
(+) carboidrato
IV Não fibrilar (+) hidroxilisina Membranas basais
(+) carboidrato
 Sua degradação ocorre por meio de colagenases, fibroblastos, macrófagos, neutrófilos e bactérias;
 As doenças resultantes de defeitos genéticos no metabolismo do colágeno são geralmente complexas
e manifestam-se na pele (elasticidade e resistência alteradas), vasos (aneurismas), intestino, globo
ocular e nos ossos;
 Síndrome de Marfan: colágeno sintetizada de maneira deficiente, devido a mutações nos genes
das cadeias alfa;
 Osteogênese imperfeita;
 Epidermólise bolhosa congênita: deficiência na síntese de glicosil transferase.
 Há ainda doenças resultantes de defeitos adquiridos, que decorrem de agressões que perturbam
mecanismos pós transcricionais da síntese;
 Escorbuto: carência de vitamina C leva à hidroxilação deficiente do colágeno, levando a
alterações da membrana basal, com fragilidade capilar e hemorragias; há ainda
comprometimento dos alvéolos dentários e da dentina;
 Carência de cobre: provoca diminuição da atividade da enzima responsável pela hidroxilação da
lisina do pro colágeno;
 Degeneração excessiva de colágeno: pode ocorrer por liberação de colagensases por células
fagocitárias em locais com inflamação;
 Fibroses: deposição aumentada de colágeno e outros componentes da MEC que comprometem
diversos órgãos.
ELASTINA E FIBRAS ELÁSTICAS
 A elastina é o principal componente de fibras elásticas, proteína altamente hidrofóbica, não
glicosilada, rica em prolina e glicina, mas com pouca hidroxiprolina e sem hidroxilisina;
 É excretada nos espaços intercelulares por fibroblastos, leiomiócitos e endotélio, onde forma
filamentos e bainhas, nos quais as moléculas ligam-se por ligações cruzadas, semelhantes às vistas
no colágeno;
 Assim, quando em repouso, as proteínas ligadas tem aspecto de novelos frouxos unidos entre si;
contudo, quando estiradas, as moléculas distendem-se e mantem-se unidas pelas ligações
cruzadas.
 Uma rede microfibrilar formada por fibrilinas circunda o eixo central de uma molécula de fibrina;
 Essa rede funciona como arcabouço para depósito de elastina e o arranjo das fibras elásticas.
 Sua degradação é realizada por elastases, neutrófilos, macrófagos, plaquetas e suco pancreático;
 As alterações de fibras elásticas também podem ser congênitas ou adquiridas:
 As congênitas estão relacionadas principalmente à alterações na lisil oxidase;
 Elastoderma: fibras elásticas fragmentadas e grosseiras.
 Já as adquiridas estão associadas a defeitos na síntese ou a transtornos sobre as fibras já
formadas;
 Elastose cutânea solar: fragmentação de fibras elásticas encontradas na derme e na
parede de vasos sanguíneos por exposição prolongada à luz solar e na senilidade;
 Fibroelastose endocárdica: ocorre aumento de síntese de fibras elásticas por fibras
musculares estimuladas devido à uma maior distensão do vaso (hipertensão arterial) ou do
endocárdio (cardiopatias acompanhadas de alterações hemodinâmicas);
 A HAS benigna promove alterações vasculares como espessamento de parede e
redução da luz vascular, por meio do espessamento fibroelástico da íntima.

 Enfisema pulmonar: ocorre perda de fibras elásticas por aumento de elastases e/ou
diminuição de proteases.
MEMBRANA BASAL E PROTEÍNAS DE ADERÊNCIA
 Fina camada de matriz extracelular especializada, sintetizada em conjunto por células epiteliais e
fibroblastos;
 Sua principal função é a adesão do tecido epitelial ao conjuntivo, que ocorre por intermédio de
moléculas como colágeno tipo 4 (50% do peso seco), laminina, proteoglicanos, etc;
 Fibronectina: proteína dimérica que possui sítios de ligação para receptores celulares (integrinas),
colágeno, fibrina e heparina; é importante na organização e no deslocamento de células no
interstício;
 Laminina: produzida por células epiteliais, é componente essencial das lâminas basais; sua molécula
é um complexo de quatro unidades polipeptídicas, dispostas no formato de “cruz”; liga-se a
colágeno, receptores celulares e ligantes entre célula e membrana basal, além de LPS e toxinas
bacterianas;
 A integridade da membrana basal é importante para manutenção da viabilidade dos epitélios e da
filtração de macromoléculas;
 Depósitos anormais de diversa substâncias podem ocorrer em diversas situações:
imunoglobulinas e imunocomplexos, metais pesados como mercúrio e bismuto;
 Espessamentos da membrana basal ocorrem caracteristicamente em diabéticos, o que condiciona
quadro de microangiopatia diabética; deve-se à glicosilação de colágeno e outras moléculas da
MEC, alterando a formação dos complexos macromoleculares estruturais da membrana basal.
 Síndrome de Alport:
 Alterações intrínsecas da membrana basal ocasionadas por defeito qualitativo ligado a uma das
subunidades do colágeno IV levam a condições como hematúria, proteinúria e comprometimento
renal, alteração da visão e audição, etc;
 Inicialmente, há adelgaçamento da membrana basal glomerular; após, pode haver proliferação
mesangial, expansão da matriz e/ou esclerose segmentar;
 80 a 85% dos casos possuem histórico familiar, sendo a mesma proporção associada a defeitos na
síntese da cadeia alfa5, na região q22 do cromossomo X;
 10 a 15% não tem histórico familiar, em quadros de mutações novas;
 Em homens a doença é mais grave e, em mulheres, mais branda.
SUBSTÂNCIA FUNDAMENTAL AMORFA
 Formada principalmente por proteoglicanos e glicosaminoglicanos;
 Glicosaminoglicanos: polissacarídeos com cadeias fortemente hidrofílicas mas pouco flexíveis,
razão pela qual enovelam-se ao acaso, formando aglomerados frouxos; a abundância de cargas
negativas atrai uma nuvem de cátions (principalmente Na+) osmoticamente ativos, o que retém
grande quantidade de água;
 Essa arquitetura cria um estado de turgidez na SFA, o que permite a ela suportar grande
força de compressão;
 O ácido hialurônico é o principal componente dos glicosaminoglicanos, conferindo à SFA
maior fluidez e favorecendo a migração celular;
 Sulfato de condroitina, de dermatana, de heparana, de ceratana e heparina constituem
outros representantes do grupo.
 Proteoglicanos: glicosaminoglicanos que possuem uma proteína central (núcleo da molécula)
ligada; sua estrutura varia de acordo com a qualidade da proteína central e com os
glicosaminoglicanos existentes na estrutura;
 A organização de ambas as moléculas na SFA é ainda pouco conhecida; eles ligam-se uns aos
outros e a proteínas não fibrosas da matriz, formando estruturas tridimensionais mais ou menos
definidas.
 Alterações isoladas na SFA são raras;
 Pode haver desarranjo de poliglicanos e proteoglicanos por ação de anticorpos ou
imunocomplexos depositados, como ocorre em articulações na doença reumática;
 No hipertireoidismo, o aumento de ácido hialurônico e condroitil sulfato leva à dissociação de
fibras colágenas, que ficam dispersas em fibrilas finas; tal condição leva ao acúmulo de
conjuntivo frouxo (mixedema) na região retro-orbital, gerando quadro de exoftalmia.
EDEMA
 Acúmulo de líquido no interstício ou em cavidade do organismo, decorrente do desequilíbrio
hidroeletrolítico do organismo;
 Pode ser localizado ou sistêmico e, de acordo com sua composição, transudato ou exsudato:
 Transudato: líquido com baixo teor de proteínas e densidade < 1020 g/mL; indica que a
permeabilidade vascular continua preservada, permitindo a passagem de água, mas não a de
proteínas; é um líquido claro e seroso;
 Exsudato: líquido rico em proteínas e com densidade > 1020 g/mL; indica aumento de
permeabilidade vascular, o que resulta da ação de substâncias liberadas em processos
inflamatórios; é um líquido turvo e pode mostrar-se precipitado.
 O edema de cavidades recebe nomes particulares, formados pelo prefixo hidro seguido do local do
edema;
 O edema generalizado é nomeado como anasarca.

 Etiopatogênese:
 Cerca de 60% da massa corporal é estimada em água, estando 20% desse total no líquido
extracelular (4% no sangue e 16% no interstício);
 A homeostasia dos líquidos no organismo é regulada por meio de receptores de pressão
intraluminal, receptores para volume, concentração de sódio no plasma, etc, indução da
ingestão de água (sede) e da excreção de líquidos;
 A patogênese dos edemas é estritamente relacionada às forças de Starling, isto é, as pressões
hidrostática e coloidosmótica, que movimentam líquido entre os vasos e o interstício;
 Nessa condição, as forças que favorecem a filtração são maiores que as que favorecem a
reabsorção, o que culmina na permanência de líquido no espaço intersticial;

 Duas teorias buscam explicar a troca contínua de líquidos na microcirculação:


 O balanço de pressões no lado arterial da rede capilar favorece a filtração, enquanto o
balanço no lado venoso favorece a reabsorção;
 “Modelo pendular”: a filtração e a reabsorção em um vaso possuem motilidade rítmica,
isto é, a permeabilidade dos vasos varia de acordo com as atividades fisiológicas em um
indivíduo; por exemplo: durante processo de exercício físico, a filtração é favorecida no
músculo esquelético, enquanto a reabsorção é favorecida no sistema gastrintestinal.
 Normalmente, capilares e vênulas conseguem reabsorver apenas 85% do filtrado para o
interstício, enquanto os vasos linfáticos são responsáveis por 15%;
 A partir disso, conclui-se que o edema ocorre por quatro mecanismos: aumento da pressão
hidrostática intravascular, redução da pressão oncótica plasmática, aumento da permeabilidade
capilar, aumento da pressão oncótica intersticial e obstrução da drenagem linfática.
 Aumento da P hidrostática intravascular:
 Ocorre devido a comprometimento do retorno venoso;
 Insuficiência cardíaca:
 Causa mais comum de anasarca;
 Quando ocorre no lado esquerdo, há aumento da pressão capilar pulmonar e hiperemia
passiva (congestão); dependendo do grau, pode surgir edema pulmonar;
 Quando ocorre no lado direito, há edema de membros inferiores, na região sacral e nas
cavidades pleural, pericárdica ou peritoneal (ascite);
 Quando o débito cardíaco cai, há aumento da estimulação adrenérgica, com
vasoconstrição e diminuição da filtração renal, causando retenção de líquidos, agravada
pela ativação do SRAA;
 O aumento da pressão venosa gera aumento na resistência pós capilares, bem aumento da
pressão no sistêmica linfático, o que dificulta a drenagem.
 Edema renal.
 Aumento da permeabilidade capilar:
 Ocorre em quadros de inflamações agudas, toxinas bacterianas, reações imunitárias, ação de
aminas vasogênicas, alterações metabólicas; todos esses processos promovem agressão ao
endotélio, o que culmina na saída de líquidos e macromoléculas para o interstício.
 Redução na pressão oncótica do plasma:
 É associada à diminuição da absorção de proteínas pelo TGI ou diminuição da síntese pelo
fígado e aumento da excreção renal;
 Cirrose: leva à redução de síntese proteica no fígado, reduzindo a pressão oncótica plasmática;
além disso, promove dilatação arterial periférica, que estimula o SRAA, e promove reflexo
hepatorrenal, que leva à retenção natriurética;
 Síndrome nefrótica: excreção de mais de 3,5 g de proteína por dia; leva à hipoproteinemia,
incluindo hipoalbuminemia, principal causa do edema.
 Obstrução linfática: os principais mecanismos etiológicos são neoplasias, retirada cirúrgica de
linfonodos e filariose;
 Edema localizado:
 É provocado por um fator que atua localmente, podendo às vezes ser manifestação inicial de
edema generalizado;
 Edema de membros inferiores: derivado de insuficiência cardíaca direita, obstrução linfática,
retirada de linfonodos e insuficiência valvular venosa; além de água, há saída de albumina e
fibrinogênio para o interstício, com este último transformando-se em fibrina e formando uma
barreira à difusão de oxigênio e nutrientes;
 Edema pulmonar: pulmões apresentam duas a três vezes o seu peso normal e o seccionamento
revela líquido espumoso, tingido e sangue, representando mistura de ar, edema e glóbulos
vermelhos extravasados;
 Edema cerebral: como a calota craniana não dispõe de drenagem linfática, pequenos aumentos
no volume cerebral são suficientes para causar elevação significativa da pressão intracraniana e,
assim, transtornos funcionais;
 Pode ser dividido em quatro tipos:
 Vasogênico: decorrente de aumento da barreira hematoencefálica por ruptura das
junções oclusivas – traumatismos, infecções, intoxicações, neoplasias;
 Citotóxico: decorrente de hipóxia ou outros distúrbios metabólicos que retenham
sódio nas células;
 Intersticial periventricular: nos casos de hidrocefalia;
 Por desequilíbrio osmótico: a osmolaridade plasmática é muito inferior à
intracelular, favorecendo a movimentação de água para os vasos.
 Ao exame macroscópico, o cérebro apresenta-se com peso aumentado, giros achatados,
sulcos estreitados, ventrículos reduzidos e superfície de corte brilhante e úmida;
 O paciente apresenta cefaleia, vômitos e tontura, podendo chegar a perda de consciência e
óbito, em casos mais graves.
DESIDRATAÇÃO
 Alteração decorrente do desequilíbrio hidroeletrolítico do organismo, devido a perdas acentuadas;
 Classificação:
 Hipertônica: maior perda de água em detrimento da de sódio; ex: sudorese, febre, sol;
 Isotônica: perda de água e íons semelhante; ex: diarreia;
 Hipotônica: maior perda de água em detrimento da de íons; ex: vômitos.
 Etiogenia: menor ingestão, poliúria, sudorese, febre, queimaduras, exposição ao sol, diarreia,
vômitos;
 Complicações: insuficiência renal aguda, tromboses venosas, problemas no SNC (anóxia,
hemorragia,e dema);
 Efeitos da desidratação:
 Perda da capacidade termorreguladora;
 Tempo de resistência muscular diminuído;
 Redução da força muscular, cãibras;
 Esgotamento, coma e morte.

DEPÓSITOS ANORMAIS
 Hialinose extracelular:
 Caracteriza-se por depósitos acidófilos no interstício formados por proteínas do plasma que
exsudam e depositam-se na MEC;
 É o que ocorre na íntima de pequenas artérias e arteríolas de indivíduos com HAS;
 Arteriolosclerose hialina:
 Ocorre principalmente devido a HAS, diabetes mellitus e nefrotoxicidade de fármacos
(como os inibidores de calcineurina);
 HAS: ocorre depósito proteico subendotelial devido à alteração de cargas elétricas da
membrana em contato luminal – devido principalmente ao aumento da força de
cisalhamento do sangue nessas estruturas –, o que leva a uma maior facilidade de
passagem de proteínas;
 Pode ocorrer hipotrofia da camada média, o que leva à fraqueza arteriolar e,
consequentemente, à possibilidade de aneurisma secundário, cuja localização pode
ser perigosa – ex: arteríolas lenticuloestriadas e o controle de movimentos
somáticos  microaneurismas de Charcot-Bouchard;
 Pode ainda ocorrer microangiopatia trombótica, processos no qual há
espessamento da íntima (tecido fibroelástico) com diminuição da luz do vaso;
 Nefrosclerose benigna: o parênquima hipotrofiado, por depósito excessivo de
proteínas em arteríolas renais, culmina em substituição do espaço vazio por
fibrose;
 As proteínas depositadas podem ser diversas, contudo, é mais comum que sejam
depositadas glicoproteínas, dentre elas globulinas, proteínas do complemento,
fibronectina, laminina, fibrina.
 DM: devido à hiperglicemia, o aporte excessivo de glicose no plasma leva à glicosilação
difusa, processo que culmina em diminuição da produção e/ou aumento da degradação
de moléculas da matriz;
 No caso do DM, há aumento da matriz extracelular, principalmente de colágenos
IV e VI, laminina e fibronectina; nesse sentido, há espessamento da membrana
basal de glomérulo, túbulos e vasos;
 O aumento da espessura da membrana basal é discreto nos primeiros anos da
doença, contudo, em processos mais tardios, pode determinar aumento de 10x na
espessura;
 Nefropatia na DM: o aumento da espessura da membrana basal glomerular leva
ao aumento da matriz mesangial, à glomeruloesclerose intercapilar difusa e
glomeruloesclerose intercapilar nodular;
 Em pacientes diabéticos, diferentemente de hipertensos, nos quais apenas a
arteríola aferente encontra-se lesionada, ambas as arteríolas glomerulares
encontram-se em estado de hialinose; é o chamado “capsular drop”, no
qual há hialinose entre a membrana basal e o epitélio da capsula de
Bowman;
 O “fibrin cap”, por outro lado é mais sugestivo de HAS, havendo
hialinose entre a membrana basal glomerular e o endotélio vascular.

 Beta fibrilose (amiloidose):


 Grupo de doenças que tem em comum a deposição intersticial de material proteico fibrilar, a
substância amiloide, com características fisicoquímicas e tintoriais peculiares;
 Esses depósitos são representados por material amorfo e acidófilo, que se deposita no tecido e
comprime e hipertrofia as células no entorno;
 A distinção entre hialinose e amiloidose é feita por emprego de métodos especiais de coloração,
como o vermelho congo, que expõe os depósitos amiloides em vermelho e confere a eles
característica de birrefringência à luz polarizada;
 Associado ao material proteico existe componente glicoproteico em forma de estruturas
poligonais;
 Os depósitos formam massas de tamanho variado nos órgãos; nos rins, os depósitos são
frequentes nos glomérulos; no baço, pode estar localizados nos folículos ou nas regiões
perifoliculares e perissinusoidais da polpa vermelha;
 Quando a deposição ocorre de maneira muito intensa, os órgãos acometidos podem sofrer
alterações macroscópicas; o fígado, por exemplo, aumenta de volume e de consistência e
apresenta superfície untuosa;
 O material amiloide é constituído pela proteína amiloide (90%) e pela glicoproteína do
componente P (10%); essas proteínas apresentam grande diversidade estrutural, com diferentes
tipos estando presentes em diferentes etiopatogenias da doença;
 As consequências clínicas dependem da intensidade do acometimento; de modo geral, a
deposição é lenta e assintomática, com as primeiras manifestações ocorrendo após grandes
acúmulos;
 As principais repercussões são síndromes renais ou hepáticas e arritmias cardíacas, uma
vez que no coração muitas vezes o depósito compromete o sistema de condução.
 Classificação: as amiloidoses podem ter diversas origens:
 Amiloidose reacional ou secundária a inflamações crônicas (com ou sem infecção): é
sistêmica e acompanha inflamações crônicas, como tuberculose, sífilis, artrite reumatoide,
etc; nesse caso, a principal responsável pela deposição é a proteína α amiloide do soro;
 Amiloidose sistêmica secundária à produção de plasmócitos: é sistêmica, ocorrendo em
proliferações monoclonais de linfócitos B, das quais a mais frequente é o mieloma
múltiplo;
 A deposição ocorre principalmente devido ao acúmulo de cadeias leves (e
principalmente lambda) de Ig.
 Amiloidose na doença de Alzheimer: formam-se depósitos na parede de vasos cerebrais
ou na MEC do tecido nervoso, formando as placas senis;
 Amiloidoses hereditárias;
 Amiloidose secundária à hemodiálise prolongada: é encontrada em tecidos
periarticulares, bainhas de tendões, cápsula articular e sinóvia; a proteína depositada tem
características da β2-microglobulina, que não é capaz de ser eliminada no processo de
diálise, daí seu acúmulo;
 Amiloidose senil: ocorre principalmente após a 7ª década de vida e acomete
principalmente cérebro e coração.
 Patogênese:
 Há estímulo para a produção de um precursor que, após modificações, acumula-se em um
órgão ou vai para a circulação e através dela deposita-se em diversos locais;
 Consiste em um desequilíbrio entre produção e degradação, no qual a última encontra-se
depreciada;
 É possível que, além de manifestações nos órgãos, haja aparecimento de macroglossia de
aspecto nodular.
 Tratamento: consiste na eliminação da fonte da proteína.

 Calcificações patológicas:
 Consistem na deposição de sais de cálcio em locais ectópicos, isto é, normalmente não
calcificados; os depósitos são formados por cálcio e fósforo e podem ser formados por
hidroapatita, fosfato amorfo ou pirofosfsto;
 A diferença entra a calcificação patológica e a normal é que na patológica a deposição de cálcio
ocorre sobre substratos celulares viáveis ou necróticos extracelulares mas que não são o
colágeno, o que não gera formação de matriz óssea;
 Classificação:
 Calcificações distróficas:
 Resulta de lesão prévia, enquanto a calcemia está normal;
 Restos necróticos são particularmente suscetíveis de deposição de cálcio, que
ocorre principalmente em locais com necrose caseosa, de coagulação e
gordurosa; a deposição ocorre de maneira gradativa;
 Os mecanismos propostos para essa condição são: exposição de núcleos primários
(fosfolipídios de membrana aos quais o cálcio pode-se ligar), aumento local na
concentração de fosfato e/ou cálcio, remoção de inibidores da calcificação.
 Calcificações metastáticas:
 Resulta de hipercalcemia, isto é, aumento na reabsorção óssea com deficiência na
excreção renal de cálcio;
 A principal causa da hipercalcemia é o hiperparatireoidismo (primário – tumor;
ou secundário – decorrente de insuficiência renal crônica), doença em que níveis
elevados de paratormônio promovem reabsorção óssea intensa, aumentando a
calcemia;
 Outra causa importante dessas calcificações são a produção ectópica de
paratormônio por neoplasias e distúrbios relacionados ao aumento de vitamina
D;
 Os depósitos metastáticos podem depositar-se em qualquer local, mas há maior
prevalência em estômago, pulmão, rins, artérias sistêmicas, veias pulmonares e
córnea; tais órgãos tem em comum o fato de secretarem ácidos, criando um
compartimento interno alcalinizado, isto é, que favorece a precipitação dos sais de
cálcio;
 Os órgãos acometidos apresentam-se muito endurecidos e calcários e rangem ao
corte com faca;
 Quando há morte celular, muitas vezes derivada do acúmulo de cálcio nos tecidos,
as células acabam envolvidas pela calcificação.
 Calcificações calcifiláxicas:
 Resultantes tanto de lesão prévia como de calcemia alterada;
 É comum ocorrer na placenta de gestantes com HAS; nessa condição, a lesão
endotelial derivada ao aumento do cisalhamento sanguíneo estimula a deposição
de cálcio; além disso, o aumento da calcemia para fornecer ao feto cálcio para a
consolidação de estruturas ósseas é também fator colaborador na patologia.
 Calcificações idiopáticas:
 Consiste em depósitos de calcificação geralmente cutâneos e frequentemente
múltiplos, sem lesão prévia e com calcemia e fosfatemia normais.
 Aspectos clínicos:
 Na maior parte dos casos, as calcificações patológicas não tem repercussões clínicas;
 Algumas vezes, calcificação em vasos pode alterar a pressão sanguínea e aumentar o risco
de ruptura e fenômenos tromboembólicos;
 Em mamografias, são importante sinal de alerta para a detecção precoce de neoplasias.

 Descalcificações patológicas:
 Processos nos quais há reabsorção e diminuição da carga óssea de estruturas como dentes e
ossos;
 Raquitismo em crianças e osteomalácia em adultos: doenças que acarretam perda de cristais
de cálcio dos ossos, fazendo com que eles deixem de ser rígidos;
 Osteoporose: deficiência de colágeno do osso, isto é, defeito na matriz óssea e na
microarquitetura do tecido; é derivada de deficiência de vitamina D, cálcio, fosfato e
proteínas;
 Prejudica a função normal dos ossos, tornando-os mais quebradiços e suscetíveis a
lesões e alterações morfológicas (ex: bico de papagaio).
 Depósitos lipídicos:
 Arteriosclerose aterosclerótica:
 Doença de artérias de grande ou médio calibre caracterizada por alterações
representadas pelo acúmulo de lipídios na íntima, além de carboidratos complexos,
componentes sanguíneos, células e material intercelular;
 É mais comum na aorta, especialmente na porção abdominal e em seus ramos
principais, como coronárias, carótidas, ilíacas e femorais;
 As lesões são mais comuns em áreas nas quais o fluxo sanguíneo é mais suscetível
a turbulências (modificações de fluxo laminar), como em bifurcações ou
emergências de vasos menores; em áreas que sofrem com alterações na pressão
extravascular; e também devido a particularidades anatômicas e bioquímicas das
artérias em diferentes sítios.
 Apresenta caráter multifatorial, no qual os principais fatores contribuintes são
hiperlipidemia, dieta pobre em antioxidantes, HAS, tabagismo, diabetes mellitus,
alterações da coagulação sanguínea, hiperuricemia, agentes infecciosos, gênero,
etnia, obesidade, ferro, álcool, fatores hemodinâmicos, etc;
 Hiperlipidemia: contribui para disfunção endotelial, formação de células
espumosas por macrófagos devido a seus receptores scavenger, formação e
crescimento de lesões ateromatosas;
 HAS: contribui para disfunção endotelial (cisalhamento), ativação de cinases de
proteínas, expressão de proto-oncogenes e proliferação de células musculares
lisas;
 Tabagismo: contribui para disfunção endotelial (produtos do fumo), aumento da
viscosidade sanguínea, estímulo da proliferação de células na parede vascular,
aumento do LDL, aumento da glicosilação de moléculas, aumento da oxidação de
LDL;
 DM: contribui para disfunção endotelial, alterações na membrana basal de vasos,
aumento nas oxidases de glicídios e lipídios, crescimento de células musculares
lisas, aumento da adesividade de plaquetas, ativação de monócitos, menor
eficiência de sistema antioxidante, aumento da fagocitose de LDL por
macrófagos;
 Agentes infecciosos: há associação entre infecções e o desencadeamento de
aterosclerose, principalmente em infecções por Chlamydia pneumoniae, herpes
simples, CMV, etc;
 Gênero: mulheres em idade fértil são menos propensas à aterosclerose que
homens; na menopausa, o risco aumenta, o que sugere efeito protetor de
estrógenos – estes contribuem para diminuição de LDL e aumento de HDL,
diminuição da resistência à insulina, menor expressão de moléculas de adesão
endoteliais, redução da proliferação de células musculares lisas, ação antioxidante;
 Ferro: evidências sugerem que excesso de ferro pode acelerar o desenvolvimento
da aterosclerose, principalmente pelo aumento de radicais livres;
 Álcool: estudos mostram que o consumo moderado de álcool pode reduzir o risco
de aterosclerose.
 Patogênese: as lesões ateroscleróticas representam uma resposta inflamatória crônica
da parede arterial a agressões variadas;
 Disfunção endotelial:
 Pode ser provocada por inúmeras causas, como as citadas acima;
 É caracterizada por aumento da permeabilidade endotelial, o que
favorece a entrada de LDL na íntima, aumento da expressão de
moléculas de adesão na superfície endotelial, o que favorece adesão de
monócitos e linfócitos ao local, adesão e agregação plaquetária,
diminuição de fatores anticoagulantes e antiproliferativos;
 Em estágios iniciais, a administração de L-arginina (metabolizada a
NO) pode proteger contra formação de placas e promover regressão de
lesões já estabelecidas;
 Um evento chave na proliferação de células musculares lisas é a
estimulação por mitógenos, que pode ocorrer via mecânica ou química;
fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fator de
crescimento de fibroblastos (FGF) são exemplos dessas moléculas.
 Lipídios:
 As lipoproteínas, especialmente LDL, acumulam-se no espaço
subendotelial;
 Esse acúmulo atrai monócitos para o local, que se tornam macrófagos
e, por possuírem receptores scavenger (não controlados por feedback),
fagocitam colesterol e transformam-se em células espumosas;
 A oxidação do colesterol dificulta sua degradação e potencializa seu
acúmulo nos macrófagos; além disso, a LDL oxidada tem ação
citotóxica e inicia processo inflamatório com liberação de fatores de
crescimento que estimulam proliferação de miofibroblastos (células
musculares lisas modificadas).
 Reação inflamatória:
 Em placas ateromatosas existe intensa produção de citocinas que
estimulam diferenciação de células Th1 e ativam macrófagos;
 Há ativação da via do NFκB, que aumenta o processo inflamatório, a
geração de radicais livres e enzimas proteolíticas e a liberação de
fatores pró trombóticos;
 A LDL oxidada é reconhecida como antígeno;
 A proliferação de células musculares lisas contribui para transformar
lesões inicias (estrias lipídicas) em ateromas; diferenciando-se em
fibroblastos ou miofibroblastos, produzem colágeno e proteoglicanos,
componentes importantes da placa; apesar disso, tem efeito protetor,
tornando a placa mais estável.
Lesão inicial (tipo I)  estria lipídica (tipo II)  placa pré ateromatosa (tipo III)  placa ateromatosa
(tipo IV)  placa fibroateromatosa (tipo V)  placas complicadas (tipo VI), com ulceração/ruptura e/ou
trombose, hemorragia, calcificação
 Consequências:
 Obstrução arterial – com hemorragia na intimidade da placa,
vasospasmos, ruptura da placa e formação e trombo, embolia;
 Dilatação da parede e formação de aneurismas.
 Depósito de urato:
 Condição em que há depósito de cristais de urato monossódico nas articulações, decorrente
principalmente de alteração no metabolismo de purinas, o que favorece seu acúmulo;
 Como o fluido sinovial é um solvente inadequado para o urato monossódico em relação ao
plasma, os uratos no fluido tornam-se supersaturados com mais facilidade, particularmente
nas articulações periféricas, onde as temperaturas são inferiores a 20ºC;
 Os cristais de MSU são fagocitados por macrófagos e através de um mecanismo
desconhecido ativam componentes inflamatórios que levam ao recrutamento de neutrófilos,
fontes potenciais de radicais livres tóxicos, leucotrienos e enzimas lisossomais, danosos ao
tecido – artrite aguda;
 Ataques repetidos de artrite aguda levam à artrite crônica e à formação de tofos nas
membranas sinoviais inflamadas;
 Gota: síndrome caracterizada por hiperuricemia, crises recorrentes de artrite aguda e artrite
crônica; pode ser primária (idiopática) ou secundária (patologia conhecida, genética ou não,
que promove hiperuricemia).
 Depósito de alumínio:
 Condição antigamente relacionada à presença de alumínio na composição de pastas dentais;
hoje é menos frequente;
 Pode ocasionar osteomalácia (o alumínio compete com o cálcio nos ossos, no processo de
formação de cristais de hidroxipatativa) e encefalopatia (efeito neurotóxico do alumínio);
 O tratamento é realizado por meio de hemodiálise.

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