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Texto13 Etica Epicuro PDF
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MENECEU
Mas hoje, toma-se por um sonhador aquele que vive conforme aquilo que ensina.
(KANT apud P. HADOT, O que é a filosofia antiga?, p. 12)
Quero dizer, portanto, que o discurso filosófico [da antigüidade] deve ser compreendido
na perspectiva do modo de vida do qual é, ao mesmo tempo, meio e expressão e, por
conseqüência, que a filosofia é antes de tudo uma maneira de viver, mas que está es-
treitamente ligada ao discurso filosófico. (P. HADOT, Ibid, p. 18-9)
... procuras recordar os raciocínios capazes de ensejar a conquista de uma vida feliz.
(DIÔGENES LAÊRTIOS, Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, 83-84)
Resumo: Em Epicuro, encontramos uma ética voltada para a busca do pra- zer. Este é
entendido como ausência de dor e de inquietação, a aponía e a atara- xía. Essa ética
pretende ensinar a evitar ou a suportar a dor, o medo e o sofri- mento que estão sempre à
espreita. Epi- curo, na Carta a Meneceu, aborda a questão da moral, a maneira de como o
homem deve encarar a vida, quando procura a felicidade. Essa busca tem um traço que
distingue Epicuro de outros filósofos. Para o primeiro, qualquer pes- soa, em qualquer idade,
pode buscar a felicidade, dedicando-se à filosofia. Des- taca-se ,então, pelo seu
materialismo e empirismo que se articulam à ética. Sua contribuição é apresentar uma ética
que nos ensina a cuidar de nossa vida sem- pre como bem que tem seu acabamento na
construção de uma comunidade fun- dada na amizade.
Resumen: En Epicuro, encontramos una ética volcada para la búsqueda del placer. Este es
entendido como ausencia de dolor y de inquietación, la aponía y la ataraxía. Esa ética pretende
enseñar a evitar o a soportar el dolor, el miedo y el sufrimiento que están siempre a la espreta.
Epicuro, en la Carta a Meneceu, aborda la cuestión de la moral, la manera de como el hombre
debe enfrentar la vida, cuando busca la felicidad. Esa búsqueda tiene un razgo que diferencia
Epicuro de otros filósofos. Para el primero, cualquier persona, en cualquier edad,
puede coger la felicidad, dedicándose a la filosofía. Se destaca, entonces, por
materialismo y empirismo que se articulan a la ética. Su contribución
es presentar una ética que nos enseña a cuidar de nuestra vida siempre como bien que tiene su
término en la construcción de una comunidad fundada en la amistad.
Introdução
Epicuro afirma que acredita na exis- que nasce e que um tempo depois
tência dos deuses, em deuses que quer morrer. A este Epicuro chama
são perfeitos e imortais, não sendo de muito tolo. Questiona o porquê de
modificados por falsos juízos que os se viver tão depressa.
mortais têm acerca deles.
Já quanto à morte, Epicuro a trata
Os deuses não interferem no anda- como privação das sensações. Mos-
mento das coisas do cosmo e do tra que não devemos temê-la, mas
homem. Conceber assim a divindade que devemos procurar viver bem e
representaria, para Epicuro, não só de forma feliz até que ela chegue,
fonte de inquietação para os ho- uma vez que não é importante ser
mens, mas também uma impiedade: eterno. “Acostuma-te à idéia de que a
morte para nós não é nada, visto que
os juízos do povo a respeito dos deu- todo bem e todo mal residem nas
ses (...) se baseiam (...) em opiniões sensações, e a morte é justamente a
falsas. Daí a crença de que eles cau- privação das sensações.”
sam os maiores malefícios aos maus (EPICURO, 1997, p. 27). A morte é
e os maiores benefícios aos bons. Ir- um fato pelo que a razão mostra, se
manados pelas suas próprias virtudes, os átomos se dissolvem, somos
eles só aceitam a convivência com os mortais. Pensar a imortalidade seria
seus semelhantes e consideram es- um sonho. Interessa é ter uma vida
tranho tudo que seja diferente deles. com mais qualidade, sem precisar,
(EPICURO, 1997, p. 25-26). para isso, de mais quantidade. Para
Epicuro, o homem poderia ter uma
A Morte é Nada para Nós vida semelhante aos deuses, mesmo
sendo mortal. Epicuro também fala a
Epicuro aborda o valor da vida, ainda Meneceu que não há nada de terrível
que seja curta, mas de grande im- em se deixar de viver. Chama de tolo
portância se for bem vivida. Justifica aquele que diz ter medo da morte.
que de nada adiantaria viver muito, Conclui esta questão de maneira
se não se vivesse bem. Este ensi- brilhante quando diz que a morte não
namento epicurista é um grande le- existe para aqueles que estão vivos.
gado para a sociedade de hoje e nos
faz pensar, por exemplo, o que in- Epicuro trabalha também na morte a
tencionaram os terroristas no ataque questão de que alguns a desejam
a Nova Iorque. Teria sido a mesma para dar fim aos males da vida; en-
questão pensada por Epicuro: ainda quanto outros fogem dela como se
que viva pouco, viva bem? De nada ela fosse o maior de todos os males.
adiantaria viver mais, num mundo
que não fosse desejado. E a morte? A morte é um mal só para
quem nutre falsas opiniões sobre ela.
O filósofo também menciona, na Como o homem é um “composto
Carta a Meneceu, sobre o homem alma” num “composto corpo”, a
morte não é senão a dissolução des- clarece que não devemos viver a es-
ses compostos, na qual os átomos perá-lo. Diz:
se espraiam por toda parte, a cons-
ciência e a sensibilidade cessam to- Nunca devemos nos esquecer de que
talmente e, assim, só restam do ho- o futuro não é nem totalmente nosso,
mem ruínas que se dispersam, isto é, nem totalmente não-nosso, para não
nada. Assim, a morte não é pavorosa sermos obrigados a esperá-lo como
em si mesma porque, com sua vinda, se estivesse por vir com toda a certe-
não sentimos mais nada; nem pelo za, nem nos desesperarmos como se
seu “depois”, exatamente porque não não estivesse por vir jamais
resta nada de nós, dissolvendo-se (EPICURO, 1997, p. 33).
totalmente nossa alma, assim como
nosso corpo; enfim, a morte tolhe Os Desejos
nada da vida que tenhamos vivido,
porque a eternidade não é necessá- Os desejos são naturais (physikaí)
ria para a absoluta perfeição do pra- ou inúteis (kenaí). Os desejos natu-
zer. rais são aqueles próprios à natureza
humana, isto é, a phýsis é o desejo
Sendo assim, mais uma vez, é ne- de comer, beber, abrigar-se; o de-
cessário vencer o medo da morte. A sejo fundamental de “nos afastarmos
morte, sendo o mais aterrador dos da dor e do medo” (DIÔGENES
males, não é nada para nós; en- LAÊRTIOS, X, 128), isto é, do des-
quanto vivemos a morte não existe, e prazer. Os desejos inúteis, vãos ou
quando vem a morte nós não existi- privados (o termo é traduzido por va-
mos. Por esta razão, nada temos a zio (EPICURO, 1997, p. 35), para
lucrar vivendo eternamente, mas te- outro lado, resultam de opiniões fal-
mos tudo a lucrar vivendo bem, uma sas ou desconhecimento acerca dos
vez que o que conta é a qualidade desejos. Poder-se-ia perguntar se
da vida, não a sua duração. não têm realidade, no sentido de não
corresponder a nada da phýsis, em-
bora resultem em atos e concretiza-
ções culturais e políticas certamente
O Futuro “reais”.
Para julgar o prazer, é preciso distin- sim, num cálculo prudente do prazer
guir-lhe duas espécies, o prazer em físico, com o fim de gozá-lo o mais
movimento e o prazer em repouso, puro possível, isto é, o menos mistu-
cuja plena realização se encontra na rado de sofrimento. Esse Prazer dei-
ataraxía. O único prazer completo é xa uma lembrança em esperança,
o prazer em repouso, pois o prazer geram-se os prazeres uns aos ou-
vem da satisfação de um desejo, e o tros, para tornar feliz a vida.
desejo vem de um sofrimento. Nasce
o desejo do fato de sofrer eu de al- Por outro lado, é pela razão que se
guma coisa. Desejo comer, quando escolhem os prazeres, conforme o
sinto fome, e a fome é um sofrimen- que estes podem proporcionar. Cer-
to. O prazer em movimento é o pra- tos prazeres trazem sofrimento,
zer do sofrimento que se está elimi- como quando se come demais; cer-
nando: o que experimento ao comer; tas dores causam prazer, como
o prazer em repouso é o do sofri- quando se segue um tratamento pe-
mento eliminado, quando estou saci- noso. Por isso, nem todo prazer é
ado. objeto de uma escolha; há muitos
que deixamos de lado, quando o mal
O verdadeiro prazer, o prazer em re- que é sua conseqüência supera o
pouso, é um prazer calmo; o ideal da próprio prazer. Do mesmo modo,
vida está numa serenidade perma- muitos sofrimentos nosparecem
nente, feita duma saciedade cons- preferíveis ao prazer, quando esses
tante, não perturbada nem pelo so- sofrimentos, suportados por muito
frimento, nem pelo desejo. Mas a tempo, são compensados, e com
vida do corpo não proporciona essa vantagem, pelo prazer que deles re-
felicidade; os prazeres do corpo são sulta.
misturados de febre e inquietação;
Epicuro desconfia dele, como a mai- Para ter prazer de espírito, é preciso
or parte dos filósofos. Por isso, o ter um pouco de fome. Conservará o
verdadeiro prazer se goza antes no epicurista sua capacidade de gozo,
prazer do espírito, mais profundo, não comendo nunca até a plena sa-
mais completo que o prazer do cor- ciedade, como fazem os animais e
po, porque o corpo se limita à sensa- os homens bestiais, mas conservan-
ção presente, enquanto que o espí- do-se sempre suficientemente nutri-
rito se reporta ao passado e espera o do, para não sofrer fome alguma.
porvir.
Para Epicuro, portanto, o verdadeiro
O objeto do prazer do espírito, como prazer vem a ser a ausência de dor
sua natureza, reduz-se ao prazer fí- no corpo (aponía) e a falta de pertur-
sico, pois consiste, antes de tudo, na bação da alma (ataraxía). Dizemos
lembrança do prazer que se teve e que o prazer é um bem quando ele é
na expectativa do que se prepara. A ausência de dor no corpo e ausência
sabedoria de Epicuro vem a dar, as- de perturbação na alma. Nem liba-
deuses, e dos homens que conse- lhe aqueles que não comportam em
guem partilhar esse modo de vida. si dor e perturbação, descartando
aqueles que dão gozo momentâneo,
A autarquia mas trazem consigo dores e pertur-
bações.
Epicuro exorta um prazer com o qual
ele viveu no Jardim e recomenda-o A prudência: virtude maior
dizendo que:
Retomando o conceito de felicidade,
o prazer, como bem principal e inato, Epicuro trata então da prudência.
não é algo que deva ser buscado a Vemos esta como um bem, como
todo custo e indiscriminadamente, já preciosa e elevada. O homem só é
que às vezes pode resultar em dor. (...) feliz, se tem uma vida com prudên-
recomenda-se uma conduta comedida cia, com beleza e com justiça; donde
em relação aos prazeres, valendo, (...) podemos dizer que estes quatro
aquele princípio da qualidade em de- elementos estão interligados.
trimento da quantidade. (LORENCINI,
1997, p. 16-7). Caracterização do Sábio
No que se refere à vida política, para Para que a vida seja agradável, ne-
o fundador do Jardim, ela é substan- cessitamos de saúde de corpo e
cialmente não-natural, porque com- tranqüilidade de espírito. Porém,
porta continuamente dores e pertur- todo prazer é bom, mas nem todo
bações, compromete a aponía e a prazer deve ser escolhido. Toda dor
ataraxía e, portanto, compromete a é má, mas nem toda dor deve ser
felicidade. Com efeito, os prazeres evitada. Assim, devemos nos acos-
da vida política, a que muitos se pro- tumar a um padrão simples de vida,
põem, são puras ilusões: da vida po- a fim de obtermos plena saúde e
lítica os homens esperam poder, estaremos alerta e pronto para todas
fama e riqueza, que são, como sa- as tarefas necessárias da vida. Lem-
bemos, desejos e prazeres nem na- bremos que o principal objetivo a ser
turais nem necessários, sendo por- alcançado pelo conhecimento é a
tanto vazias e enganosas miragens. paz de espírito. A essência do ensi-
A vida pública não enriquece o ho- namento de Epicuro estava em se
mem, mas o dispersa e dissipa. Por aprender a viver juntos, e o método
isso é que Epicuro se apartava e vi- de divulgação era feito principal-
via separado da multidão, retirando- mente pelo contato pessoal e de viva
se para os arredores de Atenas, voz.
sentindo-se constrangido de estar
entre a multidão. Assim, Epicuro bem Entendia Epicuro que a humanidade
pode afirmar que de todas as coisas sofria de um mal universal, uma es-
que a sabedoria busca, em vista de curidão mental, um fardo de medo
uma vida feliz, o maior bem é a soci- supersticioso; e grande parte da res-
alidade fundada na relação da ami- ponsabilidade cabia aos ensina-
zade. mentos das escolas. Contestou o
ceticismo, a desconfiança nos senti-
A Carta a Meneceu sugere a socie- dos e na razão; a falsa doutrina do
dade de amigos, isto é, de “seme- prazer, de modo que a desconfiança
lhantes” quanto aos deuses e quanto dos sentimentos era acrescentada à
aos companheiros de Meneceu na desconfiança dos sentidos e da ra-
meditação do que Epicuro escreve: zão; a falsa doutrina dos compromis-
sos sociais, que substituía a amizade
Irmanados pela sua própria virtude, pela justiça, a falsa doutrina de
(os deuses) só aceitam a convivência Deus, que assediava o espírito dos
com os seus semelhantes (...). Medita, homens de medo em vez de enchê-
pois, todas estas coisas (...) contigo los de alegria.
mesmo e com teus semelhantes, e
nunca mais te sentirás perturbado (...) A função de Epicuro era apoderar-se
mas viverás como um deus entre os dos progressos que haviam sido fei-
homens (1997, p. 25-7, 51). tos nos círculos do Liceu, incorporá-
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