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A primeira pesquisa sobre cortiços em São Paulo foi realizada pela Secretaria
Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão – Sempla em 1983 e estimou o número
em 2,58 milhões de moradores, representando 29,3% da população do município daquela
época. A Fundação Instituto de Pesquisa Econômica – Fipe efetivou, em 1993, pesquisa
amostral, que apontou uma população de aproximadamente 595.110 pessoas, morando em
23.688 cortiços nas 20 subprefeituras de São Paulo. Em 2001 a Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados – Seade concretizou outra pesquisa em área menor da
cidade, abrangendo os bairros dos distritos centrais como Barra Funda, Bom Retiro,
Bela Vista, Belém, Brás, Cambuci, Liberdade, Mooca, Santa Cecília e Pari,
correspondendo a uma estimativa de 38.512 habitantes (1). O Plano Municipal de São
Paulo apresentou em outubro de 2011 a previsão de 80.389 domicílios encortiçados
nos distritos centrais, conforme dados da Fundação Seade. Abaixo a foto de satélite
da região central com a localização dos cortiços em azul na figura abaixo, conforme
o site da Prefeitura Municipal de São Paulo em 2015.
As crianças e a moradia
“A moradia e seu entorno são o meio básico da maioria das crianças durante o
período inicial e crítico de suas vidas, quando são mais vulneráveis e se
desenvolvem mais rapidamente. O lugar deve ser seguro e saudável, deve
facilitar os cuidados infantis e deve satisfazer as necessidades básicas
físicas, sociais, culturais e psicológicas”.
Declaração dos Direitos da Criança e Habitação – Istambul 1996
As crianças e o espaço escolar são estudados pela arquiteta Mayumi Souza Lima no
livro “A Cidade e a Criança”, de 1989, a obra evidencia o significado dos espaços
para as crianças, constituindo a relação com o mundo e as pessoas. As casas, os
caminhos, as cidades são espaços da criança que transcendem as suas dimensões
físicas e se transformam nos entes e locais de alegria, de medo, de segurança, de
curiosidade, de descoberta (2). A autora realiza experiências em escolas de São
Paulo na década de 1970 com as crianças a partir dos “projetos falados” que passam
ao projeto desenhado e depois para as maquetes de papelão. Conclui que a construção
do espaço relaciona e articula o pensar e o fazer, onde um interfere e modifica o
outro.
A tese de Luiz Kohara realizada em 2009 estuda a relação das condições de moradia
e o desempenho escolar de crianças que moram em cortiços e pensões na escola Duque
de Caxias na região do Glicério em São Paulo e conclui que há prejuízo no
aproveitamento escolar em função das precárias condições dos espaços onde vivem.
Arquicriança
O método utilizado para a elaboração do projeto de extensão – Arquicriança – em
parceria com a Criança Fala, partiu da capacitação com os alunos e professores do
curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
para aprender a trabalhar com as crianças nas diferentes atividades lúdicas das
oficinas de escuta com as crianças que moram na pensão (4) da Rua Sinimbu no
Glicério em São Paulo. Assim, a metodologia dividiu-se em dois módulos, da seguinte
forma:
Oficina de maquete
Foto Débora Sanches, 2015
Oficina de maquete
Foto Débora Sanches, 2015
Resultados
Acredita-se que o projeto de extensão – Arquicriança – é necessário e importante
para a formação dos futuros arquitetos e urbanistas, pois os alunos aprendem a
lidar com as questões da cidade real e também, com métodos de projetos realizados
de forma participativa. Assim, deixamos alguns depoimentos dos alunos sobre a sua
participação:
Nas oficinas as crianças de seis ou sete anos desenham a casa onde moram a partir
da planta baixa, sem domínio ou sensação nenhuma de espaço, faziam o que imaginavam.
O banheiro representado com quatro linhas jogadas no canto da folha com apenas um
circulo para representar o vaso sanitário. O banheiro e para todos usarem não só
nós de casa. As crianças de sete a dez anos desenham a rua com bonecos (representando
as mesmas) com bolas, pipas simbolizando o lugar que se sentem livres para poder
brincar (uma vez que não há uma área ou espaço de lazer).
Considerações finais
O método utilizado para desenvolver as diretrizes de melhorias nas condições de
salubridade da pensão, desenvolveu-se a partir de duas fontes: a primeira empírica
em função dos resultados obtidos com a proximidade com os moradores da pensão e
principalmente, nas oficinas com as crianças. A segunda fonte de pesquisa é a
teórica, a partir das orientações da Lei Municipal (10.928/91) conhecida por Lei
Moura que definem padrões mínimos de salubridade.
Acredita-se que este projeto é um sonho de um futuro melhor, tanto para as crianças,
que precisam de melhores condições de moradia e educação, como para os alunos de
arquitetura que precisam sair da sala de aula e vivenciar os problemas reais das
cidades brasileiras em direção a função social do arquiteto.
notas
NA – Artigo apresentado no 1° Encuentro “La formación universitária y La dimensión
social del profesional” a 46 años del Taller Total, 2015. Colaboraram para este artigo
os alunos do Projeto de Extensão: Amanda Peron, Fernanda Mesquista, Leonardo Ocampos,
Luisa Rico, Marcele Piotto, Raphaela Mello e Yasmine Pimenta. Participaram do Projeto
de Extensão os seguintes colaboradores: Arquiteta Beatriz L. Kehdy , Arquiteta Marilia
Mesquita, Arquiteta Juliana Rosa, Estudante Fernanda Mesquita, Estudante Paula Carlos
de Souza, Fotógrafo Daniel Alves de Moura. Alunos da graduação em arquitetura e
urbanismo: Amanda Santana Guiráo Peron, Aryel Batista, Bruno C. Lima, Carolina Almeida
de Molon Mendes, Claúdia de Magalhães Scalli, Isabella de S. Meneses, Iolanda Carvalho
dos Santos, Jacqueline Zara, Jean Labanca, Leonardo Ferreira Ocampos, Luisa Arruda Rico,
Marcela Cristina Fernandes de Abreu, Marcele Lemos Liotto, Marcus Vinicius Miguel,Monica
Soares Maragno, Nicoly Attolini Costaño Moralta, Raphaela Rodrigues de Mello, Renata
Farias Niero, Sabrina Bach,Tuane Amaro de Oliveira e Yasmine Pimenta Lopes. Coordenadora
da Central de Extensão: Professora Mestre Denise Xavier. Coordenadora do projeto –
Arquicriança: Professora Doutora Débora Sanches. Coordenadora projeto Criança Fala e
Criacidade: Socióloga Mestre Nayana Brettas. Professores colaboradores: Denivaldo
Pereira (mestre), Luiza Naomi (doutora), Aline Nasralla (doutora), Cristina Ecker
(mestre).
NE – Sob a coordenação editorial de Abilio Guerra (editor do portal Vitruvius), esta
edição especial da revista Arquitextos sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo contém
textos selecionados dos artigos apresentados em dois eventos ocorridos na Universidade
Nacional de Córdoba, na cidade de Córdoba, Argentina: 1° Encuentro “La formación
universitária y la dimensión social del profesional” a 45 años del Taller Total (2, 3
e 4 de setembro de 2015; eixos temáticos: 1. O ensino da arquitetura. 2. O primeiro ano
universitário: expectativas, conquistas e frustrações. 3.A formação universitária e o
compromisso com os problemas sociais, políticos, econômicos e culturais da região);
2° Encuentro “La formación universitária y la dimensión social del profesional” a 46
años del Taller Total (31 de agosto, 1 e 2 de setembro de 2016; eixos temáticos: 1.
Hábitat, cidadania e participação. 2. A formação universitária e o compromisso com os
problemas sociais,políticos, econômicos e culturais da região. 3. O papel do estudante
universitário no seu processo de formação professional e cidadã). Em ambos os encontros
o processo de avaliação dos artigos foi realizado por pareceristas, membros da comissão
cientifica, especialistas na área de submissão, pelo sistema duplo cego, para garantir
o anonimato e sigilo tanto do(s) autor(es) como dos pareceristas. Os eventos tiveram
como objetivos a reflexão, debate e a recuperação da memória do Taller Total, experiência
que se desenvolveu na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Nacional
de Córdoba, FAU UNC, entre os anos 1970 e 1975. Avançou-se na discussão sobre o papel
social do profissional universitário e suas capacidades para analisar integralmente e
contribuir à solução dos problemas sociais locais e regionais que a presente realidade
demanda. Dentre os eixos temáticos correspondentes aos dois encontros, se realizou um
processo de seleção dos artigos referentes ao tema Ensino de Arquitetura e Urbanismo
que resultou nos textos presentes na edição de Arquitextos. Foram responsáveis por esta
seleção, Sylvia Adriana Dobry e Nora Zoila Lamfri (participantes do Comité Organizador
e Cientifico de ambos encontros). Considerou se importante dar um panorama do assunto
em vários países da América Latina privilegiando critérios de qualidade e pertinência
ao tema. Para tanto, selecionaram-se artigos de autores provenientes de Argentina,
Brasil e México, que foram convidados a adequá-los às normas da revista; os que
responderam à solicitação são os seguintes artigos que formam o número especial de
Arquitextos sobre os 1° e 2° Encuentro “La formación universitária y La dimensión social
del profesional” a 45 y 46 años del Taller Total/ 2015 e 2016:
DOBRY, Sylvia Adriana; LAMFRI, Nora Zoila. Ateliê Total, um olhar desde o século
21. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.00, Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6790>.
GOROSTIDI , Roberto Enrique; RISSO, Marta Teresa. Formación y docencia en la Universidad
de hoy. Desafíos y Realidades. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.01, Vitruvius,
nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6791>.
SANCHES, Débora. ArquiCriança: estudo a partir das crianças moradoras de cortiços e
pensões em São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.02, Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6792>.
GIRÓ, Marta; FRANCO, Rafael; PELLI María Bernabela; PACE, Elizabeth; CAMPOS, Mariana;
DEPETTRIS, Noel; OLMEDO, Rosario; PONCIO, Diego. La Cátedra Gestión y Desarrollo de la
Vivienda Popular. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.03, Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6793>.
PORTER, Luis; MIGLIOLI,Viviana. La enseñanza de la arquitectura hoy, las limitaciones
del modelo de taller de proyecto y alternativas posibles.Arquitextos, São Paulo, ano
18, n. 210.04, Vitruvius, nov. 2017
< www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6794>.
PEDRO, Beatriz. Formación para el proyectar con la comunidad en la producción social
del hábitat – Articulación de saberes populares y disciplinares. Arquitextos, São Paulo,
ano 18, n. 210.05, Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6795>.
ARANTES, Pedro Fiori; SANTOS JÚNIOR, Wilson Ribeiro dos; LEITE, Maria Amélia Devitte
Ferreira D’Azevedo. Um projeto de práticas pedagógicas transformadoras. A formação do
arquiteto e urbanista no Instituto das Cidades da Unifesp na Zona Leste de São
Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.06, Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6803>.
CARVALHO, Maria Albertina Jorge. A experiência do laboratório de arquitetura e urbanismo
e seus desdobramentos como atividade de extensão universitária. Arquitextos, São Paulo,
ano 18, n. 210.07, Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6804>.
TEIXEIRA, Catharina Christina; et. al. A questão da habitação social no ensino de
projeto integrado ao desenho urbano. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.08,
Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6818>.
1
CARICARI, Ana Maria; KOHARA, Luiz (org.). Cortiços em São Paulo – soluções Viáveis para
Habitação Social no Centro da Cidade e Legislação de Proteção à Moradia. São Paulo,
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, 2006.
2
LIMA, Mayumi Souza. A Cidade e a criança. Coleção Cidade Aberta. São Paulo, Nobel, 1989,
p. 14
3
KOHARA, Luiz Tokuzi. Relação entre as condições da moradia e o desempenho
escolar: estudo com crianças residentes em cortiços. Tese de doutorado. São Paulo, FAU
USP, 2009, p. 254.
4
A pensão possuía em fevereiro de 2015 torno de 90 moradores, sendo 70 adultos e 20
crianças.
5
LIMA, Mayumi Souza. Op. cit.
6
LIMA, Mayumi Souza. Op. cit.
sobre a autora
Débora Sanches. Arquiteta e Urbanista pela FAU PUC-Campinas (1994). Mestre em Habitação
pelo IPT (2008). Doutora pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2014). Docente de
Arquitetura e Urbanismo no Universidade Presbiteriana Mackenzie e no Centro
Universitário de Belas Artes de São Paulo, onde também é docente no programa de Mestrado
em Arquitetura, Urbanismo e Design.