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Lição 1 - Bíblia Palavra de Deus
Lição 1 - Bíblia Palavra de Deus
Ed Rene Kivitz
Assim, portanto, quando falamos que a Bíblia é Palavra de Deus estamos sob o
domínio da fé. Nós estamos primeiro, dizendo que cremos que existe um Deus, e esse Deus
não é um Deus do deísmo – um Deus impessoal, como uma força ou energia, mas sim, um
Deus pessoal, Ele tem consciência, auto-consciência, tem vontade, fala, se comunica. E
dizemos, inclusive, que esse Deus escreveu um livro. E esse livro é a Bíblia Sagrada. Evidente,
nós estamos no campo da fé, eu sublinho. Nós estamos dizendo: cremos em um Deus pessoal,
com quem podemos nos comunicar e que se comunica conosco e, que esse Deus escreveu um
livro, que é a Bíblia Sagrada. Eu penso que, ainda que estejamos no domínio da fé, duas
expressões são interessantes. Primeira, é uma citação de John Stott, “Crer é também pensar”,
a fé é uma possibilidade da razão, isso significa que fé, ainda que não se fundamente na prova
racional, ela tem a sua racionalidade. Passou o tempo em que nós diríamos que quem crê é
ignorante, por isso, a fala de John Stott é muito interessante, “Crer é também pensar”. Eu creio
e tenho razões para crer. Eu creio e na minha fé eu consigo estabelecer alguns critérios de
coerência racional para minha fé. A segunda expressão é uma história que foi contada por meu
amigo Ariovaldo Ramos quando estudava filosofia na USP. Alguém pediu que ele
argumentasse a respeito de Deus e da Bíblia e qual é a lógica de dizer que a Bíblia é um livro
divino. Então, o Ari desenvolveu a seguinte argumentação: “Se existe um Deus, e nós partimos
do princípio que existe, nós devemos nos perguntar se esse Deus quer ser encontrado ou se
Ele não quer ser encontrado; se esse Deus que se comunicar, ou se Ele não quer se comunicar;
se Ele não quer ser encontrado e nem se comunicar, não há nada que possamos fazer porque a
racionalidade humana não chega ao divino. Não adianta tentarmos encontra-lo ou nos
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comunicarmos com Ele, estaremos perdendo tempo. Agora, se há um Deus e Ele quer ser
encontrado e quer se comunicar, necessariamente esse Deus deve ter se revelado, deve ter se
mostrado, deve ter exposto a sua cara porque Ele quer ser encontrado e se comunicar. Agora,
chegamos a outra pergunta - qual é o logos da revelação de Deus, aonde Ele se revela, onde
Ele se manifesta? E, ainda, temos de fazer outra observação – se Deus se revela de modo
diverso, em todas as culturas, em todas as tradições religiosas ou se esse Deus escolhe um
logos prioritário e um logos que seja normativo para sua revelação? Se chegarmos a conclusão
que Deus se revela de maneira diversa e igualmente em todas as culturas e em todas as
tradições religiosas, nós estamos diante de um Deus que é no mínimo patético. É um Deus que
goza de uma ironia e uma crueldade e, que de fato está brincando com a raça humana porque
Ele sussurra alguma coisa no budismo, outra no judaísmo, fala outra coisa no islamismo, fala
uma outra coisa, ainda, no cristianismo e fala milhares de outras coisas no hinduísmo. Se
cremos que há um Deus, que quer ser encontrado e quer se comunicar, precisamos crer que
Ele se revelou e se Ele se revelou precisamos, então, nos perguntar sobre o logos da sua
revelação. Por isso, nós cristãos dizemos que Ele escreveu um livro. Um livro que aponta para
uma pessoa, porque o cristianismo todo está fundamentado na afirmação categórica de que
Jesus Cristo é Deus encarnado e é a exata expressão de Deus, o Criador dos céus e da terra”.
Então, estamos no domínio da fé, estamos falando do Deus Criador de todas as coisas,
que quis ser encontrado e se revelar a nós, fez isso de maneira contundente na pessoa de
Jesus, e há um registro histórico deste processo de revelação, que é a Bíblia Sagrada. Esta é a
inteligência de introdução para uma busca de conhecimento deste livro Sagrado. Se tudo
quanto nós estamos dizendo como cristãos é de fato verdade, nós estamos diante de um livro
extraordinário, que nos informa e nos afeta a respeito do Deus Criador dos céus e da terra. A
Bíblia é, portanto, e por isso mesmo, um livro que nós chamamos de Sagrado, a Bíblia Sagrada.
Quando o apóstolo Paulo diz que há na consciência de cada ser humano uma intuição
a respeito do divino. Há na consciência de cada ser humano uma intuição do divino e,
mais do que uma intuição do divino, há uma intuição a respeito do caráter do divino
que coloca na consciência humana um senso de certo e errado e um senso de justiça.
Mesmo aqueles que não tem uma concepção religiosa, mesmo aqueles que não tem
informação a respeito do cristianismo, do judaísmo ou desta tradição que acreditamos
ser a revelação de Deus, mesmo estes tem um senso e uma intuição de divindade. A
religião é um fenômeno universal, raríssima são as culturas que não tem uma
expressão de religiosidade. Se formos pesquisar os cientistas sociais, os antropólogos,
os analistas culturais, eles vão dizer que não há uma cultura sem religião. O que
existem são pessoas dentro das culturas que optam por descartar as expressões
religiosas que, está sim, dentro da cultura. Por isso é que chamamos de revelação
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moral esta expressão da intuição humana a respeito do divino e do caráter divino, que
é noção de certo ou errado, de justiça que está presente em todo ser humano.
O Gênesis termina como uma cortina do palco preparado para a chegada de Moisés no
Êxodo. É em Gênesis capítulo 12 que há a primeira manifestação desse Deus que Israel
vai chamar de Yaweh, que se mostra pra alguém, e esse alguém é Abraão, um homem
de Ur dos caldeus, na região babilônica – hoje Iraque. Abrão está lá e ele ouve, tem
uma experiência do divino, chamando-o para sair da sua terra porque a partir dele
esse Deus fará um povo para si. Na tradição de Israel Abraão é o antepassado primeiro
e o povo de Israel é descendência de Abraão. Abrão tem o seu filho Isaque, Isaque tem
seu filho Jacó, Jacó tem seus 12 filhos, que dão origem as 12 tribos de Israel. José, é o
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mais notável destes filhos, se torna príncipe no Egito e é pra lá que esse povo de Israel
vai. E é lá, no Egito, que Moisés ouve Deus falando com ele, Ex 3. Moisés vê uma sarça
que queima, mas não se consome. Era comum no deserto ver uma planta seca pegar
fogo no deserto. Era a combustão pura. O que chama a atenção de Moisés é que
aquela sarça está queimando, mas não some nunca. Daquela sarça veio uma voz que
falou com ele. Aquela voz era a mesma voz que se apresenta como a voz que falou
com Abraão, Isaque e Jacó.
Moisés vê uma sarça que queima, mas não se consome. Era comum no deserto ver
uma planta seca pegar fogo no deserto. Era a combustão pura. O que chama a atenção
de Moisés é que aquela sarça está queimando, mas não some nunca. Daquela sarça
veio uma voz que falou com ele. Aquela voz era a mesma voz que se apresenta como a
voz que falou com Abraão, Isaque e Jacó.
Moisés vai para o Sinai, e traz as tábuas da lei, que são oferecidas como uma ordem
divina para uma construção de sociedade, existe ali nas tábuas da lei os princípios que
se consolidará na Torá – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio – cinco
primeiros livros da Bíblia, conhecidos, também, como pentateuco. A Torá tem um
projeto de Estado/Nação, tem um projeto de culto/liturgia em relação ao único Deus
Criador e um projeto ético. A lei é oferecida a esta nação que está sendo formada com
estes três ingredientes. Assim é apresentada a identidade deste Deus.
E Deus ordena que algumas festas devessem ser celebradas pelo povo israelita, são
elas: páscoa, pentecostes e tabernáculo. A lei dizia que o povo de Israel deveria
celebrar essas festas anualmente, para que quando das celebrações das festas os filhos
perguntassem aos pais o que significa esta festa e, então, os pais explicariam, dizendo,
os nossos antepassados ouviram um Deus. Lembre-se naquela época, assim como nos
dias de hoje, o mundo era povoado por deuses. Todas as nações tinham os seus
deuses. Há uma multiplicidade enorme de deuses. Mas, há um Deus que falou com
Abraão, Isaque, Jacó, José e Moisés, e eles se deram conta de que era o mesmo Deus
que havia falado com todos. Havia uma coerência na fala. Havia uma coerência na
ordenança. Então, começaram a celebrar festas para que contassem aos seus filhos o
que eles ouviram e experimentaram deste Deus na história. Daí surge a tradição oral.
V. As canções e as poesias
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O Salmo 78 diz “ aquilo que contaram nossos pais, nós não ocultaremos de nossos
filhos, nós contaremos as gerações vindouras os poderosos feitos do nosso Deus”.
Israel começa a interpretar não só a sua gênese como nação, mas, especialmente, o
seu evento fundante, o Êxodo. E o Êxodo está absolutamente relacionado ao Deus que
falou com Abraão, Isaque, Jacó, José e Moisés no Egito. As canções e poesias deste
povo. Cântico de Miriam (ex 15.21), Cântico de Débora (jz 5.1-31), o Lamento de Davi
sobre Saul (1 Sm 1.17-27), a Oração de Consagração de Davi no primeiro livro das
Crônicas 29. Estas canções vão se tornando parte da cultura da tradição oral de Israel.
Os Salmos da poesia hebraica eram o hinário desta cultura de Israel.
A aliança de Deus feita com Abraão era renovada de tempos em tempos. Foi renova da
por Josué (js 24.14) e pelos reis, por exemplo, Ezequias (2 Cr 29-31) e Josias (2 Cr 34-
35).
Davi e Golias, 1 Sm 17 – o duelo não pra identificar quem é o mais forte, o mais hábil, o
mais instrumentado, mas é uma disputa pra ver com que está a justiça, ou seja vamos
ver com quem Deus está. A mão de Deus está sobre a cabeça de quem? Do pequenino
Davi ou do grande Golias? O duelo é mais uma evidência de Deus na vida de Israel.
VIII. Os profetas
Temos os ditos proféticos tanto de Israel como reino unido ou dividido. Foram 120
anos de Israel como Reino unido. 40 anos de reinado de Saul, 40 anos de reinado de
Davi e 40 anos de reinado de Salomão. Após a morte de Salomão o Reino de divide em
Reino do Norte, Israel e Reino do Sul, Judá. Existem profetas profetizando no Reino do
Norte e profetas no Reino do Sul. É nesta história que Deus é percebido, todos estes
homens e estas mulheres, Débora, Rute, Ester, Raabe vão contando suas histórias,
suas vivências. Através destas narrativas de histórias, destas festas celebradas, destes
heróis que são guardados na memória de Israel, é que Israel percebe a identidade e o
caráter de seu Deus e, acima de tudo, espera o seu Messias.
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Toda essa história foi sendo contada a partir da tradição oral de geração a geração até
que algumas pessoas tem o insight do Espírito Santo para registrar a tradição oral em
texto. Aí o que acontece é que no próprio tempo de Jesus, Jesus cita os textos, os textos
Sagrados da tradição de Israel. Jesus cita Moisés, os Salmos e os profetas. Jesus cita os
textos Sagrados de Israel mostrando que esses texto sempre apontaram para Ele, Jesus –
o Messias, prometido.
De acordo com apóstolo Pedro a Bíblia foi produzida por homens impelidos pelo Espírito
de Deus, não é da cabeça deles que eles falam, o que eles falam vem de fora. Interessante
isso, mas como é que vem de fora? A Bíblia vai dar alguns relatos interessantes:
Voz (1 Sm 3)
1. Acontecimentos e experiências
As pessoas vivem os fatos e tem suas experiências.
2. Interpretação e formulação
Depois, elas precisam interpretar esses fatos e experiências para formular suas crenças a
respeito destes acontecimentos. Elas começam a depurar a sua percepção do divino, que
voz foi essa que eu ouvi, de onde veio, que imagem foi essa que eu vi. Quando no
banquete do rei Belssazar aparece um dedo escrevendo na parede, que fenômeno é
esse? Eles interpretam e assumem crenças e convicções.
3. Assimilação
A partir daí eles tomam como verdadeira a interpretação e assimila aquilo como uma
experiência do divino, daquele Deus que falou com Abraão, Isaque e Jacó. Eles percebem
uma identidade que vai entrelaçando todas essas evidências históricas. Eles começam a
relacionar os acontecimentos a Deus e as revelações de Deus ao longo da história.
4. Transmissão oral
5. Escritura
6. Cânon
7. Traduções
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Por que acreditamos que a Bíblia é Palavra de Deus? (extraído de Carlos Mesters)
Acho essa frase extraordinária. Depois de 2000 anos depois que Jesus de Nazaré pisa na
Palestina e vive como vive, faz o que faz, diz o que diz, morre como morre e é tido como
ressurreto pela comunidade dos discípulos, esse fim, esse fim da história quando é olhada de
frente pra trás pelos discípulos de Jesus eles conseguem perceber que o fim a que chegou tem
tudo a ver com o começo e com tudo o que foi dito ao longo da história de Israel - pela Torá,
pelos Escritos e pelos Profetas – de que se chegaria ali mesmo. Por isso, na estrada de Emaús
Jesus explica aos dois discípulos que tudo o que aconteceu com ele estava escrito que
aconteceria em Moisés e nos Profetas.
2. O novo olhar nasce do Espírito (Jo 14.15-17,25-26; 15.26-27; 16.6-15; Ez 36.26; Jl 2.28-32;
At 2.33; 1 Co 12.1-3)
Jesus faz promessas aos seus discípulos de que Ele está morrendo, está voltando para o Pai,
mas que Ele enviaria o Espírito Santo. Essa promessa já existia na tradição de Israel, nos
profetas. Ezequiel, Joel. No pentecostes de Atos o Espírito é derramado. Este novo olhar
depois do derramar do Espírito, faz com que Israel enxergue na história a coerência de todo o
processo da revelação de Deus. “A ação inspiradora de Deus no Antigo Testamento era como
um filete (rastilho) de pólvora, cuja cor era igual à cor da terra. Antes, já se sabia da sua
existência e do seu destino, mas não se conhecia ainda seu traçado preciso nem o conteúdo
concreto desse traçado. Esse filete estava sendo conduzido por Deus até chegar ao fogo. No
momento em que Cristo chega, ressuscita e comunica o Espírito, o fogo se acende e se estende
à pólvora, iluminando, de repente, o seu traçado invisível” ao longo de 2000 anos atrás, Carlos
Mesters.
É o que chamamos de Cânon Bíblico. Cânon é uma palavra grega que designava uma vara de
medir; regra, norma, critério. O Cânon do Novo Testamento ficou definitivamente fixado na
segunda metade do Século IV. Nós temos 350 anos de cristianismo sem Bíblia. Temos
inúmeros textos que circulam entre as comunidades cristãs. Somente na segunda metade do
Século IV, no Oriente no concílio de Laodicéia 363 d.C. chegou-se a conclusão de quais eram os
livros que deveriam compor a Bíblia. E no Ocidente em Hipona 393 d.C. , Cartago 397 d.C. e
Papa Inocêncio I, em 405 d.C. ratificou a seleção dos livros que compunham a Bíblia.
1. Bíblia hebraica: Cânon Palestinense judaico – Sínodo na cidade de Jâmnia, 100 d.C.
2. Septuaginta (LXX): Cânon Alexandrino no Século III – é o Antigo Testamento (Bíblia
Hebraica) traduzido para o grego.
3. Deuterocanônicos: Aqui começa uma confusão. São os sete livros que não constavam
no cânon Palestinense da Bíblia Hebraica, que foram incluídos na Septuaginta no
Século III. Esses livros não são aceitos pelo judaísmo e nem pelo protestantismo.
4. Vulgata: Quando São Jerônimo faz a Vulgata no Século IV, que é a tradução latina da
Bíblia, ele inclui os sete livros a mais que a LXX continha.
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5. Lutero: Quando em 1534, Lutero faz uma tradução da Bíblia para o Alemão, ele não
inclui os sete livros a mais. Por isso, a tradução de Lutero é chamada de a Bíblia
protestante.
1. Antiguidade – Nenhum texto escrito depois de Esdras foi incluído na Bíblia Hebraica.
Nenhum texto escrito fora do território de Israel foi incluído na Bíblia Hebraica.
Nenhum texto que não fosse em Hebraico foi incluído na Bíblia Hebraica.
2. A universalidade/catolicidade – só incluíram textos em que todas as comunidades de
então considerava Sagrados.
3. Coerências dos textos
4. Evidência Internas nas Escrituras – quando o próprio texto confirma a inspiração
Bíblica, 2 Pe 2.18-20, 2 Tm 3.16.
5. Regula Fidei – textos adotados como regra de fé e prática
6. Reconhecimento das autoridades cristãs
7. Um livro protegido durante o martírio
Conclusão