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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

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LAVAGEM DE CAPITAIS LEI Nº 9.613/98. .........................................................................................2
LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS LEI Nº 9.034/95. ...........................................................17
CRIMES PREVIDENCIÁRIOS E CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA..........................................25
JECRIM COMENTADA LEI Nº 9.099/95..............................................................................................34
REPÚDIO AO RACISMO LEI Nº 7.716/89............................................................................................54
CRIMES HEDIONDOS LEI Nº 8.072/90. ..............................................................................................59
TORTURA LEI Nº 9.455/97.....................................................................................................................73
DROGAS LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006. .....................................................................80
LEP LEI Nº 7.210/84. ................................................................................................................................99
MARIA DA PENHA LEI Nº 11.340/06. ................................................................................................119
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA LEI Nº 9.296/96.........................................................................127
CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE LEI Nº 9.605/98. ............................................................136
ABUSO DE AUTORIDADE LEI Nº 4.898/65 ......................................................................................156
CONTAVENÇÕES PENAIS DECRETO-LEI Nº 3.688/41.................................................................167
CRIMES DE TRÂNSITO LEI Nº 9.503/97. .........................................................................................183
IDENTIFICAÇÃO PESSOAL LEI Nº 5.553/68 ..................................................................................196
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL LEI 12.037/09....................................................................................197
CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR LEI Nº 8.078/90. ..................................................................199
CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO – LEI 7.492/86.....................................................207
ESTATUTO DO DESARMAMENTO - LEI 10.826/03.......................................................................211
CRIMES CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE – LEI Nº 8.069/90...................................221
CRIMES ELEITORAIS..........................................................................................................................239
DIREITOS HUMANOS..........................................................................................................................255

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

LAVAGEM DE CAPITAIS LEI Nº 9.613/98.

1. HISTÓRICO
Surge na convenção das nações unidas contra o tráfico ilícito de substâncias
entorpecentes, concluída em Viena em 20-12-88. Ratificada no Brasil pelo decreto 154
de 26-06-91.

2. A EXPRESSÃO LAVAGEM DE DINHEIRO


Money Laudering: 1920. Chicago, tendo em vista das aparente origem lícita pelos
mafiosos. Portugal e Espanha, braqueamento de capitais.

3. CONCEITO DE LAVAGEM
O processo por meio do qual bens, direitos ou valores provenientes direta ou
indiretamente dos crimes listados no art. 1 da presente lei são integrados ao sistema
econômico financeiro, com a aparência de terem sido obtidos de maneira lícita. Assim,
melhor é combater a movimentação financeira. Isto posto, eis o rol taxativo do artigo
citado.

Um mero depósito de cheque configura lavagem?


R: Sim, pois não é necessário um vulto assustador das quantias envolvidas. STF

4. GERAÇÕES DE LEIS DE LAVAGEM DE CAPITAIS


Legislação de primeira geração: o único crime antecedente era o de tráfico de drogas.
Legislação de segunda geração: há uma ampliação no rol dos crimes antecedentes.
Numerus clausus. Ex: legislação brasileira
Legislação de terceira geração: qualquer crime grave pode figurar como crime
antecedente da lavagem de capitais. Ex: Espanha e Argentina. Ressalte-se que tramina
no CN projeto que visa tornar a lei em comento em espécies de terceira geração
(numerus apertus).

5. FASES DA LAVAGEM DE CAPITAIS (Direito norte-americano)


Colocação (placement): consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema
financeiro...fase ideal para a descoberta pela proximidade a origem. A exemplo, eis uma
das técnicas denominada Smurfing: consiste no fracionamento de uma grande
quantidade de dinheiro em pequenos vaores, de modo a escapar do controle
administrativo imposta às instituições financeiras.
Dissimulação (layering): uma série de negócios ou movimentações financeiras são
realizadas a fim de impedir o rastreamento de valores.
Integração (integration): já com a aparência lícita, os bens são formalmente
incorporados ao sistema econômico, seja por meio de investimento no mercado
mobiliário ou imobiliário, seja até mesmo no refinanciamento das atividades ilícitas.
Caso EUA. Franklin jurado (economista colombiano que lavou 26 milhões de dolares -
não é necessária a ocorrência dessas 3 fases para que aja a consumação do delito. Um
merro depósito já é o bastante. (STF RHC 80816)

6. BEM JURÍDICO TUTELADO


1ª corrente: a lei tutela o mesmo bem jurídico pelo crime antecedente.
2ª corrente: seria a administração da justiça. Rodolfo Tigre Maia.
3ª Corrente (é a que prevalece): ordem econômico financeira. MPF 2007

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4ª Corrente: a ordem econômico financeira e o bem jurídico tutelado pelo crime


antecedente. Alberto silva franco.

7. ACESSORIEDADE DA LAVAGEM DE CAPITAIS – o delito de lavagem de


capitais é um delito acessório, ou seja, a palavra crime citada no art. 1 funciona como
uma elementar do delito de lavagem de capitais.

Pergunta-se: os dois delitos precisam ser processados no mesmo processo?


Resposta:. II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos
no artigo anterior, ainda que praticados em outro país; (em relação aos processos
criminais, deve ser registrado que os processos são autònomos, ou seja, o agente não
precisa responder obrigatóriamente pela lavagem e pelo crime antecedente num mesmo
processo. mas poderá ser por conexão probatória.)

E se for possível juntar o processamento dos dois delitos?


Não é obrigatório, mas se for possível poderá ser feito por meio da CONEXÃO
PROBATÓRIA. Facilita o trabalho para que haja condenação.
Os processos criminais pelo delito de lavagem de capitais e pelo crime antecedente não
necessariamente precisão tramitar juntos, o que no entanto não impede a reunião das
ações penais em virtude de conexão probatória instrumental. STJ HC 59663.

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: (AGU 2009) II -
independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo
anterior (art. 1 cita os crimes), ainda que praticados em outro país;

Sobre a condenação - Art. 2º § 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da


existência do crime antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que
desconhecido ou isento de pena o autor daquele crime.

Se o autor do crime antecedente for absolvido?

§ 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência do crime


antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou
isento de pena o autor daquele crime.
Se o autor do crime antecedente for absolvido, pode o acusado ser condenado pelo
crime de lavagem de capitais?
Depende do fundamento da absolvição. para que o delito de lavagem de capitais seja
punível, a conduta antecedente (crime) deve ser típica e ilícita – princípio da
acessoriedade limitada – portanto, caso o autor do crime antecedente seja absolvido com
base na atipicidade de sua conduta ou com base em uma excludente de ilicitude, não
será possível a condenação por lavagem.
“CPP - Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva,
desde que reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato;
III - não constituir o fato infração penal;
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20,
21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal)...“ (excludente da ilicitude)

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...porém se o autor do crime antecedente for absolvido com base em uma excludente da
culpabilidade, ou em virtude de uma causa extintiva da punibilidade, nada impede a
condenação por lavagem de capitais.

mas há duas causas extintivas da punibilidade que impedem que haja condenação, pois
essas duas causas restam afastadas o caráter criminoso da conduta.
nas hipóteses de abolitio criminis e anistia não será possível a condenação de lavagem
de capitais.(doutrina).

8. SUJEITOS DO CRIME: crime comum.

O autor do crime antecedente também responde pelo delito de lavagem? TRF 1.

1ª corrente: o autor do crime antecedente não responde por lavagem de capitais, pois
para ele a ocultação dos valores configura mero exaurimento do delito. (favorecimento
real.
art. 349 - prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio
destinado a tornar seguro o proveito do crime) Roberto Delmanto.

2ª Corrente (é a que prevalece): nada impede que o autor do crime antecedente seja
também condenado pelo delito de lavagem de capitais. Não é possível a aplicação do
princípio da consunção, pois a ocultação do crime antecedente configura lesão
autônoma contra bem jurídico distinto. O autor do delito de lavagem de capitais, não
necessariamente precisa ter tido participação no crime antecedente, devendo ter
consciência quanto a origem ilícita dos valores. (STJ RMS 16813).

E a pessoa jurídica pode responder por lavagem de capitais?


De acordo com a Constituição é possível a prática de Crimes ambientais e contra a
ordem econômico financeira.
Cf - 173§ 5º - a lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da
pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições
compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e
financeira e contra a economia popular.
Apesar da previsão constituçional, a lei de lavagem de capitais somente prevê a
responsabilidade penal da pessoa física.
Sujeito passivo do delito – o Estado.

9. TIPO OBJETIVO – análise da conduta incriminada do Art. 1º.


Ocultar: (ESCONDER A ORIGEM DA COISA – CRIME PERMANENTE) ou Crime
cometido anteriormente a vigência da lei.
Ocultar é crime permanente, ou seja, crime cuja consumação se prolonga no tempo.
Portanto, mesmo que o agente tenha dado início a ocultação em momento anterior a
entrada em vigor da lei, responderá normalmente pelo delito se mantiver os depósitos
após a entrada em vigor da lei.

Dissimular Tipo objetivo: o crime de lavagem de capitais é um crime de ação multipla


ou de conteúdo variado, portanto mesmo que o agente pratique mais de uma ação típica
em um mesmo contexto fático responderá por um único delito. (princípio da
alternatividade)

DISSIMULAR (OCULTAÇÃO COM FRAUDE)

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Súmula 711 STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Prevalece o entendimento na doutrina que se trata o art. 1 de um crime formal o


resultado dentro do tipo penal. Porém há julgado que determina sendo material RHC
80816.

Cuidado
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, § 1º Incorre na mesma pena quem, para
origem, localização, disposição, ocultar ou dissimular a utilização de bens,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes de
direitos ou valores provenientes, direta ou qualquer dos crimes antecedentes
indiretamente, de crime: referidos neste artigo:
Crime material Crime formal

10. TIPO SUBJETIVO

O delito de lavagem de capitais também é punido a título de dolo eventual, salvo nas
hipóteses do art. 1 § 2 somente em que se admite dolo direto. § 2º Incorre, ainda, na
mesma pena quem: I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos
ou valores que sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos
neste artigo; II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de
que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta
Lei.

TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA WILFULL BLINDNESS – ORIGEM NO


DIREITO NORTE AMERICANO –.TAMBÉM DENOMINADA..INSTRUÇÕES
DA AVESTRUZ – OSTRICH INSTRUCTIONS
Se o agente tinha conhecimento da elevada possibilidade que os bens, direitos ou
valores eram provenientes de crime, e agiu de modo indiferente a esse
conhecimento, responde pelo delito de lavagem de capitais a título de dolo
eventual.

Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:

I - dispensarão especial atenção às operações que, nos termos de instruções


emanadas das autoridades competentes, possam constituir-se em sérios indícios dos
crimes previstos nesta Lei, ou com eles relacionar-se;COAF

II - deverão comunicar, abstendo-se de dar aos clientes ciência de tal ato, no prazo
de vinte e quatro horas, às autoridades competentes: (movimentações suspeitas)

Alguns exemplos citados Art. 9: X - as pessoas jurídicas que exerçam atividades de


promoção imobiliária ou compra e venda de imóveis;
XI - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem jóias, pedras e metais
preciosos, objetos de arte e antigüidades.

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XII – as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou de alto


valor ou exerçam atividades que envolvam grande volume de recursos em espécie.

11. OBJETO MATERIAL

O art. 1 cita produto direto e indireto.

PRODUTO DIRETO DO CRIME – PRODUCTA SCELERIS – é o resultado imediato


do delito. Ex: objeto furtado, dinheiro obtido com a venda da droga

PRODUTO INDIRETO – FRUCTUS SCELERIS – configura o resultado mediato do


delito, ou seja, é o proveito obtido pelo criminoso como resultado da utilização
econômica do produto direto do delito. (ACESSORIEDADE) :ADMITE DOLO
EVENTUAL)

12. CRIMES ANTECEDENTES

Regra 1: ainda que o crime proporcione ao agente a obtenção de bens, direito e valores,
não será possível a configuração do crime de lavagem de capitais se esse delito
antecedente não estiver listado no art.1 da lei (rol taxativo). Ex: Roubo.
Regra 2: mesmo que esse crime antecedente esteja listado no art. 1, para que seja
possível a lavagem de capitais, dele deverá resultar a obtenção de bens, direitos e
valores. Ex: prevaricação. Mas se ganhar dinheiro, caracteriza-se como corrupção.

No rol dos crimes antecedentes não constam contravenções (jogo do bicho), crimes
contra a ordem tributária e tráfico de animais.

“I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;”

Qual é o primeiro crime antecedente da lavagem de capitais? Tráfico de


drogas.Onde está previsto o delito de tráfico de drogas? Utilizando o disposto no art.
44 da lei de drogas, é possível dizer que os crimes do art. 33 caput e parágrafo 1, art. 34,
art. 36 e art. 37 são tidos como tráfico de drogas. Mas lembra-te que da associação não
resultará proveito econômico, assim da associação não resultará lavagem de capitais.
__________________________

“II – de terrorismo e seu financiamento;”


Existe o crime de terrorismo no Brasil?
1ª corrente (Antonio Scaranzi Fernandes) – previsto no art. 20 lei 7170/83. Lei dos
crimes contra a segurança nacional) crítica – não prevalece – “atos de terrorismo” uma
expressão dentro de um tipo penal demanda certo juízo de valor trata-se de um elemento
normativo (elemento constante do tipo penal que demanda um juízo de valor para a sua
compreensão). A utilização indiscriminada de elementos normativos viola o princípio
da taxatividade porque causa insegurança jurídica.

2ª corrente - não existe o crime de terrorismo no Brasil por se tratar de uma expressão
indeterminada violando o princípio da taxatividade.

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Terrorismo praticado no exterior

Par a doutrina, mesmo que o crime de terrorismo seja tipificado no exterior, não será
punível o delito de lavagens de capitais praticado no Brasil, pois a conduta deve ser
considerada criminosa no Brasil. (princípio da dupla tipificação) André Calegari.
______________________________
“III - de contrabando ou tráfico de armas Previsão legal art.. 17 E 18 DA LEI
10.826/03 E LEI DE SEGURANÇA NACIONAL art.12 7.170/83), munições ou
material destinado à sua produção;"
________________
“IV - de extorsão mediante seqüestro;” 159 CP
_____________
“V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem,
direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a
prática ou omissão de atos administrativos;” Previsão legal: 312 À 359H CP,
LICITAÇÕES 8666/93 E DECRETO LEI 201/67 (PREFEITOS E VEREADORES)
Resta clara a exceção da prevaricação, pois não se caracteriza a obtenção de bens e
valores.
_________
“VI - contra o sistema financeiro nacional Lei 7492/86 e 6385/76;”
________________
“VII - praticado por organização criminosa”. Cumpre dizer que esta ampliação não
configura uma interpretação para que seja esta lei classificada como de terceira geração.

Não se confunde quadrilha, associação criminosa e organização criminosa.

Quadrilha - art.288 CP. É a associação estável e permanente de mais de 3 pessoas com


o fim de praticar uma série indeterminada de crimes. Trata-se de crime autônomo
consumando-se independentemente da prática dos delitos para os quais os agentes as
associaram.

E se a quadrilha já associada praticar os delitos? Se os delitos forem praticados,


responderão os agentes pelos respectivos crimes em concurso material com o delito de
quadrilha.

Associação criminosa - união estável e permanente de 2 ou mais pessoas para a prática


de crimes específicos (drogas art. 35), art. 2 2889/56 (genocídio 3 pessoas), lei de
segurança nacional (7.170), art. 16 e 24, esta sem número mínimo de integrantes.

Organização criminosa
1ª: Convenção de Palermo (incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro pelo decreto
legislativo 231-2003 – ano 2000) crime organizado transnacional. É o grupo estruturado
de 3 ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando com o fim de cometer
infrações graves, com intenção de obter benefício econômico ou moral. TRF 4ª região.
Capez.

2ª corrente: LFG. tratados internacionais não podem definir um crime, sob pena de
violação ao princípio da legalidade especificamente em uma de suas garantias, a
garantia da lex populi (lei penal incriminadora é aquela que provém do Poder
Legislativo não havendo, no Brasil, definição conceitual legal de organização

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criminosa. Tramitam no CN três projetos de lei a definição de organização criminosa Pl


3731/1997, 118 do Senado e 7223.
A PL 7323 de 2002 conceitua que a organização criminosa resulta da presença de pelo
menos 3 das seguintes características:
• Hierarquia estrutural
• Planejamento empresarial
• Uso de meios tecnológicos avançados
• Recrutamento de pessoas
• Divisão funcional das atividades
• Conexão estrutural ou funcional com o poder público
• Oferta de prestações sociais
• Divisão territorial das atividades ilícitas
• Alto poder de intimidação
• Alta capacitação para a prática de fraude
• Conexão local, regional, nacional ou internacional com outra organização
criminosa.
______________
VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira
(arts. 337-B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal). - NÃO INCIDE A CAUSA DE AUMENTO DE PENA DO § 4 DO
ART. 1§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços, nos casos previstos nos incisos
I a VI do caput deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou por
intermédio de organização criminosa. Em 1998 não existia o inciso VIII o qual foi
introduzido em 2002.

13. DELAÇÃO PREMIADA

Vale ressaltar a diferença entre delação e colaboração premiada. Na delação se aponta


coautores e partícipes. Na colaboração premiada ajuda-se o Estado sem o apontamento
de coautores e participes. Exemplifica-se a localização do seqüestrado ou dos bens da
lavagem.

Natureza jurídica da delação: causa de diminuição de pena.


Da delação na lei de lavagem de capitais revelam-se três benefícios: 1) diminuição da
pena e fixação do regime inicial aberto, 2) substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos e 3) perdão judicial com a conseqüente extinção da
punibilidade.
§ 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime
aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos,
se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades,
prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua
autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Valor probatório da delação: não outra prova apenas a delação. Delação premiada por
si só, não é fundamento suficiente par um decreto condenatório. Questão para
Delegado>> Tanto a autoridade policial quanto o MP devem alertar os indiciados e
acusados sobre os benefícios que poderão resultar na hipótese de colaboração. Caso haja
consenso, pode ser lavrado um acordo sigiloso entre acusação e defesa a ser submetido
ao juiz para homologação. STF HC 90688 e RE 213937.

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Legislação que prevêem a delação premiada


• Art. 25 § 2 lei 7492/86 crimes contra o sistema financeiro
• Art. 8 § Único hediondos 8072/90
• Art. 159 § 4 do CP
• Art. 16 § Único 8137/90 Ordem Tributária
• Art. 6 lei 9034/95 Organizações Criminosas
• Art. 1 § 5 lei 9613/98
• Art. 35 b e 35 c lei 8884/94 (lei dos cartéis) – denomina-se nesta lei a delação
premiada como acordo de leniência, brandura ou doçura.
• Art. 13 e 14 9807/99 proteção às testemunhas
• Art. 41 da lei 11.343/06 drogas

Obs. Deixados supra, aspectos penais. Infra, aspectos processuais.

14. PROCEDIMENTO

Atenção para a lei 11.719/08 que alterou os procedimentos.

“CPP Art. 394. O procedimento será comum ou especial.


§ 1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:

I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou
superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; (LEI DE LAVAGEM É DE
3 A 10 ANOS DE RECLUSÃO) assim sendo, não mais vigora a disposição do Art.
2º I – obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos crimes punidos
com reclusão, da competência do juiz singular;

II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja
inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;

III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma


da lei. (JUIZADOS ESPECIAIS, TODAS AS CONTRAVENÇÕES, E CRIMES CUJA
PENA MÁXIMA NÃO SEJA SUPERIOR A 2 ANOS, CUMULADA OU NÃO COM
MULTA, SUBMETIDO OU NÃO A PROCEDIMENTO ESPECIAL).

15. AUTONOMIA DO PROCESSO

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: (AGU 2009) II -
independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo
anterior (art. 1 cita os crimes), ainda que praticados em outro país;

Os processos criminais pelo crime de lavagem de capitais e pelo crime antecedente não
necessariamente precisam tramitar juntos, o que no entanto não impede a reunião das
ações penais em virtude de conexão probatória ou instrumental. STJ HC 59663.

Mesmo que a lavagem seja praticada no estrangeiro, também estará sujeita a lei
brasileira. (extraterritorialidade condicionada da lei brasileira)

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CP Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os


crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

16. COMETÊNCIA CRIMINAL

“CF---Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

Abstrai-se do dispositivo supra que os crimes contra a ordem econômico-financeira é


competência da Justiça Estadual, salvo se a lei expressar que seja da Justiça Federal.
Adulteração de combustível e de competência da Justiça Estadual.

Em regra o delito de lavagem de capitais será de competência da Justiça Estadual.


Porém a competência será da Justiça Federal: STJ HC11462

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira,


ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas;

b) quando o crime antecedente for de competência da Justiça Federal.”

17. CRIAÇÃO DE VARAS ESPECIALIZADAS

No ano de 2003, o conselho da justiça federal editou a resolução número 314,


determinando que os TRFs criam varas especializadas em crimes contra o sistema
financeiro nacional e de lavagem de capitais. A partir de 2004 diversas resoluções e
provimentos foram editados pelos TRFs. (TRF3 provimentos238 e 275). Esses
provimentos, além de especializarem varas criminais, determinaram que a essas varas
fossem remetidos os processos criminais em andamento em outras varas.
Questiona-se então se teria havido uma violação ao princípio do juiz natural.
CF art. 5 XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; LIII - ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

DESSES PRICÍPIOS DERIVAM 3 REGRAS:


1. Só podem exercem jurisdição os órgãos instituídos pela constituição.
2. Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato delituoso
3. Entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que
exclui qualquer possibilidade de discricionariedade.

No julgamento do HC 86660, o Supremo entendeu que apesar da ilegalidade da


resolução 314 do conselho da Justiça Federal, as resoluções dos tribunais seriam
válidas, na medida em que a especialização de varas seria autorizada pelo art. 12
5.010/66. A resolução do Conselho da Justiça Federal só tem atribuições administrativas
não podendo regulamentar tais matérias por meio de resoluções sendo plenamente
válidos por estar dentro do poder de auto-organização dos tribunais.

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Questiona-se a validade dos processos. É possível ta remessa?


PERPETUATIO JURIDICTIONIS STJ/CC 57838 HC 41643 – É VÁLIDA A
REMESSA PARA VARA.
“CPC Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta
(a ação termina perante o juízo em que teve início). São irrelevantes as
modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo
quando
1. suprimirem o órgão judiciário (Extinção do órgão judiciário) ou
2.alterarem a competência em razão da matéria ou
3. alterarem a competência em razão da hierarquia. “

18. REQUISITOS DA DENÚNCIA

Art. 2º § 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência do crime


antecedente
TEORIA DA JUSTA CAUSA DUPLICADA – além de indícios quanto à lavagem de
capitais, a denúncia deve também trazer um lastro probatório quanto a origem ilícita dos
valores (crime antecedente), sob pena de inépcia da peça acusatória.

19. APLICAÇÃO DO ART. 366 DO CPP

O único efeito da revelia é a desnecessidade de intimação do acusado para a prática dos


demais atos processuais, salvo na hipótese de sentença penal condenatória. Existe
revelia no processo penal a quem foi citado ou intimado pessoalmente deixa de
comparecer. Então o juiz decreta a revelia. Não há presunção de veracidade.

APLICAÇÃO DO CPP - Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer,
nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo (NORMA PROCESSUAL) e o
curso do prazo prescricional (NORMA MATERIAL), podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Caso o autor tenha praticado crime em 1995, a seguir eis que se tem o vigor do presente
artigo em comento, sendo que finalmente resta o autor citado por edital em 1997 e este
não comparece e sequer constitui advogado.
Neste caso em tela aplica-se o art. 366 CPP?
Vale lembrar que norma processual tem aplicação imediata e a norma penal prejudicial
não retroage (salvo se for benéfica) o que não é o caso, pois a suspensão do prazo
prescricional é prejudicial.

O artigo 366 CPP é uma norma de natureza híbrida, aplicando-se a regra do direito
intertemporal referente à norma de direito material. Portanto a regra do art. 366 do CPP
somente se aplica aos crimes cometidos após a entrada em vigor da lei 9271/96.

PRAZO MÁXIMO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO E DA PRESCRIÇÃO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

1ªPosição: admite-se como tempo máximo da suspensão do processo o tempo máximo


de prescrição previsto no código penal, quando então deverá ser declarada extinta a
punibilidade. Tempo de 20 anos como prazo máximo.

2ªPosição: admite-se como tempo de suspensão do processo o tempo de prescrição pela


pena máxima em abstrato do crime, após o que a prescrição voltaria a correr novamente.

3ªPosição: A prescrição e o processo deverão permanecer suspensos por prazo


indeterminado. É a que prevalece. STF RE 460971

Art. 2º § 2º No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art.
366 do Código de Processo Penal.

O art. 2 parag. 2 da lei 9613/98 expressa pela não aplicabilidade do 366 CPP, porém em
seu art. 4 parag. Afirma quanto a aplicabilidade do mesmo dispositivo.

Para a doutrina, apesar da antinomia, é possível a aplicação do art. 366 do CPP. Para
efeito de proa objetiva não se aplica o dispositivo em comento.

20. LIBERDADE PROVISÓRIA

Trata-se de uma medida de CONTRA-CAUTELA que substitui a prisão em flagrante.

Em caso de prisão em flagrante, deve-se primeiramente se há vício formal ou material


para que se proceda o relaxamento de prisão não cabendo o pedido de liberdade
provisória. Mas se todos os aspectos formais foram respeitados, resta o pedido de
liberdade provisória.

Cabe liberdade provisória em relação a qualquer delito?


Não cabe liberdade provisória nos seguintes crimes:
ART. 31 7.492/96 – ART. 2 , II 8072/90 – ART. 7 9034/95 (Org. criminosas) – ART. 1
§ 6 DA LEI 9455/97 Tortura)- ART. 14 PARÁG. ÚNICO. 15 § ÚNICO E 21 estatuto
do desarmamento – ART. 44 lei de drogas – ART. 3 LEI 9613/98 lei em comento.

Art. 3º Os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de fiança e liberdade


provisória e, em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o
réu poderá apelar em LIBERDADE.

Poderia o legislador de forma abstrata, vedar a concessão de liberdade provisória


a determinado delito?
Observa-se que a prisão em flagrante é espécie de prisão cautelar esta somente se
justifica da necessidade do caso concreto sob pena de violação do princípio de
presunção de inocência. Ao vedar a liberdade provisória a determinado delito, o
legislador retira do poder judiciário a análise de sua necessidade no caso concreto
criando-se então verdadeira prisão automática par aquele que foi preso em flagrante.
Como toda e qualquer prisão cautelar ela somente se justifica somente mediante o caso
concreto. Para que não haja violação ao princípio da presunção de não-culpabilidade.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

ADIN 3112 – O STF DECLAROU A INCONSTITUCIONALIDADE DOS


ARTIGOS 14 PARA. ÚNICO, 15 PARÁGRAFO ÚNICO E 21 DA LEI 10826/03
(Estatuto do desarmamento) TENDO EM VISTA A VEDAÇÃO ABSTRATA DE
LIBERDADE PROVISÓRIA. Atenção para a lei 8072/90 com redação determinada
pela lei 11.464/07.

11.464/07 CABE LIBERDADE PROVISÓRIA (SEM FIANÇA) PARA CRIMES


HEDIONDOS E EQUPARADOS.

Para o STF a norma do art. 44 da lei de drogas é especial em relação

Para o Supremo a norma do art. 44 da lei de drogas é especial em relação ao art. 2 inc II
da lei 8072, não cabendo liberdade provisória com ou sem fiança no caso da lei de
drogas Para o autor do tráfico de drogas, continua valendo a vedação da liberdade
provisória ou fiança. Pois o tráfico de drogas é da clientela do processo penal.

21. RECURSO EM LIBERDADE

REGRAS:
Se o acusado estava em liberdade quando da sentença condenatória, deve
permanecer solto, salvo se surgir alguma hipótese que autorize sua prisão preventiva.
Por outro lado, se o acusado estava preso quando da sentença condenatória recorrível,
deve permanecer preso, salvo se desaparecer a hipótese que autorizava a sua prisão
preventiva. Recolhimento à prisão para recorrer não é mais válido. Para o STF o art. 595
do CPP também está revogado. A fuga do réu não será mais considerada causa de
extinção anômala do recurso.

22. RECOLHIMENTO À PRISÃO PARA RECORRER

O revogado art. 594 previa como condição de admissibilidade recursal, o recolhimento à


prisão bem como a Súmula 9 STJ (já superada) dzendo que a garantia da presunção da
inocêcnia não é ofendida diante a exigibilidade da prisão. Mas a partir do HC 88420
reconhece que a convenção Americana de Direitos Humanos assegura o direito ao duplo
grau de jurisdição independentemente do recolhimento a prisão. Desta feita, diante a
SÚMULA 347 STJ – O CONHECIMENTO DE RECURSO DE APELAÇAO DO RÉU
INDEPENDE DE SUA PRISÃO.

A CONVENÇAO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Art 8 intem 2 letra h


Direito de recorrer da sentença a o juiz ou tribunal superior.
“Art. 8o - Garantias judiciais 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se
presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.”

“CPP Art. 387. Parágrafo único. O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a


manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida
cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.”

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

23. RECUPERAÇÃO DE ATIVOS E MEDIDADS CAUTELARES

Um dos principais objetivos da criminalização da lavagem de captais e o ataque ao


braço financeiro das organizações criminosas pelos seguintes motivos:
• O confisco de bens e valores promove a asfixia econômica da organização
criminosa
• Insuficiência e ineficiência das penas privativas de liberdade.
• Capacidade de controle das organizações criminosas do interior dos presídios
• Rápida substituição dos administradores das organizações criminosas

23.1 APREENSÃO
Trata-se de medida cautelar como o objetivo de apreender coisas, objetos ou
documentos de interesse para o processo. art. 240 CPP.

BUSCA EM APREENSÃO EM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA

Atenção para as alterações da lei 8906/94 pela lei 11767/08. Mandado de busca
e apreensão deve ser específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de
representante da OAB, sendo vedada à utilização de documentos, mídias e objetos
pertencentes a clientes do advogado averiguado, salvo se tais clientes também estiverem
sendo investigados como partícipes ou co-autores pela prática do mesmo crime que deu
origem ao mandado (período diurno – mas pode se prolongar durante a noite caso se já
iniciada). Vale dizer que autoridades fazendárias também dependem de autorização
judicial para ingressar em domicílio.

23.2 SEQUESTRO

Sequestro pode na presente lei: medida asecuratória fundada no interesse


público, antecipativa do perdimento de bens como efeito da condenação, no caso de
bens que sejam produto de crime ou adquiridos pelo agente com a prática do ato
criminoso. Recai sobre o bem litigioso. Vale ressaltar que o arresto não pode se dar no
que tange a lei em comento. Arresto é uma medida assecuratória fundada no interesse
privado que tem por finalidade assegurar a reparação civil do dano causado pelo delito,
em favor do ofendido ou de seus sucessores. Recai qualquer bem do patrimônio do
agente. O arresto ganha importância com a nova redação do cpp - independentemente de
pedido expresso. “Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor
mínimo para reparação dos danos (materiais)causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido.”

Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou representação da


autoridade policial, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo
indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a
apreensão ou o seqüestro(ARRESTO NÃO) de bens, direitos ou valores do acusado, ou
existentes em seu nome, objeto dos crimes previstos nesta Lei, procedendo-se na forma
dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
Processo Penal.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

De acordo com o dispositivo a cima somente sobre os bens, direitos ou valores sobre os
quais recaiam suspeitas de vinculação com o crime de lavagem de capitais, sendo
inviável que essas medidas recaiam sobre patrimônio diverso. (Pacceli)
(STF INQÉRITO 2248)

§ 1º As medidas assecuratórias previstas neste artigo serão levantadas se a ação


penal não for iniciada no prazo de 120 dias, contados da data em que ficar concluída a
diligência.

23.4. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Para a decretação das medidas cautelares é indispensável a presença de fumus


boni juris e de periculum in mora. Se porventura o acusado tiver interesse na liberação
desses bens durante o curso do processo, cabe a ele comprovar a origem lícita dos bens.
Já no momento da sentença condenatória, o ônus quando a origem ilícita dos bens volta
a recair sobre o MP.

Art. 4º § 2º O juiz determinará a liberação dos bens, direitos e valores apreendidos ou


seqüestrados quando comprovada a licitude de sua origem.

23.5. ALIENAÇÃO ANTECIPADA

Está prevista na lei de drogas 11.343/06 art. 62 a lei autoriza a utilização pela
polícia. mas não está prevista na lei de lavagem. tramita no CN um projeto de lei
criando a alienação antecipada na lei de lavagem de capitais.

§ 3º Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento


pessoal do acusado, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à
conservação de bens, direitos ou valores, nos casos do art. 366 do Código de
Processo Penal.

24. AÇÃO CONTROLADA

Consiste no retardamento da ordem de prisão preventiva, ou de apreensão ou seqüestro


de bens, a fim de que se dê, no momento mais oportuno, sob o ponto de vista da colheita
de provas e identificação dos demais envolvidos.

Art. 4º § 4º A ordem de prisão de pessoas ou da apreensão ou seqüestro de bens, direitos


ou valores, poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua
execução imediata possa comprometer as investigações.

Ação controlada prevista em outras leis:

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

LEI DE DROGAS LEI 11343/06 – art. 53, II - Art. 53. Em qualquer fase da
persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos
previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os
seguintes procedimentos investigatórios:

I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos


órgãos especializados pertinentes;

II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos


ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território
brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes
de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.

LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 9034/95 ART. 2 INC. II nesta lei,


independe de ação judicial – POR ISSO AÇÃO CONTROLADA DESCONTROLADA
por se tratar de ato independente de autorização judicial – definição de Alberto Silva
Franco).

Nas duas leis supracitadas a ação controlada é descrita como FLAGRANTE,


PRORROGADO, RETARDADO OU DIFERIDO.

25. EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:


I - a perda, em favor da União, dos bens, direitos e valores objeto de crime previsto
nesta Lei, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;(TRATA-SE DE
EFEITO GENÉRICO DA CONDENAÇÃO BASTANDO O TRÂNSITO EM
JULGADO)
II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de
diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas
referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada.
(GERENTE DA CEF QUE SEJA OMISSO). (Retorna ao cargo)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS LEI Nº 9.034/95.

Da Definição de Ação Praticada por Organizações Criminosas e dos Meios


Operacionais de Investigação e Prova
Muitos doutrinadores, equivocadamente, definem a feitura desta lei como exemplar do
Direito Penal da Emergência.

DIREITO PENAL DA EMERGENCIA (SERGIO MOCCIA): caracteriza-se pela


quebra de garantias justificada em virtude de uma situação excepcional. A crítica que
recai sobre esse direto penal da emergência é a de que haverá um processo contínuo de
quebra de garantias, criando o que a doutrina chama de situação de perene
emergência.

Alguns doutrinadores referem-se a esta lei tendo sido feita em razão do DIREITO
PENAL DO INIMIGO (JAKOBS): certos indivíduos (não pessoas) são fechados em
relação às normas. Como essas não pessoas não se deixam orientar pelas normas, não
fazem jus às garantias fundamentais. Ex: Guantánamo.

3. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS, QUADRILHA E ASSOCIAÇÕES


CRIMINOSAS SÃO DISTINTOS. (vide observações em lavagem de capitais)

4. CRIME ORGANIZADO POR NATUREZA NÃO SE CONFUNDE COM O


CONCEITO DE CRIME ORGANIZADO POR EXTENSÃO.

Crime organizado por natureza diz respeito à punição pelo delito de quadrilha,
associação ou organização criminosa. Trata-se o crime por natureza do crime
organizado em si. Crime organizado por extensão diz respeito a punição pelos crimes
praticados pela quadrilha, associação ou organização criminosa.

ART. 288 PAR ÚNICO (quadrilha armada) POR NATUREZA


+
157 PARG. IV (roubo de veículo) POR EXTENSÃO
ART. 69

5. MEDIDAS INVESTIGATÓRIAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO

Art. 1o Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que
versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou
organizações ou associações criminosas de qualquer tipo.

Art. 2o Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já
previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas:

5.1 AÇÃO CONTROLADA – SEM ATORIZAÇÃO JUDICIAL. (ação descontrolada)


É preciso cautela fundando-se na proporcionalidade e razoabilidade. A prisão dos
agentes continua sendo obrigatória (flagrante obrigatório), tendo a autoridade policial
discricionariedade a respeito do melhor momento para efetuá-la.
I - (Vetado).

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

II - a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe


ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que mantida sob
observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais
eficaz do ponto de vista da formação de provas e fornecimento de informações;

5.2 QUEBRA DO SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS, FINANCEIROS, FISCAIS E


ELEITORAIS
III - o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e
eleitorais.

CAPÍTULO II
Da Preservação do Sigilo Constitucional
Art. 3º Nas hipóteses do inciso III do art. 2º desta lei, ocorrendo possibilidade de
violação de sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a diligência será realizada
pessoalmente pelo juiz, adotado o mais rigoroso segredo de justiça. (Vide Adin nº
1.570-2).

Em relação aos dados fiscais e eleitorais o art. 3 foi declarado inconstitucional, pois
atentava contra o sistema acusatório na medida em que atribuía ao juiz funções de
investigador e inquisidor (juiz inquisidor)
No tocante ao sigilo de dados bancários e financeiros, o STF entendeu que o art. 3 teria
sido revogado pela superveniência da lei complementar 105/01, que passou a disciplinar
a matéria.

QUADRO COMPARTIVO
Sistema inquisitorial Sistema acusatório
Extrema concentração de poder nas mãos Separação entre os órgãos de acusação,
do órgão julgador, o qual recolhe a prova defesa e julgamento, criando-se um
de ofício e determina a sua produção. processo dialético.
É realizado sem as garantias do devido Vigência do contraditório sendo o acusado
processo legal, sendo o acusado titular de direitos.
considerado mero objeto de investigação.
Como não há separação das funções, esses O juiz só deve ser chamado a intervir
sistema viola o princípio da quando a sua presença for necessária.
imparcialidade. Garante das regras do jogo.
Imparcialidade do magistrado é
preservada.
Art. 3 9034/95 CF-Art. 129. São funções institucionais do
Ministério Público: I - promover,
privativamente, a ação penal pública, na
forma da lei

JUIZ INQUISIDOR - CPP - Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer,
sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e
proporcionalidade da medida;

Para a doutrina o artigo supracitado ressuscita a figura do juiz inquisidor. (Antonio


Magalhaes Gomes Filho)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Quem poderá quebrar sigilo de dados bancários e financeiros?


Quanto ao juiz não há dúvida alguma lc105/01.

Comissão parlamentar de inquérito lc105/01 art. 4° poder legislativo federal.


Art. 4o O Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários, nas áreas de
suas atribuições, e as instituições financeiras fornecerão ao Poder Legislativo Federal as
informações e os documentos sigilosos que, fundamentadamente, se fizerem necessários
ao exercício de suas respectivas competências constitucionais e legais. § 1o As
comissões parlamentares de inquérito, no exercício de sua competência constitucional e
legal de ampla investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de que
necessitarem, diretamente das instituições financeiras, ou por intermédio do Banco
Central do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários.

CLÁUSULA DE RESERVA DE JURISDIÇÃO: determinados direitos e garantias


individuais, só poderão ser restringidos mediante autorização judicial.

HIPÓTESES A CLAUSULA DE RESERVA DE JURISDIÇÃO (exclusividade)


1) interceptação telefônica
2) violação de domicílio
3) prisão, salvo em flagrante.
4) nova – segredo de justiça – MS 2743 STF DIZ QUE O SEGREDO DE JUSTIÇA
REPRESENTA UMA LIMITAÇÃO AOS PODERES INVESTIGATÓRIOS DAS
CPIs. – CF ART. 5 - LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.

CPI não grampeia (interceptação telefônica), mas poderá quebrar a quebra de sigilo de
dados.
CPI não pode violar domicílio.
CPI não pode ordenar prisão (preventiva, temporária) salvo em flagrante.
CPI O Poder Legislativo Estadual também pode quebrar o sigilo de dados bancários e
financeiros. ACO 730. princípio da simetria.

Ministério público poderá promover a quebra de sigilo de dados bancários e


financeiros?
1ª CORRENTE: O MP pode decretar a quebra do sigilo bancário e financeiro quando
envolver verbas públicas. (poder de requisição) Julgado isolado do STF (minoria).
CF Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: VIII - requisitar
diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
2ª CORRENTE (é a que prevalece): o MP não pode quebrar sigilo diretamente, pois a
lei complementar que disciplina a matéria não prevê essa possibilidade.

AUTORIDADES FAZENDÁRIAS ART.6 LC 105/01


PODERÁ QUANDO HOUVER PROCEDIENTO ADMINISTRATIVO.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 6o As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de
instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações
financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento
fiscal em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade
administrativa competente.

No STF tramitam 7 ações diretas de inconstitucionalidade contra o dispositivo supra.


Trata-se do desdobramento à intimidade e ao direito a vida privada. Assim a autoridade
fiscal dependeria de ordem judicial ou CPI. Mas eis que a doutrina se inclina em afirmar
que nessas hipóteses de acesso a dados bancários e financeiros sem autorização judicial,
não há que se falar em quebra do sigilo bancário, na medida em que a situação bancária
da pessoa não é exposta ao público, portanto não haveria violação ao direito a
intimidade. Walter Nunes da Silva Júnior. A tese é que qualquer movimentação
bancária suspeita (acima de cinco mil reais) o Banco não poderia comunicar ao CAF
engessando este poder fiscalizador. Atualmente se admite a autoridade fiscal poderá
acessar os dados sem ordem judicial.

Qual o remédio para impugnar a quebra de sigilo bancário e financeiro?


Por se tratar de desdobramento do direito a intimidade e da vida privada, em tese seria
MS. Mas para o STF, sempre que se tratar de processo penal ou de inquérito policial do
qual possa resultar condenação a pena privativa de liberdade, será cabível HC. STF HC
79191

Pessoa jurídica pode figurar como paciente em HC?


Como pessoa jurídica não é dotada de liberdade de locomoção, não pode figurar como
paciente em HC, nem mesmo com pessoa física junto, pois nesse caso não se aplica
efeito extensivo.

CAPTAÇÃO E INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL


IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou
acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial;

INTERCEPTAÇÃO: é captação da conversa entre dois ou mais interlocutores por um


terceiro que esteja no mesmo local ou não em que se dá a conversa.

GRAVAÇÃO: é a captação feita pelo próprio interlocutor.

ESCUTA: é a mesma captação feita por um terceiro, porém com o consentimento de um


dos interlocutores.

CAPTAÇÃO AMBIENTAL: se a conversa não era reservada e nem se deu em


ambiente privado, nem um problema haverá se a captação ambiental for feita sem
autorização judicial. Por outro lado se a conversa era reservada ou se deu em ambiente
privado, a captação ambiental sem autorização judicial constitui prova ilícita por ofensa
ao direito à intimidade, salvo se o agente estiver em legitima defesa.

SIGILO ENTRE O ADVOGADO E O CLIENTE


CPP - Art. 185. § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu
o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para


comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de
audiência do Fórum, e entre este e o preso. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

TEORIA DO RISCO: procura dar validade a prova obtida mediante violação ao direito
a intimidade. A pessoa que espontaneamente faz revelações a respeito de sua
participação em atividades ilícitas assume o risco quanto a documentação do fato por
um terceiro. Inclui gravação por câmera de segurança. função de natureza pública não
poderá legar.

INFILTRAÇÃO DE AGENTES POLICIAIS (undercover – testemunha da coroa)

V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação,


constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada
autorização judicial.
Parágrafo único. A autorização judicial será estritamente sigilosa e permanecerá nesta
condição enquanto perdurar a infiltração.

AGENTE INFILTRADO: pessoa integrante da estrutura dos serviços policiais ou de


órgão de inteligência que é introduzida em uma organização criminosa, ocultando-se
sua verdadeira identidade, tendo como finalidade a obtenção de informações par que
seja possível a desarticulação da referida organização.

NATUREZA JURÍDICA DO AGENTE INFILTRADO: meio de obtenção de provas,


pois dificilmente vai figurar como testemunha.

LEIS QUE PREVEM AGENTE INFILTRADO


-art. 2, v da lei 9.034/95 (org. crminosas).
-LEI 11.343/06 (drogas) ART. 53, I. com autorização judicial.

LIMITES DO AGENTE INFILTRADO: não responde o agente infiltrado por eventual


crime de quadrilha ou de associação criminosa. Assim age o agente amparado
excludente da ilicitude estrito cumprimento do dever legal ou teoria da imputação
objetiva (a conduta não cria um risco proibido e sim um risco permitido).

Caso ele seja colocado numa situação onde terá de matar?


juiz fixa limites da autorização...mas se por ventura um homicídio for cometido, a
doutrina aponta a inexigibilidade de conduta diversa (excludente de culpabilidade) juízo
de reprovação.
Lei proteção a testemunha pode ser aplicada ao agente infiltrado caso tenha a sua
identidade revelada lei 9.807/99 em seus arts. 7 a 9.

5.5 IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL

Art. 5º A identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por


organizações criminosas será realizada independentemente da identificação civil.
(identificação criminal compulsória)

SÚMULA 568 inválida

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGIMENTO


ILEGAL, AINDA QUE O INDICIADO JÁ TENHA SIDO IDENTIFICADO
CIVILMENTE. ANTERIOR À CF/88.

...POIS A CF NOS DIZ EM SEU ART. 5 LVIII - o civilmente identificado não será
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.

DISPOSITIVOS LEGAIS EM QUE HÁ A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL


• ART. 109 ECA (em caso de fundada dúvida somente)
• ART. 5 da lei 9.034/95 (Org. criminosas)
• LEI 1054/00 LEI DE IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL art. 3°.(REVOGADA
PELA 12.037/09)

Para o STJ o art. 5 da lei 9034/95 teria sido revogado pelo art. 3 da lei 10054/00, que
não previu a possibilidade de identificação criminal de pessoas envolvidas com
organizações criminosas. (STJ RHC 12965)

5.6 DELAÇÃO PREMIADA

CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA


Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de
um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento
de infrações penais e sua autoria.

6. LIBERDADE PROVISÓRIA
Art. 7º Não será concedida liberdade provisória, com ou sem fiança, aos agentes que
tenham tido intensa e efetiva participação na organização criminosa.
CORRENTE DOUTRINÁRIA MINORITÁRIA: essa prisão cautelar obrigatória para
LFG viola o princípio da não culpabilidade. A prisão tem que ser efetivamente
necessária. Cumpre ressaltar que no momento em que se veda a liberdade provisória,
cria-se uma modalidade de prisão cautelar.

7. PRAZO PARA O ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL

"Art. 8° O prazo para encerramento da instrução criminal, nos processos por crime de
que trata esta Lei, será de 81 (oitenta e um) dias, quando o réu estiver preso, e de
120 (cento e vinte) dias, quando solto."

No dia 22 de agosto de 2008 passou a vigorar novo prazo para o procedimento comum
ordinário.
PRAZO PARA O ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL – DE ACORDO
COM O ART. EM COMENTO.
PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO – NOVO PRAZO
RÉU PRESO

1ª REGRA - PRAZO INQUÉRITO:10 DIAS


EXEÇÕES*

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

*se for uma prisão temporária em crimes hediondos chega a 60 dias.


*na justiça federal o prazo do IP (15+15) até 30 dias.

2ª Com o inquérito concluído tem o promotor tem 5 dias para o oferecimento para a
peça acusatória.

3ª após o oferecimento eis o recebimento da peça acusatória: 5 dias

4ª resposta a acusação – 10 dias (defesa preliminar só crimes funcionais ou drogas)


*caso o advogado constituído não apresenta a resposta a acusação o juiz nomeia um
dativo que terá este prazo renovado de 10 dias.

5ª possibilidade de absolvição sumária: 5 dias pois trata-se de uma decisão


interlocutória.

6ª audiência una de instrução e julgamento: 60 dias


*caso haja a apresentação de memoriais – 5 dias para defesa e 5 para acusação.
*prazo para o juiz sentenciar – 10 dias.
prazo sem asterisco – 95 dias
crimes hediondos – 175 dias

Trata-se de prazo absoluto ou relativo?


Para os tribunais esse prazo para encerramento da instrução criminal não é absoluto,
podendo ser dilatado em virtude da complexidade da causa e ou pluralidade de réus.
Portanto haverá excesso de prazo nas seguintes hipóteses:

1) Quando o excesso por causado pela inércia do poder judiciário;

2) quando o excesso for causado por diligências suscitadas exclusivamente pela


acusação;

3) quando restar caracterizado um excesso abusivo, desproporcional, atentando contra a


garantia da razoável duração do processo.

Excesso de prazo autoriza o relaxamento da prisão, sem prejuízo da continuidade do


processo.

8. RECOLHIMENTO À PRISÃO PARA APELAR


Art. 9º O réu não poderá apelar em liberdade, nos crimes previstos nesta lei.
(REVOGADO PELO ART. 387 CPP)
CPP Art. 387. Parágrafo único. O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a
manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida
cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.

Esse artigo em comento foi invalidado pelo STF, pois todo e qualquer acusado tem
direito ao duplo grau de jurisdição, pois trata-se de uma garantia na Convenção
Americana de Direitos Humanos. art. 8 item 2, h. salvo quem tem foro de prerrogativa
de função

23
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 8o - Garantias judiciais Pacto de San Jose da Costa Rica


2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência,
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa
tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior

SÚMULA STJ 347 - O CONHECIMENTO DE RECURSO DE APELAÇÃO DO RÉU


INDEPENDE DE SUA PRISÃO.

9. INICIO DO CUMPRIMENTO DA PENA EM REGIME FECHADO

Art. 10 Os condenados por crime decorrentes de organização criminosa iniciarão


o cumprimento da pena em regime fechado.

O regime integralmente fechado para os crimes hediondos e equiparados foi


declarado inconstitucional no HC 82959. Assim o autor de crime hediondo passou a ter
direito a progressão. Isto posto, com o advento da lei 11.464/07 o inicio do
cumprimento da pena para crimes hediondos será fechado.

10. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO – RDD – LEP Art. 52

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou


o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a
qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES PREVIDENCIÁRIOS E CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


Se trata da aplicação do princípio da continuidade normativo típica e não abolitio
criminis art. 95 d lei 8212 x cp 168-a. exemplos lei de drogas, porte de armas de fogo e
outras...

1. PRISÃO POR DÍVIDA: PRISÃO CIVIL


Colidência com a prisão do depositário infiél. RE 466343. O STF reconheceu a tese da
Supralegalidade de tratados internacionais de direitos humanos. Mas o dispositivo em
voga não encontra aplicabilidade aos crimes tributários ou previdenciários.

2. CRIME TRIBUTÁRIO E CRIME PREVIDÊCIÁRIO


Não há falar em inconstitucionalidade em relação aos crimes contra a ordem tributária
por suposta prisão por dívida. Na verdade o agente está sendo punido por ter praticado
uma conduta prevista em um tipo penal.

3. SUJEITOS DO CRIME

PESSOA JURÍDICA: CRIMES AMBIENTAIS NA CF AUTORIZA A


RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DE PJ
CP§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

DOUTRINA: também responsabilização penal da pessoa jurídica.


Art. 173. § 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da
pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições
compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e
financeira e contra a economia popular.
MAS...não exsite previsão legal de responsabilidade penal da pessoa jurídica por crimes
contra a ordem econômico financeira.

3.1 AGENTES POLÍTICOS


PREFEITOS: agentes políticos podem ser responsabilizados por crimes tributários ou
conta a previdência social, desde que fique evidenciado o conhecimento a cerca dos
fatos.
4.3 ANISTIA CONCEDIDA AOS AGENTES POLÍTICOS
lei 9039/ 98 art. 11 colar urgente. parag. único. vício formal.
O parag. único em comento não foi aprovado pelo Congresso Nacional. Portanto, apesar
de ter vigido, é dotado de uma inconstitucionalidade formal. STF HC 82045 e HC
77734. A título de isonomia, não é dado ao poder judiciário estender a anistia concedida
aos agentes políticos às demais pessoas físicas.
Natureza jurídica da anistia: causa extintiva da punibilidade a ser concedida pelo
Congresso Nacional.

RESPONSABILIDADE PESSOAL
Somente pode praticar o delito a pessoa física (diretor, gerente, administrador) que
tenha efetivamente participado da administração da empresa, concorrendo par a prática
de qualquer das condutas criminalizadas. No momento do oferecimento da denúncia a

25
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

condição de sócio gerente, diretor, ou administrador é um indício da culpabilidade do


acusado. Porém se ao final da instrução criminal não tiver sido comprovada a prática de
atos de gerência, o acusado deve ser absolvido, sob pena de verdadeira responsabilidade
penal objetiva. (STF HC84402)

DENÚNCIA GENÉRICA
Para o STJ, em crimes societários não se exige a descrição minuciosa e individualizada
da conduta de cada acusado, sendo suficiente a narrativa dos fatos delituosos e sua
suposta autoria, permitindo o exercício da ampla defesa. (STJ HC 47709 E HC 62328)
STF – HC 85579 NÃO ADMITINDO DENÚNCIA GENÉRICA. MAS O ÚLTIMO
JULGADO HC 92921 ADIMITE DENUNCIA GENÉRICA.
Qual a diferença entre a acusação geral e a acusação genérica?
ACUSAÇÃO GERAL
Ocorre quando o órgão da acusação imputa a todos os acusados o mesmo fato delituoso
(único fato típico), independentemente das funções exercidos por eles nas empresas ou
sociedade.

ACUSAÇÃO GENÉRICA
Ocorre quando a acusação, depois de narrar a existência de vários fatos típicos, ou
mesmo de várias condutas que estão abrangidas pelo tipo penal, imputa tais condutas a
todos os integrantes da sociedade. Traz prejuízo à ampla defesa levando então a inépcia
da peça acusatória que só pode ser arguida até a sentença, pois se o juiz já sentenciou a
defesa foi aceita.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS DESTINADOS AO INSS
A falsificação em voga é usada como crime meio para o estelionato ou para a sonegação
de contribuição previdenciária. Pelo princípio da consunção o crime de falsificação e
absolvido pelos crimes fins em estudo.

STJ SÚMULA: 17 QUANDO O FALSO SE EXAURE NO ESTELIONATO, SEM


MAIS POTENCIALIDADE LESIVA, E POR ESTE ABSORVIDO.

Trata-se deste falso de uma falsidade material ou ideológica?


A falsidade material recai sobre o documento em si. Na ideológica, o conteúdo do doc é
falso.
• se a pessoa tem legitimidade para a confecção do documento é falsidade
ideológica.
• se a pessoa não tem legitimidade e cria um documento, eis a falsidade material.
• quando o oficial de justiça elabora, falsidade ideológica.

Caso uma empregada doméstica assina uma folha em branco tendo em vista o
argumento de que o empregador irá imprimir o recibo do salario nesta mesma folha.
Mas em verdade o empregador confecciona recibo em quitação de todas as verbas
trabalhistas como se acerto fosse. Diante o exposto, eis que a empregada conferiu
legitimidade ao empregador para o feitio do recibo. Possuindo esta legitimidade, resta
clara a falsidade ideológica.

Noutro plano, se o empregador pede para o empregado assinar uma folha em branco sob
o argumento de se conferir se é alfabetizado, mas utiliza esta folha para posterior
confecção de recibo de verbas rescisórias, resta clara a prática de falsidade material.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

FALSIDADE IDEOLÓGICA

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão


de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime


prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de
registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

Jurisprudência: Caso em que a banca examinadora exige declaração de que as


informações são verdadeiras para se ocupar o cargo. Se há posterior verificação, não há
falar em falsidade ideológica. Trata-se de crime impossível por ineficácia absoluta do
meio.

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento


público verdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:

I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a


fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de
segurado obrigatório;

II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento


que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa
da que deveria ter sido escrita;

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as


obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter constado.

§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de
trabalho ou de prestação de serviços.
OS PARÁGRAFOS 3 E 4 SÃO EXEMPLARES DE FALSIDADE IDEOLÓGICA
TENDO EM VISTA A LEGITIMIDADE DO EMPREGADOR PARA TAL.

FALSIFICAÇÃO DE CHEQUE

O cheque equipara-se a doc público por expressa determinação legal.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (omissivo material)


CP - Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5
(cinco) anos, e multa.

NATUREZA JURÍDICA DO CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA


PREVIDENCIÁRIA

Apropriação indébita 168 caput Apropriação indébita previdenciária 168-


A
Material FORMAL >>
Tipo incongruente Tipo congruente**
Tipo congruente Tipo incongruente ou congruente
assimétrico
Perfeita adequação entre os elementos Não há uma perfeita adequação entre os
objetivos e subjetivos do tipo penal elementos objetivo e subjetivo do tipo
penal
Tipo objetivo(Matar alguém) = tipo Dolo específico – especial fim de agir
subjetivo (animus necandi)
Matar alguém = animus necandi Sequestrar alguém diferente dolo geral
(seqüestrar alguém) com a finalidade do
dolo específico (finalidade de obter
vantagem) art. 159
Art. 33 tráfico de drogas não precisa Art. 28 lei de drogas
demonstrar o fito de comercialização da
droga.

**Não há necessidade de demonstrar que o agente tinha a intenção de se apropriar


indevidamente dos valores. STF HC 76978 e STJ vários julgados.

INQUÉRITO 2537 STF: decidiu o supremo que o art. 168-A é um crime omissivo
material, sendo indispensável a apropriação dos valores com a inversão da posse
respectiva. motivação do supremo: se esse crime passa a ser material, o início so
processo fica dependendo da conclusão do procedimento administrativo.

A fraude é elementar?

168-A (apropriação indébita Art. 1 8.137/90 contra a ordem tributária


previdenciária) (omitir informação ou prestar declaração
falsa)
A fraude não é elementar do delito A fraude é uma elementar do delito.

28
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

6. TIPICIDADE MATERIAL E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (CLAUS ROXIN) EXCLUI A TIPICIDADE


MATERAL.

10522 ART. 18 PARAG. 1 Art. 18. Ficam dispensados a constituição de créditos da


Fazenda Nacional, a inscrição como Dívida Ativa da União, o ajuizamento da respectiva
execução fiscal, bem assim cancelados o lançamento e a inscrição, relativamente:

§ 1o Ficam cancelados os débitos inscritos em Dívida Ativa da União, de valor


consolidado igual ou inferior a R$ 100,00 (cem reais).

10522 Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do
Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos
como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela
cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).

O STJ se utiliza do montante do art. 18 p 1 (100,00) para dar aplicabilidade ao princípio


da insignificância. O STF utiliza art. 20 10522 como patamar (dez mil reais) HC 92438.

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA

A doutrina nos revela que o princípio da insignificância não se aplica tendo em vista a
violação dos deveres de honestidade/prioridade bem como os princípios da
administração pública (moralidade entre eles). Mas noutro plano o STF aplicou o
princípio da insignificância num caso em que um tenente cometeu peculato-apropriação
HC 87478. O STJ se alinhava a primeira posição.

Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de porte de droga nas forças


armadas?

Tudo indica que o STF seja contrário a aplicação deste princípio.

7. DIFICULDADE FINANCEIRA
Somente em casos extremos poderá ser admitida sendo uma excludente da culpabilidade
por inexigibilidade de conduta diversa. Mas é de bom grado a decretação a quebra do
sigilo bancário e fiscal da pessoa física. (STJ RESP 327738).

8. SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer


acessório, mediante as seguintes condutas :

Trata-se de crime material, pois o resultado está descrito no tipo penal. A fraude é uma
elementar do delito.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações


previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador
avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;

II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa


as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador
de serviços;

III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas


ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NO CRIME SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO


PREVIDENCIÁRIA

Art. 337-A § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e


confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação
fiscal.

Basta a confissão independentemente do pagamento.

9. AÇÃO PENAL E COMPETÊNCIA

Competência da Justiça Federal sendo o sujeito passivo o INSS, pois versa matéria
frente à autarquia federal. Em se tratando de crimes contra a ordem tributária, deve-se
notar a natureza do tributo.

10. PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA

O CPP em seu art. 310 p.u. demonstra a liberdade provisória sem fiança caso o juiz
verifique a inocorrência de qualquer das hipóteses que autoriza a prisão preventiva.

Não é cabível liberdade provisória sem fiança em crimes de sonegação fiscal, leia-se
crimes contra a ordem tributária e crimes contra a previdência social (este segundo latu
sensu em relação ao primeiro). A única liberdade provisória cabível é a liberdade
provisória com fiança.

CPP 325 - § 2o Nos casos de prisão em flagrante pela prática de crime contra a
economia popular ou de crime de sonegação fiscal, não se aplica o disposto no art. 310 e
parágrafo único deste Código, devendo ser observados os seguintes procedimentos:
I - a liberdade provisória somente poderá ser concedida mediante fiança, por
decisão do juiz competente e após a lavratura do auto de prisão em flagrante;
Il - o valor de fiança será fixado pelo juiz que a conceder, nos limites de dez mil a
cem mil vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional - BTN, da data da prática do
crime;

30
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

III - se assim o recomendar a situação econômica do réu, o limite mínimo ou


máximo do valor da fiança poderá ser reduzido em até nove décimos ou aumentado até
o décuplo.

11. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO NOS CRIMES MATERIAIS CONTRA


A ORDEM TRIBUTÁRIA
LEI 9430 - Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a
ordem tributária definidos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990,
será encaminhada ao Ministério Público após proferida a decisão final, na esfera
administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
1. Contra esse art. 83 foi ajuizada a ADI 1571. O art. 83 não criou condição de
procedibilidade da ação penal por crime contra a ordem tributária.
2. Esse dispositivo tem como destinatário as autoridades fazendárias, prevendo o
momento em que deve encaminhar ao MP notitia criminis de crime contra a ordem
tributária.
3. O MP não está impedido de agir se por outros meios tem conhecimento do
lançamento definitivo.

NATUREZA JURÍDICA DA DECISÃO FINAL TRIBUTÁRIA


1ª CORRENTE: a decisão final do procedimento administrativo não é uma condição de
procedibilidade, de modo que o MP não está obrigado a aguardar o exaurimento da via
administrativa para oferecer denúncia. Trata-se de uma *QUESTÃO PREJUDICIAL
HETEROGÊNEA – análise do mérito em outro ramo do direito então aplica-se o art. 93
do CPP. Então o juiz aplica a suspensão do processo e da prescrição. (PARA PROVA
DO MP) * Em alguns crimes deve-se decidir uma outra questão antes de analisar o
mérito da imputação. Exemplo: em crime de bigamia, resolve-se sobre a nulidade ou
não do primeiro casamento.
2ª CORRENTE (é a que prevalece): TRIBUNAIS (STF/STJ) a decisão final do
procedimento administrativo de lançamento nos crimes materiais funciona como
CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE. Enquanto não houver o lançamento,
não é possível falar em tributo, não há crime material. (STF RHC 90532 E STJ HC
54248)

Condição de procedibilidade Condição objetiva de punibilidade


É uma condição exigida para o regular Cuida-se de condição exigida pelo
exercício do direito de ação podendo ser legislador para que o fato se torne punível
genéricas (toda ação exige) ou específicas e que esta fora do injusto penal. Chama-se
(inerente ao delito). condição objetiva porque independe do
dolo ou da culpa do agente, estando
localizada entre o *preceito primário e
secundário da norma penal incriminadora,
condicionando à existência da pretensão
punitiva do Estado. Ex: a sentença
declaratória da falência nos crimes
falimentares (Lei 11.101/05).
Relacionadas ao direito processual penal Relacionada ao direito penal
Ausência dessa condição verifica-se em Ausência dessa condição impede o
dois momentos – no início do processo o oferecimento de peça acusatória contra o
juiz deve rejeitar a peça acusatória / mas acusado, pois não há fundamento de direto
se durante o processo extingue-se o para o ajuizamento da ação penal. (STF
processo sem julgamento do mérito CPC HC 81611) se o processo tiver sido

31
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

art. 267 VI. instaurado (oferecimento da denuncia),


deve-se entrar com HC pedido o
trancamento da ação penal.
Faz coisa julgada formal
*Tipo penal (preceito primário) pena (preceito secundário).

12. PAGAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO


EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Lei 9249/95 art 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137,
de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente
promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do
recebimento da denúncia (ou até o recebimento).
Apesar da lei supra não cita crimes previdenciários, para os tribunais essa extinção da
punibilidade também se aplica contra os crimes da previdência social, pois são crimes
contra a ordem tributária lato sensu. STF 73418. Noutro plano, em crimes patrimoniais
quaisquer não se aplica o dispositivo supracitado, pois esta é uma norma especial.
Crimes patrimoniais já se beneficiam com o mecanismo do arrependimento posterior
CP art.16.

De acordo com a Lei no 10.684/03 Art. 9º, § 1º, § 2º, o parcelamento do debito
tributário acarreta a suspensão da pretensão punitiva, e ao mesmo tempo suspende o
curso da prescrição. Desta feita uma vez ocorrendo o pagamento integral do débito
tributário (pagamento este que pode ocorrer a qualquer momento) a conseqüência é a
extinção da punibilidade. O dispositivo em comento aplica-se arts. 1o e 2o da Lei no
8.137/90, e nos arts. 168A e 337A , Código Penal. HC 85273 E HC 85452

Aplica-se ao crime de descaminho?


Para o STJ: aplica-se ao delito de descaminho (HC 48805) – mercadorias sem nota
fiscal, tutela-se a função arrecadatória do Estado. Assim estará extinta a punibilidade.

13. ESTELIONATO CONTRA O INSS


SÚMULA: STJ 24 APLICA-SE AO CRIME DE ESTELIONATO, EM QUE FIGURE
COMO VITIMA ENTIDADE AUTARQUICA DA PREVIDENCIA SOCIAL, A
QUALIFICADORA DO PAR-3, DO ART. 171 DO CODIGO PENAL.

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a


pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de


entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social
ou beneficência.

32
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Por qual crime responde a pessoa que recebe os benefícios do INSS? E quanto ao
concurso de crimes?
1ª CORRENTE: STJ 171p. 3. Trata-se de crime único e permanente de estelionato STJ
RESP 502334. STF HC 83252 E 83967. Para o acusado é ruim. Em se tratando de crime
permanente a prescrição começa a correr somente quando cessar a permanência. CP-
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
2ª CORRENTE: seria um crime de estelionato praticado em continuidade delitiva 171
parag. 3 c/c cp art. 71 (crime continuado)

CP - Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução
e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do
primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

CP - Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre


a pena de cada um, isoladamente.
Na hora de fazer o caluculo de prescrição em crime continuado, eu tenho que desprezar
o quantum de acréscimo.

STF SÚMULA 497: QUANDO SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A


PRESCRIÇÃO REGULA-SE PELA PENA IMPOSTA NA SENTENÇA, NÃO SE
COMPUTANDO O ACRÉSCIMO DECORRENTE DA CONTINUAÇÃO.

3ª CORRENTE: LFG sustenta se configurar o crime de estelionato em concurso formal.


CP 171 p. 3. c/c art. 70.
4ª CORRENTE: (é a que prevalece). O STF nos julgados mais recentes, esse crime de
estelionato é um crime instantâneo de efeitos permanentes. Assim a prescrição começa a
correr no instante do ato criminoso. HC 80349 E HC 94148.

33
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

JECRIM COMENTADA LEI Nº 9.099/95.

1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL
CF - Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

2. JURISDIÇÃO CONSENSUAL X JURISDIÇÃO CONFLITIVA

JURISDIÇÃO CONSENSUAL JURISDIÇÃO CONFLITIVA

Consenso entre as partes Conflito

Impõe, no máximo, pena restritiva de Pena privativa de liberdade


direitos (transação penal)

Mitigação de princípios da juris. conflitiva Princípio da obrigatoriedade da ação penal


e impera o princípio da discricionariedade pública como consectário lógico o
regrada então ao invés da denúncia . princípio da indisponibilidade da ação
Exceção ao princípio da obrigatoriedade penal pública
da ação penal é a transação. Exceção ao
princípio da indisponibilidade é a
suspensão condicional do processo.

Para o Supremo a jurisdição consensual no processo penal está autorizada pela própria
CF. Inquérito 1055.

3. MEDIDAS DESPENALIZADORAS

3.1 COMPOSICAO CIVIL DOS DANOS ART 74


Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz
mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal
pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao
direito de queixa ou representação.

Em crimes de ação penal privada e publica condicionada a representação, a renuncia ao


direito de queixa ou denuncia é causa extintiva da punibilidade.

34
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

3.1 TRANSAÇÃO PENAL

Trata-se de cumprimento imediato de penas restritivas de direitos fixadas por meio de


uma proposta, uma vez cumprida, estará extinta a punibilidade.

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública


incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na
proposta.

3.2 REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES DE LESÃO CORPORAL LEVE OU


CULPOSA
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.

3.3 SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (CONDIÇÕES PARA A


EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE)

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os
demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código
Penal).

Os benefícios supracitados, apesar de ser uma norma processual, acarretam


conseqüências ao direito material. Apesar de constar em legislação especial, são regras
de direito penal. Então, aplica-se a irretroatividade da lei mais gravosa e a ultratividade
da lei penal mais benéfica. Na ADI 1719-9 revogou o art. 90 que expressava sobre a
inaplicabilidade aos processos que à época tramitavam.

4. MEDIDA DESCARCERIZADORA
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a
vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer,
não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência
doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar,
domicílio ou local de convivência com a vítima.

35
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Mas cumpre dizer quanto a possibilidade da captura e a condução coercitiva do agente,


porém ao invés de ser lavrado o auto de prisão em flagrante, será lavrado um termo
circunstanciado.

PRISÃO EM FLAGRANTE – FASES: CAPTURA, CONDUÇÃO COERCITIVA,


LAVRATURA DO APF e RECOLHIMENTO.

5. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


REDAÇÃO ORIGINAL (vigirou isolamdamente por 6 anos)
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial.
(Vide Lei nº 10.259, de 2001)

ENTÃO ENTRA EM VIGOR A LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS (em


2001, pela lei 10.259 eis o prazo diferenciado)
Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de
competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os
efeitos desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois
anos, ou multa.
Vale lembrar que a Justiça Federal não julga contravenções.

NOVA REDAÇÃO COM NOVO CONCEITO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


(lei 11.613/06)
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os
efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
Agora tanto faz se sujeitos ou não a procedimento especial.

ENTÃO EIS A NOVA REDAÇÃO DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de
competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo,
respeitadas as regras de conexão e continência.

ESTATUTO DO IDOSO
Lei 10.741/03 Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de
liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no
9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do
Código Penal e do Código de Processo Penal.

36
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

O Estatuto do Idoso não criou um novo conceito de infração de menor potencial


ofensivo. Em verdade, aos crimes previstos na lei 10741/03, cuja pena máxima não
ultrapasse 4 anos, será aplicável tão somente o procedimento sumaríssimo previsto entre
os artigos 77 e 83 da lei dos juizados.

6. CONEXÃO OU CONTINÊNCIA
Uma vez praticada uma infração de menor potencial ofensivo, isoladamente, a
competência será do juizado especial criminal. No entanto se essa infração penal de
menor potencial ofensivo houver sido praticada em conexão com outro crime, que
venha a estabelecer a competência do juízo comum ou do tribunal do júri, afasta-se a
competência do juizado, mas isso não impede a aplicação da transação penal e da
composição dos danos civis à infração de menor potencial ofensivo.
Lei 9.099/95 Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou
togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das
infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e
continência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do
júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os
institutos da transação penal e da composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº
11.313, de 2006)
STJ SÚMULA: 243 O BENEFÍCIO DA SUSPENSÃO DO PROCESSO (mais de uno
ano) NÃO É APLICÁVEL EM RELAÇÃO ÀS INFRAÇÕES PENAIS COMETIDAS
EM CONCURSO MATERIAL, CONCURSO FORMAL OU CONTINUIDADE
DELITIVA, QUANDO A PENA MÍNIMA COMINADA, SEJA PELO SOMATÓRIO,
SEJA PELA INCIDÊNCIA DA MAJORANTE, ULTRAPASSAR O LIMITE DE UM
(01) ANO.
STF SÚMULA Nº 723 NÃO SE ADMITE A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO POR CRIME CONTINUADO, SE A SOMA DA PENA MÍNIMA DA
INFRAÇÃO MAIS GRAVE COM O AUMENTO MÍNIMO DE UM SEXTO FOR
SUPERIOR A UM ANO.

7. POSSIBILIDADE DA APLICAÇÃO DA LEI DOS JUIZADOS AOS CRIMES


MILITARES
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.
Trata-se de norma irretroativa – na atualidade alguns doutrinadores sustenta que essa
normativa é absurda aplicando-se aos crimes militares impróprios (é uma infração penal
prevista tanto no código penal militar quanto no código penal comum, mas que se torna
crime militar por se adequar a uma das hipóteses do art. 9 do CPM).
8. COMPETÊNCIA TERRITORIAL
CPP - Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último
ato de execução. (TEORIA DO RESULTADO – O LOCAL DA CONSUMAÇÃO)

JECRIM - Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal. (TEORIA DA ATIVIDADE – LOCAL NO QUAL FOI
PRATICADO)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

9. CAUSAS MODIFICATIVAS DA COMPETÊNCIA

1ª HIPÓTESE DE DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA


IMPOSSIBILIDADE DE CITAÇÃO PESSOAL DO ACUSADO
Não há citação por edital. Assim sendo serão remetidos os autos ao juízo comum onde
será processado. Mesmo sendo encontrado o acusado no juízo comum, não será
restabelecido a competência do juizado.
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou
por mandado.Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz
encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto
em lei.

É cabível carta precatória nos juizados?


Carta precatória cabível nos juizados, mas sendo carta rogatória não será possível tendo
em vista a morosidade.
CITAÇÃO POR HORA CERTA
Citação por hora certa é cabível no que tange o entendimento do
Jecrim-Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de
Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.
CPP - Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça
certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos
arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
(Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não
comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

2ª HIPÓTESE DE DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA


COMPLEXIDADE DA CAUSA
Art. 77. § 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação
da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças
existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
Será observado o procedimento comum sumário – CPP - Art. 538. Nas infrações penais
de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal encaminhar ao juízo
comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o
procedimento sumário previsto neste Capítulo.
Eventual recurso será julgado pelo Tribunal (TJ OU TRF).

10. LAVRATURA DO TERMO CIRCUNSTANCIADO


JEC - Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado*, com o autor do

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.


(Juizado itinerante em dia de jogo)*

TCO: relatório sumário. Uma infração de menor potencial ofensivo não carece de
instauração de inquérito policial.

ATRIBUIÇÃO PARA A LAVRATURA DO TCO


Resposta para prova de Delegado – a atribuição para a lavratura é exclusiva da polícia
investigativa (civil ou federal). Portanto a polícia militar não poderá.
Provimento 758 do Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo – termo
circunstanciado também pode ser lavrado pelo policial militar. No STF a ADI 2862 A
doutrina argumenta sobre a PM poder tal ato em nome da celeridade e da economia
processual.
Não existindo inquérito policial não há falar em indiciamento. Sendo possível o
trancamento do TCO em hipóteses de manifesta atipicidade e/ou ausência de justa
causa.

11. FASE PRELIMINAR


Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização
imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão
cientes.
Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria
providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts.
67 e 68 desta Lei.
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor
do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados,
o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da
proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

11.1 COMPOSICAO CIVIL DOS DANOS


Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz
mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal
pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao
direito de queixa ou representação.
Em fase preliminar há a possibilidade de composição civil dos danos em crimes de ação
penal privada e em ação publica condicionada a representação significando a renuncia
ao direito de queixa ou de representação sendo causa extintiva da punibilidade.

A composição dos danos civis somente é possível nas infrações que acarrete prejuízo
materiais ou morais a vítima. Obtida a conciliação será homologada em sentença

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

irrecorrível e terá eficácia de titulo executivo a ser executado no juízo cível competente.
Vale lembrar que se for o acordo homologado até 40 salários mínimos a execução se
dará no próprio juizado (em plano cível).
Cabe composição civil dos danos pode ocorrer em crime de ação penal pública
incondicionada?
Poderá ocorrer, porém a composição dos civil dos danos não terá efeitos penais na ação
penal pública incondicionada.
Caso a composição não se dê?
Resta claro que haverá continuidade o processo nos termos do art. 75 Jecrim.
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido
a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não
implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.

11.2 MOMENTO ADEQUADO PARA O OFERECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO


É considerada válida a representação na delegacia de polícia?
1ª CORRENTE (é a que prevalece): a representação feita na delegacia de polícia não é
suficiente para o início da ação penal, pois a representação deve ser feita perante o
juizado.
2ª CORRENTE: deve ser considerada feita quando a vítima procura a autoridade
policial.

INÍCIO DO PRAZO PARA A REPRESENTAÇÃO


Prazo decadencial de 6 meses.

Quando se inicia o prazo para a representação?


1ª CORRENTE (é a que prevalece): o prazo tem início a partir do conhecimento da
autoria. Porém, caso a audiência preliminar ocorra após o decurso desse prazo, não há
falar em decadência, na medida em que a culpa não seria da vítima e sim do Estado.
2ª CORRENTE: o prazo se inicia da audiência, pois é a partir desse momento que a
representação pode ser oferecida de forma válida.

PRAZO PARA A REPRESENTAÇÃO NO CASO DE DESCLASSIFICAÇÃO DE


TENTATIVA DE HOMICÍDIO PARA LESÃO CORPORAL LEVE
1ª CORRENTE: se já ultrapassado o prazo decadencial de 6 meses, a partir do
conhecimento da autoria, estará extinta a punibilidade pela decadência, pois esse prazo
não se suspende e nem se interrompe.
2ª CORRENTE (é a que prevalece): deve ser contado o prazo de 6 meses apenas a partir
da decisão de desclassificação.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

11.3 TRANSAÇÃO PENAL


Consiste em um acordo entre o titular da ação penal e o autor do fato delituoso, pelo
qual o primeiro propõe ao segundo a aplicação imediata de uma pena não privativa de
liberdade, dispensando-se a instauração do processo. Significa o cumprimento imediato
de penas restritivas de direitos. Uma vez cumprida, estará extinta a punibilidade.

PRESSUPOSTOS DA TRANSAÇÃO PENAL


Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na
proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a
metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela


aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,


bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à


apreciação do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o


Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência,
sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco
anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art.


82 desta Lei.

§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão


de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá
efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

ANALISE DOS PRESSUPOSTOS PARA A TRANSAÇÃO PENAL

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

PRESSUPOSTO 1) FORMULAÇÃO DA PROPOSTA PELO REPRESENTANTE DO


MP.
Qual o conseqüência da recusa injustificada do Promotor?
1ª CORRENTE: trata-se de direito público subjetivo do acusado. O juiz poderia
conceder ex officio, tratando de uma usurpação da titularidade da ação pública sequer
sem que houvesse acordo entre as partes.

2ª CORRENTE: Diante da recusa injustificada do Promotor aplica-se o art. 28 CPP


(remessa dos autos ao Procurador Geral de Justiça).
STF SÚMULA Nº 696 REUNIDOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PERMISSIVOS
DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (TRANSAÇÃO PENAL), MAS
SE RECUSANDO O PROMOTOR DE JUSTIÇA A PROPÔ-LA, O JUIZ ,
DISSENTINDO, REMETERÁ A QUESTÃO AO PROCURADOR-GERAL,
APLICANDO-SE POR ANALOGIA O ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL.

PRESSUPOSTO 2) CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À


REPRESENTAÇÃO OU CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA.

Mas caberá na ação penal privada?


1ª CORRENTE: em virtude da omissão do legislador, não cabe transação penal e nem
suspensão condicional do processo em crime de ação penal privada.
2ª CORRENTE (é a que prevalece): não há incompatibilidade entre transação penal ou
suspensão condicional do processo em crimes de ação penal privada.

E no caso de recusa injustificada do querelante?


No caso da recusa injustificada do querelante, sendo um direito público do acusado, o
juiz poderia conceder de oficio, mas em verdade a iniciativa só pode ser do querelante.
Se ele não desejar, não poderá ocorrer. Pois trata-se de seu direito de ação. STF HC
81720.

PRESSUPOSTO 3) NÃO TER SIDO O AGENTE BENEFICIADO


ANTERIORMENTE NO PRAZO DE 5 ANOS PELA TRANSAÇÃO PENAL.

PRESSUPOSTO 4) NÃO TER SIDO O AUTOR DA INFRAÇÃO CONDENADO


POR SENTENÇA DEFINITIVA À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
Esta sentença está sujeita ao lapso temporal da reincidência (5 anos após o cumprimento
da pena). Ressalte-se que esta condenação deve ser por crime e não de contravenção
penal. Art. 64 CP.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

PRESSUPOSTO 5) CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS


III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

PRESSUPOSTO 6 ) NÃO SER CASO DE ARQUIVAMENTO DOS AUTOS


Caso de arquivamento: a pessoa não é o agente ativo da infração penal.

PRESSUPOSTO 7) ACEITAÇÃO DA PROPOSTA POR PARTE DO AUTOR DA


INFRAÇÃO PENAL E DE SEU ADVOGADO
Se houver divergência entre advogado e cliente qual vontade prevalece?
No momento da transação penal e da suspensão condicional do processo, prevalece a
vontade do acusado, e não a do defensor.
Art. 89. § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo
prosseguirá em seus ulteriores termos.
No momento de interpor recuso, prevalece a vontade de quem deseja recorrer.
STF SÚMULA Nº 705 - A RENÚNCIA DO RÉU AO DIREITO DE APELAÇÃO,
MANIFESTADA SEM A ASSISTÊNCIA DO DEFENSOR, NÃO IMPEDE O
CONHECIMENTO DA APELAÇÃO POR ESTE INTERPOSTA.

Qual a conseqüência caso ocorra o descumprimento da transação penal?


1 CORRENTE (é a que prevalece): em se tratando de proposta de pena de multa, não é
possível o oferecimento de denúncia, devendo a multa ser executada perante o
executado. Em se tratando de pena restritiva de direitos, o procedimento deve ser
retomado, a fim de que o titular da ação penal possa intentá-la. STF HC 84976. Para o
STF e STJ: é possível que o magistrado condicione a homologação da proposta ao seu
cumprimento. STJ RHC 11392 e STF HC79572.
2 CORRENTE: deve haver a conversão da pena restritiva de direitos a pena privativa de
liberdade, pois a sentença que homologa a transação tem natureza condenatória
imprópria (coisa julgada formal e material).
Aqui finda a fase preliminar.
12. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO (ANÁLISE DA FASE JUDICIAL)
Obviamente não pode ter havido transação penal ou composição civil dos danos.

12.1 VISTAS AO MP
O Promotor de Justiça poderá tomar as seguintes atitudes:
1) requerer o arquivamento, ou;
2) devolução dos autos a polícia para a realização de diligências complementares para o
oferecimento da denúncia, ou;
3) encaminhamento do termo circunstanciado ao juízo comum, ou;
4) declinar de sua competência;
5 deve o promotor oferecer denúncia oral que deve ser reduzida a termo- Art. 77. Na
ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o
Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver
necessidade de diligências imprescindíveis.

12.2 ANÁLISE DO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

1) OFERECIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA


Art. 77. § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de
ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-
se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por
boletim médico ou prova equivalente.
Inicia-se com o oferecimento da peça acusatória sem a necessidade de exame de corpo
de delito sendo suprido por um simples boletim médico. Tal exame de corpo de delito
não é necessário nem mesmo para uma condenação. HC 80419.

2) DEFESA PRELIMINAR
Apresentada entre o oferecimento e o recebimento da peça acusatória. Hipóteses de
defesa preliminar em nosso ordenamento: crimes funcionais afiançáveis (art.514 CPP);
lei de drogas (art. 81); lei de impresa; jecrim; competência originária dos tribunais;
mensalão, lei de improbidade administrativa. Não se pode confundir defesa preliminar
com defesa prévia e resposta à acusação. A defesa prévia, dava-se antes da lei 11719/08
apresentada após o interrogatório. No caso de resposta à acusação, esta foi criada com a
lei 11719/08. Deve ser apresentada após o recebimento da peça acusatória por
advogado, e antes da audiência uma de instrução e julgamento.

3) REJEIÇÃO OU RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA (395 CPP)


Restou evidente uma zona cinzenta:
CPPArt. 394. § 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos
os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.

De acordo com o parag. Supracitado, aplicando o 396 haveria citação para resposta à
acusação bem como a absolvição sumária (art. 397); excludentes da ilicitude,
excludente da culpabilidade, atipicidade e causa extintiva de punibilidade. Desta feita,
entende-se que a lei de drogas e dos juizados se imantam de procedimentos especiais.

4) INSTRUÇÃO D PROCESSO
Inicia-se com a oitiva da vítima, das testemunhas e do interrogatório do acusado

5)DEBATES ORAIS

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

6)PROFERIMENTO DA SENTENÇA
Art. 38. A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo
dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório.

13. SISTEMA RECURSAL

Cabe agravo ou Rese nos Juizados?


Resta clara a aplicação subsidiária do CPP,CP e LEP. Demais recursos não expressos
poderão ser utilizados no JECRIM.
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo
Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

JUÍZO AD QUEM
Turma recursal composta por 3 juizes em exercício no 1 grau de jurisdição.
O magistrado que prolatou a decisão está impedido de atuar no julgamento do recurso.
CPP Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de
direito, sobre a questão;
Quem atua na turma recursal é o promotor e não o procurador de justiça (este atua
diante dos tribunais).

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

APELAÇÃO

JUIZADO CPP

Art. 82. Da decisão de rejeição da Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5


denúncia ou queixa e da sentença caberá (cinco) dias: I - das sentenças definitivas
apelação, que poderá ser julgada por de condenação ou absolvição proferidas
turma composta de três Juízes em por juiz singular;II - das decisões
exercício no primeiro grau de jurisdição, definitivas, ou com força de definitivas,
reunidos na sede do Juizado. proferidas por juiz singular nos casos não
previstos no Capítulo anterior; III - das
decisões do Tribunal do Júri, quando: a)
ocorrer nulidade posterior à pronúncia;b)
for a sentença do juiz-presidente contrária
à lei expressa ou à decisão dos jurados; c)
houver erro ou injustiça no tocante à
aplicação da pena ou da medida de
segurança; d) for a decisão dos jurados
manifestamente contrária à prova dos
autos.

Prazo 10 dias Prazo 5 dias

Apresentada numa vez (interposição e Interposição 5 dias


razões) Razões 8 dias

Por meio de petição Por meio de petição ou por termo nos


autos

A petição não pode ser apresentada As razões podem ser apresentadas perante
perante a turma recursal. o juízo ad quem.
CPP - Art. 600. § 4o Se o apelante
declarar, na petição ou no termo, ao
interpor a apelação, que deseja arrazoar na
superior instância serão os autos remetidos
ao tribunal ad quem onde será aberta vista
às partes, observados os prazos legais,
notificadas as partes pela publicação
oficial.
O promotor assim o faz enquanto o
procurador funciona como custus legis.

HIPÓTESES DE APELAÇÃO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

• Rejeição da peça acusatória. No CPP será RESE.


• Sentença homologatória da transação
• Sentença absolutória ou condenatória

EMBARGOS DE DECLRARAÇÃO

JEC CPP

Obscuridade, contradição, omissão ou Obscuridade,ambigüidade,contradição ou


dúvida. omissão.

Prazo 5 dias Prazo 2 dias

Suspende o prazo do outro recurso quando Interrompe o prazo do outro recurso.


opostos contra sentença. Agora quando
opostos contra acórdão de turma recursal,
interrompe. Mas se for contra turma
recursal suspende.

Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver


obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo
de 5 dias, contados da ciência da decisão.
§ 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o
prazo para o recurso.
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL


Quando a CF se refere a recurso especial, nota-se que se refere apenas a tribunal. Já no
que tange o recurso extraordinário é silente quanto a ser a decisão recorrida de tribunal.
Depreende-se que não cabe recurso especial, porque turma recursal não é tribunal,
porém cabe recurso extraordinário (decisão proferida em última e em única instância).

HABEAS CORPUS
Se o HC estiver relacionado ao processo do juizado, quem irá julga-lo será a turma
recursal. Se a autoridade co-atora for Juiz do Juizado a turma recursal decide. Mas se a
turma recursal for autora do constrangimento será o TJ ou TRF (HC 86834).
STF SÚMULA Nº690 (ULTRAPASSADA)

MANDADO DE SEGURANÇA
Sendo a autoridade co-atora for Juiz do Juizado a turma recursal decide. Sendo a
autoridade co-atora for turma recursal, a PRÓPRIA turma recursal decide. (MS 24615)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CONFLITO DE COMPETÊNCIA
Sendo entre Juiz do Juizado e o Juízo comum, decidirá o STJ. (STF CC 7090 STJ
79022)
STJ SÚMULA 348 - COMPETE AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DECIDIR OS CONFLITOS DE COMPETÊNCIA ENTRE JUIZADO ESPECIAL
FEDERAL E JUÍZO FEDERAL, AINDA QUE DA MESMA SEÇÃO JUDICIÁRIA.
(ao juízo estadual também)

REVISÃO CRIMINAL
Contra revisão criminal poderá e será julgada pela turma recursal. (CC 47718)
Mas no âmbito cível Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao
procedimento instituído por esta Lei.

EXECUÇÃO

EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA


Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á
mediante pagamento na Secretaria do Juizado. Parágrafo único. Efetuado o pagamento,
o Juiz declarará extinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique
constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial.
Quando a pena de multa for aplicada isoladamente, deve ser cumprida e executada no
próprio juizado especial criminal. Caso não haja cumprimento espontâneo, a execução
se dará no próprio juizado, por iniciativa do MP. E além disso, o procedimento a ser
observado será o da lei de execução fiscal. Resta claro no art. 53 o limite de 40 salários
mínimos.

EXECUÇÃO PENA DE MULTA CUMULADA COM PENA RESTRITIVA DE


DIREITOS OU COM PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
Quando a pena de multa estiver cumulada com a pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos, deve ser processada e executada perante o juízo comum das
execuções criminais. O mesmo raciocínio se dá se houver pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos, ambas isoladamente, a competência será do juízo das execuções.
Lembre-se que esta execução da pena de multa se dará numa vara da fazenda pública a
ser executada pela respectiva procuradoria (procuradoria da fazenda).

CONVERSÃO DA PENA DE MULTA


Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa
da liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei. (lei que não vei a
tona)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Prevalece na doutrina que o art. 85 foi revogado tacitamente pela lei 9.268/96 que
modificou o art. 51 CP. Assim não se pode converter a multa em pena privativa de
liberdade. Em relação a conversão da pena de multa em pena restritiva de direitos, como
não há qualquer previsão legal, não pode ser efetiva. STFHC 78200.

MODO DE CONVERSÃO

CP Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada


dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da
Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da
prescrição. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO


Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja
sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais
requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
Trata-se de um instituto despenalizador, criado como alternativa à pena privativa de
liberdade, pelo qual o processo fica suspenso de 2 a 4 anos ficando o acusado submetido
ao cumprimento de certas condições após o que será declarada extinta a punibilidade.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E SUSPENSÃO CONDICIONAL


DA PENA (distinções)
Suspensão condicional do processo (sursis processual) art. 89 9.099/95 - Concedida no
início do processo para que não tenha início e nem haja andamento. Noutro plano,
Suspensão condicional da pena (sursis) dá-se no momento da sentença condenatória art.
77 CP - Há sentença condenatória com pena privativa de liberdade que não será objeto
de execução.
Nolo contendere: A suspensão condicional do processo baseia-se no Nolo contendere
(não contestar) que é uma forma de defesa que o acusado não contesta a imputação, mas
não admite culpa nem proclama a sua inocência.
Plea Bargaining: (do direito norte-americano), negociação feita no início do processo
feita com o promotor. Já existiu na anterior lei de drogas. Confessa a prática do deilito,
indica origem ilícita de valores.
Guilty Plea: negociado com o juiz assumindo a culpa pela prática do delito, assim
sendo, sua pena é sensivelmente diminuída.
Probation: Direito anglo-saxônico. As provas são colhidas anteriormente à condenação,
o juiz dá ao agente a possibilidade de entrar em regime de provas cumprindo
determinadas condições. Similar a suspensão condicional do processo com exceção à
produção de provas que no instituto brasileiro não há.

INICIATIVA DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Há corrente alegando ser um direito subjetivo do acusado, podendo ser concedida de


ofício. Noutro plano eis outra corrente (é a que prevalece): se a suspensão resulta na
disponibilidade da ação penal, somente o titular poderia concede-la. Assim a iniciativa é
exclusiva do titular da ação penal. Por ter natureza de acordo, não se trata de direito
subjetivo não podendo o juiz conceder de ofício. Diante da recusa injustificada do MP
em oferecer a suspensão, aplica-se o art. 28 CPP. Suspensão não é direito e sim um
acordo.
STF SÚMULA Nº 696 - REUNIDOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PERMISSIVOS
DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, MAS SE RECUSANDO O
PROMOTOR DE JUSTIÇA A PROPÔ-LA, O JUIZ , DISSENTINDO, REMETERÁ A
QUESTÃO AO PROCURADOR-GERAL, APLICANDO-SE POR ANALOGIA O
ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

CABIMENTO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO EM CRIMES DE


AÇÃO PENAL PRIVADA

1 CORRENTE: em virtude da omissão do legislador, só cabe suspensão em crimes de


ação penal pública.
2 CORRENTE (é a que prevalece): há compatibilidade entre a suspensão condicional do
processo e a ação penal privada. Cabe a vítima a opção da punição total, assim sendo a
vítima também poderá buscar a suspensão condicional do processo. Prevalece que a
iniciativa para conceder a suspensão condicional do processo pertence ao titular da ação
penal privada (querelante). Portanto, a recusa do querelante inviabiliza por completo a
suspensão condicional do processo. A suspensão condicional do processo é um
desdobramento da legitimidade ad causam ativa significando que só pode ser concedida
a suspensão condicional do processo em crime de ação penal privada mediante
iniciativa do ofendido. O Mp não o poderia por não possuir titularidade. (STF HC
81720).

REQUISITOS DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

1) CRIME CUJA PENA MÍNIMA COMINADA SEJA IGUAL OU INFERIOR A 1


ANO, ABRANGIDO OU NÃO PELA LEI DO JECRIM.
Furto caput (mínimo reclusão de 1 ano a 4 anos): mesmo sendo julgado no juízo
comum, aplica-se a suspensão condicional do processo. Depreende-se que se aplica
mesmo aos crimes que não sejam de menor potencial ofensivo.

Para o STF, quando a pena de multa estiver cominada de maneira alternativa, será
cabível a suspensão condicional do processo, mesmo que a pena mínima seja superior a
1 ano, será cabível a suspensão quando a pena de multa estiver cominada de maneira
alternativa (STF HC 83926 – leading case). EX: O delito contra o consumidor “venda
casada” previsto na Lei LEI Nº 8.137/90 Art. 5° Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco)
anos, ou multa.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

2) NÃO ESTAR SENDO O ACUSADO PROCESSADO E NEM TER SIDO


CONDENADO POR OUTRO CRIME (não abrange contravenção penal);
Prevalece na jurisprudência a constitucionalidade de não estar sendo processado por
outro crime, sob o argumento de que o legislador pode impor requisitos para um
benefício (STFHC 85751). O art. 89 deve ser lido de acordo com art. 64, i CP, ou seja,
se já decorrido a lapso temporal de 5 anos.

3) PRESENÇA DOS DEMAIS REQUISITOS QUE AUTORIZARIAM A


SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA DO ART. 77 DO CP.
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias
autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44
deste Código.

4) PRÉVIA DECISÃO DO RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA (JÁ


ACRESCENTADA A PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO).
Após o recebimento da peça acusatória, eis a citação do acusado. No entanto existe
posição doutrinaria que em vez da citação deve haver a notificação do acusado para que
ele aceite ou não a suspensão condicional do processo. Antes mesmo pode ser citado e
apresentar resposta a acusação, tem a possibilidade de ser absolvido sumariamente. Não
ocorrendo absolvição sumária ai sim poderá ocorrer a proposta de suspensão
condicional do processo.

CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Art. 89 § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de
prova, sob as seguintes condições:

I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

II - proibição de freqüentar determinados lugares;

III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;

IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e


justificar suas atividades.

§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,


desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. Essas condições não
podem expor o acusado a vexame o constrangimento.

REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA
art. 89 § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano

REVOGAÇÃO FACULTATIVA
art. 89 § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no
curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

VERIFICAÇÃO DE HIPÓTESE DE REVOGAÇÃO APÓS O DECURSO DO


PERÍODO DE PROVA DA SUSPENSÃO.
1 CORRENTE: com o fim do período de prova estará automaticamente extinta a
punibilidade, não sendo possível portanto a revogação da suspensão.

2 CORRENTE (é a que prevalece): desde que ainda não haja decisão declaratória
extintiva da punibilidade com o trânsito em julgado, será possível a revogação da
suspensão, mesmo após o fim do período de prova. (STJ RESP 612978)

Caso seja verificado o descumprimento de uma das condições após o período de


prova, é possível a revogação da suspensão?
R - Caso não tenha sido declarada extinta a punibilidade por decisão transitada em
julgado, a suspensão condicional do processo pode ser revogada mesmo após o
encerramento do período de prova.

Para que não haja violação ao princípio da ampla defesa, deve-se providenciar a
intimação do acusado e de seu defensor antes da revogação.

PRESCRIÇÃO
A suspensão condicional do processo é causa suspensiva da prescrição.
Art. 89 § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
RECURSOS CABÍVEIS CONTRA A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO
A doutrina determina ser o recurso de apelação. Já jurisprudência, todavia, determina o
Recurso em Sentido Estrito (STJ RESP 601924).

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:


XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena (e a
suspensão condicioanl do processo); MAS SE FOR PROFERIDA A DECISÃO POR
JUIZ DA EXECUÇÃO, CABERÁ AGAVO EM EXECUÇÃO) Trata-se uma
interpretação extensiva feita pela jurisprudência. (STJ RMS 23516)
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão
prejudicial;

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Será que o acusado durante o período de suspensão poderá se utilizar de habeas


corpus? Pode o acusado se valer de um hábeas corpus pleiteando o trancamento do
processo durante o período em que este estiver suspenso com base no art. 89?
Para o STJ não seria possível a impetração de HC enquanto o processo estiver suspenso,
devendo a ação tomar o seu curso normal para que ocorra. Para o STF, a aceitação da
proposta de suspensão não implica renúncia ao interesse de agir para impetração de HC
com o objetivo de questionar a justa causa da ação penal. (STF RHC 82365)

TRIBUNAL DO JURI E DESCLASSIFICAÇÃO PARA INFRAÇÃO DE MENOR


POTENCIAL OFENSIVO
DESCLASSIFICAÇÃO NO JUDICIUM ACCUSATIONIS
Caso essa desclassificação tenha se dado na fase judicium accusationis – juiz sumariante
faz a remessa dos autos ao juizado para o devido procedimento (tentativa de homicídio
desclassificado para lesão corporal leve que depende de representação). Em verdade, o
prazo decadencial de 6 meses para o oferecimento da representação deve ser contado a
partir da desclassificação.
CPP Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da
existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for
competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.

DESCLASSIFICAÇÃO NO JUDICIUM CAUSAE


Caso se dê a desclassificação pelos jurados (judicium causae), remete-se os autos para o
juiz presidente que aplicará a lei 9.099/95.
CPPArt. 492. § 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do
juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida,
aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei
como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da
Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Para Gustavo Badaró este dispositivo supra é inconstitucional, pois se trata de
competência absoluta sendo esta em razão da matéria. Eugenio Pachelli crê que a
competência dos juizados tem natureza relativa (modificável), pois uma vez
desclassificado, resta a competência do juiz presidente. É a que prevalece.

§ 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida
será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o
disposto no § 1o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
STJ SÚMULA 337 - É CABÍVEL A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
NA DESCLASSIFICAÇÃO DOCRIME E NA PROCEDÊNCIA PARCIAL DA
PRETENSÃO PUNITIVA.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

REPÚDIO AO RACISMO LEI Nº 7.716/89.

1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Princípio do repúdio ao racismo.


Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
At. 5° LII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei (NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA
LIMITADA);
Desse inciso derivam algumas obrigações para o legislador infraconstitucional: Extrai-
se do presente inciso a criminalização do racismo e nunca ser tratado como
contravenção o que seria clara inconstitucionalidade. Assim sendo, deve ser punido com
pena de reclusão, imprescritível e insuscetível de liberdade provisória com fiança.

2. IMPRESCRITIBILIDADE

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou


militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
Sobre a imprescritibilidade no julgamento do HC 82424, o STF manifestou-se
favoravelmente quanto a imprescritibilidade nos crimes raciais sob o fundamento à
prática do racismo não deve cair no esquecimento.

3. INAFIANÇABILIDADE

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a


prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Sendo inafiançável, os delitos de racismo também não suportam liberdade provisória


com fiança, porém, mesmo em relação ao crime de racismo, é cabível a liberdade
provisória sem fiança quando inocorrer as hipóteses da prisão preventiva. Art. 310.
Parágrafo único. Igual procedimento será adotado quando o juiz verificar, pelo auto de
prisão em flagrante, a inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizam a prisão
preventiva (arts. 311 e 312).

4. LEIS QUE ABARCAM OUTROS TIPOS PENAIS SOFRERAM INFLUENCIA DO


PRINCÍPIO DO REPUDIO AO RACISMO|:- genocídio (art. 1º da Lei 2.889/56);-
tortura (art. 1º, I, c, da Lei 9.455/97);- injúria racial (art. 140, § 3º, do CP).

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

No que tange os delitos supracitados, não podem ser classificados como crimes raciais
não se sujeitando às determinações constitucionais.

5. ANÁLISE DA LEI 7.716/89

5.1 ELEMENTOS NORMATIVOS DO ART.1º

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou


preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Preconceito: opinião formada antecipadamente, referindo-se a uma atitude interior do


agente. Assim sendo o preconceito isoladamente não possui relevância penal, sob pena
de verdadeiro direito penal do autor. Enquanto o preconceito não sair do pano interno
do agente, não há falar em punição.

Discriminação: significa promover distinção, exclusão, restrição ou preferência. A


conduta discriminatória se dirige a outra pessoa no sentido de privá-la do acesso ou
gozo de determinado bem ou direito. Essa discriminação deve ter como móvel o
preconceito, pois sozinha não é crime. Deve ter como móvel o preconceito para que o
delito esteja caracterizado.

PROGRAMAS DE AÇÃO AFIRMATIVA

Trata-se de um conjunto de ações, programas e políticas que buscam reduzir ou


minimizar os efeitos intoleráveis da discriminação em razão de raça, sexo, religião,
deficiência física ou outro fator de desigualdade. Objetiva incluir setores marginalizados
num patamar satisfatório de oportunidades sociais, valendo-se de mecanismos
compensatórios. O primeiro programa remonta ao ano de 1934 num caso julgado pela
Suprema Corte Americana no julgado Brown versus Board of Education of Topeka,
Kansas. Desegregação das escolas. Tais programas não se configuram como
discriminação social.

RAÇA: conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, a
conformação do crânio e do rosto, o tipo capilar são semelhantes e se transmitem por
hereditariedade. De acordo com o art. 1° da lei em estudo, não há falar em crime de
discriminação quando o preconceito estiver relacionado à orientação sexual da pessoa
discriminada. STF HC 82424 incluiu os judeus como raça, não podendo se valer o
agente da liberdade de expressão. STJ HC 15155.

COR: entende-se como a pigmentação epidérmica dos seres humanos.

ETINIA: agrupamento humano constituído por vínculos intelectuais como a cultura ou a


língua. Grupo homogêneo do ponto de vista sócio cultural. Tribo dos macuchi.

RELIGIÃO forma de manifestação da fé em toda sorte de crenças.


s. f.
1. Culto prestado à divindade.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

2. Por ext. Doutrina ou crença religiosa.


3. Fig. O que é considerado como um dever sagrado.
4. Reverência, respeito.
5. Escrúpulo.
6. Comunidade religiosa que segue a regra do seu fundador ou reformador.
7. Em religião: como religioso.
8. Religião do Estado: aquela que o governo subvenciona.

Indivíduos podem também não ser discriminados por não possuir opção religiosa. Neste
caso também impera a lei em comento.

CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS - Art. 12 - Liberdade de


consciência e de religião.
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito implica
a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de
crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças,
individual ou coletivamente, tanto em público como em privado. Indivíduos
discriminados por sua não opção religiosa também podem figurar como sujeito passivo.

Procedência nacional: é a origem de nascimento de algum lugar no Brasil (Nucci). Aqui


não entra gaúcho ou mineiro (minoritário). Noutro plano, procedência nacional significa
local de origem relacionado a nacionalidade, estando fora desse conceito preconceito
em razão de regionalismos (rivalidades regionais) (Fabiano Martins). Nesse conceito
procedência nacional, devem ser incluídos aqueles indivíduos que, apesar de terem
nascido no Brasil, cultivam laços com a comunidade de seus antepassados. Não
confundir procedência com origem, porquanto não prevalece a posição de Nucci.
Procedência nacional não significa necessariamente procedência estrangeira, ou seja,
caso o cidadão brasileiro venha a sofrer qualquer tipo de discriminação por sua
nacionalidade, também estará caracterizado o delito.

5.2 BEM JURÍDICO TUTELADO

A pluralidade e a igualdade.

Sujeito ativo: quando o verbo for impedir e obstar, qualquer pessoa poderá realizar a
conduta (crime comum). Mas quando o verbo for negar e recusar, entende-se que a
norma penal reserva a proibição a um número determinado de pessoas_ dono de
restaurante_ (crime próprio). Não se exige do sujeito ativo atributos raciais específicos,
assim sendo, negros podem discriminar negros.

Sujeito passivo: alguns doutrinadores dizem que o sujeito passivo seria plural
abrangendo não só as pessoas cujos direitos foram obstruídos ou limitados pela
discriminação racial, mas também toda a sociedade. Mas claro que a pessoa
discriminada também será lesionada, por tanto sujeito passivo do crime.

5.3 ANÁLISE DA CONDUTA

Prevalece a idéia de oposição ao exercício legítimo de um direito por parte da pessoa


discriminada. Caso se espanque a vítima por sua cor ou destrói-se o carro por religião

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

ou cor não há falar em crime de racismo e sim pelos delitos praticados. NO caso do
exemplo dado, crime de dano ou de lesa corporal prevalece o tipo penal do código
penal.

Impedir, obstar Negar, recusar


Demandam o exaurimento ou perfeição da Pouco importa que a vítima ao final
conduta discriminatória, ou seja, a consiga ou não exercer o seu direito, pois
discriminação produz a frustração a simples recusa ou negativa já caracteriza
completa do exercício do direito da pessoa o delito.
discriminada.
Crimes materiais Crimes formais (crime de consumação
antecipada)

5.4 ANÁLISE DO TIPO SUBJETIVO


Todos os crimes raciais caracterizam-se pela presença do dolo genérico (recusar, negar)
e do dolo específico (intenção específica de discriminar).

Definição analítica dos crimes: corresponde a todo comportamento discriminatório com


imediata correspondência na lei 7716/89, praticado por ação ou omissão dolosa,
motivado por preconceito de raça, cor, etinia, religião ou procedência nacional,
contrariando os princípios constitucionais da igualdade e do pluralismo.

6. CRIMES ESPECIAIS

-Se a discriminação for motivo de sexo ou estado civil, a infração será a da lei 7.437/85.
Essa lei trata desta discriminação como simples contravenção. Assim, para parte da
doutrina, esta lei não foi recepcionada, pois o texto constitucional exige que seja
caracterizada como crime e não contravenção, pois o racismo deve ser caracterizado
como crime.
-Se a discriminação for contra pessoas portadoras de deficiência física ou mental, o
crime será o do art. 8° da lei 7853/89.
-As condutas dos arts. 3° e 4° se praticados contra idosos caracteriza os crimes do art.
100 incisos I e II da 10.741/03 (estatuto do idoso).

7. DISTINÇÃO ENTRE O ART. 20 DA LEI 7816/89 E O DELITO DE INJÚRIA


RACIAL
ART. 20 INJÚIRIA racial
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a Cp 140 § 3o Se a injúria consiste na
discriminação ou preconceito de raça, cor, utilização de elementos referentes a raça,
etnia, religião ou procedência nacional. cor, etnia, religião, origem ou a condição
de pessoa idosa ou portadora de

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

deficiência
Bem jurídico: a igualdade e a pluralidade Bem jurídico: a honra subjetiva
Ofensa não é dirigida a uma pessoa Há uma pessoa determinada
específica Injuria coletiva ou
indeterminada quanto aos sujeitos
passivos imediatos
Inafiançável e imprescritível Afiançável e prescritível
Sujeito passivo plural – toda a sociedade. Sujeito passivo é a pessoa ofendida em
sua honra subjetiva
ação penal pública incondicionada – MP ação penal privada prazo decadencial de 6
meses – mediante queixa

Caso o MP, sob classificação equivocada, venha apresentar denuncia haverá o risco de
decadência, pois será declarado nulo o processo diante a ilegitimidade do Parquet.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES HEDIONDOS LEI Nº 8.072/90.

Há três critérios para a definição de crime hediondo.

- Sistema legal (é o que prevalece): Nesse sistema compete ao legislador enumerar, num
rol taxativo, quais são os delitos considerados hediondos. A crítica é que tal sistema só
trabalha com a gravidade no plano abstrato, desconsiderando o caso concreto;

- Sistema judicial: é o juiz quem, na apreciação do caso concreto, diante da gravidade


do crime, decide se a infração é ou não hedionda. A crítica é que se trata de análise
estritamente subjetiva, inclusive podendo ferir o princípio da legalidade, da taxatividade
e do mandato de certeza.

- Sistema misto: neste sistema o legislador apresenta um rol exemplificativo de crimes


hediondos, permitindo ao juiz complementar esse rol diante do caso concreto. Tal
sistema é pior, pois possui as duas desvantagens presentes nos anteriores,
concomitantemente.

Art. 5° XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia


a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem;
O Brasil adotou o sistema legal (art. 5, XLIII).

A CF/88 deixou à lei ordinária a enumeração dos crimes hediondos, mas os crimes
EQUIPARADOS aos hediondos estão na própria CF/88; são eles: tráfico de drogas,
terrorismo e tortura.

Segundo o STF, há um quarto sistema: o legislador apresenta um rol taxativo de crimes


hediondos, devendo o magistrado confirmar a hediondez na análise do caso concreto.

O genocídio é único crime hediondo fora do Código Penal, por isso ele está no
parágrafo único do art. 1º da Lei 8.072/90.

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-


Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio,


ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III,
IV e V);
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
IV -extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada(art. 159,caput,e §§ lo, 2o, 3o);
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada
pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de
20.8.1998)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos


arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado.
(Parágrafo incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

CRIMES HEDIONOS ENUMERADOS

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art.
121, § 2o, I, II, III, IV e V);

Ressalte-se que o homicídio se tornou hediondo 4 anos após a vigência da lei dos crimes
hediondos. A lei posterior não retroagir em malefício do réu.

HOMICÍDIO CONDICIONADO

O homicídio simples é etiquetado como hediondo?


Em regra não.
O homicídio simples pode ser hediondo, desde que praticado em atividade típica de
grupo de extermínio, ainda que por uma só pessoa. Nesse caso o homicídio é chamado
de CONDICIONADO. Crítica: as condições são genéricas, vagas, imprecisas. Pois
assim cumpre se definir atividade típica de grupo de extermínio.

Atividade típica de grupo de extermínio é a chamada chacina (matança generalizada).


Crítica: nunca haverá matança generalizada classificada como homicídio simples, pois a
chacina se classificará sempre como homicídio qualificado (qualificadora inerente ao
delito) Neste sentido Paulo Rangel e Nucci.

DEFINIÇÃO DE GRUPO

Ainda existe na jurisprudência uma discussão a respeito da definição de grupo, havendo


um entendimento segundo o qual seriam necessárias no mínimo 3 pessoas e outro
entendimento dizendo que são 4 pessoas.

1ª CORRENTE: LUIS VICENTE CERNIQUIARIO define que PAR é formado 2,


GRUPO é formado por 3 pessoas e bando por 4.

2ª CORRENTE: ALBERTO SOUSA FRANCO define que PAR é formado 2,


GRUPO é formado por 4 pessoas e bando por 4.

Quem decide se foi ou não praticado em atividade típica de grupo de extermínio, o


juiz ou os jurados?
A hediondez, ou não, do homicídio não é aferida pelo júri, mas sim pelo juiz presidente
para que ocorra a incidência da lei dos crimes hediondos.

Todas as qualificadoras redundam no crime hediondo.

É possível o homicídio qualificado privilegiado?

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O crime de homicídio qualificado/privilegiado somente ocorre quando a qualificadora


for de ordem objetiva, pois seria inconcebível, por exemplo, um homicídio praticado
por motivo de relevante valor moral e, ao mesmo tempo, por um motivo torpe.

Será homicídio qualificado/privilegiado apenas quando a qualificadora for de natureza


objetiva.
Privilegiado Qualificado
Motivo social subjetivo (ligados ao agente Motivo torpe subjetivo (motivo)
estado anímico do agente)
Motivo fútil subjetivo (motivo)

Motivo moral subjetivo Meio cruel objetivo (finalidade do


agente)

Emoção subjetivo Surpreso objetivo (modo de execução)

Fim especial subjetivo

Sendo possível ser o homicídio qualificado/privilegiado também será hediondo?


Segundo uma primeira corrente, o crime qualificado/privilegiado é hediondo, pois a lei
não o excepcionou do rol taxativo. Para uma segunda corrente, tal crime deixa de ser
hediondo, pois o privilégio prepondera sobre a qualificadora (por analogia ao art. 67 do
CP). ESSA SEGUNDA CORRENTE É A QUE PREVALECE NO STF E NO STJ.

Analogia ao art. 67 CP - Concurso de circunstâncias agravantes (QUALIFICADORA –


NATUREZA OBJETIVA) e atenuantes (PRIVILÉGIO-NATUREZA SUBJETIVA)
Art. 67 - No concurso de agravantes (QUALIFICADORA – NATUREZA
OBJETIVA) e atenuantes (PRIVILÉGIO-NATUREZA SUBJETIVA), a pena deve
aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se
como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do
agente e da reincidência.

II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);

Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
Roubo qualificado (latrocínio)
§ 3º Se da violência...; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
da multa.
-O latrocínio pode ser doloso ou preteroloso.
-A morte deve resultar da violência.
-STF: se resulta da grave ameaça não é latrocínio.
-A violência deve ser empregada durante o assalto (FATOR TEMPO) e em razão do
assalto. (FATOR NEXO).
-Assaltante que mata o outro tentando matar a vítima é latrocínio. Aberratio Ictus Art.
73. (art. 73 do CP – considera-se a vítima virtual e não a real)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

HIPÓTESES EM QUE NÃO OCORRE LATROCÍNIO


-Assaltante que mata o outro para ficar com o proveito do crime. (Roubo em concurso
com homicídio torpe)...
-Se a intenção inicial era matar e depois resolveu subtrair homicídio seguido de furto.

Quero roubar um carro, para isso vou matar 3 passageiros?

UMA SUBTRAÇÃO COM PLURALIDAES DE MORTE.

1ª CORRENTE (é a que prevalece) um latrocínio: as várias mortes serão consideradas


pelo juiz na fixação das penas. (Cezar Roberto Betencourt)

2ª CORRENTE concurso formal impróprio: cada morte é um latrocínio com soma de


penas – tese institucional MP SP.

3ª CORRENTE: Continuidade delitiva – jurisprudência minoritária.

STF SÚMULA 603 - A COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO


DE LATROCÍNIO É DO JUIZ SINGULAR E NÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI.

Qual o momento consumativo do latrocínio?


MOMENTO CONSUMATIVO: MORTE VISANDO UMA SUBTRAÇÃO
SUBTRAÇÃO MORTE 157 PARÁG 3
Cosumada C C
Tentada T T
Consumada T T STF
Tentada C C SÚMULA 610 STF
STF SÚMULA 610 - HÁ CRIME DE LATROCÍNIO, QUANDO O HOMICÍDIO SE
CONSUMA, AINDA QUE NÃO SE REALIZE O AGENTE A SUBTRAÇÃO DE
BENS DA VÍTIMA.

CRÍTICA À SÚMULA 610 DO SUPREMO

Art. 14 - Diz-se o crime: I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de


sua definição legal; Rogério Grecco notabiliza que há incoerência na súmula em
comento, pois com a subtração frustrada nem todos os elementos estão perfeitos.

É possível aplicar ao latrocínio as causas de aumento do p. segundo do art. 157?


Quando aplicada as majorantes do Parág. 3°, não se aplica as do 2°. As majorantes do
parágrafo 2° têm aplicação nos crimes de roubo próprio e impróprio não incidindo no
latrocínio, Por posição topográfica do parágrafo, só se aplica aos supracitados em
relação a este. Resta destacar que a pena já é majorada.

____________
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); (TUDO FALADO SOBRE O
LATRICÍNIO AQUI SE APLICA)

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IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo,


2o e 3o);

Extorsão mediante seqüestro é sempre hediondo, pouco importa se está na forma


simples ou qualificada.
___________________________________

V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)

CP Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter


conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é


menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de


2009)

§ 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de


2009)

________________

VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação


dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

CP Estupro de vulnerável (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de


2009)

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: (Incluído pela Lei nº


12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de


2009)

§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.(Incluído pela Lei nº 12.015, de


2009)

____________________________________

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).


Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.

§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.

VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a


fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a
redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

Art. 273 – PUNE O FALSIFICADOR - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar


produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.

PUNE QUEM INSERE NO COMÉRCIO § 1º - Nas mesmas penas incorre quem


importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma,
distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou
alterado.

§ 1º-A ABRANGE COMO OBJETO MATERIAL OUTROS PRODUTOS - Incluem-se


entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os
insumos farmacêuticos, os cosméticos (COM FINALIDADES TERAPEUTICAS OU
MEDICINAIS, ESTÉTICAS JAMAIS), os saneantes (BOM AR, LIMPEZA) e os de
uso em diagnóstico.

§ 1º-B – PUNE QUEM COMERCIALIZA PRODUTO COM INFRAÇÃO


ADMINISTRATIVA (MESMO COM O PRODUTO NÃO CORROMPIDO) FERE O
PRINCÍPIO DA ITERVEÇÃO MÍNIMA E O DA PROPORCIONALIDADE A SIM
ENTENDE A DOUTRINA E A JURISPRUDÊCIA - Está sujeito às penas deste
artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das
seguintes condições:

I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;


II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua
comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;

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VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.


Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts.
1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado.

CONSEQUENCIAS PARA OS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS


(consectários da lei)

APLICAÇÃO DO INDULTO NA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS

CF ART. 5 XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou


anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo
e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Observa-se que na CF/88, não há a vedação ao indulto. Porém, nota-se que a lei dos
crimes hediondos veda o indulto. Será inconstitucional sua vedação prevista em
legislação ordinária?

1ª CORRENTE LFG E ALBERTO SILVA FRANCO: a vedação do indulto é


inconstitucional. As vedações constitucionais são máximas, não podendo o legislador
ordinário suplantá-las. Exemplificando: após a vedação de prisão civil por dívida do
depositário infiel, não poderá o legislador infraconstitucional criar uma outra espécie de
prisão civil por dívida.

2ª CONRRENTE (STF): as restrições constitucionais são mínimas pois o legislador


constituinte permitiu a criação de leis para amplificar as conseqüências . A CF/88
quando proíbe graça, também proíbe o indulto, pois é esta uma graça coletiva.

Caso em que autor de homicídio tem julgamento pendente antes do advento da lei
8930/94 proibindo o indulto aos crimes hediondos.
Posto isso, tendo sido julgado após a criação da lei em comento haverá direito ao
indulto?
R: Não terá direito ao indulto.STF: o indulto não alcança fatos pretéritos.
RHC 84572 RJ nesse recurso o STF entendeu sendo constitucional a vedação do indulto
para crimes hediondos, até mesmo para os crimes praticados anteriormente a sua
vigência.

A lei dos crimes hediondos prevê a vedação da graça, da anistia e o indulto. Pro sua vez,
a lei do crime de tortura prevê a vedação da graça e da anistia (assim como na
constituição).
A permissão de indulto antevista na lei de tortura revogou tacitamente a vedação
ao indulto aos demais crimes hediondos e equiparados?
1ª CORRENTE (LFG e Alberto Silva Franco): a permissão do indulto pra tortura se
estende aos demais crimes hediondos e equiparados revogando nesse ponto tacitamente
art. 2 inciso I fere o princípio da isonomia.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

2ª CORRENTE STF E MIRABETE: a permissão do indulto pra tortura não se estende


aos demais crimes hediondos e equiparados (princípio da especialidade).

Vale lembrar que a lei 11346/06 – tráfico: insusceptível de anistia, graça e indulto. fiel a
lei de crimes hediondos.

LIBERDADE PROVISÓRIA EM CRIMES HEDIONDOS

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e


drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.

A 11464/07 modificou o Art. 2º, II da lei dos crimes hediondos abolindo a vedação da
liberdade provisória restando vedado somente a fiança.

ANTES DEPOIS
FINAÇA + LIB. PROVISÓRIA APENAS FIANÇA

É possível aplicação de liberdade provisória para crime hediondo?

1ª CORRENTE DEZEMBRO-08 CELSO DE MELO: sim pois a vedação foi abolida.


ASSIM A SÚMULA 697 STF torna-se inválida.

2ª CORRENTE STF Helen Grace, STJ Félix Fisher: não se aplica a liberdade provisória
ao crime hediondo, pois a vedação permanece implicita na proibição da fiança.

Por esta segunda corrente a súmula 697 continua vivaz. Súmula nº 697 A PROIBIÇÃO
DE LIBERDADE PROVISÓRIA NOS PROCESSOS POR CRIMES HEDIONDOS
NÃO VEDA O RELAXAMENTO DA PRISÃO PROCESSUAL POR EXCESSO DE
PRAZO.

PROGRESSÃO DE REGIME EM CRIMES HEDIONOS

§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste
artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente (EM QUALQUER CRIME).

A lei 11.464/07 – NÃO ABRANGE FATOS PRETÉRITOS


antes depois
regime integral fechado sem progressão regime inicial fechado (permite
de regimes progressão)
STF já havia declarado inconstitucional 2/5 primário 3/5 reincidente)
permitindo a progressão com 1/6

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Neste sentido a inovação na lei tem aplicação ex-nunc, pois tendo em vista ser novatio
legis in pejus não retroagirá.

APELAÇÃO EM LIBERDADE

§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu


poderá apelar em liberdade.

Interpretação do STF: processado preso recorre preso, salvo se ausentes os fundamentos


da preventiva. Se ele é processado solto ele recorre solto, salvo se presentes os
fundamentos da preventiva.

PRISÃO TEMPORÁRIA EM CRIMES HEDIONDOS

§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de


1989, (DEVE SER CONBINADO O III(QUE É OBRIGATÓRIO) COM O I OU O III
COM O II)nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável
por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

Para representação da prisão temporária deve-se combinar sempre o inciso III do art. 1
da lei

Art. 1° Caberá prisão temporária:

I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;

II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários
ao esclarecimento de sua identidade;

III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

CRIMES PRAZO PRISÃO


1, III 7960/89 5+5
1, III 7960/89 (p. temporária) + LEI Nº 30+30
8.072 hediondos)

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

PRAZO DA PRISÃO TEMPORÁRIA


LEI DA P. TEMORÁRIA HEDIONDOS
5+5 a) homicídio doloso (art. 121, caput, e 30+30 I - homicídio (art. 121), quando
seu § 2°); SE HOMICÍDIO SIMPLES praticado em atividade típica de grupo de
5+5 extermínio, ainda que cometido por um só
agente, e homicídio qualificado (art. 121,
§ 2o, I, II, III, IV e V);
5+5 b) seqüestro ou cárcere privado (art. NÃO É HEDIONDO
148, caput, e seus §§ 1° e 2°); ***
5+5 c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 30+30 II - latrocínio (art. 157, § 3o, in
2° e 3°); fine)
5+5 d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 30+30 III - extorsão qualificada pela
1° e 2°); morte (art. 158, § 2o)
30+30 e) extorsão mediante seqüestro (art. 30+30 IV - extorsão mediante seqüestro
159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); e na forma qualificada (art. 159, caput, e
§§ lo, 2o e 3o);
30+30 f) estupro (art. 213, caput, e sua 30+30 V - estupro (art. 213, caput e §§
combinação com o art. 223, caput, e 1o e 2o); VI - estupro de vulnerável (art.
parágrafo único); 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);
h) rapto violento (art. 219, e sua ***agora é qualificadora do seqüestro
combinação com o art. 223 caput, e (não é hediondo)
parágrafo único);
30+30 i) epidemia com resultado de 30+30 VII - epidemia com resultado
morte (art. 267, § 1°); morte (art. 267, § 1o).
5+5 j) envenenamento de água potável ou NÃO É HEDIONDO
substância alimentícia ou medicinal
qualificado pela morte (art. 270, caput,
combinado com art. 285);
5+5 l) quadrilha ou bando (art. 288), todos NÃO É HEDIONDO
do Código Penal;
30+30 m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da 30+30 Parágrafo único. Considera-se
Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), também hediondo o crime de genocídio
em qualquer de sua formas típicas; previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei
no 2.889, de 1o de outubro de 1956,
tentado ou consumado.
30+30 n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei 30+30 Art. 2º Os crimes hediondos, a
n° 6.368, de 21 de outubro de 1976); prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo...
5+5 o) crimes contra o sistema financeiro NÃO É HEDIONDO
(Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).
NÃO CONSTA NA LEI DE PRISÃO VII-B - falsificação, corrupção,
TEMPORÁRIA adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou
medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e
§ 1o-B, com a redação dada pela Lei
no 9.677, de 2 de julho de 1998).
Qual crime está previsto na lei dos crimes hediondos mas não consta na lei de
prisão temporária?
Falsificação de remédios está no rol dos crimes hediondos, mas não está no da prisão
temporária 7960/89, mas mesmo assim cabe prisão temporária. O p. 4° é uma lei

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ordinária regra da posterioridade. As duas leis possuem a mesma hierarquia. Assim


sendo 30+30 art. 273 CP.

LIVRAMENTO CONDICIONAL EM CRIMES HEDIONDOS

Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso:


"Art. 83. LIVRAMENCO CONDICIONAL NADA MAIS QUE QUE LEBERDADE
ANTECIPADA À EXECUÇÃO
CP Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em
crime doloso e tiver bons antecedentes;
Mas se primário, portador de maus antecedentes
1° corrente (é a que prevalece): na lacuna analogia in bonam partem (pró réu)
2° corrente: cumpre o mesmo do reincidente

II- cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;

V - cumprido mais de 2/3, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for
reincidente específico em crimes dessa natureza.

REINCIDENTE ESPECÍFICO

1ª CORRENTE: é aquele que pratica dois crimes hediondos ou equiparados do mesmo


tipo penal.

2ª CONRRENTE: é aquele que pratica dois crimes hediondos ou equiparados com o


mesmo bem jurídico.

213 (estupro) +213 NÃO TEM DIREITO ao LIVRAMENTO CONDICIONAL


157 PARAG. 3 (latrocínio) + 213 TEM DIREITO ao LIVRAMENTO CONDICIONAL

3ª CONRRENTE (é a que prevalece): DOIS CRIMES HEDIONDOS OU


EQUIPARADOS ainda que com tipos diversos, ainda que bem jurídicos diferentes.
213 +213 NÃO TEM DIREITO
157 PARAG. 3 + 213 NÃO TEM DIREITO
155 (furto) +213 TEM DIREITO A LIVRAMENTO

Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à
constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a
delinqüir.
V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo,
prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o
apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza."
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco a quinze
anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
da multa.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Vale lembrar a diferença dos prazos para a progressão de regime e para o livramento
condicional: só ocorrerá a progressão de regime 2/5 (se primário) ou 3/5 (se reincidente
específico ou não). Já no livramento condicional, cumprido 2/3 da pena, poderá o
reincidente gozar do livramento condicional, porém se reincidente específico em crime
hediondo não poderá.

DELAÇÃO PREMIADA EM EXTORÇÃO MEDIANTE SEQUESTRO 159 CP


PARAG. 4

8072/90 antes 9269/96 depois


Cometido por quadrilha ou bando 288cp Concurso de pessoas
Co-autor denunciando que facilite a Partícipe e co-autor
libertação
Facilite a libertação Facilite a libertação

159 CP § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente (PARTÍCIPE


também) que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua
pena reduzida de um a dois terços.

Seria analogia in malam partem se fosse requisito a devolução do resgate.

STJ – HC 41758/2007. Exigência do desmantelamento do bando. (mas a lei não exige).

PROBLEMÁTICA DO ART. 8

Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal
(QUADRILHA OU BANDO), quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura,
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.

Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou


quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois
terços.

O artigo texto do artigo em comento trata de pena específica quanto a aplicação da pena
de 2 a 6 anos quando a quadrilha ou bando cometer tráfico ilícito de drogas. Toda via, a
antiga lei de drogas elencava crime específico de bando (art 14 da antiga lei) com pena
de 3 a 10 anos. Tendo em vista solver a questão, o STF derrogou mantendo o tipo penal
especial, porém com a aplicação da pena do tipo penal geral (quadrilha ou bando).
Posteriormente, com advento da nova lei de drogas a questão foi solvida com nova
pena:

ART. 35 11343/2006 3 A 10 ANOS.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente
ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

70
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200


(mil e duzentos) dias-multa.

ESTUDO DO ART. 9
O art. 9 da Lei 8.072/90 é matéria de APLICAÇÃO da pena; já o art. 75 do CP é uma
limitação referente à EXECUÇÃO. Por ocasião da sentença, o juiz é ilimitado; o art. 75
do CP deverá ser observado é no momento da execução da pena.

O ora revogado e de forma expressa, art. 224 do Código Penal, possuía duas funções:
(a) Tornar típica a conduta do agente, através da adequação típica indireta, de
subordinação, mediata ou ampliada, nos crimes contra os costumes que possuíam como
elementar do tipo a violência (ex. o art. 213 e o revogado art. 214). Vale dizer, havendo
a prática da conjunção carnal ou de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, presente
uma daquelas circunstâncias, a conduta revestia-se de tipicidade; e (b) Ser causa
especial de aumento de pena nos crimes previstos no art. 9º da Lei 8.072/90 (Lei dos
Crimes Hediondos).
Pois bem, com a revogação desse artigo operada pela Lei n. 12.015/2009, a causa de
aumento da pena não existe mais no nosso ordenamento jurídico. Ou seja, houve
revogação tácita.
Mas no que tange à primeira função (norma de adequação típica de
subordinação, mediata, ampliada ou indireta), não se pode afirmar que a revogação
desse artigo tenha produzido efeitos jurídicos de novatio legis in mellius, ou abolitio
criminis. A rigor o legislador, ao editar a Lei n. 12.015/2009, deu nova formatação aos
então chamados crimes contra os costumes, agora denominados “contra a dignidade
sexual”. Já vimos o exemplo da deslocação para o art. 213 da figura até então prevista
no art. 214.

Artigo 9º da 8.072/90 :
Antes da Lei 12.015-2009 Depois da Lei 12.015-2009
Pena majorada de ½ se a vítima nos O Art. 224 do CP foi revogado
termos do Art. 224 a) não era maior de 14
anos; b) alienado mental; c) sem
resistência
Implicitamente foi revogado o Art. 9° da
Lei n °8.072-90 (revogou-se uma causa de
aumento e esta mudança será retroativa)

esse artigo desapareceu com a sanção da lei 12.015-2009 que trata do tema;

- tal artigo fala do:


- latrocínio (art. 157, §3º) – vítima nos termos do artigo 224 do CP, pena aumentada
pela metade;
- extorsão mediante seqüestro – vítima nos termos do artigo 224 do CP, pena
aumentada pela metade;
- art. 159 – vítima nos termos do artigo 224 do CP, pena aumentada pela metade;
- estupro (art. 213) – vítima nos termos do artigo 224 do CP, pena aumentada pela
metade;

71
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

- atentado violento ao pudor (art. 214) – vítima nos termos do artigo 224 do CP, pena
aumentada pela metade;
Nos casos do artigo 213 e 214 o STJ e o STF entendem que o
aumento não teria incidência quando o crime for praticado
por violência ficta (violência presumida), pois geraria bis in
idem.

STF
• Cabe sursis em crimes hediondos se preenche os requisitos
• Restritiva de direitos se preenche os requisitos
• Remição cabe porque a lei não veda

72
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

TORTURA LEI Nº 9.455/97.

- antes da segunda grande Guerra Mundial não havia preocupação mundial com relação
à tortura;
- após a segunda grande guerra nasce o movimento mundial de repúdio à tortura;
- a comunidade internacional resolveu repudiar a tortura principalmente pelos abusos
vistos durante a segunda grande guerra, originando-se assim tratados internacionais e
convenções de combate às práticas de tortura;
Somente em 1988, com a Constituição Federal (art. 5º, III), foi introduzida no Brasil
uma garantia do cidadão contra a tortura. Trata-se de uma das raríssimas garantias
constitucionais ABSOLUTAS, não sendo admitidas quaisquer relativizações pela lei ou
pela jurisprudência.

- nasce no Brasil em 1.997 a lei 9.455/97 para disciplinar a tortura, daí, fica claro que
desde a Constituição até a lei passaram-se 9 anos sem lei específica, daí a tortura era
tratada por meio de outras leis. Em 1.990, a lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do
Adolescente – criou uma espécie de tipo penal tratando da tortura, que posteriormente
foi revogado pela lei de tortura;

Tratados internacionais trata como crime próprio (autoridades estatais).No Brasil é


tratado como crime comum (policial que tortura o preso ou o credor que tortura o
devedor).
Tratado supra-legal classifica como crime próprio e a presente lei classifica (de forma
intrinseca) como crime comum.
STF: tratado internacional (norma supra-legal) que versa sobre a matéria aplica-se o
princípio “pro homine” (prevalece o dispositivo que mais garanta direitos humanos).
Portanto aplica-se a interpretação no que tange a classificação da lei ordinária de tortura
que classifica como crime comum.

PRESCRITIBILIDADE DA TORTURA

A CF/88 considera a tortura prescritível implicitamente. Mas noutro plano, tratados


internacionais declaram tal crime como imprescritível. No entanto, aplicando-se o
princípio “pro homine”, resolve a colidência entre as três espécies normativas (lei
ordinária, norma supra-legal, constituição deferal). Portanto tortura é imprescritível.
Obs.: para o Min Gilmar Mendes, direitos humanos pressupõem limitações temporais ao
direito de punir (eternização do direito de punir do Estado). Logo, a CF, ao estabelecer a
prescrição para o crime de tortura, protege os direitos humanos (nesse caso, os direitos
humanos do torturador).
A CF DETERMINA RACISMO E AÇÕES DE GRUPOS ARMADOS CONTRA O
ESTADO DE DIREITO (GILMAR MENDES DEFINE ESTE ÚLTIMO COMO
TERRORÍSMO).

De acordo com o STJ as ações de reparação do dano pela tortura do regime militar é
imprescritível (imprescritibilidade civil ajuizadas em decorrência de perseguição,
tortura e prisão por motivos políticos, durante o regime militar. (AGRG 970.753/MG)
DEZ/2008

73
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 1º Constitui crime de tortura (A LEI NÃO DEFINE TORTURA, APENAS O QUE
CONSTITUI TORTURA):

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe


sofrimento físico ou mental: ESSE CRIME SE CONSUMA COM O SOFRIMENTO
FÍSICO OU MENTAL DA VÍTIMA, INDEPENDENTEMENTE SE ATINGE O
RESULTADO DESEJADO.
SUJEITOS COMPORTAMENTO PROVOCA FINALIDADE
CRIMINOSO
ativo e passivo constranger mediante causa sofrimento O móvel do agente
comum violência o grave físico ou mental não precisa se
ameaça concretizar para que
reste esta modalidade
efetivada.

a) TORTURA
PROVA buscar
informação;

b) TORTURA PARA
A PRÁTICA DE
CRIME provocar
conduta criminosa;

c) TORTURA
DISCRIMINATÓRIA
discriminação

TORTURA PROVA

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira


pessoa;

Com o fito de busca por informações (tortura prova) preso torturado por policial para
confessar ou mesmo credor que tortura devedor para confessar a dívida é crime comum.

TORTURA PARA PRÁTICA DE CRIME

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

Provocar conduta criminosa (tortura para a prática de crime) mentir em juízo. Prevalece
que só há tortura quando se busca a prática do crime e não a contravenção penal. Assim
sendo o torturador responde pelo presente crime mais o crime eventualmente o crime
praticado pelo torturado em concurso material. Quanto o torturado é inexigível conduta
diversa (coação moral – inexigibilidade de conduta diversa – excludente de
culpabilidade). Traficante que tortura para que a vítima minta em juízo.

TORTURA DISCRIMINATÓRIA

74
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

Tortura discriminatória diz respeito apenas no que tange questão racial ou religiosa. Não
há falar em discriminação sexual, econômica ou social não gera tortura. STF incluiu
judeus.

TORTURA CASTIGO

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo (TORTURA CASTIGO).
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos.

SUJEITOS COMPORTAMENTO PROVOCA FINALIDADE


CRIMINOSO (móvel do crime)
SA PROPRIO: Submeter alguém, sob intenso sofrimento TORTURA
pais, policiais, sua guarda, poder ou físico ou mental CASTIGO
carcereiros, babás. autoridade, com Aplicar castigo
emprego de violência pessoal ou medida
SP PRÓPRIO ou grave ameaça de caráter
preventivo

Só há o delito se a vítima sofre intenso sofrimento físico e moral, pouco importando se


o agente conseguiu ou não aplicar o castigo ou medida de caráter preventivo. Se faltar a
finalidade exigida pelo tipo, não se caracterizará o crime de tortura-castigo.

DIFERENÇA ENTRE TORTURA E MAUS TRATOS

É o núcleo “intenso” que diferencia do delito de maus tratos. Sob o crivo do juiz está a
mensuração da intensidade. Maus tratos não é meramente intenso.

COAUTORIA EM CRIME DE TORTURA

STJ - HC 50095 MG. Policial militar que auxilia polícia civil na contenção de rebelião
em estabelecimento prisional, durante a operação, detém legitimamente guarda poder ou
autoridade sobre os detentos, podendo, nessa condição, responder pelo crime do art. 1°
II da lei de tortura (tortura castigo).

TORTURA SEM FIM ESPECIAL

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de


segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
em lei ou não resultante de medida legal.

SUJEITOS COMPORTAMENTO PROVOCA FINALIDADE


CRIMINOSO
sa comum prática de qualquer sofrimento físico Tortura sem fim

75
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

sp próprio (pessoa ato não previsto em lei ou mental especial


presa ou sujeita a ou não resultante de
medida de medida legal (não se
segurança) limita a violência ou
grave ameaça)

Pessoa presa sob a custódia estatal: abrange qualquer espécie de prisão penal (definitiva
ou provisória) bem como a prisão civil. Jovem infrator internado – clausura existe no
caso dos atos infracionais sujeitos a internação. Caso do para em que o preso apanha na
caçamba ou preso em cela insalubre.

TORTURA OMISSÃO

§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las
ou apurá-las, incorre na pena de detenção de 1 a 4 anos. PENA PELA METADE
DIFERENTEMENTE DO TEXTO CONSTITUCIONAL QUE DITA A REGRA
IGUAL PARA O OMITENTE OU AQUELE QUE APLICA A TORTURA.

aquele que omite o dever de evitar aquele que omite o dever de apurar
omissão imprópria omissão própria

OMISSÃO IMPROPRIA PREVISTA NA CONSTITUIÇÃO

Art. 5 XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a


prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem;

O texto constitucional determina que o executor deve ter a mesma pena do omitente
impróprio (chamado de garante ou garantidor). Neste mesmo sentido o CP é consoante:

CP 13 - § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir


para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

Note-se no texto da lei de tortura na modalidade tortura omissão determinando a


aplicação da pena pela metade aplicada ao omitente em relação a pena do executor.
Lembremos que a tortura é crime hediondo. Mas eis a exceção: a tortura omissão (de 1 a
4 anos) é hediondo.

1ª CORRENTE: o parágrafo em voga é inconstitucional e assim sendo a pena do


garante será a mesma da pena do executor. Não fere o princípio da legalidade pela
previsão constitucional.

2ª CORRENTE: a pena é constitucional no caso do garantidor se omitir culposamente,


omissão imprópria culposa, pois tinha o dever de evitar. Mas se for dolosa, aplica-se a
mesma pena do executor.

76
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

3ª CORRENTE (é a que prevalece): a pena do garante deve ser de 1 a 4 anos, pois outra
pena fere o princípio da legalidade. A CF não pode prever pena e nem crime, pois não
há pena sem prévia cominação legal (estricto sensu). Não pune a forma culposa, pois
não há previsão legal. não cabendo ao interprete fazê-lo. Assim sendo omissão
imprópria não é equiparado a hediondo.

OMISSÃO PRÓPRIA

Em caso de omissão própria a tortura é fato pretérito a ser apurado por quem tinha o
dever de apurar vem se omitir (condescendência criminosa). A CF/88 não se refere a
esse omitente, logo não se equipara a hediondo jamais. O promotor, para evitar ser
acusado e omissão própria, assim que o réu, em juízo afirma ter sido torturado pela
polícia, solicitará o envio da extração da cópia deste interrogatório para a corregedoria
de polícia e para o mp. Caso não tenha ocorrido, o réu responderá por denunciação
caluniosa.

A autoridade que colocou a menina no cárcere junto com homens responde por
TORTURA SEM FIM ESPECIAL (art. 1, parágrafo 1). Se ela foi estuprada o que
percebeu os estupros e nada fez responde pelo art. 1, e também por estupro. Já os que
deveriam ter evitado a sua estada neste local responde por tortura (omissiva imprópria)
art.1 parágrafo 2 primeira parte.

TORTURA QUALIFICADA PELO RESULTADO

§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4


a 10 anos; se resulta morte, a reclusão é de 8 a 16 anos

1ª CORRENTE (é a que prevalece): trata-se de tortura qualificada como crime


preterdoloso. A tortura é dolosa e a lesão corporal ou morte é culposa.

2 CORRENTE: o crime antecedente tortura será doloso (tortura) sendo o crime seguinte
doloso ou culposo (Nucci)

Tortura qualificada pelo resultado aplica-se aos omitentes?

1ª CORRENTE (é a que prevalece). Só se aplica ao executores a tortura qualificada pelo


resultado não se aplicando aos os omitentes o parágrafo 3, assim os omitentes escapam
da qualificadora (Paulo Juracic).

2ª CORRENTE: aplica-se ao garantidor (omitente impróprio) e ao executor.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (MAJORANTES)

Não confundir majorantes com qualificadoras.

§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço

77
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

I - se o crime é cometido por agente público;

Aplica-se esta causa de aumento para o omitente impróprio (garantidor)aquele


que tinha o dever de evitar o resultado e não evitou (o parágrafo quarto, I aplica-se
ao parágrafo segundo?

1 CORRENTE: Alberto Silva Franco diz que não, pois seria bis in idem.

2 CORRENTE (é a que prevalece): Nucci diz que não há bis in idem mesmo sendo
funcionário público, pois funcionário público não é elementar e sim o fato de ser
garante.

O aumento do inciso I incide quando a agente público atua nessa qualidade ou em razão
dela.

II – se o crime é cometido contra criança (12 ANOS INCOMPLETOS), gestante,


portador de deficiência (FÍSICA OU MENTAL), adolescente (18 ANOS
INCOMPLETOS) ou maior de 60 anos;

Para incidir estas causas o torturador tem de saber a qualidade do agente passivo, caso
contrário seria responsabilidade objetiva, o que contraria nosso ordenamento.

III - se o crime é cometido mediante seqüestro

Sequestro em sentido amplo, pois abrange cárcere privado.

As causas de aumento incidem mesmo que a tortura esteja qualificada pela morte ou
pela lesão grave ou gravíssima.

EFEITO EXTRAPENAL EXPECÍFICO DA CONDENAÇÃO


§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

Tal efeito se dá de forma automática ou o juiz terá de motivar (assim como no CP)
fundamentando a decisão a perda do cargo, função ou emprego público?

CP -Art. 92 - São também efeitos da condenação:


I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.

1ª CORRENTE: aplica-se o CP, pois é norma geral e por analogia.

2ª CORRENTE (é a que prevalece): STJ entende que na lei de tortura o efeito é


automático, pois caso contrário, o faria expresso. Presume-se absolutamente a
inconveniência do servidor nos quadros administrativos. Do silencio interpreta-se ser
automático.

78
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

Inafiançável não significa que não poderá se dar a liberdade provisória, pois poderá
havê-la sem fiança.

O STF 2007 e 2008 decidiu que inafiançável abrange implicitamente vedação da


liberdade provisória. Noutro serntido o Ministro Celso de Melo decidiu que a vedação
da liberdade provisória imposta pelo legislador é inconstitucional. Quem decide é o juiz
perante o caso concreto e não o legislador perante situação abstrata.

Para o Cespe prevalecerá a ,ais recente.

Cumpre ressaltar que à tortura não é veda o indulto, mas sim apenas graça e anistia são
vedadas. Nucci entende que indulto está vedado, pois graça está abrangendo o indulto,
pois está em sentido amplo. Interpretação de acordo com a Constituição.

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º (omitentes: pena
de detenção), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

executor omitente
inicia no fechado inicia no aberto ou semi-aberto, pois é
punido com detenção.

EXTRATERRITORIALIDADE

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em
território nacional, sendo a vítima brasileira (PRINCÍPIO DA DEFESA OU REAL) ou
encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira (PRINCÍPIO PENAL
UNIVERSAL OU COSMOPOLITA).

Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da


Criança e do Adolescente.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

DROGAS LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006.

RETROSPECTIVA

LEI 6.368/76

Lei 636/76 Lei 11.343/06


Trafico e figuras equiparadas Tráfico e determinadas figuras equiparadas
Pena de 3 a 15 anos Pena 5 a 15
Punindo com penas menos ou mais
severas, outras condutas criminosas e
equiparadas.
Esta lei respeita o Principio da
Proporcionalidade.

LEI 6.368/76 LEI 10.409/02 LEI 11.343/06


- crimes; - crimes1; - crimes;
- procedimento especial; - procedimento; - procedimento;

- novidades com o advento da lei 11.343/06:


- deixou de usar o termo substância entorpecente e passou a usar a expressão droga; a
norma penal em branco é importante porque regulamenta o que seja droga, portanto, no
Brasil, é droga aquilo que estiver assim rotulado na Portaria da Secretaria de Vigilância
Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS) 344/98; a substância fica ou não dentro da
portaria conforme o grau de probabilidade que tem a o usuário de viciar (embora na
prática haja influência da política);

OBJETO MATERIAL – DROGAS (SUBSTANCIA ENTORPECENTE É ERRÔNEO)

CONCEITO DE DROGA

1) (VICENTE GRECO FILHO) deve o juiz analisar convenção de Viena de 1971 no


art. 2 parag. 4. Esta corrente ofende o princípio da taxatividade, pois os preceitos desta
convenção são vagos.

2) CORRENTE ( e a que prevalece): deve estar discriminado na portaria 344/98 MS.

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

80
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

A nova lei trabalha tráfico e determinadas figuras equiparadas de 5 a 15 anos ou


punidadas com penas menos graves ou outras condutas criminosas. Penas em
conformi9dade com as gravidade do fato.
proporcionalidade:
LEI 6.368/76 LEI 11.343/06
Punição com 3 a 10 anos: *Pune todos esses comportamentos
- traficante de drogas; com penas diferentes, obedecendo o
- traficante de matéria prima; princípio da proporcionalidade;
- quem induz outro a usar; *Para isso, a lei usa e abusa de
exceções pluralistas à teoria
- “mula” primário;
monista);
- utilizar imóvel para servir a
Pena de multa mais severa
traficante;

- artigo 28 da 11.343/06  adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou


trouxer consigo: veio para reprimir o usuário. O artigo 28 continua sendo crime?
Surgem três correntes: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:I -
advertência sobre os efeitos das drogas;II - prestação de serviços à comunidade;III -
medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

81
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

É crime (é o que prevalece Infração penal “sui fato atípico


no STF) generis”
o presente art. está inserido é comum a infração não Princípio da intervenção
no cap. dos crimes e das corresponder ao capítulo mínima.
penas em que está inserida. Dec.
Lei 201/67
O art. 28 parag. 4 refere-se Reincidência também O não cumprimento da
a reincidência existe nas infrações pena não gera
administrativas (sentido conseqüência penal art. 28
vulgar) parág.6
Art. 30 refere-se a Mas existe também no A saúde individual é um
prescrição ilícito civil ou na infração bem disponível.
adm ou atos infracionais.
(Stj decidiu que atos
prescricionais prescrevem)
Art 5 XLVI CF prevê E crime sofre reclusão ou
outras penas. detenção e contravenção
prisão simples
Se não for crime Art. 101 ECA prevê
desaparece o ato medidas protetivas
infracional.
No âmbito do direito Art. 48 § 2o Tratando-se
comparado (Alemanha e da conduta prevista no art.
Holanda) trata-se de perigo 28 desta Lei, não se imporá
potencial contra a prisão em flagrante,
sociedade. devendo o autor do fato ser
imediatamente
encaminhado ao juízo
competente ou, na falta
deste, assumir o
compromisso de a ele
comparecer, lavrando-se
termo circunstanciado e
providenciando-se as
requisições dos exames e
perícias necessários.

82
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

JULGADO DE TJ/SP - INCONSTITUCIONALIDADE – FERE OS PRINCÍPIOS DA


PROPORCIONALIDADE E DA INTERVENÇÃO MÍNIMA.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas: (TIPO INCONGRUENTE)
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva
ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou
produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.
§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo
prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste
artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários,
entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres,
públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da
prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.
§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos
incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo,
sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.
§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator,
gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para
tratamento especializado.

PORTE DE DROGA PARA USO PROPRIO PRESCREVE EM 2 ANOS

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA OU EXECUTÓRIA


Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado,
no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.
Como não há pena restritiva de liberdade, o crime de uso não se enquadra nas regras do
CP.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E PORTE DE DROGAS EM ORGANIZAÇÃO


MILITAR- HC94685 – 5 votos a 1, contrários ao princípio da insignificância. (1)
mínima ofensividade da conduta do agente, a (2) nenhuma periculosidade social da
ação, o (3) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a (4) inexpressividade
da lesão jurídica provocada, conforme entendimento firmado do STF.
Vicente Greco diz que o supremo não reconhece o princípio da insignificância. Mas em
verdade o supremo aplica o princípio da bagatela, principalmente ao usuário. militar 4
cigarros de maconha.
E mais recentemente, no dia 11.11.2010, o Plenário do STF, no julgamento do HC
94.685 (vencido dessa vez apenas o Ministro aposentado Eros Grau) reafirmou seu

83
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

entendimento de que a posse de reduzida quantidade de substância entorpecente


por militar, em unidade sob administração castrense, não permite a aplicação do
chamado princípio da insignificância penal, uma vez que as relações militares são
regidas pela disciplina e hierarquia.

_________
CIRCUNSTÂNCIAS INDICATIVAS DO TRÁFICO DE DROGAS

Como caracterizar tráfico ou uso?


A quantidade da droga é um dos elementos para indicar tráfico. carece de mais
elementos.

Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia
judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram
à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto
apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as
circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou
II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.
Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências
complementares:
I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser
encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e
julgamento;
II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o
agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo
competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

TRÁFICO PROPRIAMENTE DITO

6368/76 11343/06
Pena 3 a 15 anos Pena de 5 a 15 anos
Tráfico típico Tráfico típico
Tráfico por equiparação (induz ao tráfico, Algumas modalidades equiparadas (outras
empresta imóvel) modalidades equiparadas são punidas de
forma diversa considerando-se a diferença
de gravidade nas várias condutas)
Clara ofensa ao princípio da Obedece ao princípio da
proporcionalidade proporcionalidade

A nova lei trás certa pluralidade tecendo exceções a teoria monista.


___________
- crime de tráfico:
- previsto no artigo 33 da lei 11.343/06;
- art. 33, caput  tráfico propriamente dito; punido com pena de 5 a 15 anos;
- art. 33, §1º  tráfico por equiparação; punido com pena de 5 a 15 anos;
- art. 33, §2º e §3º  formas especiais do crime; no §2º é punido de 1 a 3 anos e
no §3º é punido de 6 meses a 1 ano;
- §4º  privilégio;

84
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Obs.: na lei anterior, todos esses crimes estavam sujeitos a mesma pena;

TRÁFICO PROPRIAMENTE DITO

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a


1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Objeto material é: drogas por recomendação a OMS (pega – substância entorpecente).


Bem jurídico tutelado:
Bem jurídico primário ou imediato: saúde pública ou da coletividade.
Bem jurídico secundário ou mediato: saúde individual do indivíduo.
Sujeito ativo: em regra o sujeito ativo é comum, porém no núcleo prescrever o crime é
próprio exigindo especial qualidade do agente (médico ou dentista).
Sujeito passivo: a coletividade (a sociedade).
Objeto material: drogas
Admite-se dolo direto ou eventual

18 núcleos (traficância): crime de ação múltipla ou conteúdo variado (crime


plurinuclear). Se praticados no mesmo contexto fático, tem-se um crime único. Ex:
importa, guarda, levou consigo e vende, o crime é uno. Noutro plano, se importa
cocaína e guarda maconha, eis dois crimes a serem respondidos pelo mesmo agente.

Consumação: com a prática de qualquer um dos núcleos. A doutrina admite a tentativa e


possibilidade de núcleos permanentes. Enquanto não cessada a conduta o crime tem a
sua consumação protraída no tempo.

Tentativa: o exagero de núcleos exauriu a tentativa. Mas no que tange a segunda


corrente é possível na modalidade “tentar adquirir”. A segunda prevalece.

Trata-se de um crime de perigo.

Perigo abstrato: o perigo é absolutamente presumido por lei.


Perigo concreto: o perigo deve ser comprovado.

Trata-se de crime de perigo abstrato ou de perigo concreto?

1°CORRENTE (é a que prevalece): crime de perigo abstrato.

2° CORRENTE: crime de perigo concreto, pois perigo abstrato ofende ao princípio da


lesividade, pois será punindo alguém sem prova concreta e real do risco ao bem
jurídico, bem como fere o princípio da ampla defesa, pois não haveria como fazer prova

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

em sentido contrário. STF aplica a segunda corrente ao usuário bem como no estatuto
do desarmamento.

CESSÃO GRATUITA PARA CONSUMO CONJUNTO (TIPO PENAL ESPECÍFICO)

TRÁFICO ATÍPICO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


Art. 33. § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

ELEMENTO NORMATIVO INDICATIVO DA ILICITUDE


Art. 33. ... sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Em contrariedade ao texto, não há crime. Mas se desconhece a norma haverá erro de
tipo, pois a proibição é elemento normativo do tipo. Erro de tipo essencial sempre exclui
dolo, e assim sendo como não possui punição de forma culposa, não há falar em crime.

ESTADO DE NECESSIDADE

Estado de necessidade no tráfico é rejeitado pelos tribunais, por ser subversão de valores
juridicamente protegidos.

MAJORANTE PARA VENDA DE DROGAS PARA CRIANÇAS


Venda de drogas para criança e adolescente art. 243 ECA ou art. 33 cc art. 40 I?
Lei de drogas ECA
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a Art. 243. Vender, fornecer ainda que
37 desta Lei são aumentadas de um sexto gratuitamente, ministrar ou entregar, de
a dois terços, se: qualquer forma, a criança ou adolescente,
VI - sua prática envolver ou visar a atingir sem justa causa, produtos cujos
criança ou adolescente ou a quem tenha, componentes possam causar dependência
por qualquer motivo, diminuída ou física ou psíquica, ainda que por utilização
suprimida a capacidade de entendimento e indevida:
determinação Cola de sapateiro se aplica o dispositivo
do ECA.

Aplica-se o principio da especialidade, pois se rotulado como drogas, aplica-se a lei


especial no que tange a norma penal em branco regulamentada por portaria o MS.

________________
Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia
judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram
à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto
apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as
circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente;
Nota-se o juízo de valor aplicado pelo delegado no presente inciso.

QUESTÕES DE CONCURSO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

“A” é usuário foi a o morro e comprou drogar por 25 reais então o policial civil simula
ser usuário e oferece 50 para o usuário, retornando para comprar o dobro da droga para
uso. Será o usuário preso por tráfico? R: a venda é crime impossível, pois foi provocada.
Assim sendo responderá por mero uso.

Questão de concurso recorrente em concurso:


X vende drogas e y vigia enquanto policial simula ser usuário comprando de x e assim
este entrega y como partícipe. Não há falar que x e y vendiam drogas, pois a venda foi
provocada pois assim a denúncia tratar-se-á de crime impossível sendo está inepta.
Correto dizer que x, associado a y, trazia consigo sendo que auxiliado por y.

FLAGRANTE PROVOCADO E FLAGRANTE ESPERADO

STF SÚMULA 145: NÃO HÁ CRIME, QUANDO A PREPARAÇÃO DO


FLAGRANTE PELA POLÍCIA TORNA IMPOSSÍVEL A SUA CONSUMAÇÃO.

Extrai-se da presente súmula duas formas de flagrância.

Flagrante provocado Flagrante esperado


crime impossível crime possível
o agente policial induz 3° pessoa a o agente policial aguarda, espera 3° pessoa
praticar o crime praticar crime

Mas ambos poderão ser impossíveis, pois a súmula descreve a preparação e não a
provocação, sendo assim ambos poderão ser impossíveis se a preparação impossibilita a
consumação. O policial toma lugar da possível vítima e antes da consumação o infrator
é preso, não há falar em crime pois a preparação do flagrante impossibilitou o crime.

CONCURSO DE CRIMES DO TRÁFICO COM OUTROS DELITOS

Poderá haver concurso com furto, receptação (em pagamento pela droga), sonegação
fiscal (sob o princípio do non olet). Declarar a renda oriunda do crime significa
produção de provas contras si mesmo (nemo tenetur se detegere). Prevalece a não
aplicação do “non olet” no direito penal, pois seria produção de prova contra si.

APLICAÇÃO DE PENAS

Caso o agente cometa o crime na vigência da lei e assim se inicia o processo e neste
interregno sobreveio a nova lei, porém aplica-se a pena antiga, pois caso contrário seria
ferio o princípio da anterioridade.
Mas se caso o agente comece mantendo em depósito na vigência da lei anterior e acaba
sendo preso na vigência da lei nova aplica-se a seguinte súmula do STF. STF SÚMULA
Nº 711 :A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU
AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO
DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

TRÁFICO EQUIPARADO

Art. 33. ...§ 1o Nas mesmas penas (do caput) incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece,
fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar
(ELEMENTO NORMATIVO INDICATIVO DA ILICITUDE), matéria-prima, insumo
ou produto químico destinado à preparação de drogas;

Objeto material: matéria-prima, insumo ou produto químico diferentemente do caput do


art. 33 onde o objeto material droga. A jurisprudência entende imprescindível o exame
pericial se a substância é um produto capaz a produção de droga, sendo que a matéria
prima dispensa o efeito farmacológico, não dotadas do princípio ativo. Matéria prima
para a preparação de drogas (éter sulfúrico e acetona).

Crime punível a título de dolo sem necessariamente incorrer o elemento subjetivo do


tipo (finalidade). Mas prevalece que o dolo sem a finalidade. A expressão “destinada a
preparação de drogas” poderia levar o interprete a concluir que o tipo exige finalidade
especial. A destinação, contudo, para a maioria da doutrina não é colocada como fim
pelo agente, mas a que normalmente pode prestar-se a substância. (Vicente Grecco
Filho)

Consumação: mantença em depósito substância dispensando a efetiva preparação das


drogas.

A doutrina admite a tentativa e possibilidade de núcleos permanentes. Enquanto não


cessada a conduta o crime tem a sua consumação protraída no tempo.

TRÁFICO DE QUEM SEMEIA, CULTIVA OU FAZ COLHEITA

Art. 33. ...§ 1o Nas mesmas penas (do caput) incorre quem:
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar (ELEMENTO NORMATIVO INDICATIVO
DA ILICITUDE), de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de
drogas;

Note-se que no exame farmacológico prevalece que estas plantas não precisam
apresentar o princípio ativo.

O agente age com dolo sabendo da potencialidade da planta.

Mas se planta para consumo pessoal?

CRIME PRATICADO POR AGENTE QUE PLANTA PARA CONSUMO PESSOAL

Art. 28. § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal,
semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

substância (SE MÉDIA OU GRANDE, TRAFICO EQUIPARADO) ou produto capaz


de causar dependência física ou psíquica.
Na modalidade cultivar o crime é permanente.

EXPROPRIAÇÃO SANÇÃO

CF Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas
ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente
destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e
medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será confiscado e reverterá
em benefício de instituições e pessoal especializados no tratamento e recuperação de
viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção
e repressão do crime de tráfico dessas substâncias.

IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA O QUAL É UTILIZADO PALA O


PLANTIO DE DROGAS

O bem de família tem de obedecer a função social da propriedade. Ninguém pode se


valer de garantias constitucionais para a pratica de crimes. A impenhorabilidade não é
absoluta sendo esta exceção pertinente.
_________

Art. 33. ...§ 1o Nas mesmas penas (do caput) incorre quem:
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Dolo dispensando finalidade de lucro: trata-se de crime de tráfico equiparado, pois
emprestou para quem lucra. Na primeira modalidade “permissão” o crime se consuma
com o efetivo proveito do local, sendo perfeitamente possível a tentativa. A segunda
modalidade que é consentir o crime se consuma com a mera permissão. Tentativa
possível somente por escrito.

E aquele que empresta o imóvel para o uso? Aplica-se o dispositivo abaixo em


comento.
Art. 33 § 2o Induzir (FAZ NASCER A IDEIA), instigar (REFORÇO) ou auxiliar
(ASSISTENCIA MATERIAL) alguém ao uso indevido de droga:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-
multa.
Ex: emprestar o imóvel para o uso.
Sujeito ativo: crime comum Sujeito passivo: a sociedade e sujeito passivo secundário o
induzido o instigado e o auxiliado. Crime punível a título de dolo.
Para o cometimento do crime deve-se visar pessoa determinada. Mas sendo
indeterminada será apologia de crime ou criminoso.

CPArt. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

INDUZIR AO USO: trata-se de crime formal dispensando o efetivo uso por parte do
induzido. Noutro plano, Vicente Grecco Filho entende ser um crime material.
Tentativa é admissível bem como por escrito.
TRÁFICO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

Art. 33... § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano(TRAFICO EQUIPARADO DE
MENOR POTENCIAL OFENSIVO 9099/95), e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
Sujeito ativo: crime biprório, pois exige um relacionamento especial entre os sujeitos.
Oferecimento eventual, pois se houver habitualidade será tráfico, assim como se houver
objetivo de lucro (elemento subjetivo negativo) finalidade que não pode existir. Para
juntos a consumirem (elemento subjetivo positivo) tem de haver. Com objetivo de lucro
será o tipo previsto no caput. Consumação: dá-se com o oferecimento dispensável o
efetivo uso.

CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA

Art. 33... § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo (PENA DE 5 A 15


ANOS), as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão
em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja 1°primário, de 2°bons
antecedentes, 3°não se dedique às atividades criminosas nem 4° integre
organização criminosa.
Preenchidos os requisitos cumulativamente, é direito subjetivo do réu devendo o juiz
aplicar.

RETROATIVIDADE DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA

Crimes praticados antes da vigência da lei nova quando não havia a redução, pois punia-
se com 3 anos.

CORRENTES
1ª- a redução de pena é irretroativa, vedando-se combinação de leis, pois assim o juiz
estaria legislando.
2ª : a redução é retroativa, mas deve respeitar um saldo mínimo de 1 ano e 8 meses. HC
87464 RS STJ
3ª (é a que prevalece na doutrina): redução é retroativa. STJ.
4ª: o réu deverá escolher.

Capez milita pela inconstitucionalidade deste dispositivo segundo a exigência postulada


no art. Art.5° XLIII Vedação a conversão em penas restritivas de direitos fere o
princípio da proporcionalidade. Privilegia-se a conduta sendo que a própria constituição
previu tratamento mais rigoroso em relação ao crime em questão. Noutro plano, o STJ
opta pela individualização da pena relevando o tipo e quantidade da droga.

TRÁFICO DE QUEM FABRICA OU FORNECE OBJETO DESTINADO À


FABRICAÇÃO DE DROGAS

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a
qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção
ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a
2.000 (dois mil) dias-multa.
Objeto material: maquinários em geral
33 caput objeto material: drogas
33 §1° objeto material: matéria prima
O art. 34 é delito subsidiário, pois ser ele pode ser absorvido pelo 33 caput, tornando-se
então crime meio.
Sujeito ativo: crime comum.
Sujeito passivo: sociedade.

-O objeto material (maquinários em geral) tem de ter finalidade específica (fabrico de


drogas), mas não especificamente fabricado (ex. balança de precisão). Ex. contrário:
lâmina de barbear suja de cocaína não configura este crime.

-Carece perícia para atestar que o equipamento serve para o fim criminoso. O crime é
punível a título de dolo, consumado com a pratica dos núcleos sendo algumas
modalidades permanentes. A tentativa se faz possível.

-Tráfico de maquinário não há falar em redução de pena. Fere o princípio da


razoabilidade. A doutrina é positiva quanto a aplicabilidade do § 4° por analogia in
bonan partem.

TRÁFICO DE ASSOCIAÇÃO

Art. 35. Associarem-se 2 ou mais pessoas (ASSOCIAÇÃO) (DE FORMA ESTÁVEL


E PERMANENTE) para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

O presente tipo não abrange associação eventual, pois fere o princípio da


proporcionalidade como também seria concurso de pessoas como crime autônomo. O
STF aboliu associação enventual art. 18 da antiga lei de drogas.
Indispensável o animus com dolo associativo a vontade de reunir-se de forma estável e
permanente.
Mas se ocorre o tráfico
Art. 35. Associarem-se 2 ou mais CP Art. 288 - Associarem-se mais de
pessoas (ASSOCIAÇÃO) (DE FORMA três pessoas (DE FORMA ESTÁVEL E
ESTÁVEL E PERMANENTE) para o PERMANENTE), em quadrilha ou bando,
fim de praticar, reiteradamente ou não, para o fim de cometer crimes:
qualquer dos crimes previstos nos arts.
33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

91
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Poderá a pessoa responder em concurso pelos dois crimes, pois são crimes autônomos
desde que em associações diferentes. Ambos os crimes são autônomos
independentemente se ocorrer o crime futuro. Mas ocorrendo o crime secundário,
responderá em concurso material. É indispensável o animus associativo (a vontade de
reunir-se de forma estável e permanente).

RETROATIVIDADE DA APLICAÇÃO DA PENA DO ART. 35

Aplica-se o art. 8°lei 8.072/90 (3 a 6 anos) no tempo régio na antiga lei, sendo a nova lei
de drogas uma novatio legis in pejus neste artigo. Assim sendo o agente que
incurcionou em processo penal antes da vigência da nova lei, tem-se a retroatividade.
Salvo a exceptio da Súmula 711 DO STF (crime permanente no interregno das duas
leis).

art. 35 § único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a
prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Todos os crimes (art. 35, art. 35 p. único e o art. 288 CP) são crimes autônomos
independentes do crime fim podendo haver concurso material entre eles.

FINANCIAMENTO DO TRÁFICO

TIPO CONGRUENTE

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos art. 33,
caput e § 1º(importar), e 34(fabrico) desta Lei: (FINALIDADE: CUSTEAR OU
FINANCIAR O TRÁFICO)
Trata-se de crime autônomo independente do crime fim, havendo a possibilidade de
concurso material com crime diverso.
Exceção pluralista a teoria monista (novatio legis in pejus), pois na lei anterior o
traficante e o financiador eram abrangidos pelo mesmo tipo penal. Norma irretroativa.
Trata-se de crime comum, pois não exige qualidade específica do agente.
Vítima: coletividade juntamente como Estado.

Traficante Quem sustenta


Art. 33 – 5 a 15 Art. 36 – 8 a 20

-Se praticado por duas ou mais pessoas associadas de forma estável e permanente 35§
único em concurso material com 36.

Financiar: sustentar os gastos. Custear: prover despesas, abastecendo do que for


necessário. Exige-se a relevância do financiamento para que se caracterize o crime,
sendo assim eis a imprescindibilidade do sustento para o crime. Tipo subjetivo: punível
a título de dolo. O crime se consuma com o efetivo sustento. Prevalece na doutrina que
não se trata de um crime habitual (Grecco Filho, Capez, Damásio). Não admite tentativa
por se tratar do crime em habitualidade segundo a tese Sanches que Diaz que as
expressões financiar e custear são núcleos associados à habitualidade e reinteração.
Neste sentido restaria evitado o bis in idem. Ato continuo o art. 35 em seu parágrafo

92
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

único determina a habitualidade ao art. 35, em comento. Ressalta-se que a tese Sanches
é minoritária. Em suma, se habitual não admite tentativa.

art. 35 § único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a
prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Assim custear e financiar é causa de aumento ou crime autônomo?

SUNTENTO HABITUAL SUSTENTO OCASIONAL


ART. 36 ART. 40 VII

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a
dois terços, se:
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

CRIME PRATICADO PELO INFORMANTE

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados
à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 (maquinários)
desta Lei:
Crime comum, mas sendo o colaborador funcionário público, aplica-se a majorante do
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a
dois terços, se:II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no
desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância...
Deve se imantar o agente de eventualidade e descompromisso, caso contrário, seja esta
a função definitiva mediante a organização responde pelo art. 35 (associação).
Tipo subjetivo: punível a título de dolo. Momento consumativo: dá-se com a prática de
qualquer ato indicativo de colaboração. Há falar em tentativa na informação por carta
caso esta seja interceptada. Vítima é a coletividade.

PRESCRIÇÃO DE DROGAS

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o
paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Eis a única modalidade culposa, assim sendo não se admite tentativa. Sujeito ativo:
sabendo-se que os núcleos, prescrever e ministrar só podem ser praticados por médico,
dentista, farmacêutico ou profissional de enfermagem, somente estes podem prescrever
ou ministrar. Ampliou-se o espectro do sujeito ativo, pois Vicente Grecco inseriu o
veterinário. O sujeito passivo primário é a coletividade e secundariamente é o paciente.

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria


profissional a que pertença o agente. Como curandeiro não pertence conselho
profissional, não poderá estes serem sujeito ativo deste crime.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Modalidades de negligência: Receitar/ministrar droga certa na dose errada.


Receitar/ministrar droga errada na dose certa. Receitar/ministrar droga certa na dose
certa para paciente errado. Eis o dito no caput... sem que delas necessite o paciente.
Vale lembrar que o tipo correlato na lei anterior era omissa quanto ao último tipo de
negligência sendo fato atípico. Vicente Greco admite a tentativa.

Momento consumativo: na modalidade prescrever, com a entrega para o paciente,


dispensando o efetivo uso da droga. Na modalidade ministrar, consuma-se com a efetiva
aplicação. Em caso de morte, responde em concurso formal pelo art. 38 com homicídio
culposo. Há corrente minoritária afirmando que o homicídio absorve o tipo em
comento.

______
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano
potencial a incolumidade de outrem (não abrange automóvel, pois responde pelo 306 do
CTB)
Trata-se de norma irretroativa, pois novatio legis in pejus : antes do advento da lei em
comento, contravenção. Crime comum. Vítima: a coletividade (primário) e o indivíduo
colocado em perigo com o comportamento do agente (sujeito passivo eventual ou
secundário). Punível a título de dolo. Não se trata de crime de perigo abstrato e sim
perigo concreto, pois não há falar em risco presumido, pois deve haver comprovação de
que o nível de segurança foi rebaixado, não sendo necessário se houve possível vítima.
Não se admite tentativa. Punível a título de dolo. Não há falar em transação penal, pois
o 291 do CTB foi abolido.

Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as


demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos)
dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de
passageiros).

A doutrina majoritária, sabendo que o crime é de perigo concreto, exige ao menos a


presença de um viajante.

MAJORANTE CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a
dois terços, se: trata-se de lei benéfica, pois na lei anterior o aumento mínimo era de um
terço. Desta feita, para aqueles que estejam cumprindo pena, caberá ao juiz da execução
a sua aplicabilidade.

STF SÚMULA 611- TRANSITADA EM JULGADO A SENTENÇA


CONDENATÓRIA, COMPETE AO JUÍZO DAS EXECUÇÕES A APLICAÇÃO DE
LEI MAIS BENIGNA.

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias


do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;(ÚNICO CASO DE
COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA JUSTIÇA FEDERAL (INVESTIGAÇÃO DA PF)
_ TAMBÉM AGUAS INTERNACIONAIS)

94
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de


missão de educação (professor), poder familiar, guarda ou vigilância;(AGENTE
PÚBLICO EM SENTIDO AMPLO)

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos


prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais,
recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde
se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em
transportes públicos;(IMEDIAÇÕES – não pode ser convertido em medida métrica
rígida. Trata-se de área em que poderia facilmente o traficante atingir o ponto em
especial, com alguns passos, e alguns segundos, ou em local de passagem obrigatória ou
normal. PARA INCIDIR O AUMENTO É IMPRESCINDÍVEL A CIÊNCIA DO
AGENTE QUANTO A NATUREZA DO LOCAL)

IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de
fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva (MORROS DO RIO – LEI
DO SILÊNCIO);

V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito


Federal;(TRÁFICO INTERESTADUAL) – COMPETENCIA DA JUSITÇA
ESTADUAL, PORÉM A INVESTIGAÇÃO É DA POLÍCIA FEDERAL...

VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente (MENOR DE 18) ou


a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de
entendimento e determinação; (SE O AGENTE VENDEU PARA PESSOA COM
MAIS DE 60 ANOS OU PARA MENOR DE 21 E MAIOR DE 18 NÃO MAIS É
CAUSA DE AUMENTO) O juiz da execução deverá corrigir a pena tendo em vista a
nova lei ser silente quanto as idades.

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

ESTUDO DO ART. 44

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.

Tráficos equiparados a hediondos (VICENTE GRECCO) - 33 CAPUT, 33 §1°, 34


(fabrico), 35 (associação), 36 (financiamento), 37 (informante).

O artigo 44 é anterior à lei 11.464/07 que alterou a lei dos crimes hediondos quando
ainda prevalecia o regime integralmente fechado e vedação a liberdade provisória.

RESTRIÇÕES PREVISTAS NO ART. 44 (ANTES DA LEI 11.464/07):

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1) DA VEDAÇÃO À FIANÇA

A lei 8.072/90 já previa e a lei 11.464/07 manteve a vedação da fiança.

2) DA VEDAÇÃO À PROGRESSÃO DSE REGIME

Prevalecia que a lei 8.072/90 ao prever regime integralmente fechado, vedava


implicitamente o sursis.
Porém a lei 11.464/07 aboliu o regime integralmente fechado. Consequentemente
desapareceu a vedação implícita do sursis.

1º Corrente (é a que prevalece): pelo princípio da especialidade depreende-se que tráfico


continua insuscetível de sursis. (lei especial derroga lei geral) Crítica: não se aplica o
princípio da especialidade quando lei posterior revoga lei anterior, pois seria vedação
odiosa (princípio da posterioridade).

2º Corrente: pelo princípio da isonomia e da posterioridade a abolição ao regime


integralmente fechado prevista na lei 11.464/07 se estende ao tráfico de drogas, pois
trouxe previsão da aplicabilidade do instituto aos crimes hediondos e todos os
equiparados.

3) DA VEDAÇÃO À GRAÇA, INDULTO E ANISTIA.

A CF veda graça e anistia


8.072/90 veda graça, anistia e indulto
11.343/06 veda graça anistia e indulto

Mas será que poderia o legislador ordinário poderia vedar o indulto?


STF: a vedação do indulto é constitucional.

4) DA VEDAÇÃO À LIBERDADE PROVISÓRIA

A lei 8.072/90 já vedava liberdade provisória e a lei de drogas seguiu o mesmo espírito,
porém a lei 11464/07 aboliu a vedação à liberdade provisória. Assim o STF e STJ
trabalhavam com a tese de que a vedação à liberdade provisória permanecia implícita na
inafiançabilidade. O STF entende que vedação da liberdade provisória em abstrato (sem
considerar o caso concreto) é inconstitucional. HC 96715-9. O juiz decidirá e não o
legislador! Assim, permite-se liberdade provisória tangendo o caso concreto.

5) DA RESTRIÇÃO ÀS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Para a doutrina, trata-se de vedação desproporcional, ferindo o princípio da isonomia.


Entretanto, para o STF, prevalece a vedação.

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Em suma: Na vigência da Lei 6.368/76, eram equiparados a hediondos apenas o tráfico


de drogas (art. 12) e o tráfico de maquinários (art. 13). O crime de associação (art. 14)
não era equiparado.

Na Lei 11.343/06, o rol de crimes equiparados é maior.

6) DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

Art. 44 Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o
livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena (req. Objetivo),
vedada sua concessão ao reincidente específico (req. Subjetivo).

Requisito objetivo: cumprimento de 2/3 da pena;

Requisito subjetivo: não ser reincidente específico.

Para a Lei 8072, considera-se reincidente específico quem praticou dois ou mais crimes
hediondos ou equiparados.

Para a Lei 11.343/06, reincidente específico é aquele que praticou dois ou mais dos
crimes previstos nos arts. 33 caput, 33,§ 1º, e 34 a 37.

7) DA PROGRESSÃO

A lei 8.072/90 (que abrange tráfico) vedava progressão.

A 11.464/07 (que abrange tráfico) aboliu a vedação imposta na lei 8.072/90, tornou
possível a progressão nos termos da lei 11.463/06 de 2/5 se primário e de 3/5 (se
reincidente).

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ASPECTOS PROCESSUAIS
Procedimentos
Menor potencial ofensivo Agente detentor de foro Demais casos
(art. 28) especial
Lei 9.099/95 Lei 8.038/90 Procedimento especial
11.343/06

Procedimento especial
11.343/06 11.719/08 Procedimento hibrido
Ip 30 + 30 ou 90 + 90 Ip Ip
Denuncia Denuncia Denuncia
Defesa preliminar Recebimento (395 Defesa preliminar
(apresenta-se o rol de hipóteses de rejeição da
testemunhas) denúncia)
Se não rejeitar recebe a Citação para ... Recebimento
denúcia (395 hipóteses de
rejeição aplicáveis a lei de
drogas)
Citação para audiência una
Defesa resposta à acusação Citação e Defesa escrita
(concentrada) escrita para arrolar
testemunhas (396) e
oportunidade de absolvição
sumária (397).
Audiência una com Se não absolve...audiência Audiência una com
1) interrogatório, una. Art. 400 – 1) interrogatório,
2)testemunhas, debates e 1)testemunha, 2)testemunhas, debates e
julgamento 2) interrogatório, debates e julgamento
julgamento
Possibilidade de absolvição
sumária seguida de
audiência una. Sendo que o
rito continua sendo
interrogado em primeiro
lugar, não se aplicando o
art. 400 do CPP, pois este
não se aplica por previsão
legal.
A defesa escrita do 396 do CPP convive com a defesa preliminar de lei de drogas, pois
tem finalidades diversas. A defesa preliminar busca a rejeição da denúncia; e a defesa
escrita busca a absolvição. Prevalece o procedimento híbrido.

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LEP LEI Nº 7.210/84.

FINALIDADES DA EXECUÇÃO PENAL

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou


decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado.

ROXIN

FINALIDADES DA LEP

1) Propiciar meios para que a sentença seja integralmente cumprida.

2) Reintegração do sentenciado ao convívio social (ressocialização).

A doutrina moderna (Roxin) admite a tríplice finalidade da pena (preventiva, retributiva


e ressocializadora), porém diferencia os momentos em que cada uma dela se concretiza.

PENA EM ABSTRATO (prevenção geral)


Pena em abstrato já tem uma finalidade de prevenção geral atuando antes do crime
visando a sociedade e buscando evitar a prática do delito.

PENA NA SENTENÇA (prevenção especial)


Quanto à pena na sentença, eis duas finalidades:
1°) a prevenção especial atuando depois do crime, não mais visando a sociedade, e sim
o delinqüente buscando evitar a reincidência.
2°) a segunda finalidade é retribuir com o mal, outro mal causado.

PENA NA EXECUÇÃO
Tem-se neste âmbito a efetivação da prevenção especial mais retribuição e a re-
socialização.

Para prova apenas das Defensorias Públicas entende que a pena tem uma finalidade: a
ressocialização, pois quem tem que prevenir é o Estado e não a sentença.

PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO PENAL

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei.
A lei serve para o preso definitivo, provisório no que couber e para o internado (medida
de segurança de internação).

PRINCÍPIO DA IGUALDADE

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Art. 3º Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social,
religiosa ou política. Mas é perfeitamente possível a distinção quanto a idade e ao sexo.
PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE OU DA PERSONALIZAÇÃO DA PENA
Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e
personalidade, para orientar a individualização da execução penal.
O juiz da execução é quem orienta a execução penal de acordo como o perfil de cada
preso. Distingue-se do princípio da individualização da pena que cabe ao juiz
sentenciante.

Quem classifica o condenado?


Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação (CTC) que
elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao
condenado ou preso provisório.

Classificação antes da lei 10.792

Antes Depois
Acompanhava Agora somente individualiza e acompanha
a)penas privativas de liberdade a pena privativa de liberdade
b) restritivas de direitos

Intervinha em
a)progressão e regressão de regime
b) conversão da pena

PRINCÍPIO DA JURISDICIONALIDADE
Os incidentes da LEP serão decididos pelo poder judiciário. A autoridade administrativa
somente pode decidir pontos secundários na execução penal (ex: dia de visitas, horário
do banho de sol, imposição de sanções disciplinares expressamente previstas em lei,
etc). Mesmo em pontos secundários, poderá o preso se socorrer ao judiciário em caso de
abuso.

PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL


Deste se extrai a ampla defesa, o contraditório, a publicidade, a imparcialidade do juiz,
vedação da prova ilícita.

PRINCÍPIO REEDUCATIVO
Durante a execução penal, deve-se buscar a ressocialização do preso. Eis os
instrumentos de ressocialização previstas na LEP:
Art. 11. A assistência será:
I - material;
II - à saúde;
III -jurídica;
IV - educacional;
**V - social;( conscurso: ÚNICA DIRECIONADA A VÍTIMA)
VI - religiosa.

**Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:


VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da
vítima.

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PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DAS PENAS OU HUMANIZAÇÃO


Evitar pena de caráter cruel, desumana e degradante. Assim o regime integralmente
fechado fere o princípio da individualização da execução e o princípio da humanidade
(STF).

EXECUÇÃO PENAL: COMPETÊNCIA


A competência do juiz das execuções inicia como transito em julgado da sentença penal
condenatória, e será exercida por um juízo especializado, de acordo com a lei orgânica
judiciária. Em alguns casos, será exercida supletivamente pelo próprio juiz da sentença,
nas hipóteses de existência de vara única.

EXECUÇÃO PROVISÓRIA
É possível execução provisória? R: sim. Fundamentos legais:
Execução antes do trânsito em julgado. Faz-se possível diante o dispositivos a baixo

LEP Art. 2º Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao
condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito
à jurisdição ordinária.

Resolução n19 CNJ Art.1º - A guia de recolhimento provisório será expedida quando da
prolação da sentença ou acórdão condenatório, ressalvada a hipótese de possibilidade de
interposição de recurso com efeito suspensivo por parte do Ministério Público, devendo
ser prontamente remetida ao Juízo da Execução Criminal. (Artigo alterado pela
Resolução nº 57, de 24/06/2008 - DJ 01/07/2008) (SE O RECURSO DO MP TEM
EFEITO SUSPENSIVO, NÃO HAVERÁ A EXECUÇÃO PROVISÓRIA)
STF SÚMULA Nº 716 - ADMITE-SE A PROGRESSÃO DE REGIME DE
CUMPRIMENTO DA PENA OU A APLICAÇÃO IMEDIATA DE REGIME MENOS
SEVERO NELA DETERMINADA, ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA
SENTENÇA CONDENATÓRIA.
A execução provisória pressupõe o trânsito em julgado?
O MP acentua diz que se exige o transito em julgado para a execução provisória. Mas os
dispositivos supracitados são contrários e perseveram sobre esta.

Para se admitir a execução provisória, deve-se diferenciar duas situações


Condenado provisório preso Condenado provisório solto
Admite-se execução provisória, Não admite execução provisória, sob pena
configurando antecipação de institutos de se ofender o princípio da presunção de
benéficos da LEP. não culpa.
Caso esteja pendente recurso especial ou Caso esteja pendente recurso especial ou
extraordinário confirmada a sentença em extraordinário confirmada a sentença em
segundo grau, é admitida. segundo grau, é admitida a execução
provisória numa primeira corrente*.
Segunda corrente** não admite.
*CPP Art. 637. O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez
arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à primeira
instância, para a execução da sentença.

** o art.637 do CPP é de 1940, a LEP não repete o dispositivo que também não foi
recepcionado pela CF/88 que consagra o princípio da presunção de não culpabilidade

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

até o transito em julgado (STF). Eis a posição do Supremo, mas não vincula, pois não
foi criada súmula vinculante sobre este tema. Somente para condenado provisório preso.

COMPETENCIA DA LEP QUANTO AO LOCAL NAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

A competência da LEP não é ditada pelo local onde transitou em julgado o processo de
conhecimento. No caso de pena privativa de liberdade compete ao juízo da execução do
local onde o condenado estiver preso. Aonde o preso vai, a execução segue-o.

PRESO CONDENADO PELA JUSTIÇA FEDERAL CUMPRINDO PENA EM


ESTABELECIMENTO ESTADUAL

STJ SÚMULA: 192 - COMPETE AO JUIZO DAS EXECUÇÕES PENAIS DO


ESTADO A EXECUÇÃO DAS PENAS IMPOSTAS A SENTENCIADOS PELA
JUSTIÇA FEDERAL, MILITAR OU ELEITORAL, QUANDO RECOLHIDOS A
ESTABELECIMENTOS SUJEITOS A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.
Mas em caso contrário (preso estadual em estabelecimento federal) quem acompanha a
execução é o juízo federal, aplica-se a súmula supracitada a “contrario sensu”.

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO OU SURSIS

A execução compete ao juízo da execução do domicílio do reeducando.

PENA DE MULTA

Com advento da lei 9268/96 passou a ser executada como dívida ativa.
1 corrente - Continua sendo executada pelo juízo das execuções no local da condenação.
2 corrente (STF e STJ) - Assim será executada não no juízo comum e sim na vara da
fazenda pública do local da condenação.

SENTENCIADO POR FORO POR PRORROGATIVA DE FUNÇÃO


Quem acompanha a execução é o tribunal que sentenciou.

OBS: Não se pode confundir inicio da competência do juízo da execução (que se dá


com o transito em julgado sem a prisão do condenado) com início da execução
propriamente dita (se dá com a prisão seguida da expedição da guia de recolhimento).

DIREITOS E DEVERES DO PRESO

Arts. 38 a 43 são revelados pela doutrina como o Estatuto Jurídico do preso.


Os deveres se apresentam no at. 39 como rol taxativo. Já os direitos elencados no art. 41
são exemplificativos, pois o art. 3 da LEP determina que serão assegurados todos os
direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Dos Deveres (numerus clausus)


Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à
ordem ou à disciplina;
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.

Dos Direitos (numerus apertus)


Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a
recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da
leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons
costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da
responsabilidade da autoridade judiciária competente. (o presente dispositivo busca
evitar a hipertrofia da execução. Cumprido mais tempo é excesso de execução e se
cumpre em regime diverso é desvio de execução – Renan Severo Teixeira da Cunha).

Os direitos do art. 41 são absolutos, salvo...Parágrafo único. Os direitos previstos nos


incisos (DIREITOS RELATIVOS) V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos
mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

SANÇÕES DISCIPLINARES

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

As prisões são verdadeiros agrupamentos humanos e como todo agrupamento, este


necessita de disciplina para a mantença da ordem. Assim há a alternância de
recompensa para quem age com mérito e sanções para quem age com demérito (falta).
As faltas disciplinares se classificam em leves, médias e graves. A LEP só cuida das
faltas graves restando as leves e médias para a legislação local. LEP arts. 50, 51 e 52.

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
ii - fugir; (doutrina minoritária discorda, pois alega a busca da liberdade como
manifestação da natureza do homem)
iii - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de
outrem;(arma em sentido próprio e impróprio)
iv - provocar acidente de trabalho; (o não provocado gera remissão)
v - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
vi - inobservar os deveres previstos nos incisos ii e v, do artigo 39, desta lei.
vii – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar,
que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. (aplica-se
aos fatos da sua vigência em diante)
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.

SANÇÕES

Art. 53. Constituem sanções disciplinares: (ordem crescente de drasticidade)


I – advertência verbal;
II – repreensão;
III – suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);
IV – isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que
possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.
* V – inclusão no regime disciplinar diferenciado.

Art. 54. As sanções dos incisos I a III do artigo anterior serão aplicadas pelo diretor do
estabelecimento; a do inciso IV, por Conselho Disciplinar, conforme dispuser o
regulamento.

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

*RDD não é uma quarta espécie regime de cumprimento de pena (que se define como
fechado, semi-aberto e aberto) e sim a mais drástica sanção disciplinar imposta ao preso
autor de falta grave. A Lei 10.792/03 é considerada por Cezar Roberto Bitencourt como
reflexo do direito penal do autor (ou direito penal do inimigo), de cunho fascista, teoria
que tem Gunther Jakobs como um de seus principais defensores na atualidade.

CARACTERÍSTICAS DO RDD
LEP Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório,

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as


seguintes características:
I – (característica temporal) duração máxima de trezentos e sessenta dias (na primeira
vez), sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o
limite de um sexto da pena aplicada (pena aplicada na sentença);
II - recolhimento em cela individual (solitária);
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas; (regrada pela ONU em seu preceito 79, as visitas devem ser fomentadas desde
que saudável para ambas as partes, desta forma, em tese, não seria de bom grado para
crianças)
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.

HIPÓTESES DE CABIMENTO DO RDD

1) Art. 52 CAPUT. A prática de fato previsto como crime doloso (consumado ou


tentado) constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina
internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal
(independentes as sanções administrativas e penais), ao regime disciplinar diferenciado,
com as seguintes características:

2) Art. 52 § 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos


provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para
a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade (DIREITO
PENAL DO AUTOR) – considerando um determinado fato por ele praticado
(DIREITO PENAL DO FATO).

3) ART. 52 § 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso


provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento
ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
(TEM QUE HAVER PROVAS, não bastando indícios – complemento doutrinário)

PROCEDIMENTO DE INCLUSÃO AO RDD

O RDD está tomado pelo império do juiz. Não podendo a autoridade administrativa
determinar.
Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do
diretor do estabelecimento e a do inciso V (RDD), por prévio e fundamentado despacho
do juiz competente (LÊ-SE DECISÃO).

REQUERIMENTO DE RDD NÃO SE DÁ DE OFÍCIO


ART. 54 § 1o A autorização para a inclusão do preso em regime disciplinar dependerá
de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra
autoridade administrativa (SECRETÁRIO DE SEGURANÇA).
AMPLOS PODERES DO MP

Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:


II - requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo
(INCLUSIVE O REQUERIMENTO PARA O RDD);

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA PARA EXPEDIÇÃO DO RDD


ART. 54 § 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será
precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo
máximo de quinze dias.

PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZÇÃO NA SANÇÃO DISCIPLINAR


Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os
motivos, as circunstâncias e as conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e
seu tempo de prisão.

VEDADA A SANÇÃO DISCIPLINAR COLETIVA


Art. 45. § 3º São vedadas as sanções coletivas. (DEVE SER INDIVIDUALIZADA)

FATOR PREVENTIVO DO RDD


Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso
pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no
interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz
competente.
Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime
disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção
disciplinar.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

O RDD é constitucional?

Inconstitucionalidade (Defensoria) Constitucionalidade – STJ (decisões)


Fere a dignidade da pessoa humana (pena Não representa a submissão do preso a
cruel desumana e degradante) padecimentos físicos e psíquicos, não se
trata de vexatório, bem como o conforto.
Configura sanção desproporcional aos fins Considerando as hipóteses de cabimento,
da pena o RDD é proporcional a gravidade da
indisciplina.
Ofensa à coisa julgada representando uma Processo de conhecimento a coisa julgada
quarta modalidade de regime de diz respeito a relação de juiz, Estado e
cumprimento de pena pessoa. Já no processo de execução,
configura-se nova relação jurídica sujeita
a novas sanções etc... não é quarto regime
de cumprimento de pena.
Viola o princípio da legalidade e do “non O RDD é prisão administrativa e quanto
bis in idem” ao processo crime, trata-se de sanção
penal. Natureza jurídica distintas.

PRESCRIÇÃO À FALTA GRAVE

A LEP não se refere a prescrição da falta grave. Desta feita o STF determinou que falta
grave prescreve em dois anos (HC 92.000 SP).

STF - FULGA EM 13/11/2000 E É RECAPTURADO EM 15/01/2005 durante a fuga


não corre a prescrição (como se crime permanente fosse) assim o Estado poderá puni-lo
até 14/01/2007.

EXECUÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Eis os três sistemas penitenciários básicos:


1) Sistema Filadélfia: o sentenciado cumpre integralmente a pena na sela, sem dela
nunca sair.
2) Sistema Auburn (silent system): durante o dia o sentenciado trabalha com os outros
presos, sendo vedada a comunicação entre eles. No período noturno, recolhe-se à sela
individual.
3) Sistema Inglês (progressivo): divide-se em três etapas: 1° cumpre a pena em sela sem
dela nunca sair; 2° passa a trabalhar durante o dia e depois recolhe-se a noite; 3°
liberdade antecipada. Neste sistema a pena é cumprida de forma progressiva.

O Brasil adotou o sistema Inglês:


LEP Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso
tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom
comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as
normas que vedam a progressão.

PROGRESSÃO DE REGIME

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CP ART. 33§ 1º - Considera-se:

a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou


média;

b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou


estabelecimento similar;

c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento


adequado.

O incidente de progressão pode ser iniciado mediante requerimento do próprio


reeducando, advogado, MP. O Juiz deverá iniciar o incidente de progressão (ex officio),
se houver o preenchimento dos requisitos.

REQUISITOS DE PROGRESSÃO DO REGIME FECHADO PARA O SEMI-


ABERTO

1°) Condenação transitada em julgado (condenado definitivo). OBS: no caso de


condenado provisório preso, admite-se execução provisória.
STF SÚMULA Nº 716 ADMITE-SE A PROGRESSÃO DE REGIME DE
CUMPRIMENTO DA PENA OU A APLICAÇÃO IMEDIATA DE REGIME MENOS
SEVERO NELA DETERMINADA, ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA
SENTENÇA CONDENATÓRIA.

2°) Cumprimento, em regra, de 1/6 da pena no regime fechado. Porém no caso dos
crimes hediondos deverá ser cumprido 2/5 se primário e 3/5 se reincidente. A aplicação
da pena é ilimitada, mas a execução tem o teto de 30 anos, porquanto, deve-se cumprir a
fração da pena imposta na sentença. Jamais se utiliza o limite de 30 anos para mesmo
calculo.
STF SÚMULA Nº 715 A PENA UNIFICADA PARA ATENDER AO LIMITE DE
TRINTA ANOS DE CUMPRIMENTO, DETERMINADO PELO ART. 75 DO
CÓDIGO PENAL, NÃO É CONSIDERADA PARA A CONCESSÃO DE OUTROS
BENEFÍCIOS, COMO O LIVRAMENTO CONDICIONAL OU REGIME MAIS
FAVORÁVEL DE EXECUÇÃO.
3°) Bom comportamento carcerário.
4°) Oitiva do MP.
5°) No caso de crime violento, exige-se o exame criminológico fundamentando a
necessidade.

LEP Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime


fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos
necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução.

Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o
condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.

108
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

É obrigada a realização do exame criminológico?


Apesar de haver corrente (minoritária) em sentido contrário, prevalece no STF e no STJ
que a alteração trazida pela lei 10 792/03 não aboliu o exame criminológico (saiu do art.
112 mas continua no art.8), apenas deixando de ser obrigatório, ficando a critério do
juiz, no caso concreto, fundamentar sua necessidade. Caso não haja fundamentação do
Juiz, caberá HC por constragimento. Assim fica claro que o exame criminológico será
feito de acordo com o caso concreto.

6°) Reparação do dano nos crimes contra a administração pública


CP art. 33 § 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão
de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à
devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. (caso lalau)

REQUISITOS PARA PROGRESSÃO DO REGIME SEMI-ABERTO PARA O


ABERTO

São os mesmos do fechado para o semi-aberto, contudo...

Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu programa
e das condições impostas pelo Juiz.

Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que:

I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;


(estrangeiro em situação ilegal no país não faz jus ao semi-aberto, pois não poderá
trabalhar)

II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido (CRIMINOLOGICO), fundados indícios de que irá ajustar-se, com
autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime.

Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117
desta Lei. I - condenado maior de 70 (setenta) anos; II - condenado acometido de
doença grave; III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante.

Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime
aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:

I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;

II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;

III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;

109
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for


determinado.

Prisão domiciliar substitui o regime aberto do condenado definitivo não existindo prisão
domiciliar substitutiva de prisão preventiva. Requisitos: condenado em definitivo que
cumpre regime aberto.

Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em


residência particular quando se tratar de:

I - condenado maior de 70 (setenta) anos;(É PEGA SE A PROVA CITAR IDOSO.


60 anos) Menor de: não abrange o dia do aniversário. Não maior de: abrange até o dia
do aniversário. E maior de: depois do dia do aniversário.

II - condenado acometido de doença grave;(cuja a cura ou tratamento fica


impossibilitado no regime aberto a ser averiguado em laudo)

III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; (jurisprudência


abrange o homem quando se provar que há a dependência do filho)

IV - condenada gestante.

Presidente da Gol, juiz Lalau e Susane figuram em exceção, pois houve prisão
domiciliar sem os requisitos.

Em regra o rol supracitado é taxativo, porém o STF admite hipóteses excepcionais


devidamente comprovadas. Já o STJ admite prisão domiciliar onde não há casa do
albergado.

PROGRESSÃO EM SALTO (do regime fechado diretamente para o aberto)

Prevalece a impossibilidade de progressão de salto, pois viola a ressocialização que é


prevista em estágio, bem como não há previsão legal. Porém o STJ admite progressão
em salto se houver culpa do Estado na transferência do preso do regime mais rigoroso
para o menos (cumpre tempo o bastante no fechado para progredir ao regime aberto.
Assim como admite-se progressão em salto se não há vaga no semi-aberto, pois assim
restaria prejudicado o prisioneiro.

REGRESSÃO DE REGIME

Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva,
com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
(depreende-se que há regressão em salto assim previsto em lei)

I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave; não há falar em condenação
e sim a prática.

110
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime (artigo 111). (nova condenação torna incompatível o
regime ao qual deveria o condenado cumprir)

§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos
incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta. (EM NEGRITO FOI REVOGADO PELA LEI 9268/96
SENDO A MULTA EXECUTADA COMO DÍVIDA ATIVA)

AMPLA DEFESA

§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o


condenado.

A jurisprudência admite regressa preventiva, assim poderá ser imposta e depois será
feita a apreciação do juiz ocorrendo quando necessária para a manutenção e prevenção
da ordem.

STJ: Prática de falta grave leva a sanção disciplinar e regressão de regime não
incorrendo em bis in idem. A regressão de regime decorre da própria LEP, que
estabelece tanto a imposição de sanção disciplinar, quanto a regressão (sanções que se
complementam).

111
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA
Espécies...
Permissão de saída 120 e 121 *Saída temporária 122 a 125
Beneficiários preso definitivo no fechado Beneficiários: preso definitivo do 1)semi-
ou semi-aberto e para o preso provisório. aberto e que 2)apresenta comportamento
adequado e 3) *cumpriu 1/6 se primário
ou ¼ se reincidente.4)compatibilidade do
benefício com os objetivos da pena. Não
admite preso provisório ou fechado.
Característica: ocorre mediante escolta Característica: sem vigilância direta.
Hipóteses de cabimento (taxativas) Hipóteses de cabimento: 1)visita a família
1) falecimento ou doença grave do 2)freqüência a curso na comarca da
CCADI: 2)necessidade de tratamento execução 3)atividades de ressocialização
médico do preso (odontológico)
Autoridade competente: diretor do Autoridade competente: ato motivado do
estabelecimento. Se nega, judiciário. juiz da execução
Período de saída: tempo necessário Período de saída: até 7 dias renováveis por
mais quatro vezes durante o ano. Total 5
vezes.
* STJ SÚMULA: 40 PARA OBTENÇÃO DOS BENEFICIOS DE SAIDA
TEMPORARIA E TRABALHO EXTERNO, CONSIDERA-SE O TEMPO DE
CUMPRIMENTO DA PENA NO REGIME FECHADO.

REVOGAÇÃO DA SAÍDA TEMPORÁRIA

Art. 125. O benefício será automaticamente revogado quando o condenado praticar fato
definido como crime doloso, for punido por falta grave, desatender as condições
impostas na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso.
Parágrafo único. A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição
no processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da demonstração do
merecimento do condenado. (REVOGAÇÃO REBUS SIC STANTIBUS)

REMIÇÃO

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto poderá
remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.

§ 1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um) dia de
pena por 3 (três) de trabalho. O Trabalho é um misto de direito (permite a remição) e
dever (não trabalhando é falta grave).

Não se admite remição ficta em caso de ineficiência estatal na ausência do Estado. Para
defensor público admite-se!

§ 2º O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por acidente, continuará a


beneficiar-se com a remição. (AQUI EIS A POSSIBILIDADE DE REMIÇÃO FICTA)
se forjar, configura falta grave.

REMIÇÃO POR ESTUDO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

STJ SÚMULA 341 A FREQÜÊNCIA A CURSO DE ENSINO FORMAL É CAUSA


DE REMIÇÃO DE PARTE DO TEMPO DE EXECUÇÃO DE PENA SOB REGIME
FECHADO OU SEMI-ABERTO. (Jurisprudência: a cada três dias de estudo, um dia de
remição.)

§ 3º A remição será declarada pelo Juiz da execução, ouvido o Ministério Público.

PROCESSAMENTO DA REMIÇÃO

Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao Juízo da execução


cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho
de cada um deles.

Parágrafo único. Ao condenado dar-se-á relação de seus dias remidos.

JAN 18 DIAS TRABALHADOS – 6 DIAS (HOMOLOGA)

FEV 18 DIAS TRABALHADOS – 6 DIAS (HOMOLOGA)

MAR 24 DIAS TRABALHADOS – 8 DIAS (HOMOLOGA)

ABR 9 DIAS TRABALHADOS – COMETE FALTA GRAVE.

Art. 127. O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao tempo
remido, começando o novo período a partir da data da infração disciplinar.

Ele perde os dias homologados ou somente os dias que não foram homologados?

1° corrente. Punido por falta grave, o preso perde somente os dias remidos ainda não
homologados pelo juiz. Os dias remidos já homologados são considerados direito
adquirido.

2ª corrente STF. Punido com falta grave, o preso perde todos os dias remidos, mesmo
aqueles já homologados pelo juiz. Os dias remidos homologados são considerados
como expectativa de direito.

SÚMULA VINCULANTE Nº 9
O DISPOSTO NO ARTIGO 127 DA LEI Nº 7.210/1984 (LEI DE EXECUÇÃO
PENAL) FOI RECEBIDO PELA ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE, E NÃO
SE LHE APLICA O LIMITE TEMPORAL PREVISTO NO CAPUT DO ARTIGO 58
(30 dias anteriores).

TEMPO REMIDO É COMPUTADO PARA A PROGRESSÃO DE REGIMES


Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento condicional e
indulto. (STJ entende que poderá também para a progressão e para todos os benefícios
que dependem de cumprimento de tempo considera-se a remição.)

PROGRESSÃO EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA

113
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

STF SÚMULA Nº 716 ADMITE-SE A PROGRESSÃO DE REGIME DE


CUMPRIMENTO DA PENA OU A APLICAÇÃO IMEDIATA DE REGIME MENOS
SEVERO NELA DETERMINADA, ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA
SENTENÇA CONDENATÓRIA.

Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 (falsidade ideológica) do Código Penal
declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de
remição.

LIVRAMENTO CONDICIONAL

É um incidente de execução penal, liberdade antecipada, mediante certas condições,


conferida ao condenado que cumpriu parte da pena de liberdade que lhe foi imposta.

Diferença entre sursis e livramento condicional


Sursis Livramento condicional
O condenado não chega a cumprir pena Pressupõe o cumprimento de parcela da
(execução da pena suspensa) pena
Período de prova variante em regra de 2 a Período de prova é o restante da pena.
4 anos.
Concedido na sentença (contra, apelação) Concedido na execução (contra, agravo
em execução)
*Direito subjetivo do agente Direito subjetivo do agente

*Preenchidos os requisitos, surge o direito de gozo.


O livramento condicional é decorrente lógico dom sistema progressivo de pena (sistema
inglês).

LIVRAMENTO CONDICIONAL: REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS


(cumulativos para a aplicação, pois se não cumprir um deles não haverá o benefício)

REQUISITOS OBJETIVOS

Art. 83 O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado 1) a pena


privativa de liberdade 2) igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (em restritivas
de direitos não há)

Note-se que o condenado em crime doloso e reincidente a 1 ano e 11 meses não terá
direito a sursis ou a livramento condicional. Poderá recorrer ao Tribunal para
aumentar sua condenação em 1 mês para ter direito ao livramento condicional?

R: Rogério Grecco determina ser perfeitamente possível tendo em vista o interesse


recursal em vista.

I - cumprida mais de 1/3 da pena se o condenado não for reincidente (primário) em


crime doloso e tiver bons antecedentes;

114
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

II - cumprida mais da 1/2 se o condenado for reincidente em crime doloso;

V - cumprido mais de 2/3, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não
for reincidente específico em crimes dessa natureza.

Mas se for o apenado primário portador de maus antecedentes?

1 Corrente: Mirabete entende que terá de cumprir o mesmo que o reincidente (terá de
cumpris mais de ½).

2 Corrente (é a que prevalece): no silêncio da lei in dubio pro réu, assim se equiparará
ao primário com bons antecedentes cumprindo mais de 1/3 da pena para acessar o
livramento condicional.

IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela


infração;

REQUISITOS SUBJETIVOS

III - 1) comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, 2)bom


desempenho no trabalho que lhe foi atribuído (estrangeiro não poderá acessar o
livramento condicional por não poder trabalhar) e 3) aptidão para prover à própria
subsistência mediante trabalho honesto;

4) Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à
constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a
delinqüir.(Exame criminológico. Art. 8° LEP,com prova da necessidade)

PROCESSAMENTO DO PEDIDO: O juiz, antes de decidir ouve apenas o MP não


precisando ouvir o Conselho Penitenciário (lei 10.872/03).

PERÍODO DE PROVA E CONDIÇÕES DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

Trata-se do período de prova do restante da pena a cumprir tendo o início com a


Audiência Admonitória: art. 137 da LEP.

Lep Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica
subordinado o livramento.

CONDIÇÕES OBRIGATÓRIAS (ROL TAXATIVO)

CP Art. 85 - A sentença especificará as condições a que fica subordinado o livramento.

115
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:

a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; (Os
Tribunais vem admitindo os estudos)

b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação; (periodicidade a critério do juiz)

c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização


deste.

CONDIÇÕES FACULTATIVAS (ROL EXEMPLIFICATIVO)

§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as


seguintes:

a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da


observação cautelar e de proteção;

b) recolher-se à habitação em hora fixada;

c) não freqüentar determinados lugares.

Outras condições judiciais necessárias considerando-se fatos e condições pessoais do


apenado.

REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA

CP Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena


privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:

I - por crime cometido durante a vigência do benefício;


(NÃO INTERESSA SE DOLOSO OU CULPOSO) . O período de liberdade não será
computado como pena cumprida. Não cabe novo livramento para o crime revogado,
mas caberá livramento condicional para o crime novo que gerou a revogação. Não se
permite a soma das penas para gerar o beneficio do crime novo. Art. 141 LEP.

II - por crime anterior (ao benefício), observado o disposto no art. 84 deste Código.
(NÃO INTERESSA SE DOLOSO OU CULPOSO) O período de liberdade é igual a
pena cumprida. Cabe novo livramento para o crime revogado. Caso o crime revogador
seja de um ano, poderá somar apena do crime revogador para acessar o beneficio cabe
soma das penas. Mas ressalte-se que não haverá esse direito caso o crime revogador
tenha sido cometido durante a vigência do benefício CP Art. 84 - As penas que
correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento.

REVOGAÇÃO FACULTATIVA

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CP Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado 1) deixar de


cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou 2) for irrecorrivelmente
condenado, por crime ou contravenção, a pena SEJA DIVERSA da privativa de
liberdade.

Observa-se condenado por contravenção penal a pena de prisão simples. A revogação


obrigatória fala somente em crime e a revogação facultativa fala em prisão simples. Eis
lacuna legislativa. Não poderá haver analogia in malam partem.

PRORROGAÇÃO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

Através de processo que apura somente crime, assim mera instauração de IP não
prorroga o período de prova. Se por contravenção não há falar em prorrogação. A
prorrogação é automática, dispensando manifestação judicial.

PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA

Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a
sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do
livramento.

O texto do artigo supra, determina a existência de um processo para gerar a prorrogação


do período de prova por crime somente cometido na vigência do livramento. Mero
inquérito policial não gera prorrogação do período de prova. Processo penal tendo por
objeto contravenção. A prorrogação é automática mediante instauração de processo por
crime cometido na vigência do livramento condicional dispensando despacho

Art. 90 - Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena
privativa de liberdade.

EFEITOS DA REVOGAÇÃO

a) Condenação por crime anterior ao período de prova: se a revogação for motivada por
infração penal anterior à vigência do livramento, computar-se-á como tempo de
cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida, para a concessão de novo
livramento, a soma do tempo das duas penas (art. 141, LEP).

b) Condenação por crime praticado durante o período de prova: revogado o livramento,


não poderá ser novamente concedido o benefício e também não se desconta na pena o
tempo em que o condenado esteve solto (art. 88, CP 142, LEP).

c) Descumprimento de condições impostas na sentença: neste caso, não se computa na


pena o tempo em que o condenado esteve solto, e tampouco se concederá, em relação à
mesma pena, novo livramento.

117
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

AGRAVO EM EXECUÇÃO

LEP Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo.

- Segundo entendimento dominante na doutrina e jurisprudência adota-se o


procedimento do Recurso em Sentido Estrito, portanto o prazo é de 5 dias para a
interposição.

SÚMULA 700 DO STF: “É DE CINCO DIAS O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DE


AGRAVO CONTRA DECISÃO DO JUIZ DA EXECUÇÃO PENAL”.

EFEITOS DO AGRAVO À EXECUÇÃO

Devolutivo, regressivo (juízo de retratação) e extensivo (estende-se aos demais o que se


decidiu para o recorrente).

ÚNICO CASO EM QUE O AGRAVO EM EXECUÇÃO TEM EFEITO


SUSPENSIVO
LEP Art. 179. Transitada em julgado a sentença, o Juiz expedirá ordem para a
desinternação ou a liberação (do inimputável).

O inimputável está internado, o juiz decide “vou desinternar o inimputável”. O MP


agrava; desta feita a internação deverá continuar até a sentença.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

MARIA DA PENHA LEI Nº 11.340/06.

A partir da década de 90 o Brasil passa a especializar tipos penais em lei específicas


tendo em vista as estatísticas (alta incidência). Assim determinados crimes passam para
tipos especiais. Eis um prospectivo: ECA, hediondos, CDC, juizados especiais criminais
que não ressalvou a violência domestica. Em 1997, eis o CTB. Ato contínuo, sobreveio
a lei sobre crimes contra o meio ambiente. Estatuto do idoso também especializou
condutas. Por fim, eis a lei 11.340/06. A problemática da lei em comento, é justamente
quanto ao preconceito sexual.

Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra
a mulher. Não se trata de uma lei penal e sim uma lei multidisciplinar, pois menos de
10% da lei de criminal.

Depreende-se do art. primeiro a concreção das convenções internacionais de que o


Brasil faz parte.

FINALIDADES DA LEI MARIA DA PENHA

Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção
Interamericana para Prevenir, 1) Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de
outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe
sobre a 2) criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;
e 3) estabelece medidas de assistência e 4) proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.

VÍTIMA TRANSSEXUAL

Transexual é aquele que apresenta dicotomia físico-psíquica. Anatomicamente é


homem, mas psicologicamente é mulher. Se o transexual operado em cirurgia definitiva
modificar seu registro civil passa a ser juridicamente uma mulher deverá ser tratado
como se assim fosse. Desta forma, será acobertado pela lei Maria da Penha.

VÍTIMA DO SEXO MASCULINO

A lei Maria da Penha reconhece que o homem também pode ser vítima, pois o art. 129
§9° inserido pela lei em comento, não sinaliza quando ao sexo de forma específica:

Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

CP ART. 129 § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,


cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de
2006)

119
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Neste sentido, para a mulher aplica-se o CP e a lei Maria da Penha, e para o homem
somente o CP.

DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI MARIA DA PENHA

1ª CORRENTE: A LEI 11340/06 É INCONSTITUCIONAL TENDO EM VISTA A


OFENSA DO ART. 226 PARÁGRAFOS 5° E 8° DA CF/88:

CF Art. 226 § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos


igualmente pelo homem e pela mulher. 8º - O Estado assegurará a assistência à família
na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência
no âmbito de suas relações.

Resta ferida a isonomia familiar sendo retrógrada se apresentando na contra-mão da


história. Ora, quando a mulher agride o marido ou a irmã agride o irmão, ou o filho ou
filha agridem o pai, bem como o pai e a mãe agridem o filho...etc. Apenas poderá ser
vítima mulher, pouco importando o sexo do agressor. TJ do MS é relutante quanto a
constitucionalidade desta lei. Nesta linha, DF, MG.

2ª CORRENTE (É A QUE PREVALECE): DIZ SER CONSTITUCIONAL A LEI EM


COMENTO (STF E STJ).

Há dois sistemas de proteção sendo um geral que não visa um destinatário certo e um
segundo sistema é especial visando destinatário certo. Eis a diferença entre homem e
mulher no que tange a legislação especial no tocante a lei Maria da Penha, pois assim
não o é no CP que é regido pelo sistema de proteção geral. Nota-se que a mulher, de
fato, não é igual ao homem. Vale dizer que a lei Maria da Penha tem natureza de ação
afirmativa, pois enquanto a mulher não for realmente igual ao homem a lei em comento
tem razão de existência.

Nada impede o juiz, no seu poder geral de cautela (794 CPC), de emprestar mecanismo
de proteção de mulher ao homem (medidas protetivas). Mas não pode aplicar a lei em si
ao homem. Há exemplo, crimes contra o idoso ou contra a criança. TJ de Minas iniciou
este raciocínio, bem como no RS e SC. Eis um pendor ao STF.

CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMESTICA FAMILIAR CONTRA A MULHER

Violência de gênero no art. 5°: trata-se de violência preconceituosa, agredindo pra


diminuir ou objetalizar a mulher. Ora! Caso não se molde como agressão preconceito,
utiliza-se o CP. Caso não haja violência de gênero, não se aplica a lei em comento.

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

120
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio


permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas; (INDEPENDE DE VÍNCULO FAMILIAR – empregada doméstica).

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por


indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa; sogra...

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha


convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. (mesmo que não seja
domestico ou membro da família – namorados, amigos, república de estudantes,
amantes...resta extrapolada a própria finalidade de lei)

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de


orientação sexual. (aplica-se as relações homoafeitvas) o TJ/SP determinou que o
parágrafo único do art. 5 não abrange relação homoafetiva masculina.

Mas observa-se que a CF atende às seguintes entidades familiares: 226 §1° prevê
casamento entre homem e mulher; o 226§3° a união estável; e o 226§4° prevê o modo
mono parental. Assim o CC/02 foi conservador repetido os dispositivos supracitados.
As relações homoafetivas não estão previstas nos “codex” supracitados, restando ao
direito obrigacional a regulação dos reflexos patrimoniais. Maria Berenice Dias
determina que a relação homoafetiva também é entidade familiar que se faz protegida
pela lei Maria da Penha e os Institutos do direito de família sobre as relações
homoafetivas.

FORMAS DE VIOLENCIA DOMESTICA FAMILIAR CONTRA A MULHER

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre


outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal; (CRIME OU CONTAVENÇÃO)

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (MACHÃO
CONTROLADOR)

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a


presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar,
de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,

121
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o


exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure


retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; (MACHÃO QUEBRA-
QUEBRA)

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,


difamação ou injúria.

Obs: violência doméstica e familiar é gênero que tem como espécies contravenção penal
(vias de fato contra a mulher) art. 7°, I, LMP, ou crimes associados aos incisos
supracitados. Mas observa-se que poderá ser a violência contra a mulher fato atípico
como o adultério que se enquadra como violência psicológica (art. 7°, II LMP). Se
violência domestica familiar contra a mulher é gênero e crime é espécie, resta falar que
é errado dizer em crime de violência domestica familiar contra a mulher.

MECANISMOS DE PREVENÇÃO

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
(INCISOS MAIS IMPORTANTES)

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da
pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou
exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III
do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em


particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os


conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao
problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

INSTRUMENTOS DE ASSISTÊNCIA (tríplice assistência)

Assistência social, assistência a saúde e assistência de segurança (polícia civil) art. 9°. O
art. 11 determina os deveres da polícia diante a mulher violentada.

art. 9° parágrafo 2° O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica


familiar, para assegurar a sua integridade física e psicológica:

122
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

I – acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração


direta ou indireta;

Um juiz estadual não pode adentrar à esfera federal para remover uma servidora federal.
Mas minoria afirma que o juiz em seu poder geral de cautela assim poderá agir.

II – manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de


trabalho por até 6 meses.

No afastamento interrupção continua recebendo, mas sem receber é a modalidade


afastamento suspensão. Vale dizer que o afastamento previsto no inciso II, parágrafo 2°
do art. 9° não é remunerado para que não gere preconceito do empregador. Observe que
o presente inciso em comento fere a competência constitucional prevista aos juizes do
trabalho (nova doutrina).

MEDIDAS PROTETIVAS (arts. 22, 23 e 24)

É perfeitamente possível a aplicação de medida protetiva de oficio pelo juiz. Natureza


jurídica: cível (cautelaridade). São medidas protetivas de urgência. Deve estar presente
o binômio fumus boni júris e periculum in mora. Note-se que após a medida cautelar, há
a necessidade de se intentar uma ação judicial, pois assim sobrevirá prazo decadencial
de 30 dias. Mas noutro plano, enquanto a medida se mostrar necessária, permanece não
sobrevindo prazo decadencial TJSP e STJ. São algumas medidas: suspensão da posse ou
restrição ao porte de arma, afastamento do agressor do lar da ofendida, proibir a
aproximação do ofensor em relação à ofendida, testemunha e familiares, restrição ou
suspensão do direito de visita aos filhos menores, alimentos provisionais e provisórios,
etc.

PRISÃO PREVENTIVA

Dá-se para assegurar a medida protetiva. (O art. 20 garante os arts 22, 23 e 24). Assim
tem-se a acessoriedade da prisão preventiva em razão das medidas assecuratórias
(elemento principal). Mas por se tratar de um instituto cível, vale dizer que é esta uma
prisão preventiva cível, pois o acessório tem natureza jurídica igualada ao principal.

LMP - Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal,


caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do
Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.

CPP - Art. 313. Em qualquer das circunstâncias, previstas no artigo anterior, será
admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos:

IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos


termos da lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.
(Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) (pouco importa de for crime punido com
detenção ou reclusão) Agora uma lesão corporal dolosa de natureza leve admite prisão
preventiva se houver descumprimento das medidas protetivas de urgência.

123
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Nota-se que as medidas protetivas (de natureza cível) são asseguradas por prisão
preventiva (de natureza penal)

SITUAÇÕES

1) o agente descumpre a medida protetiva sem o intento de praticar crime, não cabe
prisão preventiva. STF: o descumprimento de determinaçães extrapenais com sanções
extrapenais não gera desobediência, salvo se sanção expressa “sem prejuízo da sanção
penal”. A expressão “sem prejuízo da sansão penal”, que deverá constar na decisão
judicial. Se faz referência apenas no âmbito administrativo (desobedecer ordem de sair
da faixa de pedestres não será preso por desobediência devendo o agente policial apenas
multa-lo e guinchar o carro).

2) Mas se descumpre medida protetiva para praticar crime, cabe prisão preventiva. Mas
deve estar fundamentada sob o manto do art. 312 CPP (garantia da ordem pública,
instrução criminal ou aplicação da lei penal).

ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos


da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União,
no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a
execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno,


conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

A Competência cumulativa (cível e criminal) será conflitante, pois eis o intento de se


punir e reconciliar. O STJ decidiu que se houver homicídio a primeira fase é composta
no juízo criminal comum e não no Juizado da mulher.

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar


contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.

Mas a interpretação exata é que a competência cível do juiz criminal se refere apenas as
medidas de urgência, pois a ação principal tramitará no cível TJ-SP. O juiz cível pode
alternar as medias protetivas impostas pelo juiz criminal.

PROCEDIMENTOS POLICIAL E JUDICIAL

124
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de
setembro de 1995.

Contravenção penal Crime


1)Termo circunstanciado 1) I.P.
2)Audiência preliminar para conciliação 2) não há a possibilidade de transação
ou sendo inviável, transação penal que penal. DO IP DIRETO PRA DENÚNCIA.
observa o art. 17* da LMP.
3) Denúncia 3)denuncia
4) processo – ou suspensão condicional do
4) Processo – não cabe suspensão
processo art. 89 da lei 9099/95. Condicional do processo tendo em vista o
art 41.
5) condenação com a observância do art. 5) condenação com a observância do art.
17 LMP. 17 LMP.

Não se admite transação penal de natureza real, somente de natureza pessoal.

*Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar


contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.

Se o crime for de lesão corporal dolosa de natureza leve: art. 129 §9° CP.

Se a vítima for homem, não existe vedação à aplicação da lei 9099 permanecendo a
ação pública condicionada (art. 88 lei 9099/95)

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.

Mas nota-se que mesmo sendo a pena de 3 meses a 3 anos não sendo de menor
potencial ofensivo basta que o crime seja de lesão corporal leve sob o manto do art. 88
Jecrim.

Mas se a vítima for mulher:

1ª corrente STJ (decisão volátil): APP incondicionada restando vedada a aplicação da lei
9.099/95 e seu art. 88.

2ª corrente: APP condicionada vendam-se os dispositivos, medidas despenalizadoras


exteriores à vontade da vítima. Ex: transação penal. Sendo a representação é inerente à
vontade da vítima.

Mas se perseverar a segunda corrente eis o dispositivo protetor do direito:

LMP CPP
Art. 16. Nas ações penais públicas Art. 25. A representação (DA
condicionadas à representação da ofendida RETRATAÇÃO) será irretratável, depois

125
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

de que trata esta Lei, só será admitida a de oferecida a denúncia.


renúncia à representação perante o juiz
(RETRATAÇÃO À REPRESETAÇÃO),
em audiência especialmente designada
com tal finalidade, antes do recebimento
da denúncia e ouvido o Ministério
Público.
Retratação na LMP. Depreende-se que a Retratação no CPP. A retratação da
retratação da representação será admitida representação será admitida até o
até o oferecimento da denúncia (antes do oferecimento da denúncia.
recebimento).

Há juizes determinando a presença do advogado do agressor na audiência do art. 16 da


LMP resguardar o contraditório (Nucci).

Para os ministros da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), não é preciso a


vítima de violência doméstica fazer representação formal, para que seja aberto o
processo com base na Lei Maria da Penha. Eles entendem que a queixa prestada pela
vítima na delegacia já demonstra o desejo que o agressor seja punido.

Com base nesse entendimento, os recursos dos advogados dos acusados que alegam não
ter havido representação posterior à queixa estão sendo indeferidos. Em um dos casos, o
defensor arguiu que não houve audiência, para que a vítima confirmasse a acusação e
manifestasse o desejo de fazer a respresentação.

Na prática, os ministros do STJ só estão reforçando as decisões já tomadas pelos


desembargadores do tribunais de Justiça estaduais (TJs). Nos últimos casos, os relatores
se posicionaram contra os recursos com a fundamentação de que a lesão corporal no
âmbito familiar é crime de ação pública incondicionada, ou seja, o inquérito policial é
instaurado e o processso é aberto independente da vontade da vítima.

Cabe ao representante do Ministério Público levar o caso adiante. Em todos os casos de


recursos impretrados no STJ, referentes à Lei Maria da Penha, o indeferimento foi
decido por unanimidade.

126
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA LEI Nº 9.296/96


ORIGEM: Art. 5° XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso
(comunicações telefônicas), por ORDEM JUDICIAL (requisito constitucional), nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal; (nem toda norma do art. 5 é auto-aplicável)
1° Corrente – a expressão “salvo” se refere ao segundo bloco após a vírgula.
2° Corrente - a expressão “salvo” se refere apenas às comunicações telefônicas.

REQUISITOS CONSTITUCIONAIS
1° Lei regulamentadora, 2° ordem judicial, 3°utilização das interceptações para
investigação criminal ou instrução processual penal.

INTERCEPTAÇÕES ANTES DA LEI 9296/96

Há um interregno entre a CF/88 e a lei das interceptações telefônicas. Neste período os


juízes, após a Charta Magna, aplicavam o dispositivo CBT art. 57 II, a. Assim sendo o
STF decidiu que todas as interceptações feitas antes da lei especial, são provas ilícitas,
ainda que com ordem judicial. Declarou o Supremo que o dispositivo supracitado não
foi recepcionado pela Carta Suprema, bem como o argumento de que a norma
constitucional não é auto aplicável cabendo a confecção da referida lei para a
aplicabilidade do dispositivo constitucional. (STJ RESP 225450, HC 72588 PB, HC
81494 SP).

“ Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza


(latu sensu), para prova em investigação criminal e em instrução processual penal,
observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação
principal, sob segredo de justiça.”

ESPÉCIES DE INTERCEPTAÇÕES

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (interceptação em sentido estrito LFG): trata-se da


captação de conversa telefônica feita por um terceiro sem o conhecimento dos
interlocutores da conversa.

ESCUTA TELEFÔNICA: captação da conversa telefônica, feita por um terceiro com o


conhecimento de um dos interlocutores da conversa e sem o conhecimento do outro.

GRAVAÇÃO TELEFÔNICA (gravação clandestina – STF): é a captação da conversa


telefônica feita por um dos interlocutores da conversa. Não há a inferência de um
terceiro.

INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL: é a captação da conversa ambiente feita por um


terceiro, sem o conhecimento de nenhum dos interlocutores da conversa.

ESCUTA AMBIENTAL: é a captação da conversa ambiente feita por um terceiro com


o conhecimento de um dos interlocutores e sem o conhecimento do outro.

127
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

GRAVAÇÃO AMBIENTAL: é a gravação da conversa ambiente feita por um dos


interlocutores da conversa.

Apenas as duas primeiras situações (INTERCEPTAÇÃO E ESCUTA TELEFÔNICA)


são previstas pela CF bem como a presente lei em estudo. As demais não estão
submetidas ao regime constitucional, bem como a lei 9296/96. Podem ser feitas sem
ordem judicial, e serão provas lícitas, salvo se atingirem a intimidade do interlocutor
que desconhece a captação. S erão ilícitas por violação ao art. 5°, x (direito à
intimidade), mas não afrontam o inciso XII. (STJ RMS 5352 GO)

Conversa intima é assunto que se refere exclusivamente a assuntos particulares das


partes do diálogo. JURISPRUDÊNCIA: Gravação ambiental é clandestina, mas lícita
independente de ordem judicial. (STF 809489 RJ 1° T, AP 447 PLENO STF
18/02/2009)

GRAVAÇÃO AMBIENTAL FEITA PELA POLÍCIA PARA OBTER CONFISSÃO: o


Supremo entendeu que esta gravação é ilícita, sendo forma de interrogatório subreptício,
sem as formalidades processuais e sem as garantias constitucionais_ delegado com
gravador no bolso obtendo confissão (STF HC 80949 RJ). A polícia poderá fazer
captação ambiental na lei 2°, IV lei do crime organizado 9034/95, COM ORDEM
JUDICIAL.

INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS DE ADVOGADO

1° CONVERSA RESERVADA ENTRE ADVOGADO E CLIENTE: a interceptação é


sempre ilícita, pois a conversa está protegida pelo sigilo profissional e pelo direito de
não se auto incriminar (STJ HC 59967).

2° CONVERSA ENTRE ADVOGADO E CLIENTE CAPTADA DENTRE AS


CONVERSAS DOS CRIMINOSOS: entre o advogado e o cliente são excluídas,
restando as demais aproveitadas. (STJ HC 66368 PA)

3° ADVOGADO SUSPEITO DE CRIME: assim sendo, a interceptação é válida, pois


não viola as prerrogativas do advogado, pois não figura o agente desta forma, mas sim
como suspeito de crime (STJ HC 20087 SP). O advogado será interceptado tão somente
em relação ao crime pelo qual esteja sendo investigado, as demais conversas com
clientes que não tenham relação com o crime em questão, continuam invioláveis
acobertadas pelo sigilo profissional.

RELAÇÃO DAS LIGAÇÕES RECEBIDAS E EFETUADAS (QUEBRA DE SIGÍLO


TELEFÔNICO): é o acesso a relação das ligações efetuadas e recebidas (hora, dia) sem
acesso ao conteúdo das conversas, requisitando-se uma cópia telefônica para a
operadora de telefonia. Não se trata de interceptação telefônica, portanto não se submete
ao regime da presente lei, mas exige ordem judicial por envolver direito de intimidade.
Não se submete à presente lei por não se tratar de interceptação telefônica. (STJ E
Declaração no RMS 17732 MT).

128
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

RELAÇÃO DAS LIGAÇÕES CONSTANTES NA MEMÓRIA DO CELULAR: a


polícia pode ter acesso, sem ordem judicial, à relação das ligações constantes na
memória do celular, pois não é interceptação telefônica (pois não houve acesso ao teor
das conversas) nem quebra de sigilo telefônico (pois não houve acesso à lista geral das
chamadas efetuadas e recebidas). Trata-se assim de apreensão do objeto.

INTERCEPTAÇÃO ANTES DA INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL: é


perfeitamente possível, uma vez que tanto o art. 5° XII quanto o art. 1° 9296/96 utilizam
a expressão “investigação criminal” e não “inquérito policial” (STJ RESP 827940 SP
14/02/08).

INTERCEPTAÇÃO TELEFONICA COMO PROVA EMPRESTADA: só pode ser


decreta em investigação criminal e processo penal, restringindo-se apenas ao âmbito
criminal. Não pode ser decretada em processo civil, administrativo ou tributário. Mas o
STF e o STJ admitem que a interceptação feita no âmbito criminal seja utilizada como
prova emprestada em processo administrativo disciplinar contra os servidores
interceptados na investigação ou processo criminal e contra outros servidores
descobertos em razão das interceptações. (IQ QO 2424 RJ 20/06/2007 E IQ QO 2725
SP 25/06/2008, AMBOS STF – STJ RMS 16429 03/06/2008)

ORDEM DO JUIZ COMPETENTE PARA AÇÃO PRINCIPAL: a CF exige “ordem


judicial”. Mas o art. 1° da lei 9296 exige “ordem do juiz competente da ação principal”,
sendo prova ilícita se não for ordenada segundo a lei especial (HC 49179 RS 05/09/06).

MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM INTERCEPTAÇÃO: em razão das


interceptações, a interceptação decretada pelo juízo anterior, poderá ser utilizada na
nova instância (juiz estadual autoriza interceptação em trafico local e por conta das
interceptações, descobre-se que se trata de tráfico transnacional) STF HC85962 DF
25/11/08. STJ HC 66873.

NATUREZA JURÍDICA DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

1°MEDIDA CAUTELAR PREPARATÓRIA: decretada na fase da investigação.


Quando decretada nessa fase, a exigência de que seja feita pelo juiz da ação principal
deve ser mitigada, relativizada, vista com temperamentos, para não provocar obstáculos
á aplicação da justiça (STJ RESP 770418 ES 07/03/06 E STF HC 81260, Pleno). O juiz
da central de inquéritos, que só atua e decide sobre questões relativas a investigação, por
regras de competência estadual, e que não julga a ação principal, é competente para
autorizar interceptações telefônicas.(RHC 92354 SP, RHC 15128 PR 03/02/2005).

2° MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL: decretada na fase do processo.


INFRAÇÃO POR DIVERSAS LOCALIDADES: assim sendo, pelo princípio da
prevenção, será o juiz principal o que primeiro tomar conhecimento da infração. (STF
HC 82009)
A DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TORNA PREVENTO O JUIZO. STF HC
93762 SP, STJ HC 85068 SP.
CPI NÃO PODE AUTORIZAR INTERCEPTÇÃO TELEFÔNICA: poderes próprios
não significam poderes idênticos, pois nos casos em que a CF exige expressamente
ordem judicial, o ato só pode ser praticado pelo poder judiciário (PRINCÍPIO DA

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

RESERVA DE JURISDIÇÃO). Art. 5° XII exige expressamente ordem judicial. Assim


como prisão preventiva ou temporária não poderá, salvo em flagrante.

CPI PODE QUEBRAR SIGÍLIO TELEFÔNICO: apenas o acesso a ligações efetuadas


recebidas, assim como sigilo fiscal e sigilo bancário.

ACESSO DO ADVOGADO ÀS INERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS: o advogado não


pode ter acesso às interceptações que estão em andamento. Mas somente acessará as
interceptações já transcritas e juntadas aos autos da investigação (STF HC 90232 AM
18/12/2006) Embora o inquérito não há ampla defesa, há falar em direito de defesa.

SÚMULA VINCULANTE Nº 14: É direito do defensor, no interesse do representado,


ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito
ao exercício do direito de defesa.

CPI não pode decretar a interceptação telefônica nem ao menos requisitar às empresas
de telefonia as conversas transcritas, pois estão em segredo de justiça, carece a CPI de
clamar ordem judicial.

INTERCEPTAÇÃO ILÍCITA: a decretação de ilicitude da interceptação causa duas


consequências:

1° a exclusão da interceptação dos autos do processo. Art. 5°, LVI - são inadmissíveis,
no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; (REGRA DA EXCLUSÃO
exclusionary rule – DIREITO NORTEAMERICANO). Há dois sistemas de prova
ilícita; Pelo sistema da admissibilidade (male captum bene retentum) a prova ilícita fica
nos autos e é declarada ilícita na sentença aplicado no Brasil até meados na década de
70. Mas pelo sistema da inadmissibilidade, a prova não pode ser juntada aos autos, e ser
for será desentranhada. CPP - Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas
do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais. 11690/08.

2°: gera nulidade no processo ou enseja falta de justa causa se for a única prova do
processo; ou o processo continua se houver outras provas lícitas e autônomas da
interceptação (STF RHC 88361 SP 14/11/2006; STJ HC 65818 17/04/2007).

A LEI AUTORIZA A INTERCEPTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO TELEMÁTICA E


INFORMÁTICA: a interceptação de comunicação telemática e informática são
constitucionais (messenger, skype) envolve comunicação telefônica com auxílio da
informática.

“art. 1° Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de


comunicações em sistemas de informática e telemática.”

DA CONSTITUCIONALIDADE DA INTERCEPTAÇÃO DE COMUNICAÇÕES DE


DADOS

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

1° CORRENTE (é a que prevalece): a interceptação de comunicações de dados


autorizada pelo art.1° § único da lei 9296/96 é constitucional. LFG e Raul Servine,
Alexandre de Morais. Lenio Luiz Streck assim entende por ser uma das únicas formas
de combater a criminalidade da pos modernidade criminal.
2° CORRENTE: a interceptação das comunicações de dados autorizada pelo art.1° §
único da lei 9296 é inconstitucional. Pois art. 5° XII só autorizou a interceptação de
comunicações telefônicas. (Antonio Magalhães Gomes Filho e Vicente Grecco Filho).

APREENSÃO DE COMPUTADORES: é lícita, pois o art. 5° XII protege é justamente


o sigilo das comunicações de dados, e não dos dados em si mesmos armazenados na
base física do computador. Isto posto, esses dados se equivalem a documentos
armazenados em armários tradicionais (STF 418416 SC PLENO 10/05/06). Carece de
ordem judicial indicando quais os computadores, para que não haja medida
desproporcional.

SALA DE CHATS: não estão protegidas pelo sigilo das comunicações, pois o ambiente
é de acesso público e destinado a conversas informais (STJ RHC 18116 SP
16/02/2006).

MONITORAMENTO POR INTERCEPTAÇÃO E PRISÃO EM FLAGRANTE: a


prisão em flagrante, em razão do monitoramento por interceptações telefônicas é válida.
Não se trata de situação de flagrante provocado, mas de flagrante esperado (STJ HC
89808 SP 27/03/08; HC72181 SP 02/10/07).

REQUISITOS PARA INTERCEPTAÇÃO (contrario sensu do art. 2°)

Será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das


seguintes hipóteses:

I - indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal – vigora o in dúbio


pro societat. Basta o juízo de probabilidade.

II – indispensabilidade da prova quando não houver outro meio de busca da prova,


havendo perigo da prova se perder, caso a autorização não seja autorizada.

III – crime punido com reclusão.

INTERCEPTAÇÃO COMO PROVA DE UM CRIME PUNIDO COM DETENÇÃO:


desde que o crime seja conexo ao crime punido com reclusão para o qual foi autorizada
a interceptação. Juiz autoriza interceptação por crime de tráfico e descobre-se no
decorrer da investigação que houve crime de ameaça (STF HC 83515 RS PLENO).

DESCOBERTA FORTUITA DE NOVOS CRIMES OU NOVOS ENVOLVIDOS: o


art. 2° § único, exige que no pedido de interceptação seja indicada a infração a ser
investigada e as pessoas que serão investigadas. Se, porém, durante as interceptações
forem descobertos novos crimes ou novos envolvidos, a interceptação poderá ser
utilizada como prova, desde que haja relação com o delito objeto da investigação.
Mesmo que o crime não tenha relação com aquele descoberto na investigação, a

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

interceptação poderá ser utilizada como prova (STJ HC 69552 6/02/07; STJ APN 425
ES 16/11/05 Corte especial, acusado por foro especial).
“ Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto
da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo
impossibilidade manifesta, devidamente justificada.”

DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO

Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz,
de ofício ou a requerimento:
I - da autoridade policial, na investigação criminal;
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução
processual penal.

DA CONSTITUCIONALIDADE DA DECRETAÇÃO EX OFFICIO

1° CORRENTE: é inconstitucional se decretada na fase investigatória ou processual.


Viola devido processo legal, sistema acusatório de processo e imparcialidade do juiz,
tratando-se de verdadeiro juiz inquisidor. LFG.

2°CORRENTE: é inconstitucional na fase investigatória, mas é constitucional na fase


processual. Adi 3450 PGR versando sobre a inconstitucionalidade da decretação de
ofício de interceptação telefônica na fase investigatória. Paulo Rangel e MPF. Pendor do
STF por uma questão de coerência, pois assim já foi julgado na lei do crime organizado.

MANDADO DE SEGURANÇA: remédio cabível contra rejeição do pedido de


interceptação (indeferimento do pedido). Ada Pelegrini Grinover e LFG.

HABEAS CORPUS: remédio cabível contra interceptação decretada ilegalmente


(interceptação em crime punido com detenção ou juiz estadual decreta interceptação em
crime militar).

INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: pode investigar e o próprio promotor


que investigou pode denunciar e também pode pedir a interceptação nas investigações
que realiza (STJ RHC 10974 SP).

ILICITUDE DA PROVA E SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA: se a ilicitude da prova não


for argüida na instância inferior, ela não pode ser apreciada pela instância superior sob
pena de supressão de instância (STJ HC 91115 RJ 20/05/2008).

“Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá a demonstração


de que a sua realização é necessária à apuração de infração penal, com indicação dos
meios a serem empregados.”

132
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

PEDIDO VERBAL E REDUÇÃO A TERMO


Art. 4° § 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado
verbalmente, desde que estejam presentes os pressupostos que autorizem a
interceptação, caso em que a concessão será condicionada à sua redução a termo.
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido.

PRAZO DE DURAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA: pela literalidade do


artigo infra-citado, o prazo máximo de interceptação é de 30 dias, ou seja “15 dias
renováveis por igual período”, mas o STF e o STJ pacificaram o entendimento de que a
prorrogação ode ocorrer quantas vezes forem necessárias, dede que fundamentada a
necessidade de cada prorrogação (STF RHC 88371 SP 14/11/2006; STJ HC 60809 RJ
15/05/2007).

“Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma
de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de 15 dias, renovável por
igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.”

CONCURSO PARA DEFENSORIA: HC 76686 PR 6ª turma do STJ, o relator Ministro


Nilson Naves, considerou ilícita uma interceptação prorrogada por 2 anos tendo em
vista os seguintes motivos: 1°Norma restritiva de direitos fundamentais devem ser
interpretadas restritivamente. 2° Se o legislador quisesse permitir várias prorrogações
teria usado a expressão “renováveis por iguais períodos”. 3° No caso do estado de
defesa, o sigilo das comunicações telefônicas só pode durar no máximo 60 dias. Art.
136 § 1°,c, §2°CF/88. 4° no caso concreto houve violação ao princípio da razoabilidade.
No conflito de normas de inspirações ideológicas opostas, deve prevalecer a que
privilegiar a liberdade.
Contra decisão de interceptação telefônica não fundamentada cabe HC, por via reflexa.
PRAZO PARA O CONCURSO PF: renovável por quanto tempo for necessário.

Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de


interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua
realização.

INTERCEPTAÇÃO CONDUZIDA PELA PRF

STJ HC 46630/RJ aceitou interceptação conduzida pela PRF, pois o dec. 1655/95, art.
1°, X dispõe que a função da PRF atuar na prevenção e repressão a crimes (não autoriza
necessariamente a investigar). ADI 1413/DF veio a confirmar a constitucionalidade do
decreto supra.

INTERCEPTAÇÃO CONDUZIDA PELO MP

133
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Tendo em vista os poderes investigatórios inerentes ao MP, não há falar em


impedimento para a interceptação por se tratar de uma diligência dentro do
procedimento investigatório. (STF)

DEGRAVAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO

Art. 6° § 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comunicação


interceptada, será determinada a sua transcrição.

HC – MC 91207/RJ Pleno do STF (Cezar Peluzzo): bastam que sejam transcritos os


trechos necessários ao embasamento da denúncia. Mas no âmbito do IP a polícia deve
transcrever toda a interceptação. Deve haver laudo de degravação da voz, assim sendo o
réu reconhecendo ser sua a voz, não poderá a defesa alegar nulidade por falta de laudo
de degravação, pois seria beneficiamento pela própria torpeza. STF 65604DF

Art. 6° § 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o resultado da


interceptação ao juiz, acompanhado de auto circunstanciado, que deverá conter o
resumo das operações realizadas.
Não se confunde o auto circunstanciado com o relatório do IP, pois corre a
interceptação em autos apartados. Trata-se de peça autônoma no tocante à interceptação
telefônica. Marco Aurélio: o auto circunstanciado é formalidade essencial da prova, mas
a sua falta ou defeito gera apenas nulidade relativa dependente, portanto de
comprovação de efetivo prejuízo (STF HC 87859).

CRIME DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de


informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou
com objetivos não autorizados em lei. Pena: reclusão de 2 a 4 anos e multa.

Crime este que possui duas condutas:


1 CONDUTA)Realizar interceptação ilegal: por falta de autorização judicial ou por
objetivos não autorizados em lei. Crime comum. Consumação: no momento em que a
interceptação se inicia e o agente ativo toma conhecimento da conversa não carecendo
de revelação para terceiros. Tentativa: quando o agente não conseguir realizar a
interceptação por razões alheias a sua vontade. Ex: o agente é preso no poste antes de
iniciar a interceptação.
2 CONDUTA) Quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos
não autorizados em lei: trata-se de crime próprio, pois o agente deve estar envolvido no
dever de investigação e tem o dever de manter o segredo. LFG diz que não se trata de
crime funcional, pois pode figurar o advogado, o jornalista. Noutro plano, Vicente
Grecco Filho: alega ser crime próprio e funcional. Desta feita, advogado incorreria em
violação de sigilo profissional 154 CP. O crime se consuma quando o agente revela a
existência de uma interceptação que esta sendo feita, ou o conteúdo da interceptação
bastando revelar a existência da interceptação. Tentativa: na forma escrita.
COMPETÊNCIA JURISDICIONAL: em regra é da Justiça estadual, mas em havendo
interesse da União, Justiça Federal. STJ CC 40113 SP. Há exemplo: interceptação de
delegado federal no exercício de suas funções como sujeito passivo da interceptação é
interesse da União, devendo ser encaminhados os autos para a Justiça Federal.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE LEI Nº 9.605/98.

PARTE GERAL do art.2 º ao 28.

Art. 2º primeira parte - Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes
previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua
culpabilidade...

Eis a possibilidade de concurso de agentes adotando a teoria monista (unitária) prevista


no art. 29 caput CP. Neste plano, autores, coautores e participes respondem pelo mesmo
crime sendo feita a dosimetria de acordo com a culpabilidade de cada um. Culpabilidade
não no sentido de 3° substrato do crime, e sim quanto a graduação de contributividade
no crime.

Art.2° segunda parte..., bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e


de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que,
sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia
agir para evitá-la.

Eis o dever jurídico de agir nos crimes ambientais para os detentores de


responsabilidades relevantes. Trata-se do dever jurídico de agir, pois a omissão é
penalmente relevante nos termos do art. 13 §2°CP. As pessoas supracitatas respondem
por ação ou por omissão nos crimes ambientais. Responderão por omissão desde que 1)
tenham ciência do crime e 2) possam evitá-lo. São requisitos cumulativos para se evitar
a responsabilidade penal objetiva (leia-se sem dolo e sem culpa). Nota-se que caso o
executivo da empresa não tenha ciência do funcionário que corta arvores, aquele não
poderá ser responsabilizado.

CP Art. 13 - Relevância da omissão § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o


omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;...

DA ACUSAÇÃO GERAL
STJ e STF consideram ineptas as denominadas denúncias genéricas. São denúncias que
não estabelecem o mínimo vínculo entre a conduta do agente, seja ação ou omissão, e o
crime ocorrido. HC 86879 STF. Distinção criada por Eugênio Paccelli.
Acusação (denúncia) geral Acusação (denúncia) genérica
Ocorre quando o órgão da acusação Ocorre quando a acusação imputa vários
imputa a todos os acusados, mesmo fato fatos típicos, imputando-os genericamente
delituoso, independentemente das funções a todos os integrantes da sociedade.
por eles exercidas na empresa. Imputa um Imputa vários fatos típicos a várias
fato típico a várias pessoas. Neste caso, pessoas. Há inépcia da peça acusatória.
não há falar em inépcia da peça Inclui a pessoa apenas por sua posição
acusatória. hierárquica. Não se detalha a ação de cada
Descreve o fato criminoso com todas as Descreve fato criminoso imputando ao
suas circunstâncias, e o imputa mandatários da empresa (preposto,
simultaneamente a todos os acusados sem gerente) por incluir no pólo passivo.
detalhar a conduta de cada um deles.

136
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Ressalte-se que se trata de mudança jurisprudencial, pois antes o STF admitia a


acusação genérica recebendo-a e posteriormente na condução da ação penal as condutas
seriam individualizadas ao seu tempo. Tratava-se de verdadeiro absurdo.

RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS

PREVISÃO LEGAL: CF ART. 225 § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas


ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS: Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas


administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A
responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-
autoras ou partícipes do mesmo fato.

1ª CORRENTE: a CF não criou a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Com a


seguinte interpretação do dispositivo constitucional:

Pessoa física Jurídica


Ato condutas Atividades
Sanções penal e civil adm e civil

Esta corrente prima pelo Princípio da pessoalidade da pena (intransmissibilidade ou


incomunicabilidade) Art. 5 XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor
do patrimônio transferido. PORTANTO A RESPONSABILIDADE NÃO PODE
RECAIR SOBRE A PESSOA JURÍDICA. Desta feita, a responsabilidade penal é
incutida a pessoa física que detém a conduta, não se comunicando a conduta a pessoa
jurídica. (Luis Regis Prado, Cezar Roberto Bitencourt, Miguel Reale, Jr. José Henrique
Pierangelli, René Ariel Dotti, Luis Vicente Cernicchiaro). Assim sendo o art. 3° da lei
LEI Nº 9.605/98 é inconstitucional não previstas na CF por ofender materialmente os
dispositivos constitucionais supracitados. Sob a ótica desta corrente, o art. 3 da lei em
comento é inconstitucional.

2ª CORRENTE: A CF prevê a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas pessoa


jurídica não pode cometer crimes. “SOCIETAS DELINQUERE NON POTEST”. LFG,
GRECO, ZAFARONI, TOURINHO, ALBERTO SILVA FRANCO, DELMANTO,
FRANCISCO DE ASSIS TOLETO, MIRABETE.

Esta segunda corrente se baseia na Teoria civilista da ficção jurídica de Savigny e


Feuerbach que define: a pessoa jurídica é pura abstração jurídica. Se a P.J. é uma ficção,
não possuindo capacidade para conduta criminosa. São entes fictícios desprovidos de
consciência, vontade e finalidade. Logo não há falar em dolo ou culpa no tocante a
conduta criminosa. Portanto punir a P. jurídica é imputar responsabilidade penal
objetiva. Desta feita não agem com culpabilidade, pois não há potencial consciência da
ilicitude. Posto isso, não há falar em exigência de conduta diversa bem como a pessoa

137
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

jurídica não possui imputabilidade (capacidade de conduta de pena). Enfim, a pena


criminal é inútil para a pessoa jurídica sendo incapaz de assimilar as finalidades da
pena. Portanto não podem cometer condutas tipicamente humanas como crimes.
Em suma:
a) Não tem capacidade de conduta;
b) Não agem com culpabilidade;
c) As penas são inúteis, pois não assimila as finalidades da pena (prevenção,
retribuição).

3ª CORRENTE: A CF criou a responsabilidade penal da PJ, assim sendo que pode


praticar crimes. TEORIA DA REALIDADE OU DA PERSONALIDADE REAL DE
OTTO GIERKE. “SOCIETAS DELINQUERE POTEST”. São entes reais não se
tratando mesas abstrações jurídicas possuindo capacidade e vontade distintas das
pessoas físicas que as compõe (realidades independentes). A PJ pode praticar a conduta
criminosa. As pessoas jurídicas tem culpabilidade, não somente a culpabilidade
indivudual clássica de conteúdo ético própria do finalismo. À culpabilidade penal
individual clássica, própria do direito penal ético, deve se somar hoje o conceito de
culpabilidade social, baseado na idéia da empresa é centro de emanação de decisões
denominada ação delituosa institucional (Sérgio Salomão Schecaira). A pena criminal
tem simbologia mais forte do que sanções administrativas, assim cumprem melhor a
finalidade de prevenção dos crimes ambientais. Puni-la exclusivamente A pessoa física
significa escudar a pessoa jurídica mantendo em impunidade a PJ. Por fim, a CF e a lei
ambiental exprimem a responsabilidade penal da PJ. NUCCI, VLADIMIR PASSOS DE
FREITAS, SERGIO SALOMÃO SCHECAIRA, CELSO RIBEIRO BASTOS,
DAMÁSIO, ÉDIS MILARÉ, ADA PELEGRINI GRINOVER. Portanto é induvidosa a
responsabilidade penal da pessoa jurídica.

REQUISITOS PARA A REPONSABILIZAÇÃO NO ART. 3°


Nos casos em que a infração seja cometida por decisão...

1° de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado


2° no interesse ou benefício da sua entidade (pessoa jurídica).

Sem os dois requisitos supra cumulados, não há falar em responsabilidade da pessoa


jurídica. Será impossível responsabiliza-la.

CASO MERO CORTADOR RESOLVE CORTAR POR SUA CONTA, POIS GANHA
POR ÁRVORE DERRIBADA, DESTA FEITA, A EMPRESA NÃO RESPONDE.
Neste caso não houve benefício para a entidade ou decisão de representante ou
colegiado.
Exemplo claro é o caso de vazamento de óleo em domínio da Petrobrás. O desgaste com
a mídia, os gastos de limpeza determinaram o imenso desgaste na mídia sem trazer
qualquer benefício para a empresa.

Edis Milaré concorda com a responsabilidade de PJ só em crime doloso, pois em crime


culposo nunca haverá decisão de órgão colegiado ou de representante isolado.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

SISTEMA DA RESPONSABILIDADE PENAL POR EMPRÉSTIMO OU POR


RICOCHETE (SISTEMA FRANCÊS): a pessoa jurídica é punida reflexamente por atos
praticados pela pessoa física isolada ou em órgão colegiado. Errôneamente denominado
como sistema da dupla imputação.

Entende-se que a pessoa jurídica só poderá ser responsabilizada penalmente por atos
praticados pela pessoa física. Sistema da responsabilidade penal por empréstimo

TRFS admitem a responsabilidade penal da PJ.

STJ REsp 847476 SC: ATUALMENTE A JURISPRUDÊNCIA ADMITE “SOCIETAS


DELINQUERE POTEST” DESDE QUE SEJA DENUNCIADA JUTAMENTE COM
A PESSOA FÍSICA (IMPUTAÇÃO SIMULTÂNEA). NÃO HÁ IMPUTAÇÃO
ISOLADA CONTRA PJ. Tranca-se a ação penal caso haja denúncia genérica. Trancada
a ação contra a pessoa física, a decisão se estenderá a pessoa jurídica. Mas
anteriormente/ inicialmente rechaçou a responsabilidade criminal da PJ. Resp 622724
SC – Relator Felix Fisher e Resp 665212.212 SC HC 15051 SP TODOS DE 2001 A
2005.

STF: o plenário ainda não se manifestou sobre a responsabilidade penal da PJ. Há


apenas argumentos “obter dictum” dos ministros demonstrando inclinações. HC
92921BH nes HC discutia-se se cabia HC para trancar a ação penal da pessoa jurídica e,
de passagem, a primeira turma destacou quanto a responsabilidade penal da pessoa
jurídica sem ser tópico fundamental do julgado. Neste mesmo julgado o STF
determinou que o HC é inadmissível impetrado por pessoa jurídica.

HC92921 BH (Carlos Britto, Marco Aurélio): existe responsabilidade penal da PJ.


“SOCIETAS DELINQUERE POTEST”.

Noutro sentido, HC 83301 SP (Cezar Peluzo): empresas não cometem crimes.


Responsabilidade pessoal subjetiva. “SOCIETAS DELINQUERE NON POTEST”

O leading case é o REsp 564960 SC. Onde se deu a responsabilidade penal clássica
somada a responsabilidade social. Punição e prevenção geral especial. Previsão política
do constituinte originário. Soma-se a segunda corrente, pois como será a punibilidade.
Teoria da personalidade real. A culpabilidade no conceito moderno é a responsabilidade
social. Mas desde que seja acusada juntamente a pessoa física que atua em nome do ente
moral. Não havendo ofensa ao princípio da intranscendência da pena, pois a concurso
de agentes no crime cada qual recebendo a punição de forma individualizada.

STJ: não há falar em HC como paciente pessoa jurídica, pois o presente remédio cabe
quando sim ferir a liberdade de locomoção, cabendo então mandando de segurança para
o trancamento da ação penal para a pessoa jurídica.
STF: não cabe HC, restando vencido Lewandovski que acatou o HC, pois a pessoa
jurídica foi denunciada juntamente com a pessoa física havendo reflexos á pessoa
jurídica. Ofensa reflexa. Pois cabe HC contra sigilo bancário ou fiscal.. Ofensa direta e
ofensa reflexa a direito de locomoção.

OBS. STF EM 2008 NÃO ADMITE PJ COMO IMPETRANTE DE HC.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO

1ª CORRENTE: pode ser denunciada por crime ambiental, pois nem a CF e nem a lei
especial faz ressalva diferenciadora de pessoa jurídica de direito público ou privado.
Onde a lei não distingue, não cabe ao interprete faze-lo (Paulo Afonso Leme Machado).
Nucci, Walter Claudius Rhotemburg, Shecaira.

2ª CORRENTE: não pode ser denunciada por crime ambiental. Edis Milaré nos revela
que a imposição de pena ao Estado seria inócua, pois o Estado não pode punir a si
mesmo sendo que a punição sobre a pessoa de direito público recairia sobre a própria
sociedade, pois a multa seria para com recursos da própria comunidade.

SISTEMA DA DUPLA IMPUTAÇÃO OU SISTEMA DE IMPUTAÇÕES


PARALELAS

Art. 3º Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

O presente dispositivo revela ser possível punir simultaneamente a pessoa física e


jurídica pelo mesmo fato, sem a exigência da simultaneidade para evitar bis in idem.

Noutro plano o sistema francês é o que nos revela que não tem como punir a pessoa
jurídica sem punir a pessoa física. STJ: não há falar em bis in idem. Pois se pune pelo
mesmo fato pessoas diferentes (Resp 610114 RN). Sistema não acarreta bis in idem.

DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA (no âmbito civil)

Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
Assim recairá a sanção na esfera patrimonial da pessoa física, como instituto de direito
civil. Em razão do princípio constitucional da incomunicabilidade ou
intransmissibilidade da pena impede a desconsideração da pessoa jurídica no âmbito
criminal. (Nucci)

APLICAÇÃO DA PENA NOS CRIMES AMBIENTAIS / PROCEDIMENTO


JUDICIAL

APLICAÇÃO DE PENA NO CP

140
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

1° calculo da quantidade da pena: critério trifásico do 68CP (pena base 59 CP; sobre
esta se aplicam agravantes e atenuantes, por fim sobre o resultado da última análise, o
juiz aplica as causas gerais e especiais de aumento ou diminuição de pena)

2ª fixa o regime inicial de cumprimento de pena (precisa fixar a pena para exarar o
sursis, pois em caso de descumprimento deste, cumprirá a pena)

3ª possibilidade de substituição da pena de prisão por restritiva de direitos, ou por multa.


Analisa também se é possível o sursis.

APLICAÇÃO DE PENA NA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS

1° calculo da quantidade da pena:


critério trifásico do 68CP pena base 59 CP; sobre esta aplica agravantes e atenuantes,
por fim sobre o resultado da última análise, o juiz aplica as causas gerais e especiais de
aumento ou diminuição de pena

1 A. pena base 59 CP; COMBINADO COM...


Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente
observará:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências
para a saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse
ambiental;(ANTECENDENTES AMBIENTAIS)
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

1 B. SOBRE ESTA APLICA AGRAVANTES E ATENUANTES,


Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; (mas se não tem potencial
consciência da ilicitute excludente de culpabilidade erro de proibição)
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou
limitação significativa da degradação ambiental causada; (Delmanto – mesmo que
areparação ocorra antes do recebimento da denuncia, não se aplica o arrependimento
posterior do art. 16 do cp, por se tratar de norma especial, aplica-se como atenuante)

IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle


ambiental.(Delmanto – delação premiada ambiental)

AGRAVANTES DE CRIMES AMBIENTAIS


Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam
o crime (todas elementares ou circunstanciais dos crimes ambientais, por isso pouco
aplicadas)
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; (reincidência específica, mas em
crime comum previsto no CP, haverá de se considerar a reincidência por já haver
cometido crime ambiental)

3 A. APLICA AS CAUSAS GERAIS E ESPECIAIS DE AUMENTO OU


DIMINUIÇÃO DE PENA) crime continuado, arrependimento posterior, tentativa

2ª FIXA O REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA

141
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Apenas se o condenado por pessoa física.

3ª POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA DE PRISÃO POR


RESTRITIVA DE DIREITOS, OU POR MULTA. ANALISA TAMBÉM SE É
POSSÍVEL O SURSIS.

Se for pessoa física.


Requisitos necessários para a substituição da pena de prisão por restritivas de direitos.
Art. 7º As penas restritivas de direitos são Art. 44.CP As penas restritivas de direitos
autônomas e substituem as privativas de são autônomas e substituem as privativas
liberdade quando: de liberdade, quando:
I - tratar-se de crime culposo ou (SE I – aplicada pena privativa de liberdade
DOLOSO) for aplicada a pena privativa não superior a 4 anos e o crime não for
de liberdade inferior a 4 anos;(NÃO HÁ cometido com violência ou grave ameaça
FALAR EM VIOLÊNCIA CONTRA à pessoa ou, qualquer que seja a pena
FAUNA OU FLORA) aplicada, se o crime for culposo;

II - a culpabilidade, os antecedentes, III – a culpabilidade, os antecedentes, a


a conduta social e a personalidade do conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias do crime indicarem que a circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente para efeitos de substituição seja suficiente.
reprovação e prevenção do crime.
permite a a substituição mesmo em caso II – o réu não for reincidente em crime
de reincidência doloso;

Art. 7° Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão
a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída.
MAS EIS A EXCEÇÃO A REGRA
Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado
contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros
benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de 5 anos, no caso de
crimes dolosos, e de 3 anos, no de crimes culposos.

DELMANTO: esses prazos do art. 10 não se aplicam, pois estão em contradição lógica
com o art. 7° parágrafo único que reza que a restritiva deve ter o mesmo prazo da
privativa que os prazos do art. 10 ferem o princípio da razoabilidade, já que a pena
restritiva será maior do que a pena privativa substituída. A substituição pressupõe um
benefício, porem deveria haver condenação como mesmo período temporal.

Recolhimento domiciliar não se confunde com a pena de limitação de fim-de-semana


Recolhimento domiciliar Limitação de fim de semana
Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia- Art. 48 - A limitação de fim de semana
se na autodisciplina e senso de consiste na obrigação de permanecer, aos
responsabilidade do condenado, que sábados e domingos, por 5 (cinco) horas
deverá, sem vigilância, trabalhar, diárias, em casa de albergado ou outro
freqüentar curso ou exercer atividade estabelecimento adequado.
autorizada, permanecendo recolhido nos Parágrafo único - Durante a
dias e horários de folga em residência ou permanência poderão ser ministrados ao
em qualquer local destinado a sua moradia condenado cursos e palestras ou atribuídas

142
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

habitual, conforme estabelecido na atividades educativas.


sentença condenatória.

CÁLCULO DA MULTA

LCM CP
Art. 18. A multa será calculada segundo Art. 60 -§ 1º - A multa pode ser
os critérios do Código Penal; se revelar-se aumentada até o triplo, se o juiz
ineficaz, ainda que aplicada no valor considerar que, em virtude da situação
máximo, poderá ser aumentada até três econômica do réu, é ineficaz, embora
vezes, tendo em vista o valor da aplicada no máximo.
vantagem econômica auferida.

Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se
ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes,
tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

NO CP Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da


quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e,
no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5
(cinco) vezes esse salário.
§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de
correção monetária.

AINDA NO CP
Critérios especiais da pena de multa
Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à
situação econômica do réu.
§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude
da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.
A diferença é que no art. 18 da lei em estudo, considera-se o valor da vantagem
econômica obtida com o crime. Mas já no art. 60 CP o juiz também poderá triplicar a
multa, mas levando em consideração a situação econômica do infrator.

Não sendo possível a substituição da pena de multa ou restritiva, aplica-se o sursis


(suspensão condicional da execução da pena). Aplicando-se as três espécies previstas no
CP. Haverá a possibilidade de se aplicar as 3 espécies de sursis: simples (art. 77),
especial (art. 78 p. 2) e o sursis etário e humanitário.

Sursis simples (suspensão condicional da execução da pena)


CP Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos,
poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 (pena restritiva
de direito) deste Código.
§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.

143
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá


ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos
de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

CP Art. 78§ 1º(SURSIS SIMPLES) - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado


prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana
(art. 48).

SURSIS ESPECIAL – porque o juiz pode substituir exigência do parágrafo anterior


Art. 78 – PREECHIDO TODOS OS REQUISITOS: § 2° Se o condenado houver
reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59
deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência
do parágrafo anterior pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente: (Redação
dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e
justificar suas atividades.

REPARAÇÃO DO DANO SE COMPROVA ATRAVÉS DE LAUDO DE


REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL. As condições a que o condenado ficara
submetido não serão as condições do art. 78 §2° letras a à c, mas sim condições
relativas ao meio ambiente

Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal


será feita mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as condições a serem
impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao meio ambiente..

Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser
aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três
anos. (NO ART. 77, A PREVISÃO É DE 2 ANOS)

CP Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível.

Ao autor de crime ambiental cabe sursis simples e especial em condenações até 3 anos
(diferentemente do CP que são até 2 anos). No caso de sursis especial a reparação do
dano deve ser comprovada por laudo de reparação do dano ambiental. E as condições
que o beneficiário de sursis terá de cumprir não são as mesmas do art. 78 parágrafo
segundo alíneas a à c, e sim condições relacionadas ao meio ambiente elencadas no art.
16 e 17 da LCM.

SURSIS ETÁRIO E HUMANITÁRIO

144
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 77 § 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 4 anos, poderá


ser suspensa, por 4 a 6 anos, desde que o condenado seja maior de 70 anos de idade, ou
razões de saúde justifiquem a suspensão. (por aplicação subsidiária) caso seja o agente
homem de 71 anos, não caberá a restritiva de direitos caso tenha sido condenado a mais
de 3 anos. (Pega: idoso é 60 ou mais)
Em suma, o juiz observa se poderá substituir a pena por restritiva de direitos, em
segundo plano multa e por fim observará ser cabível sursis.

APLICAÇÃO DE PENAS À PESSOA JURÍDICA

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativamente ou alternativamente às pessoas


jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:
As penas neste dispositivo são principais sem possuir o caráter da substitutividade. Não
existe nem no CP nem na presente lei, regras da substituição da multa por restritiva de
direitos ou vice-versa.

I - multa;(no CP é substitutiva ou cumulativa com a restritiva de liberdade sendo


aplicável o art. 18 da presente lei para o cálculo)
II - restritivas de direitos; (no CP é substitutiva, mas aqui são penalidades principais não
existindo o carater de substitutividade)
III - prestação de serviços à comunidade. (inútil, pois já é uma restritiva de direitos)

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:

I - suspensão parcial ou total de atividades;

Art. 22§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente.

II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

Art. 22 § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade


estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou
com violação de disposição legal ou regulamentar.

III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações.

Art. 22 § 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,


subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de 10 anos.

Pessoa física art. 10 Pessoa jurídica art. 22, III p. 3


Proibição de contratar com o Poder P. Proibido contratar como poder publico
Receber quaisquer incentivos Receber subsidio
Não poderá participar de licitações Subvenções doações

145
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Culposo 3 anos, doloso 10 anos 10 anos

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:
I - custeio de programas e de projetos ambientais;
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

PERÍCIA AMBIENTAL
Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental (materialidade delitiva), sempre
que possível, fixará o montante (valor) do prejuízo causado para efeitos de prestação de
fiança e cálculo de multa (multa penal).

“Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:


III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
e observa o prejuízo causado pelo crime.

PROVA EMPRESTADA

Art. 19. Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá
ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.
No inquérito civil não há falar em contraditório, pode ser emprestada a prova produzida
neste ao processo penal onde se abrirá o contraditório (contraditório posterior ou
diferido). Noutro plano, Delmanto discorda dessa propositura, pois se repetível, deve ser
feita no processo penal com a possibilidade de contraditório desprezando-se a prova do
inquérito civil sendo a não repetível aproveitada.
A perícia feita na ação civil pública pode ser aproveitada no processo penal, mesmo que
as partes de ambos os processos sejam distintas. Neste caso, abre-se o contraditório
diferido. Noutra corrente essa perícia feita na ação civil só pode ser emprestada para o
processo penal se as partes de ambos os processos (o civil onde foi produzida e a penal
para onde será dirigida) se as partes forem as mesmas, pois houve participação do
contraditório das partes na ação penal. (Delmanto)

SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA EM CRIME AMBIENTAL


(possibilidade do juiz fixar indenização civil na esfera penal)

Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo
(liquido, certo e exigível) para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.

Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá


efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para
apuração do dano efetivamente sofrido.

LIQUIDAÇÃO FORÇADA DA PESSOA JURÍDICA


Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de
permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua
liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal

146
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. (aplicável a pessoa jurídica que


tenha como finalidade principal a prática de crimes ambientais, tratando-se o presente
instituto de sanção e não de pena. eis a extinção da pessoa jurídica “pena de morte” da
pessoa jurídica LUIS REGIS PRADO) - Predomina o entendimento de que esta sanção
é constitucional, devendo ser aplicada como ultima ratio.
A liquidação forçada, só pode ser aplicada como efeito da condenação advinda da
sentença condenatória transitada em julgado. Noutro plano, segunda corrente determina
que a extinção da pessoa jurídica como pena acessória ou em ação civil própria proposta
pelo MP. (Vladimir e Gilberto Passos de Freitas)

CONFISCO DE INSTRUMENTOS DO CRIME


Lei dos crimes ambientais - Art. 25. § 4º CP Art. 91 - São efeitos da
Os instrumentos utilizados na prática da condenação: II - a perda em favor da
infração serão vendidos, garantida a sua União, ressalvado o direito do lesado ou
descaracterização por meio da reciclagem. de terceiro de boa-fé: a) dos
Confisco de instrumentos lícitos ou instrumentos do crime, desde que
ilícitos, pois não há distinção. Ex: barco consistam em coisas cujo fabrico,
utilizado para pesca à época do defeso alienação, uso, porte ou detenção constitua
(Capez). Mas deve-se aplicar o princípio fato ilícito;
da razoabilidade, pois serão confiscados Confisco de instrumentos ilícitos. Ex:
de usuais (moto-serra utilizada automóvel utilizado para o crime não pode
diariamente) ser apreendido.

QUESTÕES PROCESSUAIS

Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada.
(sendo cabível ação penal privada subsidiária da pública casa haja uma vítima
determinada, pois trata-se de direito individual com previsão constitucional)

COMPETÊNCIA NOS CRIMES AMBIENTAIS


STF – PREMISSAS
1ª A competência para a proteção do meio ambiente é comum da União, Estados, DF e
municípios, por previsão constitucional (art. 23 3 24 da CF).
2ª Não há nenhuma norma constitucional ou infraconstitucional estabelecendo
expressamente a competência criminal para o julgamento de infrações ambientais.
Em regra, competência da justiça estadual. Só será da justiça federal se houver interesse
direto e específico da União, autarquias ou fundação. Mas sendo o interesse da União
indireto e genérico, competência da justiça estadual.

COMPETENCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL NA CF


ART. 225 § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização
far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

Não há sinonímia entre patrimônio nacional e patrimônio da União.

CRIMES PRATICADOS EM ÁREAS FISCALIZADAS POR ORGAOS FEDERAIS:


A fiscalização pelo órgão federal (IBAMA), por si só, não é motivo para fixar a
competência da justiça federal. Ex: área de preservação permanente não cria interesse

147
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

da União (interesse indireto e genérico). Mesmo sendo APP (margem do rio) não fixa
competência da justiça federal.

CRIMES COMETIDOS EM RIO OU EM MAR TERRRITORIAL: Se rio municipal e


estadual, competência da justiça estadual. Mas sendo rio interestadual ou internacional,
justiça federal. (Art. 20, III CF)

CRIMES CONTRA A FAUNA: Os crimes contra a fauna, segundo a súmula 91 do STJ


(já cancelada), eram de competência da justiça federal. Agora os crimes contra a fauna
seguem a regra geral sendo COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

CONTRAVENÇÕES AMBIENTAIS: sempre julgadas pela justiça estadual mesmo que


atinjam interesse direto e específico da União. 109, IV CF. Somente em uma hipótese,
caso em que o contraventor tiver foro especial na justiça federal, assim “racione
personae” supera a “racione materiae”.

TRANSAÇÃO PENAL EM CRIMES AMBIENTAIS


Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação
imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia
composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de
comprovada impossibilidade.

Composição Civil Transação Penal


Composição civil dos danos entre o autor Transação penal entre o autor do fato e o
do fato e a vítima. (art. 74 lei 9.099/95) MP. Trata-se da aplicação imediata de
pena não privativa de liberdade. (art. 76
lei 9.099/95)

Na lei 9099 a composição civil de dano não é requisito para a transação penal, assim
mesmo que o autor do fato se recuse a composição, tem direito a transação. Noutro
plano, a lei dos crimes ambientais, a composição civil de danos é mais um requisito para
a transação penal. Assim o infrator poderá fazer um termo de conduta ambiental (TAC)
tem natureza de composição civil de dano como compromisso formal de reparar o dano.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (SURSIS PROCESSUAL ART. 89


9099/95)
Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995
(suspensão condicional d processo), aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo
definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
Houve erro do legislador ao elaborar lei, onde conta crimes de menor potencial ofensivo
definidos nesta lei leia-se crimes definidos nesta Lei
Cabe suspensão do processo para todos os crimes cuja a pena mínima seja inferior ou
igual a um ano. (Edis Milare, Antonio Escaranzi, Cezar Roberto Betencourt, Delmanto)
Na suspensão condicional do processo na lei ambiental o juiz só pode declarar extinção
da punibilidade perante laudo comprovando a reparação d dano ambiental pelo infrator,
ou então laudo comprovando que o infrator adotou todas as providências necessárias
para tentar reparar o dano.

148
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 28 condições...
I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no
caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a
impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo;
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação,
o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no
artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da
prescrição;
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do
§ 1° do artigo mencionado no caput;
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de
constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser
novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste
artigo, observado o disposto no inciso III;
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade
dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências
necessárias à reparação integral do dano.

PRICÍPIO DA INSIGNIFICANCIA EM CRIME AMBIENTAL

1ª CORRENTE: Não se aplica, pois toda lesão ao meio ambiente é significante tendo
em vista a repercussão como direito de terceira dimenssão. Qualquer conduta
desequilibra o meio ambiente diretamente ou indiretamente.

2ª CORRENTE (é a que prevalece): é possível nesse sentido STJ HC 72234 PE


05/11/2007 e 352003 SP. 01/08/2006.

PARTE ESPECIAL

CRIMES CONTRA A FAUNA (conjunto de animais que vivem numa determinada


região ou ambiente). Única não revogada 7.643/87 que trata apenas de 1 conduta: pesca
de cetáceos.

CAÇAR, MATAR, UTILIZAR SEM PERMISSÃO

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos
ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida (INAPLICÁVEL QUANDO SE TRATAR
DE PESCA)
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca. (pois há falar em tipos
penais específicos – 34 ao 36) – O ART. 29 PROTEGE A FAUNA AQUÁTICA
CONTRA QUALQUER CONDUTA EXCETUADA A PESCA)
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum) inclusive o proprietário do animal.
Sujeito passivo: o Estado e a coletividade
Tipo objetivo: Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar (a exemplo espetáculo circense)
Como o tipo penal declara “espécimes”, caso seja um espécime o objeto do crime, eis o
fato atípico (Doutrina). O presente artigo protege apenas os animais selvagens excluindo
os domesticados.

149
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Norma Penal Explicativa


Art. 29 - § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies
nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou
parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas
jurisdicionais brasileiras. (só tutela os animais silvestres nacionais aquáticos ou
terrestres. Estão fora do tipo penal em comento os domésticos, domesticados e
estrangeiros ou exóticos)

Elemento normativo do tipo: sem a devida permissão, licença ou autorização da


autoridade competente, ou em desacordo com a obtida.
Nos verbos perseguir, caçar: crime formal de consumação antecipada.
É possível a tentativa em todas as condutas. Elemento subjetivo: dolo.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:

I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local
da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em
massa.

§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça


profissional. (caça com o objetivo de lucro: coureiros do Pantanal)

POSSIBILIDADE DE PERDÃO JUDICIAL


§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de
extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Guarda doméstica – se o animal não estiver ameaçado de extinção é crime, mas o juiz
poderá conceder o perdão judicial art. 29 § 3°. Mas se estiver ameaçado de extinção
com a pena aumentada à metade não sendo cabível o perdão judicial art. 29 §4° I.

CRIME DE MAUS TRATOS CONTRA ANIMAIS


Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: (ABRANGE TODOS OS ANIMAIS
INCLUSIVE OS DE OUTROS PAÍSES)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Ato de abuso: carga insuportável no lombo do burro, abuso de animal em circo, jogou o
gato do 10° andar tribunal de alçada.
Sujeito passivo: Estado, coletividade e eventual dono do animal.
Rinhas, farra do boi configuram o crime do art. 32.

150
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

A legalização de rinha fere o art. 225 §1° CF VII


art. 225 §1° CF VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade. (O STF, em Adi contra leis estaduais que permitem
rinhas de galo e farra do boi, as considerou inconstitucionais)

Lei dos rodeios tem exigências para a dignidade do animal 10.519/02 assim não há
crime por exercício regular do direito. Mas em desobediências às exigências legais,
aplica-se o art.32. Há juizes que declaram incidentalmente a inconstitucionalidade da lei
de rodeio, pois o evento sempre causa maus tratos aos animais.

Corte de rabo e de orelha de cachorro não configura crime sob o tipo objetivo mutilar
quando feito para fins estéticos cometido por profissional (veterinário), não há falar em
crime pois não há dolo em maltratar o animal, pois não há o elemento subjetivo
específico (Nucci).

Art. 32 § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos
alternativos. (VIVISECÇÃO – EXPERIENCIA DOLOROSA COM ANIMAL VIVO
11.794/08)

Art. 32 § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.


No tipo em questão (maus tratos) não existe o verbo matar, mas no 29 não protege
animal domestico, assim se matar animal doméstico é crime do art. 32 pois antes de
matar há que se ferir o animal.

CRIMES DE PESCA

O período de defeso depende da região definido por órgão competente devidamente


registrado no SISNAMA. STJ: Caso seja interditado por órgão incompetente o fato é
atípico, por não ser registrado ao SISNAMA. Cemig MG.

Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por
órgão competente:
Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos
permitidos;(NORMA PENAL EM BRANCO INDIRETA)
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos,
petrechos, técnicas e métodos não permitidos;
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da
coleta, apanha e pesca proibidas.

Art. 35. Pescar mediante a utilização de:


I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante;
II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:
Pena - reclusão de um ano a cinco anos.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair,
coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos,
moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico,
ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e
da flora. (crime formal) Mesmo que arme a rede em área proibida ou época proibida e
retire a rede sem nada pescar, cometeu o crime.

CRIMES CONTRA A FLORA

Flora: é a totalidade das espécies vegetais que compreendem a vegetação de uma


determinada região, sem qualquer expressão de importância individual. Compreende
também as algas e os fitoplânctons marinhos flutuantes. (Edis Milaré)

Antes do surgimento da lei dos crimes ambientais (9.605/97), durante a vigência da lei
4771/95, todas as alíneas do art. 26 eram meras contravenções penais. Porém, com o
advento da lei (9.605/97), apenas as alíneas c, j, l e m ainda constituem contravenções
penais. As demais foram tipificadas como crime.

CRIME DE DESTRUIÇÃO DE FLORESTA

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo


que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Elemento subjetivo: dolo ou culpa


Revogou art. 36 alínea “a” do código florestal.
Sujeito ativo: qualquer pessoa inclusive o proprietário.
Suj. passivo: coletividade e, eventualmente, o proprietário da área atingida.
Haverá o crime mesmo sem finalidade lucrativa na conduta.
STJ – floresta: o elemento central é o fato de ser constituída de árvores de grande porte.
Dessa forma, não abarca vegetação média ou rasteira. Área densa de grande extensão
coberta de árvores de grande porte. STJ Resp 783652. Floresta de preservação
permanente é uma espécie de APP.
O art. 38 da lei 9.605 revogou tacitamente a alínea e do art. 26 do código florestal.

APP art. 2 (por determinação legal) e 3 (ato do poder público) da lei 4771/65. Eis uma
norma penal em branco quando se falar em floresta de preservação permanente.

Poderá haver destruição sem que o fato constitua crime segundo o código florestal
havendo prévia autorização do poder executivo e sendo a destruição necessária para a

152
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

execução de obras, planos ou projetos de utilidade pública ou interesse social art. 4


parágrafos 1 a 7 do código florestal.

Florestas situadas em área indígena são sempre de preservação permanente (art. 3 parag.
2 do código florestal).

Floresta em formação serão protegidas se comprovado por perícia para a proteção de


vida. Florestas artificiais (florestamento ou reflorestamento) são cobertas pela proteção
legal.

DIFERENÇAS EM RELAÇÃO AOS OUTROS CRIMES

Se houver incêndio em área de preservação permanente não se aplica o art. 38 devido o


princípio da especialidade no tocante ao tipo previsto no art. 41..

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:

Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e


multa.

Mas fazer fogo em floresta constitui contravenção ambiental prevista no código


ambiental (Art. 26 “e” da lei 4.771/65). Mas se houver alastro, passa a ser crime de
incêndio culposo do art. 41 em seu parágrafo único da lei 9.605/98.

Há falar em conflito de normas no em relação ao art. 41 no que tange as condutas. Mas


eis a diferença: se o incêndio causar perigo a incolumidade pública, aplica-se o CP; mas
se não causar perigo a incolumidade pública, aplica-se a lei especial (art. 41 lei dos
crims ambientais) Cezar Roberto Beetencourt e Capez (corrente majoritária).

Nucci crê na revogação tácita da tipificação “mata ou floresta” no CP (minoritária).

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou CP Art. 250 - Causar incêndio, expondo a
floresta: perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem:

Pena - reclusão, de três a seis anos, e


Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
multa.
Aumento de pena

§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:


Parágrafo único. Se o crime é culposo, a
pena é de detenção de seis meses a um II - se o incêndio é:
ano, e multa.
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

O tipo penal do 41 protege qualquer tipo de floresta, inclusive as que não estão em área
de preservação permanente abrangendo matas.

153
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Matas (definição doutrinária): são extensões de terras onde se agrupam arvores, nativas
ou plantadas, que não sejam de grande porte.

As florestas nacionais são unidades de conservação de uso sustentável. Neste caso


aplica-se o art. 40. Neste caso o objeto do crime é específico.

Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que
trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua
localização:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.


§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações
Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e
os Refúgios de Vida Silvestre. (Redação dada pela Lei nº 9.985, de 18.7.2000)

§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das


Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante
para a fixação da pena. (Redação dada pela Lei nº 9.985, de 18.7.2000)

§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Art. 40-A. (VETADO) (Artigo inluído pela Lei nº 9.985, de 18.7.2000)

Art. 40-A. § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas


de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas
Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de
Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. (este
dispositivo se aplica ao art. 40)

DO CORTE DESAUTORIZADO

O art. 38 pune destruir e danificar, porém a diferença entre os tipos se encontra no verbo
“cortar”.

Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem


permissão da autoridade competente:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

CRIME DE FABRICO OU SOLTURA DE BALÕES

Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios
nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de
assentamento humano:

Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

154
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Trata-se de crime (de perigo) ambiental restando definitivamente revogado o tipo na lei
de contravenções. Imprescindível exame pericial segundo alguns doutrinadores no
tocante a real condição de incêndio. Há falar em absorção se o balão causa incêndio em
floresta (art. 41).

CRIME DE EXTRAÇÃO DE MINERAIS DE APPs

Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação


permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Competência: prevalece o entendimento de ser da Justiça federal, tendo em vista ser


patrimônio da União os minérios. Estando e propriedade particular passa ao
entendimento minoritário de ser competente a justiça estadual. Pois se a lesão é indireta
mediata ou reflexa à Justiça Federal. Mas sendo a extração mineral fora da área
tipificada, aplica-se:

EXTRAÇÃO ILEGAL DE MINÉRIOS

Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente
autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida (extração
diversa daquela permitida):

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada
ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação
do órgão competente.

Pesquisa mineral: é a execução dos trabalhos necessários à definição da jazida, sua


avaliação e a determinação da exeqüibilidade do seu aproveitamento econômico.

Lavra: conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveitamento industrial da


jazida, desde a extração até o beneficiamento das mesmas.

Extração: retirada do mineral. Decreto-lei 227/67 (código de mineração)

STJ: A extração ilegal de minerais caracteriza concurso formal do crime do art. 55 com
o crime de usurpação (crime contra o patrimônio da União) art. 2 caput da lei 8176/91.
Não há falar em absorção, pois são diversos os objetos jurídicos dos tipos em voga.
Noutro plano a doutrina entende que o art. 2 caput está tacitamente revogado pelo art.
55 da lei dos crimes ambientais. Precedente jurisprudencial Resp 922588 BA (Laurita
Vaz). Portanto trata-se de crime ambiental em concurso formal com o crime contra a
ordem econômica 8176/91 (PROVA). COMPETÊNCIA: dentro de área particular ou
não, COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL no caso de concurso de crimes.

155
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

ABUSO DE AUTORIDADE LEI Nº 4.898/65

TRÍPLICE RESPONSABILIZAÇÃO

Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil


e penal (tríplice responsabilização), contra as autoridades que, no exercício de suas
funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

A lei de abuso de autoridade abrange as três esferas de responsabilidades.


Essencialmente criminal, mas não puramente criminal.

Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

Art. 6º § 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas estabelecidas nas leis


municipais, estaduais ou federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo
processo.

Não havendo lei no que tange o servidor público estadual ou municipal, aplica-se a o
Estatuto dos Servidores Civis da União (8.112/90). Sendo membro do MP ou da
Magistratura, somente após transito em julgado em processo judicial (vitaliciedade),
perderá o cargo.

RESPONSABILIDADE CIVIL

Art. 6º § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no
pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.(É SEMPRE
POSSÍVEL A FIXAÇÃO DO DANO CIVIL)

NO CPP Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: (Vide Lei nº 11.719, de
2008)

IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando
os prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

ASPECTOS PENAIS

SUJEITO ATIVO: Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem
exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que
transitoriamente e sem remuneração (jurado, mesário).

O crime de abuso de autoridade é um crime próprio (exige uma condição especial do


sujeito ativo), pois que seja o sujeito ativo autoridade pública (Similar ao 327 caput CP.

156
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Crime próprio funcional). Alguns autores se referem ao abuso de autoridade como


sendo crimes de responsabilidade impróprios (crimes funcionais – abuso de autoridade).
Crimes de responsabilidade próprios são as infrações político-administrativas (lei 1079).

Estão inseridas no conceito de autoridade as pessoas que ainda que transitoriamente e


sem remuneração exerçam função pública (jurados, mesários). As pessoas que exercem
o “munus” público não entram no conceito de autoridade. (Encargo imposto pela lei o
pelo juiz para defesa de um interesse particular ou social. Ex: depositário judicial,
administrador de falência, advogado, tutores e curadores dativos). Um particular que
não exerça nenhuma função pública pode cometer abuso de autoridade em concurso
com o agente público caso saiba de sua qualidade. Trata-se de uma elementar do tipo
penal que se comunica (art. 30 CP). Ex: Pipoqueiro ajuda a um policial na agressão de
um torcedor.

SUJEITO PASSIVO: dupla subjetividade passiva, pois há falar de dois sujeitos


passivos: 1) Imediato ou principal: pessoa física ou jurídica que sofre a conduta abusiva.
Qualquer pessoa física, capaz ou incapaz, nacional ou estrangeiro. No caso de criança
ou adolescente, há configurar o ECA. Autoridade pública, pessoas jurídicas de direito
público ou privado. 2) Mediato ou secundário: o Estado. Todo ato de abuso de
autoridade prejudica a regular prestação dos serviços públicos.

OBJETIVIDADE JURÍDICA: há falar em dupla objetividade jurídica no que tange os


crimes de abuso de autoridade. 1) objetividade jurídica imediata ou principal: direitos e
garantias individuais e coletivos das pessoas físicas e jurídicas. 2) objetividade jurídica
mediata ou secundária: a normal e regular prestação dos serviços públicos.

ELEMENTO SUBJETIVO: Dolo. Não há forma culposa no abuso de autoridade. Se


abusa culposamente, não há crime, sendo passível de infração administrativa. Assim
soma-se o dolo ao elemento subjetivo do injusto (antigo dolo específico) vontade
deliberada e inequívoca de abusar. Caso o agente, na honesta intenção de cumprir seu
dever e proteger o interesse público e social, acaba se excedendo, haverá ilegalidade do
ato de abuso de autoridade, mas não crime de abuso de autoridade por ausência da
finalidade específica de abusar.

FORMAS DE CONDUTA: Crimes de abuso de autoridade podem ser praticados


comissivamente ou omissivamente. Em regra o abuso é cometido por uma ação. Os
crimes do art. 4, letras c, d, g, i, só podem ser cometidos por omissão, pois assim está a
conduta descrita no tipo (crimes omissivos puros ou próprios que não admitem a
tentativa).

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: não existe tentativa de crime omissivo ou próprio.


crimes tipificados do art. 4 não admitem a tentativa. Os crimes do art. 3 indicam que o
simples atentado já indica a consumação (crimes de atentado) não admitindo tentativa.
Por exclusão, os demais admitem a tentativa.

CONSUMAÇÃO: ocorre com a simples pratica da conduta prevista no tipo.


AÇÃO PENAL

Trata-se ação penal pública incondicionada o crime de abuso de autoridade prevista na


Lei 5249/67 não se trata de previsão doutrinária e sim de previsão legal.

157
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou


justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação* da
vítima do abuso. (*não está no sentido de ser condição de procedibilidade e sim o
direito de petição contra abuso de poder art. 5, XXXIV CF/88 direito de petição, pois
haveria a falsa impressão de ser o crime de ação penal pública condicionada a
representação)

COMPETÊNCIA

Regra: competência da justiça comum estadual, salvo se o crime atingir direitos, bens,
interesses ou serviços da União, competência da justiça federal. Por se tratar de crime de
menor potencial ofensivo, JECRIM estadual ou federal. Caso haja conexão com crime
que não seja de menor potencial ofensivo é atraído o juízo comum. Cita-se a pena
máxima: 6 meses. Se um crime de menor potencial ofensivo for cometido com outro
crime que não seja, será a competência atraída pelo juízo comum (LEI 9.099/95 Art.
60). Mesmo no juízo comum será possível o juiz realizar a proposta de transação e a
composição dos danos civis.

ABUSO DE AUTORIDADE PRATICADO POR MILITAR

STJ SÚMULA: 172 - COMPETE A JUSTIÇA COMUM (JECRIM) PROCESSAR E


JULGAR MILITAR POR CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE, AINDA QUE
PRATICADO EM SERVIÇO.

Mas será da justiça militar se autor e vítima forem militares (doutrina) mesmo o crime
não sendo militar próprio ou impróprio.

ABUSO DE AUTORIDADE PRATICADO POR SERVIDOR PÚBLICO FERDERAL

Nucci: Justiça comum Estadual (isolado). Mas prevalece a competência da Justiça


Federal, pois prejudicada é a União. Nesse sentido STJ Conflito de competência 20779
de 16/12/98. Sendo o servidor público federal, competência da justiça federal (STJ CC
89397 28/03/2008).

CONCURSO DE CRIMES

STF reconheceu a possibilidade de concurso de crimes entre lesão corporal e abuso e


entre violação de domicílio e abuso (HC 92912). Mas separaram-se os processos:
violação de domicilio e lesão corporal para a justiça militar por serem crimes previstos

158
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

no código penal castrense; abuso de autoridade para a justiça comum - JECRIM (STJ
HC 81752). Difamação e injúria em concurso crime de abuso de autoridade. Resp
684532. Assim é possível a autoridade responder por crime de abuso de autoridade
contra a honra em concurso com crime contra a honra previsto no CP.

APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE TIPICO DELITIVA

Exercício arbitrário ou abuso de poder

CAPUT REVOGADO - Art. 350 CP - Ordenar ou executar medida privativa de


liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder:

Pena - detenção, de um mês a um ano.

Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que:

REVOGADO Art. 350 CP I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a


estabelecimento destinado a execução de pena privativa de liberdade ou de medida de
segurança;

REVOGADO Art. 350 CP II - prolonga a execução de pena ou de medida de segurança,


deixando de expedir em tempo oportuno ou de executar imediatamente a ordem de
liberdade;

REVOGADO Art. 350 CP III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a
vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;

NÃO FOI REVOGADO (STJ) Art. 350 CP IV - efetua, com abuso de poder, qualquer
diligência. HC 65499 STJ 2009 e HC48083/MG. no mesmo sentido STF RE 73914 SP
e HC 63612 GO.

TIPOS PENAIS (art. 3 e 4)

Parte da doutrina determina que são inconstitucionais os crimes do art. 3° por violarem
o princípio da taxatividade (tipo penal vago, genérico e impreciso). Mas STF e STJ
zelam pela constitucionalidade. Se a conduta se enquadrar simultaneamente (conflito
aparente) no art. 3° e 4°, prevalece o 4° por ser taxativo. Portanto os crimes do art. 3°
são subsidiários.

ANÁLISE DOS CRIMES DO ART. 3

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;

só pode ser violada na forma do art. 5 XV CF - é livre a locomoção no território


nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,

159
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

permanecer ou dele sair com seus bens; (mesmo se ordenar para se locomover) policial
que emite ordem infundada para que o indivíduo que diz “circulando caralho”.

Os atos decorrentes do poder de polícia estatal, como são auto-executáveis (não


dependem de ordem judicial) não configuram abuso de autoridade se justificados. EX:
Bloqueio de caráter preventivo ou repressivo.

Ébrios e doentes mentais podem ser retirados de determinados locais e retidos em


órgãos públicos, ou encaminhados para as suas casas, desde que estejam perturbando a
ordem publica ou colocando em perigo a segurança própria ou alheia.

Prisão para averiguação é sempre abuso de autoridade. Neste caso não significa
detenção momentânea, há exemplo da condução até a delegacia para verificar
autenticidade de documento ou se a pessoa é procurada. Documento falso é flagrante.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

b) à inviolabilidade do domicílio;

CF art. 5 XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar


sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Domicílio: Qualquer lugar não aberto ao público que seja utilizado para trabalho ou
para moradia ainda que momentâneo. Quarto do hotel, escritório do contador.

Os agentes da administração fazendária, conforme entendimento atual do STF e do STJ,


necessitam de ordem judicial para ingressarem em escritórios fechados de contabilidade
ou de empresas (são domicílios). A falta de mandado gera a ilicitude da prova, podendo
ensejar abuso de autoridade se o ato foi praticado com a finalidade abusiva. STF e STJ
anulam duas operações conjuntas, PF e RF; MPF e RF. O art. 156 do CTN não foi
recepcionado pela CF/88.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

c) ao sigilo da correspondência;

CF art. 5 XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,


de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal;

Correspondências abertas perdem o caráter da sigilosidade.

160
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

PREVISÃO NO CP

Violação de correspondência no CP

Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada,


dirigida a outrem:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Sonegação ou destruição de correspondência

§ 1º - Na mesma pena incorre:

I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada


e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói; (se praticado por autoridade, este não se
aplica tendo em vista o princípio da especialidade sendo aplicado o crime de abuso de
autoridade)

EXCEÇÕES AO SIGILO DE CORRESPONDÊNCIA

1) durante o estado de defesa e o estado de sítio.

2) crime organizado. Art. 2 , III da lei do crime organizado diz que o policial tem acesso
desde que autorizado judicialmente.

3) correspondência de preso. Art. 41 xv da LEP desde que justificada. HC 70814 Celso


de Melo. Caráter de excepcionalidade.

CORRESPONDÊNCA DE ADVOGADO: ART. 7 II Estatuto da OAB. Mediante


ordem judicial e na presença de representante da OAB. Mas a Adi 1105-DF e 1127-DF
questiona a presença de representante. Determinou o Supremo que se a OAB não
determinar o representante após comunicada, não haverá óbice.

CHATS: conversas obtidas em salas de bate-papo não estão preservadas pelos sigilos
das comunicações, pois se trata de ambiente público de destinada a conversas informais.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

d) à liberdade de consciência e de crença;

e) ao livre exercício do culto religioso;

(Assim como a CF art. 5 VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias;)

Coibir injustificadamente as manifestações pacíficas e ordeiras sobre a liberdade de


consciência de crença. Não há falar em abuso de autoridade se a autoridade tiver justo

161
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

motivo pra coibir a manifestação. Sacrifício de animais em culto é crime contra a fauna.
Excesso injustificado de som autoridade poderá ordenar baixar o som sem a interrupção
do culto, pois tal abuso de direito incorre em contravenção penal.

Lei 11.343 Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como
o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam
ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou
regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas,
sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente
ritualístico-religioso.

Há exemplo: os seguidores do Santo Daime não incorrem em crime previsto na lei de


drogas, tendo em vista a natureza ritual religiosa em razão de ser o Brasil signatário da
Convenção de Viena.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

f) à liberdade de associação;

CF ART. 5 XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de


caráter paramilitar;

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;

Configurar-se-á conjuntamente o crime abuso de autoridade em concurso. 4737/65

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

h) ao direito de reunião;

art. 5 CF XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente;

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

i) à incolumidade física do indivíduo;

Dá-se abuso de autoridade ocorrendo desde vias de fato, bem como um homicídio. Em
se tratando da incolumidade psíquica, também configura abuso de autoridade não se

162
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

tratando de analogia “in malam partem” nem interpretação extensiva em desfavor do


réu, pois há falar em incolumidade do indivíduo como um todo. STJ: Caso a vítima
sofra lesões (leves, graves ou gravíssimas) haverá concurso formal de crimes, bem
como se houver homicídio. O simples fato de colocar em perigo. Numa corrente
minoritária, há a defesa de bens jurídicos distintos classificando como crime material.
Por fim, não há falar em absorção de homicídio em concurso crime de abuso de
autoridade. Nucci (minoritário): lesão leve é absorvida pelo abuso.

SE HOUVER TORTURA, HÁ FALAR EM ABSORÇÃO, POIS ESTE


ABSORVE O CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE. NOS DEMAIS CRIMES,
OCORRE CONCURSO FORMAL!!

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

Trata-se de norma penal em branco. Violação dos direitos do advogado art. 7, lei
8906/94. (Estatuto da OAB)
Ex: direito do advogado a consultar de IP.

SÚMULA VINCULANTE Nº 14:É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO


REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE,
JÁ DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO
POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM
RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA.

Juiz que se recusa a falar com advogado durante o horário do expediente forense e pode
caracterizar abuso de autoridade (STJ RMS 18296 SC).

ANÁLISE DO ART. 4

Vale lembrar que os crimes do art. 3 são subsidiários em relação aos crimes do art. 4.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as


formalidades legais ou com abuso de poder;

Revogou tacitamente o art. 350 caput CP. Prisão em flagrante ou com ordem judicial.
Sem as formalidades legais quando se tratar de prisão em flagrante sem a lavratura do
auto de prisão em flagrante. Com abuso de poder, há exemplo: seria cumprir mandado
de prisão algemando desnecessariamente.

SÚMULA VINCULANTE Nº 11: SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASO


DE RESISTÊNCIA E DE FUNDADO RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À

163
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

INTEGRIDADE FÍSICA PRÓPRIA OU ALHEIA, POR PARTE DO PRESO OU DE


TERCEIROS, JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE POR ESCRITO, SOB
PENA DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR CIVIL E PENAL DO AGENTE
OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO
PROCESSUAL A QUE SE REFERE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE
CIVIL DO ESTADO.

Atenção: se a vítima for criança ou adolescente apreendida ilegalmente, responde o


agente pelo crime previsto no ECA e não pelo crime de abuso de autoridade:

ECA Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua
apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da
autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a


constrangimento não autorizado em lei;

Não se refere somente a pessoa presa, e sim a quem estiver cumprindo medida de
segurança. Ex: impedir o preso, sem justa causa, de receber visitas. Submeter o preso a
trabalho inadequado ou vexatório. Expor a imagem da pessoa presa à impressa. Vexame
e constrangimento legal, não há falar em crime, pois deve haver justo motivo (LEP art.
41). Caso a conduta for praticada contra adolescente responde o agente unicamente pelo
crime do ECA.

ECA Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a vexame ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Sem for pessoa com 18 anos ou mais, é crime de abuso de autoridade, mas sendo menor
de 18 anos é crime do ECA. Caso deixe de soltar o preso preventivo (prisão preventiva)
mediante ordem judicial. Mas se caso haja extensão de tempo de prisão temporária, será
o crime do inciso i.

Vejamos a Lep:

Art. 41 - Constituem direitos do preso:

V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a


recreação;

X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

164
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura


e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

Lep art. 41 Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão


ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do
estabelecimento.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou


detenção de qualquer pessoa;

CF art. 5 LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão


comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;

Mas o crime só se configura se deixar de avisar ao juiz, e caso não avise a família
(previsão constitucional), não há falar em crime de abuso de autoridade, pois não está
prevista no tipo penal. Caso o delegado federal realiza prisão em flagrante,
propositadamente, comunica ao juiz estadual (incompetente) da prisão em flagrante por
de crime de tráfico transnacional de drogas, responderá por crime de abuso de
autoridade. Não há falar em crime culposo de abuso de autoridade. A lei refere-se a
comunicação imediata, mas caso haja flagrante sem que o juiz esteja disponível, deve
ser efetuada a comunicação no primeiro momento possível. Caso seja a vítima criança
ou adolescente, eis o crime no ECA:

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou


adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: (ECA JÁ DE ACORDO COM A
CF)

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe


seja comunicada;

CF ART. 5 LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade


judiciária;

Mas se contra menor de 18 anos, responderá pelo ECA:

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata
liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida
em lei; Delegado só pode arbitrar fiança em crimes punidos com detenção.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,


emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei,
quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; (colocar o preso numa cela melhor:
concussão se for uma exigência ou corrupção passiva se for uma solicitação)

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância


recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando


praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; Ex: interdição da
vigilância sanitária por falta de higiene causa ato lesivo à honra do restaurante dentro da
legalidade. Lembrete: Difamação e injúria em concurso crime de abuso de autoridade.
Resp 684532. Assim é possível a autoridade responder por crime de abuso de autoridade
contra a honra em concurso com crime contra a honra previsto no CP.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

i) prolongar a execução de prisão temporária (5+5 NOS CRIMES COMUNS E 30


+30 NOS HEDIONDOS E ASSEMELHADOS), de pena ou de medida de segurança,
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de
liberdade.

Mas caso haja o prolongamento de prisão preventiva será aplicada a letra “b”.
Caso seja contra menor, aplica-se o ECA:
ECA Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de
adolescente privado de liberdade:

PRESCRIÇÃO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Os crimes de abuso de autoridade são de menor potencial ofensivo e prescrevem em


dois anos.

Art. 6 § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do
Código Penal e consistirá em:

a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

b) detenção por dez dias a seis meses;

c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública


por prazo até três anos.

A perda do cargo não é automática, devendo ser motivada, diferentemente da lei


de tortura onde a perda do cargo é efeito automático da condenação e fica
impedido de exercer nova função pública pelo dobro do prazo da condenação.

§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou


cumulativamente. Poderá aplicar uma ou todas as penas.

§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de
qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o
acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por
prazo de um a cinco anos.

CONTAVENÇÕES PENAIS DECRETO-LEI Nº 3.688/41

No Brasil há duas espécies de infrações penais (gênero) que se subdivide em crime e


contravenção. Ontologicamente, não há diferença entre crime e contravenção (delito
vagabundo).

Crime Contravenção (delito liliputiano)


Reclusão e/ou multa ou detenção e/ou Multa ou prisão simples e/ou multa
multa. 14
Tentativa é punível Tentativa impunível, pois não há interesse
político.
Ação penal pública incondicionada, Ação penal pública incondicionada,
condicionada ou privada. cabendo ação penal privada subsidiária da
pública. Art. 5 CF
Extraterritorialidade Não há extraterritorialidade
Tempo máximo de cumprimento 30 anos Prazo máximo 5 anos
Não se aplica erro de direito Aplica-se o erro de direito sendo hipótese
de perdão judicial.

CONTRAVENÇÕES EM OUTROS DISPOSITIVOS:

Contravenções ambientais: art. 26 letras e, j, l, m do código florestal 4771/65


Contravenções referentes a loterias: dec. 6259/44 revogou os art. 51 a 58 da lei das
contravenções penais.
Contravenção de retenção ilegal de documentos 5553/68.

167
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Contravenções contra a economia popular: art. 66, I a III da lei 4591/64.


Lei de locação art. 43 da lei 8245/91
Para Tourinho, se punido só com multa o crime eleitoral não se trata de crime e sim de
contravenção.
Lei 7437/85 continua em vigor no que tange preconceito de sexo e estado civil (Nucci),
mas sobre preconceito de raça e cor, não mais esta é aplicada pois é crime sob a lei
7.716/89.
Prevalece o entendimento, independentemente da pena máxima cominada, as
contravenções penais são infrações de menor potencial ofensivo, mesmo que tenham
procedimento especial. Portanto a competência é do JECRIM sendo o procedimento
sumaríssimo. JECRIM federal não julga contravenções penais por determinação
constitucional mesmo que atinja interesses da União. Mas se o contraventor tem foro
especial diante a Justiça Federal, o critério por prerrogativa de função prevalece sobre a
competência em razão da matéria.

CONTRAVENÇÃO EM VIOLÊNCIA DOMESTICA CONTRA A MULHER:


adoutrina determina a competência dos Jecrims pois em seu art. 41 resta determinada a
sua inaplicabilidade aos crimes subentedendo quanto à sua aplicabilidade às
contravenções, mas a jurisprudência diz que não se aplica a lei 9099/95 nem às
contravenções penal praticada em violência domestica contra mulher (é o que
prevalece).

CONTRAVENÇÃO E ATO INFRACIONAL

ECA Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal.

CONTRAVENÇÃO INFRAÇÃO PENAL DE PERIGO ABSTRATO

Corrente minoritária considera que as infrações de perigo abstrato violam os princípios


da lesividade e da ofensividade (Cezar Roberto Beetenourt, Luis Regis Prado). Porém o
STF considera constitucional. Sepúlveda: o principio da ofensividade não é uma
proibição absoluta para o legislador impedir os crimes de perigo abstrato e sim o intento
de evitar abuso do legislador. RHC 81057. O tipo penal de perigo abstrato não é abusivo
quando regras concretas de experiência demonstrem que a conduta é perigosa (lesiva).
O tipo penal será abusivo (inconstitucional) quando tipificar o comportamento que é
comprovadamente não perigoso.

EXTRADIÇÃO DE ESTRANGEIRO POR CONTRAVENÇÃO PRATICADA NO


BRASIL: é pacifico no STF que o não pode ser extraditado em razão de contravenção
praticada no Brasil. Art. 77, II do estatuto do estrangeiro (6815) só permite a extradição
de estrangeiro pela prática de crime.

CONTRAVENÇÕES TÍPICAS (PRÓPRIAS) E ATÍPICAS (IMPRÓPRIAS)

Típicas: só exigem conduta voluntária não necessitando de dolo ou culpa. Art. 3°


primeira parte. A doutrina nos diz que o art. 3° não mais é aplicável pois tal dispositivo

168
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

determina que haverá contravenção independentemente de dolo ou culpa o que é um


verdadeiro absurdo. Atípicas: exigem dolo ou culpa Art. 3° segunda parte.

PENAS NAS CONTRAVENÇÕES

Art. 5º As penas principais são: (cumuláveis ou não) I – prisão simples. II – multa.

REGRAS SOBRE A PRISÃO

Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em
estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto
ou aberto (casa do albergado ou colônia penal agrícola). (JAMAIS EM REGIME
FECHADO NEM POR REGRESSÃO).

§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena
de reclusão ou de detenção.

§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede a quinze dias.

REINCIDÊNCIA EM CONTAVENÇÃO

Para apurar a reincidência, deve-se combinar o art. 7 LCP e art. 63 CP.

Condenação definitiva Nova prática Reincidência


Contravenção no Brasil Contravenção no Brasil Sim
Crime No Brasil ou no Contravenção no Brasil Sim
estrangeiro
Contravenção no estrangeiro Contravenção ou crime no Brasil Não
Contravenção no Brasil Crime no Brasil Não

ERRO DE DIREITO E PERDÃO JUDICIAL

Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusaveis, a


pena pode deixar de ser aplicada (perdão judicial).

Ignorância da lei: incide sobre a existência da lei. Caso seja escusável, o juiz aplica o
perdão judicial no art. 8 da LCP. Sendo erro de direito propriamente dito.

Errada compreensão da lei: trata-se de erro de proibição, quando escusável, o juiz aplica
o art. 21 do CP que isenta de pena sendo melhor que o perdão judicial.

CONVERSÃO REVOGADA

169
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 9º A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe o Código
Penal sobre a conversão de multa em detenção. o CP não prevê essa conversão
(tacitamente revogado pelo cp sendo que a multa não paga se torna dívida inscrita na
fazenda pública)

Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a
cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.
STF SÚMULA Nº 715 A PENA UNIFICADA PARA ATENDER AO LIMITE DE
TRINTA ANOS DE CUMPRIMENTO, DETERMINADO PELO ART. 75 DO
CÓDIGO PENAL, NÃO É CONSIDERADA PARA A CONCESSÃO DE OUTROS
BENEFÍCIOS, COMO O LIVRAMENTO CONDICIONAL OU REGIME MAIS
FAVORÁVEL DE EXECUÇÃO.
Os prazos dos benefícios são calculados sobre a condenação.

Caso o réu tenha sido condenado a 15 anos de prisão simples por cometimento de
contravenção lotérica, considera-se o prazo máximo da sentença para a concessão de
benefícios.

SURSIS E LIVRAMENTO CONDICIONAL NAS CONTRAVENÇÕES

Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender por tempo não
inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples, bem
como conceder livramento condicional.
Período de prova

Sursis contravenção crime

Simples e especial De 1 a 3 anos 2 a 4 anos

Etário e humanitário De 1 a 3 anos 4 a 6 anos

REVOGAÇÃO DE PENAS ACESSÓRIAS

Art. 12. As penas acessórias são a publicação da sentença e as seguintes interdições de


direitos: (tacitamente revogado pois as penas acessórias foram abolidas pela reforma do
CP, mas Nucci considera como efeitos da condenação)

I – a incapacidade temporária para profissão ou atividade, cujo exercício dependa


de habilitação especial, licença ou autorização do poder público;

lI – a suspensão dos direitos políticos.

A susensão dos direitos políticos ocorre não por força do dispositivo supra e sim pela
força normativa da CF. A condenação penal, seja por crime ou por contravenção,

170
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

suspende os direitos políticos. CF art. 15, III. (Alexandre de Morais e TSE REsp 13293
MG)

MEDIDA DE SEGURANÇA

No CP Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em


outro estabelecimento adequado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984)

Nas Contravenções. Art. 16. O prazo mínimo de duração da internação em manicômio


judiciário ou em casa de custódia e tratamento é de seis meses. (caberá também o
tratamento ambulatorial)

Impossível o juiz aplicar medida de segurança em transação penal. Se o juiz perceber


que o contraventor é inimputável o processo deve seguir a diante, deverá aplicar uma
absolvição imprópria após o devido processo aplicando sentença absolutória imprópria
aplicando-se então a medida de segurança. Não se aplica liberdade vigiada em
contravenção (parágrafo único, art. 16 da Lei de Contravenção), pois esta foi extinta
pelo CP. Nuci diz ser possível com fundamento no art. 178 da LEP (minoritário).
Damásio sustenta o prazo mínimo de 6 meses não mais se aplica por revogação tácita do
CP com prazo de 1 a 3 anos (não é o que prevalece por se tratar de lei especial).

PRESUNÇÃO DE PERICULOSIDADE NAS CONTRAVENÇÕES (art. 14 e 15)

Presumia-se perigoso o ébrio, o vadio e o mendigo. Inaplicável tal presunção de


periculosidade. Evidente direito penal do autor.

AÇÃO PENAL

Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.

Mas por determinação constitucional, é cabível ação penal subsidiária da pública se


houver vítima determinada. No STF e STJ prevalece que a contravenção de vias de fato
é de ação pública incondicionada.

PARTE ESPECIAL

171
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

POSSE E PORTE DE ARMA BRANCA

Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou vender, sem permissão da
autoridade, arma ou munição:

Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de um a cinco contos de


réis, ou ambas cumulativamente, se o fato não constitue crime contra a ordem política
ou social.

Tacitamente revogados quanto à arma de fogo e munição, mas em pleno vigor no que
concerne armas brancas (Resp 549056/SP Ministra Laurita Vaz). Quem porta
ilegalmente arma branca comete contravenção penal. Porquanto o presente dispositivo
foi derrogado vigendo apenas sobre o porte ilegal de arma branca. Trata-se de
contravenção de perigo abstrato (independe de perigo concreto para caracterizar o
crime). Prevalece o entendimento que deve haver o fito de utilizar a arma
criminosamente, caso assim não seja, não há falar em crime.

CONFISCO DO INSTRUMENTO DACONTRAVENÇÃO DE ARMA BRANCA

CP Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de


boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,


alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; (há o entendimento de que
aplica-se subsidiariamente o presente dispositivo, pois a lei de contravenções não tem
dispositivo similar – Resp 83857 RJ Ministro Gilson Dipi)

INEXISTENCIA DE REGULAÇÃO PARA PORTE DE ARMA BRANCA

Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da
autoridade: Como não há licença para se portar arma branca, tal contravenção será
inaplicável até que haja norma que regule o uso de arma branca (Nucci e a maioria). O
STF

JURISDIÇÃO DEFENSIVA: interpretações forçosas para sempre punir sob o


argumento de ser com intuito PRO SOCIETA.

Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a
três contos de réis, ou ambas cumulativamente.

PORTE DE ARMA BRANCA, HOMICÍDIO E LESÕES CORPORAIS

172
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Se o porte de arma branca ocorreu exclusivamente para a prática do homicídio, a


contravenção será absorvida. Mas se houver porte de arma branca e ocasionalmente o
agente a utiliza num homicídio, responderá pela contravenção do porte de arma branca e
pelo homicídio.

VIAS DE FATO

Trata-se de atos de violência física que não caracterizem lesões corporais, nem tentativa
de homicídio e nem injúria real. (conceito residual).

Art. 21. Praticar vias de fato contra alguem:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um
conto de réis, se o fato não constitui crime.

MAJORAÇÃO

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior
de 60 (sessenta) anos. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)ESTATUDO DO IDOSO.

Objetividade jurídica: incolumidade pessoal; sujeitos ativo e passivo qualquer pessoa;


Não exige contato físico, jogar líquido no rosto da pessoa, empurrões, tapas nas costas,
rasgar a roupa, puxões de cabelo mas se cortar será injuria real. A simples dor e o
eritema (vermelhidão) não constitui lesões corporais (crime) e sim vias de fato
(contravenção). Ação penal: pública condicionada a representação, pos analogia in
bonam partem no tocante a lesão corporal leve art. 88 da lei 9099 (Damásio, Nucci,
Batista Pinto). Mas segunda corrente (prevalecente) determina que é de ação pública
incondicionada art. 17 Contravenções Penais (Ada, STF, STJ) HC 80058 RJ.

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES AO PATRIMÔNIO

Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento empregado


usualmente na prática de crime de furto:

Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de trezentos mil réis a
três contos de réis.

Se a pessoa tem na sua posse o mero apetrecho para furto, trata-se de mera preparação
impunível.

Art. 25. Ter alguem em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou
roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio*
ou mendigo*, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados
usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima:

173
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de duzentos mil réis a dois
contos de réis.

Mas se utiliza para a prática do furto, a contravenção fica absorvida.

*Eis uma injustificável presunção de periculosidade e fere o princípio da igualdade.


Evidente direito penal do autor, com eiva de inconstitucionalidade pela injustificável
presunção de periculosidade.

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLUMIDADE PÚBLICA

Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
pública ou em direção a ela:

Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a três
contos de réis.

Caput tacitamente revogado, pois corresponde ao art. 15 da lei do desarmamento.

Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem, em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa
deflagração perigosa, queima fogo de artifício ou solta balão aceso.

Deflagração perigosa: tacitamente revogado pelo art. 251, parágrafo 1 do CP no tocante


a dinamite ou explosivo; e art. 16, parágrafo único, inciso III do Est. do Desarmamento
se for deflagração de objeto explosivo.

Soltar balão aceso: tacitamente revogado pelo art. 42 da lei dos crimes ambientais lei
9.605/98.

Queima ilegal de fogos de artifício continua á ser punível pela lei de contravenção.

VENDAS DE FOGOS DE ARTIFÍCIOS À CRIANÇA OU ADOLESCENTE

Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de
utilização indevida:

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar
com a devida cautela animal perigoso:

174
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de cem mil réis a um
conto de réis.

O tipo penal pune 3 condutas:

1) Deixar o animal em liberdade: conduta dolosa.

2) Entregar o animal a pessoa inexperiente: pessoa sem habilidade para cuidar do


animal.

3) Não guardar com a devida tutela: dá-se na forma culposa em deixar o portão aberto.

Sujeito ativo é qualquer pessoa que tenha a guarda do animal, seja proprietário ou não.

Sujeito passivo é a coletividade (contravenção de perigo presumido ou abstrato – não


precisa provar), mas se atinge uma pessoa é lesão corporal culposa ou homicídio
culposo.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à pessoa


inexperiente;

b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;

c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia. (sem coleira e
sem fucinheira) Se o animal mata ou fere alguém, o responsável eventual responderá
por homicídio ou lesão corporal por dolo ou culpa.

Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a
motor em aguas públicas:

STF SÚMULA Nº 720 O ART. 309 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO,


QUE RECLAMA DECORRA DO FATO PERIGO DE DANO, DERROGOU O ART.
32 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS NO TOCANTE À DIREÇÃO SEM
HABILITAÇÃO EM VIAS TERRESTRES.
-Se não gerou perigo de dano e sem habilitação é mera infração administrativa restando
derrogado o art. 32 supra continuando punível somente a direção sem habilitação de
embarcação em águas públicas.
-Se gerar perigo de dano sem habilitação é crime de trânsito infra:

CTB Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para
Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

175
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

L. Contravenção Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas


públicas, pondo em perigo a segurança alheia:

FORMAS DE DIREÇÃO PERIGOSA QUE DEIXARAM SER CONTRAVENÇÃO É


PASSARAM A SER CRIMES DE TRÂNSITO:
1)Embriaguez 306,
2) Racha 308,
3) Excesso e velocidade 311 do CTB.

O art. 34 continua a viger no caso das formas de direção perigosa que não constituam
embriaguez, racha ou excesso de velocidade cavalo de pau, marcha ré imprudente,
andar na contra-mão, ultrapassagem pela direita, ziguezaguear todas as formas não
abrangidas pela legislação especial. HC STF 86276 MG. Mas incorre condição para que
ocorra a contravenção se ocorrer o fato contravencional em via pública na dicção do art.
2 do CTB: Damásio, Capez, Alexandre de Morais entendem que não são vias públicas
estacionamentos particulares.

CTB Art. 2º São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os
caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo
órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais
e as circunstâncias especiais.

Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consideradas vias terrestres as praias
abertas à circulação pública e as vias internas pertencentes aos condomínios
constituídos por unidades autônomas.

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PAZ PÚBLICA

“ASSOCIAÇÃO SECRETA”

Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pessoas, que se reunam


periodicamente, sob compromisso de ocultar à autoridade a existência, objetivo,
organização ou administração da associação:

Não foi recepcionado pela CF, pois esta consagra a plenitude da liberdade de
associação. Só haverá contravenção se a associação tiver o fito de caráter ilícito ou
paramilitar. Por exigir no mínimo 6 pessoas, é contravenção de concurso necessário.
Para configurar o ilícito de haver periodicidade entre as reuniões.

Art. 42. Perturbar alguem o trabalho ou o sossego alheios (não tem horário):

Objeto jurídico: paz pública. Sujeito passivo: coletividade. Elemento subjetivo: dolo.
Culposamente, não há falar em contravenção.

176
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Sossego não necessariamente à noite, pois não se trata de repouso noturno. A


perturbação de uma única pessoa não configurar a contravenção devendo atingir um
número plural de pessoas. STF HC 85032 (Gilmar Mendes).

Condutas vinculadas abaixo:

I – com gritaria ou algazarra;

II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições


legais; (se de acordo com as prescrições legais, não há falar em contravenção)

III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; (como nenhum direito


fundamental é absoluto não se pode alegar liberdade de culto ou liberdade de profissão,
deveram se limitadas a liberdade de culto e o direito de exercício profissional de
músicos e bares ou casas noturnas).

POLUIÇÃO SONORA E LEGISLAÇÃO ESPECIAL CRIME CONTRA O MEIO


AMBIENTE

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora:(se não causa dano à saúde humana, é contravenção STJ
HC 54536 MS)

IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem
a guarda:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a
dois contos de réis.

Não se deve confundir o art. 42 com o art. 65:

Art. 65. Molestar alguem ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte (intenção)


ou por motivo reprovável (senso comum da sociedade): (deve se caracterizar a
finalidade, porquanto, elemento subjetivo é o dolo).

Sujeito passivo: uma única pessoa diferentemente do art. 42 que serão várias pessoas.

Sujeito ativo: qualquer pessoa

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À FÉ PÚBLICA

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país:

Dá-se quando o indivíduo desvaloriza o valor unitário da moeda em curso legal.


Exemplo: transação comercial em que vinte reais valeria dez reais.

Obj jurídico: fé pública, mas se faz prevalente a proteção das relações econômicas.
Havendo justo motivo de recusa, não há a contravenção penal (dinheiro rasgado)

Art. 45. Fingir-se funcionário público:

-Mas se pratica ato privativo de funcionário publico haverá crime de usurpação de


função pública art. 328 CP. O indivíduo que se passou de policial para ter atendimento
preferencial RHC STJ 17756 SP.

Art 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de função pública que não
exerce; usar, indevidamente, de sinal, distintivo ou denominação cujo emprêgo seja
regulado por lei. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 6.916, de 2.10.1944)

-Este crime se dá diante de pluralidade de pessoas. Sendo uniforme ou distintivo militar


será crime militar 171 ou 172 do COM, mesmo sendo civil o jornalista que se passou
por soldado do exército (HC STF 79359 RJ).

-Mero porte de uniforme não constitui a contravenção.

-No que se refere a distintivo essa contravenção está tacitamente revogada pelo:

CP Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:§1° III - quem altera, falsifica


ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados
ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública. (Incluído pela Lei
nº 9.983, de 2000)

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem
preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício: (a inscrição na
OAB para os advogados)

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis
a cinco contos de réis.

Agente passivo: a coletividade e as classes profissionais e econômicas. Uma primeira


corrente diz que só a reiteração da conduta configura a contravenção sendo então
contravenção habitual. Noutra corrente, diz-se que é instantânea sendo um único ato
caracterizador da conduta. Se diz atividade econômica, deverá ter fim lucrativo. Esta
contravenção é norma penal em branco, pois deve haver regulamento legal sobre a
profissão. Atividade de arbitro ou mediador ainda não é regulada por lei, portanto o seu
exercício não configura contravenção (HC 92183 PE Aires Brito).

Advogado suspenso ou impedido que continua a exercer a advocacia responde pelo art.
47 em todo o território nacional.

Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica

CP Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou
farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também


multa.

DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À POLÍCIA DE COSTUMES

51 a 58 foram tacitamente revogadas pelo decreto lei 6259/44 (contravenções de


loterias). A única que permanece em vigor é a do art. 50.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado que detém o monopólio dos
jogos de azar. Jogo de azar prepondera o fator sorte sem influências externas. Se
depender da habilidade do jogador não é jogo de azar. Cartas normalmente não
configura (caixeta, truco ou bilhar) pois dependem de habilidade. Exceto: jogo de carta
21. Caça níquel é jogo de azar. STJ .

STF entende que se as máquinas de caça níquel podem configurar contravenção art. 50
se houver chance de ganho. Poderá também art. 45 6259/44 se for jogo de prognósticos
(loteria). Crime contra a economia popular (art. 2, IX, lei 1.521/51) se a máquina estiver
programada para anular as chances de ganho do apostador REsp 780937 RS. Compete a
justiça estadual pois, são contravenções, mesmo se for crime contra a economia popular
(STJ Conflito de Competência 45318 SP).

Bingo configura-se jogo de azar STJ e STF. Portanto a lei Pelé não revogou o art. 50 da
presente lei em estudo (REsp 703156).

179
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

SÚMULA VINCULANTE Nº 2É INCONSTITUCIONAL A LEI OU ATO


NORMATIVO ESTADUAL OU DISTRITAL QUE DISPONHA SOBRE SISTEMAS
DE CONSÓRCIOS E SORTEIOS, INCLUSIVE BINGOS E LOTERIAS.

Bingo beneficente prevalece que não se configura como contravenção penal. Adequação
social da conduta.

Se o brasileiro praticar jogo de azar (cassino) em alto mar não pode ser punido, pois o
fato ocorre em território estrangeiro, pois não se aplica a lei brasileira a contravenções
penais cometidas fora do Brasil. Não há falar em extraterritorialidade no que tange as
contravenções.

Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessivel ao


público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele: (Vide Decreto-Lei nº 4.866, de
23.10.1942) (Vide Decreto-Lei 9.215, de 30.4.1946)

Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de
réis, estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração
do local.

§ 1º A pena é aumentada de um terço, se existe entre os empregados ou participa


do jogo pessoa menor de dezoito anos.

§ 2º Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem é
encontrado a participar do jogo, como ponteiro ou apostador.

§ 3º Consideram-se, jogos de azar:

c) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da


sorte;

b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam


autorizadas; STF corrida de cavalo ocorrida no estrangeiro. Reconheceu caracterizada a
contravenção em aposta feita no Brasil. STF HC 80908 RS. Apostas feitas fora do
hipódromo por telefone caracteriza-se como contravenção. Mas se envolver apostas em
briga de animais (rinha), configura-se como crime ambiental (art. 32 da lei 9605).

c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.

§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessivel ao público:

a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habitualmente


participam pessoas que não sejam da família de quem a ocupa;

b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se


proporciona jogo de azar;

c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza jogo de


azar;

180
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se


dissimule esse destino.

Art. 59. Entregar-se alguem habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho,
sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria
subsistência mediante ocupação ilícita:

Tal dispositivo inconstitucional pois cria uma presunção de periculosidade inadmissível,


ferindo o princípio da isonomia – vadio pobre- nucci> fere a dignidade da pessoa
humana, pois pode ser um estílo de vida. Evidente direito penal do autor.

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.

Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda, que assegure ao condenado


meios bastantes de subsistência, extingue a pena.

Art. 60. Mendigar, por ociosidade ou cupidez:

Art. 61. Importunar alguem, em lugar público ou acessivel ao público, de modo


ofensivo ao pudor:

Sujeito ativo e passivo qualquer pessoa. Faz-se necessário o sentimento de


importunação da vítima sem vinculação necessária atos de sexualidade.

Atos lascivos mais leves encostar na parte íntima da vítima. LFG e Cezar Roberto
Beetencourt entendem que se configura como importunação de modo ofensivo ao pudor
(contravenção) pois se considerar crime hediondo ferido restaram os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade. Mas a jurisprudência do STJ vem reconhecendo que
estes atos configuram o antigo crime de atentado violento ao pudor sendo agora estupro.
HC 75245 e HC 85437.

Art. 63. Servir bebidas alcoólicas: I – a menor de dezoito anos;

Mas o Eca tem previsão em especial

Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer
forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:

Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime
mais grave.

No STJ persevera o entendimento de ser contravenção devido a especificidade (bebida


alcoólica), pois a lei especial (ECA) trata de forma genérica. RESP 942288 RS
31/03/08. O entendimento do 243 do ECA corrobora para toda substância que não seja
drogas ou bebida alcoólica. Assim se for cola de sapateiro comete o crime previsto no
243 do ECA.

181
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CONTRAVENÇÃO DE CRUELDADE CONTRA ANIMAIS (REVOGADA)

O art. 32 caput e parágrafos 1° e 2° da lei dos crimes ambientais revogou tacitamente o


art. 64 e parágrafos. Porquanto crueldade contra animais deforma alguma se caracteriza
como contravenção, seja o fato ocorrido em local público ou não.

182
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES DE TRÂNSITO LEI Nº 9.503/97.

Publicado em 23.09.97 e passou a viger em 22.01.98.

PARTE GERAL DO CTB

Art. 291 - Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste
Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal,
se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, no que couber.

Art. 291 - § 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto
nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente
estiver:

I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine


dependência;

II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de


exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada
pela autoridade competente;

III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h


(cinqüenta quilômetros por hora).

§ 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito


policial para a investigação da infração penal.” (NR)

Parágrafo único - Aplicam-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa, de


embriaguez ao volante, e de participação em competição não autorizada o disposto nos
arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

DA APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 AOS CRIMES DE TRÂNSITO

Os crimes do 304, 305, 307 a 312 são infrações de menor potencial ofensivo (não
possuem pena superior a 2 anos), aplicando-se a lei 9099 em sua inteireza. Termo
circunstanciado cabendo transação penal, composição civil de danos e suspensão
condicional do processo. Mas caso não caiba tais institutos, segue o procedimento
sumaríssimo no JECrim.

Analise do 302: em relação ao homicídio culposo não se aplica os institutos da lei


9.099/95 tendo em vista a sua pena ser de 2 a 4 anos de detenção (não sendo de menor
potencial ofensivo). Se quer caberá a suspensão condicional do processo (pena mínima
1 ano) diferentemente do homicídio culposo previsto no CP, no qual cabe o suspensão
condicional do processo.

Análise do 306: embriaguez ao volante tem pena de 6 meses a 3 anos de prisão não se
caracterizando como infração de menor potencial ofensivo. Mas cabe suspensão

183
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

condicional do processo tendo em vista a pena mínima ser inferior a 1 ano. Com o
advento da lei 11705/08 a presente infração, por determinação jurisprudencial, passou a
não mais caber transação penal. Porquanto quem praticou o crime antes do advento da
lei, poderá haver transação. A presente alteração é irretroativa.

Análise do 303: lesão corporal culposa de trânsito em regra no que tange o art. 291
caberá: composição civil de danos, transação penal e será de ação pública condicionada
a representação. Vale lembrar que a possibilidade de aplicação desses institutos se
afasta se a lesão culposa for (art. 291):

Art. 291 - § 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto
nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente
estiver:

I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine


dependência;

II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de


exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada
pela autoridade competente;

III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h


(cinqüenta quilômetros por hora).

§ 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito


policial para a investigação da infração penal.” (NR)

Observa-se que nos três casos citados do parágrafo primeiro que a ação passará a ser aça
penal pública incondicionada.

Não poderá fazer o delegado termo circunstanciado devendo ser instaurado o inquérito
policial. Assim o TC dará lugar ao flagrante incorrendo a prisão em flagrante. Nota-se
que o próprio código de transito afasta a possibilidade de dolo eventual no caso dos
incisos do parágrafo primeiro do artigo 291 do CTB tendo em vista a redação clarificar
o elemento subjetivo culposo.

Cumpre ressaltar uma quarta hipótese em que não haverá composição civil de danos,
transação penal: lesão culposa com causa de aumento de pena. Nota-se que a pena será
aumentada de 1/3 a 1/2, assim, não sendo mais a infração de menor potencial ofensivo
(dois anos + 1/2 = 3 anos). Nesse sentido o STJ: HC 61.371/BA e REsp. 390.651/MS.
Não sendo de menor potencial ofensivo, nesse caso, somente seria cabível a suspensão
condicional do processo (pena mínima não supera 1 ano). Nesse caso, a ação penal
continua sendo pública condicionada a representação.

SUSPENSÃO E PROIBIÇÃO DO DIREITO DE DIRIGIR (art. 292 ao 296)

184
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Suspensão do direito de dirigir é aplicada aquele que já tem permissão ou habilitação. Já


a proibição é aplicada ao que não é habilitado ou não tem permissão. São penalidades
principais não sendo substitutivas da pena de prisão. Aplicadas cumulativamente com as
penas previstas nos tipos penais. Homicídio culposo (302), leão culposa (303),
embriaguez ao volante (306) e racha (308) para esses 4 crimes as penas de suspensão e
proibição já estão cominadas no tipo penal incriminador. Apesar do art. 292 dispor que
a pena de suspensão ou proibição pode ser aplicada de forma isolada, não é possível o
juiz aplicar somente essa sanção, vale dize que para os crimes dos artigos 302, 303, 306
e 308 essa sanção já está cominada cumulativamente com a pena de prisão no próprio
tipo penal. Para os demais 304, 305, 307 e 309 a 312 não há a cominação de suspensão
ou proibição no tipo penal, mas devem ser aplicados quando o réu for reincidente
específico em crimes nos termos do CTB. Art. 296.

Na aplicação da pena de suspensão ou proibição deverá ser aplicado o mesmo critério


de aplicação da pena restritiva de liberdade (trifásico) RESP 737306 RO.

A pena de suspensão ou proibição de dirigir só se inicia após a libertação do condenado


(Art. 293 § 2º).
Aplica-se o art. 44 §2° do CP.

CP ART. 44 § 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita


por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas
restritivas de direitos.

LAssim resta a possibilidade de se cumprir 3 penas restritivas de direitos. RESP 628730


SP (DUAS RESTRITIVAS + SUSPENSÃO).

DA SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR NO CP

CP Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são:

III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo.

CP Art. 57 - A pena de interdição, prevista no inciso III do art. 47 deste Código, aplica-
se aos crimes culposos de trânsito.

Na combinação dos art. supracitados, estes poderiam se aplicar nos casos de crimes
culposos de trânsito. Mas a maioria da doutrina releva que o inciso III do art. 47 foi
tacitamente revogado, pois os crimes culposos de trânsito já prevêem a pena em
questão. Como a suspensão e a proibição já estão cominadas no homicídio culposo
como penas principais, não se fazem possíveis a aplicação da sanção do art. 47, III CP.

DA SANÇÃO AO MOTORISTA PROFISSIONAL

Não é possível aplicar estas sanções àquele que é motorista profissional, tendo em vista
o direito ao trabalho o primado da dignidade humana. Mas o STJ ignora tal preceito sob

185
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

o manto do principio da legalidade, pois depreende-se da lei que estão previstas as


penas de suspensão no próprio tipo penal incriminador. RESP 1.019.673 SP.

SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO DE DIRIGIR COMO MEDIDA CAUTELAR


Em fase inquisitorial ou processual

Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade


para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da
autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da
habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.

Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que


indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito,
sem efeito suspensivo.

MULTA REPARATÓRIA

Apesar da redação “penalidade”, trata-se de sanção civil aplicada em sentença penal de


caráter reparatório. Capez, noutro sentido, entende ser a multa reparatória efeito extra-
penal secundário da sentença condenatória. Legitimado para executar a multa não é o
MP nem a Fazenda pública e sim o vitimado ou seus sucessores perante o juízo cível
comum. Não se inclui à multa reparatória os danos morais apenas vinculada ao prejuízo
material. Embora seja uma sanção civil seu cálculo é feito da mesma forma da multa
penal.

Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito


judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no
disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material
resultante do crime.

PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA MAIS MULTA REPARATÓRIA: a prestação pecuniária


é pena substitutiva da prisão e a multa reparatória é uma sanção civil. STJ define que é
possível a cumulação. RESP 736784/SC.

PERDÃO JUDICIAL: trata-se de causa extintiva da punibilidade aplicável quando


previsto no tipo penal, assim o juiz só pode aplicar aos crimes que prevêem. Isto posto,
o CTB não prevê perdão judicial, mas aplica-se por analogia in bonam partem em caso
de homicídio culposo e da lesão culposa previstos no CP, tendo em vista as razões de
veto do Presidente da República.

PRISÃO EM FLAGRANTE E FIANÇA

186
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e
integral socorro àquela.

O dispositivo se refere a acidentes de trânsito, neste caso este se aplica somente os


crimes de homicídio culposo e lesão culposa. Isto posto, os demais crimes de trânsito
são crimes de perigo.

O socorro disposto no dispositivo tem de ser imediato. A demora injustificada no


socorro autoriza a prisão em flagrante. No caso de dolo eventual, mesmo que o condutor
preste pronto e integral socorro à vítima, ele deverá se autuado em flagrante e aplicada a
fiança (racha). Mas será atenuante genérica de pena.

PARTE ESPECIAL DO CTB

HOMICÍDIO CULPOSO

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

A redação menciona o nomen júris do crime e não a conduta criminosa comportamento


ferindo o princípio da taxatividade. Estão fora do CTB conceito aquáticos e aéreos,
assim eis a aplicação do CP nestes casos. Caso seja atropelamento em via particular,
aplica-se o CTB, pois não há a elementar via pública, ao contrário do 306, 308 e 309
que contêm tal elementar.

LESÃO CORPORAL CULPOSA

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA DO HOMICÍDIO CULPOSO E DA LESÃO


CULPOSA

Aplica-se tudo que foi dito quanto ao crime de homicídio culposo.


Art. 303. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer
das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.

Art. 302 Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo


automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;

187
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte


de passageiros.

COMENTÁRIOS ÀS CAUSAS DE AUMENTO DO INCISO I


I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

BIS IN INDEM
Art. 302. Praticar homicídio culposo na Art. 309. Dirigir veículo automotor, em
direção de veículo automotor: via pública, sem a devida Permissão para
Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se
Parágrafo único. No homicídio cassado o direito de dirigir, gerando
culposo cometido na direção de veículo perigo de dano:
automotor, a pena é aumentada de um
terço à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir


ou Carteira de Habilitação;

Não se faz possível a aplicação dos dois dispositivos supra, pois seria evidente bis in
idem.

LESÃO CULPOSA DE INABILITADO

STF. No caso da lesão culposa, mesmo que a vítima não ofereça representação, o
infrator não poderá ser processado pelo crime de falta de habilitação. Este entendimento
funda-se; quando ocorre a lesão, a falta de habilitação ou permissão perde a sua
autonomia de crime próprio, passando a funcionar apenas como causa de aumento de
pena da lesão. HC 25.084 SP.

CRIME DE TRÂNSITO COMETIDO POR CONDUTOR COM HABILITAÇÃO


DIVERSA DO VEÍCULO CONDUZIDO

Em caso de possuir autorização diferente entende a doutrina ser aplicável a agravante


genérica do art. 298, IV do CTB (posição doutrinária).

Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito
ter o condutor do veículo cometido a infração:IV - com Permissão para Dirigir ou
Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;

No entanto o STJ diz que se o agente estiver com carteira de habilitação diversa, aplica-
se a causa de aumento em comento (302, parágrafo único inciso I.) aumento de 1/3 até
½ por falta de habilitação (é o que prevalece). RESP 492912/SP.

COMENTÁRIOS ÀS CAUSAS DE AUMENTO DO INCISO II


II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
Poderá ser a faixa permanente ou provisória.

188
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

COMENTÁRIOS ÀS CAUSAS DE AUMENTO DO INCISO III


III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;

Só incide a causa de aumento em comento se houver condições reais de socorro sem


risco pessoal.

OMISSÃO DE SOCORRO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO, HÁ FALAR EM TRÊS


HIPÓTESES:

1) Condutor culpado que não socorre responde por 302 ou 303 + 1/3 a ½.(302, §único,
III)

2) Condutor envolvido no acidente não culpado, que não socorre. Art. 304 CTB.

3) Demais condutores não envolvidos no acidente que não socorrem vítima, respondem
por omissão de socorro do art. 135 CP.

COMENTÁRIOS ÀS CAUSAS DE AUMENTO DO INCISO III


IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte
de passageiros.

Se o ônibus estiver vazio incide a causa de aumento de pena, pois eis que há o dever de
cautela.

ABSORÇÃO DO CRIME DE EMBRIAGUEZ EM CRIMES DE TRÂNSITO

Se houve homicídio culposo estando o condutor embriagado, o crime de embriaguez


fica absorvido. STJ RESP629087/MG e HC 32764/DF. Princípio da consunção. Crime
de dano e mais grave, pos isso absorve o crime de perigo e mais leve de lesão. Mas o
STJ entende que se houver lesão há concurso de crimes entre o delito de embriaguez ao
volante (306) e o delito de lesão culposa (303). Depreende-se que o crime de lesão
culposa é menos grave do que o crime de embriaguez e portanto não pode absorve-lo.
RHC19044. Em suma, embriaguez + homicídio= só homicídio. Embriaguez +lesão=os
dois.

Homicídio culposo no 121§3° de 1 a 3 anos e homicídio culposo no 302 CTB de 2 a


4.

Lesão culposa no CTB tem pena maior do que lesão dolosa do código penal não ofende
o princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade. STF – o princípio da isonomia
não impede tratamento diferenciado quando houver “discrimen” razoável (situação que
justifique o tratamento desigual) tendo em vista a enorme freqüência de acidentes de
transito. RE 428.864/SP e STJ HC63284/RJ.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

OMISSÃO DE SOCORRO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO

Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato


socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de
solicitar auxílio da autoridade pública:

Sujeito ativo: condutor do veículo envolvido no acidente que não agiu com culpa “latu
sensu” mas omitiu socorro a vítima. Mas se o passageiro instigar ou induzir a não
socorrer, responderá pelo 304 como partícipe. Trata-se de crime omissivo puro ou
próprio.

Há falar em duas condutas:

Deixar de prestar imediato socorro pessoalmente: não admite tentativa e se consuma


com a simples conduta omissiva independentemente de a vítima sofrer algum prejuízo
físico ou morrer em razão da omissão. Crime omissivo impróprio.

Deixar de solicitar auxílio da autoridade:

Entre as duas condutas não tem o agente a possibilidade de optar, pois o auxílio à
autoridade somente se houver impossibilidade de agir em socorro à vítima. Se poderia
ter feito socorro e opta em chamar autoridade, comete crime.

OMISSÃO DE SOCORRO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO

• Condutor envolvido no acidente culpado, que omitir socorro: 302/303 c/c 302 §
Único.

• Condutor envolvido no acidente, não culpado, que omitir socorro: 304.

• Condutor não envolvido no acidente de trânsito que omitir socorro: 135 CP


omissão de socorro.

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de
crime mais grave.

INTERPRETAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 304

Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo,
ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte
instantânea ou com ferimentos leves.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

-Há o crime do 304 mesmo que a omissão do condutor seja suprida por terceiros. Mas
se o terceiro estava em melhor condição de socorro ou se adiantaram, não há falar em
crime.

-Será crime impossível por absoluta impropriedade do objeto quanto ao cadáver.


Absurdo jurídico!

-O condutor responderá pela omissão mesmo que a vítima tenha sofrido ferimentos
leves desde que reclama socorro.

CONDUZIR VEÍCULO EM ESTADO DE EMBRIAGUEZ

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de
álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter
a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos


testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

LEI 11.705/08

ANTES DEPOIS
Sob a influência de... 6 decigramas de álcool por litro de sangue
ou sob efeito de substância psicoativa que
determine dependência
Exigia situação de perigo concreto (crime Crime de perigo abstrato ou presumido.
de perigo concreto) não carece de prova Tem que provar.

Quando o crime é de perigo abstrato tem que se comprovar a conduta. Quando de perigo
concreto o ônus da acusação se amplifica, pois se deve provar a conduta mais a situação
concreta de perigo gerada. Quando o crime é de perigo abstrato a acusação só tem de
provar a conduta, pois a situação de perigo gerada já está presumida no tipo.

Formas de se provar a embriaguez: exame de sangue, etilômetro (bafômetro) e por


exame clínico por médico ou por perito nomeado (visual). Apenas os dois primeiros
poderão quantificar a quantidade de álcool no sangue. Quanto ao exame de sangue ou
etilômetro vigora o princípio da não culpabilidade, pois ninguém é obrigado a produzir
provas contra si. Assim se o infrator se recusa a tais exames, fica impossível comprovar
a tipicidade da conduta. Errado falar em falta de materialidade, pois a quantidade de
álcool no sangue é elementar do tipo penal.

Se ocorrer homicídio doloso ou culposo, este absorve o crime de embriaguez ao volante


art. 306 REsp 629087 MG. STF HC764 DF. Mas se ocorrer lesão corporal culposa, a
crime de embriaguez não é absorvido, pois o primeiro é menos grave que o segundo.
Assim pelo princípio da consunção o menos grave não pode absorver o mais grave. STJ
HC 24136 SP. RHC 19044 SC.

191
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Antes da lei, era cabível transação penal para o crime de embriaguez mesmo sendo a
pena máxima de 3 anos, não sendo crime de potencial ofensivo. Como advento da lei
11.705 alterou o art. 291 do CTB , não mais permite transação ao crime do 306. Trata-se
de norma irretroativa continuando ser cabível a transação ao agente que cometeu o tipo
do 306 antes da lei 11.705/08.
______________________________________

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação


para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:

Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional
de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no
prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.

O art. em estudo é decorrente de sentença penal condenatória noutro crime, assim trata o
art. 302 (homicídio culposo) a pena de prisão mais a suspensão de 1 ano do direito d e
dirigir. Assim se ele dirigir durante este período de 1 ano a que foi condenado, estará
cometendo outro crime de trânsito, qual seja, o 307 com pena de detenção, multa e nova
suspensão por idêntico prazo anterior de forma adicional. Também caracteriza o crime
do art. 307, a violação da suspensão imposta pela autoridade de trânsito como sanção
administrativa. Uma vez que se trata se sanção imposta com fundamento neste código.

RACHA

Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida,


disputa (tomada de tempo individual) ou competição automobilística não
autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à
incolumidade pública ou privada:

Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se


obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

“desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada”: porquanto, trata-
se de crime de perigo concreto, pois deverá se comprovar o dano potencial. Se a
competição for autorizada, tratar-se-á de fato atípico.

Tendo em vista a conduta “participar” é crime plurisubjetivo (de concurso necessário).


Terceira pessoa pode ser partícipe por instigação, induzimento ou auxilio material aos
condutores (empréstimo do automóvel consciente do fito).

Se o racha não gerar perigo real, o fato é atípico. A acusação tem te de provar a conduta
de racha mais a situação de perigo. Mas gerando perigo entre eles respondem pelo crime

192
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

pois a incolumidade privada os envolve. Note-se que se fizer tomada de tempo, não
competido entre si em estrada deserta diretamente e ao mesmo tempo, o fato é atípico.
O fato tem que ocorrer em via pública. Vias internas dos condomínios se enquadram.
Estacionamento de supermercado não é via pública.

_______________________________________________________________

Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para
Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de
dano:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

A simples manobra não configura o crime em questão. Ciclomotor sem autorização não
configura o crime, pois o tipo penal não menciona autorização. Em via particular é fato
atípico.

Direito de dirigir cassado: somente a autoridade administrativa de transito (delegado)


poderá cassar (ato administrativo). A suspensão é por tempo determinado, mas a
cassação é por tempo indeterminado. Após 2 anos da cassação, poderá o condutor tentar
a sua reabilitação.

O art. 309 do CTB é crime de perigo concreto (perigo de dano) enquanto que a
contravenção do art. 32 era de perigo abstrato. Entende a doutrina Dirigir sem
habilitação sem perigo de dano 32, LCP. Dirigir sem habilitação com perigo de dano
309, CTB. Em suma, entre os dispositivos a contravenção se tornou subsidiária ao crime
de trânsito. Assim dirigir sem habilitação e sem perigo de dono, contravenção. Mas sem
habilitação com perigo de dano, crime do 309 CTB. Mas eis o entendimento sumulado
do STF: dirigir sem habilitação e sem perigo de dano, mera infração administrativa;
dirigir sem habilitação e com perigo de dano, infração administrativa mais crime do 309
CTB. Não foi revogada a contravenção do 32 tendo em vista a aplicabilidade no que
tange a condução inabilitada de embarcações a motor em águas públicas.

STF SÚMULA Nº 720 O ART. 309 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO,


QUE RECLAMA DECORRA DO FATO PERIGO DE DANO, DERROGOU O ART.
32 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS NO TOCANTE À DIREÇÃO SEM
HABILITAÇÃO EM VIAS TERRESTRES.

ASSIM DIRIGIR SEM HABILITAÇÃO SEM PERIGO DE DANO É MERA


INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA.

-STJ: Habilitação vencida por mais de 30 dias não significa falta de habilitação para
efeitos criminais, não configurando o crime do 309.

-Caso o condutor esteja com alvará diferente e gerando perigo de dano, incorre no crime
do 309.

-Caso seja habilitado e não esteja portando-a, é mera infração administrativa.

193
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

-Dirigindo e gerando perigo de dano e por fim apresenta habilitação falsa, haverá
concurso material de crimes do 309 CTB mais o uso de documento falso.

-Suspensão e proibição de dirigir responde pelo 307 (perigo abstrato).

-Sem habilitação: sem permissão cassado art. 309 (perigo concreto).

-Aquele que empresta o veículo para aquele que se enquadra no 309 é uma exceptio a
teoria monista responde pelo 310 CTB.

Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não
habilitada (infração administrativa), com habilitação cassada ou com o direito de
dirigir suspenso (309, 307), ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou
mental, ou por embriaguez (306), não esteja em condições de conduzi-lo com
segurança:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

TRAFEGAR EM VELOCIDADE INCOMPATÍVEL

Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de


escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros
estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando
perigo de dano):

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

TRATA-SE DE CRIME DE PERIGO CONCRETO REAL EFETIVO VERDADEIRO.


Antes do CTB era mera contravenção penal de direção perigosa art. 34 LCP. O crime se
dá com velocidade incompatível, mas se não houver essa conduta, continua
prevalecendo a contravenção caso seja outras formas de direção perigosa com trafegar
na contra-mão. STF HC 86538.

LCP Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas públicas, pondo
em perigo a segurança alheia:

Pena – prisão simples, de quinze das a três meses, ou multa, de trezentos mil réis a
dois contos de réis

__________________________

FRAUDE PROCESSUAL NO TRÂNSITO

Inconfundível com o 347 do CP. Aplica-se somente em acidente automobilístico com


vítima. Qualquer outra situação, como acidente de trânsito sem vítima, eis o 347 CP
(fraude processual do CP).

Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na


pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente
policial, o perito, ou juiz:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando
da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

O crime pode ser praticado no primeiro instante após o acidente, mesmo que ainda ao
iniciado nenhum procedimento policial preparatório, inquérito ou processo.

Nota-se que alterar o cenário de acidente automobilístico sem crime, aplica-se art. 347
CP. Elemento subjetivo do tipo: apenas há crime com o fito de induzir a erro a polícia, o
perito ou o juiz, ainda que não induzidos em erro, pois basta a finalidade. Qualquer
outra finalidade, não há falar em crime (estado de necessidade de terceiro salvando a
vida de uma vítima).

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

IDENTIFICAÇÃO PESSOAL LEI Nº 5.553/68

Art. 1º A nenhuma pessoa física, bem como a nenhuma pessoa jurídica, de direito
público ou de direito privado, é lícito reter qualquer documento de identificação pessoal,
ainda que apresentado por fotocópia autenticada ou pública-forma, inclusive
comprovante de quitação com o serviço militar, título de eleitor, carteira profissional,
certidão de registro de nascimento, certidão de casamento, comprovante de
naturalização e carteira de identidade de estrangeiro.

Art. 2º Quando, para a realização de determinado ato, for exigida a apresentação de


documento de identificação, a pessoa que fizer a exigência fará extrair, no prazo de até
5 (cinco) dias, os dados que interessarem devolvendo em seguida o documento ao seu
exibidor.

§ 1º - Além do prazo previsto neste artigo, somente por ordem judicial poderá ser
retirado qualquer documento de identificação pessoa (MESMO QUE POR JUSTO
MOTIVO). (Renumerado pela Lei nº 9.453, de 20/03/97)

§ 2º - Quando o documento de identidade for indispensável para a entrada de pessoa em


órgãos públicos ou particulares, serão seus dados anotados no ato e devolvido o
documento imediatamente ao interessado. (Incluído pela Lei nº 9.453, de 20/03/97)

________________________________________________________
Eis o objeto material da contravenção do art. 3.
Art. 3º Constitui contravenção penal, punível com pena de prisão simples de 1 (um) a 3
(três) meses ou multa de NCR$ 0,50 (cinqüenta centavos) a NCR$ 3,00 (três cruzeiros
novos), a retenção de qualquer documento a que se refere esta Lei.

Conduta é reter documento sem justa causa. Objeto material é qualquer dos documentos
referidos no art. 1, sejam docs originais, autenticados ou cópias autênticas (publica
forma em cartório). Não se inclui copias simples (sem autenticação). Reter cópia
simples é fato atípico. Contravenção a prazo

Parágrafo único. Quando a infração for praticada por preposto ou agente de pessoa
jurídica (servidor público), considerar-se-á responsável quem houver ordenado o ato
que ensejou a retenção, a menos que haja, pelo executante, desobediência ou
inobservância de ordens ou instruções expressas, quando, então, será este o infrator.

Sujeito ativo: autor da ordem de retenção ou o executor da retenção, se ele descumpriu


ordens ou instruções expressas. Ordens de atos normativos ou emanadas de superiores.
____________________________________________________________________

Art. 4º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei dentro do prazo de 60


(sessenta) dias, a contar da data de sua publicação.

Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL Lei 12.037/09

A Lei 12.037, publicada no Diário Oficial da União de quarta-feira (2/10), altera as


normas para a identificação criminal e estabelece novos procedimentos para proteger o
cidadão. O objetivo é aprimorar a organização do sistema de identificação para fins de
investigação policial e judicial, segundo a Agência Brasil.

Uma das novidades é a obrigatoriedade da identificação criminal nos casos de nomes


que constem de registros policiais. A identificação será obrigatória também nos casos
em que o estado de conservação e a distância temporal ou da localidade de expedição do
documento impossibilitarem a completa identificação de caracteres essenciais.

Quando não houver denúncia ou nos casos de rejeição ou absolvição, o réu ou indiciado
poderá requerer a retirada de identificação fotográfica do processo. A lei também prevê
que a identificação criminal inclua processo datiloscópico e fotográfico, a serem
anexados aos autos da comunicação da prisão em flagrante, do inquérito policial ou de
outra forma de investigação.

Quando houver necessidade de identificação criminal, a autoridade encarregada tomará


as providências necessárias para evitar o constrangimento do identificado. O trabalho
incluirá datiloscopia e fotografia, que serão anexados aos autos da comunicação da
prisão em flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de investigação. Será
proibido mencionar a identificação criminal do indiciado em atestados de antecedentes
ou em informações não destinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em julgado da
sentença condenatória, ou seja, quando não couber mais recurso.

LEI Nº 12.037, DE 1º DE OUTUBRO DE 2009.

Constituição Federal, art. 5º, inciso LVIII

Dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado, regulamentando o art.


5º, inciso LVIII, da Constituição Federal.

O VICE – PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de


PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nos
casos previstos nesta Lei.

Art. 2º A identificação civil é atestada por qualquer dos seguintes documentos:

I – carteira de identidade;

II – carteira de trabalho;

III – carteira profissional;

IV – passaporte;

V – carteira de identificação funcional;

197
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

VI – outro documento público que permita a identificação do indiciado.

Parágrafo único. Para as finalidades desta Lei, equiparam-se aos documentos de


identificação civis os documentos de identificação militares.

Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação


criminal quando:

I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;

II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;

III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações


conflitantes entre si;

IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho


da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação
da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;

V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;

VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do


documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.

Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos
autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes
para identificar o indiciado.

Art. 4º Quando houver necessidade de identificação criminal, a autoridade encarregada


tomará as providências necessárias para evitar o constrangimento do identificado.

Art. 5º A identificação criminal incluirá o processo datiloscópico e o fotográfico, que


serão juntados aos autos da comunicação da prisão em flagrante, ou do inquérito policial
ou outra forma de investigação.

Art. 6º É vedado mencionar a identificação criminal do indiciado em atestados de


antecedentes ou em informações não destinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória.

Art. 7º No caso de não oferecimento da denúncia, ou sua rejeição, ou absolvição, é


facultado ao indiciado ou ao réu, após o arquivamento definitivo do inquérito, ou
trânsito em julgado da sentença, requerer a retirada da identificação fotográfica do
inquérito ou processo, desde que apresente provas de sua identificação civil.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 9º Revoga-se a Lei nº 10.054, de 7 de dezembro de 2000.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR LEI Nº 8.078/90.

Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de


produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade:

Sujeito ativo: fabricante, fornecedor de produtos Art. 3 CDC. Apenas pessoa física
poderá incorrer neste crime, pois a p. jurídica comete crimes só contra o meio ambiente.
Sujeito passivo o consumidor como destinatário final art. 2. Conduta: omitir dizeres ou
sinais ostensivos. Ex: desenho de objeto radioativo. Periculosidade ou nocividade. Tem
doutrina que determina a necessidade de exame pericial para que se comprove.
Embalagem é aspecto exterior do produto. Invólucros e recipientes: é aspecto interno do
produto. Se houver sinal de aviso discreto ou imperceptível, haverá o crime. Elemento
subjetivo: dolo e culpa. Consumação se dá com a simples omissão, ainda que não ocorra
nenhum prejuízo ao consumidor. Portanto trata-se de crime de mera conduta e omissivo
puro ou próprio, portanto não admite tentativa.

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

§ 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações


escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.

O caput se refere a produtos, enquanto que o parágrafo primeiro de refere a serviço a ser
prestado. O aviso deve ser dado antes de iniciada à prestação do serviço.

§ 2° Se o crime é culposo:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

CONFLITO APARENTE DE NORMAS:

LEI 8.137/90 - Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:

II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso


ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à
respectiva classificação oficial;

Nucci sustenta que este dispositivo acima revogou o art. 63 do CDC no que se refere a
mercadoria, pois deixar de constar na embalagem avisos sobre a periculosidade ou
nocividade do produto, é o mesmo que agir em desacordo com as prescrições legais.
Mas Paulo José da Costa Júnior (USP) entende que o art. 63 não está revogado
(prevalecente) pois nem sempre a lei determina que deve haver aviso, pois o fornecedor
é obrigado a constar o próprio aviso.

_____________________________________________________

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a


nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua
colocação no mercado:

199
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

No art. 63 a periculosidade ou nocividade já é conhecida antes da sua colocação no


mercado. Já no art. 64 a nocividade ou periculosidade do produto só é conhecida após a
colocação dele no mercado.

Tipo objetivo: conduta: deixar de comunicar a (autoridade competente – elemento


normativo do tipo – PROCON – MP do consumidor, vigilância sanitária, etc) e os
consumidores os que adquiriram ou não. Aviso por meios de comunicação (doutrina). O
tipo penal impõe um duplo dever de comunicação – a autoridade e o consumidor. A
falta de aviso a um deles, caracteriza o crime.

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado,
imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou
perigosos, na forma deste artigo.

Nas condutas do parágrafo único só há o crime diante a passividade após a


determinação pela autoridade competente. Recall por determinação oficial (Ministro
Herman Benjamin). Não há crime se deixa de fazer o recall voluntário. A demora
injustificada de retirada caracteriza o crime. O elemento subjetivo: punível somente na
forma dolosa. Consumação: dá-se com a simples omissão da comunicação ou com a não
retirada do produto do mercado independentemente de dano ao consumidor. Tentativa é
impossível, pois é crime omissivo puro ou próprio. Atenção: art. 64 só se refere aos
produtos inutilizáveis em caso de serviços não se referindo à produtos. Seria uma
interpretação extensiva de tipo penal incriminador sendo analogia in malam partem.

__________________________________________________________________

Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de


autoridade competente:

Alto grau de periculosidade: elemento normativo do tipo a depender de perícia, não


podendo ser aferido pelo juiz. Só há o crime se for contrariada a ordem de autoridade
competente.

Pena Detenção de seis meses a dois anos e multa.

Parágrafo único. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
correspondentes à lesão corporal e à morte.

Se a execução do serviço provocar a lesão ou a morte de alguém, o infrator responderá


por este art. + lesão ou homicídio culposo (cúmulo material obrigatório ou necessário).

No caput é doloso e no parág. único é preterdoloso. Mas Nucci não entende como sendo
preterdoloso, dizendo que o infrator poderá agir com dolo em relação à morte ou lesão.
Consumação: dá-se com a simples execução do serviço perigoso (crime de mera
conduta). Tentativa: dá-se quando o agente não consegue executar o serviço por

200
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

questões alheias a sua vontade. Mas sob a ótica de ser crime preterdoloso, não há falar
em tentativa (majoritária esta posição).

___________________________________________

Art. 66. (AÇÃO) Fazer afirmação falsa ou enganosa, (OMISSÃO) ou omitir informação
relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança,
desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:

Sujeito ativo: além do fornecedor, eis o patrocinador da oferta. Conduta: afirmação falsa
ou enganosa (que possa levar o consumidor a erro) trata-se de crime comissivo. Mas a
segunda conduta é omissiva, pois se trata de omitir informação relevante. Caso seja
irrelevante, não há crime. Elemento subjetivo: dolo ou culpa. A forma culposa,
parágrafo segundo.

Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.

§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.

§ 2º Se o crime é culposo;

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

CONFLITO APARENTE DE NORMAS

Lei 8137 Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:

II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso


ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à
respectiva classificação oficial;

Nucci entende que o 66 CDC está tacitamente revogado pelo dispositivo acima, no que
se refere a mercadoria. Para ele o art. 66 só se aplica no caso de serviços e na forma
culposa do parágrafo segundo. Consumação: o crime se consuma com a simples
afirmação falsa ou com a simples omissão da informação relevante, não sendo
necessário nenhum dano ao consumidor, sendo o crime de mera conduta, pois não
descreve o resultado. Tentativa: em caso de afirmação falsa, é possível a tentativa, agora
no caso da omissão de informação relevante não é possível a tentativa por se tratar de
crime omissivo puro. Crime instantâneo de efeitos permanentes.

_______________________________________________________

Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou
abusiva:

Sujeito ativo: também o publicitário, além do fornecedor de produtos ou serviços. Se


tiver conhecimento da conduta do publicitário, responde em concurso de agentes o
fornecedor. Publicidade falsa ou que induz a erro o consumidor. Abusiva são as que
desrespeitam os direitos do consumidor. Dispõe a produtos ou serviços, pois o tipo
penal não menciona.

201
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Elemento normativo do tipo: Sabe (dolo direto) ou deveria saber (dolo eventual). Não se
pune em forma culposa. Consumação: com a mera publicidade enganosa ou abusiva,
ainda que o consumidor não seja enganado ou se sinta abusado. Tentativa: somente se a
propaganda não circula por circunstancias alheias à vontade do infrator.

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Parágrafo único. (Vetado).

CONFLITO APARENTE DE NORMA

Lei 8137 Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:

VII - induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou afirmação


falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de
qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação publicitária;

O presente dispositivo acima o dolo é de induzir o consumidor em erro quanto a produto


ou serviço. Noutro plano o art. 67 CDC o dolo é o de executar ou promover propaganda
enganosa ou abusiva (Nucci).

___________________________________________________________________

Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir
o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:

O crime se dá mesmo ainda que não provoque tal resultado. Ex: propaganda de cigarro
ou de cerveja vinculada a sucesso profissional ou a saúde. Consumação e tentativa
(crime formal). Se consuma com a realização ou promoção da publicidade. Basta que
essa publicidade seja capaz de provocar alteração comportamental no consumidor ainda
que não provoque. Tentativa é possível.

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:

Parágrafo único. (Vetado)

__________________________________________________________________

Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à
publicidade:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

A publicidade feita sem critérios. Afirma maior durabilidade sem aferir. Qualquer
pessoa envolvida com a publicidade e sua vinculação. Concurso entre o fornecedor e o
publicitário. Elemento subjetivo: dolo. Consumação: crime de mera conduta, se

202
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

consuma com a simples omissão na organização dos dados fáticos, técnicos e


científicos. Tentativa: impossível pois se trata de crime omissivo puro.

_______________________________________________________

Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição


usados, sem autorização do consumidor (elemento normativo do tipo):

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Este crime só existe se a peça for utilizada na reparação ou conserto do produto e não na
fabricação do produto. Ex: montagem de computador com peças usadas incorre em
fraude no comércio art. 175 do CP ou estelionato. Só há crime sem autorização do
consumidor, mas se autorizar não há crime. Elemento subjetivo: dolo.Consumação: para
Herman Benjamin, o crime é formal (consuma-se independentemente de qualquer
prejuízo ao consumidor). Nucci determina como sendo crime material só se
consumando se houver prejuízo ao consumidor dizendo que só ocorre o crime se for
instalada a peça usada e se cobrar como se nova fosse. Mas em verdade é fraude no
comercio ou estelionato contradizendo o entendimento de Nucci.

________________________________________________

Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento


físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira
com seu trabalho, descanso ou lazer:

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Cobrança vexatória ou violenta.


Sujeito ativo é credor, ou quem faça a cobrança em seu nome. Sujeito passivo é o
consumidor-devedor.
É necessário que haja uma relação de dívida. O crime só estará caracterizado se a
violência for aplicada na cobrança da dívida, e se esta dívida for oriunda da relação de
consumo. Assim, não existe crime quando o agente, por exemplo, empregar violência
para obrigar o consumidor a assinar um contrato, ou para cobrar dívida decorrente de
uma compra e venda civil. Nesse último exemplo, poderá ocorrer o crime de exercício
arbitrário das próprias razoes, respondendo o agente pelo crime do art. 345 do CP, em
concurso material com a violência empregada.
O crime se consuma se, para a cobrança, o agente:
- exerce coação, ameaça ou constrangimento
- utiliza informações falsas, incorretas ou enganosas (ex.: na cobrança da dívida, o
credor informa inveridicamente que não está cobrando juros, enquanto que, em verdade,
os juros estão embutidos no saldo devedor).
- utiliza procedimento que exponha, injustificadamente, o consumidor ao ridículo ou
interfira em seu trabalho, descanso ou lazer (ex.: cobrar o devedor no local de trabalho,
na presença dos colegas de trabalho). E se o consumidor for encontrado em casa apenas
nos domingos, e ele tiver autorizado o contato telefônico? Não há crime, pois o
procedimento foi justificado.
O objeto jurídico é a integridade física e psíquica, a honra ou o direito ao trabalho,
descanso ou lazer.

203
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Elemento subjetivo é o dolo. A modalidade culposa é atípica.


O crime é formal, consumando-se com a prática de qualquer das condutas previstas no
tipo, ainda que o consumidor não se sinta ameaçado, constrangido ou ameaçado
(Nucci). Para Delmanto, porém, o crime é material, devendo ocorrer um desses efeitos
na vida do consumidor.
A tentativa é possível, desde que na forma escrita (ex.: credor encaminha uma carta ao
devedor ameaçando-o de morte, mas a carta é interceptada).
_____________________________________________________

Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele
constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:

Pena Detenção de seis meses a um ano ou multa.

Sujeito ativo é o fornecedor de produtos ou serviços. Sujeito passivo é o consumidor.


O tipo objetivo pune duas condutas: impedir (não permitir, vedar o acesso) ou dificultar
(criar obstáculo) a que o consumidor tenha acesso a seus dados pessoais.
Não haverá crime se as informações forem relativas a terceiros.
As informações podem estar em cadastros pessoais, em bancos de dados
informatizados, fichas ou registros.
O bem jurídico é o direito à informação do consumidor vítima.
Elemento subjetivo é o dolo. A forma culposa é atípica.
O crime é de mera conduta. A consumação se dá com a simples conduta de impedir ou
dificultar o acesso do consumidor às suas informações pessoais, ainda que o consumidor
não sofra nenhum prejuízo com isso e ainda que não haja nenhuma informação negativa
sobre o consumidor.
A tentativa é possível quando o agente não consegue impedir ou dificultar o acesso do
consumidor às suas informações (ex.: diante da negativa do agente, o consumidor obtém
o acesso aos dados por ordem judicial ou por outra forma).
_____________________________________________________

Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de


cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

A conduta é deixar de fazer a correção sobre uma informação errada a respeito do


consumidor.
Segundo a redação do tipo, a correção deve ser feita imediatamente após a ciência da
inexatidão das informações. Assim, a demora injustificada na correção dos dados
caracteriza o crime.
O crime é punido só na forma dolosa. A modalidade culposa é atípica (ex.: gerente de
banco que deixa de dar baixa em cadastro não pratica crime, mas enseja indenização
civil).
O crime é omissivo puro, ou próprio (“deixar de”), portanto, não admite tentativa.
_____________________________________________________

Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente


preenchido e com especificação clara de seu conteúdo;

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

204
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Sujeitos do crime, vide art. 63.


A conduta é deixar de entregar o termo de garantia (objeto material do crime). Termo de
garantia é o documento que assegura o direito do consumidor à troca ou reparo da
mercadoria com defeito ou inadequada.
O crime existe mesmo que o consumidor não exija o termo de garantia.
Elemento subjetivo é o dolo. Não se pune a forma culposa.
A consumação se dá com a simples omissão, ou seja, com a simples não entrega do
termo de garantia.
A tentativa não é possível, pois se trata de crime omissivo puro, ou próprio.

Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código,
incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor,
administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer
modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de
produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas.

O CDC adotou a teoria monista ou unitária, segundo a qual todos os que concorreram
para a realização do crime respondem por ele, na medida de sua culpabilidade.
O gerente, administrador ou o diretor respondem pelo crime, desde que tenham agido
com dolo e sob as formas do art.75.

No CP, a multa é calculada em dias-multa, podendo variar de 10 a 360 dias-multa. No


CDC a multa também é calculada em dias-multa, no entanto, ela segue os limites
mínimo e máximo da pena privativa de liberdade cominada; assim, os dias-multa são
fixados com base nos dias de prisão cominados (ex.: no crime art. 73, a multa pode ir de
30 a 180 dias-multa). Na individualização da multa, o juiz pode aplicar o art. 60, § 1º,
do CP, segundo o qual a multa pode ser triplicada, tendo em conta a situação econômica
do réu.
_____________________________________________________

Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas,
cumulativa ou alternadamente, observado odisposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:

I - a interdição temporária de direitos;

II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às


expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação;

III - a prestação de serviços à comunidade.

Além da pena de prisão e de multa cominadas nos tipos penais, ainda pode ser aplicado
ao autor do crime as penas restritivas de direitos do art. 78, cumulativa ou
alternadamente.
ATENÇÃO: no CP, as penas restritivas de direitos são substitutivas da pena de prisão,
enquanto que no CDC elas podem ser aplicadas cumulativa e alternativamente. Se o juiz
quiser aplicar as penas restritivas de direitos em substituição à prisão, ele deverá
observar as regras do CP.

Análise do art. 79

205
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Quanto ao parâmetro de fixação, a fiança do CDC tem regra própria, ou seja, não é
baseada no salário mínimo, como no CP, mas sim em Obrigações do Tesouro Nacional
(BTN).
O juiz e o delegado podem REDUZIR a fiança, mas só o juiz pode AUMENTÁ-LA,
tendo em vista a situação econômica do agente.

As entidades previstas no art. 82, III e IV podem atuar como assistente de acusação e
têm legitimidade para propor ação penal privada subsidiária da pública (associações
legalmente constituídas a um ano com fins institucionais a defesa dos interesses e
direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
_____________________________________________________

AGRAVANTES

Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:

I - serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de


calamidade;

II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo;

III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;

IV - quando cometidos:

a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja


manifestamente superior à da vítima;

b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou maior de


sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental interditadas ou não;

V - serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou


quaisquer outros produtos ou serviços essenciais .

206
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO – Lei 7.492/86

Tal lei é conhecida como lei dos crimes do colarinho branco.


SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL: essa expressão pode ser tomada em sentido
estrito e em sentido lato. Em sentido estrito, sistema financeiro nacional é apenas aquilo
que se refere à política monetária do governo, abrangendo instituições como BACEN,
BNDES, Banco do Brasil, etc. Nesse sentido, o sistema financeiro refere-se apenas às
finanças públicas, ou seja, com a gestão dos recursos públicos pelo Estado.
ENTRETANTO, a lei em questão, refere-se ao sistema financeiro em sentido amplo, o
que inclui a política financeira do Estado, o mercado de capitais, abrangendo o mercado
de câmbio, de consórcios, de seguros, de capitalização ou qualquer outra forma de
poupança. Assim, só estarão abrangidas pela presente lei as ATIVIDADES DAS
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.

Bens jurídicos tutelados


Bem jurídico principal: é o Sistema Financeiro Nacional em sentido amplo.
O bem jurídico em questão é supra-individual, pois um SFN sadio é interesse de todos.
As leis que protegem bens dessa espécie formam o chamado “Direito Penal Secundário”
(a expressão é de Luiz Régis Prado).
Bens jurídicos secundários: são aqueles atingidos reflexamente:
- Patrimônio dos investidores;
- Administração pública;
- Fé pública;
- Saúde financeira da instituição fiannceira (STJ RESP 585.770)

Conceito de instituição financeira

Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de
direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória,
cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros
(Vetado) de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão,
distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.

Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:

I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio,


capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;

II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo,
ainda que de forma eventual.

O conceito legal de instituição financeira, como se vê, é amplíssimo. Abrange quaisquer


entidades incumbidas de gerir recursos de terceiros. Assim, as instituições financeiras
são:

1º) pessoas jurídicas de direito público (BACEN, BNDES);


2º) pessoas jurídicas de direito privado, que tenham como atividade principal ou
acessória, isolada ou cumulativa com outras atividades, a captação, intermediação,
aplicação ou gerenciamento de recursos financeiros de terceiros (Bancos privados).

207
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Equiparam-se às instituições financeiras:


- seguradoras, casas de câmbio, casas de consórcio, de capitalização, de poupança, ou
qualquer outra que envolva recursos econômicos de terceiros;
- pessoa física que exerça qualquer das atividades acima, ainda que de forma eventual.
Empresas de factoring e administradoras de cartão de crédito também são instituições
financeiras, nos termos do a art. 1º, § 1º, da Lei Complementar 105/2001. Assim,
também se aplica a elas a Lei 7.492/86.
O art. 1º da Lei 7.492/86 foi recepcionado pela CF/88.
OBS.: os fundos de pensão ou entidades fechadas de previdência privada (ex.: Previ),
são consideradas instituições financeiras.

E o Estado? Pode ele ser considerado instituição finaceira quando coloca títulos da
dívida pública em circulação? NÃO. Segundo o STF (AP 351 e INQ 1.960) e o STJ, o
Estado não pode ser considerado instituição financeira quando emite títulos da divida
publica e os coloca no mercado para captar dinheiro para os cofres públicos.
Se o crime não envolver instituição financeira, não aplica a Lei 7.492/86.

Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os
administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes
(Vetado).

§ 1º Equiparam-se aos administradores de instituição financeira (Vetado) o


interventor, o liqüidante ou o síndico.

§ 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-


autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou
judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (Incluído
pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)

São responsáveis pelos atos criminosos os diretores, gerentes, o interventor e o


liquidante ou administrador da falência.
Terceiros também podem ser coautores ou partícipes, uma vez que as qualidades acima,
em sendo elementares do crime, comunicam-se a terceiros, nos termos do art. 30 do CP.
Há alguns crimes na lei que são comuns, podendo ser praticados por qualquer pessoa,
não exigindo as qualidades acima.
A simples condição de gerente, diretor, etc. não autoriza considerá-lo automaticamente
como autor do crime, se não agiu com dolo ou culpa, sob pena de responsabilidade
objetiva (STF HC 83.947).

A denúncia genérica é inepta e deve ser rejeitada. Assim, deve ser especificada a
conduta criminosa de cada um dos agentes, gerentes ou não.

Nos crimes contra o sistema financeiro a ação penal é pública incondicionada (art. 26).

A competência, EM REGRA, é da justiça federal, pois assim dispõe o art. 109, VI, da
CF, afirmando que o julgamento dos crimes contra o sistema financeiro serão da
competência da justiça federal, NOS CASOS PREVISTOS EM LEI. Quando os crimes
não atingirem interesses diretos e específicos da União, a competência será da justiça
estadual. As normas que criam varas especializadas são consideradas constitucionais
pelo STF. Além disso, a competência por elas definida é absoluta, pois é firmada em
razão da matéria (HC 91.024).

208
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

ATENÇÃO: precedente aberto no caso do Banestado (contas CC5): Embora conhecidos


os locais da consumação dos crimes, a competência pode excepcionalmente ser fixada
pelo domicilio ou residência dos acusados, tendo em vista o grande número de réus de
diferentes localidades. Utilizou-se como fundamento o princípio da celeridade
processual (STJ HC 85.951).

Art. 29:
Segundo o STJ, O MP NÃO PODE QUEBRAR O SIGILO FISCAL DIRETAMENTE,
SEM INTERMEDIAÇÃO JUDICIAL, pois isso atenta contra a intimidade, constituindo
prova ilícita os dados obtidos dessa maneira (RHC 20.329).

Prisão preventiva
Art. 30
Segundo o STF, a magnitude da lesão, por si só, não autoriza prisão preventiva, sob
pena de ofensa ao princípio da presunção de inocência (HC 85.615). No entanto, a
prisão preventiva pode ser decretada se a magnitude da lesão estiver somada aos
requisitos e pressupostos do art. 312 do CPP (HC 80.717).

O art. 31 caiu em desuso, diante do entendimento recente do STF, segundo o qual não é
necessário o recolhimento à prisão para apelar, ou seja, o conhecimento da apelação não
depende de prisão. Se o réu estiver preso, ele só será mantido na prisão se estiverem
presentes os requisitos do art. 312 do CPP.

Dos crimes em espécie


Gestão fraudulenta ou gestão temerária – art. 4º
Sujeito ativo é o administrador da instituição financeira, com posição de gerencia
(Nucci e Delmanto). Admite a participacao ou coautoria, pois a qualidade de dirigente é
elementar, que se comunica aos demais.
Sujeito passivo é a instituição financeira e os investidores prejudicados pela má gestão.
Conselheiro estatutário, que não tem poderes de gestão, não pode ser autor desse crime
(STJ AP 481).
O crime é próprio ou de mão própria?
1ª corrente (é a que prevalece): é crime próprio, admitindo tanto coautoria quanto
participação de terceiras pessoas (Manuel Pedro Pimentel, Rodolfo Tigre Maia, Nucci);
2ª corrente: é crime de mão própria, portanto, só admite participação, e não admite
coautoria (Luiz Flávio Gomes).
O objeto jurídico é a proteção do SFN, a credibilidade no mercado financeiro e a
proteção do investidor.
A conduta é gerir. Gerir é administrar, gerenciar, dirigir. A gestão deve ser fraudulenta,
ou seja, com a prática de atos fraudulentos, não havendo necessidade de que terceiros
sejam induzidos em erro.
O elemento subjetivo é o dolo. Minoritariamente, se admite a modalidade culposa.
O crime é de mera conduta e de perigo abstrato, ou seja, ele se consuma com a simples
prática de atos fraudulentos ou de gestão temerária, ainda que tais atos não acarretem
prejuízos a terceiros (STF HC 95.515, e STJ RESP 637.742). Entretanto, parte da
doutrina entende que se trata de crime de perigo concreto (Nucci, Delmanto, Fabio K.
Comparato).

O crime de gestão fraudulenta é habitual?

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

1ª corrente: o crime é habitual, ou seja, só se consuma se houver uma reiteração dos atos
fraudulentos ou temerários; um único ato não configura o crime (Delmanto, TRF 3).
2ª corrente: o crime é instantâneo, se consumando com a prática de um único ato (Nucci
e Rodolfo Tigre Maia)
O STJ e o STF decidiram que se trata de CRIME HABITUAL IMPRÓPRIO, OU
ACIDENTALMENTE HABITUAL, ou seja, se consuma com a prática de um único
ato, mas a pluralidade de atos configura crime habitual, sendo um crime único.
Exemplos de atos que configuram gestão fraudulenta:
- Empréstimos fictícios que não serão pagos (caso mensalão);
- Manter caixa 2 (contabilidade paralela);

Art. 4 Gerir fraudulentamente instituição financeira:


Pena – Reclusão, de 3 a 12 anos e multa.

Parágrafo único. Se a gestão é temerária:


Pena – Reclusão de 2 a 8 anos e multa.

Gestao temerária – art. 4º, parágrafo único


Sujeito ativo e passivo e objeto jurídico são os mesmos do caput.
Temerário é arriscado, perigoso, imprudente. Exemplo: fazer empréstimo a instituição
em processo de falência; fazer empréstimo a devedores com restrições no SERASA.
A doutrina afirma que o tipo penal é extremamente vago e inconstitucional, por violar o
princípio da taxatividade. No entanto, para o STJ e STF, o tipo é constitucional.
O tipo subjetivo é o dolo, segundo a doutrina e jurisprudência majoritárias. Há uma
minoria que entende que o crime de gestão temerária é culposo. O STF DECIDIU
RECENTEMENTE QUE O CRIME DE GESTÃO TEMERÁRIA ADMITE A FORMA
CULPOSA (HC 90.156).
Quanto à consumação e tentativa, aplica-se o que foi dito quanto à gestão fraudulenta.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

ESTATUTO DO DESARMAMENTO - LEI 10.826/03

Até 1997 todas as condutas envolvendo as armas de fogo eram tratadas como meras
contravenções penais, a partir de 1997 com a lei 9.437/97 (Lei de Armas de Fogo).
Atualmente é tratado com a Lei 10.826/03.
Posse de armas (Art. 12); Porte (Art. 14); Posse/Porte (Art. 16); Diferenciaram em tipos
penais crimes de gravidades diferentes, atendeu ao princípio da proporcionalidade e da
individualização da pena no plano legislativo.

**Competência:
SINARM (Sistema Nacional de Armas): Um cadastro único de armas que circula no
país. È uma entidade da União, portanto o controle da armas no Brasil é da União.
A competência para os crimes do estatuto do desarmamento em regra é da justiça
Estadual, salvo se atingir interesse direto da União é da Justiça Federal. Exceção tráfico
internacional de armas é um crime genuinamente federal.

**Bem jurídico:
É a segurança pública que é um bem da coletividade e não um bem da União. STJ CC
45483/RJ e 45845/SC.

E arma raspada não viola o cadastro do SINARM tornando a competência da Justiça


Federal?
O simples fato de a arma estar raspada não fixa a competência da justiça federal (HC
59915/RJ julgado em 09/06/08).

*Art. 12 do ED:

Posse irregular de arma de fogo de uso permitido

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de
uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de
sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Objeto jurídico: Incolumidade pública (segurança coletiva).


Sujeito ativo: Temos uma pequena divergência. A maioria entende ser crime comum,
ser cometido por qualquer pessoa- “Fernando Capez”. E a minoria entende ser crime
próprio, ou seja, exige uma condição especial que é ser dono da residência ou
proprietário do estabelecimento comercial.
Sujeito passivo: Coletividade, portanto crime vago. Sujeito passivo direto o Estado
(Delmanto), mas não prevalece esse entendimento pelo fato de que a segurança é um
bem jurídico que foge à esfera patrimonial do Estado sendo em verdade seu dever
prestá-la.
Tipo Objetivo: As condutas são possuir ou manter sobre a guarda.
Objeto Material:
• Arma de fogo de uso permitido.

211
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

• Acessório de arma de fogo de uso permitido (são objetos que acoplados a arma
de fogo ou instalados nela melhoram o seu funcionamento e precisão – mira
laser).
Obs.: Partes de armas não podem ser considerados acessórios.
• Munição de uso permitido.
Elemento normativo do tipo: está na expressão “em desacordo com determinação
legal ou regulamentar”. Só haverá crime se for uma posse irregular ou ilegal.
Elemento espacial do crime: A posse ocorre no interior da residência do infrator ou no
local de trabalho do qual ele seja o proprietário ou responsável legal.
O porte ocorre em qualquer outro local. O dono da loja de sapato tem uma arma dentro
desta e o seu vendedor possui outra arma de fogo. O dono da loja responde por posse
por ser proprietário do estabelecimento e o vendedor por porte por não ser o
representante legal do estabelecimento. Nesse sentido (HC STJ 92.369/SP julgado em
07/04/08).

O individuo enterra a arma no quintal de casa?


O STJ nesse caso entendeu ser porte na conduta de “ocultar” arma de fogo. (HC
72035/MS julgado 05/11/07).

Elemento subjetivo: Dolo.


Consumação: Consumação se dá no momento em que o infrator ingressa ilegalmente na
posse da arma ou acessório da arma. Trata-se de crime de mera conduta, perigo abstrato
(STJ e STF).
Tentativa: A doutrina não admite por ser tratar de crime permanente.

*Art. 5, §3° do ED:


Foi alterado pela lei 11.706/08 e prorrogou o prazo a validade dos registros estaduais até
31/12/08. Mas teve uma lei recentemente que prorrogou novamente a validade dos
registros estaduais em seu Art. 20 Lei 11.922/09 para 31/12/2009 (A lei trata da Caixa
econômica Federal). Mas note-se que o novo termo começou a vigorar em 13/04/2009.
Desta feita, o período compreendido entre 31/12/2008 até 12/04/2009 há falar e crime,
pois não opera de forma alguma a retroatividade da “abolitio criminis” temporária em
nova prorrogação.

E quem não tem registro nenhum e possui uma arma em casa?


Aplica-se o Art. 30 do ED (trata do possuidor sem registro nenhum, seja estadual ou
federal). Restou prorrogado o prazo, porquanto não há falar em crime até o aprazado.
Obs.: A prorrogação do Art. 20 da lei 11.922/09 o STF e STJ entendem que esses
períodos de prorrogação (de arma de fogo não registrada) constituem “abolitio criminis
temporária” ou “vacatio legis indireto”.

Obs.: Esse período de abolitio criminis temporária:

Não se aplica Se aplica


ao crime de porte de arma de fogo posse ilegal de fogo permitida ou proibida
permitida ou proibida

Aplica-se a abolitio criminis temporária ao detentor de posse de arma raspada?


Esse período de anistia (abolitio criminis) não se aplica ao porte de arma raspada. (HC
94158/MG STF julgado em 22/04/08). Noutro plano o STJ admite. HC 46322/SP 2006.

212
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

*Art. 13, caput do ED:

Omissão de cautela

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18
(dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo
que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

Objeto jurídico: Imediato é a incolumidade pública. O objeto jurídico mediato é a vida e


a integridade física do menor de 18 anos e do doente mental. É um crime de dupla
objetividade jurídica.
Sujeito ativo: O proprietário ou possuidor da arma de fogo que tem o dever de cautela.
Crime próprio.
Sujeito passivo: Coletividade (sujeito primário), e o sujeito passivo secundário menor
de 18 anos e deficiente mental. Crime de dupla subjetividade passiva.

Obs.:
1a Não importa se o menor de 18 anos já adquiriu a maioridade civil, o que importa a
idade indicada no tipo.
2a Deixar a arma ao alcance de pessoa portadora de deficiência física é fato atípico.
Porque o tipo penal só está se referindo a pessoa portadora de deficiência mental.
3a O tipo penal não exige nenhuma relação de parentesco entre o sujeito ativo e sujeito
passivo. Ex: Um amigo vai á casa de outro amigo e deixa arma próximo ao filho do
proprietário da casa.
4a Omitir a cautela em relação acessório ou munição é fato atípico. Porque o tipo penal
só menciona arma de fogo. Ex: Deixar munição próxima a uma criança de 10 de idade.
Conduta: Deixar de observar as cautelas necessárias. Significa quebra de dever objetivo,
portanto estamos diante de crime culposo.
Objeto material: Arma de fogo de uso permitido ou proibido, porque o tipo penal não
especifica a arma de fogo. Influenciará na dosagem da pena a espécie de arma.
Consumação: A consumação se dá com mero apoderamento da arma pelo menor ou
doente mental. Uns dizem que é crime material, outros dizem que é crime formal,
depende do ponto de vista.
Tentativa: Não admite porque é crime culposo.

*Art. 13, § único do ED:

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável


de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência
policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de
extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas
primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

È um crime autônomo em relação ao caput do Art. 13.


Sujeito ativo: Proprietário ou Diretor responsável de empresa de segurança e transporte
de valores. È crime próprio porque exige a qualidade especial do sujeito ativo.

213
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Sujeito passivo: Coletividade. Aqui o sujeito passivo também é o Estado, porque coloca
em risco o controle de armas no Brasil.
Conduta: Deixar de registrar a ocorrência policial e comunicar o furto, extravio á policia
federal. Dupla conduta, a falta de uma delas configura o crime, para a maioria.
Objeto jurídico: Arma, acessório ou munição de uso permitido ou restrito.
Tipo penal: Prevalece o entendimento que só é punível na forma dolosa.
Consumação: Consumação se dá após as 24 horas depois de ocorrido o fato, estamos
diante de um crime á prazo (leva um prazo para se consumar). A doutrina faz uma
correção “após a ciência do fato pelo sujeito ativo”. Foi um descuido do legislador.
Tentativa: A doutrina não admite por se tratar de crime de mera conduta. È um crime
omissivo próprio ou puro.

*Art. 14 do ED:

Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa.


Sujeito passivo: Coletividade.
Conduta: Tipo penal misto alternativo conduta múltipla/variada. Portar, deter, adquirir,
fornecer, receber, ter em depósito, ceder, emprestar, remeter, empregar, ocultar. Três
condutas no mesmo contexto fático crime único- Principio da alternatividade.
Objeto material: Arma de fogo ou acessório, munição permitida.
Elemento normativo do Tipo: Está na expressão “Sem autorização e desacordo com
determinação legal ou regulamentar”.

É necessário exame pericial da arma?


O laudo da arma é desnecessário, por se tratar de crime de perigo abstrato, entendimento
do STF e STJ. (HC 93188/SC); (RESP 1103293/RJ).

Porte de Arma de uso permitido estando desmuniciada configura o crime?


Arma desmuniciada configura crime. Entendimento pacífico do STJ e da Doutrina
haja ou não condições de pronto municiamento. (HC 93188/SC) por unanimidade.
a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal determinou (no HC 97.811) o arquivamento
de ação penal contra o acusado de porte ilegal de arma. O STF aceitou o pedido de
Habeas Corpus porque ele não dispunha de munição para disparar os tiros.
No STF: há posicionamento nos dois sentidos.

Obs.: Existe uma tese que o porte de munição isolado “desacompanhado de arma” não
possui nenhuma lesividade, portanto punir o porte isolado de munição fere o princípio
da ofensividade ou lesividade (este é o posicionamento clássico do STF). Noutro
sentido HC 90075/SC 2a Turma que o porte isolado de munição é crime (julgado já por
dois ministros, não sendo ainda uma decisão definitiva). STJ determina que é crime o

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

porte isolado de munição, pois há expressa previsão legal e por se tratar de crime de
perigo abstrato.

Elemento subjetivo: Dolo.


Consumação: Consumação se dá com a mera prática de qualquer das condutas do tipo.

Tentativa: Em alguns casos é possível, por exemplo, no verbo “adquirir”, mas não é
possível nas condutas que configura crime permanente, por exemplo, “ter em
depósito”.

*Art. 14 § único do ED:

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma
de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)

Esse § único foi declarado inconstitucional, ou seja, cabe fiança em qualquer hipótese
mesmo que a arma não esteja registrada no nome do infrator. A proibição da fiança aqui
fere o princípio da razoabilidade ou proporcionalidade.

Porte e Homicídio:
1a Caso: Haverá sempre concurso material de crimes, porque protegem bens jurídicos
distintos (isolada).
2a Caso (prevalece): Se o crime de porte irregular de arma foi cometido com a única
finalidade de executar o homicídio fica absorvido, porque é meio de execução (crime
meio).
3a Caso (prevalece): Se o indivíduo porta arma ilegalmente e eventualmente a utiliza
em um homicídio é concurso material de crimes. Entendimento do STJ. (HC 57519/CE
julgado em 15/02/07).

Posse ou porte de mais de uma arma configura quantos crimes?


Corrente majoritária configura crime único. A quantidade de armas irá pesar na
dosagem as pena.

*Art. 15 do ED:

Disparo de arma de fogo

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como
finalidade a prática de outro crime:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa.


Sujeito passivo: Coletividade.
Condutas: Disparar arma de fogo ou acionar munição (mesmo que não ocorra o
disparo).

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Elemento espacial do tipo: Em lugar habitado ou suas adjacências ou via pública. Caso
o agente tenha o doc que lhe permite o porte disparando tiro em local ermo, há falar em
fato atípico por faltar o elemento normativo do tipo “local habitado”.

Quantidade de disparos?
Crime único. Será levado em conta na dosagem da pena do crime único.

Consumação: Consumação se dá com mero disparo ou acionamento da munição.


Tentativa: Em tese é possível. Ex: O infrator é desarmado quando vai efetuar o disparo
(doutrina).
Obs.: Maioria da doutrina e jurisprudência entende que esse crime é crime de perigo
abstrato, ou seja, não é necessário que o disparo cause perigo real á alguém. Não precisa
gerar perigo concreto.
Obs.: Não se aplica o Art. 15 do ED quando o disparo tem finalidade da pratica de
outro crime, mais grave ou menos grave segundo o texto do dispositivo. Mas a doutrina
e a jurisprudência entendem que o Art. 15 do ED não deve ser interpretado dessa forma.
Ex: Homicídio e disparo de arma de fogo: homicídio absorve o disparo. Lesão leve e
disparo: concurso formal, porque o crime de lesão leve é menos grave que o disparo (o
crime menos grave não absorve o mais grave).
“Porte ilegal e disparo”- Depende! Se for porte ilegal de arma permitida e disparo,
como ambos têm a mesma pena e ofendem o mesmo bem jurídico haverá um único
crime (para uns o disparo e para outros apenas o porte.). Agora se for “porte de arma
proibida e disparo”, o porte de arma prevalece sobre o disparo por ser mais grave.

*Art. 15 § único do ED:

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1)

Foi declarado inconstitucional pela Adin. 3.112-1 ofende o princípio da


proporcionalidade e da razoabilidade. Esse crime é afiançável.

*Art.16, caput do ED:

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito,
sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Se for arma permitida a posse caracteriza o Art. 12 do ED e porte o Art. 14 do ED. Se


for arma proibida ou restrita tanto a posse quanto o porte configura o crime do Art. 16
do ED.
Tipo: Aplica-se o tudo o que foi tido quanto aos crimes de posse e porte ilegal. Com
única diferença que é o objeto material: proibido ou restrito.
Conceito: Decreto 36665/2000 traz a relação de armas proibidas.

*Art. 16 § único do ED:

216
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

È unânime o entendimento que o art. 16 § único constituem tipo penal autônomo e


independente do caput, ou seja, pode ter como objeto material arma de fogo
proibido ou permitido.

• Inciso I: Uma figura que caiu em desuso. Pune aquele que adultera a arma. De
difícil caracterização, pois o infrator diz que assim já comprou.

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de


arma de fogo ou artefato;

• Inciso II: Modificar arma permitida. Ex: Alterar o calibre de uma arma, cerrar
um cano. Esse crime consiste em modificar as características da arma- para
torná-la proibida ou restrita; ou para induzir em erro ou dificultar a ação de
autoridade policial, perito ou juiz (Não é a fraude processual do código penal-
Art. 347 do CP e sim o crime do desarmamento- Princípio da Especialidade).
Obs.: O tipo penal não menciona o MP, portanto é fato atípico se induzir em
erro o MP.

II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a


arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;

Inciso III: O objeto material aqui não é arma de fogo, nem acessório, nem
munição, é artefato explosivo (granada, bomba caseira, etc.). O artefato precisa ser apto
a explodir e incendiar.

III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem


autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;

• Inciso IV: Pune aquele que “porta”, “possui”, “adquiri” ou “transporta” a arma
já adulterada.

IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com


numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado;

• Inciso V: Esse inciso revogou o Art. 242 do ECA. Configura crime do estatuto
do desarmamento a venda ou entrega gratuita de arma de fogo a criança ou
adolescente, sendo indispensável que o infrator saiba que se trata de criança ou
adolescente, caso contrário configura erro de tipo. Fogos de artifício crime do
ECA.

217
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,


munição ou explosivo a criança ou adolescente; e

• Inciso VI: Reciclagem de munição. Pode reciclar desde que tenha autorização.

VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de


qualquer forma, munição ou explosivo.

*Art. 17 do ED:

Comércio ilegal de arma de fogo

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Sujeito ativo: Comerciante ou industrial legal ou clandestino, de arma de fogo,


acessório ou munição.
Sujeito passivo: A coletividade.
Objeto material: Arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou proibido,
tanto faz o tipo penal não especifica. A diferença da arma está na dosagem da pena.
Elemento subjetivo: Dolo.
Consumação: Consumação se dá com a prática de quaisquer umas das condutas do tipo.
Tentativa: È possível, exceto nas modalidades constituem crime permanente.
Atenção: Esse crime não é habitual. Ele exige a condição de comerciante ou industrial
de armas, mas uma única comercialização ilegal já configura o crime.
Ex: Comerciante de arma no shopping, ele vende 30 armas licitamente e uma
ilegalmente- crime do Art. 17 do ED.
Ex: O dono do restaurante vende a arma dele para o cliente-crime do Art. 14 ou Art. 16
do ED dependem se a arma é proibida ou permitida. Não é crime do Art. 17 do ED,
porque não é comerciante de arma de fogo.

Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste


artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência.

*Art. 18 do ED:

Tráfico internacional de arma de fogo

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a


qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade
competente:

218
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa.


Sujeito passivo: Coletividade.
Conduta:
• Importa ou exporta. Se consuma com a simples importação ou exportação, ou
seja, com a entrada ou saída de arma no Brasil, temos aqui um crime material.
• Facilitar a entrada ou saída. Se consuma com a simples facilitação da entrada
ou saída, ainda que o favorecido não obtenha sucesso na entrada ou saída da
arma.
Este crime não configura o crime de contrabando ou descaminho (Art. 314 do
CP), porque prevalece a figura especial do estatuto.
Tentativa: È possível.
Elemento subjetivo: Dolo.
Competência: Justiça Federal.
Objeto material: È apenas arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou
proibido. O tipo penal não diferencia.

Obs.: O princípio da insignificância não pode ser aplicado ao tráfico internacional de


armas. (HC 45099/AC julgado em 15/08/06). Considera-se a natureza do objeto e não o
seu valor.

*Art. 19 do ED:

Majorante

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17(comércio ilegal) e 18 (tráfico
internacional), a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição
forem de uso proibido ou restrito.

*Art. 20 do ED:

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da
metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6 o,
7o e 8o desta Lei.

Ex: Cometido por um policial federal a pena é aumentada da metade.

*Art. 21 do ED:

Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade
provisória. (Vide Adin 3.112-1)

219
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Foi declarado inconstitucional na ADIN 3.112-1. Fere o princípio da presunção da não


culpabilidade. È cabível a liberdade provisória a todos os crimes do estatuto do
desarmamento.

220
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE – LEI Nº 8.069/90

Conceito de criança e adolescente

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

A partir do primeiro segundo do dia em que faz doze anos de idade. E o adolescente
passa a ser adulto a partir do primeiro segundo do dia em que faz dezoito anos.

Ato infracional pode ser cometido por criança ou adolescente:

Criança Adolescente
sujeita-se às medidas de proteção (art. 95, Submete-se a medias sócio-educativas
III c/c 105 c/c 101 I a VIII). Medidas que (art. 111 ao 122) e/ou medidas de proteção
podem ser aplicadas isoladas ou (art 101 incisos I ao VI).
cumulativamente (art 99) sendo fungíveis
(substituíveis entre si).

APLICAÇÃO EXCEPCIONAL DO ECA A PESSOA DE 18 À 21 ANOS

Art. 2º Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este
Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Tanto o art. 104 parágrafo único, ECA e 4° CP, resta adotada a teoria da atividade. O
ECA é aplicado a pessoa entre 18 e 21 anos se cometeu o ato infracional quando
adolescente e cumprirá até aos 21 anos de idade as medidas sócio-educativas quaisquer
(não só a internação). Em fim, resta dizer que o parágrafo único não foi revogado pelo
novo CC (STJ). Em síntese, aplica-se ao adulto, desde que cometeu o ato infracional
quando na menoridade.

Ato infracional é a conduta que corresponde a um crime ou contravenção. Não havendo


figura típica, resta em conduta atípica (art. 103)

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou


contravenção penal.

Mas é irrelevante se o crime ao qual corresponde o ato infracional é de ação pública


condicionada ou privada. Não se exige representação ou queixa para a apuração do ato
infracional.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: faz-se aplicável em ato infracional. (STJ 2008)

APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL

221
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Possui uma fase policial e outra judicial (ação sócio-educativa).

FASE POLICIAL (INVESTIGATIVA) art. 172 ao 177.

O adolescente só poderá ser apreendido em situação de flagrante de ato infracional ou


por ordem judicial sendo encaminhado ao juiz. Art. 106 c/c 171.

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.

Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo,
encaminhado à autoridade judiciária.

EM CASO DE FLAGRÂNCIA, APLICAM-SE OS DISPOSITIVOS ABAIXO.

Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo,
encaminhado à autoridade policial competente.

Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de


adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com maior,
prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as providências
necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.

Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou


grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106,
parágrafo único, e 107, deverá:

I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente; (mas se for


sem violência ou grave ameaça, a autoridade policial tem a opção de lavrar um Boletim
de Ocorrência Circunstanciada)

II - apreender o produto e os instrumentos da infração;

III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e


autoria da infração.

Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser
substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.

Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será


prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e
responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo
dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade
do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.
(Não estando presentes os pais, não serão liberados os menores)

222
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial encaminhará, desde


logo, o adolescente ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do
auto de apreensão ou boletim de ocorrência.

§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial


encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, que fará a apresentação ao
representante do Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.

§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação


far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial especializada, o
adolescente aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores,
não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
(apresentando-o ao MP)

Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial encaminhará


imediatamente ao representante do Ministério Público cópia do auto de apreensão ou
boletim de ocorrência.

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.

Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua
apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.

SEM HIPÓTESE DE FLAGRANTE

Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de


adolescente na prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao
representante do Ministério Público relatório das investigações e demais documentos.
(relatório de ato infracional)

Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as


normas gerais previstas na legislação processual pertinente.

Porquanto no tocante aos procedimentos investigativos, aplica-se o CPP.

FASE PROCESSUAL DE APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL

OITIVA INFORMAL: Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do


Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência
ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva
e, em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.

223
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público


notificará os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o
concurso das polícias civil e militar.

O STJ, em 2009, decidiu que o MP pode oferecer a representação sem a oitiva informal
do adolescente, desde que disponha de elementos suficientes para oferecê-la. Mas se
estiver o menor desacompanhado durante a oitiva informal, enseja apenas nulidade
relativa.

APÓS A OITIVA INFORMAL, PODERÁ O MP:

Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do


Ministério Público poderá:

I - promover o arquivamento dos autos; (não havendo elementos suficientes para


propor ação contra o menor)

II - conceder a remissão;

III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.


(oferecimento da representação)

Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo


representante do Ministério Público, mediante termo fundamentado, que conterá o
resumo dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para homologação.

§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária


determinará, conforme o caso, o cumprimento da medida.

§ 2º Discordando (do arquivamento), a autoridade judiciária fará remessa dos autos


ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, e este oferecerá
representação, designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou
ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária
obrigada a homologar.

REMISSÃO

(Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser
aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença.)

1) REMISSÃO PERDÃO:

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o
representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de
exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto

224
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no


ato infracional.

Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade


judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.

2) REMISSÃO COM PROPOSTA COM APLICAÇÃO IMEDIATA DE MEDIDA


SOCIO-EDUCATIVA NÃO PRIVATIVA DE LIBERDADE (REMISSÃO
TRANSAÇÃO – doutrina)

Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação


da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação
em regime de semi-liberdade e a internação.
Depende da aceitação do adolescente ou do responsável. Não causando efeitos. Tal
remissão transação pode ser revista a qualquer tempo a pedido do MP, do adolescente
ou de seu representante.

OBS: Em ambos os casos de remissão (perdão ou transação), dependem de


homologação judicial. O MP concede, mas só produzirá efeitos após homologação
judicial. Caso o juiz descorde da remição, aplica-se o art. 181 ECA, encaminhado os
autos ao Procurador Geral que decidirá a questão.

Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser
aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença.
(Pode ser concedida pelo MP antes de iniciado o processo e durante o processo, pelo
juiz).

STF: o juiz, ao conceder a remissão, pode cumulá-la com medida sócio-educativa não
restritiva de liberdade não significando violação ao contraditório e ampla defesa e ao
devido processo legal. Exceto a semi-liberdade e a internação. Há previsão no art. 127
ECA, sendo que a remissão não significa culpa. RE 248.018 STF considerou
constitucional a segunda parte do art. 127.

OBS: assim, caso não tenha sido aqlicado o arquivamento, ou não tenha sido concedida
a remissão resta o oferecimento da representação.

REPRESENTAÇÃO

Obs: vale lembrar que este procedimento não se aplica à criança, mas somente ao
adolescente pois à criança

1) OFERECIMENTO
Propositura de ação sócio-educativa contra o adolescente, podendo ser por escrito ou
oralmente.

225
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o
arquivamento ou conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida sócio-educativa que
se afigurar a mais adequada.

§ 1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos
fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas,
podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.

§ 2º A representação independe de prova pré-constituída da autoria e


materialidade.
-Prevalece que o rol de testemunhas neste procedimento será de 8, pois eis a analogia ao
procedimento comum ordinário do CPP.

2) RECEBIMENTO

Vale lembrar que a ação só pode ser proposta contra adolescente, porque a criança que
comete ato infracional não està sujeita a procedimento de ato infracional, e sim sujeitas
apenas às medidas de proteção.

Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de


apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção
da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.

STJ: se a audiência de apresentação for feita na ausência dos pais, mas presente o
defensor técnico, não há falar em nulidade, pois este faz papel de curador.

§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão cientificados do teor da


representação, e notificados a comparecer à audiência, acompanhados de advogado.

§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a autoridade judiciária dará


curador especial ao adolescente.

§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judiciária expedirá mandado


de busca e apreensão, determinando o sobrestamento (SUSPENSÃO DO PROCESSO)
do feito, até a efetiva apresentação. (a audiência não poderá se dar sem a presença do
adolescente)

§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua apresentação, sem


prejuízo da notificação dos pais ou responsável.

NESSA AUDIÊNCIA SERÃO PRATICADOS OS SEGUINTES ATOS (art. 186)

1) Oitiva do adolescente ou de seus pais ou responsável;


2) Solicitação de parecer de equipe técnica, se for o caso;
3) Decisão sobre manter ou revogar a internação provisória do adolescente;
4) Concessão de remissão ouvindo-se o MP.

226
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária


procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.

§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o


representante do Ministério Público, proferindo decisão.

§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou


colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o
adolescente não possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde
logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligências e
estudo do caso.

§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias


contado da audiência de apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.

§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na


representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da
equipe interprofissional, será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao
defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por
mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.

STJ SÚMULA 342 NO PROCEDIMENTO PARA APLICAÇÃO DE MEDIDA


SÓCIO-EDUCATIVA, É NULA A DESISTÊNCIA DE OUTRAS PROVAS EM
FACE DA CONFISSÃO DO ADOLESCENTE. Se o adolescente confessar, não
haverá desistência de outras provas e encerramento do procedimento com a aplicação da
medida sócio-educativa, pois isso viola o devido processo legal, o contraditório e a
ampla defesa.

Com a concessão de remissão: exclui-se o processo. Mas se não concedida a remissão,


o juiz designa audiência de instrução e julgamento 186 §2° segunda parte.

Art. 186. § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou


colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o
adolescente não possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde
logo, audiência em continuação (lê-se audiência de instrução e julgamento), podendo
determinar a realização de diligências e estudo do caso.

Jurisprudência: deverá estar acompanhado por defensor, mesmo que quando


incorrer de medida de internação ou colocação em regime de semi-liberdade.

Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que
ausente ou foragido, será processado sem defensor.

A falta de defesa técnica na ação sócio-educativa enseja nulidade absoluta. Neste


sentido, também o art. 110.

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo
legal.

227
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:

III - defesa técnica por advogado;

DEFESA PRÉVIA

Art. 186. § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias


contado da audiência de apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

Art.186 § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na


representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da
equipe interprofissional, será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao
defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por
mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão
(SENTENÇA).

A inversão da ordem na oitiva das testemunhas é causa de nulidade relativa (só se


houver prejuízo)

SENTENÇA

1) SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO (CARÁTER


ABSOLUTÓRIO)

Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que reconheça na
sentença:

I - estar provada a inexistência do fato;

II - não haver prova da existência do fato;

III - não constituir o fato ato infracional;

IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.

Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o adolescente internado, será


imediatamente colocado em liberdade.

2) SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO (CARÁTER


CONDENATÓRIO)

228
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar
ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

ESTUDO DAS MEDIDAS SOCIO-EDUCATÍVAS

STJ SÚMULA: 108 A APLICAÇÃO DE MEDIDAS SOCIO-EDUCATIVAS AO


ADOLESCENTE, PELA PRATICA DE ATO INFRACIONAL, E DA
COMPETENCIA EXCLUSIVA DO JUIZ.

Da Advertência (art. 112, I c/c 115)

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a


termo e assinada. (bastam indícios de indicação de autoria e materialidade)

Da Obrigação de Reparar o Dano(art. 112, II c/c 116)

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade


poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o
ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.

Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser


substituída por outra adequada.

Da Prestação de Serviços à Comunidade(art. 112, III c/c 117)

Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas


gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em
programas comunitários ou governamentais.

229
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente,


devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou
à jornada normal de trabalho.

Da Liberdade Assistida (art. 112, IV c/c 118 e 119) – dá-se em caso da procedência da
ação.

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais
adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual


poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a
qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
orientador, o Ministério Público e o defensor.

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade


competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:

I...

Do Regime de Semi-liberdade (art. 112, V c/c 120)

Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou


como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades
externas, independentemente de autorização judicial.

§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que


possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as


disposições relativas à internação. (máximo de 3 anos)

O juiz pode decretar desde o início a semi-liberdade em razão do princípio da


excepcionalidade STJ. Não pode ser em estabelecimento prisional.

Da Internação

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos


princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.

230
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica


da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser


reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.

§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.


(EXETO NO ART. 122 III)

§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser


liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.

§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.

§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial,


ouvido o Ministério Público.

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: (TAXATIVO)

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a


pessoa;

II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; (PARA O STJ,


REINTERAÇÃO É NO MÍNIMO APÓS A PRÁTICA DO TERCEIRO ATO
INFRACIONAL. NÃO SE DEVE CONFUNDIR COM REINCIDÊNCIA)

III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente


imposta.

§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser
superior a três meses . (trata-se de exceção à regra de 3 anos)

STJ HC 99565 RJ- No caso de concurso de atos infracionais, aprazo máximo de


internação é contado para cada ato infracional de forma isolada, sendo que a medida
expira-se automaticamente ao completar o infrator 21 anos (desinternação obrigatória e
automática). Entende-se então que o adolescente poderá ficar internado por 9 anos ao
máximo, desde que tenha 12 anos.

§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida


adequada.

A gravidade do ato infracional, por si so não autoriza a aplicação da medida de


internação. (tráfico internacional pela primeira vez praticado)

Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para


adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa
separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.

231
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão


obrigatórias atividades pedagógicas.

VII –(MEDIDAS DE PROTEÇÃO) qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

MEDIDAS SOCIO-EDUCATIVAS

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e


ao adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime


hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e


tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

MEDIDA CAUTELAR DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA (corresponde prisão


preventiva no processo penal)

Trata-se de internação em medida cautelar antes da sentença.

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de
45 dias (prazo fatal e improrrogável). Mesmo que seja complexo o caso.

Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios


suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

PRECRIÇÃO DE ATO INFRACIONAL

STJ SÚMULA 338 A PRESCRIÇÃO PENAL É APLICÁVEL NAS MEDIDAS


SÓCIO-EDUCATIVAS.

Por analogia as regras do CP.

232
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

A prescrição da pretensão punitiva (em verdade, medida sócio educativa) é calculada


sobre a pena máxima cominada ao crime ou contravenção a que corresponde o ato
infracional).

A prescrição da pretensão executória:

1) se foi decretada por prazo indeterminado prescreve em 3 anos (pois é o prazo


máximo de internação);

2) se foi aplicada por prazo determinado, prescreve nos prazos do art. 109 CP.

Obs: tanto o prazo da PPP e o da PPE são reduzidos pela metade, tendo em vista se o
infrator terá sempre menos de 21 anos na data do fato.

CP Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70
(setenta) anos.

CRIMES PRATICADOS CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.

______________________________________________________________

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da
autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.

OBS Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.

Se a finalidade da privação for outra, outro crime haverá (extorsão mediante sequestro).

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Elemento subjetivo é o dolo. Não se pune a forma
culposa. Objeto jurídico: a liberdade de locomoção. Consumação e tentativa:
consumação com a simples privação da liberdade da vítima. Tentativa é possível.

_____________________

233
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou


adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

A apreensão é legal, mas permanecendo silente a autoridade, esta incorrera em crime.


Trata-se de crime omissivo puro ou próprio não admitindo tentativa. Caso haja atraso,
sem justa causa na comunicação ao juiz sem justa causa, incorre a autoridade na prática
do crime. Trata-se de crime próprio. Se forem agentes policiais, resta cometido o crime
do 230. Elemento subjetivo é o dolo. Não se admite a forma culposa. Ex: se o delegado
por esquecimento praticar a conduta. Bem jurídico protegido: a proteção à liberdade de
locomoção da vítima. Consumação: com a omissão.

_________________

Crime de tortura praticado contra criança ou adolescente aplica-se a lei especial (lei
9.455/97 Art. 1° §4°, II da lei de tortura.

__________________________

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em
virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto (fito
específico):

Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Elemento normativo: só há o crime se o responsável tem a guarda legal ou judicial da


criança ou adolescente. Se o responsável somente tem a guarda de fato da criança ou do
adolescente, não há falar em crime.

Sujeito ativo: qualquer pessoa inclusive o pai ou mãe destituído do poder familiar ou
tutor privado da tutela ou da guarda.

Crime de subtração de incapaz do art. 249 CP: . 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou
interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial
(diferencia-se do ECA no que tange o dolo no 237 o agente tem o dolo de subtrair
acrescida a finalidade específica de colocar o menor em lar substituto, já no cp não há
finalidade especial):

Elemento subjetivo é o dolo. Objeto jurídico: o direito do menor ficar sobre a guarda de
quem o tutela.

Crime de dupla subjetividade passiva: sujeito passivo também será aquele que detém a
guarda. A consumação se dá com a subtração da criança com a finalidade de se coloca-
la noutro lar. Crime material. Tentativa: faz-se possível se o agente não consegue
subtraí-la com o fito de novo lar.

No 249 CP é cabível perdão judicial se o menor é devolvido sem ter sofrido maus tratos
ou privações. No eca não é cabível ao 237.

234
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

_________________________________________

ENVIO IRREGULAR E ENVIO MERCENÁRIO

Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou


adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
obter lucro: (restou revogado o art. 245 parágrafo 2° do CP)

Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.

QUALIFICADORA

Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à


violência.

Trata-se a qualificadora de Concurso material obrigatório ou necessário (doutrina)


Responde pela forma qualificada do crime mais o crime correspondente à violência. A
fraude se dá se o agente ativo diz que a criança vai fazer tratamento médico no exterior
e na verdade vende a criança. Objeto jurídico: proteção da criança ou adolescente bem
como a sua família.

Consumação: dá-se com a simples prática do ato destinado ao envio da criança para o
exterior, ainda que o envio efetivamente não ocorra (Crime formal ou de consumação
antecipada). Comprar passagem ou tentar embarcar já resta configurado o crime
consumando. Tentativa: a doutrina determina a sua possibilidade quando se trata de
crime plurisubsitente. Competência: justiça federal.

PEDOFILIA ART. 240

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer
meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer
modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput
deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro
grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a
qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.
- resta saber que essa redação do artigo foi dado pela lei 11.829/08, sendo importante tal
quadro comparativo:
ANTES DA LEI 11.829/08 DEPOIS DA LEI 11.829/08
- Condutas: produzir e dirigir; - Condutas: produzir +
reproduzir + dirigir + fotografar +
filmar + qualquer outro meio;

235
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

- Objeto material: representação - Objeto material: cena de sexo


teatral + televisiva + explícito ou pornográfica;
cinematográfica + atividade
fotográfica + qualquer meio
visual com criança ou adolescente
em cena pornográfica, de sexo
explícito ou cena vexatória;
- Elemento normativo: - Elemento normativo:
utilizando-se de criança ou envolvendo criança ou
adolescente; adolescente;
- Pena: reclusão de 2 a 6 anos + - Pena: reclusão de 4 a 8 anos +
multa; multa;
- Figuras equiparadas: - Figuras equiparadas: agenciar,
contracenar com a vítima; facilitar, recrutar, coagir ou de
qualquer modo intermediar a
participação da vítima nas cenas
+ contracenar com a criança ou
adolescente;
- sujeito ativo do crime: qualquer pessoa, mas se for as pessoas do §2º, a pena será
aumentada de 1/3 (ver rol no artigo);
- o crime deve ser praticado na modalidade dolosa, mas não exige a finalidade de lucro.
Na redação anterior também não se exigia finalidade de lucro, mas ela agia como uma
qualificadora, mas atualmente não é mais, devendo (segundo a doutrina) ser utilizada
como circunstância judicial desfavorável;
- a consumação se dá com a prática de qualquer uma das condutas do tipo, tratando-se
de crime de perigo abstrato e formal, sendo a tentativa perfeitamente possível;
- pode haver concurso de crimes entre um dos crimes do ECA e algum dos crimes
contra o costume (aquele que contracena com menor de 14 anos pode responder
também por estupro de vulnerável);

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
ANTES DA LEI 11.829/08 DEPOIS DA LEI 11.829/08
- Condutas: apresentar, vender, - Condutas: vender ou expor à
produzir ou publicar por qualquer venda fotografia, vídeo ou outro
meio de comunicação, fotografias registro que contenha as cenas;
ou imagens com cenas
pornográficas ou de sexo
explícito;
- Objeto material: cenas - Objeto material: fotografia,
pornográficas ou de sexo vídeo ou outro registro contendo
explícito; as cenas;
- Pena: reclusão de 2 a 6 anos + - Pena: reclusão de 4 a 8 anos +

236
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

multa; multa2;
- sujeito ativo do crime: qualquer pessoa, mas se for alguém que prevaleça do cargo ou
função pública o crime é qualificado;
- elemento subjetivo: é o dolo, não se exigindo a finalidade de lucro;

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
- esse crime foi tacitamente revogado pelo art. 16, parágrafo único, inciso V da lei
10.826/03 (Estatuto do Desarmamento);

Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer
forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.
- as condutas são: vender, fornecer gratuitamente, ministrar (introduzir no organismo da
vítima, injetar) ou entregar de qualquer forma;
- elemento normativo do tipo: sem justa causa, sem motivo justificado;
- objeto material: produtos cujos componentes possam causar dependência física ou
psíquica (basta que um componente apenas da substância possa causar tal efeito);
- se a substância que causa dependência física for droga, da portaria 344/98, haverá
crime de tráfico de drogas. É uma subsidiariedade expressa no próprio tipo penal, assim,
aplicável o tipo somente se o fato não constitui crime mais grave;
- servir bebida alcoólica para criança configura esse crime? Embora bebida
alcoólica possa causar dependência, o art. 61 da LCP (decreto lei 3.688/41)
considera contravenção penal servir bebida alcoólica à criança (pena de prisão
simples de 2 meses a 1 ano ou multa). Para o STJ, servir bebida alcoólica à criança
ou adolescente configura contravenção penal e não o crime previsto no art. 243 do
ECA (nesse sentido: RE 942.288/RS de 2008);
- sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
- elemento subjetivo do tipo é o dolo;
- a tentativa é perfeitamente possível (tentar vender, tentar ministrar);

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o
desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:
Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa.
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local
em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput
deste artigo.
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e
de funcionamento do estabelecimento.
- a conduta é de submeter (impor coativamente ou moralmente) a vítima à prostituição
ou à exploração sexual. Prostituição são atos sexuais habituais com a finalidade de
lucro, enquanto a exploração sexual se refere à atos sexuais isolados com a finalidade de
2
.

237
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

lucro (diferença feita por Guilherme de Souza Nucci). Na prostituição portanto, o crime
é habitual, já na exploração sexual não.
- o sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, inclusive os pais ou responsáveis da
vítima. Se a prostituição ou exploração ocorrer em estabelecimentos comerciais,
também responderá pelo crime o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
estabelecimento;
- o elemento subjetivo do crime é o dolo, não existindo a forma culposa. Guilherme de
Souza Nucci faz uma observação importantíssima: a finalidade de lucro não precisar ser
para o próprio infrator, uma vez que muitas vezes o lucro se destina á própria vítima;
- a consumação se dá com a simples submissão da criança ou do adolescente à
prostituição ou exploração, não se exigindo que haja prejuízo à formação moral dela,
portanto, estamos diante de um crime formal;
- segundo Guilherme de Souza Nucci, admite-se tentativa, portanto, é melhor dizer que
na modalidade de crime habitual não se admite tentativa;

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali
tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
internet.
§ 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a
infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de
julho de 1990.
- esse foi acrescentado no ECA pela lei 12.015/09 e revogou o delito de corrupção de
menores da lei 2.252/54 (a lei foi toda revogada pela lei 12.015/09);
- o sujeito ativo nesse crime é qualquer pessoa;
- já o sujeito passivo é o menor de 18 anos – vale lembrar que para grande parte da
doutrina é o menor de 18 anos não corrompido, uma vez que se o menor já estiver
corrompido, haverá crime impossível;
- a conduta é de corromper (perverter) a vítima ou facilitar a corrupção (perversão) da
vítima. Esse é um tipo penal de conduta vinculada, uma vez que ocorre quando o
infrator pratica infração penal com a vítima ou induz a praticá-la;
- o termo “infração penal” abrange tanto o crime como a contravenção;
- o elemento subjetivo é o dolo, não existindo previsão culposa para o delito em tela;
- discute-se se tal crime é material ou formal: segundo a corrente majoritária no STF e
no STJ o crime é formal, consumando o crime quando o infrator pratica a infração com
o menor ou induz a praticá-lo, mesmo que ele não fique efetivamente corrompido (nesse
sentido: RE 880.795/SP de 2007). Considerando o crime como material, ele só se
consuma se houver a efetiva corrupção do menor. Segundo Rogério Greco, o crime é
material no verbo “corromper” e formal no verbo “facilitar a corrupção”;
- ao induzir o menor a cometer crime hediondo ou praticar o crime hediondo com o
menor, a pena é aumentada de 1/3;

238
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

CRIMES ELEITORAIS

Conceitos
São todas as violações das normas que disciplinam as diversas fases e operações
eleitorais e que têm por objeto jurídico proteger a liberdade de exercício do direito de
sufrágio, bem como a regularidade e lisura do processo eleitoral e que estejam
tipificadas na legislação eleitoral.
“se a ação do agente for manifestamente com escopo eleitoral, eleitoral será o crime;
caso contrário, o crime será comum” (José Joel Cândido).
“Crime eleitoral consiste em todo fato descrito como típico na legislação pertinente, que
atenta contra bens jurídicos dessa natureza” (STJ CC 81.711)

Características
Dos conceitos acima pode-se extrair algumas características do crime eleitoral, tais
como:
1) Tem uma finalidade eleitoral;
2) Viola um bem jurídico eleitoral;
3) Está tipificado na legislação eleitoral.
Crimes eleitorais específicos ou puros: são aqueles que só podem ser praticados na
órbita eleitoral (art. 289 do CE – inscrever-se fraudulentamente como eleitor).
Crimes eleitorais acidentais: são aqueles que estão previstos na legislação eleitoral e
também na legislação comum (não eleitoral), caracterizando-se como crimes eleitorais
quando praticados com propósitos eleitorais (ex.: arts. 324 a 326 do CE – crimes de
calúnia, injúria e difamação com fins eleitorais).
A divisão acima é dada por Nelson Hungria e adotada pela maioria da doutrina.

Legislação
A maioria dos crimes eleitorais está no Código Eleitoral. No entanto, há alguns
crimes que não estão previstos no CE, mas sim em leis especiais.

Lei 9.504/97 – “Lei das eleições”


Antes desta lei, havia uma lei para cada eleição. Sob o aspecto penal, isso
significava uma lei temporária, cujos efeitos se exauriam logo após o período eleitoral.
Com o advento da Lei 9.504/97, todas as eleições passaram a ser por ela reguladas. Por
essa razão esta lei é chamada de “lei das eleições”.
Esta lei não tem um capítulo especificamente criminal; os crimes eleitorais nela
previstos estão disseminados em todo o seu texto.
A Lei 9.504/97 revogou expressamente diversos crimes antes previstos no CE.

DOS CRIMES PREVISTOS NA Lei 9.504/97

Pesquisa fraudulenta – art. 33, § 4º


§ 4º A divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com detenção de seis
meses a um ano e multa no valor de cinqüenta mil a cem mil UFIR.

Sabe-se que uma pesquisa convenientemente divulgada pode alterar o resultado


de um pleito, daí a sua necessária tutela por uma lei que se intitula lei das eleições. A
pesquisa eleitoral foi regulamentada no art. 33. No § 4º está o tipo penal.

239
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Sujeitos do crime
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive quem não tenha participado ou
elaborado a pesquisa, uma vez que a conduta punível é DIVULGAR a pesquisa, e não
realizá-la ou elaborá-la.
Sujeito passivo é o eleitorado, que tem direito a uma informação eleitoral
verdadeira, e o candidato eventualmente prejudicado pela pequisa fraudulenta. Assim,
trata-se de crime de DUPLA SUBJETIVIDADE PASSIVA, pois há dois sujeitos
passivos.
Nos termos do art. 35, é também sujeito ativo do crime o responsável legal da empresa
ou entidade que fez a pesquisa e da que a veiculou.
Ressalte-se, como nos demais crimes societários, que o responsável legal pela
empresa só pode ser punido se tiver agido com dolo, ou seja, se tinha consciência que a
pesquisa divulgada era fraudulenta. Isto porque responsabilizar penalmente o
representante legal da empresa apenas por ele ostentar essa qualidade significaria
responsabilização objetiva, sem dolo e sem culpa.
Trata-se da “denúncia genérica”, rechaçada pela jurisprudência do STJ e STF, uma vez
que essa denúncia é inepta, por não descrever suficientemente a conduta, inviabilizando
o exercício da ampla defesa.

Elementos do tipo
Divulgar é tornar pública. Para o prof. José Joel Cândido, para que se configure
o crime, deve haver a uma divulgação ampla a todo o eleitorado ou a uma parte
considerável dele; a divulgação restrita não configura o crime, pois não é capaz de
influenciar no resultado da eleição.
A divulgação pode ocorrer por qualquer meio de comunicação (imprensa falada e
escrita, e-mail, comícios, etc.).
O objeto material do crime é pesquisa fraudulenta, ou seja, a pesquisa na qual os
dados coletados são manipulados ou adulterados. Nos dados adulterados, o método
empregado na pesquisa foi correto, mas os dados obtidos foram alterados. Já dados
manipulados ocorre quando a pesquisa induziu o cidadão a expressar determinada
resposta.
Segundo a Desembargadora Federal Suzana de Camargo Gomes, a divulgação de
pesquisa inexistente também configura o crime.
O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, a vontade de divulgar a pesquisa
sabendo-a fraudulenta. NÃO HÁ MODALIDADE CULPOSA.
Consumação e tentativa
A consumação se dá com a mera divulgação, ainda que a pesquisa não ocasione
interferência alguma no resultado eleitoral, isto é, não se exige um resultado
naturalístico. Por isso, estamos diante de um crime formal, ou de consumação
antecipada.
A tentativa é possível, se o agente não consegue divulgar a pesquisa por circunstâncias
alheias à sua vontade.
____________________________________________________

Impedir/dificultar a fiscalização das pesquisas pelos partidos - art. 34, § 2º


§ 2º O não-cumprimento do disposto neste artigo ou qualquer ato que vise a retardar,
impedir ou dificultar a ação fiscalizadora dos partidos constitui crime, punível com
detenção, de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à
comunidade pelo mesmo prazo, e multa no valor de dez mil a vinte mil UFIR.

240
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Os partidos políticos têm o direito de fiscalizar a realização das pesquisas eleitorais (art.
34, § 1º). O ato de impedir ou dificultar essa fiscalização configura o crime previsto no
art. 34, § 2º.
As condutas são: retardar, impedir, não permitir ou dificultar, criar obstáculos sem justa
causa a ação fiscalizadora dos partidos sobre as pesquisas eleitorais.
Essa fiscalização pode ser efetuada pelo partido político DEPOIS de autorizado pela
Justiça Eleitoral.
A ação fiscalizadora dos partidos compreende todos os atos previstos no § 1º.
ATENÇÃO: embora haja uma ordem judicial da justiça eleitoral autorizando os partidos
a fiscalizarem a realização da pesquisa, o impedimento a essa fiscalização não configura
desobediência, mas sim o crime em questão, tendo em conta o princípio da
especialidade.
____________________________________________________

Realização de propaganda eleitoral no dia da eleição e crime de boca de urna – art.


39, § 5º, I a III (com a redação dada pela Lei 11.300/06)

Art. 39. A realização de qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral, em recinto


aberto ou fechado, não depende de licença da polícia.

§ 5º Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a um


ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e
multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR:

I - o uso de alto-falantes e amplificadores de som ou a promoção de comício ou


carreata;

II - a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca de urna;

III - a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de


seus candidatos. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009)
Sujeitos do crime
Sujeito ativo é qualquer pessoa.
Sujeito passivo são o Estado e os eleitores.
O objeto jurídico protegido é a normalidade dos trabalhos eleitorais no dia da eleição,
ou a garantia da “ordem pública eleitoral” (JJ Cândido), além do direito do eleitor de
votar livremente, sem influências ou constrangimentos.
Elementos do tipo
As condutas são usar auto-falante, amplificadores de som, realizar comícios ou
carreatas.
E as passeatas? A doutrina diz que se a passeata for realizada com aparelhos sonoros
haverá o crime.
Para JJ Cândido, o horário de proibição não se limita ao horário de votação, mas sim
durante TODO o dia da eleição. Isto porque o que se resguarda no tipo não é somente a
tranqüilidade das eleições, mas também a ordem pública eleitoral. Mas isso não é
pacífico, tendo em vista que o TER/PR considerou atípica a conduta de espalhar
folhetos pela rua durante a madrugada anterior às eleições, quando as seções de votação
ainda estavam fechadas

Inciso II

241
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

II - a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca de urna; (Redação dada pela


Lei nº 11.300, de 2006)
Arregimentar é conseguir eleitores no dia da eleição.
Essa arregimentação pode se dar mediante fraude, violência, coação, constrangimento,
aliciamento, etc.
“Boca de urna” é realizar propaganda próximo a locais de votação.
As Resoluções TSE n. 20.106/98 e 14.708/94 dizem o seguinte: “não caracteriza
o crime do art. 39, § 5º, II, da Lei 9.504/97, a manifestação individual e silenciosa de
preferência do cidadão por partido, coligação ou candidato, incluída a que esteja no
próprio vestuário ou se expresse no porte de bandeira, ou a utilização de adesivos em
veículos ou objetos de que tenha a posse”.
Se o agente sair com som alto em seu carro, tocando o “jingle” de determinado
candidato ou partido, isso caracterizará o crime do inciso I, pois está se utilizando de
auto-falante.

Observações comuns aos crimes do art. 39, § 5º, I a III

Se o eleitor estiver usando cartazes, broches ou dísticos não é crime, mas sim
manifestação silenciosa.

Local do crime: com exceção da boca de urna, os crimes dos incisoa I a III podem
ocorrer em qualquer local, e não somente nas proximidades das seções eleitorais, uma
vez que o tipo penal não contém essa elementar.

Momento do crime: os crimes previstos nos incisos I a III só podem ocorrer NO DIA
DA ELEIÇÃO.
Elementos subjetivo é o dolo.
A consumação se dá com a realização de qualquer das condutas previstas nos
incisos I a III, ainda que não acarretem nenhuma vantagem ou prejuízo a determinado
candidato ou partido. Assim, trata-se de crime formal ou de consumação antecipada.
A tentativa é possível
____________________________________________________

Utilização de símbolos, frases ou imagens de entes públicos na propaganda


eleitoral, ou que lhe sejam assemelhados – art. 40

Art. 40. O uso, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens, associadas ou


semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa pública ou sociedade de
economia mista constitui crime, punível com detenção, de seis meses a um ano, com a
alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor
de dez mil a vinte mil UFIR.

Sujeito ativo é qualquer pessoa.


Sujeitos passivos são o Estado e o eleitorado.
A conduta é “usar”, que está empregada no sentido de ter a posse ostensiva, visível a
terceiros.
O objeto material do crime são frases ou imagens (ex.: logotipos ou slogans de governo)
semelhantes às utilizadas por órgãos de governo, empresa pública ou sociedade de
economia mista.
O uso da frase ou imagem deve ocorrer durante a propaganda eleitoral.
Elemento subjetivo é o dolo.

242
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

A consumação se dá pelo simples uso da frase ou imagem na propaganda eleitoral,


independentemente de influenciar ou não eleitor.
A tentativa é possível, se o infrator não consegue fazer o uso da frase ou imagem.
Todavia, para JJ Cândido, o crime só ocorre se houver uma propaganda em larga escala,
maciçamente divulgada, e não propagandas de cunho individual (ex.: o candidato portar
um distintivo do governo em sua roupa), uma vez que tais condutas são incapazes de
induzir o eleitor a associar o candidato ao poder governamental.
____________________________________________________

DOS CRIMES PREVISTOS NA LEI COMPLEMENTAR 64/90

Arguição de inelegibilidade ou impugnação de candidatura temerária ou de má-fé


– art. 25

Art. 25. Constitui crime eleitoral a argüição de inelegibilidade, ou a impugnação de


registro de candidato feito por interferência do poder econômico, desvio ou abuso do
poder de autoridade, deduzida de forma temerária ou de manifesta má-fé:

Pena: detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa de 20 (vinte) a 50


(cinqüenta) vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN) e, no caso de sua
extinção, de título público que o substitua.

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.


Sujeitos passivos são o Estado e o candidato ou pretendente a candidato.
As condutas puníveis são duas:
- argüir inelegibilidade. Aqui, há apenas um pedido de candidatura, que é impugnado
sob a arguição de que o requerente é inelegível, ou seja, que ele não preenche os
requisitos de inelegibilidade. A vítima, portanto, é um pré-candidato.
- impugnar registro de candidatura. Aqui, o pedido de candidatura já foi deferido; a
pessoa já é candidato registrado. O agente impugna o próprio registro, argumentando
que o candidato não preenche os requisitos para concorrer às eleições.
É possível a impugnação a registro de candidatura, no prazo de 5 dias após a publicação
do pedido (art. 3º). Um direito não pode ser considerado crime.
Entretanto, a conduta punível é a impugnação sob uma das seguintes formas:
- com abuso de poder econômico;
- com desvio ou abuso de poder;
- de forma temerária;
- com manifesta má-fé.
Aqui, a intenção do agente não é o exercício regular de um direito, mas sim impedir
ilegalmente que alguém se torne candidato ou mantenha-se candidato.
O crime consiste em argüir ou impugnar, sem qualquer elemento fático ou probatório
que demonstre a inelegibilidade do pré-candidato ou candidato.
Elemento subjetivo é o dolo. Para Suzana de Camargo Gomes, na forma temerária o
dolo é eventual.
OBS.: recentemente, o STF admitiu que o crime de gestão temerária pode ser praticado
na forma culposa. Analogicamente, pode-se concluir que é possível a forma culposa
para a impugnação de forma temerária de que trata o presente tipo penal.
A consumação se dá no momento em que é apresentada na justiça eleitoral a argüição
ou a impugnação.
A tentativa é possível, se o agente não consegue fazer a impugnação ou a argüição.

243
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

DOS CRIMES PREVISTOS NO CÓDIGO ELEITORAL

O Código Eleitoral, quando trata dos crimes eleitorais, possui uma parte geral (arts. 283
a 288), e uma parte especial, que trata dos crimes em espécie (arts. 289 e seguintes).
O art. 283 traz um conceito de funcionário público eleitoral para fins penais.
Assim, são considerados como funcionários públicos eleitorais:
- os juízes eleitorais, que são aqueles designados pelo TRE como responsáveis por
determinada zona eleitoral;
- qualquer outro juiz designado pelo TRE ou TSE, que esteja realizando uma função
eleitoral específica;
- os cidadãos que temporariamente integram os Órgãos da Justiça Eleitoral;
- os mesários (tanto aqueles que ficam na seção recebendo os eleitores ou aqueles que
atuam na junta de apuração);
- funcionários públicos requisitados pela Justiça Eleitoral.
§ 1º: é qualquer pessoa que exerça uma função pública, ainda que gratuita e
passageiramente, pertença ou não aos quadros da administração pública.
Funcionário público por equiparação (§ 2º): funcionários de paraestatais ou sociedade
de economia mista.

Pena mínima do crime eleitoral, quando não cominada no tipo – art. 284

Art. 284. Sempre que êste Código não indicar o grau mínimo, entende-se que será
ele de quinze dias para a pena de detenção e de um ano para a de reclusão.

Sempre que o Código Eleitoral não cominar a pena mínima ao crime, fixando apenas o
limite máximo, ela será de 15 dias, se for de detenção, ou de 1 ano, se for de reclusão.
Assim, conclui-se que todos os crimes eleitorais têm pena mínima cominada. Ou ela
estará no próprio tipo penal incriminador ou estará cominada no art. 284 do Código
Eleitoral.
Exemplo: o art. 349 prevê apenas o limite máximo. Logo, o limite mínimo é o previsto
no art. 284.
___________________________

Causas de aumento de pena – art. 285

Art. 285. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da pena sem mencionar o
"quantum", deve o juiz fixá-lo entre um quinto e um terço, guardados os limites da pena
cominada ao crime.

As causas de aumento ou de diminuição de pena, quando não tiverem seus patamares


previstos no próprio tipo penal, serão fixadas entre 1/5 e 1/6. ATENÇÃO:
diferentemente do CP, no Código Eleitoral as causas de aumento e de diminuição não
podem ultrapassar os limites mínimo e máximo da pena cominada ao crime.

Pena de multa – art. 286

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 286. A pena de multa consiste no pagamento ao Tesouro Nacional, de uma


soma de dinheiro, que é fixada em dias-multa. Seu montante é, no mínimo, 1 (um) dia-
multa e, no máximo, 300 (trezentos) dias-multa.

Os tipos penais incriminadores já cominam a quantidade de dias-multa para o crime


(ex.: o art. 289 prevê de 15 a 30 dias-multa).
Cada dia-multa não pode ser inferior a 1 salário mínimo regional, nem superior a 1
salário mínimo nacional. Como atualmente não existe mais salário mínimo regional,
mas apenas o nacional, conclui-se que o dia-multa equivale a 1 salário mínimo, já que o
dia-multa não pode ser inferior nem superior a este.
O juiz deve considerar o salário mínimo da data do crime ou da data da sentença? Como
o CE é omisso, aplica-se subsidiarimaente o CP, que determina que o juiz deve
considerar o salário mínimo vigente na DATA DO CRIME, com atualização monetária
desde a data do crime, pois se trata de dívida de valor, incidindo, portanto, desde a data
do fato. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ.
O juiz pode triplicar a multa máxima prevista no tipo penal, se ela for ineficaz em
virtude da situação econômica do condenado, desde que esse aumento não ultrapasse os
trezentos dias-multa previstos no caput do art. 286. Ex.: no crime do art. 289, a pena de
multa pode chegar até a 45 dias-multa (15 x 3), levando-se em consideração a situação
econômica do agente.
____________________________________________________

Aplicação subsidiária do CP ao CE – art. 287

Art. 287. Aplicam-se aos fatos incriminados nesta lei as regras gerais do Código
Penal.

No que o CE for omisso, aplicam-se subsidiariamente as normas do CP. Ex.: normas


sobre prescrição. Nesse sentido: STF-HC 84.152.

Especialização dos crimes eleitorais – art. 288

Art. 288. Nos crimes eleitorais cometidos por meio da imprensa, do rádio ou da
televisão, aplicam-se exclusivamente as normas dêste Código e as remissões a outra lei
nele contempladas.

Os crimes eleitorais praticados por meio da imprensa, do rádio ou da televisão,


prevalecem sobre os crimes previstos em outras leis.
Vale lembrar quanto a ADPF 130 que considerou não recepcionada a lei de imprensa
em sua inteireza.
Se um candidato caluniar outro em pleno período eleitoral, em um programa de TV,
aplica-se o CE, tendo em vista os fins eleitorais visados pelo agente.
____________________________________________________

Dos crimes eleitorais previstos no CE


Inscrever-se fraudulentamente eleitor – art. 289

Art. 289. Inscrever-se fraudulentamente eleitor:

245
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Pena - Reclusão até cinco anos e pagamento de cinco a 15 dias-multa.

Sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive o eleitor já alistado que solicite a transferência
de seu título.
Sujeito passivo é o Estado.
Objeto jurídico é a licitude do alistamento eleitoral.
Tipo objetivo: a conduta é inscrever-se, que não é o mesmo que alistar-se. A inscrição é
apenas uma fase do alistamento eleitoral.
O alistamento eleitoral, que está disciplinado nos arts. , é um complexo de atos que pode
ser dividido em duas fases:
1ª fase – entrega do requerimento para ser eleitor, com a apresentação dos documentos
pertinentes;
2ª fase – análise dos documentos e diligências necessárias, com o deferimento ou
indeferimento do pedido.
Assim, o alistamento eleitoral começa com a inscrição do eleitor e a expedição do título
de eleitor, com a inclusão do seu nome no rol de eleitores.
O crime em estudo não é alistar-se fraudulentamente, mas sim INSCREVER-SE
fraudulentamente. Logo, ele ocorrerá na primeira fase do alistamento eleitoral, ou seja,
quando a pessoa formula o requerimento para ser eleitor fraudulentamente.
Elemento normativo do tipo: consiste na expressão fraudulentamente. O
expediente fraudulento pode se dar de diversas maneiras (ex.: apresentação de
documento falso quanto à idade, nacionalidade, local de residência, ou qualquer outro
dado essencial ao alistamento). O estrangeiro que tenta se passar por brasileiro usando
documentação falsa comete esse crime.
Um menor entre 16 e 18 anos que apresenta documento falso pratica ato
infracional.
A forma mais comum desse crime é a apresentação de falsa declaração de domicílio,
uma vez que o CE dispõe que o alistamento ocorra no domicílio da pessoa.
Domicílio, para fins eleitorais, compreende não só o local onde a pessoa reside, mas
qualquer local onde ela possua um imóvel (ex.: a casa de veraneio possibilita a inscrição
como eleitor no local em que ela estiver localizada).
Para a professora Suzana, basta uma vinculação patrimonial.
Esse entendimento é adotado pela jurisprudência, que dá ao domicílio eleitoral um
aspecto bem maior que aquele do Código Civil.
Se a pessoa tiver vários domicílios em locais diferentes, poderá se inscrever em
qualquer um deles.

TRANSFERÊNCIA:
O local da residência deve ser considerado no momento da inscrição. Isso
significa que não haverá o crime se a pessoa declarar o endereço onde realmente reside
e depois vier a mudar-se sem transferir o seu título.
O crime ocorre quando a pessoa solicita a transferência fraudulenta do título
eleitoral, uma vez que o pedido de transferência de título eleitoral é considerado como
pedido de nova inscrição. Assim, há o crime tanto no caso da primeira inscrição
fraudulenta como no caso da inscrição fraudulenta por transferência.
O art. 55 do CE dispõe que para a pessoa pedir a transferência de domicílio
eleitoral, ela deve estar residindo no domicílio há pelo menos 3 MESES. Caso o eleitor
peça a transferência antes desse período, a jurisprudência entende que não há crime,
desde que seja verdadeira a informação prestada.

Quanto à consumação, há duas correntes: opus nova aula

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

1ª corrente: o crime se consuma com a simples apresentação do requerimento


fraudulento de inscrição, mesmo que a inscrição não seja deferida e o título de eleitor
não seja expedido (Suzana de Camargo Gomes). Outro argumento é que o mero
comprovante expedido antes do título já possibilita ao eleitor o exercício do voto.
2ª corrente: o crime só se consuma quando o título de eleitor é expedido, com o
deferimento do pedido. Isto porque antes da expedição do título, a pessoa não assume a
condição jurídica de eleitor, portanto o crime ainda não está consumado, pois a lei fala
em “inscrever-se”. Além disso, a conduta punida é inscrever-se, e não requerer a
inscrição (Muniz de Aragão).
A tentativa é possível, por se tratar de crime plurissubsistente (a conduta criminosa ser
fracionada em vários atos).

PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE: esse crime (art. 289) prevalece sobre o crime do


art. 350, que tipifica o crime de falsidade ideológica eleitoral, uma vez que o art. 289
possui uma finalidade específica, sendo norma especial em relação ao art. 350.
Segundo a doutrina, o crime do art. 289 absorve os crimes de falsidade documental.
____________________________________________________

Induzir alguém a se inscrever eleitor com infração de qualquer dispostivo do CE –


art. 290

Art. 290 Induzir alguém a se inscrever eleitor com infração de qualquer dispositivo
dêste Código.

Pena - Reclusão até 2 anos e pagamento de 15 a 30 dias-multa.

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o próprio alistando, pois este será o autor
do crime do art. 289.
Sujeito passivo é o Estado e a pessoa induzida pelo infrator.
A objetividade jurídica tutelada é a licitude do alistamento eleitoral.
A conduta típica é “induzir alguém”, que significa convencer mediante fraude, ardil. A
conduta do infrator deve ser individualizada, ou seja, dirigida a uma pessoa
determinada.
O tipo penal também pune aquele que induz a vítima a transferir ilegalmente o seu título
de eleitor.
E quanto à prestação de auxílio material (levar a pessoa até o cartório eleitoral para que
ela se inscreva)? Segundo a doutrina, não configura o crime, pois não está incluído na
expressão “induzir”.
O elemento subjetivo é o dolo, não se exigindo nenhuma finalidade específica.
O crime se consuma com o mero induzimento, ainda que o induzido não consiga
inscrever-se como eleitor.
A tentativa não é possível, pois a conduta de induzir é unissubsistente, esgotando-se em
um único ato (TSE HC 80).
____________________________________________________

Efetuar o juiz fraudulentamente a inscrição de alistando – art. 291

Art. 291. Efetuar o juiz, fraudulentamente, a inscrição de alistando.

Pena - Reclusão até 5 anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Sujeito ativo é o juiz eleitoral ou o juiz não eleitoral que esteja desempenhando alguma
função específica eleitoral por designação do tribunal eleitoral (art. 283, I). O crime é
próprio, só podendo ser praticado por juiz; mas é possível a participação de terceiro
(TSE HC 5.718).
Sujeito passivo é o Estado.
Elementos do tipo: efetuar a inscrição, que não se confunde com o alistamento, como
visto. Quanto à elementar “fraudulentamente” aplica-se o que foi dito em relação ao art.
289.
O elemento subjetivo é o dolo, sem nenhuma finalidade específica.
A consumação se dá com a inscrição fraudulenta, ou seja, a expedição do título de
eleitor e sua eventual utilização configuram mero exaurimento do crime.
A tentativa é possível, se o juiz não consegue efetivar a inscrição fraudulenta do
alistando.
____________________________________________________

Reter título eleitoral contra a vontade do eleitor – art. 295

Art. 295. Reter título eleitoral contra a vontade do eleitor:

Pena - Detenção até dois meses ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.

Vide art. 91, parágrafo único, da Lei 9.504/97, que pune a mesma conduta. Mas o art.
295 do CE NÃO foi revogado. Assim, subsistem ainda os dois tipos, com a
diferenciações abaixo.
Art. 295 do CE
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma qualidade especial do
sujeito ativo. Crime comum, portanto.

Sujeito passivo é o eleitor prejudicado pela retenção do seu título.

Objeto jurídico tutelado é o direito do eleitor votar e possuir o seu título para utilizá-lo
em finalidades não eleitorais.

A conduta típica é “reter contra a vontade do eleitor”. Reter é se apossar do título contra
vontade do eleitor, que pode se opor a essa retenção expressa ou tacitamente. Mas caso
a retenção seja autorizada pelo eleitor o fato será atípico.

O objeto material do crime é o título eleitoral.

CONFLITO APARENTE DE NORMAS: o art. 91, parágrafo único, da Lei 9.504/97


também considera crime a retenção de título eleitoral ou de comprovante de alistamento
eleitoral.

Diferenças entre os dois tipos (art. 295 do CE X art. 91, parágrafo único da Lei das
Eleições):

Lei 9.504/97 Art. 91. Parágrafo único. A retenção de título eleitoral ou do comprovante
de alistamento eleitoral constitui crime, punível com detenção, de um a três meses, com
a alternativa de prestação de serviços à comunidade por igual período, e multa no valor
de cinco mil a dez mil UFIR.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 295 do CE Art. 91, parágrafo único, da Lei 9.504/97


- O crime só se configura se a retenção - O crime caracteriza-se pela simples não
ocorrer contra a vontade do eleitor; entrega do título ao eleitor sem motivo
justificável;
- O crime pode ocorrer em qualquer - O crime só pode ocorrer durante o processo
momento, inclusive depois de já de alistamento eleitoral;
expedido o título eleitoral;
- Pode ser cometido por qualquer - Só pode ser praticado por servidor eleitoral,
pessoa (crime comum); na esfera do serviço eleitoral.

O elemento subjetivo (em ambos os tipos) é o dolo, não se exigindo nenhuma finalidade
específica.
Quanto à consumação, há divergência na doutrina.
Para JJ Cândido, o crime só se consuma se o eleitor não conseguir votar em razão da
retenção de seu título.
Para Suzana de Camargo Gomes, no entanto, o crime se consuma com a simples
retenção do título, ainda que o eleitor não fique impedido de votar. Além disso, com a
retenção o eleitor pode até votar, mas não conseguirá utilizar o documento para outros
fins não eleitorais. É o que prevalece.
A tentativa é possível, quando o infrator não consegue ter a posse tranqüila do título
retido.
____________________________________________________

Impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio – art. 297

Art. 297. Impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio:

Pena - Detenção até seis meses e pagamento de 60 a 100 dias-multa.

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.


Sujeito passivo é o eleitor impedido de exercer o sufrágio.
Objetividade jurídica é a proteção ao direito de sufrágio.
As condutas punidas são duas: impedir (impossibilitar) ou embaraçar (criar obstáculos,
dificuldades). Ambas as condutas podem ser praticadas por ação ou omissão.
Podem ser cometidos não só durante as eleições, mas também em plebiscitos e
referendos, pois nestes também é exercido o direito de sufrágio.
Elemento subjetivo é o dolo de violar o direito de sufrágio, sem qualquer finalidade
específica. No entanto, se a finalidade for beneficiar ou prejudicar determinado
candidato ou partido, haverá o crime do art. 301, tendo em conta o princípio da
especialidade.

Art. 301. Usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar, ou não votar,
em determinado candidato ou partido, ainda que os fins visados não sejam conseguidos:

Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.

A consumação (297) se dá quando a vítima é impedida ou embaraçada no direito de


sufrágio.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

A tentativa é possível, se o infrator não consegue impedir ou criar dificuldades para a


vítima de votar. E se o agente cria dificuldades, mas mesmo assim o eleitor conseguir
votar? O crime já estará consumado, na modalidade de “embaraçar”, uma vez que o
simples ato de atrapalhar já configura o crime.
____________________________________________________
Prender ou deter eleitor, membro de mesa receptora, fiscal, delegado de partido ou
candidato, com violação do disposto no art. 236 – art. 298

Art. 298. Prender ou deter eleitor, membro de mesa receptora, fiscal, delegado de
partido ou candidato, com violação do disposto no Art. 236:

Art. 236. Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48 (quarenta e
oito) horas depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo
em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime
inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto.

Pena - Reclusão até quatro anos.

Estamos diante de um tipo penal remetido, que é aquele que se remete a outro
dispositivo de lei.

POSSIBILIDADE DE PRISÃO:
Do eleitor Dos mesários, fiscais e Dos candidatos
delegados de partido
Durante 5 dias antes até 48 Durante o exercício de suas 15 dias antes das eleições,
horas depois das eleições, funções, só pode ser preso só podem ser presos em
pode ser preso: em flagrante delito, por flagrante afiançável ou
- em flagrante delito; ou crime afiançável ou inafiançável.
- condenação, ainda que inafiançável. Não podem ser presos em
sujeita a recurso, por crime Não pode ser preso em nenhuma outra situação
inafiançável; nenhuma outra situação (condenação, prisão
- por desrespeito a salvo (condenação, prisão preventiva, etc.).
conduto. preventiva, etc.). Após as eleições, aplicam-
Não pode ser preso: Se estiverem fora de suas se-lhes as regras relativas
- por prisão preventiva ou funções, aplicam-se-lhes as aos eleitores.
temporária; regras relativas aos
- por condenação a crime eleitores.
afiançável.

A consumação se dá com a simples prisão fora das hipóteses regulamentadas pelo art.
236, não sendo necessário ocorrer prejuízo ao eleitor.
A tentativa é possível se o agente não consegue efetuar a prisão ilegal.
__________________________________________
Corrupção ativa e passiva eleitoral – art. 299

250
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro,
dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou
prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:

Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.

O TSE já decidiu reiteradas vezes que esse tipo penal englobas as condutas de
corrupção ativa e corrupção passiva.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, em ambas as formas. Diferente do CP, em que o
sujeito ativo só pode ser funcionário público.
O sujeito ativo não precisa ser candidato ou eleitor (ex.: um estrangeiro).
Entretanto, se o sujeito ativo for candidato, ele estará cometendo também a infração
administrativa de CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO (art. 41-A da Lei 9.504/97).
Sujeito passivo é o Estado e também o candidato ou partido prejudicado pelo crime.
As condutas punidas são dar, oferecer, prometer solicitar ou receber. Não está incluída a
conduta de exigir, prevista no crime de concussão do CP.
“Qualquer outra vantagem” pode ser de natureza econômica ou não, legal ou ilegal.
A conduta precisa ser dirigida a uma pessoa determinada. Promessas genéricas de
campanha, dirigidas ao eleitorado em geral, não configuram este crime.
O crime só existirá se a conduta for praticada com uma das seguintes finalidades
específicas: a) obter voto, b) dar voto, c) conseguir abstenção de voto ou d) prometer
abstenção de voto.
O crime existirá mesmo que a vantagem seja insignificante (ex.: doação de uma cesta
básica, de um par de chinelos, etc.).
Hipóteses em que o crime não se caracteriza, segundo os tribunais:
- realizar sorteio de bens entre assistentes em comício eleitoral;
- distribuição de brindes, com finalidade exclusiva de propaganda, sem caráter negocial
(bonés, camisetas, chaveiros, etc.);
- promessa de vantagem para comparecimento em comício;
a conduta não precisa ser cometida nas vésperas ou no dia da eleição.
Pode ser cometida no período compreendido entre a data do registro da candidatura e o
dia das eleições.
O STF decidiu em 2007 que a compra de votos por pré-candidato configura o crime,
tenha ele sido ou não escolhido como candidato pelo partido (INQ. 2197).
Elemento subjetivo é o dolo, acrescido de uma das finalidades previstas no tipo.
A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas do tipo, mesmo que não
seja obtida a finalidade pretendida, ou mesmo que a oferta seja recusada. Trata-se de
crime formal, ou de consumação antecipada.
A tentativa é possível nas condutas de “dar” e “receber”. Nas demais condutas, é
possível a tentativa na forma escrita.
____________________________________________________

Promover concentração de eleitores - art. 302

Art. 302. Promover, no dia da eleição, com o fim de impedir, embaraçar ou fraudar
o exercício do voto a concentração de eleitores, sob qualquer forma, inclusive o

251
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

fornecimento gratuito de alimento e transporte coletivo: (Redação dada pelo Decreto-


Lei nº 1.064, de 24.10.1969)

Pena - reclusão de quatro (4) a seis (6) anos e pagamento de 200 a 300 dias-multa.
((Redação dada pelo Decreto-Lei nº 1.064, de 24.10.1969)

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, ainda que não candidato ou integrante de
partido.
Sujeitos passivos são os eleitores prejudicados no direito de votar.
Objeto jurídico é a liberdade de voto.
As condutas punidas são:
- promover a concentração de eleitores, de qualquer forma, seja, mediante violência,
coação ou fraude.
- fornecer alimento gratuito, com a finalidade de promover concentração de eleitores.
- fornecer transporte gratuito, com a finalidade de promover concentração de eleitores.
-Onde está escrito “e” a doutrina lê “ou”, bastando que ocorra uma ou outra das
condutas (o fornecimento gratuito de alimento e transporte coletivo).
O elemento subjetivo é o dolo de promover a concentração de eleitores,
necessariamente acrescido de uma das seguintes finalidades:
- impedir o exercício do voto;
- embaraçar o exercício do voto;
- fraudar o exercício do voto.
Momento do crime: só há o crime se a conduta for praticada NO DIA DA ELEIÇÃO
(elemento temporal do tipo).
A consumação se dá no momento em que ocorre a concentração dos eleitores, ainda que
a finalidade pretendida não seja obtida, ou seja, ainda que o agente não consiga impedir,
embaraçar ou fraudar o exercício do voto.
A tentativa é possível, se o infrator não consegue concentrar os eleitores.
Crimes do art. 11 da Lei 6.091/74
Art. 11, III, c/c art. 5º, caput – pune a conduta de realizar transporte de eleitores, desde o
dia anterior até o dia posterior ao dia das eleições, com a finalidade de obter vantagem
eleitoral. A simples carona sem finalidade eleitoral não configura o crime.
Art. 11, III, c/c art. 8º - esse crime pode ocorrer em qualquer época, e não somente no
período do crime acima.
Art. 11, III, c/c art. 10 – também pode ocorrer em qualquer época, e não somente no dia
das eleições.
- artigo 11, III, combinado com o artigo 5º da lei 6.091/74 -> pune o transporte ilegal de
eleitores desde o dia anterior até o dia posterior a eleição. Resta saber se essa lei
derrogou (revogou parcialmente) o artigo 302 do Código Eleitoral no que se refere ao
transporte de passageiros? José Joel Cândido entende que sim, mas a maioria disse que
não, uma vez que no artigo 302 o crime somente se configura se houver concentração de
eleitores, já no artigo 11, inciso III da lei 6.091/74 o crime se consuma com o mero
transporte. O delito do artigo 302 do Código Eleitoral somente pode ser praticado no dia
da eleição, já o delito do artigo 11, inciso III da lei 6.091/74 pode ser praticado um dia
antes e até um dia após a eleição
____________________________________________________

Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem – art. 309

Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem:

252
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Pena - reclusão até três anos.

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive quem não é eleitor
Sujeito passivo é o Estado e o eleitor prejudicado.
Mesmo que não haja o dolo de fraudar as eleições, haverá o crime, pois ocorrerá o
impedimento de um eleitor exercer o seu voto (STJ CC 81.711).
O crime pode se configurar de quatro formas:
- votar, por si, mais de uma vez;
- tentar votar, por si, mais de uma vez;
- votar, em lugar de outrem, uma ou mais vezes;
- tentar votar, em lugar de outrem, uma ou mais vezes.
O elemento subjetivo é o dolo. Não se pune a forma culposa. Ex.: se um eleitor
analfabeto pegar o título de seu irmão pensando ser o seu, haverá delito putativo por
erro de tipo.
A consumação se dá com o ato de votar ou tentar votar mais de uma vez ou em lugar de
outrem.
Não há possibilidade da forma tentada, pois a simples tentativa já configura o crime. É o
que a doutrina chama de CRIME DE ATENTADO.
____________________________________________________

Propaganda eleitoral inverídica – art. 323

Art. 323. Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inveridicos, em relação a


partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado:

Pena - detenção de dois meses a um ano, ou pagamento de 120 a 150 dias-multa.

Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é cometido pela imprensa, rádio ou


televisão.

Há três tipos de propaganda eleitoral:


1) Propaganda eleitoral partidária: é aquela efetuada pelos partidos políticos, visando
divulgar os programas partidários.
2) Propaganda pré-eleitoral: propaganda intrapartidária, que ocorre quando o partido
está escolhendo o candidato. Não pode ser feita ao público, pois configuraria
antecipação de campanha eleitoral.
3) Propaganda eleitoral propriamente dita (estrictu sensu): é aquela dirigida ao
eleitorado, visando convencê-lo a votar em determinado candidato ou partido.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive quem não seja candidato ou ligado a
partido.
Sujeito passivo é o candidato ou partido prejudicado com a inverdade.
Objeto jurídico é a proteção do direito dos eleitores de não receber propaganda eleitoral
falsa, ou seja, o direito à correta informação eleitoral.
A conduta punida é divulgar fatos inverídicos que sejam capazes de exercerem
influencia perante o eleitorado. É necessário que os fatos tenham essa qualidade, ou
seja, divulgar fato inverídico que seja incapaz de influenciar o eleitorado não configura
o crime.
“Na propaganda eleitoral” – o crime deve ocorrer durante o período de propaganda
eleitoral (elemento normativo do tipo).

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

A divulgação de fatos inverídicos positivos ao candidato também configura o crime,


pois o objeto jurídico tutelado é o direito do eleitorado à informação eleitoral
verdadeira.
Elemento subjetivo é o dolo direto. Não há punição nem do dolo eventual e nem da
culpa.
A consumação se dá com a simples divulgação do fato inverídico com potencial para
influenciar o eleitorado, ainda que não o influencie.
A tentativa é possível, se o agente não consegue divulgar o fato inverídico.

Obs.: há, neste resumo, a análise dos principais tipos penais. Faz-se importante a leitura
das lei em comento.

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

DIREITOS HUMANOS

A dos direitos humanos no plano internacional é feita por meio de sistemas. Há dois
sistemas:
1) Sistema Global (admitido pela ONU)
Formado por 4 instrumentos principais: 1) Carta da ONU 1945 (deflagra todo os
processos regionais para a proteção aos direitos humanos. A carta da ONU não previu a
processualísticas não definindo o direitos que deveriam ter sido tutelados.

2) Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948): nos traz um standard


determinando os direitos humanos em 30 artigos, um preâmbulo e 7 considerandos,
determina sum tutela bibartite: em sua primeira parte restam caracterizados os direitos
civis e políticos (de primeira dimensão) e na segunda parte direitos econômicos, sociais
e culturais (de segunda dimensão). Na Declaração Universal negligenciou quanto à
processualística necessária sem mecanismos processuais para a tutela dos direitos ali
postulados diante os foros internacionais.

3) Pacto Internacional do Direitos Civis e Políticos – Pacto de Nova Iorque (1966):


existe no sistema regional e global e concomitantemente.

4) Pacto Internacional do Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – Pacto de Nova


Iorque (1966): existe no sistema regional e global e concomitantemente.

Há uma data precisa do nascimento de tal sistema (1945). São três os momentos
históricos da proteção internacional dos direitos humanos (marcos históricos ou gênese):
a) Convenções de Genebra sobre direito humanitário. O termo “humanitário” não se
confunde com o termo “humanos”. Direito humanitário é uma proteção específica dos
direitos humanos que se refere às pessoas em situação de conflitos bélicos – é o direito
das guerras. Tal convenção foi um verdadeiro marco em que se passou a reconhecer
direitos humanos aos indivíduos que estivessem fora de seu território em caso de guerra.
b) Liga das Nações. Trata-se do segundo marco referente ao reconhecimento dos
direitos humanos, em âmbito internacional, em situação de guerra ou não. Não teve
muito sucesso na prática, mas teve o seu valor reconhecido doutrináriamente, pois tinha
bons propósitos.
c) Organização Intenacional do Trabalho (1919)
---
Os precedentes acima deram como contribuição uma mudança de foco das agendas
internacionais dos países, passando os direitos humanos a ter lugar destaque em quase
todas as convenções.
2) Sistemas Regionais: há 4 no mundo, pertencentes ao Sistema Internacional:
- Sistema Europeu;
- Sistema Asiático;
- Sistema Africano;
- Sistema Interamericano

O sistema global é formado por quatro instrumentos básicos, os quais possuem os seus
respectivos correspondentes nos sistemas regionais, conforme se vê abaixo no paralelo
entre o sistema global (ONU) e o sistema regional interamericano (OEA).

255
DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Sistema global (ONU) Sistema Regional Interamericano (OEA)


1) Carta da ONU (1945) – é o instrumento 1) Carta da OEA (Pacto de Bogotá) 1948.
básico da proteção internacional dos Inaugura o sistema regional de proteção.
direitos humanos. Fala indistintamente em
direitos humanos e liberdades
fundamentais.
2) Declaração Universal dos Direitos 2) Declaração Americana de Direitos
Humanos (Paris), que nasceu com o Humanos (1948). Dois meses mais velha
propósito de positivar uma definição de do que a Declaração Universal dos
direitos humanos, uma vez que na Carta Direitos Humanos, não prevendo
da ONU falava-se em direitos mas não mecanismos procesuais para a
havia um definição legal. A estrutura da concretização da tutela dos direitos
DUDH é binária ou bipartite, divide-se em
2 partes; a primeira parte trata dos direitos
de liberdade (1 geração) – direitos civis e
políticos; a segunda parte trata dos direitos
de igualdade (2 geração) – direitos
econômicos sociais e culturais. Vê-se que
a DUDH mescla duas vertentes:
pensamento liberal do século XVIII e
pensamento social do século XIX. Em
função dessa mescla, modernamente,
afirma-se que a DUDH rechaçou a teoria
que divide os direitos humanos em
gerações, pois todos eles foram tratados
conjuntamente na DUDH. A falha da
DUDH é que ela somente previa os
direitos mas não previa as garantias
relativas a esses direitos. A natureza
jurídica da DUDH, formalmente, é de
resolução da ONU; materialmente, ela é
uma recomendação internacional – não é
um tratado intenacional.

3) Convenção Americana dos Direitos


3) Pacto Internacional dos Direitos Civis e Humanos (Pacto de San José da Costa
Políticos (San José da Costa Rica). O Rica) 1969. O direito material nela
Brasil não ratificou o que é impeditivo previsto é basal em relação a CF/88, mas
para que um cidadão brasileiro a busque. no que tange a processualística de relevo
para os estudos.

A CADH é um paralelo do PIDCP. Só


trata unicamente dos direitos civis e
políticos. Não há nela disposições sobre
direitos sociais.

A CADH é um protocolo facultativo.

4) Pacto Internacional de Direitos 4) Protocolo Facultativo à Convenção

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

Econômicos, Sociais e Culturais Americana de direitos Humanos em


Ambos os pactos acima foram celebrados matéria de Direitos Econômicos, Sociais e
em New York (1966). Tais pactos têm em Culturais (Protocolo de San Salvador)
comum a criação de obrigações para os 1988. Esse protocolo complementa o
Estados; a diferença é que o segundo Pacto de San José disciplinando agora os
pacto tem uma atuação programática. direitos sociais.
Foram criados o meios para
monitoramento das infringências de
direitos humanos: sistema de queixa
internacional (um Estado pode se queixar
de outro perante a ONU), e sistema de
relatórios.

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS – Pacto de São


José da Costa Rica (1969)
Foi um tratado assinado em 1969. Entretanto, houve a previsão de que ele só entraria
em vigor após o 11º instrumento de ratificação, o que só foi obtido em 1978, quando
então entrou em vigor internacional. EM 1969 Convenção Americana de Direitos
Humanos Ratificado no Brasil e 1992 O Brasil só aceitou a competência quanto aos
contenciosos da corte interamericana em 1998 Decreto Legislativo 89/98.

No Brasil, ela foi ratificada em 1992, pelo Decreto 678.


O caso Maria da Penha NÃO foi julgado pela Corte Interamericana. Por 8 anos sequer
teve o inquérito policial relatado e concluso.
Em 1998, o Brasil, por meio do Decreto Legislativo n.89/98 aceitou a jurisdição
contenciosa da Corte Interamericana. A partir daqui é que o Brasil passou a poder sofrer
sanções em virtude de violações de direitos humanos.

Estrutura da CADH
1) Sob o aspecto formal: formalmente, a CADH possui duas partes (bipartite).
Na primeira parte, são estabelecidos os direitos dos cidadãos americanos protegidos,
que são os direitos civis e políticos.
Na segunda parte, a CADH prevê os mecanismos necessários à sua implementação na
prática. Nessa parte são enumerados os meios de implementação, destacando-se a
criação de dois órgãos:
- Comissão Interamericana de Direitos Humanos
- Corte Americana de Direitos Humanos.

Destacam-se os seguintes tratados que complementam o sistema interamericano:


-O protocolo à CADH referente à abolição da pena de morte (1990);
-Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura (1985);
-Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher
(1994), também conhecida como Convenção de Belém do Pará. Essa Convenção
recomendou ao Brasil que criasse uma lei de violência familiar contra a mulher, que
hoje foi feita através da Lei 11.343/06. DE TODAS, FOI A QUE TEVE MAIOR
ACEITAÇÃO ENTRE OS PAÍSES AMERICANOS, SENDO ADOTADA POR 31
PAÍSES.
-Convenção Interamericana sobre o tráfico internacional de menores (1994).
-Convenção Interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação
contra as pessoas portadoras de deficiência (1999).

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DIREITO PENAL: LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE - Delegado Federal 2012

EFEITO CLIQUET DOS DIREITOS HUMANOS: é a vedação do retrocesso dos


direitos humanos, também chamada de proibição de regresso.
No Brasil, em caso de guerra declarada, é possível a pena de morte. Se eventualmente
essa possibilidade for abolida, ela não poderá ser reaberta no futuro, tendo em vista o
princípio da proibição do retrocesso.

Ver STF RE 466.343.


Principio pro-homine. Com base nesse principio, entende-se revogados os dispositivos
na legislação processual civil que regulamentam a prisão civil por divida no caso do
depositário infiel. Teoria do diálogo das fontes em busca da norma mais favorável.

A Comissão Interamericana é anterior ao Pacto de San Jose da Costa Rica (1969). Ela
foi criada em 1948 com a OEA iniciando as atividades em 1960. No entanto, a comissão
foi encampada pela CADH para funcionar realizando um juízo de prelibação (recebe a
peça exordial ), enquanto que a Corte Interamericana faria o juízo de mérito (libação).

A) Para que ocorra a atividade da Corte, requer o prévio esgotamento dos recursos da
jurisdição doméstica, mas se restar provado que o esgotamento dos recursos internos
revela-se penalizador à vítima tendo em vista a morosidade, a Corte Internacional tem
mitigado tal requisito. Há falar no caso Maria da Penha que em 9 anos sequer obteve
sentença em primeiro grau.

B) Prazo decadencial de 6 meses após a decisão doméstica (caso houver decisão). A


comissão age como substituto processual perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos agindo a Comissão em nome próprio em defesa de direito de terceiro com
ação de responsabilização do Estado por desrespeito a direito civil. Vale lebrar que a
Corte nasce junto ao Pacto de San José sendo órgão jurisdicional do sistema
interamericano capaz de condenar os Estados por violação de direitos humanos
perpetrada por qualquer pessoa sujeita a sua jurisdição (assim um polonês que teve seu
direito violado no Brasil será sujeito de direito para o pleito). Sete juízes participam da
corte não sendo necessariamente de Estado que tenha ratificado o Pacto. A sentença
exarada pela corte será cumprida pelo Estado condenado de forma “sponte própria”.

Em relação à Corte Interamericana há um desdobramento funcional, uma vez que ela


funciona tanto como órgão da OEA quanto como órgão da CADH.

Em quais casos a comissão interamericana ainda funciona como órgão da OEA?


Para os países que não ratificaram o pacto de san Jose da costa rica e Convenção
Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher (1994),
também conhecida como Convenção de Belém do Pará

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