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Musica Dos Povos Indigenas Do Maranhao PDF
Musica Dos Povos Indigenas Do Maranhao PDF
Resumo: Estudo preliminar acerca da música indígena maranhense. Trata-se de uma manifestação da arte
indígena ainda pouco estudada e de riqueza imensurável. Abrange todos os povos indígenas que habitam o
Estado do Maranhão. Destaca-se um pouco da história e riqueza musical de cada um. A maneira de cantar e
tocar indígena serão destacados, bem como a necessidade de preservação.
Palavras-chave: Maranhão. Música. Povos indígenas. Preservação.
Abstract: Study about the Indian music from Maranhão State. It is a manifestation of Indigenous Art which has
been little studied and of immeasurable richness. It includes all the Indigenous peoples who inhabit Maranhão
State. It is emphasized a little of the history and musical richness of each one of them. The Indian way to sing
and play their instruments will be highligted, as well as its need of preservation.
Keywords: Maranhão. Music. Indigenous people. Preservation.
Resumen: Estudio preliminar sobre la música indígena de Maranhão. Esta es una manifestación del arte indi-
gena aún poco estudiada y de riqueza inconmensurable. Cubre todos los pueblos indígenas que habitan en el
Estado de Maranhão. Se destaca un poco de historia y riqueza musical de cada uno. La forma de cantar y tocar
de los indígenas se puso de relieve, así como la necesidad de su conservación.
Palabras clave: Maranhão. Musica. Pueblos indígenas. Preservación.
dar voz a uma divindade ou a uma entidade tida com um bastão. Os tambores indígenas
mítica. A sonoridade marcante será destacada geralmente são resultados do sincretismo;
e analisada, bem como a função musical inse- acredita-se que, entre os povos indígenas bra-
rida em algum rito. sileiros, não são comuns os tambores. Encon-
Utilizaremos imagens de instrumentos musi- tramos, então, o tambor d’água, o tambor de
cais das diversas etnias que habitam o Maranhão cerâmica e o tambor de pele.
que podemos dividir, conforme Ayron Dall’Igna
Rodrigues (1986) em: Tupi (Tenetehara, Awá/ 3 A MÚSICA DOS POVOS
Guajá, Urubu-Kaapor) e Jê/Timbira (Canela INDÍGENAS DO MARANHÃO
Rankokamekrá e Apanyekrá, Gavião Pukobyê,
Krikati e Krepu’m Kateyê). Esses instrumentos, 3.1 Instrumentos musicais e de sinalização
aqui classificados, descritos e analisados, bem
como os diversos cantos e suas funções ritualís- De acordo com a classificação de Berta
ticas merecem destaque pela beleza e complexi- Ribeiro (1988) realizam o acompanhamento na
dade com que são executados. música indígena maranhense os instrumentos
A pesquisa foi realizada, parte através de do tipo idiofone e aerofone.
fontes secundárias, e parte através do contato
direto com os grupos indígenas em vários mo- 3.1.1 Os idiofones
mentos e, principalmente, durante a semana do
Encontramos entre os povos indígenas
índio, em abril de 2008, ocasião em que foram
maranhenses, como idiofones, um tipo de
realizadas entrevistas, gravações de peças mu-
chocalho globular conhecido genericamente,
sicais, fotografias e durante a qual participamos
em todo o território brasileiro, como maracá e
da oficina “Mito e Música”, ministrada pelos pró-
alguns tipos de chocalho aberto.
prios índios Tenetehara e Krikati.
É importante lembrar que alguns instru- Alfred Metraux (1979, p. 60) fala do maracá en-
mentos sonoros indígenas não são neces- contrado entre os Tupinambá como um instrumento
sariamente musicais: funcionam como si- relacionado aos espíritos e utilizado pelos pajés:
nalizadores. Esses instrumentos, conforme O maracá servia de receptáculo ao espírito. Esse
classificação de Ribeiro (1988, p. 193-212), instrumento musical era formado por uma caba-
ça na qual se introduziam sementes ou pedras.
são divididos basicamente em quatro grupos Fazia o papel dos chocalhos. Conservavam-no
genéricos: Aerofones, Cordofones, Idiofones e na mão, ou fixavam no chão com o auxílio de
Membranofones. uma flecha que o atravessava de lado a lado e
cuja extremidade tinha sido enfeitada com tufos
São classificados como aerofones os instru- de pluma de arara. A veneração pela qual era
mentos que emitem som a partir do sopro em tido o maracá assim como seu caráter eminen-
temente sagrado, repousava na crença de que o
um determinado receptáculo (orifício) ou através
seu ruído reproduzia a voz dos espíritos.
da vibração em movimento. São flautas, apitos,
trompetes, instrumentos de palheta e zunidores. Entre os tupi, o maracá exerce uma
Cordofones são instrumentos que apre- função importante, especialmente em
sentam uma ou mais cordas estendidas e fixas relação aos rituais e à iniciação masculina,
em duas extremidades. O som é produzido onde o rapaz é iniciado a ser cantor, caçador
através das vibrações dessas cordas. Entre e, sobretudo, pajé:
os povos indígenas já é comum encontrarmos Através desse ritual os rapazes são iniciados na
violões e outros instrumentos de corda, devido cantoria, significando o poder de direção nos ri-
tuais e a posição social que irão ocupar. A pin-
ao sincretismo musical ao longo dos anos. No tura, com a introdução do vermelho, símbolo
entanto, os genuinamente indígenas são o da força, a entrega do capacete, sinal do poder,
do maracá, a voz dos espíritos; indicam que o
arco de boca, o arco musical e a viola.
homem exerce uma função importantíssimo na
Os idiofones são instrumentos musicais ou sociedade tenetehara e que essa posição lhe é
de sinalização que emitem som a partir da vi- dada por ser a descendência patrilinear. (ZAN-
NONI, 2002, p. 75).
bração da matéria com que são confecciona-
dos. São bastões de ritmo, paus entrechocan- Trata-se de um instrumento que possui, ba-
tes, chocalhos, reco-reco, sistro e tambores. sicamente, duas peças: um recipiente fechado,
Os membranofones possuem membrana fruto do cabaceiro, popularmente conhecido
acoplada a uma caixa que soa quando percu- pelo nome de cuité2, no qual são depositadas
diversas sementes em seu interior; e um cabo adorno feito com plumas coloridas de periqui-
de madeira que o atravessa no sentido longitu- tos, papagaios, xexéu, corrupião, arara etc., à
dinal, servindo de apoio para as mãos. O modo guisa de cocar que indígenas usam em rituais.
de confecção é bastante parecido em todos os Em alguns maracás Kaapor foram observados
povos indígenas maranhenses. adornos plumários também no cabo (Figura 2).
A cuité passa por um processo de limpeza
interna que pode durar vários dias. Após furada, Figura 2 – Peque-
coloca-se no seu interior água para amolecer no Maracá Urubu-
-Kaapor: Entre os
o miolo que está no seu interior e através de
Urubu-Kaapor en-
pedriscos, que são colocados junto com água, contramos um
passa-se a sacudir a cabaça até saírem todas maracá de peque-
no porte, no qual
as sementes. Esse processo pode durar vários
a cabaça possui
dias, dependendo da compactação do miolo. tamanho reduzido
Após limpa a cuité é colocada para secar. Enfim, e não há dese-
nhos. No entanto,
são inseridas várias sementes secas, as quais
o adorno plumá-
variam pelo tamanho e pelo som que se deseja Fonte: Acervo da Casa de Nhozi- rio fica em evi-
obter do instrumento, e finalmente é inserido nho/Foto: Pedro Paulo C. Moura dência
um cabo de madeira que perpassa a cuité.
A seguir, detalharemos o tipo de maracá
nas diferentes etnias. Os maracás tenetehara, encontrados
durante esta pesquisa, apresentaram somente
O maracá tupi decoração disposta em sentido vertical.
O maracá de povos maranhenses de língua Podemos também encontrar desenhos geomé-
Tupi (Guajajara e Urubu-Kaapor) apresen- tricos e também a representação de animais
ta semelhanças em sua confecção, formato e em estilo naturalista (Figura 3);
adornos. O fruto do cabaceiro, de formato se-
mi-esférico, depois de limpo e seco, é revesti-
do por uma camada de verniz negro, brilhante,
extraído de pau-santo3 (RIBEIRO, 1988, p.31).
Em seguida, o artista faz desenhos geomé-
tricos (em geral semicírculos) retirando esse
verniz, utilizando algum objeto pontiagudo,
como uma pintura em negativo, fazendo apa-
recer a cor da cabaça (Figura 1).
Figura 3 - Maracá Te-
netehara com dese-
nhos de coruja
Fonte: Acervo do
Centro de Pesquisa
de História Natural e
Figura 1 – Maracá
Arqueologia do Ma-
Urubu-Kaapor: Ma-
ranhão/Foto: Pedro
racá com desenhos
Paulo C. Moura
geométricos (semi-
círculos) dispostos no
sentido vertical e ho-
rizontal
Fonte: Acervo do
Centro de Pesquisa
de História Natural e
Arqueologia do Ma-
ranhão/Foto: Pedro
Paulo C. Moura
Figura 4- Ma-
racá Canela
O cabo é todo envolvido por um cordão de Rankokamekrá:
algodão que também, às vezes, é tingido com cabo liso e en-
talhado na par-
suco de jenipapo em partes alternadas distin-
te que entra no
tas. Na parte inferior, é colocada uma alça para orifício inferior
prender o maracá ao pulso do cantor, evitan-
do que o instrumento caia durante a canto- Fonte: Acervo Casa de Nhozinho.
Foto: Pedro Paulo C. Moura
ria. O maracá tupi traz, na parte superior, um
Figura 10 – Colar-
-flauta globular Canela
Rankokamekrá: O colar
é todo feito de miçangas
e apresenta formas ge- Figura 13 – Colar-
ométricas harmonizadas -apito Urubu-Kaapor:
em diferentes cores Colar adornado com
Fonte: Acervo da As- penas caudais de
sociação Carlo Ubbiali/ Arara Fonte: Acervo
Foto: Pedro Paulo C.
do Centro de Pesqui-
Moura
sa de História Natural
e Arqueologia do Ma-
Apitos ranhão /Foto: Pedro
Cumprem somente a função de sinalizado- Paulo C. Moura
res. Os Canela confeccionam um apito feito em
madeira, fixado a um colar (Figura 11). Flautas retas
Os Kaapor utilizam flautas retas. Apresen-
tam sete orifícios, sendo seis para digitação e
um para sopro. São feitas de bambu e podem
ou não apresentar decorações feitas com jeni-
Figura 11 – Colar-apito papo (Figura 14).
Canela Rankokamekrá:
Colar feito de fibra de
buriti ao lado de onde
pendem o apito e uma
franja de miçangas com
unhas de veado nas
pontas
Fonte: Acervo do Centro
de Pesquisa de História
Natural e Arqueologia do
Maranhão/Foto: Pedro Figura 14 – Flautas Urubu-Kaapor: Peças com decorações
Paulo C. Moura feitas com jenipapo. Fonte: Acervo da Casa de Nhozinho/
Foto: Pedro Paulo C. Moura
Figura 17 – Trom-
pete menor Canela
Figura 15 – Flautas Urubu-Kaapor: Flautas sem decoração Apanyekrá: Com reves-
Fonte: Acervo do Museu de Arqueologia e Paleontologia de timento decorado de fi-
São Luís/Foto: Pedro Paulo C. Moura bra de buriti
Fonte: Acervo do Centro
de Pesquisa de História
A afinação e sonoridade dessas flautas
Natural e Arqueologia do
(Figura 15) diferenciam-se bastante das que Maranhão /Foto: Pedro
conhecemos, mas podemos perceber um Paulo C. Moura
sistema de escalas e “embora obedeçam a
padrões musicais definidos, deixam ao artista O trompete transverso dos Krikati não foge
indígena Kaapor uma verdadeira margem à regra Timbira (Figura 18).
de improvisação de composição pessoais”
(SAMAIN, 1988, p. 3).
3.1.2.2 Os trompetes
Figura 16 - O trompe-
te maior Canela
Apanyekrá: Em uma
das extremidades o
orifício para sopro e
na outra o chifre de
boi, fixado com o pró-
prio fio que envolve o
cabo. Como adorno,
encontramos alguns
fios revestidos de mi-
çangas que conduzem Figura 19 – Trompetes Urubu-Kaapor:
a arranjos de cordéis De tamanhos variados, os trompetes
de algodão Urubu-Kaapor são revestidos por fibra
vegetal, podendo ou não ser tingidos
Fonte: Acervo da As- com a coloração do jenipapo
sociação Carlo Ubbiali
/Foto: Pedro Paulo C. Fonte: Acervo da Casa de Nhozinho/
Moura Foto: Pedro Paulo C. Moura
3.2 Os cantos
Claudio Zannoni
Doutor em Sociologia pela UNESP. Publicou o livro “Conflito e coesão:
o dinamismo tenetehara” e vários artigos em periódicos sobre o povo
indígena Tenetehara, especialmente sobre sua mitologia, tema da
tese de doutorado: “Mito e sociedade tenetehara”. Professor do
Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA, coordena
atualmente o Grupo de Pesquisa e o Projeto de Extensão: “A
contracultura dos anos de 1960 aos dias atuais”. Foi editor de 2003 a
2008 do periódico “Ciências Humanas em revista” (CCH/ UFMA) e
atualmente edita “Cadernos de Pesquisa” (PPPG/ UFMA). E-mail:
zanmaira@uol.com.br