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Neurociências

Revista

ISSN 0104-3579

Volume 16 Número 4 2008


Artigos
Bruxism as mechanism subserving hysteria: a new theory

Avaliação da fisioterapia sobre o equilíbrio e a qualidade de vida em pacientes


com esclerose múltipla

Qualidade de vida: análise comparativa entre crianças com distrofia muscular


de Duchenne e seus cuidadores

Variação dos níveis glicêmicos durante internação de pacientes não diabéticos


após Acidente Vascular Cerebral

Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor de crianças em Centros de


Educação Infantil em Concórdia

Análise cinemática da marcha em indivíduos com Acidente Vascular Encefálico

Tempo e qualidade de sono auto-informada versus alerta e atenção em


trabalhadores de dois turnos

Lesões em músicos: quando a dor supera a arte

Neuroinfecção humana por Trypanosoma cruzi

O conceito de sistema neurofuncional aplica-se à percepção de faces?

Síndrome da Cabeça Caída na Esclerose Lateral Amiotrófica: Relato de Caso

Influência do sobrepeso no controle postural em um lactente nascido a termo:


relato de caso

Agradecimento aos Avaliadores

In Memoriam

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Rev Neurocienc 2008;16/4 254


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Dezembro de 2008

Publicações da Revista Neurociências


1993, 1: 1 e 2
1994, 2: 1, 2 e 3
1995, 3: 1, 2 e 3
1996, 4: 1, 2 e 3
1997, 5: 1, 2 e 3
1998, 6: 1, 2 e 3
1999, 7: 1, 2 e 3
2000, 8: 1, 2 e 3
2001, 9: 1, 2 e 3
2002, 10: 1, 2 e 3
2003, 11: 1
2004, 12: 1, 2 , 3 e 4
2005, 13: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva)
2006, 14: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva)
2007, 15: 1, 2, 3 e 4
2008, 16: 1, 2, 3 e 4

Revista Neurociências — vol 16, n.4 (2008) — São Paulo: Grámmata Publicações e Edições
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ISSN 0104–3579

1. Neurociências;

255 Rev Neurocienc 2008;16/4


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Rev Neurocienc 2008;16/4 256


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índice

Revista Neurociências 2008


volume 16, número 4

editoriais

Bruxism as mechanism subserving hysteria: a new theory 259


Christian Ingo Lenz Dunker
Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor de crianças em Centros de Educação Infantil em Concórdia 261
Regina Maria França Fernandes

originais
Bruxism as mechanism subserving hysteria: a new theory 262
O bruxismo como um mecanismo na histeria: uma teoria nova
Omar F Molina, Marcus GS Peixoto, Zeila C Santos, Joaquim dos S Penoni, Raphael N Aquilino, Maria Aparecida S Peixoto
Avaliação da fisioterapia sobre o equilíbrio e a qualidade de vida em pacientes com esclerose múltipla 269
Evaluation of the physical therapy on the balance and on the quality of life in multiple sclerosis patients
Iclaikovski Farias Rodrigues, Mariângela Braga Pereira Nielson, Andresa Rosane Marinho
Qualidade de vida: análise comparativa entre crianças com distrofia muscular de Duchenne e seus cuidadores 275
Quality of life: a comparative analysis between children with Duchenne muscular dystrophy and their caregivers
Melissa Gonçalves, Viviana Dylewski, Anna Carolina X Chaves, Tatiana M Silva, Francis M Fávero, Sissy V Fontes, Maria Fernanda CR Campos, Acary SB Oliveira
Variação dos níveis glicêmicos durante internação de pacientes não diabéticos após Acidente Vascular Cerebral 280
Variation of glucose levels during hospitalization of non diabetic patients after stroke
Tania O Lopes, Sílvia de B Ferraz, Luis Fernando Lisboa, Adriana S Cypriano, Paulo DS Gonçalves, Fernando MS Coelho, Eliova Zukerman
Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor de crianças em Centros de Educação Infantil em Concórdia 284
Evaluation of neurological and psychomotor development in children from baby centers of Concórdia
Rubia do Nascimento, Valéria S Faganello Madureira, Jones Eduardo Agne
Análise cinemática da marcha em indivíduos com Acidente Vascular Encefálico 292
Gait cinematic analysis in subjects with cerebral Vascular Accident
Cristina Iwabe, Maria Angélica da Rocha Diz, Daniela Pinho Barudy
Tempo e qualidade de sono auto-informada versus alerta e atenção em trabalhadores de dois turnos 297
Sleep quality and total sleep time reported versus alertness and attention in shiftworkers
Moreno de Souza Rodrigues, Celena Maria Zani de Souza

revisões

Lesões em músicos: quando a dor supera a arte 303


Musician’s injuries: when pain overcomes art
Thaís Branquinho Oliveira Fragelli, Gustavo Azevedo Carvalho, Diana Lúcia Moura Pinho
Neuroinfecção humana por Trypanosoma cruzi 310
Human Neuroinfection by Trypanosoma cruzi
Rodrigo Siqueira-Batista, Andréia P Gomes, Diana Toledo-Monteverde, Glaciele Moraes-Martins, Marilia Majeski-Colombo, Jorge C Messeder, Vanderson E Antonio
O conceito de sistema neurofuncional aplica-se à percepção de faces? 316
Does the concept of neurofunctional system apply to face perception?
Ângela Salomão Macedo, Denise Campos, Guilherme Borges, Vanda Maria Gimenes Gonçalves

relato de caso

Síndrome da Cabeça Caída na Esclerose Lateral Amiotrófica: Relato de Caso 322


Dropped head syndrome in Amyotrophic Lateral Sclerosis: Case Report
Marco Orsini, Mariana P Mello, Fernando Cardoso, Osvaldo JM Nascimento, Gabriel R de Freitas, Marcos RG de Freitas
Influência do sobrepeso no controle postural em um lactente nascido a termo: relato de caso 326
Influence of the overweight in the postural control in a term newborn: case report
Silmara Regina Zutin de Andrade, Cristina Iwabe

Agradecimento aos Avaliadores 331


In Memoriam 333
Índice Remissivo 334

Rev Neurocienc 2008;16/4 258


editorial

Bruxism as mechanism subserving


hysteria: a new theory

O artigo Bruxism as mechanism subserving hysteria: a new theory constitui um ótimo argumento de como a semiologia clínica é o melhor
terreno para dirimir as hipóteses etiológicas e as formas de diagnóstico. Considerando-se a tendência, hegemônica desde o DSM-III, à
decomposição dos quadros clínicos em eixos independentes, à autonomização de sintomas e à flutuação transversal de signos, notamos
que a pesquisa em saúde mental, especialmente nos estudos mais clínicos, vem se caracterizando por estratégias investigativas que privi-
legiam a correlação de evidências em detrimento de sua organização diagnóstica. Assim há estudos sobre transtornos de personalidade
sem qualquer teoria abrangente do funcionamento da personalidade. A personalidade tornou-se assim um conceito operacional. Isso
abriu as portas para a produção de clusters, ou subgrupos de sintomas cada vez menores o que coloca em xeque a unidade clínica do
sintoma de origem. Por exemplo, encontrou-se uma estrutura tetra-fatorial para a alexitimia, ou seis clusters, para o Transtorno Obses-
sivo-Compulsivo, ora, isso coloca em dúvida a unidade nosológica destes quadros. No entanto esta decomposição é efeito do método
de segmentação do comportamento que se separa de qualquer pressuposto teórico sobre o funcionamento da personalidade. Este me-
todologismo traz consigo outro fenômeno anti-clínico, a saber, a produção de quadros que são metodologicamente consistentes e, no
entanto inúteis do ponto de vista diagnóstico.
Se na década de 80 criticava-se as categorias nas quais se baseavam os exames e procedimentos psicológicos acusando a sua
recorrente hipóstase circular de conceitos (ex: a inteligência é o que os testes medem e aquilo que os testes medem é a inteligência), hoje
esta forma de raciocínio expandiu-se para o conjunto das pesquisas que enfatizam o chamado Eixo II do DSM-IV (Transtornos da
Personalidade e Retardo Mental). Uma versão um pouco diferente deste problema é encontrada nas pesquisas que enfatizam o Eixo I,
uma vez que neste escopo costuma-se privilegiar investigações nas quais a circularidade inclui a responsividade à intervenção (ex. quais
transtornos de humor respondem a quais antidepressivos assumindo-se que a própria tipificação da depressão deva incluir suas formas
de reatividade à intervenção terapêutica). Rodrigues et al. observaram que este movimento traduz-se pela ênfase da pesquisa psiquiátrica
em dois tipos abrangentes de pesquisa, os estudos de tipo fenomenológico descritivo e os estudos que abordam correlações entre fenôme-
nos psicopatológicos e eventos de diversas ordens1. Deixam-se de lado, nesta medida, os estudos que aspiram a síntese de informações e
a investigação do curso e prognóstico dos quadros clínicos.
Ora, a presente pesquisa coloca-se de forma reversa a estas tendências, mostrando como é possível utilizar procedimentos
de avaliação sem recair na segmentação abrasiva e dispersiva do raciocínio clínico diagnóstico. Isso pode ser atribuído, em parte,
à característica estratégica de seu objeto: o bruxismo. Considerado a partir do Eixo I, o bruxismo poderia ser investigado como (a)
efeito secundário de um transtorno de ansiedade, (b) um transtorno somatoforme independente (c) um transtorno adjuvante do sono e
ainda, hipoteticamente, (d) um transtorno do impulso. Isso sem mencionar a potencial indução do fenômeno associada à ingestão de
substâncias. Ora, como notaram Goldman et al. a diversidade etiológica do bruxismo não deveria excluir sua integração à um modo
constante de responder a certas experiências2. O que nosso grupo de pesquisadores parece ter captado é que esta dispersão diagnóstica
do fenômeno é um efeito da fragmentação de uma única entidade clínica: histeria. Sua decomposição em diversos subgrupos clínicos, ao
modo de síndromes, sintomas e signos que se poderia estudar de forma autônoma e flutuante, produz. Daí que sua abordagem parta de
um deslocamento sutil do quadro conhecido como Transtorno da Personalidade Histriônica para a reintrodução da categoria de Personalidade
Histérica, ausente no DSM-IV3. A questão seria meramente nominal não fosse a conseqüência integrativa gerada pela reutilização desta
categoria, a saber:
(1) A justificação da distribuição extremamente desigual da amostra: 160 mulheres e 22 homens.
(2) A distinção entre os mecanismos causais primários (agressividade e hostilidade) dos efeitos secundários, mas não menos
importantes (hiper e hipo sensibilização à dor) e das séries clínicas associadas (dores de cabeça, dores nas costas, fibromialgia).
(3) O que leva à distinção semiológica crucial entre somatização, conversão e fenômenos psicossomáticos. As somatizações
correspondem a efeitos sistêmicos de hipo ou hiper estimulação (por exemplo, derivados do sistema imunológico), conversões corres-
pondem a formações simbólicas isoláveis segundo a hipótese da regressão de sentido e da fixação de gozo (por exemplo, mímesis de
processos orgânicos) e fenômenos psicossomáticos correspondem a déficits de simbolização associados com verdadeiras lesões de órgão
(por exemplo, como se verifica em afecções dermatológicas como vitiligo e psoríase).
(4) Ora, o que o estudo em questão percebeu bem é que o bruxismo ocorre ao modo do que antes chamávamos de síndrome, ou
seja, um aglomerado relativamente estável de signos e sintomas que incluem somatizações, formações de sintoma (conversão), ansiedade
e agressão.
(5) Uma vez realizada esta ilação clínica basta verificar que a severidade do bruxismo associa-se com a severidade de respostas
de tipo histérico. Ainda, que altos escores para histeria deveriam ser congruentes com altos escores tanto para o sintoma do bruxismo
quanto para o signo clínico da hostilidade. Finalmente, altos escores para histeria deveriam confirmar-se pelo aumento da sensibilidade
à dor, associada ao aparelho de mastigação.
(6) O MMPI e o Cook-Medley permitiram que tais hipóteses fossem verificadas, com especial relevância para a qualificação da dor.

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editorial
Pode-se discutir se as hipóteses hermenêuticas associadas à oralidade histérica ou ao mecanismo de produção de sintomas por
introversão da hostilidade ou por acentuação da culpa são de fato consistentes com as mais recentes pesquisas psicanalíticas sobre a
histeria. Seria uma temeridade concluir que o bruxismo é apenas um sintoma apendicular da histeria, é provável que muitas formas de
bruxismo não encontrem qualquer relação com a Personalidade Histérica e suas variantes. O fato clínico é que a piora do bruxismo (de
suave para severo) concorda com o direcionamento para a histeria. Aqui é possível atribuir esta limitação do estudo a uma definição
excessivamente operacional de histeria (baseada na presença de signos diacríticos e não no funcionamento psíquico), definição apesar
de tudo necessária para a consistência metodológica.
É preciso mencionar que o estudo em questão possui uma particularidade já observada por psicanalistas com relação à forma de
apresentação clínica preferencial da histeria. As grandes histéricas descritas por Freud4 com seus sintomas exuberantes e suas manifesta-
ções espetaculares encontram-se com menor freqüência a partir dos anos 19505. Ocorre que esta avaliação foi questionada por clínicos
que observaram que o declínio da aparição destas formas clínicas verifica-se principalmente nos grandes centros urbanos do ocidente.
Nas regiões com formas de sociabilidade mais tradicionais, em sociedades holistas e em certos ambientes rurais as antigas formas clíni-
cas da histeria continuavam presentes de forma recorrente. Ora, esta observação concorda com o fato de que a pesquisa apresentada
nos traz dados de uma região do país que confere com a contra-argumentação dos psicanalistas. Talvez esta seja também uma posição
vantajosa para recorrer ao pensamento clínico de forma menos segmentar e não obstante mais rigorosa do que se tem verificado nos
“grandes centros”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Christian Ingo Lenz Dunker


1. Rodrigues ACT, Banzato CEM. Estudos Psicopatológicos na Psi- Psicanalista, Professor Livre Docente do Departamento de Psicologia
quiatria Atual. Rev Latinoam Psicopatol Fund 2004;7(4):155-64. Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
2. Goldman MJ, Guthiel TG. Bruxism and sexual abuse. Am J Psychia-
tr 1991;1(48):8.
3. DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Men-
tais). American Psychiatric Association. Porto Alegre: Artmed, 2002,
880p.
4. Freud S. Estudos sobre Histeria (1893). In: Freud S. Obras Comple-
tas de Sigmund Freud V-III. Buenos Aires: Amorrortu, 1988.
5. Woerner PI, Guze SB. A Family and Marital Study of Hysteria. Bri
J Psychiatr 1968; 114:161-8.

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editorial

Avaliação do desenvolvimento
neuropsicomotor de crianças em Centros
de Educação Infantil em Concórdia

O desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) no decorrer da infância, em particular, no primeiro ano de vida, conta com
diversas ferramentas de avaliação, já consagradas na literatura e em livros-texto, que apresentam grande diversidade quanto ao seu
grau de complexidade e praticidade de aplicação. Embora tendo em vista objetivos similares de descrição do DNPM na infância, há
diferenças marcantes na prática clínica, quanto ao uso das ferramentas de avaliação, com enfoque em setores específicos do desenvol-
vimento, entre profissionais de saúde, como neurologistas infantis, pediatras, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos ou terapeutas
ocupacionais.
O presente trabalho, desenvolvido por profissionais de fisioterapia e enfermagem, emprega um sistema de avaliação que com-
bina praticidade com complexidade, necessárias para a avaliação de setores essenciais do DNPM, em uma amostra populacional não-
hospitalar, incluindo crianças de 4 a 12 meses de idade, em serviço municipal de educação infantil. Trata-se de um trabalho descritivo,
cuja metodologia leva em conta a diversidade de fatores ambientais, sociais e biológicos que podem influenciar, direta ou indiretamente,
o DNPM no primeiro ano de vida. Resultados relevantes são descritos, como o predomínio de crianças incluídas em categorias de
normalidade, com relação a parâmetros de desenvolvimento, como oculomotricidade, sociabilidade, linguagem e desenvolvimento
postural. Por outro lado, dentre tais parâmetros evolutivos, observou-se superioridade no desenvolvimento de aquisições sociais em
relação ao setor de linguagem nos lactentes avaliados. Curiosamente, o nível educacional médio predominou entre os pais, com relativa
superioridade das mães em comparação aos pais. Da mesma forma, a freqüência de intercorrências na gravidez, que pudessem afetar o
DNPM do concepto, foi relativamente baixa entre as crianças estudadas. Tais achados em uma amostra populacional no sul do Brasil
são relevantes e suscitam o interesse pelo desenvolvimento de pesquisa comparativa, em áreas urbanas de regiões com grau de desen-
volvimento sócio-econômico inferior, como o Norte e Nordeste.
Apesar da metodologia de análise ter sido predominantemente descritiva, não empregando ferramentas estatísticas que per-
mitam a determinação de relações causais entre comprometimento de setores específicos e prováveis fatores de risco sócio-econômicos
e biológicos, os resultados levam a inferências sobre estas possíveis relações. Exemplo disto é o encontro de crianças com risco ou com
comprovação de prejuízo no DNPM, particularmente no setor de linguagem (casos com escores inferiores ou abaixo do normal, nas
escalas de avaliação utilizadas), dentre as crianças nascidas mais prematuramente, ou com menor peso ao nascer. Por outro lado, índices
elevados no setor de socialização, considerando-se a idade cronológica, levaram os autores a inferências sobre possível influência posi-
tiva dos centros municipais de educação infantil, para as crianças que lá permanecem em período integral. Tais influências poderiam
decorrer de espaço físico mais adequado para interações e maior riqueza de recursos materiais para estímulo, em comparação com o
ambiente familiar.
No Brasil, há carência de trabalhos descritivos de perfis de DNPM infantil em amostras populacionais diversas, bem como de
estudos de fatores que influenciam negativamente tal desenvolvimento. Entretanto, conforme enfatizado no presente trabalho, estas
abordagens são essenciais para a implementação de medidas preventivas dos agravos que culminam com o comprometimento do
DNPM, desde o primeiro ano de vida, bem como, para o desenvolvimento de programas de intervenção ativa, com vistas à estimulação
precoce e reabilitação, nos casos de danos já estabelecidos. Assim, o presente trabalho tem grande mérito e instiga uma linha de pesquisa
que promova não somente sua replicação em outras regiões do país, como a expansão de sua casuística e o emprego de outros métodos
de análise, com vistas à comprovação das relações causais inferidas neste estudo.

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261 Rev Neurocienc 2008;16/4:261


original

Bruxism as mechanism subserving


hysteria: a new theory
O bruxismo como um mecanismo na histeria: uma teoria nova

Omar Franklin Molina1, Marcus Geraldo Sobreira Peixoto2, Zeila Coelho Santos3,
Joaquim dos Santos Penoni4, Raphael Navarro Aquilino5, Maria Aparecida
Sobreiro Peixoto6

SUMMARY RESUMO
Objective. To explore the hypothesis that bruxism is a mech- Objetivo. Testar a hipótese de que o bruxismo é um mecanismo na
anism in hysteria by comparing features in hysteria, bruxism, histeria comparando valores em histeria, bruxismo, hostilidade e lo-
hostility, and local complaints in bruxers. Method. We evalu- cais com dor. Método. Nos avaliamos 33 pacientes com bruxismo
ated 33 patients with mild bruxism, 52 with moderate, 55 with leve, 52 com moderado, 55 com grave e 42 com bruxismo extremo
severe, and 42 with extreme bruxism with the Minnesota Multi- com o Questionário Multifásico de Personalidade de Minnesota e a
phasic Personality Index and the Cook-Medley scale for hostil- escala Cook-Medley para hostilidade. Resultado. Os valores em
ity. Results. Scores of hysteria and hostility increased from the histeria e hostilidade aumentaram do subgrupo leve para os subgru-
mild to the moderate, severe, and extreme bruxism subgroup pos moderado, severo e extremo (p<0,0001). O número médio de
(p<0.0001). Mean local complaints increased with the severity of locais com dor aumentou com a gravidade do bruxismo e com os
bruxism and with scores of hysteria (p<0.0001). The group that valores em histeria (p<0,0001). O grupo com valores mais altos em
presented higher scores in both hysteria and hostility and greater hostilidade e histeria apresentou número maior de locais com dor
local complaints as compared to two groups, low hysteria and do que os grupos com valores baixos em histeria e altos em hostili-
high hostility, and low hysteria and hostility (p<0.003). Conclu- dade, e com valores baixos em histeria e em hostilidade (p<0,003).
sion. Scores in hysteria e hostility increased with the severity Conclusão. Os valores em histeria e hostilidade aumentaram com
of bruxism, and the number of local complaints increased with a gravidade do bruxismo e o número de locais com dor aumentou
scores in hysteria and severe bruxism, suggesting that bruxism com os valores em histeria e com a gravidade do bruxismo, suge-
may be a hysterical mechanism in temporomandibular disor- rindo que o bruxismo é um mecanismo histérico em pacientes com
ders/bruxing behavior patients bruxismo e Distúrbios temporomandibulares.

Keywords: Temporomandibular Joint Disorders. Unitermos: Transtornos da Articulação


Hysteria. Bruxism. Pain. Temporomandibular. Bruxismo. Histeria. Dor.

Citation: Molina OF, Peixoto MGS, Santos ZC, Penoni JS, Aq- Citação: Molina OF, Peixoto MGS, Santos ZC, Penoni JS,
uilino RN, Peixoto MAS. Bruxism as a mechanism subserving Aquilino RN, Peixoto MAS. O bruxismo como um mecanismo
hysteria: A new theory. na histeria: uma teoria nova

Research was performed at Faculdade de Odontologia UNIRG Endereço para correspondência:


(University of Odontology), Gurupi-Tocantins, Brazil. Omar Franklin Molina
1. Master of Sciences, Certified in Occlusion-TMD American Equili- Faculdade Odontologia UNIRG
bration Society, USA, Post Doctoral Orofacial Pain, Harvard University, Av. Pará 1544
Ex Resident Massachusetts General Hospital, Center for the Study of 77400-020 Gurupi, TO.
Craniomaxillofacial Disorders, USA, Associate Professor/Researcher in E-mail: omarmolinatinoco@yahoo.com
Occlusion and Orofacial Pain UNIRG Gurupi-TO.
2. Specialist in Orofacial Pain, Master of Sciences in Orthodontics,
Graduated Student UNESP, Academic Dean UNIRG-TO.
3. Master of Sciences in Orthodontics, Professor of Orthodontics
UNIRG-TO, Brazil
4. PhD in Biochemistry USP, Research Consultant in Medical Scien-
ces, Professor of Biochemistry UNIRG-TO
5. Master of Sciences in Radiology, Post Graduated Program in Ra- Recebido em: 30/01/08
diology, UNICAMP, Professor of Radiology, UNIRG-Tocantins. Revisado em: 31/01/08 a 13/08/08
6. Master of Sciences in Orthodontics, Professor of Occlusion and Aceito em: 14/08/08
Orthodontics, UNIRG-TO. Conflito de interesses: não

Rev Neurocienc 2008;16/4: 262-268 262


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INTRODUCTION directly awakens feelings of hostility1. One study re-
Hysterical personalities are characterized by viewed the entire theory of instincts and argued that
histrionic display of emotions, identity problems, the muscular system serving as an especial organ can
tendency toward development of dissociative reac- divert destructive impulses into the external world7.
tions, psychosomatic and conversion disorders. A The hysterical personality may present a wide va-
number of pathological conditions in many organs riety of symptoms including headaches and may
and systems, usually linked with the autonomic ner- adapt to the medical and psychological situation by
vous system are related with hysterical reactions. The symptom production in any part of the body8. His
hysterical has profound unsatisfied oral and sadistic or her dependency demands seem to represent an
needs. Teeth biting are sadistic, may be considered infantile effort to control the medical as well as any
a mechanism to dissipate rage and aggression, and other situation9.
are also used in symptom formation so as to rein- Studies evaluating the relationship between
force close ties and dependency with significant oth- temporomandibular disorders and psychological fac-
ers1. The hysterical craves for attention, food and tors have shown higher scores in hysteria, depression
the breast, which she is unable to express directly, and hypochondria10,11. However, such approaches
except through symbolization. Most personalities have not established clearly the percentage of brux-
labeled as hysterical might be better characterized ers and severity of bruxing behavior. Most tem-
as immature/oral dependent as their behaviors and poromandibular disorder patients are bruxers and a
communication are used to coerce others to respond profile characterized by hypochondria/depression/
in a predictable manner2. Because of strong fears of hysteria seems to be frequent in those patients12. Ad-
punishment or retaliation, aggression/hostility in ditionally, in many cases, a hysterical profile also re-
such personality is disguised under the form of many sembles a somatic disorder and can also be found
symptoms so as to obtain care, close ties, control and in those patients presenting with headache, low back
subjugate others in the environment3. Hysterical and pain and fibromyalgia13. Bruxism was defined as a
conversion symptoms in the masticatory system in- psychosomatic disorder and psychosomatic illnesses
cluding trismus, difficulties to open and intense pain predominate in temporomandibular disorders fe-
may preclude the use of the mouth in a mature level male patients14, it may be that hysteria and bruxism
to feed; thus, cure may be protracted and many phy- share some psychophysiological mechanisms.
sicians may be involved in the “healing process”4. An unconscious need for punishment in the
In this study, we use hysteria as “a term applicable hysterical personality is closely related with depres-
to persons who are vain and egocentric, display- sion and symptom formation of a psychosomatic
ing shallow affectivity, dramatic attention-seeking character1. In such a case, disease is thought to re-
behavior, who are prone to lie excessively, sexually sult from somatization of psychological/emotional
provocative yet frigid, dependently demanding and forces affecting the immune system. Symptoms in
manipulative in interpersonal relations and prone to the hysterical character involve no organic pathol-
psychosomatic reactions”5. ogy, but entail the mimicry of organic disease1. The
When an instinctual trend undergoes repres- hysterical personality expresses pain and conflict in
sion, its libidinal elements are turned into symptoms acceptable forms of body illness. The female hys-
and its aggressive component into a sense of guilt. terical brings pain and suffering using a diversity of
Repression is the predominant defense in hysteria systems and mechanisms to maintain important ties
and both aggression and sexual impulses are re- to internal and external objects and to take excessive
pressed, thus, the logic result would be an unsatisfied aggression and hostility inward so as to dissipate guilt
sexuality, symptom formation and guilt6. Uncon- and punishment. A diversity of symptoms close and
scious aggression, hostility, need for punishment and distant to major organs/systems including the masti-
destructiveness occupy a central place in the old and catory system, can be seen in the hysterical personal-
new hysterics and hysteria should be viewed as part ity who denies hate and rage and gets sick instead of
of a hysterical-paranoid syndrome and an inflexible/ consciously feeling and talking.
debilitating defense against rage. Rage is not recog- A number of mechanisms may operate in
nized, hate is denied and psychosomatic symptoms, the hysterical personality with bruxing behavior:
which are so common in the hysterical personality, The use of the teeth to displace anger, hate, hos-
emerge and realistic frustration of normal desires tility and aggression; using the muscular system to

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produce bruxism leading to a number of symptoms traction of the masseter muscles during sleep18. Sleep
usually neuromuscular in the face, head and neck; bruxism is an exaggerated form of oromotor activity
many oral and jaw habits concomitants of anxiety associated with sleep micro-arousals19.
which produce additional muscle pain, tension, wear Both diurnal and sleep related bruxism are
facets and muscle fatigue resulting in the use of soft different clinical entities occurring during different
foods and inability to talk4. Trismus in the hysterical conscious states with different etiologies and thus,
personality with temporomandibular disorders and need different treatments20. Pain in bruxers is worst
bruxism, is the conversion symptom and precludes in the morning suggesting a possible form of post-ex-
the use of the jaws at an adult level4. ercise muscle soreness and studies suggest that there
Hysteria is closely related to the oral stage of are distinct subgroups of bruxers21. Various theories
development. Aggression and hostility in such a per- of its cause have been described in the literature: an
sonality are released through aggressive biting15. Ad- inability to express emotions such as anxiety, rage,
ditionally, strong teeth biting may have the symbolic hate, sadism, aggression or libidinal desires22, stress
meaning of a regression/fixation to an oral stage of exacerbating signs and symptoms related to bruxing
development when teeth erupt and the child learns behavior23. Other theorists have explained bruxism
to be hostile and redirect aggression and frustration as a sleep disorder and as a light sleep phenomenon
in external objects that he can bite and manipulate. occurring more frequently in stage II sleep24. Besides,
During the oral sadistic stage of psychosexual devel- in anamnestically diagnosed bruxers, the behavior is
opment, the child learns to bite with all his strength. also related with a transient state of anxiety occur-
Not all biting at this stage has a definitive sadistic ring frequently in contemporary society25. Because
coloring, but it readily becomes fused with truly ag- the relationships between local/distant signs and
gressive impulses1. The baby comes to use more and symptoms, hysteria and severity of bruxism are not
more his teeth in direct offense and defense as a pun- clear at this time, the goals of this project are to test
ishing response to frustration. Teeth biting in adult the following hypothesis: 1) If bruxing behavior has
life allow an individual to release his/her hostility a significant relationship with hysteria, the severity
through aggressive biting at the same time that pre- of bruxism should increase with higher scores in
vents external punishment or retaliation for her/his hysteria; 2) Higher scores in hysteria should result in
hostility4,15. It follows that intense loading in the mas- both, higher scores in hostility and bruxisms as hys-
ticatory system can be equated with the release of teria has been associated with hostility, and suppos-
intense hostility and frustration. edly bruxism is hostility dependent; 3) Higher scores
The literature on a relationship between brux- in hysteria are associated with both severer bruxism
ism and hysteria is poor or simply absent. Howev- and greater number of local pains in the masticatory
er, some putative relationships can be inferred and system.
should be better delineated in future studies: The
high frequency of bruxing behavior in temporo- METHOD
mandibular disorder patients with acute or chronic Patients were referred consecutively for diag-
facial and headache pain and the predominance nosis and treatment of Orofacial Pain to the Depart-
of females in samples temporomandibular disorder ment of Occlusion and Orofacial Pain, University
patients and bruxing behavior16; both bruxism and of Gurupi, School of Dentistry in the period 2003-
a hysterical disorder have been correlated with psy- 2007. There were 160 females (87.91%) and 22 males
chosomatic disease, symptom formation, anxiety, ag- (12.09%) and the mean age of the group was about
gression and a profuseness of signs and symptoms4. 33.3±11.28 years (range: 14–67). Patients were in-
Bruxism is an oral phenomenon described as a cluded if presented two of the following: complaint
parafunctional activity involving sleep related bruxism of pain, actively seeking temporomandibular disor-
and/or diurnal tooth clenching/grinding17. The be- der treatment, joint noises, and difficulties to open
havior is characterized by repetitive and/or sustained the jaw, and to perform active jaw movements. It is
strong tooth contact. The new revision of The Inter- accepted in the literature26 that a combination of
national Classification for Sleep Disorders, defines sign and symptoms described above, better describes
bruxism as a periodic and motor disorder character- a patient with temporomandibular disorders. The
ized by stereotyped jaw movements during clenching Ethical Committee UNIRG Health Science Center
and grinding of the teeth as a result of rhythmic con- approved the study.

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Assessment Table 2. Mean scores in hysteria in 182 temporomandibular disorders
and bruxing behavior patients.
Patients were evaluated comprehensively, es-
Groups
tablishing, and obtaining a full description of the
All Mild Moderate Severe Extreme P value
main complaint (location, chronicity, intensity, and
Mean 23.03 17.05 22.23 24.43 27.97 0.0001*
quality), evaluating if the complaint was temporo-
SD 7.71 6.76 7.61 7.56 8.91
mandibular disorders, assessing muscle tenderness
Range 4-47 4-35 4-45 8-41 8-47
and trigger points by palpation, evaluation of jaw
*Kruskal-Wallis test
movements, use of diagnostic tests for internal joint
derangements, assessing presence and severity of A significant difference in hostility scores was ob-
bruxing behavior, oral jaw habits using appropriate served only between the mild and extreme bruxing
questionnaires to obtain other clinical and epidemi- behavior groups.
ological data, self-report, and clinical examination. The mean local complaints in the mastica-
To assess hysteria, the Minnesota Multiphasic Per- tory system were about 2.90, 4.07, 5.07, and 6.21
sonality Index (MMPI) and the Cook-Medley scale to the mild, moderate, severe and extreme bruxing
for hostility were used. Because bruxing behavior behavior groups (p<0.0001), but was observed only
has been equated with many diagnostic signs and between the mild and severe groups (p<0.001), the
symptoms, a scale described as follows allowed us to mild and extreme groups (p<0.001), and between
detect a full range of severities: 0–2 signs/symptoms the moderate and extreme bruxing behavior groups
(no bruxism), 3–5 signs/symptoms (mild bruxism), (p<0.001, Table 4).
6–10 signs/symptoms (moderate bruxism), 11–15 The correlations between hysteria and hos-
signs/symptoms (severe bruxism), and 16–24 signs/ tility (r=0.4057, p<0.001)), hysteria and local com-
symptoms (extreme bruxism). plaints (r=0.3825, p<0.0001), hysteria and bruxism
(r=0.3830, p<0.0001), and bruxism and local pains
Statistical analysis (r=0.5394, p<0.0001) were all positive and extremely
We used parametric and non-parametric significant (Table 5). Noteworthy to mention is that
Kruskal-Wallis, ANOVA, Pearson Product Moment the highest positive correlation was between bruxism
Correlation Coefficient, and Tukey Kramer to test and local pains (r=0.5394) rather than between hys-
data significance when comparing groups (mild, teria and bruxism (r=0.3830).
moderate, severe, and extreme severe bruxism) re- The mean local pains in the group present-
garding hysteria and hostility. ing higher scores in both hysteria and hostility were
about 5.00, 3.24 in the group presenting low scores
RESULTS in hysteria but high scores in hostility, and 3.36 in
The mean MMPI hysteria score were about the group presenting low scores in both hysteria and
23.03, 17.50, 22.23, 24.43, and 27.97 to mild, mod- hostility (0.0038). Such data suggest that local com-
erate, severe, and extreme bruxing behavior groups plaints in the masticatory system are more likely to
respectively (p<0.0001). The difference was only sig- be found if a combination of high scores in hysteria
nificant between the mild and severe groups, mild and hostility (which are correlated with more severe
and extreme groups, and moderate and extreme bruxism) is present in temporomandibular disorders
groups of bruxers (Table 2). and bruxing behavior patients (Table 6).
The mean scores in hostility were about 17.06,
19.51, 19.49, and 21.80 to mild, moderate, severe, DISCUSSION
and extreme bruxism groups respectively (p<0.001).
Table 1. Socio-demographic data in 182 temporomandibular disor- Scores in hysteria increased with severity of
ders and bruxing behavior patients. bruxing behavior
Gender N % Even though many individuals with low scores
Females 160 87.91 in hysteria were found, the mean score in hysteria in
Males 22 12.09 the group of temporomandibular disorders/bruxing
Total 182 100.0 behavior patients was about 23.03 and such mean
Mean Age 33.3 increased with severer bruxing behavior. These find-
SD 11.38 ings are supported at least in part by one investiga-
Range 14-67 tion27, reporting higher values in hysteria and hypo-

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chondria in temporomandibular disorder patients as Table 4. Mean number of local complaints and scores in hysteria in
subgroups of bruxers and temporomandibular disorders individuals.
compared with controls. Because scores in hysteria
Bruxing type Hysteria scores Local complaints scores*
increased with the severity of bruxism, thus, those
Mean SD Range Mean SD Range
temporomandibular disorder patients with higher
Mild 17.50 6.76 4-35 2.90 1.62 0-6
scores in hysteria are more likely to be found in those
Moderate 22.23 7.61 7-45 4.07 2.00 0-9
presenting with severer bruxism. Because many sub-
Severe 24.43 7.56 8-41 5.07 2.05 0-9
jects in this study demonstrated low scores in hyste-
Extreme 27.97 8.91 8-47 6.21 1.78 2-10
ria, our findings are in line with those of one study12
*Kruskal-Wallis test p<0.0001
in temporomandibular disorder patients reporting
that only 30% patients achieved higher scores in hy- hostility, the results of this study are in line with those
pochondria, hysteria and depression. Depending on of one investigation30, reporting different values in
selection criteria and referrals, hysterical traits may urinary catecholamines suggesting a differential lev-
be found frequently in temporomandibular disor- el of both anxiety and aggression in the “light and
ders and bruxing behavior patients. Because severer heavy groups” of temporomandibular disorders and
bruxing behavior was observed in those with higher bruxing behavior subjects. Because not all patients in
hysteria scores, this study indicates that there is a our study demonstrated high scores in hostility and
close relationship between hysteria and bruxing be- hysteria, the results of our investigation have support
havior in males and females with temporomandibu- in one study31, reporting that some bruxers and tem-
lar disorders. Those with more pronounced hysteria poromandibular disorders individuals are excessively
scores are more likely to be found in the severe and dependent whose reactive anger and hostility stimu-
extreme bruxing behavior groups. Because of the late clenching the teeth as an attempt to aid repres-
difficulties hysterical traits posit in the diagnostic and sion or suppression of anger. Interesting to note is
treatment dyad, it is more likely that more chronic that patients in that study could be considered simi-
pain complaints are to be found in those with more lar in many respects when compared to our groups
severe bruxing behavior. This assumption has sup- of severe and extreme bruxing behavior. In our in-
port at least in part in one study28, suggesting that vestigation, a pain complaint was more frequent in
“with time, personality profile deteriorates either severe and extreme bruxers. It may be that those
through an increase in hysterical traits or through individuals with higher hysteria/hostility scores, use
transformation with a variable increase in anxiety bruxing behavior as a mechanism to displace anger,
and accompanying symptoms”. Personality traits resentment and hostility. Through some unknown
reinforced pain40. This is not to say that severe and mechanism, such subjects unconsciously prefer to
chronic pain is to be found in all temporomandibu- displace those affects inward. Such assumption has
lar disorder and bruxing behavior patients as only support in one study indicating that the hysterical
extreme elevations in the hysteria scale increase the personality with pain is unconscious of intense rage
probability that a psychological/emotional compo- and is a fugitive of guilt.
nent influences the presentation of pain29.
The number of local pain complaints increased
Scores in hostility in bruxers increased with with the severity of hysteria in bruxers
scores in hysteria Greater number of local complaints was ob-
Because the severe and extreme bruxing be- served in those subjects with higher scores in hys-
havior groups presented higher scores in hysteria and teria .In one investigation in temporomandibular
disorder patients32, those individuals scoring higher
Table 3. Means in hostility/hysteria in 182 bruxers by the severity of in hysteria tended to be hypersensitive to pain and
bruxism. frequently expressed psychological conflict through
Hostility* Hysteria* local, distant pain and non-pain symptoms. In hyste-
Severity of ria and psychosomatic disease, there is unconscious
Mean SD Range Mean SD Range
bruxism
aggression and a need to suffer. Symptoms in such
Mild (33) 17.06 5.00 7-31 17.51 6.76 4-35
patients should be interpreted as an alternative to
Moderate (52) 19.51 5.21 9-31 22.23 7.61 7-45
guilt1. It may be that such individuals use “exces-
Severe (55) 19.49 4.89 6-32 24.43 7.56 8-41
sive biting” to suppress their anger, resulting in more
Extreme (42) 21.80 5.01 7-29 27.97 8.91 8-47
pain sites local and distant to the masticatory system.
*Kruskal-Wallis test p<0.001

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Table 5. Correlation of hysteria/hostility bruxism, and local com- pains, but ordered by the severity of one factor, need
plaints.
to be studied. If so, the effect of one factor (for in-
Pair of variables Pearson product p value Significant?
stance, hysteria) could be observed more clearly.
Hysteria and hostility 0.4057 0.0001 Yes
Hysteria and bruxism 0.3830 0.0001 Yes
Limitations of this study
Hysteria and local
complaints
0.3825 0.0001 Yes Even though the sample of this study was
Bruxism and local
large enough and the working hypothesis were sup-
0.5394 0.0001 Yes ported by statistically significant results and the lit-
complaints
erature on the subject, the cross sectional nature of
Clinically, the more difficult temporomandibular dis- this investigation precludes the generalization of the
orders cases are those presenting severer symptoms, results as cause and effect relationships cannot be
bruxism and higher scores in hysteria and hostility. inferred from such a research. Future investigations
Hysterical patients are more likely to get sick instead should address the relationships between bruxing
of feeling and talking as they have a tendency to behavior, pain, hostility and bruxism using different
punish themselves via illness or symptoms. Frequent study designs so as to obtain evidence strong enough
bruxers and temporomandibular disorder individu- to further support the evidence presented in the cur-
als are more likely to present pain in multiple sites rent investigation.
in the masticatory system33. Finally, our assumption
that a greater number of local complaints should CONCLUSION
correspond with higher hysteria scores in bruxers, is Hysteria seems to be more evident in severe
reinforced by the positive and significant correlation and extreme bruxing and temporomandibular dis-
found between local pains and bruxing behavior as orders patients and pain sites seem to be strongly
demonstrated by the Pearson Product Test. dependent in the severity of hysteria and bruxing
behavior scores. Because when the “hysteria factor”
Greater number of local complaints was found was removed in one group of bruxers and temporo-
in those with higher scores in hysteria/hostility mandibular disorders patients, resulting in lesser
In order to test the hypothesis that hysteria was number of pain sites and lower scores in bruxing
closely associated to both bruxism and local pains, behavior, the relationship between hysteria, brux-
we arbitrarily generated three comparisons groups. ism and pain sites in the masticatory system is now
One group presenting with higher hysteria and hos- more apparent. Hysteria related hostility seems to be
tility scores; another group presenting with lower an important mechanism in symptom formation in
scores in hysteria and higher hostility scores, and a bruxers and temporomandibular disorders subjects.
third group presenting with lower scores in both hys-
teria and hostility. When the “hysteria factor” was REFERENCES
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Rev Neurocienc 2008;16/4:262-268 268


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Avaliação da fisioterapia sobre o


equilíbrio e a qualidade de vida em
pacientes com esclerose múltipla
Evaluation of the physical therapy on the balance and on the quality of life in multiple
sclerosis patients

Iclaikovski Farias Rodrigues1, Mariângela Braga Pereira Nielson2, Andresa


Rosane Marinho3

RESUMO SUMMARY
Introdução. A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença Introduction. Multiple Sclerosis (MS) is a CNS demyielin
desmielinizante do SNC. Os principais distúrbios são fadiga disease. The main disturbs are intense fatigue, balance disturb
intensa, déficit de equilíbrio e incoordenação motora. and ataxy. Objectives. To evaluate the physical therapy effects
Objetivos. Avaliar os efeitos da fisioterapia sobre o equilíbrio on the balance and quality of life of MS patients. Methods.
e a qualidade de vida dos pacientes com EM. Métodos. O This study was analytic and interventional, the patients were
estudo foi do tipo intervencional analítico, onde 20 indivíduos randomized in two groups: Group 1: submitted in a fifteen ses-
foram aleatorizados em 2 grupos: Grupo 1 – submetidos a 15 sions of physical therapy program, three times per week; and
intervenções fisioterapêuticas específicas para EM, sendo 3 vezes Group 2: participated in a conventional physical therapy pro-
por semana; Grupo 2 – realizaram fisioterapia convencional uma gram once a week. The data descriptive analyze was made
vez na semana. Foi realizada análise descritiva dos dados através through tables with mean and standard deviation. The com-
de tabelas com média e desvio padrão. Para comparação intra e parison before and after physical therapy program and between
inter-grupos foi utilizado o teste T de Student. Resultados. Foram groups was made by Student t test. Results. Twenty subjects
avaliados 20 sujeitos, onde 85% (17) eram do sexo feminino e was evaluated, 85% (17) were female and 17% (3) were male,
15% (3) do sexo masculino, com média de idade de 40±12 anos, with mean age 40±12 years old, ranging from 18 to 63 years
variando entre 18 a 63 anos. Houve melhora do equilíbrio (p= old. There was significant improvement in balance (p=0.011)
0,011) e da qualidade de vida (p= 0,006), após a intervenção and quality of life (p=0.006) after specific physical therapy pro-
fisioterapêutica específica. Já no grupo convencional não houve gram in Group 1. There was no significant improvement in
melhora significativa. Conclusão. O equilíbrio e a qualidade the control group. Conclusion. The balance and quality of
de vida dos indivíduos com EM melhoraram significativamente life improved significantly after a specific physical therapy pro-
sob intervenção fisioterapêutica direcionada. gram to patients with MS.

Unitermos: Fisioterapia. Esclerose Múltipla. Keywords: Physical Therapy. Multiple Sclerosis. Mus-
Equilíbrio Musculosquelético. Qualidade de Vida. culoskeletal Equilibrium. Quality of Life.

Citação: Rodrigues IF, Nielson MBP, Marinho AR. Avaliação Citation: Rodrigues IF, Nielson MBP, Marinho AR. Evaluation
da fisioterapia sobre o equilíbrio e a qualidade de vida em pa- of the physical therapy on the balance and on the quality of life
cientes com esclerose múltipla. in multiple sclerosis patients.

Trabalho realizado na Escola Superior de Ciências da Santa Endereço para correspondência:


Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM) e Associação Iclaikovski Farias Rodrigues
Capixaba de Portadores de Esclerose Múltipla do Estado do Av. Nossa Senhora da Penha 2190
Espírito Santo (ACAPEM-ES). 29045-402 Vitória, ES
1. Fisioterapeuta, Pós-graduando em Neurorreabilitação pela EMES- Fone: (27) 3334-3586
CAM – Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de http://www.emescam.com.br
Vitória. E-mail: iclaikovski@ig.com.br
2. Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Respiratória e Neuro-
funcional, Doutora, Professora da Disciplina de Saúde do Adulto da Recebido em: 26/03/08
EMESCAM. Revisado em: 27/03/08 a 13/11/08
3. Fisioterapeuta Especialista em Neurologia adulto pela Unicamp, Aceito em: 14/11/08
Mestre, Professora e Supervisora da Faculdade Novo Milênio. Conflito de interesses: não

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INTRODUÇÃO cionam com áreas localizadas de desmielinização no
A Esclerose Múltipla (EM) é principal doen- SNC4. Devido à grande variabilidade de localizações
ça de incapacidade neurológica em adultos jovens e anatômicas e seqüência temporal das lesões na EM,
de meia-idade, com manifestações multiformes. Seu as manifestações clínicas da doença variam de um
curso pode variar de um simples déficit neurológico indivíduo para outro1-3.
transitório até a forma mais grave1-3. É comumente Os principais sintomas motores incluem es-
diagnosticada entre os 20 e 40 anos de idade, sendo pasticidade, espasmos reflexos, contraturas, distúrbio
que 85% ocorrem entre os 15 e 50 anos; a maioria da marcha, fadiga, sintomas cerebelares e bulbares
das pessoas tem em torno de 30 anos quando é feito o como déficit de equilíbrio, nistagmo, tremor inten-
diagnóstico3. Predomina nas mulheres, em uma pro- cional, dificuldade de deglutir e respirar6,7,15. Como
porção de aproximadamente 2:1, sendo rara em algu- sintomas sensoriais decorrentes da EM tem-se en-
mas raças (negros africanos e esquimós) e mais encon- torpecimento, parestesia, disestesia, distorção da
trada entre brancos de origem norte-européia e mais sensibilidade superficial e dor músculo-esquelética.
comum em regiões mais afastadas do Equador3-5. Os sintomas visuais apresentam-se com diminuição
A EM é o principal membro de um grupo da acuidade, visão dupla, escotolma e dor ocular.
de distúrbios conhecidos como doenças desmielini- O aparecimento súbito de uma neurite óptica, sem
zantes. Apresentam destruição da mielina mediada qualquer outro sinal ou sintoma do SNC, é frequen-
pelo sistema imunológico, com relativa preservação temente interpretado como o primeiro sintoma da
de outros elementos do tecido nervoso3,4,6. As lesões EM. Quanto os sintomas vesical-intestinais, estes
surgem, especialmente, na substância periventricu- surgem com retenção urinária, incontinência de
lar, no corpo caloso, no trato óptico, cerebelo, tronco urgência e/ou aumento da freqüência urinária e
e medula3. As “placas” são áreas de desmielinização constipação. Incluem ainda os sintomas sexuais, ca-
com preservação parcial ou total do axônio, que so- racterizando-se por impotência, diminuição na sen-
fre por disfunção nos canais de NA+ e da liberação sibilidade e lubrificação genital7,10,14,16.
de substâncias neuro-endócrinas, com infiltrado mo- A fadiga é uma das manifestações mais fre-
nonuclear nos espaços perivasculares seguidos por qüentes da EM e pode ser muito debilitante. Exer-
gliose e destruição fibrilar dos oligodendrócitos7,8. cícios moderados que conservam energia, uso de
Seu curso é caracterizado pela ocorrência de surtos, dispositivos de ajuda, simplificação do trabalho e
definidos como sendo o surgimento de novos sinto- resfriamento podem ser eficazes para seu contro-
mas, ou piora súbita de déficits prévios, que tenha le3,12,16. A terapêutica farmacológica está voltada
duração superior a 24 horas6,9. Dois surtos devem ser para atenuar o processo inflamatório que ocorre
separados por pelo menos 30 dias de diferença. durante os surtos e para preveni-los. Para tal são
A EM pode ser classificada em: EM recidi- utilizados agentes imunossupressores e imunomo-
vante, caracterizada por um curso de recidivas re- duladores4,7,17. Na intervenção fisioterapêutica, te-
correntes discretas, entremeadas por períodos de re- rapeuta e paciente trabalham como equipe para
missão quando a recuperação é completa ou parcial; minimizar as limitações impostas pela doença, ma-
EM progressiva secundária, depois de um período ximizando a capacidade funcional, viabilizando a
de recidiva e remissão, a doença entra em uma fase qualidade de vida em geral e prevenindo complica-
em que há deterioração progressiva, com ou sem ções debilitantes3. A fisioterapia promove qualidade
recidivas sobrepostas identificáveis; EM progressiva dos padrões do movimento, incentivo ao aprendi-
primária, tipificada por déficit neurológico progres- zado de habilidades motoras, manutenção da força
sivo e cumulativo desde o início10-13. Há também, um muscular, da coordenação motora e do padrão de
grupo com um curso progressivo com remissões no marcha, estabilidade postural, bem como um ajuste
qual, ao início progressivo, se sobreporiam surtos psicológico entre paciente e família e compreensão
com recuperação total ou parcial e outro com uma dos sintomas da EM13,18,19. As metas em longo pra-
evolução da doença chamada de benigna, pois os zo de um programa de fisioterapia podem ser as
pacientes mantêm longos períodos, até mais de 10 seguintes: melhorar o estado dos sintomas neuroló-
anos, entre o surto e a remissão, embora seja lenta- gicos da EM detectados à apresentação, melhorar
mente progressivo3,10,14. Seus sinais e sintomas variam ou manter o nível ótimo de funcionamento físico e
em caráter de intensidade e duração, progressão e psicológico e impedir ou retardar o desenvolvimen-
transição3,7,10. Os déficits funcionais e clínicos se rela- to de complicações secundárias10,19.

Rev Neurocienc 2008;16/4:269-274 270


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A avaliação dos principais sinais e sintomas da sericórdia de Vitória – EMESCAM, sob o protocolo
EM torna-se importante, pois quando bem realiza- de nº 069/2007. Todos os pacientes foram voluntá-
da permite uma intervenção mais precoce possível, rios e assinaram termo de consentimento.
para minimizar alterações sensório-motoras resul- Vinte portadores de Esclerose Múltipla de
tantes de surtos recidivantes, e que podem ser men- ambos os sexos foram aleatorizados em 2 grupos
suradas de forma tanto objetiva quanto subjetiva2,7. de 10 indivíduos: Grupo 1: indivíduos submetidos
Para quantificar o grau de incapacidade da EM é a 15 intervenções fisioterapêuticas específicas para
largamente utilizado por médicos e pesquisadores a EM, e Grupo 2: indivíduos que não participaram do
Escala de Kurtzke, que freqüentemente determina programa específico, entretanto, realizaram fisio-
a eficácia de um tratamento20. Outros métodos são terapia convencional (uso de bastões, caminhadas,
consideravelmente importantes na avaliação dos pa- analgesias e condicionamento cardiorrespiratório e
cientes com EM dentre eles, a Escala de Equilíbrio neuromuscular) uma vez por semana, totalizando 8
de Berg21,22 para avaliação do equilíbrio e a avaliação intervenções.
da funcionalidade e qualidade de vida, que é feita Foram incluídos os indivíduos com condições
pela Determinação Funcional da Qualidade de Vida de responder os questionários e realizar as atividades
na Esclerose Múltipla (DEFU)8,9,20. do estudo. Foram excluídos os pacientes cadeirantes
Estudos realizados indicam diversos benefícios e que apresentaram déficit cognitivo, problemas vi-
da intervenção fisioterapêutica em vários aspectos suais e auditivos, que os impossibilitaram de partici-
dos pacientes com EM, tornando-se imprescindível par ativamente da pesquisa.
avaliar se o processo de reabilitação desses pacientes, Quinze 15% (3) dos indivíduos eram do sexo
melhora a funcionalidade e a qualidade de vida de masculino e 85% (17) do sexo feminino, com mé-
vida, e minimiza concomitantemente, suas co-mor- dia de idade de 40±12 anos, variando entre 18 a 63
bidades, aumentando sua expectativa de vida18,19. O anos. Participaram da pesquisa pacientes com qual-
presente estudo, através das avaliações específicas quer tipo de EM, não observado um tipo específico
para as alterações de equilíbrio, funcionalidade e mediante diagnóstico clínico.
qualidade de vida, elaborou e aplicou um protocolo
de fisioterapia direcionado com o intuito de promo- Avaliação
ver uma melhora significativa dessas alterações físi- Os participantes foram submetidos às avalia-
co-funcionais. ções do equilíbrio, por meio da Escala de Equilíbrio
O principal objetivo deste estudo foi avaliar os de Berg, e da qualidade de vida, através da DEFU
efeitos da fisioterapia sobre o equilíbrio e a qualida- (Escala de Determinação Funcional da Qualidade
de de vida dos pacientes com EM. de Vida em indivíduos com EM), antes e após a in-
tervenção fisioterapêutica.
MÉTODO
Intervenção
Amostra
O estudo foi do tipo intervencional e analíti- Treinamento Específico
co, realizado na Associação Capixaba de Portadores Treinamento Específico proposto pelos auto-
de Esclerose Múltipla do Estado do Espírito Santo res, com base na literatura.
(ACAPEM-ES), situada no município de Vitória Foram utilizados como instrumentos de tra-
(ES), e na Clínica Escola da Escola Superior de Ci- balho cama-elástica, barra-paralela, prancha de de-
ências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória sequilíbrio. O programa de treinamento específico
– EMESCAM. consistiu de técnicas de treino de equilíbrio em bola
A presente pesquisa foi submetida à aprecia- suíça, “cama-elástica”, prancha de desequilíbrio,
ção e aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da treino de marcha na barra paralela, circuitos, rampa
Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Mi- e escada, e fortalecimento dos grupos musculares de
Tabela 1. Valores descritivos referentes à Escala de Equilíbrio de Berg antes e depois da intervenção.
Grupo 1 Grupo 2
Período
Média DP Mediana Média DP Mediana
Antes da intervenção 46,6 11,6 53,0 33,5 14,1 35,0
Após intervenção 48,2 10,3 54,0 33,7 13,9 34,5

271 Rev Neurocienc 2008;16/4:269-274


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Tabela 2. Valores descritivos referentes à funcionalidade antes e depois da intervenção.
Grupo 1 Grupo 2
Período
Média DP Mediana Média DP Mediana
Antes da intervenção 100,6 29,8 94,0 97,9 18,3 95,5
Após intervenção 104,8 29,0 99,5 97,6 17,9 96,5

MMII. As atividades foram realizadas 3 (três) vezes 10. Posicionamento alternado dos pés até um
por semana (segundas, quartas e sextas feiras) no pe- alvo específico (usando-se marcações no piso, ou
ríodo matutino, na Clínica Escola de Fisioterapia da uma grade).
EMESCAM, com o seguinte protocolo: 11. Levantar e sentar: sob uma contagem es-
No primeiro dia, foi realizado trabalho de pecífica.
equilíbrio em bola suíça e cama-elástica, (objetivo 12. Em pé: posicionamento do pé até um alvo
dar propriocepção e desequilíbrio ao paciente) solici- especificado (marcações no piso uma grade).
tando isometria de MMSS, tronco e MMII, durante 13. Transferência de peso.
40 minutos, com intervalos para não sobrecarregar 14. Andando: De lado ou para a frente, sob
e fadigar o paciente. No segundo dia, trabalhou-se uma contagem especificada (um colchonete de
o equilíbrio sem carga, em rampa, cama-elástica, e Frenkel, linhas paralelas, ou marcações no piso po-
pista (circuito), com listas, transpassando objetos e dem ser usados como alvos para o controle do po-
obstáculos de alturas variadas, também durante 40 sicionamento dos pés, comprimento das passadas e
minutos. No terceiro dia, trabalho com exercícios de largura dos passos).
Frenkel, realizados com a parte sustentada ou não, 15. Girar, sob uma contagem específica (as
uni ou bilateralmente, praticados em movimentos marcas no piso podem ter utilidade na manutenção
contínuos e sincronizados, de forma lenta e equili- de uma base estável de sustentação).
brada, em quatro posições básicas: deitado, sentado,
em pé e deambulando, progredindo desde posturas Fisioterapia Convencional
de maior estabilidade até posturas de maior desafio. Na Fisioterapia Convencional, foi adotado
Estimulou-se a concentração e a repetição dos movi- medidas para se trabalhar com os mesmos objetivos,
mentos, bem como a realização dos exercícios com com barras, bolas e obstáculos, porém sem ênfase no
os olhos fechados. protocolo proposto com base na literatura que relata
Exemplos dos exercícios de Frenkel: os exercícios de Frenkel.
1. Decúbito dorsal: Flexão dos quadris e joe-
lhos e extensão de cada membro, pés apoiados total- Análise estatística
mente numa base. Foi realizada análise descritiva dos dados,
2. Abdução dos quadris e adução de cada através de tabelas com média, desvio padrão e me-
membro com os pés apoiados, joelhos flexionados: e diana para a Escala de Equilíbrio de Berg e DEFU.
a seguir, estendidos. As médias dos grupos antes e após a intervenção fo-
3. Flexão dos quadris e joelhos e extensão de ram testadas através do teste t de Student pareado. O
cada membro, com os calcanhares erguidos da base. pacote estatístico SPSS 15 – Social Package Statistical
4. Calcanhar de um dos membros até a perna Science – foi utilizado nesta análise.
oposta (dedos, tornozelo, tíbia e patela).
5. Calcanhar de um dos membros até o joe- RESULTADOS
lho oposto, deslizando na crista da tíbia abaixo, até Mediante a Escala de Equilíbrio de Berg, obti-
o tornozelo. veram-se variações significativas entre os indivíduos.
6. Flexão dos quadris e joelhos, e extensão de Dos 10 sujeitos que realizaram o protocolo propos-
ambos os membros, pernas juntas. to (Grupo 1), 6 (60%) apresentaram equilíbrio bom,
7. Movimentos recíprocos de ambos os mem- 3 (30%) apresentaram equilíbrio regular e 1 (10%)
bros: flexão de uma perna durante a extensão da equilíbrio ruim. Uma porcentagem razoável de in-
outra. divíduos (56%) apresentou risco para quedas. A fun-
8. Sentado: extensão do joelho e flexão da cada cionalidade e a qualidade de vida demonstraram
membro: progrida fazendo marcação de tempo. que 60% dos indivíduos estavam abaixo do nível
9. Abdução e adução dos quadris. esperado para qualidade de vida, onde os itens mais

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Tabela 3. Dados demográficos, valores da Escala de Equilíbrio de Berg e valores da Escala de Determinação Funcional da Qualidade de Vida (DEFU)
para os pacientes com Esclerose Múltipla do grupo estudo e do grupo controle, antes e depois da intervenção.
Grupo Paciente (sexo) Idade valores Berg antes Valores Berg depois DEFU Antes DEFU depois
Estudo (Grupo 1) 1F 18 56 58 51 58
2F 22 42 46 42 50
3M 41 56 60 66 68
4F 41 52 58 61 66
5M 18 52 59 91 99
6F 30 54 62 109 109
7F 41 53 57 142 144
8F 51 53 60 149 152
9F 49 39 41 62 68
10 M 48 53 62 86 86
Controle (Grupo 2) 1F 43 53 53 63 66
2M 48 48 50 78 76
3F 37 36 38 97 97
4F 35 56 56 88 88
5F 49 18 18 86 88
6F 63 13 13 87 91
7F 46 49 51 79 79
8F 36 54 56 77 78
9F 24 16 19 46 49
10 F 32 28 31 153 156
F= feminino; M= masculino.

comprometidos foram o déficit de equilíbrio, o esta- Na pesquisa realizada, o equilíbrio se apresentou


do emocional e o convívio social. Nos indivíduos do bom em mais da metade dos sujeitos, como em estudo
grupo controle, não foi observado melhora significa- realizado por Mendes et al.16 e Myamoto et al.21, que
tiva quanto ao equilíbrio e funcionalidade. avaliaram portadores de EM e observou que o risco de
A comparação da média do equilíbrio de Berg, quedas nestes indivíduos associava-se ao sexo, medo de
do Grupo 1, antes da intervenção foi de 46,6±11,6 e cair, curso da doença e uso de cadeiras de rodas22.
após de 48,2±10,3 (Tabela 1). O teste t pareado evi- Foi verificado que a maior queixa dos pacien-
denciou uma melhora estatisticamente significante do tes com EM era o desequilíbrio, evidenciando a dis-
equilíbrio após a intervenção (p=0,011). Já no grupo função vestibular na maioria dos casos13,22.
controle não houve melhora significativa: 33,5 antes e Optou-se por avaliar a funcionalidade e qualida-
33,7 após a intervenção (p=0,591) (Tabela 2). de de vida através da DEFU por ser utilizada como ins-
A comparação da média da Funcionalidade, trumento de confiabilidade sensibilidade e validade20.
do Grupo 1, antes da intervenção foi de 100,6±29,8 A funcionalidade e a qualidade de vida se
e após de 104,8±29,0 (Tabela 2). Este resultado indica apresentaram abaixo do nível esperado para quali-
que houve uma melhora significante da funcionalidade dade de vida9,16. A diminuição da capacidade aeró-
e qualidade de vida dos indivíduos com EM (p=0,006). bica, da composição corporal e força são fatores que
Já no grupo controle não houve diferença estatística causam impacto negativo na qualidade de vida6,13,18.
nessas médias, 97,9 antes e 97,6 após (p=0,697). A fisioterapia tem-se mostrado eficaz na melhora do
equilíbrio e qualidade de vida19 (Tabela 3).
DISCUSSÃO No entanto, pesquisas sobre os efeitos da fisiote-
A amostra foi composta predominantemente rapia e atividade física evidenciando a melhora da qua-
pelo sexo feminino (85%)11,16, sendo mais comum lidade de vida nesses pacientes devem ser realizadas e
duas ou três vezes em mulheres3,13. A média de ida- incentivadas. Um número crescente dos estudos mos-
de encontrada nos indivíduos do presente estudo trando efeitos benéficos do exercício nos portadores de
correlaciona com estudos epidemiológicos2,5,8,15. O EM, e que tais programas não são somente para me-
diagnóstico da EM é comumente realizado entre 15 lhorar parâmetros de aptidão, mas realçar a qualidade
e 50 anos5,7,14. de vida e aumentar o potencial neuroprotetor9,18,19.

273 Rev Neurocienc 2008;16/4:269-274


original
A presente pesquisa foi importante para ava- 7. O’Sullivan SB. Esclerose Múltipla. In: O’Sullivan SB, Schmitz TS. Fi-
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damentando um possível protocolo de tratamento em pacientes portadores de esclerose múltipla. Rev Reab 2002;14:20-5.
direcionado às alterações específicas encontradas. 9. Fisk JD, Ritvo PG, Ross L, Haase DA, Marrie TJ, Schlech WF. Me-
asuring the functional inpact of fatigue: initial validation of the impact
Torna-se, portanto, necessário o incentivo à scale. Clin Inf Dis 1994;18(1):12-22.
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Conclui-se que houve melhora do equilíbrio, 13. Vargas AL, Morais RCA, Cunha MCB. Exercícios terapêuticos
para portadores de esclerose múltipla com déficitde coordenação moto-
apesar dos sujeitos apresentarem risco para quedas, ra e equilíbrio. Fisioter Bras RJ 2000;3(3):151-6.
houve melhora da funcionalidade apesar indivíduos 14. Vecino MC, Haussen SR. Esclerose Múltipla. Rev Med Santa Casa
1999;10(17):1820:35.
estarem abaixo do nível esperado para qualidade de 15. Miller JR. Esclerose Múltipla. In: Rowland LP, Merrit MD. Tratado
vida, que o acompanhamento de pacientes com EM de neurologia. 10.ed. São Paulo: Guanabara e Koogan, 2002, 670-86.
pela fisioterapia direcionada as alterações específicas 16. Mendes MF, Tilbery CP, Felipe E. Fadiga e esclerose múltipla – es-
tudo preliminar de 15 casos através de escalas de auto-avaliação. Arq
promove mais funcionalidade e qualidade de vida. Neuropsiquiatr 2000;58(2):467-70.
17. Melaragno RF. Causas da EM – aspectos imunológicos. In: Esclero-
se Múltipla – manual para pacientes e suas famílias. São Paulo: Abem,
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18. Heesen C, Romberg A, Gold A, Schulz KH. Physical exercise in
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2. Desouza L, Bates D, Moran G. Esclerose Múltipla. In: Cash MS. ck JF. Enhancing physical activity adherence and well-being in mul-
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6. Grzesiuk AK. Características clínicas e epidemiológicas de 20 pa- 22. Berg KO, Wood-Dauphnée S, Willians JI. The balance scale: reabi-
cientes portadores de esclerose múltipla acompanhados em Cuiabá lity assessment with elderly residents and patients with an acute stroke.
– Mato Grosso. Arq Neuropsiquiatr 2006;64(3A):635-8. Scand J Rehab Med 1995;10(4):27-36.

Rev Neurocienc 2008;16/4: 269-274 274


original

Qualidade de vida: análise comparativa


entre crianças com distrofia muscular de
Duchenne e seus cuidadores
Quality of life: a comparative analysis between children with Duchenne muscular
dystrophy and their caregivers

Melissa Gonçalves1, Viviana Dylewski1, Anna Carolina Xavier e Chaves2,


Tatiana Mesquita Silva2, Francis Meire Fávero3, Sissy Veloso Fontes4, Maria
Fernanda CR Campos5, Acary Souza Bulle Oliveira6

RESUMO SUMMARY
Objetivo. Comparar a qualidade de vida dos pacientes com diag- Objective. The aim of the present study was to compare
nóstico de distrofia muscular de Duchenne (DMD) sob as seguintes the quality of life of Duchenne muscular dystrophy patients
perspectivas: a dos próprios pacientes e de seus cuidadores em rela- by and by their caretakers, using the AUQEI scale (Auto-
ção a eles, por meio da escala AUQEI (Autoquestionnaire Qualité de Vie questionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé). Method. This study
Enfant Imagé). Método. Foram incluídos nesse estudo 36 indivíduos, included 18 patients with Duchenne muscular distrophy,
sendo 18 pacientes com diagnóstico de DMD (faixa etária entre aged 6-12 years, and their 18 caretakers. The children com-
6 e 12 anos) e 18 cuidadores. O questionário foi aplicado para as pleted the questionnaire and subsequently, their mothers.
crianças e, posteriormente, para as mães. A análise das variáveis The Fisher Exact Test was used for the categorical variables
categóricas foi feita através do Teste Exato de Fisher e das variáveis and the Student t Test was used for numerical variables.
numéricas pelo Teste t de Student. Resultado. Não houve dife- Results. There was no statistically difference between the
rença estatisticamente significante entre as pontuações obtidas atra- scores of mothers and children (p=0.43). The mothers eval-
vés da percepção das crianças e dos cuidadores (p=0,43). As mães uate the quality of life of their children as good, the same as
julgam que seus filhos possuem boa qualidade de vida, assim como do their children. Conclusion. Mothers and children share
os mesmos o fazem. Conclusão. Mães e filhos compartilham a the same view concerning the quality of life of the children
mesma opinião quanto à qualidade de vida destes. and it was good.

Unitermos: Distrofia Muscular de Duchenne. Keywords: Muscular Dystrophy Duchenne. Quality of


Qualidade de Vida. Cuidadores. Life. Caregivers.

Citação: Gonçalves M, Dylewski V, Chaves ACX, Silva TM, Citation: Gonçalves M, Dylewski V, Chaves ACX, Silva TM,
Fávero FM, Fontes SV, Campos MFCR, Oliveira ASB. Quali- Fávero FM, Fontes SV, Campos MFCR, Oliveira ASB. Quality
dade de vida: análise comparativa entre crianças com distrofia of life: a comparative analysis between children with Duchenne
muscular de Duchenne e seus cuidadores. muscular dystrophy and their caregivers.

Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo Endereço para Correspondência:


– UNIFESP. Viviana Dylewski
1. Fisioterapeuta, Especialista em Intervenção Fisioterapêutica em Do- Rua Júpiter 97/101
enças Neuromusculares, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. 01532-030 São Paulo, SP
2. Fisioterapeuta, Especialista em Hidroterapia em Doenças Neuromus- E-mail. vivisdy@hotmail.com
culares pela UNIFESP.
3. Fisioterapeuta, Mestre em Ciências pela UNIFESP.
4. Fisioterapeuta, Professora de Educação Física, Doutora em Ciências
pela UNIFESP.
5. Médica Neurologista Infantil, Coordenadora do Ambulatório de Recebido em: 23/06/08
Neuropediatria do Setor Neuromuscular da UNIFESP. Revisado em: 24/06/08 a 02/11/08
6. Neurologista, Professor Filiado da Disciplina de Neurologia do De- Aceito em: 03/11/08
partamento de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP. Conflito de interesses: não

275 Rev Neurocienc 2008;16/4:275-279


original
INTRODUÇÃO MÉTODO
Dentre os diversos tipos de distrofias, a distro-
fia muscular tipo Duchenne (DMD) é a forma mais Amostra
comum1-5, ocorrendo um caso em cada 3.500 nasci- Foram incluídos 36 sujeitos, sendo 18 pa-
dos vivos6, sendo que a primeira manifestação dá-se cientes com diagnóstico de distrofia muscular de
entre os três e cinco anos de idade1,2,5,7. Duchenne, todos do sexo masculino, faixa etária
Os primeiros sinais observados na infância são entre 6 a 12 anos (média de idade: 8±2,05 anos e
decorrentes da fraqueza muscular, que evolui sime- média de tempo do início dos sintomas de aproxi-
tricamente8. A criança também tende a desenvolver madamente 4 anos) e 18 cuidadores, sendo repre-
hiperlordose, escoliose, pseudo-hipertrofia da pan- sentados pelas próprias mães dos pacientes, que
turrilha1,6,9, marcha anserina1,2. A progressiva fra- por sua vez, concordaram em assinar o termo de
queza muscular global, associada às contraturas ar- consentimento livre e esclarecido, permitindo a
ticulares, leva os pacientes a perderem a capacidade participação dos menores na pesquisa. Este estudo
de deambular entre os 8 e 12 anos de idade1-3,6. Após foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
a perda da marcha, os pacientes ficam confinados a UNIFESP (1388/07).
cadeira de rodas, agravando as deformidades de co- Todos os pacientes eram deambuladores, não
luna e membros inferiores, interferindo na indepen- utilizavam suporte ventilatório, apresentavam nível
dência funcional e auto-estima3 e conseqüentemente cognitivo adequado para a compreensão do questio-
na qualidade de vida desses pacientes. nário e para concordar em responder o mesmo, re-
Um outro aspecto presente e bastante citado alizavam acompanhamento médico no ambulatório
pela literatura é o comprometimento cognitivo1,3,6,10. de neuropediatria do setor de Doenças Neuromus-
Cerca de 30% a 50% destes pacientes apresentam culares da Universidade Federal de São Paulo com
algum grau de déficit cognitivo3. Além disso, os pa- tratamento medicamentoso individualizado e rea-
cientes com diagnóstico de DMD também apresen- lizavam fisioterapia em instituições não vinculadas
tam alterações cardiorrespiratórias1,2,6,9,10,11, que se com a universidade. Para que os cuidadores fossem
manifestam por volta do décimo ou décimo segundo incluídos no estudo era necessária a declaração da
ano de vida, e tendem a piorar com a evolução da participação integral no cotidiano das crianças com
doença10. Os músculos respiratórios sempre são afe- a patologia em questão.
tados, e, juntamente com as escolioses e deformida-
des torácicas, diminuem acentuadamente a função Procedimento
respiratória9. A avaliação foi realizada utilizando-se a escala
Por ser uma das doenças hereditária mais co- AUQEI (Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé),
mum, e por apresentar caráter altamente incapacitan- que consiste em uma escala de avaliação da quali-
te e letal, a DMD tem despertado interesse cada vez dade de vida da criança, capaz de avaliar a sensação
maior por parte dos profissionais da saúde, que bus- subjetiva de bem-estar da criança13. O AUQEI foi
cam não apenas verificar as necessidades de cuidados desenvolvido na França em 1997 por Manificant e
motores para estes pacientes, mas também, o impacto Dazord, traduzido, adaptado e validado no Brasil
dessa doença na qualidade de vida destes, visto que as em 2000 por Assumpção Jr. et al13.
complicações ultrapassam o campo motor6. A escala é composta por 26 questões que ava-
Embora a qualidade de vida desses pacientes liam relações familiares, sociais, atividades, saúde e
seja muito discutida, a maioria dos estudos realiza- funções corporais. Cada questão é pontuada de 0
dos sobre qualidade de vida em crianças aborda os (muito infeliz) a 3 (muito feliz), sendo que a pontua-
familiares12 ou somente adolescentes3, no entanto, ção máxima possível de ser obtida é 78 pontos. Base-
esses dados não podem ser extrapolados para crian- ado no artigo de validação, foi considerada uma pon-
ças3,4,12. É importante avaliar a qualidade de vida tuação de corte de 48, abaixo da qual a qualidade de
através da ótica do próprio paciente e não apenas vida das crianças pode ser considerada prejudicada e
através dos adultos3. acima dela a qualidade de vida é considerada boa13.
O objetivo deste estudo foi correlacionar a Foram pesquisados somente os pacientes em
qualidade de vida dos pacientes com diagnóstico de atendimento no setor de doenças neuromusculares
DMD sob as seguintes perspectivas: a dos próprios com diagnóstico confirmado de DMD, que foram
pacientes e a de seus cuidadores em relação a eles. avaliados pela equipe de fisioterapia da instituição.

Rev Neurocienc 2008;16/4: 275-279 276


original
Os dados foram coletados sempre pelas mes- Com relação aos sentimentos de infelicidade
mas pesquisadoras, representadas por duas fisiotera- e felicidade abordados em cada questão da escala
peutas, ao final das consultas médicas realizadas na AUQEI, somente em duas questões houve diferença
própria instituição. estatística: questões 19 (p=0,009) e 23 (p=0,007). As
Em um primeiro momento a escala AUQEI mães revelaram não saber o que os filhos sentiam,
foi aplicada aos pacientes com DMD. Em um segun- com exceção das questões de números 19 (o que você
do momento a escala AUQEI foi aplicada aos cui- sente quando os amigos falam de você?) e 23 (o que
dadores, para que estes respondessem às perguntas você sente quando está longe da família?), nas quais
sob suas perspectivas em relação aos pacientes. As mães e filhos, em sua maioria, concordaram, respecti-
entrevistas foram realizadas separadamente, de for- vamente pela opção feliz e infeliz. A escolha pela op-
ma que os cuidadores não interferissem nas respostas ção infeliz na questão 23 demonstra a existência de
dos pacientes, e vice-versa, com um tempo de apli- uma co-dependência entre mães e filhos. Além disso,
cação de aproximadamente 15 minutos para cada esses achados indicam que embora mães não tenham
entrevistado. compartilhado da mesma percepção que os filhos em
Dada a dificuldade de leitura de alguns sujei- cada questão, esse fato não interferiu para que elas
tos, optou-se pela aplicação do questionário na for- subjugassem a qualidade de vida de seus filhos.
ma de leitura conjunta, na qual as perguntas foram
lidas sempre na mesma ordem. O questionário foi DISCUSSÃO
aplicado uma única vez, não sendo repetido após um Os resultados obtidos em nosso estudo in-
determinado intervalo de tempo. dicaram uma boa qualidade de vida das crianças
com DMD, tanto sob o ponto de vista das próprias
Análise Estatística crianças quanto de seus cuidadores, embora não te-
A análise das variáveis categóricas foi feita nha sido estatisticamente significante. Estes achados
através do Teste Exato de Fisher e das variáveis nu- também foram relatados em outro estudo14, o qual
méricas pelo Teste t de Student. avaliou 14 crianças com DMD, com idade média de
Foi considerado significante p<0,05. Os cál- 9,9 anos, freqüentadores do Centro de Reabilitação
culos e gráficos foram realizados no software STA- Sarah Fortaleza, sendo também utilizada a escala
TISTICA (Versão 6.0 – Statsoft, Inc, Tulsa, OK) e AUQEI como instrumento de avaliação, obtendo
Microsoft Excel (Versão 2003 SP2, Portland, OR). resultados que revelaram uma boa percepção da
qualidade de vida tanto pelas crianças com DMD
RESULTADOS quanto pelos cuidadores assim como apontamos em
Não houve diferença estatisticamente signifi- nosso estudo. Esses achados podem ser relacionados
cante entre as pontuações obtidas pela análise com- com um outro estudo15, no qual, os pais das crianças
parativa da qualidade de vida através da percepção que já se encontravam em um estágio mais avançado
das crianças e dos cuidadores (p=0,43) (Figura 1). da doença relataram maior estresse com relação aos
Observou-se também que dez mães e filhos obti-
veram pontuação acima da nota de corte 48, indi-
cando que as mães julgam que seus filhos possuem 61
boa qualidade de vida, assim como os mesmos o
54
fazem sendo que somente duas mães e filhos con-
50
cordaram por julgar como prejudicada a qualidade 45
de vida. Apenas seis mães têm opiniões contrárias a
39
seus filhos, sendo que três delas os julgam com boa
Mãe

qualidade de vida, enquanto eles julgam-se com má


qualidade de vida e o contrário ocorre com as outras
três mães restantes.
Conforme mostram os gráficos demonstra- 13
tivos da pontuação das crianças (Figura 2) e da 40 44 47 50 53 67
pontuação das mães (Figura 3), a mediana da pon- Filho

tuação das crianças e das mães foram 51 e 61 res- Figura 1. Comparação da pontuação dos pacientes e das mães na
pectivamente. escala de qualidade de vida.

277 Rev Neurocienc 2008;16/4:275-279


original
9 Esses dados contradizem os achados obtidos em nos-
8
so estudo, uma vez que, as mães, em sua maioria,
apresentaram uma boa percepção sobre a qualidade
7
de vida de seus filhos.
6
Ao que concerne à qualidade de vida de
5 crianças com DMD propriamente dita, a literatura
4 mostra-se muito controversa, revelando, sobretudo,
escassas informações sobre o assunto. Em desacordo
Número de crianças

3
com os resultados encontrados em nosso estudo com
2
relação à percepção das próprias crianças, os autores
1 dos estudos consultados17-19 revelam que as crianças
0 com doenças crônicas, em particular as crianças com
35 40 45 50 55 60 65 70 75
Pontuação
DMD, apresentam um risco estimado significante de
desenvolver, durante a infância, problemas psicoló-
Figura 2. Gráfico demonstrativo da pontuação das crianças.
gicos, emocionais, sociais ou comportamentais, três
vezes maiores do que as crianças saudáveis. Proble-
seus filhos e a si mesmos do que os pais das crianças mas de comportamento, depressão e sentimentos
que se encontravam em um estágio menos avançado, de revolta são características comuns entre os ado-
podendo este fato ser uma das razões responsáveis lescentes com DMD18, problemas esses que podem
pela presença, em nosso estudo, de valores que indi- interferir na qualidade de vida dessas crianças.
cassem uma boa percepção da qualidade de vida por Um aspecto que pode influenciar no mau
parte das mães, uma vez que as crianças avaliadas ajustamento psicológico das crianças é uma pobre
não se encontravam em fases avançadas da doença. estrutura e coesão familiar, conflitos familiares e ain-
Uma pesquisa, tendo em vista a qualidade da o pouco apoio por parte da família. Famílias que
de vida, englobando pontos como isolamento so- possuem maior risco de mau ajustamento são aque-
cial, depressão, sentimento de raiva e problemas de las que apresentam dificuldades psicológicas já antes
comportamento, demonstrou que estes foram pontos de existir a doença na família. Além disso, crianças
considerados mais importantes pelos pais de meni- com DMD apresentam maior risco de desenvolve-
nos que foram diagnosticados há mais de 6 anos do rem distúrbios emocionais, no entanto, nem todas
que por pais de crianças com diagnóstico mais re- elas necessariamente irão sofrer algum tipo de com-
cente16. As famílias, nessa pesquisa, de uma forma prometimento emocional ou comportamental19.
geral, julgaram que a qualidade de vida se tornaria Foi reportada uma maior prevalência de dis-
um aspecto mais importante a ser considerado no túrbios depressivos em pacientes com DMD quando
futuro, enquanto que no presente elas mostravam-se comparados com crianças normais20. No entanto, o
mais concentradas em questões mais práticas como diagnóstico de depressão foi realizado apenas em me-
mobilidade, prolongamento da deambulação, uso de ninos com DMD com idade acima de 9 anos, sugerin-
órteses e medicamentos como os esteróides, especial- do que meninos mais velhos estão mais susceptíveis a
mente para as famílias dos meninos com menos de 6
anos de diagnóstico. 8

Entrevistas realizadas com os pais de crian- 7


ças com DMD, com faixa etária entre 4 a 14 anos,
6
abordaram o comportamento psicológico destas
pelos próprios pais. Estresse emocional crônico foi 5

relatado pelos pais como sendo o problema mais 4


significante apresentado pelos filhos, devido às cons-
tantes consultas médicas e demandas de cuidados 3
Número de mães

físicos exigidos pela doença. A alta taxa de proble- 2


mas reportada pelos pais poderia ser um reflexo do
1
próprio estresse dos pais, em especial das mães, que
traria um impacto sobre os filhos17. Esse estudo reve- 0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
la, portanto, que pais de crianças com DMD podem Pontuação das mães

mostrar uma percepção negativa sobre seus filhos. Figura 3. Gráfico demonstrativo da pontuação das mães.

Rev Neurocienc 2008;16/4: 275-279 278


original
complicações emocionais. Com relação à análise das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
questões da escala AUQEI, foi possível identificar, no 1. Zanoteli E, Narumia LC. Doenças neuromusculares. In: Borges D,
Moura EW, Lima E, Silva PAC. Fisioterapia: Aspectos clínicos e práticos
presente estudo, que as perguntas “quando amigos da reabilitação. São Paulo: Artes Médicas, 2005, 221-5.
falam de você” e “quando está longe da família” mos- 2. Bach JR. Guia de exame e tratamento das doenças neuromusculares.
traram significância estatística, sendo que esta última São Paulo: Santos, 2004, 5-11.
3. Melo ELA, Valdés MTM, Pinto JMS. Qualidade de vida de crianças
revelou uma maior concordância entre mães e filhos e adolescentes com Distrofia Muscular de Duchenne. Pediatria (São Paulo)
pela opção infeliz. Em um estudo semelhante ao nos- 2005;27(1):28-37.
4. McDonald CM, Abresch RT, Carter GT, Fowler WM, Johnson R,
so, foram obtidos valores de pontuação mais baixos Kilmer DDK, et al. Profiles of neuromuscular diseases – Duchenne Mus-
com relação à questão “quando está longe de casa” cular Dystrophy. Am J Phys Rehabil Suppl 1995;74(5):S71-80.
tanto pela percepção das crianças quanto pela percep- 5. Anderson JL, Head SI, Rae C, Morley JW. Brain function in duchen-
ne muscular dystrophy. Brain 2002;125:4-13.
ção das mães14. Essa questão representa a idéia de au- 6. Frezza RM, Silva SRN, Fagundes SL. Atualização do tratamento fi-
tonomia, e os valores mais baixos são um reflexo das sioterapêutico das Distrofias Musculares de Duchenne e de Becker. RBPS
dificuldades que a doença impõe para as crianças e 2005;18(1):41-9.
7. Levy JA, Oliveira ASB. Afecções Neurológicas Periféricas. In: Levy
cuidadores. Doenças crônicas repercutem diretamen- JÁ, Oliveira ASB. Reabilitação em doenças neurológicas: guia terapêutico
te sobre a autonomia dessas crianças. prático. São Paulo: Atheneu, 2003, 31-59.
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dros AAJ, et al. Perfil clínico e funcional dos pacientes com Distrofia Mus-
CONCLUSÃO cular de Duchenne assistidos na Associação Brasileira de Distrofia Muscu-
A percepção da qualidade de vida dos pacien- lar (ABDIM). Rev Neurocienc 2006;14(1):15-22.
9. Caromano FA. Características do portador de Distrofia Muscular de
tes com DMD analisada sob o ponto de vista destes e Duchenne (DMD) – Revisão. Arq Cienc Saúde Unipar 1999;3(3):211-8.
sob o ponto de vista das mães não mostrou resultados 10. Umphred DA. Reabilitação neurológica. 4a ed. São Paulo: Manole,
estatisticamente significantes, ou seja, mães e filhos 2004, 1118 p.
11. Silva MC, Meira ZM, Giannetti JG, Silva MM, Campos AFO, Barbo-
compartilham a mesma opinião sobre a qualidade sa MM, et al. Myocardial delayed enhancement by Magnetic Resonance
de vida destes últimos, sendo que ambos julgaram Imaging in patients with muscular dystrophy. JACC 2007;49(18):1874-9.
12. Eiser C, Morse RA. Review of measures of quality of life for children
como boa à qualidade de vida. with chronic ilness. Arch Dis Child 2001;84:205-11.
Esses resultados que demonstram a percepção 13. Assumpção Júnior FB, Kuczynski E, Sprovieri MH, Elvira M. Es-
de uma boa qualidade de vida dessas crianças pode ser cala de Avaliação de Qualidade de vida (AUQEI – Autoquestionnaire
Qualité de Vie Enfant Imagé) – Validade e confiabilidade de uma escala
decorrente do estágio inicial da doença em que estas se para qualidade de vida em crianças de 4 a 12 anos. Arq Neuropsiquiatr
encontram. Um estudo futuro correlacionando a fun- 2000;58(1):1-11.
cionalidade destes pacientes com a qualidade de vida 14. Melo ELA, Moreno-Valdés MT. Evaluación de la calidad de vida de
los niños com distrofia muscular progressiva de Duchenne. Rev Neurol
dos mesmos pode ser útil para dirimir esta dúvida. 2007;45(2):81-7.
Pela dificuldade em avaliar a qualidade de 15. Holroyd J, Guthrie D. Srtess in families of children with neuromuscu-
lar disease. J Clin Psychol 1979;35(4):734-9.
vida de crianças e pelo fato de haver poucos artigos 16. Bothwell JE, Dooley JM, Gordon KE, MacAuley A, Camfield PR,
nacionais e internacionais abordando esse tema nes- MacSween J. Duchenne Muscular Dystrophy – Parental Perceptions. Clin
sa população em especial, vê-se necessária à utiliza- Pediatr 2002;41:105-9.
17. Thompson RJ, Zeman JL, Fanurik D, Sirotkin-Roses M. The role of
ção de um instrumento que seja capaz de verificar parent stress and coping and family functioning in parent and child adjust-
os verdadeiros sentimentos da criança em relação ao ment to Duchenne Muscular Dystrophy. J Clin Psychol 1992;48(1):11-9.
seu estado atual. Nosso estudo vem, portanto, contri- 18. Witte RA. The psychosocial impact of a progressive physical handi-
cap and terminal illness (Duchenne muscular dystrophy) on adolescents
buir para a melhor compreensão sobre a qualidade and their families. Br J Med Psychol 1985;58:179-87.
de vida de crianças com distrofia muscular de Du- 19. Polakoff RJ, Morton AA, Koch KD, Rios CM. The psychosocial and
cognitive impact of Duchenne´s Muscular Dystrophy. Semin Pediatr Neu-
chenne, bem como a visão das mães sobre seus filhos. rol 1998;5(2):116-23.
Além disso, nossos achados, possuem implicações 20. Fitzpatrick C, Barry C. Communication within families about Du-
clínicas importantes, uma vez que eles contradizem chenne Muscular Dystrophy. Dev Med Child Neurol1986;28:596-9.
a opinião de que pacientes com DMD possuem qua-
lidade de vida prejudicada.
Dessa forma, a idéia de qualidade de vida deve
fazer cada vez mais parte da rotina de avaliação do
paciente, visto que o objetivo final de qualquer pro-
fissional da saúde é alcançar a satisfação e melhorar
a qualidade de vida do indivíduo.

279 Rev Neurocienc 2008;16/4:275-279


original

Variação dos níveis glicêmicos durante


internação de pacientes não diabéticos
após Acidente Vascular Cerebral
Variation of glucose levels during hospitalization of non diabetic patients after stroke

Tania Oliveira Lopes1, Sílvia de Barros Ferraz2, Luis Fernando Lisboa3,


Adriana Serra Cypriano4, Paulo David Scatena Gonçalves5, Fernando Morgadinho
Santos Coelho6, Eliova Zukerman7

RESUMO SUMMARY
Introdução. Os pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) Introduction. After stroke same patients can develop in the
podem desenvolver na fase inicial da doença um aumento dos initial stages of the disease an increase of serum glucose, with
níveis séricos de glicemia, com consequente piora das lesões cere- the consequent worse of brain damage. One of the main rea-
brais. Um dos principais motivos apontados para a hiperglicemia sons given for hyperglycemia in stroke is an increase in pe-
no AVC é um aumento da resistência periférica à insulina. O ob- ripheral resistance to insulin. The objective is observed the
jetivo do trabalho é analisar a evolução dos níveis glicêmicos de evolution of glucose levels of patients, non-diabetic, hospital-
pacientes não diabéticos internados por acidente vascular cerebral ized after acute stroke. Method. The study was retrospective,
na fase aguda. Método. O trabalho é retrospectivo, por levan- approved by the ethics committee of the HIAE under number
tamento dos prontuários dos pacientes internados no período de 783\08, by analyzing the records of patients after stroke hos-
agosto de 2005 até janeiro de 2007. Resultados. A evolução foi pitalized from August 2005 until January 2007. Results. The
diferente para os grupos de faixas etárias acima e abaixo de 60 evolution was different for the two groups (above and below
anos (p=0,02), e para aqueles pacientes que necessitaram receber 60 years), age (p=0.02), and for those patients needing receive
intervenção para correção dos níveis de glicemia (p=0,03). Con- treatment for correction of glucose levels (p=0.03). Conclu-
clusão. O estudo confirmou uma maior dificuldade de controle sion. The study confirmed the greater difficulty in control of
dos níveis de glicemia em pacientes mais jovens e uma necessida- glucose levels in younger patients. A control on drug interven-
de de um controle mais rigoroso com intervenção medicamentosa tion in this population was favorable. The glucose levels in
nesta população estudada Os níveis glicêmicos em pacientes não non-diabetic patients admitted for hemorrhagic and ischemic
diabéticos internados por AVCH e AVCI foi semelhante. strokes were similar.

Unitermos: Glicemia. Acidente Cerebral Vascular. Keywords: Blood Glucose. Stroke. Insulin Resistance.
Resistência à Insulina.

Citação: Lopes TO, Ferraz SB, Lisboa LF, Cypriano AS, Gon- Citation: Lopes TO, Ferraz SB, Lisboa LF, Cypriano AS, Gon-
çalves PDS, Coelho FMS, Zukerman E. Variação dos níveis çalves PDS, Coelho FMS, Zukerman E. Variation of glucose le-
glicêmicos durante internação de pacientes não diabéticos após vels during hospitalization of non diabetic patients after Stroke.
Acidente Vascular Cerebral.

Trabalho realizado no Programa de Neurologia, Prática Endereço para correspondência:


Médica, Hospital Albert Einstein. Prática Médica
1. Enfermeira Coordenadora do Programa de Neurologia, Prática Av. Albert Einstein 627/701, 1º SS
Médica, Hospital Albert Einstein. 05651-901 São Paulo, SP.
2. Enfermeira Case Manager do Programa de Locomotor, Prática E-mail: fernandomorgadinho@hotmail.com
Médica, Hospital Albert Einstein.
3. Estatístico, Prática Médica, Hospital Albert Einstein
4. Coordenadora Administrativa da Epidemiologia, Prática Médica,
Hospital Albert Einstein. Recebido em: 08/07/08
5. Analista da Epidemiologia, Prática Médica, Hospital Albert Einstein. Revisado em: 09/07/08 a 01/12/08
6. Neurologista, Hospital Albert Einstein. Aceito em: 02/12/08
7. Neurologista, Doutorado, Hospital Albert Einstein. Conflito de interesses: não

Rev Neurocienc 2008;16/4: 280-283 280


original
INTRODUÇÃO nica do paciente com maior morbidade e mortalida-
Os pacientes com acidente vascular cerebral po- de, inclusive em pacientes submetidos à trombólise7,8.
dem desenvolver na fase inicial da doença um aumen- Um dos principais motivos apontados para a
to dos níveis séricos de glicemia que favorece maior hiperglicemia no AVC é um aumento da resistên-
perda celular na área de penumbra e perda cognitiva. cia periférica à insulina. O mecanismo de ação do
Os fatores que podem estar implicados nesse achado aumento da resistência a insulina no quadro agudo
são o estresse agudo da própria doença, ansiedade, uso do AVC ainda é desconhecido, porém é muito mais
de medicamentos e aumento da resistência periférica prevalente em pacientes com obesidade central, pa-
à insulina C1. Estudos demonstram que os pacientes cientes mais jovens vítimas de acidentes vasculares
vítimas de AVC apresentam alteração da sensibilidade lacunares ou aqueles pacientes mais sequelados9,10.
à insulina que pode durar até 90 dias, com associação O controle da glicemia na fase aguda do AVC é
de perda cognitiva importante2,3 tornando obrigatório recomendado pelos critérios da American Stroke Associa-
o controle dos seus níveis de glicemia4-6. tion com controles de glicemia capilar de 4 em 4 horas
O aumento da glicemia sérica piora as lesões nas primeiras 48 horas. O acompanhamento desses pa-
cerebrais causadas por acidente vascular cerebral is- cientes, mesmo que menos rigoroso, deve ser estendido
quêmico ou hemorrágico. O aumento dos níveis de por mais tempo e não pode ser negligenciado. A histó-
glicemia nas regiões perilesionais aumenta o edema ria negativa de diabete melito muitas vezes não alerta a
dos neurônios e das células gliais em anóxia por di- equipe a tomar medidas de controle da glicemia após a
ferença da osmolaridade intra e extracelular. Como fase aguda dos pacientes vítimas de AVC11.
conseqüência há maior morte celular nas áreas cere- O objetivo do trabalho é analisar a evolução
brais de penumbra ao redor do infarto cerebral. O dos níveis glicêmicos de pacientes não diabéticos, in-
não controle dos níveis séricos de glicemia acaba con- ternados por acidentes vasculares cerebrais na fase
tribuindo para um aumento da lesão e para piora clí- aguda no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).

Tabela 1. Evolução dos níveis de glicemia (mg/dl), segundo especialidade, faixa etária, tempo de internação, gênero, correção e controle glicêmico.
Número de pacientes, média das leituras e valor de p.
Leitura dos níveis de glicemia, média Diferença Evolução
Evolução 1a x últi-
entre os (multiva-
Variáveis Pacientes 1a
2 a
3 a
4 a
última (Isolado) ma leitura
fatores riado)
Total geral 98 121,8 124,8 120,3 116,6 117,8 – 0,0694 0,1016 –
Especialidade
Não Neurologia 37 120,6 123,3 118,3 116,6 119,7 0,3541 0,9465 0,8540 0,8645
Neurologia 61 122,6 125,7 121,4 116,7 116,7 – – – –
Faixa Etária (anos)
< 60 anos 19 113,1 122,2 119,0 123,8 135,2 0,6647 0,0194 0,0212 0,0035
≥ 60 anos 79 124,0 125,4 120,6 114,9 113,5 – – – –
Tempo de Internação (dias)
< 15 dias 74 117,4 127,4 120,3 117,3 117,8 0,4848 0,0209 0,0865 0,1286
≥ 15 dias 24 135,7 116,9 120,1 114,7 117,9 – – – –
Gênero
Feminino 48 125,8 126,1 122,4 117,0 113,5 0,7791 0,6259 0,5090 0,1572
Masculino 50 118,0 123,5 118,2 116,3 121,7 – – – –
Houve Correção
Não 91 120,4 125,0 122,0 116,9 117,8 0,7272 0,0148 0,0330 0,0244
Sim 7 140,3 121,9 97,3 113,1 118,4 – – – –
Controle Glicêmico Diário
Sem controle 3 164,3 120,5 165,0 123,0 171,0 0,1196 0,6405 0,6153 0,5860
1 x dia 6 123,7 107,8 111,3 119,7 108,3 – – – –
2 x dia 14 113,5 135,8 115,4 112,0 112,1 – – – –
3 x dia 25 126,6 119,9 117,2 112,2 111,8 – – – –
4 x dia 30 119,3 122,5 112,0 114,2 116,0 – – – –
6 x dia 20 118,7 132,3 138,0 127,8 132,2 – – – –

281 Rev Neurocienc 2008;16/4:280-283


original
140,0
< 60 anos Os níveis de glicemia foram avaliados e com-
135,0
≥ 60 anos parados segundo a especialidade do principal mé-
130,0
125,0
dico responsável (neurologista e não neurologista),
faixa etária (acima e abaixo de 60 anos), tempo de
mg/dl

120,0
115,0
internação, gênero e também em relação à evolu-
110,0 ção ao longo da internação. Foram considerados
105,0 níveis de glicemia aumentados aqueles maiores
100,0 que 140 mg/dl, seguindo o Protocolo de Aciden-
1a 2a 3a 4a Último
te Vascular Cerebral do Hospital Albert Einstein.
Figura 1. Níveis de glicemia sérica (mg/dl) e idade do paciente. Embora as condutas sejam estabelecidas em pro-
tocolos, os médicos têm autonomia para realizar
MÉTODO as intervenções diagnósticas e terapêuticas con-
forme as peculiaridades clínicas de seus pacientes,
Amostra assim, dentre outras, o número de vezes que se
O trabalho é retrospectivo, aprovado pela Co- realiza medidas de glicemia ao longo do dia pode
missão de Ética do Hospital Albert Einstein sob o variar de paciente a paciente. Os pacientes foram
número 783/08, por levantamento dos prontuários divididos em vítimas de acidente vascular cerebral
dos pacientes vítimas de acidentes vasculares cere- isquêmico e acidente vascular cerebral hemorrá-
brais internados no HIAE no período de agosto de gico. Também foram apresentadas a necessidade
2005 até janeiro de 2007. Com a finalidade de se de correção dos níveis glicêmicos e as medidas de
evitar viés de seleção, a amostragem dos prontuários controle em caso de hiperglicemia durante a inter-
foi realizada de forma aleatória por sorteio do nú- nação e na alta hospitalar.
mero de registro do paciente no banco de dados do
Hospital. Foram incluídos apenas os pacientes que Análise Estatística
na história clínica não referiam diabetes melitos. As leituras de glicemia foram descritas em
termos de média para cada leitura. A evolução dos
Procedimento níveis de glicemia em relação a cada variável iso-
Analisamos os prontuários de 98 pacientes lada foi realizada através da Análise de Variância
vítimas de acidente vascular cerebral. Anotamos os para medidas repetidas (ANOVA), e testada com
níveis de glicemia em do início da internação e a do o estimador de Huynh and Feldt. A diferença das
último dia de internação. Para verificar o estado gli- leituras ao longo do tempo em relação as variáveis
cêmico ao longo da internação, consideramos os 2 foi aplicada a análise de variância multivariada
valores das glicemias citadas acima e mais 3 valores para medidas repetidas. Foram consideradas esta-
de glicemia, os quais foram incluídos de forma alea- tisticamente significantes as diferenças com valor
tória, com a finalidade de se evitar viés de seleção de de p<0,05.
valores tendentes à normalidade ou anormalidade, As análises descritas e os testes aplicados foram
os quais poderiam variar apenas em função de dis- calculados com o auxílio do software SAS System for
posições dos pesquisadores envolvidos: favorecer ou Windows (Statistical Analysis System), versão 9.1.3.
desfavorecer os processos envolvidos com os cuida- SAS Institute Inc(c), 2002-2003 by SAS Institute Inc,
dos de pacientes com AVC. Cary, NC, USA.

140,0 160,0
< 15 dias
135,0 140,0 Não Sim
≥ 15 dias
130,0 120,0
125,0 100,0
mg/dl
mg/dl

120,0 80,0
115,0 60,0

110,0 40,0

105,0 20,0

100,0 0,0
1a 2a 3a 4a Último 1a 2a 3a 4a Último

Figura 2. Níveis de glicemia sérica (mg/dl) e tempo de internação. Figura 3. Níveis de Glicemia (mg/dl) e correção glicêmica.

Rev Neurocienc 2008;16/4: 280-283 282


original
RESULTADOS insulina. Para aqueles pacientes que necessitaram re-
Foram considerados 98 pacientes consecutiva- ceber correção, os níveis de glicemia durante a inter-
mente internados com diagnóstico de acidente vas- nação se apresentaram mais estáveis demonstrando
cular cerebral no Hospital Israelita Albert Einstein a importância do controle agressivo nesses pacientes
no período de agosto de 2005 até janeiro de 2007. As para diminuição da morbimortalidade5,11.
variáveis foram categorizadas de forma a obter fato- Em conclusão, pelo interesse e frequência práti-
res de agrupamento mais consistentes. Os resultados ca do tema e apesar de todos pacientes não terem tido
foram apresentados na Tabela 1. um acompanhamento pós alta pelos autores deste estu-
Não foi encontrada diferença significante nos do, o trabalho se propôs a demonstrar uma maior difi-
níveis de glicemia segundo especialidades médicas, culdade de controle dos níveis de glicemia em pacientes
tempo de internação e gênero. A evolução geral dos mais jovens e uma maior necessidade de intervenção
níveis de glicemia não apresentou diferença significan- medicamentosa durante a internação na fase aguda do
te (p=0,07) na análise univariada e (p=0,1) e na análi- AVCI. Também ficou demonstrado que na população
se multivariada entre AVCI e AVCH, mas a evolução estudada, houve uma tendência de aumento dos níveis
foi diferente () para os dois grupos de faixas etárias, glicêmicos em pacientes não diabéticos internados por
onde níveis glicêmicos finais foram maiores para os AVCH semelhante aos dos pacientes com AVCI. Este
pacientes abaixo de 60 anos (p=0,02); e para aqueles achado pode sugerir que haja semelhanças fisiopato-
pacientes que necessitaram receber intervenção para lógicas, inclusive em relação à resistência à insulina.
correção dos níveis de glicemia observou-se níveis gli- Posteriores estudos devem ser realizados com número
cêmicos menores ao longo da internação (p=0,03). maior de pacientes e com maior tempo de acompanha-
Os dados sugerem que pacientes com idade mento pós alta para confirmação dos resultados.
menor do que 60 anos apresentam os níveis séricos
de glicemia mais comumente acima da faixa prevista AGRADECIMENTOS
pelo Protocolo do que aqueles pacientes com mais Pedro Paulo Porto Júnior, Roberto Naun Fran-
do que 60 anos na população estudada (Figura 1), e co Morgulis, Alexandre Pieri, Paulo Hélio Monzillo
que os pacientes que foram submetidos às correções e Luiz Augusto Franco de Andrade.
durante a internação permaneceram com os níveis
de glicemia séricos mais controlados (Figura 2). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A não variabilidade em gênero é um dado dife- ses. Adv Cardiol. 2008;45:107-13.
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5. Adams HP Jr, del Zoppo G, Alberts MJ, Bhatt DL, Brass L, Furlan A,
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mesmos cuidados necessários para controle dos níveis guideline from the American Heart Association/American Stroke Association
Stroke Council, Clinical Cardiology Council, Cardiovascular Radiology and
glicêmicos destes pacientes. Os níveis de glicemia não Intervention Council, and the Atherosclerotic Peripheral Vascular Disease and
variaram em relação ao tempo de internação, quan- Quality of Care Outcomes in Research Interdisciplinary Working Groups:
do comparados o tempo total de internação de até 15 The American Academy of Neurology affirms the value of this guideline as
an educational tool for neurologists. Circulation 2007;115(20):e478-534.
dias e mais de 15 dias, o que caracteriza a importância 6. Wong AA, Schluter PJ, Henderson RD, O’Sullivan JD, Read SJ.
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cemia. Os pacientes internados pelos diferentes tipos stroke. Neurology 2008;70(13):1036-41.
7. Arboix A, Rivas A, García-Eroles L, Lourdes M, Massons J, Olive-
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comportam de maneira semelhante quanto aos ní- and predictors of in-hospital mortality. BMC Neurol 2005;5:9.
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AVCH. A diferente evolução dos níveis glicêmicos foi Shulman GI, et al. Impaired insulin sensitivity among nondiabetic patients
diferente para os dois grupos de faixas etárias, sendo with a recent TIA or ischemic stroke. Neurology. 2003;60(9):1447-51.
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que 60 anos explicada por uma possível resistência à ischemic stroke. Vasc Health Risk Manag. 2007;3(5):749–54.

283 Rev Neurocienc 2008;16/4:280-283


original

Avaliação do desenvolvimento
neuropsicomotor de crianças em Centros
de Educação Infantil em Concórdia
Evaluation of neurological and psychomotor development in children from baby centers
of Concórdia

Rubia do Nascimento1, Valéria S Faganello Madureira2, Jones Eduardo Agne3

RESUMO SUMMARY
Objetivo. Avaliar o Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) de Objective. To evaluate the neurological and psychomotor development
crianças dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Con- (NPMD) in children Centros Municipais de Education Infantil – CMEIs
córdia, SC. Método. De 132 crianças foram incluídas 61, entre 4 e 12 (baby centers) of Concórdia, Santa Catarina, Brazil. Method. Out of
meses de idade, freqüência integral e ausência de doenças neurológicas, 132 children, 61 children were included, aged 4 to 12 months old, morn-
e foram avaliadas por meio da Escala Brunet-Lézine (EBL). Um questio- ing and afternoon schedules, and absence of neurological diseases. The
nário sobre a história pré, peri e pós-natal da criança, as condições socio- Brunet-Lézine Scale (BLS) evaluated the NPMD. The parents answered
econômicas e de moradia da família e o nível de escolaridade dos pais. a questionnaire about associated features of NPMD, children history of
Resultados. A idade cronológica média foi de 8,7 meses. Observou-se prenatal, perinatal and postnatal period, the socioeconomic conditions,
período pré-natal sem intercorrências (65,6%), parto sem complicações and parental education. Results. The chronological age mean was 8.7
(85,2%), ausência de complicações após o nascimento (83,6%), e condi- months. We observed that prenatal period was without problems (65.6%),
ções socioeconômicas, de moradia e escolaridade dos pais adequadas para delivery without complications (85.2%), absence of complications after
o DNPM das crianças. Os resultados da EBL mostram que os valores the birth (83.6%), and socioeconomic conditions and parental education
médios de idades e de quocientes de desenvolvimento nas áreas postural adequate for children’s NPMD. The BLS results showed mean values of
(9,4 meses; 112,2), de coordenação óculo-motriz (9 meses; 107,4), da lin- age and development in Postural domain (9.4 months; 112.2), Eye-Hand
guagem (8,7 meses; 106,1), de sociabilidade (9,9 meses; 118,8) e global (9,3 Coordination (9 months; 107.4), Language (8.7 months; 106.1), Socia-
meses; 111,3) foram iguais ou superiores a média da idade cronológica (8,7 bility (9.9 months; 118.8), and Global (9.3 months; 111.3) domains were
meses) e que todas as áreas psicomotoras foram classificadas dentro dos ní- superior to chronological age (8.7 months). All Psychomotor domains
veis de normalidade. Conclusão. As crianças nos CMEIs apresentaram were within normal values. Conclusion. These CMEIs children pre-
um DNPM adequado às suas idades cronológicas. sented an appropriate NPMD regarding to their chronological age.

Unitermos: Avaliação. Desempenho Psicomotor. Criança. Keywords: Evaluation. Psychomotor Performance. Child.

Citação: Nascimento R, Madureira VSF, Agne JE. Avaliação do de- Citation: Nascimento R, Madureira VSF, Agne JE. Evaluation of neu-
senvolvimento neuropsicomotor de crianças em Centros de Educação rological and psychomotor development in children from baby centers
Infantil em Concórdia. of Concórdia.

Trabalho realizado na Universidade do Contestado – UnC – Unidade Endereço para correspondência:


Universitária de Concórdia, SC. Rubia do Nascimento
1. Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde Humana, Docente da Universidade Comu-
nitária Regional de Chapecó, UNOCHAPECÓ. Universidade Comunitária Regional de Chapecó – UNOCHAPECÓ
2. Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente da Universidade do Contestado, UnC. Centro de Ciências da Saúde
3. Fisioterapeuta, Doutor em Psicologia Social, Docente da Universidade Federal de Santa Av. Sem. Atílio Fontana, 591-E
Maria, UFSM.
89809-000 Chapecó, SC
E-mail: rubianasci@unochapeco.edu.br

Recebido em: 29/07/08


Revisado em: 30/07/08 a 02/10/08
Aceito em: 03/10/08
Conflito de interesses: não

Rev Neurocienc 2008;16/4: 284-291 284


original
INTRODUÇÃO criança, pois é nele que ela se estrutura como ser
Diferentes fatores de risco podem estar rela- individual e social, capaz de interagir com outros
cionados ao atraso do Desenvolvimento Neuropsico- níveis de amplitude e de construir espaços entre os
motor (DNPM) no primeiro ano de vida, dos quais setores sociais envolvidos no processo de construção
é possível citar os genéticos, biológicos, psicológicos de uma vida saudável. Ocupar-se dessa população
e ambientais, envolvendo interações complexas en- para que ela não adoeça, priorizar programas que
tre eles1. Tendo em vista que características multi- protejam sua saúde, chamar as famílias para partici-
fatoriais estão envolvidas no processo de desenvolvi- par ativamente do cuidado de sua saúde e a adoção
mento infantil, há um efeito cumulativo no risco da de modos de vida saudáveis são ações que podem
criança apresentar atraso2. diminuir o impacto de acontecimentos estressantes
Em se tratando de fatores de risco para suspeita que essas crianças possam vir a sofrer, tanto na pers-
de atraso no DNPM aos 12 meses de idade, um estu- pectiva pessoal-subjetiva como social-comunitária6.
do ressalta que a renda familiar e a escolaridade dos Nesse contexto, destacam-se os Centros Mu-
pais representaram as características socioeconômicas nicipais de Educação Infantil (CMEIs) e as creches
que sobredeterminaram as demais variáveis indepen- como ambientes que influenciam o crescimento e
dentes. O baixo peso ao nascimento, a idade gestacio- o desenvolvimento integral da criança. Observa-se
nal inferior a 37 semanas e a amamentação materna que atualmente a demanda por serviços de cuidado
inferior a três meses também foram fatores apontados infantil é grande e a tendência é aumentar devido
como risco para a evolução destas crianças. Eventos à participação crescente da mulher no mercado de
negativos como os citados podem fazer com que as trabalho. Entretanto, no Brasil, as creches públicas
crianças tenham maior chance de apresentar atrasos costumam ser um reduto de crianças de classes so-
em seu potencial de crescimento e desenvolvimento2. cioeconômicas menos privilegiadas7 e estudos apon-
A prematuridade é outro fator de risco para tam a associação entre a freqüência a creches e um
atraso no DNPM, principalmente se for associada maior risco de infecções respiratórias e diarréia8.
a outros fatores biológicos e ambientais. A evolução No município de Concórdia, SC, existem tre-
científica e tecnológica na área de neonatologia tem ze CMEIs, os quais objetivam atender a crianças de
permitido que a taxa de mortalidade de bebês pre- 0 a 6 anos integrando ações educativas e assisten-
maturos considerados de alto risco diminua. Porém, ciais9. Sabendo que fatores biológicos e ambientais
estes bebês apresentam maior risco para distúrbios influenciam no processo dinâmico que envolve o
do desenvolvimento e condições de incapacidade do desenvolvimento, a avaliação de crianças atendidas
que os bebês nascidos a termo3. Além disso, crian- nestes locais pode apontar as que estão em situa-
ças biologicamente saudáveis também podem ter o ção de risco para o seu potencial neuropsicomotor.
desenvolvimento influenciado negativamente por fa- Tendo em vista que os CMEIs buscam desenvolver
tores de risco ambientais, tais como ausência do pai, a identidade e a autonomia da criança, o atraso no
utilização de brinquedos inadequados para a faixa DNPM é um fator negativo para o alcance de tais
etária, falta de orientação pedagógica e de socializa- objetivos. Ao se conhecer o desenvolvimento neu-
ção extra familiar precoce e baixa condição socioe- ropsicomotor das crianças, poder-se-á implementar
conômica familiar4. um programa de estimulação neuropsicomotora que
Os primeiros anos de vida são essenciais no atenda às reais necessidades de cada uma.
processo de formação da saúde física e mental do ser Este estudo teve como objetivos avaliar o
humano. É na infância que ocorrem o crescimento e o DNPM de crianças freqüentadoras de CMEIs nas
desenvolvimento da pessoa em ritmo intenso, tanto do áreas postural, óculo-motriz, da linguagem e social e
ponto de vista biológico, quanto psicossocial e emocio- analisar os fatores biológicos e ambientais que pos-
nal. Neste contexto, é importante o acompanhamento sam estar influenciando esse desenvolvimento.
do crescimento e desenvolvimento, considerados cen-
trais na atenção à saúde infantil. Para um desenvolvi- MÉTODO
mento pleno, as crianças necessitam também de um
ambiente de segurança, amor, afeto e estimulação das Amostra
suas habilidades físicas e intelectuais5. Este estudo caracterizou-se como uma pesqui-
Neste sentido, os programas vinculados à saú- sa transversal, realizada em 13 Centros Municipais
de infantil devem estar voltados para o ambiente da de Educação Infantil (CMEIs) de Concórdia, SC.

285 Rev Neurocienc 2008;16/4:284-291


original
Para a seleção da amostra, os seguintes critérios de le postural e motricidade; linguagem; coordenação
inclusão foram considerados: faixa etária de 4 a 12 óculo-motriz ou conduta de adaptação na visão do
meses e 29 dias de idade, sem distinção de sexo, cor objeto; relações sociais e pessoais. Apresenta 10 itens
ou classe social, freqüentadores dos CMEIs em perí- de testagem para cada mês, sendo que os 6 primeiros
odo integral, cujos pais ou responsáveis consentissem referem-se a testes posturais, óculo-motores, da lin-
em participar. Os critérios de exclusão foram: faixa guagem e sociais e os 4 últimos são questões sobre o
etária de 0 a 3 meses e 29 dias de idade, com idade controle postural, a linguagem e a sociabilidade, as
igual e superior a 13 meses, faixa etária entre 4 e 12 quais devem ser respondidas pelos pais ou professo-
meses de idade freqüentadoras dos CMEIs em pe- res por serem melhores observadas por eles.
ríodo parcial, crianças sem autorização dos pais ou Os objetos que constituíram o kit de avalia-
responsáveis, crianças com doenças degenerativas, ção da Escala Brunet-Lézine foram os seguintes:
11

síndromes neurológicas e com diagnósticos estabele- 10 cubos, vermelho vivo, de 2,5 cm de aresta; uma
cidos de lesão cerebral. xícara de alumínio; uma colher; uma campainha
Aqueles que freqüentavam os locais em perí- metálica brilhante de 12 cm de altura; um chocalho
odo parcial, abandonaram ou com baixa freqüência pequeno; um anel de madeira vermelho de 13 cm de
durante o período de coleta de dados foram exclu- diâmetro amarrado a uma fita de 25 cm; um espelho
ídos da metodologia, sendo que das 132 crianças, de 30 cm x 25 cm; um pano quadrado (tecido não
selecionou-se 61. transparente); uma pastilha de 8 mm de diâmetro;
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética um lápis azul (10 cm); um bloco de papel de 20 cm x
da Universidade do Contestado (UnC) com cadastro 13 cm; um frasco de vidro de 9 cm de altura com o
049/2005 e autorizado pela Secretaria Municipal de gargalo de 2 cm de diâmetro.
Educação do município. Entrou-se em contato com A avaliação propriamente dita foi realizada
os representantes legais das crianças a fim de que fos- em uma sala especialmente preparada para tal fina-
se esclarecido o estudo. Foram informados e assina- lidade, seguindo as orientações obtidas pela pesqui-
ram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sadora em treinamento prévio. As avaliações foram
da pesquisa. agendadas com as professoras e com as mães, bus-
cando respeitar o horário do sono, da alimentação,
Procedimento da higiene, do estado emocional da criança e das
Como instrumentos de avaliação foram utili- demais atividades dos locais. Para amenizar o estra-
zados um questionário elaborado por Souza10 para nhamento entre criança e examinadora, houve um
caracterização de fatores associados ao DNPM das contato prévio entre ambas no dia anterior à ava-
crianças e a Escala de Desenvolvimento Psicomotor liação e no dia da aplicação do instrumento. Cada
da Primeira Infância Brunet-Lézine11 adaptada de criança foi avaliada por meio da Escala Brunet-Lézi-
acordo com as condições culturais do Brasil10. ne em uma única sessão com duração aproximada
O questionário incluía perguntas referentes de 40 minutos.
aos dados de identificação da criança, à história pré- Os primeiros seis itens da avaliação consisti-
natal, peri-natal e pós-natal da criança (duração da ram em apresentar à criança os instrumentos que
gestação em semanas, intercorrências, tabagismo e compõem o kit de avaliação e observar suas reações
assistência médica durante a gestação, tipo de parto, mediante o objeto. As quatro últimas questões da Es-
necessidade de atendimento de urgência no momen- cala foram aplicadas pela pesquisadora às mães de
to do parto para o bebê respirar, infecções/problemas cada criança, bem como às professoras responsáveis.
respiratórios e/ou cardíacos logo após nascimento, O intuito de aplicar as mesmas questões para mães e
peso ao nascer, Apgar (avaliação quantitativa do es- professoras foi de confrontar as respostas obtidas. Foi
tado clínico neonatal realizada entre 1o e 5o minutos estabelecido que, na presença de dados incoerentes,
de vida) e amamentação), condições socioeconômi- a resposta utilizada para fins de cálculo da idade de
cas da família, de moradia, nível de escolaridade dos desenvolvimento, seria aquela oferecida pela mãe.
pais e situação conjugal. Após as observações, preenchia-se a ficha de
A Escala de Desenvolvimento Psicomotor registro da Escala para então obter o número de
da Primeira Infância Brunet-Lézine11 é composta pontos referentes a cada área do desenvolvimento.
por 150 itens e avalia crianças de 0 a 30 meses de De posse do número de pontos, realizava-se a con-
idade em quatro áreas do desenvolvimento: contro- versão dos mesmos em idades de desenvolvimento11,

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para então proceder com o cálculo dos quocientes de Quadro 1. Níveis motores de classificação segundo a Escala de Desen-
volvimento Psicomotor da Primeira Infância Brunet-Lézine11.
desenvolvimento e encontrar o nível motor (classifi-
Quocientes de desenvolvimento Classificação
cação) de cada área (quadro 1). Quanto às crianças
> 130 Muito Superior
prematuras, cabe ressaltar que as idades cronológi-
129–120 Superior
cas foram corrigidas antes do cálculo dos quocientes
119–110 Normal Alto
de cada área.
109–90 Normal Médio
89–80 Normal Baixo
Análise Estatística
79–70 Inferior
Para apreciação dos dados foi utilizado o
programa Statistical Package for the Social Sciences SPSS < 70 Muito Inferior
Fonte: Souza10
13.0 for Windows (2005) que analisa descritivamente
os resultados, fornecendo dados como média, valor Quanto ao parto, 62,3% da amostra nasce-
mínimo e máximo. ram por cesariana, sendo que 14,8% das mães en-
trevistadas relataram urgência no momento do parto
RESULTADOS e 85,2% não relataram.
Quanto às características da amostra no que Um percentual de 78% da amostra (48 crian-
se refere à freqüência e ao sexo foram avaliadas 61 ças) apresentou idade gestacional ao nascimento va-
crianças, sendo 56% (n=34) do sexo masculino e riando de 38 a 42 semanas; o percentual de 18% (11
44% (n=27) do sexo feminino. Quanto à freqüên- crianças) apresentou idade gestacional variando de
cia simples das idades cronológicas participaram da 32 a 37 semanas; o percentual de 2% (uma criança)
amostra 10 crianças entre 4 e 6 meses; 16 entre 6,1 idade gestacional inferior a 32 semanas e com igual
e 8 meses; 14 entre 8,1 e 10 meses e 21 entre 10,1 e percentual (2%) identificou-se idade gestacional su-
12,9 meses (Gráfico 1). perior a 42 semanas. No que se refere à média da
variável idade gestacional, a tabela 3 demonstra va-
Fatores associados ao Desenvolvimento riação de 38 a 42 semanas, com valor mínimo de 29
Neuropsicomotor semanas e máximo de 43 semanas.
Quanto às condições ligadas à gestação, Em se tratando do peso ao nascimento, o per-
65,6% das mães entrevistadas não apresentaram centual de 88,6% (54 crianças) apresentou peso su-
intercorrências no período pré-natal, entretanto perior a 2500 gramas; 9,8% (6 crianças) peso entre
8,2% relataram hipertensão associada a sangramen- 1500 e 2500 gramas e 1,6 % (uma criança) inferior
to exagerado do útero e, com mesmo percentual, a à 1500 gramas. Em relação à média da variável peso
infecção pré-natal; 4,9% relataram hipertensão arte- ao nascer, a tabela 3 demonstra um valor de 3.188,31
rial. Outras intercorrências com menor percentual gramas; com valor mínimo de 1480 gramas e máxi-
foram encontradas, totalizando 8,2% (descolamento mo de 4.320 gramas.
de placenta, ameaça de aborto, hipotensão arterial). Escore de Apgar inferior a 7 no primeiro mi-
Um percentual de 96,7% das mães relatou não ter nuto foi encontrado em 4,9% da amostra (3 crian-
fumado durante a gestação, restando 3,3% de mães ças); já no quinto minuto, somente uma criança
tabagistas. A assistência pré-natal com no mínimo (1,6%) se manteve com o escore inferior a 7. Na ta-
seis consultas pré-natais foi realizada pela totalidade bela 3 verifica-se uma média de 7,71 para os escores
das mães do estudo. de Apgar do primeiro minuto, com valor mínimo de
4 e máximo de 9. A média dos escores de Apgar do
Frequência das idades cronológicas quinto minuto foi de 8,88 com valor mínimo de 6 e
máximo de 10.
25 21 Complicações logo após o nascimento, como ne-
cessidade de ventilação mecânica, foi citada por 16,4%
Número de crianças

20 16
14
15
10 das mães, sendo que um percentual de 83,6% relata-
10
ram não ter ocorrido intercorrências neste período.
5
O aleitamento materno de 9,8% das crianças ocor-
0
4–6 meses 6,1–8 meses 8,1–10 meses 10,1–12,9 meses reu até o terceiro mês de vida, enquanto 85,2% das crian-
Gráfico 1. Freqüência simples das idades cronológicas das crianças ças foram amamentadas por mais de 3 meses. Apenas 5%
avaliadas. das crianças não foram amamentadas pela mãe.

287 Rev Neurocienc 2008;16/4:284-291


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Quanto aos aspectos sócio-econômicos pode-se risco de desenvolver atraso em 4 crianças da amos-
verificar que a grande maioria das famílias possui mo- tra (6,6%), já que as mesmas apresentaram classifi-
radia de alvenaria (59%) e cerca de 50% são próprias; cação normal baixo. Uma freqüência de 3 crianças
da mesma forma pode-se afirmar que quanto às con- (4,9%) apresentou classificação inferior (3,3%) e
dições de saneamento básico essas moradias possuem muito inferior (1,6%), colocando-as em situação de
um sistema de água e esgoto encanado em mais de atraso no desenvolvimento postural. Na coordena-
95% das residências. A média da renda familiar das ção óculo-motriz, 4 crianças (6,6%) apresentaram
famílias estudadas está entre 1 e 5 salários mínimos. risco de desenvolver atraso e somente uma (1,6%)
Quanto ao nível de escolaridade, constatou-se apresentou classificação muito inferior, colocando-a
que o percentual de 23% dos pais e 19,7% das mães em situação de atraso no desenvolvimento da coor-
completou somente o ensino fundamental; 39,3% denação óculo-motriz. O risco de desenvolver atraso
dos pais tem formação escolar de nível médio, dado na área da linguagem foi encontrado em 10 crian-
encontrado em 42,6% das mães participantes. A for- ças (16,4%), já que os escores obtidos demonstraram
mação superior em nível de graduação foi apresenta- classificação normal baixo. A situação de atraso no
da por 6,6% em ambos os sexos. Somente 1,6% dos desenvolvimento da linguagem foi observada em
pais possuem pós-graduação; por outro lado, 16,4% 6 crianças (9,8%), com classificação muito inferior
das mães apresentaram este nível de escolaridade. (1,6%) e inferior (8,2%). Na área da sociabilidade
No que se refere à situação conjugal dos pais a classificação normal baixo foi encontrada em 4
das crianças, constatou-se que 54,1% moram juntos crianças (6,6%), já as classificações inferior e muito
e 36,1% são legalmente casados. A menor parcela inferior não foram identificadas, demonstrando que
de pais não casou (1,6%) ou ainda encontrava-se se- nenhuma das crianças apresentou atraso nesta área.
parada (8,2%). Pode-se dizer que 90,2% dos pais e Ao se tratar do desenvolvimento global, verificou-se
mães apresentam união estável, estando legalmente que não houve ocorrências de crianças com risco de
casados ou não. desenvolver atraso, porém a situação de atraso insta-
lado foi observada em uma criança do estudo.
Avaliação do Desenvolvimento Neuropsicomotor
Os resultados descritos na tabela 1 demons- DISCUSSÃO
tram que a idade cronológica (IC) média da amostra O percentual alto de mães que relataram não
na avaliação foi de 8,7 meses, com valores mínimo e ter apresentado intercorrências pré-natais, bem como
máximo de 4,2 e 12,8 meses. As médias de idade de de mães que referem não ter fumado durante a ges-
desenvolvimento (ID) nas áreas postural, de coorde- tação pode estar associado à assistência pré-natal re-
nação óculo-motriz, da linguagem, da sociabilidade alizada, pois a totalidade de mães seguiu as recomen-
e global variaram de 8,7 a 9,9 meses. Os valores mí- dações do Ministério da Saúde12. Somente em uma
nimos encontrados nas idades de desenvolvimento
foram de 4,0; 4,4 e 5,0 meses. Já os valores máximos
variaram de 15,7 a 18 meses. As médias dos quo- Tabela 1. Valores das variáveis obtidas pela aplicação da Escala Bru-
net-Lézine11.
cientes de desenvolvimento (QD) do presente estudo
Média Mínimo Máximo
apresentaram valores de 106,1 a 118,8. Os valores
Idade Cronológica em meses 8,7 4,2 12,8
mínimos encontrados para os quocientes de desen-
Idades de Desenvolvimento
volvimento foram de 56,9 a 80,5. Já os valores máxi-
Postural 9,4 4,0 16,5
mos variaram de 166,7 a 173.
Coordenação óculo-motriz 9,0 4,0 15,7
A tabela 2 apresenta as freqüências e os per-
Linguagem 8,7 5,0 18,0
centuais das crianças com níveis motores (classifica-
Sociabilidade 9,9 5,0 18,0
ção) normal baixo, inferior e muito inferior, obtidos
Global 9,3 4,4 15,9
a partir do cálculo dos Quocientes de Desenvolvi-
mento em cada área do DNPM avaliada. A classi- Quocientes de Desenvolvimento

ficação normal baixo é considerada sinal de alerta Postural 112,2 68,3 157,1

para atraso no desenvolvimento, já as classificações Coordenação óculo-motriz 107,4 65,8 146,6

inferior e muito inferior demonstram uma condição Linguagem 106,1 56,9 166,7

de atraso instalado. Em relação à área postural do Sociabilidade 118,8 80,5 173,0

desenvolvimento observa-se, na referida tabela, um Global 111,3 74,4 147,6

Rev Neurocienc 2008;16/4: 284-291 288


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Tabela 2. Freqüência simples e percentual dos níveis motores de mesmo. Na avaliação com a Escala Brunet-Lézine,
acordo com o Quociente de Desenvolvimento.
observou-se que esta criança apresentou classificação
Níveis Motores
Áreas do DNPM
(Classificação)
Freqüência Percentual normal baixo para a área de desenvolvimento postu-
Normal Baixo 4 6,6
ral, sendo esse um indicativo de alerta para atraso.
Postural Inferior 2 3,3
Em relação aos demais bebês prematuros, quatro
Muito Inferior 1 1,6
deles nasceram com baixo peso (entre 1.500 e 2.500
Normal Baixo 4 6,6
gramas) e um deles apresentou Apgar igual a quatro
Coordenação
Inferior 0 0
no primeiro minuto e igual a seis no quinto minuto; a
óculo-Motriz idade gestacional foi de 29 semanas o que o classifica
Muito Inferior 1 1,6
como recém-nascido extremamente prematuro. Este
Normal Baixo 10 16,4
bebê apresentou atraso no desenvolvimento global,
Linguagem Inferior 5 8,2
com prejuízo principalmente nas áreas do desenvol-
Muito Inferior 1 1,6
vimento postural e da coordenação óculo-motriz.
Normal Baixo 4 6,6
Considerando o peso ao nascer, a idade gesta-
Sociabilidade Inferior 0 0
cional e a associação destas variáveis com a suspeita
Muito Inferior 0 0
de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor estu-
Normal Baixo 0 0
do demonstra que crianças com menor peso de nasci-
Global Inferior 1 1,6
mento (inferior a 2.000 gramas) tiveram quatro vezes
Muito Inferior 0 0
mais chance de apresentar maior risco de suspeita de
Normal Baixo: Alerta para atraso; Inferior: Atraso instalado; Muito Inferior:
Atraso instalado atraso do que aquelas com maior peso. Da mesma
forma, as crianças com menor tempo de gestação
criança do estudo há possibilidade de relação dos (IG inferior a 37 semanas) tiveram 60% mais chance
resultados da avaliação neuropsicomotora com o ta- de apresentar atraso2. O índice de Apgar (avaliação
bagismo durante a gestação. Esta criança apresentou quantitativa do estado clínico neonatal realizada en-
classificação normal baixo na área da linguagem, o tre 1o e 5o minutos de vida), quando for inferior a 6
que é considerado indicativo de alerta para atraso na no quinto minuto, e a história de prematuridade de-
referida área. O uso de cigarros pela mãe pode trazer vem ser verificados nas avaliações neuropsicomoto-
complicações na gravidez como abortamento, prema- ras, pois são considerados indicadores de risco para
turidade, pré-eclâmpsia, descolamento de placenta e o neurodesenvolvimento15.
placenta prévia. Além disso, complicações relaciona- O aleitamento materno e a relação deste fator
das ao desenvolvimento da criança, como crescimen- com o desenvolvimento neuropsicomotor foi assun-
to lento, dificuldades de aprendizagem e problemas to abordado em um estudo que evidenciou que as
comportamentais durante os cinco primeiros anos13. crianças as quais nunca foram amamentadas tiveram
No presente estudo, encontraram-se casos de um risco 88% maior de atraso no DNPM do que as
urgência no parto e relação com risco de atraso e que foram aleitadas ao seio materno até os 6 meses
atraso no DNPM, pois em três bebês que sofreram de idade2. Considerando que a maioria das crianças
intercorrências no parto observou-se que a área pos- da amostra foi amamentada com leite materno por
tural apresentou classificação normal baixo (alerta mais de 3 meses, pode-se supor que este fator tenha
para atraso conforme a Escala Brunet-Lézine) e clas- influenciado positivamente nos resultados encontra-
sificação muito inferior (atraso) em um caso. A anó- dos quanto ao DNPM da maioria das crianças.
xia perinatal decorrente de complicações no parto O processo de crescimento e desenvolvimento
pode comprometer o desenvolvimento neuropsico- infantil é produto de fatores internos e externos. Den-
motor da criança e causar lesão encefálica14. tre os externos, merecem destaque os fatores relacio-
Verificou-se também a possível associação das nados à qualidade do meio ambiente onde a criança
variáveis peso de nascimento, idade gestacional e se encontra, incluindo a alimentação, a higiene cor-
Apgar com o DNPM ao observar o caso do bebê que poral e ambiental, o cuidado oferecido pela famí-
apresentou peso inferior a 1.500 gramas, prematu- lia (condições psicológicas e afetivas) e as condições
ridade (IG de 36 semanas) e Apgar igual a cinco no econômicas, sociais e culturais dessa família5. Sobre
primeiro minuto de vida e igual a oito no quinto mi- as condições econômicas, destaca-se que a média da
nuto. A mãe desta criança também relatou urgência renda familiar das famílias estudadas é superior aos
no parto para o bebê respirar e complicações após o 42% das crianças de 0 a 6 anos que se encontram em

289 Rev Neurocienc 2008;16/4:284-291


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famílias com renda mensal inferior a meio salário mí- sociabilidade e global foi classificado como normal
nimo, conforme dados do IBGE – 199916. alto seguindo a classificação obtida a partir do escore
A baixa escolaridade materna pode ser consi- da média do quociente de desenvolvimento postural
derada fator de risco para atraso do DNPM associa- (112,2), do quociente de desenvolvimento da socia-
do à qualidade do ambiente6. Neste sentido, a maio- bilidade (118,8) e do quociente de desenvolvimento
ria das mães entrevistadas apresentou escolaridade global (111,3). O escore da sociabilidade foi o que
favorável ao DNPM das crianças. A ausência do pai alcançou o maior valor absoluto entre todos os quo-
pode influenciar negativamente no desenvolvimen- cientes obtidos. As áreas da coordenação óculo-mo-
to infantil, sendo também considerado fator de risco triz (107,4) e da linguagem (106,1) foram classifica-
relacionado à qualidade do ambiente4. No presente das no nível motor normal médio. A constatação de
estudo, o fato da maioria dos pais e mães co-habita- que todas as áreas estiveram dentro da normalidade
rem pode ter influenciado positivamente no DNPM corrobora com estudo10, cujos resultados demons-
da amostra estudada. Além disso, as condições de traram que o desenvolvimento médio das crianças
moradia e saneamento básico da maioria das resi- da amostra encontrava-se praticamente apropriado
dências também podem ter contribuído com os re- às suas idades (área postural – QDP=106,7; óculo-
sultados encontrados em relação ao DNPM. motriz – QDC=96,6; social – QDS=94,8 e global
Existe o consenso de que crianças acompa- – QDG=97,8; com ligeiro déficit na área da lingua-
nhadas, quando identificados precocemente sinais de gem – QDL=90,7); sendo todos dentro do perfil de
anormalidade, demonstram melhoria na condição normalidade média. Comparando as médias dos
de respostas e rearranjos na plasticidade cerebral, quocientes relatados na pesquisa10 com as do pre-
capazes de minimizar impacto no desenvolvimento sente estudo, observa-se que este apresentou valores
funcional e estrutural, melhorando o desenvolvi- maiores em todas as áreas avaliadas, porém também
mento físico, mental, percepto-sensorial e afetivo17. demonstra ligeiro déficit na linguagem em relação
No presente estudo, pode-se constatar a possibilida- às outras áreas de desenvolvimento. Neste sentido, a
de de identificação precoce de sinais de anormalida- tabela 2 demonstra que o maior número de ocorrên-
de no DNPM e da implementação de um programa cias de nível muito inferior e inferior foi observado
preventivo ao ser observada a idade cronológica (IC) na área da linguagem, quando comparada com as
média da amostra na avaliação (8,7 meses). outras áreas. A autora10 sugere que, no seu estudo,
As médias de idade de desenvolvimento (ID) o número reduzido de professoras por aluno pode
nas áreas postural, de coordenação óculo-motriz, da estar restringindo as interações e estimulação ade-
sociabilidade e global foram superiores à média da quada ao desenvolvimento da linguagem, devido ao
idade cronológica (IC). Destas, a área da sociabilidade necessário e exaustivo trabalho exigido para atendi-
foi a que apresentou a maior média de idade de de- mento das rotinas de higiene e alimentação.
senvolvimento, estando 1,2 meses (36 dias) à frente da Nos quocientes de desenvolvimento mínimos do
IC. Em termos de ID, nenhuma das áreas apresentou presente estudo, observa-se que as áreas postural, da co-
resultados inferiores à média da IC, demonstrando ordenação óculo-motriz e da linguagem obtiveram os
que as crianças apresentam aquisições psicomotoras menores valores absolutos, sendo classificadas no nível
apropriadas a esta média, dado que se comprova ob- motor muito inferior. Apesar das médias demonstrarem
servando que as mesmas têm uma média de idade de níveis motores dentro da normalidade, os valores míni-
desenvolvimento global de 0,6 meses (18 dias) acima mos indicam que havia crianças da amostra com atra-
da média da IC. Em dois estudos desenvolvidos com a so no desenvolvimento das referidas áreas analisadas,
Escala Brunet-Lézine para avaliar o desenvolvimento constatação observada também nos resultados descritos
neuropsicomotor de um grupo amostral de 31 desnu- na tabela 2. Cabe ressaltar que o menor quociente de
tridos leves e de 221 crianças de creches municipais
de Florianópolis e São José, a média da Idade de De- Tabela 3. Dados do grupo amostral referentes à idade gestacional,
peso ao nascer e Apgar.
senvolvimento Postural foi a única variável que não
esteve abaixo da média da idade cronológica10,18. Dados do grupo amostral Média Mínimo Máximo

Analisando os quocientes de desenvolvimento Idade Gestacional (em semanas) 38 a 42 29 43

(QD) do presente estudo (tabela 1), observa-se que Peso ao nascer (em gramas) 3188,31 1480 4320

todas as áreas psicomotoras estiveram dentro da Apgar (primeiro minuto) 7,71 4 9

normalidade. O nível motor da área postural, da Apgar (quinto minuto) 8,88 6 10

Rev Neurocienc 2008;16/4: 284-291 290


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desenvolvimento mínimo encontrado foi o da área da REFERENCES
linguagem (56,9). O valor mínimo obtido em relação 1. Halpern R, Figueiras ACM. Influências ambientais na saúde men-
tal da criança. J Ped 2004;80:104-10.
ao quociente de desenvolvimento global (74,4) também 2. Halpern R, Giugliane ERJ, Victora CG, Barros FC, Horta BL. Fa-
indica que havia no mínimo uma criança com nível mo- tores de risco para suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomo-
tor inferior e presença de atraso global, fato confirmado tor aos 12 meses de vida. Rev Child Ped 2002;73:529-39.
3. Sheahan MS, Brockway NF, Tecklin JS. A criança de alto risco.
na tabela 2. O melhor quociente de desenvolvimento In: Tecklin JS. Fisioterapia Pediatrica. 3a ed. Porto Alegre: Artmed,
mínimo obtido foi o da sociabilidade (80,5), demons- 2002, 69-97.
4. Barros KMFT, Fragoso AGC, Oliveira ALB, Cabral Filho JE, Cas-
trando que nenhuma criança da amostra apresentou tro RM. Do environmental influences alter motor abilities acquisition? A
atraso nesta área (tabela 2), o que pode sugerir que os comparison among children from day-care centres and private schools.
CMEIs tenham contribuído com o desenvolvimento da Arq Neuropsiquiatr 2003;61:170-5.
5. Armond LC, Vasconcelos M, Martins MD. Crescimento e desen-
sociabilidade do grupo em estudo. Além disso, o valor volvimento infantil. In: Carvalho A, Salles F, Armond L, Guimarães M.
máximo do quociente de desenvolvimento da sociabili- Saúde da Criança. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, 19-32.
dade (173,0) foi o maior entre os quocientes do estudo. 6. Martins MFD, Costa JSD, Saforcada ET, Cunha MDC. Qualidade
do ambiente e fatores associados: um estudo em crianças de Pelotas, Rio
Neste sentido, dentre as vantagens que a creche de boa Grande do Sul, Brasil. Cad Saúde Publica 2004;20:710-8.
qualidade proporciona encontra-se o favorecimento à 7. Brunken GS, Guimarães LV, Fisberg M. Anemia em crianças me-
nores de 3 anos que freqüentam creches públicas em período integral. J
socialização da criança19. As instituições de educação Ped 2002;78:50-6.
infantil têm um papel socializador e propiciam o desen- 8. Barros AJD. Frequência a creches e morbidade comum na infância:
volvimento integral da criança, dependendo dos cuida- evidência de associação na literatura e problemas de delineamento. Rev
Saúde Pub 1999;33:98-106.
dos físicos, afetivos, cognitivos, sociais e emocionais a ela 9. Secretaria Municipal de Educação de Concórdia, SC. Trajetória
dispensados20. Além disso, o ambiente da creche parece dos CMEIs no município de Concórdia, Documento Oficial, 2005, 4p.
ter produzido um desenvolvimento adequado nas áreas 10. Souza JM. Avaliação do Desenvolvimento Neuropsicomotor de
crianças de 6 a 24 meses matriculadas em creches municipais de Flo-
postural, oculomotriz e social das crianças avaliadas, o rianópolis/SC (Dissertação). Florianópolis: Universidade do Estado de
que parece estar relacionado ao fato da creche oferecer Santa Catarina, 2003, 87p.
11. Brunet O, Lézine I. Desenvolvimento Psicológico da Primeira In-
maiores possibilidades de espaço, brinquedos, materiais fância. Tradução de Ana Guardiola Brizolara. Porto Alegre: Artes Mé-
e contato com outras crianças, do que é proporcionado dicas, 1981, 159p.
na maioria dos lares10. 12. Serruya SJ, Cecatti JG, Do Lago TG. O programa de Humanização
pré-natal e nascimento do Ministério da Saúde do Brasil: Resultados
iniciais. Cad Saúde Publ 2004;20:1281-9.
CONCLUSÃO 13. Cintas HL. Crescimento e desenvolvimento. In: Long TM, Cin-
A grande maioria das crianças atendidas nos tas HL. Manual de fisioterapia pediátrica. Rio de Janeiro: Revinter,
2001, 1-56.
CMEIs apresentou um DNPM adequado às suas ida- 14. Gianni MAC. Paralisia Cerebral: Aspectos Clínicos. In: Moura EW,
des cronológicas, destacando-se o desenvolvimento Campos e Silva PA. Fisioterapia: Aspectos clínicos e práticos da reabili-
tação. São Paulo: Artes Médicas, 2005, 13-25.
na área da sociabilidade. As médias dos quocientes 15. Dias BR, Piovesana AMSG, Montenegro MA, Guerreiro MM.
de desenvolvimento demonstram que todas as áreas Desenvolvimento Neuropsicomotor de lactentes filhos de mães que
psicomotoras estavam dentro da normalidade. apresentaram hipertensão arterial na gestação. Arq Neuropsiquiatr
2005;63:632-6.
Entretanto, cabe ressaltar que foram iden- 16. Unesco. Os serviços para a criança de 0 a 6 anos no Brasil: Algumas
tificadas algumas crianças com risco de atraso nas considerações sobre o atendimento em creches e pré-escolas e sobre a
áreas de desenvolvimento, bem como crianças com articulação de políticas. Brasília: UNESCO Brasil, 2003, 42 p.
17. Amaral ACT, Tabaquim MLM, Lamônica DAC. Avaliação das
atraso já instalado. Acredita-se ser de fundamental habilidades cognitivas, da comunicação e neuromotoras de crianças
importância que um programa sistematizado de ava- com risco de alterações do desenvolvimento. Rev Bras Educ Espec
2005;11:185-200.
liação e intervenção do DNPM seja implementado 18. Mansur SS, Neto FR. Desenvolvimento neuropsicomotor de lacten-
nos CMEIs do município, haja vista que não há uma tes desnutridos. Rev Bras Fisioter 2006;10:185-91.
equipe multiprofissional atuando diretamente nestes 19. Santos LES, Resck ZMR, Carneiro VG. A creche e o contexto so-
cial. Nursing 2003;59:42-5.
locais, permitindo assim a realização de ações de 20. Romanini MAV. Instituição de Educação Infantil. In: Carvalho A,
prevenção, promoção da saúde e intervenção, bus- Salles F, Armond L, Guimarães M. Saúde da Criança. Belo Horizonte:
cando a saúde integral da criança. Editora UFMG, 2002, 13-8.

291 Rev Neurocienc 2008;16/4:284-291


original

Análise cinemática da marcha em


indivíduos com Acidente Vascular
Encefálico
Gait cinematic analysis in subjects with cerebral Vascular Accident

Cristina Iwabe1, Maria Angélica da Rocha Diz2, Daniela Pinho Barudy3

RESUMO SUMMARY
Introdução. A marcha torna o ser humano independente para suas Introduction. Gait becomes the individual independence
atividades diárias. O déficit funcional ocasionado por lesões centrais, for their daily activities. The functional deficit caused by cen-
como o Acidente Vascular Encefálico (AVE) pode dificultar essa in- tral lesion as stroke, makes difficult this motor independence,
dependência motora, principalmente na locomoção. Objetivo. ana- mainly the locomotion. Objective. Analyze the kinematics
lisar a cinemática da marcha em sujeitos com AVE. Método. foram gait in stroke patients. Method. It was included 8 patients with
incluídos 8 sujeitos com AVE, entre 61 a 76 anos de idade, sendo clinical diagnosis of stroke, 4 with hemiparesia on the right and
4 hemiparéticos a direita e 4 a esquerda., analisando-se a variável 4 on the left. It was analyzed gait spatial-temporal parameters
espaço-temporal da marcha como: comprimento, duração e veloci- as: length, duration and average speed of the step, using the
dade média da passada, utilizando-se o registro em vídeo e o software register in videotape and the software of image 6.3 Dvideow
de imagem Dvideow 6.3 Barros. Resultados. Todos apresentaram Barros. Results. All patients presented alterations in the ki-
alterações nos padrões cinemáticos da marcha, com menor duração nematics standards of the gait, with lesser duration and length
e comprimento de passada, e maior velocidade do que os sujeitos of step, and greater speed than normal subjects. Conclusion.
normais. Conclusão. O comprometimento motor ocasionado pe- The motor disorder caused by the central lesions produces al-
las lesões do AVE produzem alterações nos padrões cinemáticos da terations in the kinematics standards of the gait, in order to
marcha, para que haja a adaptação ás seqüelas neuro-sensoriais, as adapt the neuro-sensorial sequels, the demands of the task and
demandas da tarefa e do meio em que vivem. the way where they live.

Unitermos: Marcha. Acidente Cerebral Vascular. Keywords: Gait. Stroke. Paresis.


Paresia.

Citação: Iwabe C, Diz MAR, Barudy DP. Análise cinemática da Citation: Iwabe C, Diz MAR, Barudy DP. Gait cinematic analy-
marcha em indivíduos com Acidente Vascular Encefálico. sis in subjects with cerebral Vascular Accident.

Trabalho realizado no setor de Neurologia da Clínica de Endereço para correspondência:


Fisioterapia do Centro Universitário Hermínio Ometto Cristina Iwabe
– Uniararas. Rua Mata dos Pinhais, 61/76
1. Fisioterapeuta – USP, Doutoranda em Ciências Médicas – Uni- 13082-761 Campinas, SP
camp, Docente do Curso de Fisioterapia – Uniararas, Supervisora de E-mail: cristinaiwabe@uniararas.br / crisiwabe@hotmail.com
Estágio em Neurologia – Unip Campinas.
2. Fisioterapeuta – Uniararas, Mestranda em Ciências da Motricidade Recebido em: 29/07/08
Humana – UNESP Rio Claro. Revisado em: 30/07/08 a 06/10/08
3. Fisioterapeuta – Uniararas; Especialista em Fisioterapia Neurofun- Aceito em: 07/10/08
cional Adulto e Infantil – Uniararas. Conflito de interesses: não

Rev Neurocienc 2008;16/4: 292-296 292


original
INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo foi analisar as carac-
O acidente vascular encefálico (AVE) é ca- terísticas cinemáticas da marcha em sujeitos com
racterizado por início abrupto, de sintomas neuro- AVE, caracterizando e diferenciando os seus padrões
lógicos focais ou globais, causados por isquemia ou espaço-temporais.
hemorragia no cérebro1. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), o AVE é um sinal clínico MÉTODO
de rápido desenvolvimento de perturbação focal da
função cerebral, com mais de 24 horas de duração2. Amostra
As desordens cardíacas como a doença valvular car- Foram incluídos 8 sujeitos com diagnóstico
díaca reumática, endocardite ou arritmias aumenta clínico de AVE, na faixa etária de 61 a 76 anos de
significativamente o risco de um AVE3. idade, ambos os gêneros, sendo 4 com hemiparesia a
Durante os estágios iniciais é comum a flaci- esquerda e 4 com hemiparesia a direita, , apresentan-
dez sem movimentos voluntários. Progressivamente o do marcha independente de auxílios externos, recru-
quadro é substituído pelo desenvolvimento de padrões tados no setor de Neurologia da Clínica de Fisiotera-
motores anormais decorrentes da alteração de tono pia da Uniararas/Araras, assinando previamente o
muscular, perda de força muscular, reflexos posturais Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aten-
alterados e deformidades articulares3. Estas alterações dendo as normas do Comitê de Ética em Pesquisa
músculo-esqueléticas frequentemente interferem nas (CEP) da Instituição. O estudo foi aprovado pelo
habilidades motoras, essenciais para o desempenho de CEP da Instituição, sob o parecer no 216/2006.
atividades e tarefas da rotina diária, como a marcha.
Na marcha normal a seqüência de movi- Procedimento
mentos depende do avanço sincronizado do corpo A coleta de dados foi realizada através da filma-
ao longo de uma linha de progressão. Isso depende gem da marcha livre. Para registro dos dados cinemá-
da mobilidade articular e da ação muscular seletiva, ticos foram utilizados marcadores circulares passivos
para proporcionar a conservação da energia fisioló- posicionados na articulação do tornozelo (maléolo late-
gica4. Nos sujeitos com AVE, aproximadamente 70% ral), e pé (quinto metatarso e calcâneo) do membro pa-
retomam a sua capacidade de deambular5, embora rético. Os marcadores passivos eram esferas de isopor
sem o sinergismo muscular adequado. A marcha he- branco com aproximadamente 1,5 cm de diâmetro.
miplégica é caracterizada por alterações na fase de Os dados foram coletados em uma sala ampla
balanço e apoio devido principalmente a flexão dor- com iluminação adequada. Uma faixa preta de 48
sal do tornozelo e extensão do quadril insuficiente, cm de largura foi colocada no solo, formando uma
impedindo o posicionamento adequado do pé e qua- passarela de 3 metros de comprimento para limitar
dril6,7, alterando assim toda a dinâmica da marcha. o espaço percorrido. Para a calibração do ambiente
Muitos recursos para avaliação do padrão da
marcha vêm sendo utilizados para se avaliar a bio-
mecânica do movimento. A análise cinemática bidi-
mensional vem sendo utilizada como uma importan-
te metodologia de pesquisa e avaliação da marcha
humana normal ou patológica, permitindo analisar
as características espaço-temporais como compri-
mento, duração da passada e velocidade8,9.
As características espaço-temporais da mar-
cha descrevem o aspecto quantitativo do padrão de
movimento. A velocidade pode ser definida como a
distância que o corpo percorre para frente na uni-
dade de tempo; a duração da passada como o mo-
mento desde o contato inicial de um membro até o
contato inicial seguinte do mesmo membro10; e o
comprimento da passada é a distância (em centíme- Figura 1. Representação esquemática do ambiente experimental para
aquisição dos dados cinemáticos, indicando o início e o fim para pacien-
tros) percorrido durante o tempo de dois toques su- tes hemiparéticos à direita (I), o início e o fim para pacientes hemiparéti-
cessivos do mesmo pé11. cos à esquerda (II) e posicionamento da câmera no plano sagital (III).

293 Rev Neurocienc 2008;16/4:292-296


original
experimental utilizou-se um calibrador em forma de Tabela 1. Média dos valores do comprimento da passada (cm): grupo
HE e HD.
cruz com 98 cm de altura e 93 cm de largura. Uma
Tentativa 1 Tentativa 2
câmera (JVC modelo GR-AX650U), freqüência de Média
Grupo Média Média
60 Hz foi posicionada sagitalmente a faixa preta, a 1ª P 2ª P
T1
1ª P 2ª P
T2
T1 e T2
uma distância de 7,14 m (Figura 1). HE 54.1 26.3 40.2 73.9 37.8 55.9 48.05
Durante o exame, os sujeitos vestiam shorts de HD 24.6 38.4 31.5 51.9 74.9 63.4 47.5
cor escura, confortáveis, de forma que os movimentos HE = hemiparesia esquerda; HD = hemiparesia direita; P = passada em cm; T =
das articulações não fossem restringidos durante a mar- tempo de segundos
cha livre. Antes de iniciar a coleta de dados, foram ins-
truídos a andarem normalmente em uma velocidade Na tabela 2, observa-se a duração da passada no
preferida, percorrendo os 3 m de comprimento. Todos qual os dois grupos apresentaram tempos semelhantes.
realizaram três tentativas, sendo a primeira considerada A análise da velocidade média demonstra que
como familiarização do ambiente experimental (teste). o grupo HE apresentou maior velocidade do que o
grupo HD, nas duas tentativas propostas (Tabela 3).
Análise dos dados
Para análise das filmagens foi usado vídeo cas- DISCUSSÃO
sete de quatro cabeças com reprodução de imagem O AVE acarreta seqüelas motoras e cogniti-
quadro a quadro marca Panasonic e uma placa de vas importantes, que predispõe à instalação de de-
vídeo 486DX-33, para capturar a imagem através do formidades, dor, insegurança e alteração do equi-
computador. Utilizando o software de imagem Dvi- líbrio, dificultando a execução de uma capacidade
deow 6.3 Barros11 foi possível obter as coordenadas funcional adequada. Este tipo de lesão no cérebro
x e y do tornozelo dos sujeitos nos instantes em que conduz a diminuição e/ou inervação inapropriada
o pé tocou o solo. Com base nas coordenadas x e y da musculatura voluntária afetando freqüentemente
foram possíveis calcular a duração e o comprimento os músculos envolvidos na locomoção13. A marcha
da passada (CP) do membro parético e a velocidade hemiparética é descrita como sendo lenta, laborio-
média, através de uma rotina realizada no software sa, abrupta devido aos variados graus de déficits na
matemático Matlab12. percepção, força, tono, controle motor, mobilidade
Uma passada foi definida como a distância articular e equilíbrio14.
entre dois eventos sucessivos do mesmo lado. Consi- Uma das características marcantes da mar-
derou-se a referência de análise, o membro hemipa- cha hemiparética é a assimetria do membro inferior
rético. A duração da passada (DP) foi obtida a partir afetado, percebido pela diferença do comprimento e
da contagem do número de quadros do início ao duração da passada nas fases de apoio e de balanço,
término de cada passada. Esse número de quadros indicando comprometimento na capacidade de ge-
foi dividido pela freqüência de coleta de dados (60 rar e graduar as forças que controlam o movimento
Hz) para ser convertida em segundos. A velocidade dos membros inferiores15. Essa assimetria, bem como
média (VM) de cada passada foi obtida pela divisão as variações no comprimento e duração da passada
do CP pela DP. Os dados foram comparados grupo foram observadas no nosso estudo, no qual apresen-
a grupo, de forma descritiva, comparando-os com taram-se alteradas quando comparadas ao indivíduo
dados na literatura. normal, concordando assim com relatos prévios.
A velocidade média é automaticamente escolhi-
RESULTADOS da pelo indivíduo de acordo com a demanda da tarefa
Para todos as características analisadas foram e do ambiente, de forma a gerar o menor gasto ener-
feitas 2 tentativas, sendo que cada tentativa apresen- gético possível, com melhor equilíbrio funcional. Em
tou duas passadas. Para cada grupo de sujeito foram indivíduos normais, a velocidade média da marcha é
realizadas as médias da 1o e 2o passada, e a média de aproximadamente 120 a 140 cm/seg, enquanto o
total de cada tentativa. comprimento da passada varia de 64 a 73 cm9.
Na análise do comprimento da passada (Tabe- Como podemos observar nos nossos resulta-
la 1), observou-se que tanto o grupo hemiparéticos à dos, os dois grupos apresentaram comprimento de
esquerda (HE) quanto hemiparéticos à direita (HD) passadas menores, e maiores velocidades médias do
apresentaram CP semelhantes, aumentando o valor que o normal, principalmente no grupo HE. Isso re-
na segunda tentativa em ambos os grupos. sulta de estratégias motoras escolhidas para se adap-

Rev Neurocienc 2008;16/4: 292-296 294


original
Tabela 2. Média dos valores da duração da passada (seg): grupo HE O grupo HE apresentou maior velocidade da
e HD.
passada do que o grupo HD sugerindo que o gru-
Tentativa 1 Tentativa 2
Média po HE reduziu temporalmente as fases de apoio fi-
Grupo Média Média
1ª P 2ª P
T1
1ª P 2ª P
T2
T1 e T2 nal e de balanço mais do que os do grupo de HD,
HE 0.28 0.30 0.29 0.37 0.37 0.37 0.33
como uma estratégia compensatória para continuar
HD 0.37 0.35 0.36 0.32 0.35 0.33 0.35
andando sem perder a estabilidade. Não há dados
HE = hemiparesia esquerda; HD = hemiparesia direita; P = passada em cm; T =
literários referentes a comparações na marcha entre
tempo de segundos. os diferentes tipos de hemiparesia, sendo que a dife-
rença encontrada no nosso estudo possa ser atribu-
tar as demandas da tarefa e do meio, associado ao ída a extensão da lesão que pode ter sido maior nos
comprometimento dos componentes neuromotores sujeitos com déficits a esquerda, ocasionando assim
e músculo esqueléticos. Visto que o sujeito hemipa- maiores deficiências neuromotoras ou músculo-es-
rético não consegue realizar a transferência de peso queléticas.
adequada, devido aos déficits motores e/ou senso- A fase de transferência de peso para o mem-
riais, ele aumenta a velocidade e diminui o tempo bro de suporte é essencial para a estabilidade do cor-
em que o peso é transferido para o membro afetado, po e para que o próximo passo seja realizado. Neste
resultando em uma passada curta. caso quando o peso é transferido para o lado paré-
O padrão da marcha ceifante caracteriza-se tico devido às alterações de tono, fraqueza muscular
pela diminuição da flexão e extensão dos membros ou perda de mobilidade, a capacidade para manter
inferiores, diminuindo a sua oscilação para frente e apoio único do membro parético é diminuída e a es-
para trás, resultando em uma abdução exagerada do tabilidade comprometida, resultando em uma mar-
membro parético durante a fase de balanço16. A es- cha assimétrica sem acoplamento dos membros, com
pasticidade nos flexores plantares pode ocasionar pé diminuição do passo.
eqüinovaro17, e conseqüentemente dificuldade para Portanto, o tempo de apoio do membro pa-
flexão dorsal do tornozelo, comprometendo a absor- rético é mais curto e a passada é menor do membro
ção do impacto no contato inicial e hiperextensão parético em relação ao membro não parético. Estes
do joelho durante toda fase de apoio. Subseqüente- movimentos compensatórios necessários para a de-
mente, as fases de apoio médio, apoio final e resposta ambulação produzem um deslocamento anormal do
à carga estarão comprometidos, diminuindo o com- centro de gravidade, resultando do gasto energético
primento do passo. maior do que o normal19.
Em cerca de 70% dos hemiplégicos a altera- O fato da velocidade adotada pelos sujeitos do
ção mais freqüente ocorre no nível da articulação do nosso estudo ter sido acima daquelas referidas pelos
tornozelo, dificultando a flexão dorsal do pé durante indivíduos normais19-21 e os comprimentos de passa-
a fase de balanço e apoio, impedindo o posiciona- da serem menores, podem ser atribuídos ao aumento
mento adequado do pé18. Esta postura em eqüino do do tono muscular e fraqueza do membro acometido,
pé nas subfases de apoio final e pré-balanço acarreta obrigando-o a colocar rapidamente o membro não
perda da força propulsiva da marcha5, e conseqüen- parético à frente, de modo a não perder o seu equilí-
temente perda do mecanismo de redução do impac- brio, e tentar restaurar o seu centro de gravidade para
to no membro inferior e deslocamento do centro de dar o próximo passo. A perda e recuperação do centro
massa no espaço durante a fase de resposta a carga. de gravidade fazem com que a marcha seja realizada
Todos esses mecanismos dificultam a redução do de forma mais rápida para que ele não caia.
consumo energético na marcha6.
Não foi objeto de estudo a análise dos fatores
neuromotores e músculo-esqueléticos que interferem
Tabela 3. Valores da velocidade média (cm/seg): grupo HE e HD.
no padrão de marcha em sujeitos com AVE, porém
Tentativa 1 Tentativa 2 Média
deve-se ressaltar que a avaliação propicia dessas Grupo T1 e
Média Média
características são fundamentais para a adequada 1ª P 2ª P
T1
1ª P 2ª P
T2 T2
conduta terapêutica. Considera-se que esses fatores HE 298.4 197.2 247.8 397.7 133.3 265.5 256.7
primários (neuromotores e músculo-esqueléticos) HD 69.5 114.0 91.7 176.0 206.5 191.3 141.5
podem ocasionar secundariamente alterações no pa- HE = hemiparesia esquerda; HD = hemiparesia direita; P = passada em cm; T =
drão de marcha desses sujeitos. tempo de segundos.

295 Rev Neurocienc 2008;16/4:292-296


original
CONCLUSÃO 5. Saad LMV, Castro LN. Análise da Marcha: Manual do Camo – SB-
MFR. São Paulo: Lemos Editorial, 1997, pp. 171-7.
Sujeitos com AVE, tanto hemiparético a es- 6. Chin PL, Rosie A, Irving, M, Smith R. Studies in hemiplegic gait in
querda quanto a direita, podem apresentar altera- advances in stroke therapy. In: Rose FC (ed.). Historical Aspects of the
Neurosciences. New York: Raven Press, 1982, pp. 197-211.
ções espaço temporais na marcha, com diminuição 7. Olney SJ, Richards C. Hemiparetic gait following stroke. Part 1:
do comprimento e do tempo da passada, bem como characteristics. Gait Post 1996;4:136-48.
o aumento da velocidade média, comparadas aos su- 8. Araújo AGN, Andrade LM, Barros RML. Sistema para análise ci-
nemática da marcha humana baseado em videogrametria. Fisioter Pes
jeitos sem alterações neurológicas. Tantos os sujeitos 2005;11(1):3-10.
com hemiparesia direita quanto esquerda desse es- 9. Melanda A. Fisioterapia Aspectos Clínicos e práticos da Reabilita-
tudo apresentaram tais deficiências, resultando em ção. São Paulo: Artes Médicas, 2005, pp. 615-42.
10. Kerrigan DC, Schaufele M, Wen M. Análise da marcha. In: Delisa
conseqüente adaptação do mesmo, de acordo com JA. Tratado de Medicina e reabilitação. 3ª ed. São Paulo: Manole, 2002,
as seqüelas neuro-sensoriais, às demandas da tarefa pp. 177-98.
11. Sutherland DH, Kaufman KR, Moitoza JR. Cinemática da marcha
e do meio em que vivem. humana normal. In: Rose J, Gamble JG. Marcha Humana, 2a ed. São
De modo a não sobrecarregar o membro afe- Paulo: Premier, 1998, pp. 23-44.
tado, observou-se, portanto na nossa casuística, alte- 12. Barros RML, Brenzikofer R, Leite NJ, Figueroa PJ. Desenvolvimen-
to e avaliação de um sistema para análise cinemática tridimensional de
ração nos padrões cinemáticos da marcha para ten- movimentos humano. Rev Bras Eng Biomed 1999;15(12):79-86.
tar tornar essa capacidade funcional propicia para a 13. Hanselman D, Littlefield B. Matlab 6: curso completo. São Paulo:
sua independência. Deve-se salientar a necessidade Pearson, 2003, 676p.
14. Esquenazi A, Hirai B. Gait analysis in stroke and head injury. In:
de maiores números de sujeitos incluídos para que Graik RL, Oatis A. Gait analysis: theory and application. St. Louis:
haja afirmação dos resultados observados. Mosby-Year Book, 1995, pp. 412-20.
15. Shumway-Cook A, Woollacott MT. Controle Motor. Teoria e Apli-
cações. São Paulo: Manole, 2003, pp. 289-380.
16. Rowland LP. Merrit Tratado de neurologia. 9ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1997, 1188p.
17. Edwards S. Fisioterapia neurológica: uma abordagem centrada na
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS resolução de problemas. Porto Alegre: Artmed, 1999, 224p.
1. Lianza S. Medicina de Reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara
18. Yavuzer MG. Walking after stroke: Interventions to restore normal
Koogan, 2007, 474p.
gait pattern. Ankara: Pelikan Publications, 2006, 136p.
2. Stokes M. Neurologia para Fisioterapeutas. São Paulo: Premier,
19. Lucarelli PRG, Greve JMA. An Alteration of the load-response
2000, pp. 83-99.
mechanism of the knee joint during hemiparetic gait following stroke
3. O’Sullivan SB, Schmitz TJ. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento.
analyzed by 3-dimensional kinematic. Clinics 2006;61(4):295-300.
2a ed. São Paulo: Manole, 1993, pp. 385-426.
20. Perry J. Análise da Marcha. Barueri: Manole, 2005, pp. 125-7.
4. Tellini GG, Saad M. Análise da Marcha: Manual do Camo – SB-
21. Barela JA. An examination of constraints affecting the intralimb co-
MFR. São Paulo: Lemos Editorial, 1997, pp. 91-113.
ordination of hemiparetic gait. Hum Mov Sci 2000;19:251-73.

Rev Neurocienc 2008;16/4: 292-296 296


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Tempo e qualidade de sono auto-


informada versus alerta e atenção em
trabalhadores de dois turnos
Sleep quality and total sleep time reported versus alertness and attention in shiftworkers

Moreno de Souza Rodrigues1, Celena Maria Zani de Souza2

RESUMO SUMMARY
Objetivo. Avaliar o tempo de sono, a qualidade de sono auto- Objective. Evaluate the total sleep time, the quality of self-
informada, o grau de alerta e atenção de trabalhadores do tur- reported sleep, the degree of alertness, and attention, in work-
no diurno e noturno. Método. Foram utilizados 30 voluntários ers that work in the morning or in the night. Method. 30 vol-
(homens, entre 20 e 30 anos) distribuídos em dois grupos: diurno untaries (men, 0 to 30 years old) divided in 2 groups: daytime
(GD) e noturno (GN). Os voluntários responderam por 7 dias a (GD) and night-time (GN) workers completed a sleep diary
um diário de sono. No 7o dia logo após a entrega do diário, foram for 7 days. After the seventh day, a test to evaluate the alert-
aplicados testes para comparar o grau de alerta e atenção entre os ness and attention degrees was applied. Counting the number
grupos. O grau de atenção foi analisado levando-se em conside- of errors and measuring the time to perform the proposed test
ração a quantidade de erros e o tempo necessário para realizar a analyzed the degree of attention. The data was compared us-
tarefa proposta. Os dados obtidos foram comparados utilizando o ing the t test with Welch’s correction. Results. GN showed
teste t com correção de Welch’s. Resultados. O tempo de sono the highest sleep time (p<0.05), however the sleep quality of
do grupo GN foi maior que o do grupo GD, embora a qualida- this group was worse than in the GD (p<0.05). No significant
de de sono do segundo grupo tenha sido melhor (p<0,05). Não difference has been found in the degree alertness between the
foi encontrada diferença significativa entre os grupos quando o groups. The time to perform the attention tasks was higher to
grau de alerta foi considerado, no entanto o tempo médio gasto the GN (p<0.05). Conclusion. Our results suggest that the
para a realização do teste de atenção foi maior para o grupo GN degree of attention is lower in the GN group, and that can
(p<0,05). Conclusão. Os resultados obtidos sugerem redução no be explained by the reduction on the sleep quality of these
grau de atenção no grupo GN, que pode ser explicado pela redu- workers.
ção na qualidade do sono de trabalhadores noturnos.

Unitermos: Sono. Alerta. Atenção. Ritmo circadiano. Keywords: Sleep. Alert. Attention. Circadian
rhythms.

Citação: Rodrigues MS, Souza CMZ. Tempo e qualidade de Citation: Rodrigues MS, Souza CMZ. Sleep quality and total sle-
sono auto-informada versus alerta e atenção em trabalhadores ep time reported versus alertness and attention in shiftworkers.
de dois turnos.

Trabalho realizado na Universidade São Francisco. Endereço para correspondência:


1. Biólogo, Pós-graduando na Universidade Federal de Viçosa. Moreno S Rodrigues
2. Bióloga, Professor associado doutor na Universidade São Francisco. Departamento de Biologia Animal
Av. PH Rolfs S/N
36570-000 Viçosa, MG
E-mail: rodriguesmsb@gmail.com

Recebido em: 08/07/08


Revisado em: 09/07/08 a 01/12/08
Aceito em: 02/12/08
Conflito de interesses: não

297 Rev Neurocienc 2008;16/4: 297-302


original
INTRODUÇÃO Privar nosso organismo do sono pode causar
O sono no homem é cíclico, isto é, a cada 24 alguns prejuízos, entre eles a dificuldade de fixar e
horas os seres humanos dormem pelo menos uma manter a atenção, conseqüentemente uma dificulda-
vez. Apesar das variações entre os indivíduos, e num de na formação de memória e já que todo o nosso
mesmo individuo ao longo do tempo, em função de funcionamento mental é integrado se houver um
contingências pessoais e sociais, essa repetição diária prejuízo em alguma função, o desempenho de outras
configura um ciclo ou ritmo, denominado circadia- funções pode ser afetado em maior ou menor grau7.
no1,2. O ritmo circadiano como muitos outros ritmos O conhecimento sobre a importância do
está associado a um ciclo geofísico denominado ciclo sono, bem como da importância do mesmo ocorrer
claro/escuro (CE), importante para todas as espécies no período noturno para nossa espécie, provoca um
que possuem algum tipo de pigmento fotossensível, e aumento do número de pesquisas sobre os efeitos da
seu período pode variar de 20 a 28 horas3. privação aguda e crônica de sono no desempenho
A compreensão de que temos ritmos determi- profissional, bem como sobre alterações fisiológicas e
nados por osciladores e a conseqüente classificação psicológicas de pessoas submetidas a regime de plan-
de animais segundo seu horário de atividade em tões ou turnos de trabalho6.
diurno, noturno ou crepuscular, levou a ciência a es- Boa parte das pesquisas buscam responder ques-
tudar a importância do ciclo de sono/vigília. Deter- tões como a aqui formulada: um indivíduo que traba-
minou ainda questionamentos a cerca da importân- lha a noite inteira, ou um indivíduo que não tem uma
cia do sono ocorrer durante o período de ausência noite de sono tranqüila, ao exercer uma tarefa conse-
de atividade natural do animal4. guirá dispensar a atenção necessária para a sua reali-
Ainda é difícil dizer qual verdadeira função zação? Desta forma, foram objetivos deste trabalho (a)
ou funções do sono, o que podemos afirmar com comparar o grau de alerta e atenção de trabalhadores
certeza é que o ciclo vigília/sono, nada mais é do diurnos e noturnos; (b) comparar o tempo de sono e a
que uma oscilação do nível geral de atividades do qualidade de sono auto-informada nestes dois grupos.
sistema nervoso, isto é, maior atividade durante a vi-
gília e menor atividade durante o sono1. Por outro MÉTODO
lado manter um estado de vigília prolongada, pode
causar disfunção progressiva da mente, lentidão de Amostra
pensamento e algumas vezes até mesmo atividades Um grupo de 30 trabalhadores, do sexo mas-
comportamentais anormais no sistema nervoso5. culino, com idade entre 20 e 30 anos, residentes na
Ao inventar a lâmpada, em 1901, Thomas cidade de Lindóia, SP, e região foram atribuídos a
Alva Edison criou a ferramenta que possibilitou que dois grupos, como se segue: Grupo Noturno (GN)
fábricas trabalhassem em tempo integral. Para Edi- – 15 indivíduos que exerciam atividade remunerada,
son dormir era um péssimo hábito, que atrapalhava por no mínimo oito horas no turno noturno entre as
no desenvolvimento da sociedade, e com sua inven- 19h e 7h; Grupo Diurno (GD) – 15 indivíduos que
ção as indústrias não mais necessitariam parar sua exerciam atividade remunerada, por no mínimo oito
produção quando a noite chegasse. Após este adven- horas no turno diurno entre as 7h e 19h.
to, uma redução de cerca de uma hora e meia de Todos os sujeitos escolhidos foram abordados
sono diária foi observado na população6. pelo pesquisador, que explicou a eles o objetivo da
Pode-se observar que cada vez mais fábricas visam pesquisa e o protocolo a ser utilizado. Estes sujeitos
uma maior produção e para isto utilizam três turnos de assinaram o Termo de Consentimento, seguindo exi-
trabalho, muitas fazendo com que os trabalhadores tro- gência do Comitê de Ética e Pesquisa da Universida-
quem o dia pela noite, invertendo assim seu ritmo bioló- de São Francisco (CEP/USF). Vale ressaltar que a
gico normal4. Porém há alguns fatos interessantes como, pesquisa ora apresentada foi aprovada pelo referido
por exemplo, dois acidentes nucleares, o de Chernobyl e comitê (protocolo nº 0083.0.142.000-06).
o de Three Mile Island, e a explosão da Challenger, foram
tragédias causadas por pessoas que dormiram pouco5. Procedimento
Em 1984, no New York City Hospital uma jovem mulher, Avaliação da Qualidade do Sono e do Tempo de Sono Auto-
assistida por um residente sem dormir por 32 horas, veio informado
a falecer, produzindo na época um grande debate jurídi- A qualidade do sono nos dois grupos de su-
co e social sobre a responsabilidade por tal morte6. jeitos experimentais foi avaliada pelo emprego de

Rev Neurocienc 2008;16/4: 297-302 298


original
um questionário denominado “Diário de Sono”, micamente em uma matriz 10x10. Cada cor aparece
elaborado pelo Grupo Multidisciplinar de Desenvol- 20 vezes, sendo duas vezes em cada linha e não muito
vimento e Ritmos Biológicos do Instituto de Ciências próximas dentro de uma mesma linha. Estes critérios
Biomédicas da Universidade de São Paulo por um foram também utilizados para a construção dos car-
período de sete dias. O questionário era composto tões: contendo cor, cartão C e contendo cor-palavra,
por quinze questões e solicitava informações sobre: cartão CW. No entanto no cartão C cada palavra foi
a qualidade do sono; a hora que iam dormir; a hora impressa com sua cor correspondente (ex.: a palavra
que acordavam; a luminosidade no quarto; o baru- vermelho foi impressa na cor vermelha) e o cartão
lho no quarto; entre outras. CW consistiu de palavras designando cores impressas
Os dados obtidos com as informações do ho- com uma cor diferente daquela designada pela pala-
rário de deitar e acordar foram usados para o cálculo vra (ex.: a palavra vermelho foi impressa numa cor di-
do tempo de sono dos dois grupos de indivíduos. Os ferente de vermelho). A tarefa consistiu em apresentar
sujeitos experimentais foram orientados a marcar um aos sujeitos cada cartão individualmente na ordem W,
traço vertical, em uma régua horizontal de 10 centí- C e CW, solicitando a eles que fosse lido em voz alta
metros, que continha em sua extremidade esquerda a o cartão W e que identificasse nos cartões C e CW a
informação muito ruim, e em sua extremidade direita cor das palavras.
a informação muito boa para a qualidade do sono. Foram registrados: o tempo utilizado pelo su-
Estes dados foram tabulados definindo-se a jeito para realizar a leitura do cartão W; a identifi-
distância da extremidade esquerda à marca realiza- cação das cores no cartão C; e CW; e o número de
da pelo sujeito experimental. O valor encontrado, erros emitido durante a realização de cada tarefa.
expresso em centímetros, foi considerado como índi-
ce de grau de sonolência ou qualidade de sono. Análise Estatística
O nível de sonolência auto-informado, o tem-
Avaliação do Grau de Alerta e Atenção po de sono, e a qualidade de sono auto-informada
O grau de alerta e de atenção foram avalia- dos grupos GN e GD, foram comparados utilizando-
dos no momento da entrega do diário de sono pelo se do teste t não pareado com correção de Welch’s.
emprego de dois testes. O primeiro teste aplicado foi Os valores são apresentados na forma: valore de t
o de Cancelamento de Letras (avaliação do grau de (designa o valor obtido pelo teste), df (os graus de li-
alerta). Este teste consiste em solicitar ao indivíduo berdade) e p (indica a probabilidade de o achado ter
que cancele todas as letras “A” encontradas na folha ocorrido ao acaso). Vale ressaltar que para estas aná-
do teste. Foi dado ao indivíduo 30 segundos para re- lises foram utilizados todas as respostas dadas pelos
alizar esta tarefa. Foram consideradas erradas todas sujeitos ao longo dos sete dias de coleta de dados.
as letras “A” não canceladas neste tempo3,8.
O segundo teste aplicado foi o Stroop Color Word RESULTADOS
Test utilizado para verificar o grau de atenção do
9-11
O tempo médio de sono dos sujeitos experimen-
indivíduo. Este teste é composto por três cartões: o de tais, expresso em minutos, foi calculado a partir de da-
palavras, o de cor e o de cor-palavra. O cartão conten- dos obtidos no diário de sono. Foi verificado um tempo
do palavras apresenta cinco nomes de cores, impressas médio de sono maior no grupo GN (428,6±14,08) em
em preto sob um fundo branco e distribuídas rando- relação ao verificado para o grupo GD (394,6±8,17),
Tempo de Sono
Qualidade do Sono
500
Tempo médio de sono

8 *
qualidade do sono (cm)

400 7
Índice médio de

6
300 5
(min)

4
200
3
100 2
1
0 0
GD GN GD GN
Grupos Grupos
Figura 1. Tempo médio de sono ± erro padrão da média de trabalha- Figura 2. Valores médios da Qualidade do sono (em cm) dos trabalha-
dores do grupo. dores do grupo Diurno (GD) e Noturno (GN).
* p< 0,05; GD= grupo de trabalhadores diurno; GN= grupo de trabalhadores noturno. * p<0,05

299 Rev Neurocienc 2008;16/4: 297-302


original
esta diferença foi confirmada pela análise estatística grupo GN é maior não significa dizer que a qualida-
(t=2,089; df=208; p=0,037; Figura 1). de de sono deste grupo é melhor, quando comparada
Quando comparada a qualidade de sono à qualidade de sono auto-informada pelos indivíduos
auto-informada pelos indivíduos dos dois grupos dos dois grupos, foi possível observar que indivíduos do
(Figura 2), foi possível observar que indivíduos do grupo GN, mesmo tendo um tempo de sono maior, re-
grupo GN, mesmo tendo um tempo de sono maior, latam ter um sono de qualidade inferior.
relatam ter um sono de qualidade inferior ao do gru- Esta sensação de sono de má qualidade rela-
po GD (5,983±0,27; 6,673±0,19; respectivamente), tada pelos sujeitos do grupo GN pode ser explicada
diferença esta que foi estatisticamente significativa a partir de fatores ambientais e/ou intrínsecos. Da-
(t=2,040; df=189; p=0,0427). dos obtidos com o questionário de sono mostraram
O grau de alerta entre os grupos, foi compara- que os sujeitos do grupo GN relataram um maior
do através do teste de Cancelamento de Letras. Em- incomodo com a claridade. Durante o período de
bora tenha sido verificada uma média menor de acer- resposta do questionário o índice de reclamação da
to em indivíduos do GN (Figura 3) esta diferença não claridade ocorreu em 60% dos indivíduos do grupo
foi confirmada pelo teste t (t=1,13; df=14; p=0,30). GN, enquanto que no grupo GD este índice esteve
Os dados sobre o nível de atenção dos dois persistente somente em 33% dos indivíduos. Uma
grupos de sujeitos foram avaliados a partir do tempo das variáveis endógenas que sofrem a influência da
médio para realizar a tarefa proposta e o número luminosidade é a produção de melatonina, uma vez
de erros cometidos. O número médio de erros dos que este hormônio está ligado ao ciclo claro/escuro,
dois grupos de sujeitos (Figura 4), ao realizarem a só sendo produzida em quantidades suficientes para
leitura do cartão W (grupo GD=1,46; GN=1,46) e o organismo durante a fase de escuro deste ciclo12.
a identificação das cores nos cartões C (GD=1,06; Este hormônio produzido pela glândula Pineal in-
GN=1,26) e CW (GD=8,66; GN=12,13), não apre- dica ao organismo que é noite, e está relacionado
sentou diferença estatística significativa (p>0,05). funcionalmente com a redução de temperatura, a
A diferença aparece, no entanto, quando a va- alteração das monoaminas cerebrais e a indução do
riável tempo para realizar a tarefa é analisada (Figu- sono de ondas lentas e paradoxal (REM)13. Assim in-
ra 5). O tempo gasto pelo grupo GD (51,73±2,80) foi divíduos do grupo GN ao dormirem de dia teriam a
significativamente menor (t=1,911; df=21; p=0,049) produção deste hormônio comprometida pela lumi-
que o tempo gasto pelo grupo GN (57,87±1,56), para nosidade, tendo uma sensação subjetiva de qualida-
a identificação de cores no cartão C. Esta diferença de de sono inferior à do grupo GD.
também aparece quando se considera a identificação O fato é que sob vários aspectos o corpo mos-
das cores no cartão CW (t=2,48; df=25; p=0,044), tra que ele sabe que horas são, seja cobrando o sono
tendo o grupo GD (130,3±5,06) gasto menos tempo e repouso da noite, seja “pagando o preço” de des-
que o grupo GN (151,4±6,81). respeitar este saber, através de efeitos ligados direta-
mente à privação do sono, entre eles o desânimo, o
DISCUSSÃO cansaço, a falta de alerta e atenção14,15.
Indivíduos do grupo GN tiveram uma média de Neste estudo foi verificado que indivíduos do
tempo de sono maior quando comparados a indivíduos GN, mesmo tendo um sono de qualidade inferior,
do grupo GD. Porém dizer que o tempo de sono do apresentaram um nível de alerta similar ao dos indiví-

Teste de Atenção – Erros Emitidos


Teste de Cancelamento de Letras
16
Número médio de acertos

25 14
Número de Erros

20 12
10 Cartão W
15 Cartão C
8
10 6 Cartão CW
4
5
2
0 0
GN GD GN GD
Grupos Grupos
Figura 3. Média de acertos no teste de cancelamento de letras de tra- Figura 4. Número médio de erros emitidos durante o teste de atenção
balhadores do turno Diurno (GD) e Noturno (GN). de trabalhadores do grupo Diurno (GD) e Noturno (GN).

Rev Neurocienc 2008;16/4: 297-302 300


original
Teste de Atenção – Tempo cia destes trabalhadores eram comuns, e no dia do
de Realização da Tarefa acidente, o oficial que estava comandando o navio
180
cochilou em serviço19.
Um estudo realizado na área da saúde pelo
Tempo (expresso

150
em segundos)

120 Cartão W psicólogo Ian Deary, da Universidade de Edimburgo,


Cartão C
90 Escócia, verificou a capacidade de concentração e a
60 Cartão CW
30
rapidez para respostas a certos tipos de estímulos de
0 extrema importância que ocorrem, por exemplo, du-
GN GD rante a realização de uma cirurgia. Os resultados dos
Grupos exames demonstraram que após uma noite de plantão
Figura 5. Tempo médio necessário para realizar o teste de atenção dos a capacidade do médico de se lembrar de uma série
trabalhadores do grupo Diurno (GD) e Noturno (GN). desses fatos diminui cerca de 18%, ou seja numa lista
de checagem mental de 12 itens necessário para um
duos do grupo GD, uma vez que não foi encontrada certo tipo de cirurgia dois poderiam ser esquecidos20.
diferença significativa entre o número de erros come- A administração de melatonina (ligada à regu-
tidos pelos dois grupos, no teste de Cancelamento de lação do ciclo claro/escuro) via oral tem sido estuda-
Letras. Este dado contradiz dados obtidos em outros da a fim de minimizar as conseqüências do trabalho
trabalhos que demonstraram que enfermeiras subme- noturno para a saúde pública. Outra possibilidade
tidas a regimes de trabalho em turno, têm uma queda em estudo é a fototerapia, isto é, a exposição a fontes
no alerta6,16,17. Este autor discute que esta queda é es- de luz de alta intensidade em determinados horários
perada, uma vez que, ocorre menor valor da expres- modificando a resposta do organismo ao ciclo claro/
são do componente circadiano da regulação do alerta, escuro, encurtando ou prolongando o dia ou noite
e um aumento da fadiga17, ainda relata que o fator “internos”. Há ainda como tentativa de amenizar
determinante da queda do alerta de indivíduos que este problema, aumentando do número de folgas se-
trabalham a noite é que ao final do trabalho noturno, manais destes indivíduos. Em algumas empresas que
um trabalhador pode alcançar um tempo de vigília funcionam no turno da noite, os funcionários notur-
de 20 a 22 horas, contadas a partir do último episódio nos chegam a receber com até um ano de antecedên-
de sono, em comparação com até 13 horas de vigília cia a escala de trabalho a qual será submetido19.
para trabalhadores diurnos. Embora neste trabalho O fato é que ainda não existe uma forma efi-
isto não tenha sido avaliado, no entanto os sujeitos do caz de evitar os problemas causados por longas jor-
grupo GN relatam tempo de sono maior que os do nadas ou inversão do turno de trabalho.
grupo GD, como já discutido, sugerindo que o sono
do grupo GN não tenha sido fracionado. CONCLUSÃO
O grau de atenção dos dois grupos de tra- Os dados relatados ao longo deste trabalho,
balhadores foi avaliado pelo, Stroop Word Color Test. sugerem que a inversão da jornada de trabalho com-
O Stroop avalia o grau de atenção e o seu poder de promete o grau de atenção mas não o grau de alerta
integração com os mecanismos cognitivos frente à dos indivíduos, uma vez que somos animais de hábi-
tomada de decisão, baseada na informação de dois tos diurnos. Se considerarmos que o alerta e atenção
diferentes estímulos18. Os dois grupos conseguem re- são fundamentais para a aprendizagem e memória e
alizar a tarefa proposta, porém o GN necessita de que eles determinam o nosso desempenho cognitivo,
mais tempo, ou seja, ele necessita de um gasto maior temos o alcance da real importância de dormirmos
de energia em relação ao GD para realizar a mes- no horário correto. Além disto, a inversão do horário
ma tarefa. Na literatura, podemos encontrar casos de sono pode colocar em risco a saúde do trabalha-
semelhantes, com o regime de turnos influenciando dor e a de terceiros dependendo do trabalho com
o grau de atenção dos trabalhadores19,20. que está relacionado.
Um deles se refere à tragédia com o petroleiro
Exxon Valdez em 25 de março de 1989, um dos mais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
trágicos acidentes ecológicos de todos os tempos. As 1. Lent R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neu-
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revisão

Lesões em músicos: quando a dor supera


a arte
Musician’s injuries: when pain overcomes art

Thaís Branquinho Oliveira Fragelli1, Gustavo Azevedo Carvalho2, Diana


Lúcia Moura Pinho3

RESUMO SUMMARY
A performance musical é uma atividade de alta habilidade neu- Musical performance is a highly skilled neuromuscular ac-
romuscular que requer velocidade, precisão e resistência poden- tivity and to require speed, precision and endurance, to
do ocasionar uma variedade de problemas médicos. O objetivo be able to cause a variety medical problems. Object this
deste trabalho é apresentar as patologias, através de uma revisão article is to present pathologies, through bibliography revi-
bibliográfica, que podem afetar a classe profissional dos músicos. sion, to be able to take this professional to develop injuries
É possível concluir através dos estudos demonstrados neste tra- that compromise musical activity. Frequency these injuries
balho que a intensa atividade exercida pelo músico pode levar must be variety causes and can be grouped into three cat-
este profissional a desenvolver lesões que comprometem significa- egories: overuse syndrome, peripherical nerve entrapment
tivamente a atividade profissional do artista. Estas lesões podem and focal dystonia.
ser causadas por diversos fatores que, na literatura são agrupados
em três categorias: as afecções músculo-esqueléticas, as síndromes
compressivas dos nervos periféricos e as distonias focais.

Unitermos: Distonia. Transtornos Traumáticos Keywords: Dystonia. Overuse Syndrome. Occupational


Cumulativos. Doenças Ocupacionais. Diseases.

Citação: Fragelli TBO, Carvalho GA, Pinho DLM. Lesões em Citation: Fragelli TBO, Carvalho GA, Pinho DLM. Musician’s
músicos: quando a dor supera a arte. injuries: when pain overcomes art.

Trabalho realizado na Universidade de Brasília. Endereço para correspondência:


1. Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Neurofuncional, Mestre Thaís BO Fragelli
em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, Universidade SHCES 1109 “E” 102, Cruzeiro Novo
de Brasília. 70658-195 Brasília, DF
2. Fisioterapeuta, Doutor em Ciências da Saúde, Docente da Universi- E-mail: tbranquinho@unb.br / thaisbranquinho@hotmail.com
dade Católica de Brasília, Fisioterapeuta da Câmara dos Deputados.
3. Enfermeira, Doutora em Psicologia, Docente do Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Recebido em: 07/02/07
Revisado em: 08/02/07 a 17/10/07
Aceito em: 18/10/07
Conflito de interesses: não

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revisão
INTRODUÇÃO Posteriormente, a abordagem se expandiu para o ní-
Os distúrbios de origem ocupacional que aco- vel internacional observando a pertinência ao tema.
metem trabalhadores representam hoje um proble- Assim, foram explorados os acervos de periódicos,
ma epidêmico. No Brasil, são registrados cerca de 30 livros e dissertações de bibliotecas universitárias e
mil casos/ano1. Esta temática é foco de discussão na base da dados virtuais. As palavras chaves utilizadas
atualidade sendo objeto de pesquisa e preocupação foram saúde do músico, lesões em músicos, distonia,
de várias categorias profissionais. Por muito tempo, síndrome do uso excessivo e suas respectivas tradu-
os estudos acerca dos distúrbios de origem ocupa- ções em inglês. Os artigos, livros, dissertações foram
cionais tinham como objeto de análise as atividades selecionados de acordo com a pertinência do tema
realizadas pelos trabalhadores de escritório e indús- sendo este o critério de inclusão e exclusão. Não foi
trias, porém, na atualidade observa-se um aumen- limitada a data de publicação bem como, o número
to do interesse para outras profissões a exemplo dos a ser pesquisado. A definição dos capítulos foi reali-
músicos2. Baseado em tal cenário é que este artigo zada visando uma exposição didática.
tem o objetivo de discutir, por meio de uma breve
revisão bibliográfica, as principais lesões que aco- RESULTADOS
metem o sistema músculo-esquelético dos músicos.
Sabe-se, porém, que muitos outros acometimentos Estudos Epidemiológicos e Causais
fazem parte da problemática das lesões ocupacionais A análise da literatura aponta que o sintoma
que acometem estes profissionais, a exemplo dos de dor é freqüente na prática musical3,4,6,8,9.
problemas auditivos e psicológicos, contudo não se- Já há algum tempo, pesquisadores se preocu-
rão abordados no presente artigo. pam com a saúde dos músicos. Estudo realizado em
A música é, para o ouvinte, uma expressão 1987 com mais de 4.000 músicos, no Congresso In-
de arte relacionada ao prazer, relaxamento e lazer ternacional de Músicos de Orquestra e Ópera, onde
que encanta pela harmonia da combinação de sons se detectou que 76% dos entrevistados apresentavam
e ritmos. A platéia se fascina com a harmonia conse- problemas de dor que afetavam o desempenho9,10. Em
qüente do resultado de palco, entretanto, a maioria 1998, estimativas da prevalência de desordens múscu-
do público dificilmente está consciente das exigên- lo-esqueléticas em músicos foram realizadas também
cias que esta atividade impõe àqueles que a ela se na América do Norte, Inglaterra, Austrália e Europa.
dedicam3. Nesta perspectiva, a performance musical Neste estudo, em um primeiro momento as dores su-
implica que o músico tenha uma grande habilidade, aves eram excluídas e, posteriormente, incluídas. Na
velocidade, precisão e resistência4 e, também implica primeira situação, a prevalência encontrada foi de
em um controle, muitas vezes máximo, neuromuscu- 43% em músicos profissionais e 17% nos estudantes
lar5. Este esforço físico e mental a que o músico é ex- de música. No segundo, a prevalência subiu para 71%
posto para tocar um instrumento dependerá do tipo em profissionais e 87% em estudantes de música11.
do instrumento, da duração da execução, da com- Em 1996, estudo realizado no Brasil, por An-
plexidade da obra executada, das condições psico- drade et al.6, com 419 músicos, detectou incidência
lógicas e da resistência muscular individual durante de algum tipo de desconforto físico entre 88% dos
a atividade6. Vários autores comparam as atividades instrumentistas de cordas, provenientes dos princi-
exercidas por estes profissionais à dos atletas5-7. pais centros culturais do país. Os autores observaram
que dentre estes, 30% necessitaram interromper suas
MÉTODO atividades e verificaram a necessidade de investigar
O presente trabalho trata-se de uma revisão as possíveis causas e as estratégias a serem adotadas.
bibliográfica onde se procurou compreender as le- Mais recentemente, em estudo realizado em
sões que podem afetar os músicos e as possíveis cau- Londrina, em 2004, com 45 músicos integrantes da
sas que contribuem no surgimento destas lesões. A Orquestra Sinfônica da Universidade de Londrina
escolha da temática se baseou em um trabalho ini- constatou que 77,8% dos músicos apresentou algum
ciado de prevenção de lesões em músicos e da ne- sintoma músculo-esquelético12. E, em um trabalho
cessidade de aprofundamento da problemática. Ini- publicado em 2005, com 241 músicos participantes
cialmente, buscou-se verificar as pesquisas existentes na orquestra sinfônica de São Paulo constatou que
sobre o tema em nível nacional sem, no entanto, 68% apresentaram dor sendo mais predominante
preocupar com as datas em que foram realizadas. em mulheres13.

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revisão
Em seu artigo, Frank et al.14 fazem críticas colha do instrumento e do repertorio, qualidade do
quanto às pesquisas sobre a epidemiologia das le- instrumento, súbito aumento de ensaios; 3) Fatores
sões ao afirmar que o campo da medicina do músico ambientais como mobiliário e 4) Fatores relaciona-
ainda está muito aquém da medicina do trabalho. dos à atividade não-musical estressante17,18.
Referem-se às diferenças dos grupos examinados, As estruturas freqüentemente mais acometidas
aos parâmetros, à significância e à falta de grupo de em músicos instrumentistas são os músculos, apesar
controle. Relatam ainda que, mesmo entre as poucas de haver referências quanto ao comprometimento de
pesquisas, comparando estudos de 1986 a 2005, a outras estruturas16. Assim, os músicos profissionais
prevalência das lesões é estimada entre 55% a 86%, podem ser afetados por lesões que apresentam-se sob
índices considerados altos, principalmente quando diferentes formas clínicas como as afecções músculo-
comparados a outras profissões. esqueléticas, as compressões de nervos periféricos e
Nesta perspectiva, cabe destacar que tanto os a distonia focal4,7.
sintomas quanto as lesões ocupacionais podem ser
agravadas, pois os músicos são relutantes em procu- Afecções Músculo-esqueléticas: Síndrome do
rar auxílio médico não apenas por razões econômicas, Uso Excessivo (SUE)
mas sobretudo pelo receio de comprometerem suas Na literatura especializada em medicina das ar-
carreiras em função do tratamento e das possíveis con- tes performáticas, especialidade que surgiu na década
seqüências que tornar o problema público7. Muitos de 809, são relatados vários termos para denominar
instrumentistas continuam com a sua atividade mes- estas desordens, dentre eles destacam-se: síndrome do
mo quando já adquiriram problemas musculares6. uso excessivo (SUE); tendinites; tenossinovites; lesões
Na literatura vários fatores são apontados, como por trauma cumulativo (LTC) e lesões por esforços
causa de lesões ocupacionais em músicos tais como a repetitivos (LER). A Medical Problems Performing Artists
constituição corporal; o estado físico; o volume; a força; publicou, em 1986, um trabalho em que relata a dis-
o tono; o grau de flexibilidade muscular; uma patologia cordância entre as terminologias utilizadas e discorre
muscular prévia; a técnica e a força usada para tocá-lo; sobre a necessidade de uniformização a fim de facili-
assim como, a ausência de preparo muscular; a postura tar a comunicação entre médicos e artistas5. O termo
e a maneira de sustentar o instrumento5. síndrome do uso excessivo (SUE) parece ser o termo
Outras situações exporiam o instrumentista a preferencial na Medicina das Artes Performáticas19.
um esforço físico maior que o habitual, dentre estas A síndrome do uso excessivo (SUE) ou superu-
se destacam: o aumento do tempo dedicado a prática so pode ser definida como sinais e sintomas associados
decorrente de seleções; as provas em cursos; a parti- a uma aparente lesão ocasionada pela exposição de
cipação de festivais; a adaptação a novos instrumen- estruturas a uma carga que excede seu limite fisio-
tos, dentre outros6. Exageros de técnica, como o caso lógico. Os tecidos mais comumente atingidos são as
de Robert Schumann, que abandonou a prática do unidades músculo-tendão; as articulações e/ou os li-
piano para dedicar-se somente a composição, foi um gamentos19. Esta síndrome constitui um complexo de
dos primeiros casos documentados2. Críticas quanto à sintomas causados pelo excesso de atividade e de uso
metodologia de ensino têm sido apontadas, a exemplo das estruturas. Alguns autores incluem as compressões
das técnicas de imitação e repetição15. As atividades nervosas como pertencentes a este grupo, pois estas
repetitivas diárias e rotineiras, atividades por sua vez poderiam simular sintomas das lesões músculo-esque-
necessárias para um bom desempenho técnico do mú- léticas ou ainda estar associada ou ser originada por
sico, são também consideradas um fator predisponen- estas lesões, porém há discordância neste aspecto5.
te que produz um efeito de tensão acumulativo nos Esta síndrome apresenta uma maior prevalên-
tecidos, excedendo o limiar de tolerância fisiológica cia em mulheres19 numa relação de cerca de 3:120.
podendo produzir incapacidades16. Quanto ao local, esta pode atingir mão, punho e an-
Neste contexto, os fatores predisponentes tebraço, cotovelo, ombro e pescoço ou ser difuso pelo
poderiam ser agrupados em: 1) Fatores individuais braço4. A localização está associada em parte pela de-
intrínsecos, como condição física inadequada, va- manda física de cada instrumento20. Pode ser encon-
riações anatômicas, sexo, lesões prévias reabilitadas trada entre os instrumentistas como pianistas, tecladis-
inadequadamente ou não reabilitadas; 2) Fatores tas, guitarristas, instrumentistas de cordas, entretanto
relacionados à atividade como hábitos de prática cada instrumento pode ser responsável por lesões em
errôneos, erro na técnica, posturas inadequadas, es- específicas na unidade músculo-tendão4.

305 Rev Neurocienc 2008;16/4:303-309


revisão
Há um questionamento na literatura acerca perda funcional, podendo muitas vezes ser confundida
dos fatores que levariam alguns instrumentistas a com uma compressão nervosa, apesar das alterações
desenvolverem a síndrome do uso excessivo conside- sensitivas estarem tipicamente ausentes. Os sintomas
rando que todos empregam o mesmo repertório de exacerbam durante a execução do instrumento, com o
movimentos na performance. Desta forma, alguns aumento do tempo e intensidade de ensaio4,20.
aspectos poderiam estar envolvidos nesta questão.
Estes seriam intrínsecos aos sujeitos como a consti- Síndromes Compressivas dos Nervos Periféricos
tuição corporal, estado físico, trofismo e grau de fle- As síndromes compressivas dos nervos perifé-
xibilidade muscular e/ou patologia muscular prévia; ricos constituem um complexo de sintomas relacio-
e extrínsecos aqueles relacionados à técnica; as pos- nados à compressão dos nervos periféricos em seus
turas; o tipo e a sustentação do instrumento; a for- respectivos trajetos16. Esta compressão é considera-
ça usada para tocá-lo; e/ou despreparo muscular5. da, por alguns autores, como uma forma de SUE
Estes fatores adicionados ao tempo de treinamento e que uma das causas seriam o uso excessivo pela
diário; o tamanho e peso do instrumento; e a relação hipertrofia muscular ou tendinite10.
antropométrica para cada tipo de instrumento pode- O aumento de pressão sobre o nervo pode ser
ria também influenciar o surgimento de síndromes provocado por compressão direta ou indireta pelos te-
por uso excessivo20. cidos adjacentes24. As causas da pressão podem estar
Estes fatores estariam associados à origem de associadas aos movimentos repetitivos que podem oca-
uma sobrecarga mecânica em estruturas sensíveis à sionar hipertrofia muscular local e irritação dos tecidos
dor (ligamento, cápsula das facetas, periósteo, mús- e assim, ser relacionada à SUE5,20. As lesões em espaço
culos e paredes dos vasos sanguíneos). Esta sobre- confinado como os cistos; a alteração do contorno ós-
carga mecânica poderia ultrapassar a capacidade seo por lesão prévia; os processos artríticos crônicos são
de sustentação do tecido podendo ocasionar a rup- também apontados como causas de pressão25.
tura que, por sua vez, se não tiver uma cicatrização As síndromes compressivas são observadas en-
adequada dificultaria a recuperação ocasionando a tre 10% e 30% dos instrumentistas especialmente flau-
presença de inflamação e dor, que afetam a função tistas, pianistas, guitarristas, violinistas e dentre outros
sem uma lesão aparente, caracterizando então, a sín- instrumentistas de corda, possivelmente em função de
drome por excesso de uso. Estas síndromes podem estes instrumentos solicitarem a manutenção de posi-
ocorrer em qualquer articulação ou estrutura que ções sustentadas por longo período de hiperflexão do
sofra sobrecarga21. cotovelo26 ou hiperflexão e desvio de punhos4.
A fisiopatologia da síndrome do uso excessivo Neste sentido, estas posturas antifisiológicas
está relacionada com resistência do tecido ao agente adotadas por longos períodos de tempo nos exercí-
agressor e na redução da capacidade de recupera- cios, ensaios ou concertos poderiam gerar as neuro-
ção20. Estudos apontados na literatura relatam que patias periféricas8. A compressão dos nervos perifé-
através de biópsia muscular, realizados em indivídu- ricos pode estar presente em locais onde exista um
os com síndromes relacionadas ao uso excessivo de estreitamento prévio causado por tecido normal ou
determinado grupo muscular demonstraram a ocor- mesmo patológico20. As neuropatias periféricas tam-
rência de depleção de glicogênio e alterações dege- bém podem ser ocasionadas por estiramento repeti-
nerativas agudas nas fibras, com presença de edema tivo ou por distorção angular gerada pelos movimen-
no perimísio e tecido areolares, hemorragia inters- tos de algumas articulações5.
ticial, trombose de vênulas e infiltrado leucocitário A lesão do nervo por compressão, em geral, é
ao redor das arteríolas7,22. Além destas alterações, reversível, entretanto, uma evolução crônica decor-
observou-se ainda a hipertrofia das fibras musculares rente de tratamentos inadequados ou decorrentes do
do tipo II – que são as fibras utilizadas no processo retorno do indivíduo à atividade sem reabilitação
glicolítico e mais fatigáveis; aumento do número de completa pode piorar o prognóstico25. Os sintomas
nucléolos centrais e anormalidades mitocondriais, da compressão de nervo periférico podem simular os
demonstrando as alterações estruturais provocadas de origem músculo-esquelética, e estar associados ou
pelo processo de lesão por uso excessivo22,23. serem desencadeados pela lesão muscular5.
O sintoma da SUE mais freqüentemente obser- Quase todos os nervos periféricos estão su-
vado é a dor, podendo estar associada à fraqueza mus- jeitos à compressão, entretanto, os mais comumen-
cular, à depressão à redução da habilidade, à fadiga e à te atingidos são o mediano e o ulnar4. Há também

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muitos relatos da compressão do plexo braquial no nadas de distonias de ação específica31. Entretanto,
desfiladeiro torácico5,20. As compressões nervosas ob- com a progressão a distonia pode ocorrer em qual-
servadas com mais frequência são a do túnel do car- quer atividade motora envolvendo o segmento afe-
po, do túnel cubital e a síndrome do desfiladeiro17. tado, sendo então denominada de distonia de ação.
O mesmo autor destaca ainda, que a compressão do Nos casos mais graves, pode ocorrer a distonia de
nervo ulnar no punho (canal de Guyon), a síndrome repouso, onde os movimentos distônicos tendem a
do pronador redondo e a neuropatia do radial po- se intensificar com a fadiga, o estresse, e ou outros
dem ocorrer porém são pouco observadas. fatores emocionais. Os sintomas são observados nos
As neuropatias de membros inferiores são pou- segmentos corporais que executam a ação e que em
co freqüentes entre os músicos, porém, há relatos de decorrência da distonia a ação é impedida24.
casos isolados de neuropatia do safeno interno em ins- A etiologia da distonia não está completamen-
trumentistas de viola da gamba, em decorrência da te esclarecida, mas considera-se que esta seja causa-
sustentação firme do instrumento pela coxa. A lite- da por um distúrbio bioquímico no gânglio basal32.
ratura relata que as neuropatias dos nervos cranianos Entretanto, existem relatos na literatura que consi-
podem aparecer em instrumentistas de sopro5,20, pois, deram que as distonias têm origem periférica. Um
os ramos do labial superior e mentoniano do nervo trauma, por exemplo, poderia causar, em alguns ca-
trigêmeo podem ser comprimidos diretamente pelo sos, um movimento anormal focal atividade-depen-
bocal do instrumento ou pela alta pressão intra-oral dente. Apesar de não haver consenso relativo quanto
gerada ao tocar notas agudas podendo ainda ocorrer a localização da lesão, se muscular ou central, alguns
paralisia temporária do palato mole pela pressão ele- estudos sugerem que os mecanismos periféricos e
vada na cavidade oral, orofaringe e hipofaringe20. centrais poderiam atuar simultaneamente e um trau-
ma periférico poderia desencadear uma lesão irrita-
Distonia Focal tiva central, de caráter progressivo20.
Distonia focal é um termo usado para deno- Estudos foram realizados com a utilização da
minar as desordens do controle motor que se carac- eletroneuromiografia (EMG) para analisar a ativida-
terizam por atingir grupos musculares restritos e que de muscular nas distonias e observou-se a presença
aparecem somente em determinadas ações, ela não de contração simultânea de músculos agonistas e
está relacionada exclusivamente a profissão, porém, antagonistas20,27. O mecanismo desta condição em
quando a distonia ocorre em função da atividade que o movimento se realiza com a ação de músculos
profissional é denominada distonia ocupacional4. antagonistas simultaneamente com a perda da iner-
A distonia ocupacional caracteriza-se por mo- vação recíproca é ainda desconhecido33.
vimentos e posturas distônicas que ocorrem em fun- As estatísticas da prevalência das distonias ocu-
ção de uma ação específica geralmente relacionada à pacionais se mostraram altas em músicos variando de
atividade laboral, elas podem acometer diferentes ca- 9% a 14%, sendo o sexo masculino o mais acometi-
tegorias profissionais tais como, os digitadores, os pia- do20,34, na relação de 2:1 na faixa etária em torno de
nistas, os instrumentistas de sopro, dentre outras4,27. 35 anos4. Os instrumentistas mais afetados foram os
Os movimentos distônicos são definidos como tecladistas seguidos dos instrumentistas de cordas30.
contrações prolongadas que têm tipicamente a natu- Os músicos profissionais são mais susceptíveis a
reza de uma torção e geralmente aumentam no de- desenvolver este tipo de desordem motora que envolve
correr da atividade28. As posturas distônicas são defi- a perda de controle de movimentos digitais individuais
nidas por alterações posturais bizarras provenientes e freqüentemente inabilidade profissional e, na maio-
da estabilização do segmento em uma postura imó- ria das vezes, está associada a atividades ocupacionais
vel podendo permanecer por período prolongado29. que requerem movimentos repetitivos da mão35.
Apresenta uma um prognóstico muito pobre, geral- Os padrões de disfunção são variáveis e de-
mente culminando em abandono da carreira30. pende do tipo de instrumento utilizado. Há registro
A distonia pode aparecer no desenvolvimento de diversas formas de distonias como por exemplo,
de determinado tipo de atividade motora, a exemplo nos pianistas onde é observado o acometimento da
da cãibra do escrivão que afeta os membros supe- mão direita, mais frequentemente. Ao contrário da
riores durante o ato de escrever e, entretanto, não dos violonistas ou violoncelistas que é mais comum
é observada em outras atividades que envolvem o na mão esquerda. Por outro lado, os flautistas po-
uso do mesmo membro24. Por isso elas são denomi- dem ser acometido tanto as mãos quanto a língua

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e os lábios, semelhante alteração observada em cla- de apresentações, concursos ou exames de seleção; e
rinetistas, trompistas e intérpretes de instrumentos os fatores ambientais. Como pano de fundo, encon-
similares5,20. Nestes instrumentistas a manifestação tra-se a natureza da atividade dos músicos que exige
caracteriza-se por espasmo dos músculos dos lábios além da precisão de movimentos, a pressão tempo-
ou da língua quando o músico executa atividade em ral, e o tratamento de informações, colocando em
seu instrumento, porém estes mesmos músculos ope- evidência as demandas física, afetiva e cognitiva.
ram adequadamente em outras atividades como a As lesões acometem principalmente os mem-
mastigação e a fonação5. bros superiores em função da constante solicitação
Os instrumentistas que se utilizam continu- que podem ser agravadas pela continuidade dos
adamente os membros inferiores podem também hábitos errôneos e pelo tratamento inadequado. Al-
desenvolver distonias nestes segmentos corporais, a gumas estratégias poderiam ser utilizadas a fim de
exemplo dos harpistas5. minimizar este problema, a exemplo do que se ob-
As principais queixas relacionadas às distonias servam em algumas ações que vêm sendo desenvol-
são, a rigidez dos dedos ou redução da velocidade de vidas em organizações empresariais, colocando em
execução do instrumento; dificuldade em realizar os evidência a preocupação com a saúde de seus traba-
movimentos de forma harmônica; e incoordenação lhadores, por meio da inserção de equipes interdis-
na execução da atividade com o instrumento com ciplinares com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
movimentos de extensão ou de flexão involuntária psicólogos dentre outros profissionais capacitados no
dos dedos naquelas passagens que requerem movi- contexto da saúde ocupacional. Ações, ainda muito
mentação rápida e vigorosa20,30. Os sintomas sensiti- tímidas, de prevenção vêm sendo adotadas e reco-
vos estão ausentes, exceto na forma neurálgica onde mendadas35,36 como a introdução de palestras, exercí-
a dor pode ser o único sintoma. A progressão da pa- cios laborais, intervenções ergonômicas37,38 conscien-
tologia é lenta e pode estender por meses a anos20. A tização dos profissionais, enfim, ações e intervenções
mão dominante no instrumento é geralmente a mais precoces com o objetivo de elaborar estratégias para
afetada, entretanto, pode ocorrer comprometimento melhoria da qualidade de vida no trabalho.
dos dois segmentos corporais simultaneamente ou Finalmente, destaca-se que para aprofundar a
sucessivamente4. O uso excessivo de determinado magnitude deste problema é necessário que os pro-
segmento corporal, bem como, a presença de infla- fissionais, músicos e aqueles que atuam na melhoria
mações estariam relacionadas a ocorrência de dis- da saúde e da segurança no trabalho, compreendam
tonia. Os instrumentistas freqüentemente utilizam a a natureza desta atividade38, e os aspectos da biome-
estratégia de alternar os dedos com os quais tocam cânica nela envolvida, a fim de propor alternativas
ou alteram a posição de punho ou braço para mini- que considere a demanda solicitada em função das
mizar o problema5,20. características de cada instrumento, considerando os
outros fatores envolvidos, para a realização da ativi-
CONSIDERAÇÕES FINAIS dade. Acrescenta-se ainda a necessidade de mais es-
A intensa atividade exercida pelo músico pode tudos sobre as atividades dos instrumentistas através
levar este profissional a desenvolver lesões como as da coleta de sinais biológicos.
afecções músculo-esqueléticas, as compressões ner-
vosas e as disfunções motoras ou distonias. São vá- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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309 Rev Neurocienc 2008;16/4:303-309


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Neuroinfecção humana por Trypanosoma


cruzi
Human Neuroinfection by Trypanosoma cruzi

Rodrigo Siqueira-Batista1, Andréia Patrícia Gomes2, Diana Toledo-Monteverde3,


Glaciele Moraes-Martins3, Marilia Majeski-Colombo3, Jorge Cardoso
Messeder4, Vanderson Esperidião Antonio5

RESUMO SUMMARY
A moléstia de Chagas permanece como uma das mais importan- Chagas disease is one of the most important parasitosis in the
tes doenças parasitárias no mundo. O amplo espectro clínico da world. The broad clinical spectrum of the disease includes the
moléstia inclui o envolvimento do sistema nervoso, o qual culmi- involvement of the central nervous system frequently culmi-
na, freqüentemente, no surgimento de distúrbios neurológicos e/ nating in the appearance of neurological and/or psychiatric
ou psiquiátricos, os quais devem motivar a suspeita de infecção disturbances, which should motivate the suspects of infection
pelo Trypanosoma cruzi, permitindo o correto encaminhamento da by Trypanosoma cruzi, allowing the institution of prompt diag-
investigação diagnóstica e da abordagem terapêutica. Com base nostic investigation and adequate therapeutics. Based on these
nestas premissas, o objetivo do presente artigo é apresentar discus- premises, it is the aim of this article to proceed with an updat-
sões atualizadas sobre os principais aspectos clínicos e patológicos ing on the main aspects of the attack of central nervous system
do acometimento do sistema nervoso pela moléstia de Chagas. by Chagas disease.

Unitermos: Trypanosoma cruzi. Sistema Nervoso Keywords: Trypanosoma cruzi. Autonomic Nervous
Autônomo. Doença de Chagas. System. Chagas Disease.

Citação: Siqueira-Batista R, Gomes AP, Toledo-Monteverde Citation: Siqueira-Batista R, Gomes AP, Toledo-Monteverde
D, Moraes-Martins G, Majeski-Colombo M, Messeder JC, D, Moraes-Martins G, Majeski-Colombo M, Messeder JC, An-
Antonio VE. Neuroinfecção humana por Trypanosoma cruzi. tonio VE. Human Neuroinfection by Trypanosoma cruzi.

Trabalho realizado no Centro Universitário Serra dos Órgãos Endereço para correspondência
(UNIFESO) e no Centro Federal de Educação Tecnológica de Rodrigo Siqueira-Batista
Química de Nilópolis (CEFET Química/RJ). Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO)
1. Doutor em Ciências, Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Pro- Disciplina de Clínica Médica
fessor Titular de Clínica Médica, Curso de Graduação em Medicina, Av. Alberto Torres 111
Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO). Professor Adjunto 25964-000 Teresópolis, RJ
de História e Filosofia da Ciência, Centro Federal de Educação Tecno- E-mail: rsiqueirabatista@terra.com.br
lógica de Química de Nilópolis (CEFET Química/RJ).
2. Doutoranda em Ciências, Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
Professora Titular de Clínica Médica, Centro Universitário Serra dos
Órgãos (UNIFESO).
3. Diplomanda em Medicina, Centro Universitário Serra dos Órgãos.
4. Doutor em Ciências (Química Orgânica), Instituto Militar de En-
genharia. Professor Adjunto de Ensino de Química, Centro Federal de
Educação Tecnológica de Química de Nilópolis (CEFET Química/RJ).
5. Mestre em Ciências Morfológicas, Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Professor Regente da Disciplina de Neuroanatomia, Cen- Recebido em: 09/04/07
tro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO). Professor Adjunto das Revisado em: 10/04/07 a 25/07/07
Disciplinas de Anatomia Humana e Fisiologia, UNIFESO. Professor Aceito em: 26/07/07
Adjunto da Disciplina de Anatomia Humana, UNIFESO. Conflito de interesses: não

Rev Neurocienc 2008;16/4: 310-315 310


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INTRODUÇÃO do, no caso de pacientes imunodeprimidos, especial-
Descrita pela primeira vez em 1909 por Carlos mente nos enfermos co-infectados pelo vírus da imu-
Chagas, a tripanossomíase americana ou moléstia de nodeficiência humana (HIV), o acometimento do
Chagas, enfermidade causada pelo Trypanosoma cruzi, sistema nervoso central (SNC), de grande gravidade
protozoário pertencente à classe Mastigophora, ordem e importância12,13.
Kinetoplatida e família Trypanosomatidae, é uma antro- Por ser a moléstia de Chagas uma condição
pozoonose de alta prevalência e de significativa mor- caracterizada por complexa interação parasita-hos-
bidade na América Latina, sendo considerada uma pedeiro, marcada, por vezes, pelo expressivo envol-
das doenças infecto-parasitárias de maior impacto vimento do SNC, o presente artigo versará sobre as
final no continente1,2, atingindo cerca de seis milhões principais discussões em relação ao acometimento do
de pessoas3-5. No Brasil, acomete cerca de 36% do sistema nervoso na infecção pelo T. cruzi (Quadro 1).
território nacional, envolvendo mais de 2.450 mu-
nicípios que se estendem desde o Maranhão ao Rio Fase aguda
Grande do Sul, estimando-se a existência de dois a As alterações do sistema nervoso na moléstia
três milhões de infectados, dos quais aproximada- de Chagas se iniciam na fase aguda, cabendo des-
mente 60% estariam vivendo em áreas urbanas4. taque a dois processos patológicos fundamentais: (1)
A história natural do mal de Chagas é, habitu- a desnervação autonômica, que levará a marcantes
almente, bastante prolongada, sendo possível distin- repercussões na fase crônica da enfermidade, como
guir dois momentos evolutivos com díspares carac- será discutido adiante e (2) a penetração no SNC,
terísticas: a fase aguda e a fase crônica2. Em ambas clinicamente manifesta como meningoencefalite
observam-se, dentre outras alterações, acometimen- chagásica aguda.
to do sistema nervoso6-9.
A fase aguda é caracterizada por elevada parasi- Meningoencefalite
temia e proliferação do protista em vários tipos celulares, Desde 1953, reconhece-se o T. cruzi no SNC,
especialmente células musculares8, sendo geralmente na fase aguda14. O protozoário pode ser encontrado,
assintomática; entretanto, podem ocorrer em aproxi- com freqüência, no liquor de pacientes nesta etapa,
madamente 35% dos pacientes, manifestações como ainda que nem todos os enfermos apresentem altera-
febre (acima de 39oC), mialgias, mal-estar, anorexia e ções neurológicas. A meningoencefalite aguda surge,
cefaléia7. No exame físico, costuma ser evidenciada lin- geralmente, por volta da segunda e terceira semanas
fadenopatia generalizada, hepatoesplenomegalia e, em de evolução da doença15, concorrendo para o aumen-
alguns enfermos, sinais de porta de entrada, como os to da letalidade desta fase16. Esta manifestação atinge,
complexos cutâneo-ganglionar e oftalmo-ganglionar9. principalmente, lactentes e imunodeprimidos, sendo
As manifestações mais graves são as miocardites e a que, nestes últimos, o curso da doença pode ser fa-
meningoencefalite, esta última representando o acome- tal, em 10 a 20 dias após o diagnóstico5. Os pacientes
timento neurológico típico desta etapa. que desenvolvem meningoencefalite difusa costumam
Na fase crônica, as manifestações mais signifi- apresentar manifestações como torpor, cefaléia, con-
cativas são a cardiopatia chagásica crônica (CCC) e vulsões e sinais neurológicos de localização1.
os megas (esofagopatia chagásica crônica e colopatia Quadro 1. Sumário das principais alterações neurais relacionadas à
chagásica crônica), esses últimos relacionados à des- infecção por Trypanosoma cruzi.
nervação autonômica10. O acometimento do sistema CONDIÇÃO CLÍNICA PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
cardiovascular (SCV) favorece o desenvolvimento de Fase aguda Meningoencefalite
fenômenos tromboembólicos, os quais podem levar Fase crônica Distúrbios do sistema nervoso autônomo
ao surgimento de quadros de infarto cerebral, po- Megas: megaesôfago, megacólon, e
dendo deixar seqüelas deficitárias ou até mesmo le- outros
var o paciente ao óbito11. Ademais, nesta etapa, vêm Disautonomia
sendo descritas, cada vez mais amiúde, alterações Fase neural crônica
neuropsicológicas nos enfermos4. Verifica-se, portan- Distúrbios do sistema nervoso central
to, um envolvimento do SNC, tanto na fase aguda, Distúrbios do sistema nervoso periférico
quanto na fase crônica. Distúrbios neuropsiquiátricos
Além dos distúrbios neurológicos das fases Moléstia de Chagas em Meningoencefalite
imunodeprimidos
aguda e crônica citados acima, pode ser menciona- Lesões tumor-like

311 Rev Neurocienc 2008;16/4:310-315


revisão
Os tipos celulares parasitados são, habitualmen- (NC XII) também tem grande importância para o de-
te, as células da glia e as células de Schwann15. Rara- senvolvimento do megaesôfago22.
mente se observa parasitismo em neurônios8. Altera- O sistema urinário é, eventualmente, atingi-
ções patológicas podem ocorrer no cerebelo, núcleos do, como demonstrado em experiências feitas com
da base, protuberância, pedúnculos, bulbo ou medula, camundongos, nas quais se observou dilatação da
caracterizando-se pela infiltração de leucócitos mono- parede vesical, devido à ação direta do protozoário
nucleares nas leptomeninges (aracnóide e pia-máter), nas fibras musculares e pela lesão secundária das cé-
congestão, hemorragias e infiltração leucocitária peri- lulas paraganglionares, levando assim à formação da
vasculares, neuronofagia e proliferação glial. mega bexiga23.
A meningoencefalite pode iniciar-se com ma- Além dos distúrbios no tubo digestivo eviden-
nifestações tradicionais de meningismo (opistótono, ciam-se também, relacionadas à disautonomia, mo-
rigidez de nuca, Kerning e Brudzinski), vômitos fre- dificações no aparelho cardiovascular. Observam-se
qüentes e repetidos (não precedidos por náuseas), si- oscilações na freqüência cardíaca e uma menor ele-
nais de cefaléia, agitação, estrabismo, obnubilação, vação na pressão diastólica quando ocorre estímulo
prostração e convulsões17,18. Estas últimas geralmente simpático nos pacientes sem insuficiência cardíaca
manifestam-se como crises tônico-clônicas generali- congestiva1. O balanço simpático-parassimpático no
zadas, às vezes localizadas, com variável intensidade coração permanece controverso. Em estudos realiza-
e periodicidade. dos em ratos, demonstrou-se um predomínio da ati-
Além do quadro clínico de meningoencefali- vidade simpática na fase aguda, sendo esta a possível
te aguda descrito acima, o acometimento do SNC causa da taquicardia transitória nessa fase24.
pode resultar no desenvolvimento, a longo prazo, de
seqüelas, muitas das quais graves, geralmente obser- Forma neural crônica
vadas apenas na fase crônica da moléstia, quando Carlos Chagas, em seus estudos publicados
então, o enfermo pode apresentar manifestações entre 1911 e 1913, postulou a existência de uma for-
neurológicas, representadas por déficit cognitivo e/ ma neural crônica, ao observar alterações no sistema
ou síndromes cerebelares15,19-21. nervoso mesmo após a cessação da fase aguda25. Es-
tas representam, provavelmente, seqüelas tardias do
Fase Crônica acometimento nervoso da fase aguda. Com efeito,
ainda hoje há discussão acerca da existência de uma
Distúrbios do sistema nervoso autônomo forma neural crônica, conquanto vários trabalhos
O acometimento do sistema nervoso autôno- estejam procurando descrever as alterações observa-
mo (SNA) se dá pela destruição de neurônios, evento das nessa (suposta) fase, as quais são bem variadas,
iniciado já na fase aguda, principalmente aqueles dos tanto no acometimento do SNC, quanto no sistema
gânglios parassimpáticos. Estas lesões relacionam-se nervoso periférico4. Sem embargo, não há estudos
à ruptura de ninhos de amastigotas18,21. anatomopatológicos que confirmem a existência
A destruição dos neurônios do plexo mioentéri- desta forma neural crônica.
co levará, inicialmente, a uma diminuição da coorde- Há achados, na avaliação neurológica, que re-
nação muscular dos órgãos do tubo digestivo, alteran- forçam esta idéia, tal como alterações da motricida-
do assim o peristaltismo e aumentando as respostas de, da linguagem e da inteligência, fenômenos pseu-
da musculatura desnervada aos diferentes estímulos. do-bulbares, distúrbios paralíticos do oculomotor,
Essa reação mais intensa provoca hipermotilidade, hi- síndromes cerebelares, manifestações convulsivas,
pertonia e aperistalse pela perda da coordenação dos sendo tais distúrbios característicos do comprometi-
movimentos. Tais mudanças promovem dilatação e mento do SNC19.
aumento da estimulação dos órgãos, em decorrência As alterações no sistema nervoso periférico
da estase do seu conteúdo, sobrevindo, então, a hi- (SNP) podem ser de caráter motor e de caráter sensi-
pertrofia. Ao final, a hiperatividade acabará determi- tivo. Todavia, são normalmente infreqüentes, além de
nando atonia, levando à formação dos megas, que são possuírem repercussão clínica pouco relevante10,19.
caracterizados pela dilatação das vísceras ocas e perda Recentemente, tem sido dado maior enfoque
do seu peristaltismo, ocorrendo alterações principal- às alterações psiquiátricas, cognitivas e compor-
mente no esôfago e no cólon. O acometimento do tamentais, provocadas pelas lesões decorrentes da
núcleo central do nervo vago (NC X) e do hipoglosso neuroinfecção chagásica. Tais distúrbios podem ser

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mais freqüentemente percebidos nos pacientes na A infecção pelo HIV pode modificar o curso
fase crônica da moléstia, quando se observam mo- clínico da moléstia de Chagas, assim como a infecção
dificações relativas ao psiquismo e às funções cogni- crônica pelo T. cruzi pode agravar a imunodepressão31.
tivas19. As manifestações decorrentes da desnerva- Os infectados pelo HIV demonstram, freqüentemen-
ção parassimpática parecem tornar a pessoa mais te, envolvimento secundário do cérebro por diferentes
suscetível à ação exacerbada do sistema simpático, agentes infecciosos e a moléstia de Chagas é reconhe-
ou seja, às respostas neurovegetativas relacionadas cida como infecção oportunista em potencial32. Tal
às emoções, podendo-se mencionar a maior sudo- fato é decorrente de um profundo desequilíbrio nas
rese, a taquicardia e a irritabilidade, fatores que le- relações entre o organismo e o T. cruzi, na medida em
variam a maior dificuldade de enfrentar problemas que a resposta imunológica ao protozoário depende,
sociais cotidianos1,19. principalmente, dos linfócitos T, células mais atingidas
na infecção pelo HIV33. Assim, esses flagelados conti-
Acometimento neurológico nas situações de nuam a se multiplicar ativamente22. Em cerca de 80%
imunodepressão dos casos de reativação, os pacientes desenvolvem
Desde a década de 60 tem-se notado a ocor- meningoencefalite ou encefalite, associada ou não
rência de formas graves da moléstia de Chagas nos a miocardite28. Nesse momento a infecção pode ser
enfermos com condições imunossupressoras, como detectada facilmente pela alta parasitemia no sangue
nos casos de uso de quimioterapia anti-neoplásica e periférico e no líquido cefalorraquidiano30.
de transplantes de órgãos. Nestas circunstâncias, o Nestes enfermos, a reativação cursa com
curso clínico da doença pode ser alterado pela pre- meningoencefalite necrosante focal, a qual possui
sença de co-infecções, principalmente quando estas características peculiares, tornando-se, portanto,
são imunossupressoras, mas também por fatores ge- parâmetro anatomopatológico seguro desta mani-
rais inespecíficos, como desnutrição22. festação da moléstia de Chagas em pacientes imu-
A imunossupressão em pacientes previamente nossuprimidos25. Há penetração do T. cruzi em ma-
infectados por T. cruzi leva à reativação da doença crófagos, células da glia e, raramente, neurônios. O
crônica com graves manifestações de reagudização. quadro clínico inclui febre elevada, cefaléia, vômitos
A pessoa, ao ser infectada, permanece com T. cruzi e distúrbios do sensório, por vezes evoluindo para
pelo resto de sua vida (nos casos não tratados ade- o coma; sinais neurológicos focais costumam estar
quadamente), muitas vezes sem quaisquer manifesta- presentes34. Eventualmente se observa, igualmente,
ções. Neste contexto, acredita-se que a veia supra-re- incremento do peso e do volume cerebral, com au-
nal possa servir de “reservatório” para o protozoário, mento e achatamento dos giros e alargamento dos
contribuindo para reativação da doença em casos de sulcos, áreas de necrose focal, com hemorragia e alto
imunossupressão26. parasitismo tecidual, lesões localizadas preferencial-
As formas clínicas predominantes nas situações mente nos lobos cerebrais e menos freqüentemente
de reativação são a miocardite, verificada em pacien- no cerebelo e no tronco cerebral25. Podem também
tes imunossuprimidos por fármacos, e as lesões do surgir alterações tumor-like no encéfalo, ou seja, lesão
SNC, meningoencefalite e lesões tumor-like, naqueles expansiva cerebral, fazendo importante diagnóstico
co-infectados pelo vírus HIV9. Tendo isso em mente, diferencial com neurotoxoplasmose12,35-37. Associados
deve-se oferecer atenção especial aos enfermos que aos sinais e sintomas, os exames de imagem, como a
possuem doenças que afetam o sistema imunológico, tomografia computadorizada, podem mostrar lesão
como leucemias, linfomas e ainda para aqueles en- intra-cerebral, hipodensa, produzindo efeito de mas-
fermos que usam fármacos imunossupressores, por sa ou não, que pode ser indistinguível da encefalite
exemplo, em decorrência de transplantes ou de tumo- por Toxoplasma gondii, no que diz respeito à sua locali-
res, e sejam co-infectados com T. cruzi 9,27,28. zação e características tomográficas31,38. Sem embar-
Em muitas circunstâncias, os portadores da go, são fatores que diferenciam a meningoencefalite
forma crônica da moléstia de Chagas infectados pelo chagásica da toxoplásmica: o achado de lesões em
HIV, apresentam reativação da doença em formas áreas subcorticais, na substância branca e na bainha
graves29. A probabilidade de co-infecção entre HIV de mielina (onde as lesões também são mais intensas)
e T. cruzi tem sido favorecida pela grande epidemia e o acometimento menos freqüente dos núcleos da
de HIV, associada à intensa migração de pacientes base – embora também possa ocorrer na meningo-
de áreas rurais para centros urbanos30. encefalite chagásica, é muito mais encontradiço na

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infecção por T. gondii25,28. Outros diagnósticos dife- 4. Siqueira-Batista R. Epidemiologia e Ecologia. In: Siqueira-Batista
R, Gomes AP, Corrêa AD, Geller M. Moléstia de Chagas. 2ª ed. Rio de
renciais também devem ser incluídos nos pacientes Janeiro: Rubio, 2007, pp. 147-68.
infectados pelo HIV, como linfoma primário do 5. Madalosso G, Pellini ACG, Vasconcelos MJ, Ribeiro AF, Weissmann
SNC, tuberculose e criptococose39-42. L, Filho GSO, et al. Chagasic meningoencephalitis: case report of a re-
cently included AIDS-defining illness in Brazil. Rev Inst Med Trop Sao
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 6. Auger S, Storino R, Ordoñez OI, Urrutia MI, Sanmartino M,
Romero D, et al . Emergências em pacientes com doença de Cha-
A moléstia de Chagas caracteriza-se por uma gas na cidade de Buenos Aires, Argentina. Rev Soc Bras Med Trop
fase aguda com alta parasitemia que, após a ativa- 2002;35(6):609-16.
ção da resposta imune, diminui progressivamente 7. Antunes ACM, Cecchini FML, Bolli FB, Oliveira PP, Rebouças RG,
Monte TL, et al. Cerebral trypanosomiasis and AIDS. Arq Neuropsi-
até a instalação da fase crônica. Conforme o pre- quiatr 2002;60(3):730-3.
sentemente discutido, em ambas as fases, bem como 8. Da Mata JR, Camargos MR, Chiari E, Machado CR. Trypanoso-
em situações especiais, mencionando-se os casos de ma cruzi infection and the rat central nervous system: proliferation of
parasites in astrocytes and the brain reaction to parasitism. Brain Res
imunodepressão, há possibilidade de comprometi- Bull 2000;53(2):153-62.
mento do sistema nervoso. Deste modo, para efeitos 9. Siqueira-Batista R, Gomes AP, Viñas PA, Huggins DW, Storino RA.
Moléstia de Chagas. In: Siqueira-Batista R, Gomes AP, Igreja RP, Hu-
de diagnóstico, deve-se sempre estar atento aos en- ggins DW. Medicina tropical: abordagem atual das doenças infecciosas
fermos provenientes de áreas endêmicas da doença, parasitárias. 1ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2001, 1042p.
especialmente se houver história de oportunidade de 10. Gomes AP, Silva-Santos S, Martins WA, Siqueira-Batista R, Olivei-
ra LB Antonio VE. Aspectos Clínicos. In: Siqueira-Batista R, Gomes AP,
infecção, por via vetorial, transfusional, ou outras4, Corrêa AD, Geller M. Moléstia de Chagas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rubio,
para que seja incluída a tripanossomíase americana 2007, pp. 77-90.
do SNC como diagnóstico diferencial das enfermi- 11. Aras R, Matta JAM, Mota G, Gomes I, Melo A. Cerebral infarction
in autopsies of chagasic patients with heart failure. Arq Bras Cardiol
dades expansivas intracranianas7. 2003;81:414-6.
Ainda que se reconheça que as manifestações 12. Lambert N, Mehta B, Walters R, Eron JJ. Chagasic encephalitis as
the initial manifestation of AIDS. Ann Intern Med 2006;144(12):941-3.
neurológicas da moléstia de Chagas sejam decorren- 13. Vaidian AK, Weiss LM, Tanowitz HB. Chagas’ disease and AIDS.
tes dos complexos mecanismos de interação protozoá- Kinetoplastid Biol Dis 2004;3(1):2-4.
rio/hospedeiro, com papel crucial da resposta imuno- 14. Pedreira de Freitas JL, Lion MF, Tartari JTA. Resultados de uma
investigação sobre moléstia de Chagas realizada no município de Marí-
lógica deste último, permanecem inúmeras questões lia e outros, com estudo de dois casos agudos da doença. Rev Hosp Clin
em aberto, mesmo transcorridos quase 100 anos da São Paulo 1953;8:81-92.
descoberta de Carlos Chagas, podendo-se mencionar 15. Brener Z, Andrade Z. Patologia. In: Brener Z, Andrade Z. Trypa-
nosoma Cruzi e Doença de Chagas. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
(1) os aspectos da relação T. cruzi/Homo sapiens sapiens gan, 1979, 464p.
que determinam, em algumas pessoas, distúrbios neu- 16. Siqueira-Batista R, Gomes AP. Infecção pelo Trypanosoma cruzi:
revisitando o mal de Chagas. J Bras Med 2002;82(5):28-41.
rais, (2) a necessidade de melhor esclarecimento da 17. Doença de Chagas aguda: manual prático de subsídio à notificação
discutida (e polêmica) forma neural, e (3) os processos obrigatória no SINAN (Endereço na Internet). Brasil: Secretaria Nacio-
imunológicos e patológicos fundamentais nos quadros nal de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde (atualização em: mês/
ano; citado: mês/2006). Disponível em: http://portal.saude.gov.br
de reativação da infecção por T. cruzi no SNC, nos 18. Siqueira-Batista R, Moraes HP, Hahn MD. Patogenia e patologia.
enfermos em estado de imunodepressão. In: Siqueira-Batista R, Gomes AP, Corrêa AP, Geller M. Moléstia de
O esclarecimento destes pontos parece funda- Chagas. 2a ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2007, pp. 57-74.
19. Jardim E, Takayanagui OM. Forma nervosa crônica da Doença de
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Chagas humana, contexto que permitirá a ampliação 20. Sica RP. Alterations in the periphereal and central nervous system in
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das possibilidades de intervenção na inter-relação pro- ton: PAHO,1994, pp. 172-88.
tozoário/homem, quiçá permitindo uma convivência 21. Sica RP. Compromiso del sistema nervioso. In: Storino RA, Milei J.
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O conceito de sistema neurofuncional


aplica-se à percepção de faces?
Does the concept of neurofunctional system apply to face perception?

Ângela Salomão Macedo1, Denise Campos2, Guilherme Borges3, Vanda Maria


Gimenes Gonçalves4

RESUMO SUMMARY
Este estudo teve por objetivo discutir as principais controvérsias The objective of this study was to discuss the main controver-
quanto à representação cerebral de faces, considerando os con- sies for cerebral representation of faces, considering the con-
ceitos de sistema neurofuncional complexo. Atualmente os neu- cepts of complex neurofunctional system. Recently neurosci-
rocientistas têm questionado se o cérebro processa e representa entists have long puzzled over whether the brain represents
as informações de modo modular ou distribuído. Alguns estudos and processes information in a modular or distributed fashion.
apontam para a existência de módulos neurais especializados para Some studies point to neural modules specialized in faces per-
percepção de faces, visto que algumas regiões corticais apresen- ception, because some cortical areas show increased blood flow
tam fluxo sangüíneo aumentado quando os sujeitos vêem imagens when the subjects views images of faces, compared with images
de faces, comparadas com imagens de objetos. Em contrapartida, of objects. On the other hand, some authors believe that the
alguns autores acreditam que a representação de faces não se lo- representation of faces is not located specifically in a cortical
caliza em uma área particular do córtex, mas está baseada em um area, but it is based on a distributed and overlapping pattern of
padrão distribuído e entrelaçado de resposta neural. É provável neural response. Neither extreme is likely to be correct when
que nenhum extremo seja correto quando se considera a teoria it is considered the modular and distributed theory. It would
modular e distribuída. Seria pertinente apontar para situações in- be appropriate to point for intermediate positions. It was con-
termediárias. Concluiu-se que a representação de faces ocorre por cluded that the representation of faces occurs through cerebral
meio de regiões cerebrais interconexas que processam as informa- areas interconnected, with serial and parallel processing of the
ções em série e em paralelo. Existe um processamento distribuído information. There is a distributed and overlapping process-
e sobreposto, no qual várias regiões contribuem para a represen- ing, in which several areas contribute to face representation;
tação de face, porém existem regiões cerebrais especializadas, que however there are specialized cerebral areas that respond with
respondem com maior efetividade a imagens da face. larger effectiveness to images of face.

Unitermos: Face. Processamento Mental. Neurociências. Keywords: Face. Mental Processing. Neuroscience.

Citação: Macedo AS, Campos D, Borges G, Gonçalves VMG. O Citation: Macedo AS, Campos D, Borges G, Gonçalves VMG. Does
conceito de sistema neurofuncional aplica-se à percepção de faces? the concept of neurofunctional system apply to face perception?

Trabalho realizado no Departamento de Neurologia da Endereço para Correspondência:


UNICAMP. Guilherme Borges
1. Fisioterapeuta, Mestranda em Ciências Médicas FCM/UNICAMP, Departamento de Neurologia/FCM/UNICAMP
Bolsista CAPES. Cidade Universitária Zeferino Vaz
2. Fisioterapeuta, Doutoranda em Ciências Médicas FCM/UNI- Caixa Postal 6111, 13081-970 Campinas, SP.
CAMP, Bolsista CAPES. E-mail: gefisio@fcm.unicamp.br
3. Neurocirurgião, Livre Docente do Departamento de Neurologia Fone: (19) 3788-7372
FCM/UNICAMP. Fax: (19) 3788-7483
4. Neurologista infantil, Livre Docente do Departamento de Neurolo-
gia e Centro de Investigação em Pediatria, FCM/UNICAMP. Recebido em: 15/05/07
Revisado em: 16/06/07 a 27/09/07
Aceito em: 28/09/07
Conflito de interesses: não

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revisão
INTRODUÇÃO pôs que cada região do córtex cerebral representava
O cérebro humano, o mais requintado dos um órgão mental independente, dedicado a uma só
instrumentos, é capaz de refletir as complexidades função mental complexa. No entanto, o conceito de
do mundo ao nosso redor. No entanto, muitos ques- localização que tem prevalecido é muito mais com-
tionamentos vêm desafiando os neurocientistas1: plexo que o imaginado por Gall4.
Como o cérebro é construído e qual é a natureza As funções fisiológicas elementares tais como,
de sua organização funcional? Como são organiza- sensação cutânea, visão, audição e movimento, estão
dos os processos nervosos, os quais permitem que localizadas em agrupamentos celulares específicos
as informações do mundo exterior sejam recebidas, do córtex. No entanto, os investigadores exprimiram
analisadas e armazenadas? Como são construídos dúvidas sobre a aplicabilidade desse princípio de
os sistemas que programam, regulam e verificam as “localização estreita” aos mecanismos cerebrais de
formas complexas de atividade consciente, dirigidas formas complexas de atividade mental1.
para a realização de metas? Segundo Luria, as funções mentais não po-
Em gerações passadas, a atividade cerebral era dem ser localizadas em zonas estreitas do córtex ou
explicada através de analogia entre o cérebro e uma sé- em agrupamentos celulares isolados, mas devem ser
rie de dispositivos que respondiam passivamente, e cujo organizadas em regiões cerebrais que funcionam em
funcionamento era inteiramente determinado pela ex- conjunto, cada uma desempenhando o seu papel
periência pregressa. Esta teoria sofreu alterações, quan- em um sistema funcional complexo1. Como conse-
do houve evidências de que o comportamento humano qüência desse modo de funcionamento, a lesão de
é de natureza ativa e que age não somente pela expe- uma região cerebral pode acarretar a desintegração
riência pregressa, mas também por planos e desígnios de todo sistema funcional, e dessa maneira o sinto-
que formulam o futuro. Desse modo, o cérebro passou ma ou a perda de uma função específica não nos diz
a ser encarado como um sistema neurofuncional alta- nada sobre a sua localização.
mente complexo, construído de forma peculiar e traba- Semelhante a essa visão, Vygotsky defende
lhando com base em princípios novos1. que uma função específica (linguagem) não está li-
O termo “sistema funcional” foi introduzido gada à atividade de um centro, mas é o produto da
por Anokhin (1935) para ilustrar que as funções cogni- atividade integrada de diversos centros, relacionados
tivas do cérebro como atenção, memória, percepção, hierarquicamente entre si5. Dessa forma, o funciona-
linguagem, praxia e intelecto não eram “faculdades mento normal desse sistema não está garantido ape-
mentais” indivisíveis e localizáveis em áreas circuns- nas pelo conjunto de todas as áreas especializadas,
critas do cérebro como queriam os frenologistas, mas mas por um único sistema de centros, que participa
sistemas funcionais com uma estrutura psicológica na formação de qualquer aspecto parcial da função
complexa, requerendo para o seu funcionamento a em questão (sensorial e motor).
cooperação de diferentes regiões cerebrais2. De acordo com essa nova visão, regiões distintas
Atualmente os neurocientistas têm questionado e localizadas do cérebro não são as responsáveis pelas
se o cérebro processa e representa as informações de faculdades mentais complexas, mas sim, realizam ope-
modo modular ou distribuído. De acordo com a teoria rações elementares. As faculdades mais elaboradas se
modular, o cérebro é organizado em subcomponentes tornam possíveis pelas conexões em série e em paralelo
ou módulos, cada um dedicado a processar e repre- de diversas regiões cerebrais. Como resultado, a lesão
sentar um tipo específico de informação. Em contras- de uma só área pode não causar o desaparecimento
te, a teoria distribuída argumenta que qualquer tipo de toda uma faculdade. Mesmo quando a função de-
de informação é processada por várias partes distintas saparece no início, ela poderá, com o passar do tempo,
do cérebro. Sendo assim, uma região cerebral pode retornar parcialmente, porque as partes não lesadas do
representar muitas classes de informação3. cérebro podem até certo ponto, se reorganizar para de-
Considerando os conceitos de “sistema neuro- sempenhar a função que foi perdida4.
funcional complexo” serão discutidas as principais con- Outro tema questionado refere-se à idéia de
trovérsias quanto à representação cerebral de faces. que existe uma linha final ou limite no cérebro, onde a
ordem de chegada se iguala a ordem de representação
Teoria Modular versus Teoria Distribuída da experiência e passamos a ser conscientes. Dennett
No final do século XVIII, Franz Joseph Gall afirmou que não existe no cérebro um ponto onde to-
introduziu a idéia de localização de função e pro- das as informações convergem. Sendo assim, a idéia

317 Rev Neurocienc 2008;16/4:316-321


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do “materialismo cartesiano” foi refutada, prevalecen- Sabe-se que a área cortical da face no giro fu-
do os conceitos do “modelo de esboços múltiplos”6. siforme é ativada mais intensamente por imagens de
De acordo com este modelo, as funções supe- faces do que outras classes de objetos16. Os neurônios
riores são processadas no cérebro de forma paralela, seletivos à face respondem de duas a vinte vezes mais
através de múltiplos processos de interpretação e ela- para faces do que para uma variedade de objetos17.
boração dos impulsos sensoriais. Acredita-se que, du- Evidências para especialização de função têm sido
rante um estímulo visual, várias decisões e julgamento descritas13,18-22.
são feitos, envolvendo muitas partes do cérebro, sendo Há uma região do córtex occipito-temporal
cada uma responsável por discriminar uma caracte- lateral (no córtex extra-estriado) que responde pre-
rística do estímulo: forma, cor e movimento6. ferencialmente a imagens do corpo humano, e uma
Apesar dos avanços no entendimento do fun- região perto da junção occipito-temporal (área fusi-
cionamento cerebral, estudos sobre as áreas do cé- forme da face), que responde seletivamente a faces23.
rebro humano envolvidas na percepção de face e Há também uma região chamada de “área fusifor-
outras partes do corpo mostram que ainda existem me do corpo”, a qual é adjacente e sobreposta à área
muitas controvérsias quanto à representação mo- fusiforme de faces e responde mais intensamente a
dular e distribuída3. O cérebro humano seria como corpos sem cabeça do que objetos, mas igualmente a
um canivete suíço, que contém vários componentes, corpos sem cabeça e faces24. Estes achados sugerem
cada um adaptado para resolver uma única tarefa? um padrão sobreposto de respostas do giro fusifor-
Ou ao invés disso, há um tipo de inteligência mais me, em vez de uma segregação espacial de respostas
abrangente, preparada para lidar com uma gama de para faces e corpos16.
problemas, sem ser otimizado por nenhuma delas em Além da área fusiforme da face outras áreas
particular7? O trajeto visual ventral contém regiões corticais, o sulco temporal superior, o giro occipital
corticais que estão seletivamente envolvidas no pro- médio e inferior, foram seletivamente ativas para fa-
cessamento de uma única classe de estímulo visual8, ces15,25-28. Em alguns estudos, essas áreas parecem ser
ou em vez disso, todas as regiões ventrais estão envol- menos ativadas25 ou demonstram uma resposta mais
vidas em uma representação sobreposta e de várias fraca28 em relação à área fusiforme da face.
classificações de estímulo de múltiplas classes9? As lesões na área fusiforme da face estão as-
A percepção de faces é uma das mais desenvolvi- sociadas com prosopagnosia. Tal fato fundamenta
das percepções visuais dos humanos, e durante a vida a a existência de módulos neurais especializados para
maioria das pessoas gastam mais tempo observando fa- percepção de faces no córtex extra estriado25. A
ces do que qualquer outro tipo de objeto10. Uma função prosopagnosia é um déficit neurológico caracteriza-
fundamental do processamento de face é identificar o do pela inabilidade de reconhecer faces, embora a
indivíduo. Talvez seja necessária uma região especial função intelectual e o processamento visual estejam
para a percepção de faces, pois trata-se de um estímulo intactos. Estudos recentes relatam casos onde a pro-
que requer discriminação entre milhares de outras fa- sopagnosia ocorre com pouco ou nenhum compro-
ces, todas contendo a mesma estrutura básica7. metimento no reconhecimento visual de outros tipos
A mensagem transmitida pela face contém de estímulos29,30. No entanto, a prosopagnosia tam-
muitas características, sendo que o reconhecimento bém pode ocorrer em combinação com outros défi-
de cada característica pode ser prejudicado de modo cits de reconhecimento visual, tal como inabilidade
isolado ou em combinação com outras11. O meca- para reconhecer objetos e/ou palavras, dependendo
nismo de percepção de faces não é um processo es- da extensão da lesão cortical31.
pecífico para partes, mas sim um domínio específico Acredita-se que as “células da face” sejam
relacionado ao estímulo da face12. sintonizadas para atributos faciais específicos como
Acredita-se que esses neurônios categoria-es- identidade, expressão, ponto de vista ou partes de
pecíficos estejam agrupados no córtex para facilitar uma face3. Neurônios seletivos à face foram encon-
a interação entre eles7. Nesse sentido, as investiga- trados no córtex órbito-frontal, os quais respondem
ções científicas utilizando ressonância magnética a gestos e movimentos faciais32. Lesões restritas a
funcional têm revelado que macacos e humanos essa região provocam prejuízos na identificação da
apresentam regiões corticais com fluxo sangüíneo expressão facial33. Alguns autores afirmam que a
aumentado quando os sujeitos vêem imagens de fa- região lateral do giro fusiforme está mais envolvida
ces, comparadas com imagens de objetos13-15. na representação da identificação da face, enquanto

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que a região do sulco temporal inferior e amígda- cação, outros sistemas atuam para recuperar o nome
la são responsáveis pela expressão facial10. Porém, e a informação pessoal associada com a face.
o giro fusiforme mostrou maior ativação ao julgar Coincidindo elementos desse modelo cogniti-
expressões faciais, mesmo quando a atenção era di- vo, a percepção de faces um modelo de sistema neu-
recionada para identificação34-36. ral distribuído, o qual consiste de regiões múltiplas e
Tais relatos levantam a possibilidade de existir bilateral10,19. O modelo era dividido em um sistema
um módulo cerebral dedicado ao processamento facial. central, constituído por três regiões do córtex visual
Cabe destacar, entretanto, que essas regiões especializa- estriado occipito-temporal, e um sistema estendido,
das podem ser raras no córtex. Um estudo recente que formado por regiões que também fazem parte do sis-
testou a seletividade cortical para 20 categorias distintas tema neural de outras funções cognitivas. Acredita-se
de objetos não detectou novas regiões7. que as interações entre o sistema central e as regiões
Embora a representação de faces e objetos do sistema estendido medeiam o processamento do
ocorra em regiões citoarquitetônicas diferentes, exis- movimento da boca durante a fala, expressões faciais
tem apenas 20% de neurônios seletivos a face37. En- e identidade. Este modelo propõe que a percepção
tão, se uma região específica mostra resposta seletiva de face depende da participação coordenada de múl-
a uma categoria de objeto, como a face, isso não sig- tiplas regiões. No entanto, essas regiões podem par-
nifica que todos os neurônios da região são seletivos ticipar de outras funções que interagem com outros
a face, somente a maioria desses neurônios mostra sistemas, como sistemas que medeiam a mudança da
essa preferência38. Portanto, nenhuma região está ex- atenção espacial ou medeiam a compreensão verbal-
clusivamente relacionada à percepção de faces37. auditiva. Sendo assim, os aspectos da percepção de
A seletividade para faces e objetos não de- faces são cognitivamente independentes e podem ser
monstra, por si só, que a representação neural asso- dissociados anatomicamente.
ciada à percepção de faces ou objetos é específica a Colaborando com esses achados, outra evidên-
uma área visual. Isto porque a resposta neural para cia em favor de representações distribuídas no cérebro
face não está restrita as áreas seletivas a face e a res- através da medição da atividade da região do córtex
posta a um objeto não está restrita as áreas seletivas temporal ventral, enquanto os sujeitos viam oito ca-
ao objeto39. Seguindo essa linha, a resposta de repre- tegorias diferentes de estímulos (faces, gatos, casas,
sentação de face é maior na região seletiva a obje- cadeiras, tesouras, sapatos, garrafas e imagens sem
tos, associada ao giro para-hipocampal e complexo sentido)9. Verificou-se que cada categoria de estímu-
occipital lateral do que na região seletiva a faces, no lo evocou um padrão único de atividade distribuída.
sulco temporal superior39. Então, concluiu-se que a Essas descobertas ilustram a representação distribuída
representação de faces não se localiza em uma área por duas razões: primeiro porque o padrão de ativida-
particular do córtex visual, mas está baseada em um de forneceu informação sobre a categoria do estímu-
padrão distribuído e entrelaçado de resposta neural lo, mesmo quando as áreas cerebrais mais responsivas
através de uma larga rede no córtex visual. não eram consideradas; e segundo, porque as áreas
Dados comportamentais e neuroanatômicos maximamente responsivas a uma categoria de estímu-
argumentam que o processamento da face ocorre lo apresentavam também informação sobre estímulos
de maneira distribuída10. Semelhante pensamento pertencentes a outras categorias.
já tinha sido apresentado39. Os autores sugeriram o Esses achados indicam que existem represen-
modelo de um sistema cognitivo para a percepção de tações distribuídas e superpostos de faces e objetos no
faces, o qual tinha organização hierárquica e ramifi- córtex temporal ventral. Portanto, a “área fusiforme da
cada. De acordo com esse modelo, um dos estágios face” não é responsável apenas pela representação de
primordiais do processamento envolvia uma codifi- faces, mas também participa da representação de ou-
cação estrutural da face que era visão dependente tros objetos. Nesse sentido, a prosopagnosia pode ser
(condição do observador – ângulo do perfil e luz do causada por lesão de uma região temporal ventral que
local; configuração facial – expressão e posição da responde maximamente a essa categoria de estímulo.
boca). A representação facial produzida por essa co- Diante do exposto surgem as seguintes questões:
dificação era processada mais adiante por sistemas se a informação visual é distribuída, como poderíamos
separados, distinguindo a identificação pessoal, da interpretar o fato de haver regiões cerebrais com ati-
expressão facial e dos movimentos da boca durante vação máxima a uma categoria de estímulo? Se certas
a fala. Sendo assim, uma vez estabelecida a identifi- categorias de estímulos são processadas por módulos

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específicos, como podemos explicar os padrões de ativi- lelo. Cada área do cérebro é responsável por uma
dade distribuídos, mas categoria-específicos? função específica, mas diferentes áreas participam
É provável que nenhum extremo seja correto da mesma função em diferentes níveis hierárquicos.
quando se considera a teoria modular e distribuída. Ou seja, existe um processamento distribuído e so-
Sendo assim, noções simplificadas da modularidade breposto, no qual várias regiões contribuem para a
devem ser evitadas, pois resultariam numa forma de representação de face, porém existem regiões cere-
“neofrenologia”, que falha em respeitar a verdadeira brais especializadas, que respondem com maior efe-
complexidade do cérebro. Por outro lado, as formas tividade a imagens da face.
irredutíveis de representações distribuídas também
devem ser evitadas, visto que não podem ser analisa-
das em termos de princípios fundamentais. Seria per- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tinente apontar para situações intermediárias entre as 1. Luria AR. Fundamentos de Neuropsicologia. São Paulo: USP,
1981, 346p.
formas de representação modular e distribuída3. 2. Damasceno BP, Guerreiro MM. Desenvolvimento neuropsíquico:
Seguindo essa linha de pensamento, o giro fu- suas raízes biológicas e sociais. Cadernos CEDES 2000;24:10-6.
3. Cohen JD, Tong F. The face of controversy. Science 2001;293:2405-7.
siforme-lingual apresenta uma função crítica no reco- 4. Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Fundamentos da Neurociên-
nhecimento de faces40. No entanto, essa mesma área cia e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara, 2000, 591p.
também pode participar de outras funções visuais com- 5. Vygotsky LS. Teoria e método em psicologia. São Paulo: Martins
Fontes, 1996, 524p.
plexas, como percepção de cor. Portanto, embora o 6. Dennet DC. Consciousness explained. London: Penguin Books,
reconhecimento de face seja realizado de forma mais 1991, 511p.
eficiente no giro fusiforme-lingual, esse processo pode 7. Kanwisher N. What´s in a face? Science 2006;311:617-8.
8. Allison T, McCarthy G, Nobre A, Belger A. Human extrastriate
ocorrer, ainda que de maneira menos eficiente, em ou- cortex and the perception of faces, words, numbers, and colors. Cereb
tras regiões do córtex visual. De acordo com esse me- Cortex 1994;4:544-54.
9. Haxby JV, Gobbini MI, Furey ML, Ishai A, Schouten JL, Pietrini
canismo de funcionamento existe um processamento P. Distributed and overlapping representations of faces and objects in
distribuído, mas com especializações regionais. ventral temporal cortex. Science 2001;293:2425-30.
10. Haxby JV, Hoffman E, Gobbini MI. The distributed human neural
system for face perception. Science 2000;l4(6):223-33.
CONCLUSÃO 11. Krolac-Salmon P, Henaff MA, Bertrand O, Mauguiere F, Vighetto
Todo ato mental (percepção de um objeto, re- A. Part I: Face recognition. Rev Neurol (Paris) 2006;11:1037-46.
solução de um problema) é levado a cabo por um “sis- 12. Yovel G, Kanwisher N. Face perception: Domain specific, not pro-
cess specific. Neuron 2004;44:889-98.
tema funcional complexo” também concebido como 13. Grill-Spector K, Knouf N, Kanwisher N. The fusiforme face area
“rede neurofuncional”, “representação distribuída subserves face perception, not generic within-category identification.
Nat Neurosci 2004;7(5):555-62.
em paralelo e em série” e como “modelo de esboços 14. Tsao DY, Freiwald WA, Tootell RBH, Livingstone MS. A cortical re-
múltiplos”, que se constitui de um conjunto dinâmico gion consisting entirely of face-selective cells. Science 2006;311:670-4.
e interconexo de componentes psicológicos (volitivos, 15. Steeves JKE, Culham JC, Duchaine BC, Pratesi CC, Valyear KF,
Schindler I, et al. The fusiforme face area is not sufficient for face recog-
afetivos, cognitivos) e de regiões cerebrais, cada uma nition: evidence from a patient with dense prosopagnosia and no occipi-
delas contribuindo com operações básicas para o fun- tal face area. Neuropsychol 2006;44:594-609.
cionamento do sistema ou ato como um todo. 16. Schwarzlose R, Baker C, Kanwisher N. Separate face and body se-
lectivity on the fusiform gyrus. J Neurosci 2005;25(47):11055-9.
De acordo com este conceito, apenas certas 17. Rolls ET, Milward T. A model of invariant object recognition in the
operações ou mecanismos básicos podem ser loca- visual system: learning rules, activation functions, lateral inhibition and in-
formation-based performance measures. Neural Comp 2000;12:2547-72.
lizados em determinadas regiões cerebrais, não as 18. Grill-Spector K, Malach R. The human visual cortex. Annu Rev
próprias funções psíquicas superiores; e apenas os Neurosci 2004;27:649-77.
objetivos ou resultados finais da atividade perma- 19. Haxby JV, Hoffman EA, Gobbini ML. Human neural systems for face
recognition and social communication. Biol Psychiatry 2002;51:59-67.
necem constantes, devendo variar seus mecanismos 20. O’ Toole AJ, Jiang F, Abdi H, Haxby JV. Partially distributed re-
ou operações básicas na medida em que mudam as presentations of objects and faces in ventral temporal cortex. J Cogn
condições em que se realizam. Neurosci 2005;17:580-90.
21. Spiridon M, Fischl B, Kanwisher N. Location and spatial profile of
A abordagem do sistema nervoso nas funções category-specific regions in human extrastriate cortex. Hum Brain Map
psíquicas superiores deve ser ao mesmo tempo, loca- 2006;27:77-89.
22. Spiridon M, Kanwisher N. How distributed is visual category in-
lizada e distribuída, conduzindo para uma máxima formation in human occipito-temporal cortex? An fMRI study. Neuron
adaptabilidade ao ambiente e as circunstâncias. Nes- 2002;35:1157-65.
se sentido, conclui-se que a representação de faces 23. Downing PE, Jiang Y, Shuman M, Kanwisher N. A cortical area selecti-
ve for visual processing of the human body. Science 2001;293:2470-3.
ocorre por meio de regiões cerebrais interconexas 24. Peelen MV, Downing PE. Selectivity for the human body in the fu-
que processam as informações em série e em para- siform gyrus. J Neurophysiol 2005;93:603-8.

Rev Neurocienc 2008;16/4: 316-321 320


revisão
25. Kanwisher N, Mcdermontt J, Chun M. The fusiform face area: A 33. Hornak J, Bramham J, Rolls ET, Morris RG, O’Doherty J, Bullock
module in human extrastriate cortex specialized for face perception. J PR, et al. Changes in emotion after circumscribed surgical lesions of the
Neuroscienc 1997;17:4302-11. orbitofrontal and cingulated cortices. Brain 2003;126:1691-712.
26. Halgren E, Dale AM, Sereno MI, Tootell RBH, Marinkovic K, Ro- 34. Pessoa L, Mckenna M, Gutierrez E, Ungerleider L. Neural proces-
sen BR. Location of human face-selective cortex with respect to retino- sing of emotional faces requires attention. PNAS 2002;99:11458-63.
topic areas. Hum Brain Map 1999;7:29-37. 35. Vuilleumier P, Armony JL, Driver J, Dolan RJ. Distinct spatial fre-
27. Haxby JV, Ungerleider LG, Clark VP, Schouten JL, Hoffman EA, quency sensitivities for processing faces and emotional expressions. Nat
Martin A. The effect of face inversion on activity in human neural syste- Neuroscienc 2003;6:24-631.
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28. Gauthier I, Tarr MJ, Moylan J, Skudlarski P, Gore JC, Anderson volvement of the “fusiform face area” in processing facial expression.
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at the individual level. J Cog Neuroscienc 2000;12(3):495-504. 37. Rolls ET. The representation of information about faces in the tem-
29. Nunn JA, Postma P, Pearson R. Developmental prosopagnosia: poral and frontal lobes. Neuropsychol 2007;45:124-43.
should it be taken at face value? Neurocase 2001;7:15-27. 38. Andrew TJ. Visual cortex: How are faces and objects represented?
30. Duchaine BC, Nakayama K. Dissociations of face and object recogni- Curr Biol 2005;15(12):451-3.
tion in developmental prosopagnosic. J Cog Neuroscienc 2005;17:249-61. 39. Andrew TJ, Schluppeck D. Neural responses to Mooney images a
31. Damasio AR, Damasio H, van Hoesen GW. Prosopagnosia: anato- modular representation of faces in human visual cortex. NeuroImage
mic basis and behavioral mechanisms. Neurology 1982;32:331-41. 2004;21:91-8.
32. Rolls ET, Critchley HD, Browning AS, Inoue K. Face selective and 40. Mesulam MM. From sensation to cognition. Ann Neurol
auditory neurons in the primate orbitofrontal cortex. Exp Brain Res 1990;28:597-613.
2006;170:74-87.

321 Rev Neurocienc 2008;16/4:316-321


relato de caso

Síndrome da Cabeça Caída na Esclerose


Lateral Amiotrófica: Relato de Caso
Dropped head syndrome in Amyotrophic Lateral Sclerosis: Case Report

Marco Orsini1, Mariana P Mello2, Fernando Cardoso3, Osvaldo JM


Nascimento4, Gabriel R de Freitas5, Marcos RG de Freitas6

RESUMO SUMMARY
A síndrome da cabeça caída (SCC) é uma condição relativa- The dropped head syndrome (DHS) is a rare situation caused
mente rara decorrente de um quadro de fraqueza nos músculos by weakness of the neck extensor muscles, and it has been
extensores do pescoço, sendo encontrada em diversas doenças observed in many neuromuscular disorders including amyo-
neuromusculares, como a esclerose lateral amiotrófica (ELA). trophic lateral sclerosis (ALS). We report an ALS patient that
Relatamos o caso de uma paciente com ELA que evoluiu para presented with DHS after 4 years from the beginning of the
SCC após aproximadamente 4 anos de doença. O exame de disease. The electromyography showed active and chronic de-
eletroneuromiografia mostrou desnervação ativa e crônica da nervation in bulbar muscles and cervical, thoracic and lum-
musculatura bulbar e dos segmentos cervicais, torácicos e lom- bosacral segments. The use of orthopedic brace for cervical
bo-sacros. O uso de colar cervical para estabilização da colu- stability was extremely useful in this case. Although the DHS is
na foi eficaz neste caso. Apesar da SCC não ser uma situação not commonly seen in ELA, we believe that patients with DHS
relativamente freqüente na ELA, ressaltamos a necessidade de should be investigated for ELA.
investigação do diagnostico de ELA em pacientes com SCC.

Unitermos: Esclerose Amiotrófica Lateral. Doenças Keywords: Amyotrophic Lateral Sclerosis.


Neuromusculares. Eletromiografia. Neuromuscular Diseases. Electromyography.

Citação: Orsini M, Mello MP, Cardoso F, Nascimento OJM, Citation: Orsini M, Mello MP, Cardoso F, Nascimento OJM,
Freitas GR, Marcos Freitas MRG. Síndrome da Cabeça Caída Freitas GR, Marcos Freitas MRG. Dropped head syndrome in
na Esclerose Lateral Amiotrófica: Relato de Caso. Amyotrophic Lateral Sclerosis: Case Report.

Trabalho realizado no Serviço de Neurologia (Setor de Doenças Endereço para Correspondência:


Neuromusculares) da Universidade Federal Fluminense Marco Orsini
– UFF (Hospital Universitário Antônio Pedro – HUAP). R. Prof. Miguel Couto 322/1001
1. Fisioterapeuta, Professor Titular de Reabilitação Neurológica, 24230-240 Niterói, RJ
ESEHA (Faculdades Pestalozzi) e Doutorando em Neurociências na E-mail: orsinineuro@yahoo.com.br
Universidade Federal Fluminense, UFF.
2. Estagiária do Serviço de Reabilitação Neurológica, UNIFESO.
3. Médico Residente do Serviço de Neurologia (Setor de Doenças
Neuromusculares) da UFF.
4. Professor Titular de Neurologia e Coordenador da Pós-Graduação Recebido em: 05/05/07
em Neurociências da UFF. Revisado em: 06/05/07 a 31/07/07
5. Neurologista do Setor de Doenças Cerebro-Vasculares da UFF. Aceito em: 01/08/07
6. Professor Titular e Chefe do Serviço de Neurologia da UFF. Conflito de interesses: não

Rev Neurocienc 2008;16/4: 322-325 322


relato de caso
INTRODUÇÃO lares dos membros superiores e inferiores também
A síndrome da cabeça caída (SCC) é carac- se apresentaram bastante comprometidos (Quadro
terizada pela fraqueza dos músculos extensores do 1), confinando-a cadeira de rodas e provocando um
pescoço, provocando uma incapacidade em manter quadro de dependência funcional completa nas tare-
a cabeça sustentada e levando os indivíduos a apre- fas diárias, segundo o Índice de Barthel9 (Quadro 2).
sentarem o típico aspecto da cabeça flexionada com Na Figura 1 podemos observar a SCC, caracteriza-
o queixo em contato direto com a região torácica, da por flexão do pescoço e contato direto do queixo
dificultando-os na realização de atividades básicas com a região anterior do tórax. Os reflexos tendino-
e instrumentais da vida diária1,2. Diversas etiologias sos encontravam-se abolidos, com presença do sinal
podem se apresentar com a SCC como, por exem- de Babinski e Hoffman bilateralmente. Após avalia-
plo, miopatias, doenças da junção neuromuscular, ção da paciente pela equipe multidisciplinar foi suge-
neuropatias periféricas, doenças do sistema nervo- rida a utilização de um colar cervical para proteção
so central e doenças metabólicas2-5. A presença e os e estabilização da região cervical (Figura 2), a qual
danos provocados pela SCC são raramente descri- mostrou-se eficaz. A equipe de reabilitação observou
tos em pacientes com doença do neurônio motor4,6. uma melhora significativa nas relações interpessoais
Apesar do mecanismo fisiopatológico da SCC na da paciente com os familiares e profissionais, após a
esclerose lateral amiotrófica (ELA) não estar total- colocação do colar cervical.
mente esclarecido, acredita-se que seja decorrente
do comprometimento do corpo do neurônio motor DISCUSSÃO
localizado na ponta anterior da medula destinado A fraqueza dos músculos extensores do pes-
à inervação da musculatura paraespinhal2. Neste coço, com ou sem envolvimento dos músculos fle-
trabalho descrevemos o caso de uma paciente que xores, levando ao desenvolvimento da SCC, pode
após aproximadamente 4 anos de início da doença ser causada por um processo miogênico ou neuro-
apresentou a SCC e, consequentemente, inúmeras gênico, e tem sido observada na miastenia gravis, na
limitações no que diz respeito à interação social e polimiosite e dermatomiosite, nas distrofias muscu-
habilidades funcionais. lares progressivas, na atrofia muscular espinhal e no
hipotireoidismo5,10-14. Existem ainda casos de SCC
RELATO DE CASO na miopatia isolada dos músculos extensores da ca-
MAB, sexo feminino, 38 anos, com diagnósti- beça6. Dentre as causas de SCC, as DNM são pouco
co de ELA desde abril de 2002, segundo os critérios relatadas na literatura. Gourie-Devi et al.4 estudaram
do El Scorial7, passou a ter dificuldade em sustentar uma série de 683 pacientes com ELA dos quais ape-
a cabeça após 4 anos de início da doença. O exame nas 9 (1,3%) apresentaram a SCC, demonstrando a
neurológico evidenciou anartria, fasciculações em raridade desta manifestação nestes indivíduos.
língua e membros, e paresia bilateral da elevação Os sintomas iniciais da ELA geralmente loca-
palatal. A força muscular, segundo o Medical Research lizam-se nos músculos dos membros e/ou bulbares.
Council (MRC)8 foi pontuada com grau 1 nos mús- A fraqueza dos músculos do tronco e pescoço é ob-
culos extensores cervicais. Os grupamentos muscu- servada como o primeiro sintoma em apenas 2% dos
Quadro 1. Graduação da força muscular nos miótomos correspon- Quadro 2. Índice de Barthel (0 = dependência completa das habilida-
dentes aos segmentos medulares (Medical Research Council – MRC). des funcionais).
Miótomos Esquerdo Direito Pontuação Máxima Pontuação
Atividades Relacionadas
C5 – Bíceps Braquial 1 1 (Atividade) Obtida
C6 – Extensor Radial do Carpo 1 0 Alimentação 10 0
C7 – Tríceps Braquial 2 1 Banho 5 0
C8 – Flexores dos Dedos 1 1 Higiene Pessoal 5 0
T1 – Interósseos Dorsais e Palmares 0 0 Vestimenta 10 0
L2 – Iliopsoas 2 1 Controle do Intestino 10 5
L3 – Quadríceps Femoral 2 2 Controle da Bexiga 10 5
L4 – Tibial Anterior 1 1 Transferências no Banheiro 10 0
L5 – Extensor Longo do Hálux 0 0 Transferências (Cadeira-Cama) 15 0
S1 – Flexores Plantares 2 2 Deambulação 15 0
Músculos Extensores do Pescoço 1 1 Subir Escadas 10 0

323 Rev Neurocienc 2008;16/4:322-325


relato de caso

Figura 1. Cabeça flexionada de encontro ao tórax característica da


Síndrome da Cabeça Caída observada em uma paciente com Esclerose
Lateral Amiotrófica.

Figura 2. Utilização de colar cervical para estabilização e proteção da


região cervical na Síndrome da Cabeça Caída em paciente com Escle-
casos de ELA15. O acometimento dos músculos fle- rose Lateral Amiotrófica.
xores do pescoço no decorrer da doença é freqüente,
entretanto a ocorrência de paresia extensora com a
queda da cabeça é incomum4. A SCC é uma ma- tado em nosso relato. A disfagia, atribuída ao envol-
nifestação relativamente precoce na maioria dos ca- vimento dos músculos bulbares, pode ser agravada
sos de ELA, com média de início entre 3 a 24 meses pela SCC, podendo nesses casos ser minimizada por
após o diagnóstico. A ocorrência tardia (entre 3 e 8 mecanismos de suporte da cabeça4. Em alguns casos
anos após o diagnóstico), como a apresentada por pode haver insuficiência respiratória por diminuição
nossa paciente, é menos freqüente4. do controle das vias aéreas superiores18. Além destes
Os exames complementares necessários para fatores, o constrangimento social necessita de aten-
a investigação da SCC estão relacionados à etiolo- ção especial no cuidado com estes pacientes, e pode
gia pesquisada. A eletroneuromiografia (ENMG) é ser corrigido através do uso de um colar cervical,
um dos principais exames complementares por di- como foi possível observar em nosso caso4. Alonga-
recionar a investigação entre as doenças neurogêni- mentos, técnicas de relaxamento e exercícios cervi-
cas, miogênicas e da junção neuromuscular. Na ELA cais específicos podem ser realizados pela equipe de
os achados eletroneuromiográficos são compatíveis reabilitação no sentido de atenuar as complicações
com o diagnóstico de DNM, com os músculos ex- secundárias da SCC2,16,19.
tensores e flexores do pescoço apresentando sinais
de desnervação ativa e crônica. Os estudos de ima- CONCLUSÃO
gem por tomografia computadorizada e ressonância Embora não sendo comum na ELA, a SCC
magnética da musculatura paraespinhal na miopatia pode ocorrer precoce ou tardiamente nessa doença.
cervical extensora isolada e na miastenia gravis mos- Pacientes com SCC sem diagnóstico definido deve-
tram atrofia e alterações semelhantes a edema com riam ser investigados para o possível diagnostico de
substituição do tecido muscular por tecido adiposo2. ELA. Medidas que visam a prevenção da instalação
Em um caso associado a hipotireoidismo observou- de deformidades fixas como, por exemplo, a mobiliza-
se aumento do volume do músculo esplênio da ca- ção passiva da coluna e a utilização de colar cervical,
beça bilateralmente5. Não há estudos de imagem na devem ser realizadas o mais precocemente possível.
literatura da SCC associada a ELA na literatura.
A SCC pode ser extremamente incapacitan-
te, resultando em dificuldades na palavra, dispnéia
e por lesão medular secundária à tração nos casos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Lange DJ, Fetell MR, Lovelace RE, Rowland LP. The floppy head
mais graves16. A paresia significante dos músculos ex- syndrome. Ann Neurol 1986;20:133.
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relato de caso

Influência do sobrepeso no controle


postural em um lactente nascido a termo:
relato de caso
Influence of the overweight in the postural control in a term newborn: case report

Silmara Regina Zutin de Andrade1, Cristina Iwabe2

RESUMO SUMMARY
Introdução. A partir do nascimento, a criança desenvolve um Introduction. Since the birth, the child develops varied
amplo conjunto de habilidades, como o rolar, sentar, engatinhar, abilities like rolling, seating, crawling, walk and run. Extrin-
andar e correr. Fatores extrínsecos como o sobrepeso pode in- sic factors as the overweight can influence during acquiring
fluenciar na aquisição dessas novas habilidades. Objetivo. Ana- of these new abilities. Objective. Analyze the influence of
lisar a influência do sobrepeso no desenvolvimento do controle overweight in the development of the postural control in a
postural em um sujeito a termo. Método. O sujeito foi avaliado term subject. Methods. The subject was evaluated monthly
mensalmente durante quatro meses, nas idades de sete, oito, nove during four months, ages seven, eight, nine and ten month
e dez meses. Durante a avaliação foram observados itens como old. During the evaluation was observed items like sustenta-
sustentação de peso, postura e movimentos antigravitacionais nas tion of weight, antigravitational position and movements in
posturas prono, supino, sentado e em pé, de acordo com escala prone, supine, seated, and stand positions, using the Alberta
da avaliação Alberta Infant Motor Scale. O peso foi mensurado atra- Infant Motor Scale. The weight was measure through reports
vés dos relatórios mensais obtidos pelo pediatra responsável. Re- from responsible pediatric. Results. It was observed that
sultados. observou-se que o sujeito realizou todas as atividades the subject did all the activities adjusted for his age, however
adequadas para sua faixa etária, porém com dificuldade, depois with difficulty, after repeated attends. The weigh was over
de repetidas tentativas. O peso estava acima do normal em todas in all measures. Conclusion. Overweight can be considered
as mensurações obtidas. Conclusão. o sobrepeso pode ser con- one of the factors that influence motor development properly,
siderado um dos fatores pertinentes que influenciam no desenvol- even in subjects without neurological and factors risks.
vimento do controle motor adequado, mesmo em indivíduos sem
distúrbios neurológicos ou fatores de risco prévio.

Unitermos: Sobrepeso. Desenvolvimento Infantil. Keywords: Overweight. Child Development. Scales.


Escalas. Atividade Motora. Motor Activity.

Citação: Andrade SRZ, Iwabe C. Influência do sobrepeso no con- Citation: Andrade SRZ, Iwabe C. Influence of the overweight
trole postural em um lactente nascido a termo: relato de caso. in the postural control in a term newborn: case report.

Trabalho realizado na Universidade. Endereço para Correspondência:


1. Fisioterapeuta da Clinica Qualyvida - Araras; Especialista em Fi- Silmara Regina Zutin de Andrade
sioterapia Neurofuncional Adulto e Infantil pelo Centro Universitário Rua Achiles Bovo 769
Hermínio Ometto, Uniararas. 13607-273 Araras, SP
2. Fisioterapeuta, Especialista em Neurologia Infantil, Doutoranda em Fone: (19) 35416768
Ciências Médicas na Unicamp, Docente do Curso de Fisioterapia na E-mail: siekel@ig.com.br
Uniararas, Supervisora estágio em neurologia na UNIP de Campinas.
Recebido em: 14/09/07
Revisado em: 15/09/07 a 03/10/07
Aceito em: 04/10/07
Conflito de interesses: não

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relato de caso
INTRODUÇÃO A escala motora infantil de Alberta (AIMS)
Nos primeiros anos de vida, a criança desen- é uma escala de avaliação observacional, elabora-
volve um imenso repertório de habilidades, como da por Piper e Darrah7 para analisar a maturação
rastejar, andar, correr, coordenação olho/mão e ma- motora ampla em bebês desde o nascimento até a
nipulação de objetos. No entanto para o surgimento locomoção independente, de modo a identificar de-
de todas essas conquistas é necessário o amadure- sempenho motor anormal em relação a um grupo
cimento do controle postural, a fim de sustentar o normativo. É um teste de critério de referência, que
movimento primário1. Esse controle postural é ca- inclui 58 itens, organizados em quatro posições: su-
racterizado pela habilidade de adaptação às tarefas, pino (9 posturas), prona (21 posturas), sentada (12
utilizando informações sensoriais, sobre a posição e posturas) e em pé (16 posturas). Cada item descreve
o movimento do corpo no espaço, e as mutáveis con- três aspectos do desempenho motor: sustentação de
dições da tarefa e do ambiente2. peso, postura e movimentos antigravitacionais. Os
O desenvolvimento motor é um processo com- pontos em cada posição são somados em um escore
plexo, com novos comportamentos e novas habilida- total de itens executados.
des, surgindo da interação entre a criança, sistema Os percentis derivados da amostra normativa
nervoso, músculo-esquelético e o ambiente. Dentre fornecem uma comparação para monitorização da
os principais fatores que interferem nesse processo, maturação motora da criança ao longo do tempo.
pode-se citar a força muscular e as transformações Cada valor do percentil caracteriza a porcentagem
na massa relativa dos diferentes segmentos do corpo; de crianças que apresentam desenvolvimento mo-
sinergias musculares, utilizadas para manter o equi- tor semelhante a um grupo normal da mesma faixa
líbrio; desenvolvimento de sistemas sensoriais indi- etária analisada. Aquelas classificadas abaixo do per-
viduais, como somatossensitivo, visual e vestibular; centil 10–25% sugerem uma maior atenção e acom-
desenvolvimento de estratégias sensoriais para orga- panhamento do desenvolvimento motor8,9.
nizar essas múltiplas informações; desenvolvimento O objetivo deste estudo foi analisar a influência
de representações internas, importantes no mapea- do sobrepeso no controle postural em um lactente a
mento da percepção para a ação; e desenvolvimento termo, através da AIMS, e relatar suas principais etapas
de mecanismos antecipatórios e adaptativos1. motoras, de modo a apresentar um parâmetro norma-
Dentro desse processo de maturidade motora, tivo de desenvolvimento entre 7 a 10 meses de idade.
crianças acima do peso podem apresentar compor-
tamentos sociais e motores dentro do esperado para MÉTODO
a idade, porém realizando as atividades propostas Estudo de caso de um lactente hígido, sexo
com maior dificuldades3. Associado a esse fator, a masculino, 7 meses de idade, nascido a termo, 39
maturidade do cérebro favorece a aquisição de novas semanas de idade gestacional, peso ao nascimento
funções. O recém nascido a termo, apresenta inicial- 3200 Kg e 46 cm de altura, apgar 9/10 no 1o e 5o mi-
mente uma postura em flexão derivada da atitude nuto respectivamente, sem intercorrências pré, peri e
intra-uterina assumida no período pré-natal4. No re- pós natais, sem patologias prévias.
cém nascido pré-termo, por não terem completado O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
o seu desenvolvimento intra-uterino, apresenta ima- em pesquisa e mérito científico do Centro Univer-
turidade funcional e estrutural dos sistemas neuro- sitário Hermínio Ometto – UNIARARAS, com o
lógicos e motores. Desse modo, podem-se observar parecer no 470/2006.
alguns atrasos no desenvolvimento motor desses in- O lactente foi selecionado e avaliado na Clíni-
divíduos. Porém, mesmo no recém nascido a termo, ca de Fisioterapia Qualyvida – Araras, SP, a fim de
se não apresentar estimulação ambiental adequada, analisar o desenvolvimento do controle postural atra-
poderá apresentar pequenos atrasos motores, com- vés da Escala Motora Infantil de Alberta (AIMS). Ini-
parado àquele que recebe estimulações diárias5,6. cialmente o responsável pelo sujeito foi previamente
Tabela 1. Pontuação total nas posturas prono, supino, sentado e em pé.
Idade Prono Supino Sentado Em pé Pontos totais
7 meses 08 pontos 06 pontos 10 pontos 04 pontos 28 pontos
8 meses 10 pontos 09 pontos 11 pontos 05 pontos 35 pontos
9 meses 11 pontos 09 pontos 12 pontos 06 pontos 38 pontos
10 meses 17 pontos 09 pontos 12 pontos 07 pontos 45 pontos

327 Rev Neurocienc 2008;16/4:326-330


relato de caso
Tabela 2. Classificação do percentil na curva de desenvolvimento. cotovelos e alcance de objetos na postura em prono,
Idade Percentil e a postura em pé com apoio dos membros superio-
7 meses 25–50 res. Aos 8 meses realizava apoio de mãos em prono
8 meses 50 e rastejar recíproco com rotação de tronco. Tais ca-
9 meses 25–50 racterísticas, são posturas típicas de crianças com 7
10 meses 25–50 e 8 meses de idade, sendo possível rastejar-se, passar
para a posição de gato, e até engatinhar10.
Entre 6 e 7 meses de idade verifica-se um apri-
informado sobre o objetivo da pesquisa, através do
moramento no controle postural, através da sua capa-
termo de consentimento livre e esclarecido, autori-
cidade de sentar-se por breves períodos com apoio dos
zando a realização da mesma. Após o consentimen-
braços11. Após dois meses, entre 8 e 9 meses, o lactente
to, foi analisado o desenvolvimento motor, através da
adquire a habilidade para sentar sem apoio, melho-
AIMS, nas posturas de supino, prono, sentado e em
rando seu controle motor, controlando suficientemen-
pé, analisando em cada item 3 fatores: sustentação
te a inclinação espontânea para permanecer ereto12.
de peso, postura e movimentos antigravitacionais. A
Tal evolução foi observada no sujeito analisado, de-
graduação em cada postura foi classificada em Ob-
monstrando equivalência com a literatura.
servadas (1 ponto) e Não Observadas (0 ponto).
Mensalmente foram realizadas as reavaliações
(com 7, 8, 9 e 10 meses de idade), 7 a 10 dias após Tabela 3. Principais marcos motores apresentados pelo sujeito.
completar as idades referidas, segundo os mesmos pa- Idade Prono Supino Sentado Em pé
râmetros citados anteriormente, totalizando assim 4 7 meses Apoio de Mãos na li- Sentado Assumiu
avaliações. Após cada avaliação, os valores totais das cotovelos; nha média; sem apoio, a postura
atividades motoras foram dispostos no gráfico idade/ alcance de rolou sem manusean- com auxilio
objetos com dissociação do objetos; dos braços,
valor total para análise do percentil total, sendo a se- flexão lateral de cinturas alcance sem passar
guir realizada a comparação dos resultados entre si. de tronco de objetos para semi-
com ajoelhado
O peso foi coletado de acordo com informa-
rotação de
ções obtidas nas consultas médicas mensais. tronco
8 meses Apoio nas Rolou com Realizou o Assumiu
RESULTADOS mãos com dissociação sentado de a postura
transferência de cinturas lado, não com auxílio
Em relação à pontuação dos itens creditados e lateral de passando dos braços,
na janela de habilidades nas posturas supino, prono, peso; rastejou para quatro sem passar
sentado e em pé, observou-se a seguinte pontuação recíproco com apoios para semi-
rotação de ajoelhado.
total (Tabela 1). tronco Manteve-se
Ao analisar o percentil em cada mês, ob- com trans-
servou-se que o lactente classificou-se na curva de ferência
lateral de
desenvolvimento entre o percentil 25–50, ou seja, peso
apresentou desenvolvimento motor semelhante en- 9 meses Apoio nas Rolou com Sentado Assumiu
tre 25% a 50% da população normativa, exceto na mãos com dissociação sem apoio; a postura
transferência de cinturas movimento passando
avaliação com idade de oito meses, onde o mesmo lateral de livre de para semi-
classificou-se na curva com o percentil 50 (desen- peso; rastejou braços e ajoelhado;
volvimento motor semelhante a 50% da população recíproco com pernas realizou
rotação de rotação de
normativa) (Tabela 2). tronco tronco para
Durante a avaliação motora, observaram-se brincar na
os principais marcos motores, descritos na Tabela 3. postura

Em relação ao peso de acordo com a idade, 10 meses Passou para Rolou com Sentado Assumiu
quatro apoios, dissociação sem apoio; a postura
observou-se que o indivíduo estava com sobrepeso mantendo-se de cinturas, movimento passando
em todas as avaliações (Tabela 4). com lordose passando livre de para semi-
lombar, para prono braços e ajoelhado;
pernas em e sentando pernas realizou
DISCUSSÃO abdução e marcha
No presente estudo, observou-se que aos 7 rotação exter- lateral
na; realizou
meses de idade, o sujeito assumia e mantinha pos- engatinhar
turas características da faixa etária, como apoio de recíproco

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relato de caso
À medida que os lactentes começam a sentar- do na curva de desempenho motor o percentil entre
se sem ajuda, e desenvolvem o controle do tronco, 25–50%; com 8 meses estava 450 gramas abaixo do
eles devem aprender a dominar o controle da incli- peso, sendo que nesta mesma idade o lactente apre-
nação espontânea da cabeça e do tronco para baixo, sentou na curva de desempenho motor o percentil
coordenar a informação sensório-motora de dife- 50%, e com 9 e 10 meses apresentava 1.600 Kg aci-
rentes segmentos simultaneamente, e a responder às ma do peso e voltou a apresentar na curva de desem-
perturbações do equilíbrio. Desse modo, ocorre pro- penho motor o percentil entre 25–50%15.
gressivamente o controle postural de cada segmento O desenvolvimento emerge da interação entre
corporal1,13,14. fatores intrínsecos, como força muscular, peso corpo-
Durante o processo de aprendizagem da po- ral, controle postural, estado emocional do lactente e
sição sentada independente, os lactentes devem desenvolvimento cerebral, e fatores extrínsecos como
aprender a equilibrar com limites significativamente condições ambientais e tarefa14. O desequilíbrio des-
reduzidos de estabilidade, comparados com aqueles ses fatores pode ocasionar atrasos motores durante o
utilizados na posição sentada, além de controlar vá- desenvolvimento, visto nesta casuística que o sobre-
rios graus adicionais de liberdade, à medida que adi- peso pode ter sido um dos fatores que interferiram
cionam a coordenação dos segmentos da perna e da na aquisição do controle postural adequado16.
coxa aos do tronco e da cabeça1. O diagnóstico de normalidade do desenvolvi-
O sujeito analisado aos 9 meses de idade de- mento é altamente complexo, quando se trata de or-
monstrou progresso no seu controle postural, coorde- ganismo em pleno crescimento17. Estudos reforçam
nando as informações sensórias motoras recebidas, a hipótese de que tanto os riscos biológicos, como
apresentando bom equilíbrio diante de perturbações, as condições socioeconômicas e ambientais influen-
movimentando-se livremente com membros inferio- ciam o desenvolvimento pós-natal18. Esse sobrepeso
res, membros superiores e tronco, e manuseando pode ter sido um dos fatores que dificultou o sujeito
objetos nessa posição. Quando colocada sentada, a a realizar algumas atividades como rolar, passar para
criança apresentou equilíbrio e apoiando os braços a posição sentada a partir da postura supino e prono.
para trás, girando sobre si mesmo e, deslizando para Deve-se ressaltar que não houve negligência de aqui-
frente e para trás. sição de posturas, pelo sujeito, mas sim dificuldades
Aos 9 meses de idade, são capazes de sentar em assumir e manter as habilidades posturais, sendo
independentes, apresentando deslocamentos para que após várias tentativas, o mesmo conseguia assu-
frente e para trás com apoio nas mãos e experimen- mi-las. Além disso, o fato do sujeito ser avaliado de 7
tando o deslocamento da gravidade. Dessa forma a 10 dias após completar a idade, e de repetir várias
demonstra movimentos relativamente maduros de vezes o movimento para assumir a postura, tal dificul-
alongamento, mostrando uma ativação antecipada dade motora pode ser atribuído também ao processo
dos músculos posturais, para estabilizar os movimen- de aprendizagem pelo qual o indivíduo geralmente
tos voluntários na posição sentada. Tais estudos con- passa ao aprender novas funções, formando-se assim
firmam o desenvolvimento observado no sujeito10,11. seqüencialmente a nossa memória motora.
Aos 10 meses de idade, o sujeito assumiu ra- A seqüência de aquisição das habilidades moto-
pidamente a postura de quatro apoios, sentado e ras é determinada pelas exigências da tarefa executa-
de pé segurando em objetos. Nessa idade, a criança da e pelas influências ambientais19. Logo, a ocorrência
não permanece mais nas posições dorsal e ventral, dessas seqüências não pode ser atribuída tão somente
virando-se para lateral e sentando. A partir da posi- a fatores genéticos, já que outros fatores também de-
ção sentada, consegue passar para a posição de gato vem ser considerados. Embora o desenvolvimento seja
e vice-versa, até levantar-se segurando em objetos e comum a todas as crianças, a idade para o surgimento
trocar passos com apoio6,12.
Com relação à idade a ao peso da criança,
Tabela 4. Peso do sujeito nas avaliações realizadas e peso ideal.
esta se apresentou com sobrepeso em todas as ava-
IDADE PESO DO SUJEITO PESO IDEAL
liações, dificultando a realização e a aquisição de al-
7 meses 9 Kilos 8 Kilos
gumas habilidades. A criança dos 7 aos 10 meses de
idade ganha um equivalente a 450 gramas a cada 8 meses 8 Kilos 8450 Kilos

mês de peso, sendo que o lactente estudado estava 1 9 meses 10,5 Kilos 8900 Kilos

Kg acima do peso com 7 meses de idade apresentan- 10 meses 11 Kilos 9350 Kilos

329 Rev Neurocienc 2008;16/4:326-330


relato de caso
de novas habilidades varia, pois a evolução é determi- 3. Vieira LF. Implicações psicossociais da obesidade infantil no com-
portamento motor de escolares. Rev Educ Fis – UEM 2005;16:27-35.
nada tanto por fatores genéticos como também am- 4. Goldberg C, Van Sant A. Fisioterapia Pediátrica. 3ª Edição. Porto
bientais20. Não existe um padrão de desenvolvimento Alegre: Artmed, 2002, pp. 13-33.
consistente entre os lactentes nos dois primeiros anos 5. Sheahan MS, Brockway NF, Tecklin JS. In: Tecklin JS. Fisioterapia
Pediátrica. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 70.
de vida21. Para esses autores, o desenvolvimento não 6. Ayache MG, Neto CM. Considerações sobre o desenvolvimento
é um processo linear, pois ao longo das avaliações, os motor do prematuro. Tem Desenvol 2003;12:5-9.
7. Piper MC, Darrah J. Alberta Infant Motor Scale. Philadelphia: WB
lactentes apresentam situações de progressão, manu- Saunders, 1995, 173p.
tenção e regressão na faixa de percentil, quando ava- 8. Tecklin JS. Fisioterapia Pediátrica. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,
liados com a AIMS. Desse modo, o sujeito analisado 2002, 480p.
9. Fetters L, Tronick EZ. Neuromotor development of cocaine expo-
apesar de enquadrar-se entre os percentis 25–50 da sed and control infants from birth through 15 months: poorer perfor-
faixa de desenvolvimento, realizou as atividades cor- mance. Pediatrics 1996;98(5):938-43.
respondentes a sua faixa etária. Provavelmente, sua 10. Flehmig I. Texto e atlas do desenvolvimento normal e seus desvios
no lactente: diagnóstico e tratamento precoce do nascimento até o 18º
dificuldade tenha sido devido ao sobrepeso. Tal fa- mês. São Paulo: Atheneu, 2002, 328p.
tor deve ser analisado posteriormente em um grupo 11. Van Der Fits IBM. Postural adjustments during spontaneous and
goal-directed arm movements in the first half-year of life. Behav Brain
maior de indivíduos a fim de verificar sua influência Res 1999;106:75-90.
no desenvolvimento motor de lactentes. 12. Josué LMA, Rocha R. Obesidade infantil e desenvolvimento motor.
Outro fator a ser considerado é que a faixa UNIFAC Rev 2002;2:55-69.
13. Van Der Fits IBM. The development of postural adjustments during
normativa de indivíduos segundo a escala da AIMS reaching in 6 to 18 months old infants. Exp Brain Res 1999;126:517-
refere-se a crianças canadenses, as quais apresentam 28.
outro tipo de cultura e estímulos ambientais distintos 14. Melo F. Controlo postural: controlo reflexo versus controlo dinâmi-
co. XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física dos países de
das crianças brasileiras. Tal escala deve ser traduzida e língua portuguesa. Rev Bras Educ Fis Esp 2006;20:107-9.
adaptada à cultura brasileira a fim de possuirmos um 15. Campos D, Santos DCC. Controle postural e motricidade apendi-
cular nos primeiros anos de vida. Fisioter Mov 2005;18:71-7.
comparativo normal dentro da nossa população. 16. De Lamare R. A vida do bebê. 40ª Ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1997,
672p.
CONCLUSÃO 17. Goto MMF, Gonçalves VMG, Netto AA, Morcillo AM, Ribeiro
MVLM. Neurodesenvolvimento de lactentes nascidos a termo pequenos
Através da análise da AIMS foi possível obser- para a idade gestacional no segundo mês de vida. Arq Neuropsquiatr
var pequenos atrasos motores no desenvolvimento 2005;63:75-82.
motor do sujeito, mesmo este tendo nascido a ter- 18. Eickmann SH, Lira PIC, Lima MC. Desenvolvimento mental e
motor aos 24 meses de crianças nascidas a termo com baixo peso. Arq
mo, devido provavelmente ao sobrepeso da criança. Neuropsiquiatr 2002;60:748-54.
Porém, mesmo com tais variáveis o desenvolvimento 19. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimento mo-
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seguiu uma seqüência lógica e previsível. 641p.
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Rev Paul Educ Fis 2000;3:06-15. Early Hum Dev 2003;72:97-110.

ABRASPI
Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas

A Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas – ABRASPI, é uma as-


sociação sem fins lucrativos criada para dar suporte a pacientes e promover pesqui-
sa e treinamento sobre a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI). Criada desde 2005,
a ABRASPI tem recebido correspondências de pacientes, familiares e médicos do
Brasil todo e de Portugal, que procuram tirar dúvidas sobre a doença, tratamento e
indicações de médicos.
Fone: (11) 5081–6629.
E-mail: sindromedaspernasinquietas@gmail.com
www.sindromedaspernasinquietas.com.br

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Agradecimento aos Avaliadores

O Corpo Editorial da Revista Neurociências agradece a todos os colegas que altruística e anonimamente colabo-
raram com a avaliação dos artigos submetidos, revisando o conteúdo científico e técnico, durante o ano de 2008.

Abrahão AJ Quadros – UNIFESP, SP Edgard Morya – UNIFESP, SP


Adriana Klein – UNIFESP, SP Egberto R Barbosa – FMUSP, SP
Angela S Macedo – Unicamp, SP Elaine MS Barbosa – UFJF, MG
Alan Eckeli – FM Ribeirão Preto, SP Elias F Porto – INCOR, SP
Alba Fernandes – UFERJ, RJ Enedina Maria Lobato de Oliveira – UNIFESP, SP
Alcindo Rosa – UFMT, MT Enio WA Cacho – UNICAMP, SP
Alice H Masuko – UNIFESP, SP Eurico A Magosso – UNIFESP, SP
Alzira AS Carvalho – USP, SP Evandro PV Felix – UNIFESP, SP
Ana Laura Almeida – UFJF, MG Fabio Jakaitis – UNIBAN, SP
Ana Paula B Gontijo – UGMG, MG Fabíola Rebouças – FMU Santos, SP
Ana Paula R Oliveira – UNIFRAN, SP Fabricio Araújo – Academia Ritmo Zen, MG
Andrea Lotufo – UNIFESP, SP Fatima Capella Giannattasio – UNIFESP, SP
Andrea S Navarro – Uniban, SP Fernando Cesar I Marcucci – UEL Londrina, PR
Antonio Lucio Teixeira Jr – UFMG, MG Fernando Freitas Ganança – UNIBAN, SP
Ariovaldo A Silva – SCMBH, MG Fernando R Carvalho – UNIFESP, SP
Artur Filhou José – UNIFESP, SP Francis Meire Favero – UNIFESP/FIBRA, SP
Beatriz H Kyomoto – UNIFESP, SP Francisco Cardoso – UFMG, MG
Caio Imaizumi – UNIP, SP Franz Jooji Onishi – UNIFESP, SP
Camila Torriani – FMU, SP Geraldo NV Rizzo – Hospital Moinho de Ventos, RS
Carlos AP Viana – ESCSCMV, ES Gilberto Mastrocola Manzano – UNIFESP, SP
Carlos Henrique M Reis – UFF, RJ Gisele Sampaio Silva – UNIFESP, SP
Carlos Rieder – UFF, RJ Giseli Quintanilha – UFF, RJ
Caroline Passaro – UFRJ, RJ Glenda Lacerda – UFF, RJ
Celia H Tengan – UNIFESP, SP Guilherme C Fernandes – UFJF, MG
Cesar N Raffin – UNESP-Botucatu, SP Halina Cidrini – UFRJ, RJ
Clarisse Potasz – UNIFESP, SP Helga Cristina Almeida e Silva – UNIFESP, SP
Clecio de Oliveira Godeiro Jr. – UNIFESP, SP Helio Afonso Ghizoni Teive – UFPR, PR
Cresio Alves – UFBA, BA Helio Teive – UFP, PR
Cristiane A Moran – Uninove, SP Henrique B Ferraz – UNIFESP, SP
Cristiane F Conti – UNIFESP, SP Humberto Correa – UFMG, MG
Cristiane Garcia – UFF, RJ Iscia Teresinha Lopes Cendes – UNICAMP, SP
Cristiane S Gomes – UNICID, SP Ivan Okamoto – UNIFESP, SP
Cristina Iwabe – Uniararas, SP Izilda Malta Torres – UNIFESP, SP
Clynton L Correa – UFVJM, MG Jacqueline MR Silveira Leite – UNILAVRAS, MG
Debora CA Galdino – UNILAVRAS, MG Janine Polese – UFP, RS
Debora A Scerni – UNIFESP, SP Jean C Shimazaki, PR
Debora A Lentini-Oliveira – SPO, SP João Eduardo Coin de Carvalho – UNIP, SP
Denise Campos – Unicamp, SP João Pereira Leite – USP Ribeirão Preto, SP
Denise Castilho C Santos – UNIMEP Piracicaba, SP Joci K Ribeirto – UNIFESP, SP
Deusvenir de Souza Carvalho – UNIFESP, SP Jorge EK Noujaim – Fundador do Centro Pesq HSE, RJ
Douglas Martins Braga – UNIFESP, SP José Eduardo Pompeu – UNIP São Camilo, SP
Ébe dos Santos Monteiro – UNIFESP, SP José Fabio Leopoldino – UFSE, SE
Edmar Zanoteli – UNIFESP, SP José Fausto Morais – UNIFESP, SP

331 Rev Neurocienc 2008;16/4


José Osmar Cardeal – UNIFESP, SP Pablo T Waltrick – FES, SC
José Renato O Leite – UNSP, SP Patricia Driusso – FSCAR, SP
Julia Fernandes Eigenheer – UFF, RJ Paulo Helio Monzillo – SCM, SP
Juliana G Gianneti – UFMG, MG Paulo Hernique Pereira Bertolucci – UNIFESP, SP
Juliana S Valbuza – UNIFESP, SP Paulo T Abe – Unilavras, MG
Julio Guilherme Silva – UFF, RJ Pedro Ribeiro – UFRJ, RJ
Karina Rochitte Poliana Penasso – UniFranca, SP
Katia LFG Alencar – UNIFESP, SP Reginaldo C Silva Filho – INCISA/CIEFATO, SP
Katyana Rocha Mendes da Silva – USF, SP Rita de Cássia dos Reis Moura – UNIFMU, SP
Laiz Helena Castro T Guimarães – UNILAVRAS, MG Roberto Cesar Pereira do Prado – UFC-CE/UFS-SE
Lázaro J Teixeira PM de Balneário Camboriú, SC Rodrigo C Schuster – UPF, RS
Leonardo JV Mello – UFSJDR, MG Rodrigo Rizek Schultz – UNISA, SP
Leticia Moraes de Aquino – HIAE UNIFESP, SP Rodrigo S Gomez, MG
Licia Saadi – UFRJ, RJ Rogerio Beato – UFMG, MG
Liliana Fenili – FSL, SP Rosamaria P Guimarães, MG
Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela – UFMG, MG Rosana C Alves – FMUSP, SP
Lucila Bizari Fernandes do Prado – UNIFESP, SP Rosana Machin Barbosa – Unifesp Santos, SP
Luiz A Nasi HC de Porto Alegre, RS Rubens Baptista Jr – UNICAMP, SP
Luiz Celso Pereira Vilanova – UNIFESP, SP Rubens Gagliardi – Santa Casa, SP
Luiz Eugenio AM Mello – UNIFESP, SP Sandra R Alouche – Unicid, SP
Marcelo M Cruzeiro – UFJF, MG Sandro Luiz de Andrade Matas – UNIBAN, SP
Marcelo Masruha Rodrigues – UNIFESP, SP Sayonara BR Fagundes – HUE de Curitiba, PR
Marcelo T Gonçalves – UFF, RJ Sergio Machado – UFRJ, RJ
Marcia Maiumi Fukujima – UNIFESP, SP Scheyla Nogueira – UES, SC
Marcio M Oliveira – UNIFESP, SP Sheila CO Martins – HC de Porto Alegre, RS
Marco Antonio F Alves – UNIMES UNISANTA, SO Sheila Gemelli de Oliveira – UPF Passo Fundo, RS
Marco Antonio Orsini Neves – UFRJ, RJ Maria Sheila Guimarães – CSSM, SP
Marco T de Mello – UNIFESP, SP Sonia Maria Dozzi Brucki – FMUSP, SP
Marcos Aurelio A Godinho – UESC, SC Sonia Maria CA Silva – HSPE, SP
Marcos RG Freitas – UFRJ, RJ Suzana MF Malheiros – UNIFESP, SP
Margareth Rose Priel – CUSC UNIFESP, SP Suzana CF Valente – UNIFESP, SP
Maria da Graça N Mazzacoratti – UNIFESP, SP Sueli Rizzutti – UNIFESP, SP
Maria José V Varela – UNIFESP, SP Tatiana Sacchelli – Metodista, SP
Maria Ligia Juliano – UNIFESP, SP Tetsadê Camboin – UFSC, SC
Marilia de Morais Rezende – UNIFESP, SP Valeria Santoro Bahia – Hospital Samaritano, SP
Marilise Paraiso – UFJF, MG Vanda MG Gonçalves – UNICAMP, SP
Marina Brito – UNIFESP, SP Vanderci Borges – UNIFESP, SP
Mario Fernando Peres – FMABC, SP Vanessa C Monteiro – AACD UNIFESP, SP
Mauricio Friedrich – UFRS, RS Vanessa Ruotulo Ferreira – UNIFESP, SP
Melina Tanaka – UNIFESP, SP Vera Lucia Israel – UFRJ, RJ
Mirlene Cernach – UNIFESP, SP Victor H Bastos – Instituto Metodista Bennett, RJ
Mirto N Prandini – UNIFESP, SP Vidigal A Gasparini – FIG Guarulhos, SP
Monica Rodrigues Perracini – UNICID, SP Vitor Engrácia Valenti – UNIFESP, SP
Nelci Z Collange – UNIFESP, SP Vitor Tumas – FM Ribeirão Preto, SP
Nestor Truite – UFF, RJ Wilson Marques Jr – FM Ribeirão Preto, SP
Nilton Amorim de Souza – UNIFESP, SP Yara D Fragoso – UNIMES, SP
Osvaldo Tayanagui

Rev Neurocienc 2008;16/4 332


In Memoriam

Izilda Malta Torres, 1952–2008


Izilda Malta Torres, Psicóloga, faleceu em primeiro de agosto de 2008, em São Paulo, vítima de neoplasia, que vinha tratando
há anos, resignadamente, sem qualquer demonstração a amigos e parentes.
Nascida em São Paulo, residia e tinha consultório particular na Vila Formosa. Era graduada em Psicologia pela UNIP em 1980,
graduada em Educação pela Unicastelo em 1995, Mestre em Educação pela PUC de São Paulo em 1994, Doutoranda do Setor Neuro-
Sono da Unifesp, São Paulo, desde 2006.
Foi professora da Universidade Camilo Castelo – Unicastelo, nas disciplinas de Psicologia Escolar/Problemas de Aprendizagem
e Psicologia Experimental, de 1993 a 1995; das Faculdades Integradas Guarulhos – FIG, como supervisora em Terapia Psicomotora, de
1997 a 2003 e da Universidade Paulista – UNIP, nas disciplinas de Psicologia Construtivista, Psicologia do Desenvolvimento e Apren-
dizagem, Psicologia Escolar, Psicologia Integrada e Psicologia Sócio-Interacionista, de 2001 a 2007.
No período de 2006 a 2008, participou decisivamente na elaboração do conteúdo programático e ministração do Curso de
Especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental Aplicada aos Distúrbios do Sono, no setor Neuro-Sono da Disciplina de Neuro-
logia da Unifesp. Através de seu esforço e idealismo, pudemos construir algo que objetivando treinar psicólogos para tão vasta e carente
área do conhecimento, preencheu um vazio em nosso meio acadêmico.
Conheci a Izilda quando juntas trabalhamos na Unicastelo, quando então já realizamos muitos trabalhos naquela época. Mesmo
depois de sairmos daquela faculdade, nos encontrávamos em eventos sociais e acadêmicos. Em 2005, manifestou interesse em nossas pes-
quisas no setor Neuro-Sono da Unifesp, o que culminou em seu projeto de doutorado e no curso de especialização, acima mencionado.
Izilda era uma aluna e profissional dedicada, sempre pesquisando e desenvolvendo novas técnicas para o atendimento de crian-
ças. Trabalhava na linha Cognitivo-comportamental e tinha profundo interesse nas teorias de Piaget. Desenvolveu pesquisas sobre o
“jogo de percurso” e o “jogo de palitinhos” no diagnóstico e tratamento de crianças. Publicou o artigo “O brinquedo como instrumento
auxiliar para a análise funcional em terapia comportamental infantil” na Revista “Interação em Psicologia”, da Universidade Federal
do Paraná, em 2003. No setor de Neuro-Sono estava elaborando um protocolo de reabilitação cognitiva para crianças com Síndrome
da Apnéia Obstrutiva do Sono com o que se envolveu profundamente.
Grande amiga, estudiosa, excelente profissional, professora de vocação, sempre que possível dando aulas, essa era sua vida.
Reportou-nos que esta foi uma decisão consciente em sua vida, quando tinha à sua frente a possibilidade de trabalhar em uma grande
empresa e também a de ensinar. Dizia-nos, feliz, que tomaria a mesma decisão quantas vezes fosse provada, e que sabia de antemão que
a dedicação ao ensino furtava-lhe-ia muito conforto que a atuação profissional numa empresa poderia lhe facultar.
Sua contribuição acadêmica e clínica foi de muita importância e com certeza deixou frutos que continuarão se desenvolvendo.
Sentiremos sua falta nas salas de aula, nas festas, nas viagens. Por onde passou, deixou sua contribuição de alegria e disposição. Seu
sorriso ficará na lembrança de todos. Seu sorriso, mesmo ante sua condição de saúde, conhecedora de seu destino, calma, consciente e
tolerante, como quem protegesse seus circunstantes da inexorável consciência de nossa finitude, foi-nos sua última aula.
Deixou sua mãe de 95 anos, duas irmãs, sobrinhos e sobrinhos-neto, além de um incontável número de amigos, pacientes e alunos.

Luciane Bizari Coin de Carvalho


Psicóloga
Neuro-Sono Unifesp

333 Rev Neurocienc 2008;16/4


ÍNDICE GERAL / GENERAL INDEX

Índice de Assuntos Subject Index

Acidente Cerebrovascular 16, 25, 137, 175, Accidental Falls 8, 20


179, 280, 292 Alertness 297
Acidente Vascular Encefálico 118, 215 Alzheimer Disease 101
Acidentes por Queda 8, 20 Amyotrophic Lateral Sclerosis 41, 144, 174,
Agentes GABAérgicos 130 189, 194, 322
Alerta 297 Anticonvulsants 130
Analise e Desempenho de Tarefas 209 Anxiety 41
Ansiedade 41 Attention 297
Anticonvulsivos 130 Auditory Evoked Potentials 67
Aparelhos Ortopédicos 107 Autonomic Nervous System 310
Apnéia do Sono 231 Balance 30
Aprendizagem 209 Behavior 124
Artéria Cerebral Posterior 215 Blood Glucose 280
Assistência ao Paciente 89, 113 Brachial Plexopathy 157
Ataxia Cerebral 53 Brachial Plexus Neuropathies 157
Atenção 297 Brain Injuries 137
Atividade Motora 10, 30, 326 Bruxism 262
Atrofia Muscular Espinhal 46 Caregivers 275
Avaliação 8, 20, 144, 284 Cerebellar Ataxia 53
Avaliação de Deficiência 137 Cerebrovascular Accident 16
Bruxismo 259, 262 Cerebrovascular Disorder 231
Câimbra do Escrivão 237 Chagas Disease 310
Cefaléia 9, 38 Child 30, 124, 284
Ciática 173, 184 Child development 30, 326
Cognição 10, 101, 152 Cognition 10, 101, 152
Comportamento 124 Continuous Positive Airway Pressure 231
Criança 30, 124, 284 Dementia 101, 152
Cuidadores 275 Depression 10, 41
Deficiência de Vitamina B12 242 Disability Evaluation 137
Degeneração Combinada Subaguda 242 Dystonia 303
Demência 101, 152 Dystonic Disorders 237
Depressão 10, 41 Elderly 97, 101, 152
Desempenho Psicomotor 284 Electroencephalography 67
Desenvolvimento infantil 30, 326 Electromyography 220
Destreza Motora 30 Electroneuromyography 322
Distonia 303 Environment 209
Distonia Focal 237 Enzyme Inhibitors 130
Distrofia Muscular de Duchenne 275 Epidemiology 189, 204
Distúrbios Distônicos 237 Evaluation 8, 20, 144, 284
Doença Cerebrovascular 231 Evaluation Studies 71
Doença de Alzheimer 101 Exercises 62
Doença de Chagas 310 Face 316
Doença de Machado-Joseph 53 Focal Dystonia 237
Doença de Parkinson 8, 10, 20, 89, 113 GABA Agents 130
Doença dos Neurônios Motores 189 Gait 107, 179, 292
Doenças Neuromusculares 46, 174, 194, 322 Glasgow Coma Scale 16

Rev Neurocienc 2008;16/4 334


Doenças Ocupacionais 303 Handwriting 237
Dor 259, 262 Hansen’s Disease 220
Dor Lombar 173, 184 Headache 9, 38
Eletrocefalografia 67 Hearing Disorders 67
Eletromiografia 220 Hemiparesis 179
Eletroneuromiografia 322 Hemiplegia 25,107
Epidemiologia 189, 204 Heredity 71
Equilíbrio 30 Hydrotherapy 62, 204
Equilíbrio Musculosquelético 25, 97, 107, 269 Hypertension 152
Escala de Coma de Glasgow 16 Hysteria 262
Escalas 41, 137, 144, Independence 175
174, 194, 326 Insulin Resistance 280
Esclerose Amiotrófica Lateral 144, 189, 194, 322 Landau-Kleffner Syndrome 67
Esclerose Lateral Amiotrófica 41, 174 Language 67
Esclerose Múltipla 269 Learning 209
Escrita Manual 237 Length of Stay 118
Espasticidade Muscular 107 Low Back Pain 62, 173, 184
Estudos de Avaliação 71 Machado-Joseph Disease 53
Exercício 62 Mental Processing 316
Face 316 Migraine Disorders 9, 38
Fisioterapia 46, 97, 157, 175, Motor Activity 10, 30, 326
242, 269
Motor Neuron Disease 189
Glicemia 280
Motor Skills 30
Hanseníase 220
Movement Disorders 215
Hemiparesia 137, 179
Multiple Sclerosis 269
Hemiplegia 25, 107
Muscular Dystrophy Duchenne 275
Hereditariedade 71
Muscle Spasticity 107
Hidroterapia 62, 204
Muscle Tonus 25
Hipertensão 152
Musculoskeletal Equilibrium 25, 97, 107, 269
Hipotensão Ortostática 16
Mycobacterium leprae 220
Histeria 259, 262
Neuroscience 316
Idosos 97, 101, 152
Neuromuscular Diseases 46, 174, 194, 322
Independência 175
Occupational Diseases 303
Inibidores Enzimáticos 130
Odors 9, 38
Lesões de Esporte 86, 88, 90
Orthostatic Hypotension 16
Linguagem 67
Orthotic Devices 107
Lombalgia 62
Overuse Syndrome 303
Marcha 107, 179, 292
Overweight 326
Meio Ambiente 209
Pain 262
Mycobacterium leprae 220
Paresis 137, 292
Neurociências 216
Parkinson’s Disease 8, 10, 20, 89, 113
Neuropatia do Plexo Branquial 152
Patient Care 89, 113
Odores 9, 38
Physical Therapy 46, 97, 157, 175,
Paraparesia Espástica 242 242, 269
Paresia 292 Physical Therapy Department – Hospital 118, 204
Plexopatia Branquial 152 Polyneuropathies 71
Polineuropatia 71 Posterior Cerebral Artery 215
Potencial Evocado P300 67 Prognosis 16
Potenciais Evocados auditivos 67 Psychomotor Performance 284
Pressão Positiva Contínua de Vias Aéreas 231 P300 Event-related Potentials 67
Prognóstico 16

335 Rev Neurocienc 2008;16/4


Processamento Mental 316 Quality of Life 86, 88, 89, 90,
Qualidade de Vida 86, 88, 89, 90, 113, 269, 275
113, 269, 275 Radiculopathy 173, 184
Radiculopatia 173, 184 Rehabilitation 25, 53, 204, 220, 237
Reabilitação 25, 53, 204, 220, 237 Scales 41, 137, 144,
Resistência à Insulina 280 174, 194, 326

Ritmo Circadiano 297 Sciatica 173, 184

Serviço Hospitalar de Fisioterapia 118, 204 Sleep 124, 297

Síndrome de Landau-Kleffner 67 Sleep Apnea 231

Sistema Nervoso Autônomo 310 Sleep Disorders 41, 124

Sobrepeso 326 Spastic Paraparesis 242

Sono 124, 297 Spinal Cord Injuries 86, 88, 90

Tempo de Internação 118 Spinal Muscular Atrophy 46

Tônus Muscular 25 Sports Injuries 86, 88, 90

Transtornos da Articulação Temporo- 259, 262 Stroke 25, 118, 137, 175,
mandibular 179, 215, 280, 292

Transtornos da Audição 67 Subacute Combined Degeneration 242

Transtornos de Enxaqueca 9, 38 Task Performance and Analyses 209

Transtornos do Sono 41, 124 Temporomandibular Joint Disorders 262

Transtornos Motores 215 Trypanosoma cruzi 310

Transtornos Traumáticos Cumulativos 262, 303 Vitamin B12 Deficiency 242

Traumatismo da Medula Espinhal 86, 88, 90 Writer’s Cramp 237

Traumatismos Cerebrais 137


Trypanosoma cruzi 310

Rev Neurocienc 2008;16/4 336


Índice de Autores / Author Index

Abranches M 215
Abrantes CV 204
Abreu PS 215
Agne JE 284
Albuquerque AV 184
Almeida CMO 231
Alouche SR 209
Alves MAF 88
Andrade SRZ 326
Antonietti LS 90
Antonio VE 310
Antonioli RS 46, 220
Aquilino RN 262
Arnal TC 62
Barros ALS 20, 101
Barudy DP 292
Bastos VH 53
Bellintane MD 30
Borini CA 38
Botelho JP 46, 144, 157
Borges G 316
Campos D 316
Campos MFCR 275
Cardoso F 322
Cardoso FM 144
Cardoso de Souza M 62
Carvalho G 62
Carvalho GA 303
Carvalho LBC 41, 124, 194
Carvalho RW 220
Carvalho TB 137
Cavalcanti EB 194
Chaves ACX 275
Chiarello B 90
Coelho FMS 280
Costa RA 90
Cuziol K 113
Cypriano AS 280
Deloroso MGB 71
Dias MR 71
Diz MAR 292
Domingues CA 194

337 Rev Neurocienc 2008;16/4


Driusso P 152
Dunker CIL 259
Dylewski V 275
Eigenheer JF 53
Fagundes SBR 130
Faria DC 189
Fávero FM 189, 275
Fernandes RMF 261
Ferra HB 8
Ferraz SB 280
Ferreira VR 124
Fontes SV 41, 152, 189, 275
Forti-Junior G 16
Fragelli TBO 303
Fragoso YD 38
Freitas GR 46, 144, 322
Freitas MRG 46, 53, 144, 157, 194, 220, 242, 322
Fukujima MM 41
Gatti FR 38
Ghezzi SR 41
Giacomelli LF 215
Gomes AP 310
Gondo FLB 90
Gonçalves M 275
Gonçalves PDS 280
Gonçalvez VMG 316
Gress CH 194
Grezos RML –
Guilhoto LMFF 67
Gusman S 204
Iwabe C 71, 292, 326
Jakaitis F 204
Junior W 194
Junk FK 175
Leite RA 67
Lima CF 20
Lima JBM 194
Lima LF 25
Lima RZ 25, 107
Lisboa LF 280
Lopes TO 280
Lucci LA 71
Luciano M 179
Macedo AS 316

Rev Neurocienc 2008;16/4 338


Madureira VSF 284
Majeski-Colombo M 310
Manreza MLG 67
Mansur LL 67
Marinho AR 269
Maron EG 157
Marques L 25
Marques JS 30
Matas CG 67
Mata FAF 20
Mazuco R 175
Mazzola D 179
Medeiros R 209
Mello MP 46, 53, 144, 157, 194, 220, 242, 322
Mello MT 86
Messeder JC 310
Miyamoto ST 62
Molina OF 262
Moraes-Martins G 310
Mota EPO 25, 107
Motta E 118
Nascimento D 204
Nascimento O 53, 144, 157, 194, 242, 322
Nascimento R 284
Natale VB 124
Natalio MA 118
Nielson MBP 269
Nishida P 25
Nogueira M 25
Oliveira ASB 41, 90, 189, 194, 275
Oliveira KCV 101
Oliveira SG 175
Orsini M 46, 53, 144, 157, 194, 220, 242, 322
Pegoraro ASN 204
Peixoto MAS 262
Peixoto MGS 262
Penoni JS 262
Pereira JS 237
Peres MFP 9
Pernes M 194
Pimentel GL 179
Pinho DLM 303
Pires Rm 107
Polese JC 175, 179

339 Rev Neurocienc 2008;16/4


Potasz C 124
Poyares D 231
Prado ALC 10
Prado GF 41, 124
Prado LBF 124
Puntel GO 10
Quadros AAJ 189
Quagliato EMAB 113
Quintanilha G 194
Reis CHM 53, 194, 220, 242
Reis JPB 220, 242
Rezende MM 41
Relvas PCA 137
Ricci M 25
Rodrigues AC 209
Rodrigues IF 269
Rodrigues MS 297
Rosa SF 130
Rosatti L 107
Russo CRA 124
Rotnes WGW 53
Sá CSC 30
Sá MRC 46
Sacchelli T 97
Schuster RC 175, 179
Sander I 179
Santos ZC 262
Sales ALM 25
Santana CS 209
Santos DG 204
Santos VV 46, 157
Sashida VT 152
Silva EG 113
Silva JG 220
Silva TM 275
Siqueira-Batista R 310
Soares MA 97
Sonoda LT 215
Souza CMZ 297
Souza GFM 101
Souza LP 10
Souza VML 25
Teive HAG 89
Toledo-Monteverde D 310

Rev Neurocienc 2008;16/4 340


Tomaz CAB 10
Tonial A 175
Torriane C 25, 107
Truite Jr NC 173
Tufik S 231
Umetsu P 107
Valente S 215
Varela MJV 124
Vasconcellos LC 62
Velar CM 16
Viana CAP 215
Viana MA 113
Waissman FQB 237
Waltrick PT 118
Zadra K 179
Zanoteli E 174
Zukerman E 280

341 Rev Neurocienc 2008;16/4


NORMAS DE PUBLICAÇÃO Categoria de artigos: Editorial, Original, Revisão Sistemá-
tica, Revisão de Literatura, Atualização, Relato de Caso, Rese-
A Revista Neurociências é voltada à Neurologia e nha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor. O número de
às ciências afins. Publica artigos de interesse científico e tecno- palavras inclui texto e referências bibliográficas (não devem ser
lógico, realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de considerados folha de rosto com título, autores, endereço de cor-
estudos clínicos ou com ênfase em temas de cunho prático, espe- respondência, resumo e summary e tabelas, figuras e gráficos).
cíficos ou interdisciplinares. Serão aceitos artigos em inglês, por- Adotar as recomendações abaixo.
tuguês ou espanhol. Seus volumes anuais e números trimestrais,
serão publicados em março, junho, setembro e dezembro. A I – Editorial: a convite do Editor, sob tema específico, deve
linha editorial da revista publica, preferencialmente, artigos Ori- conter no máximo 2000 palavras e no máximo 10 referências
ginais de pesquisa (incluindo Revisões Sistemáticas). Contudo, bibliográficas (estilo Vancouver).
também serão aceitos para publicação os artigos de Revisão de
Literatura, Atualização, Relato de Caso, Resenha, Ensaio, Texto II – Artigos Original, Revisão Sistemática e Relato de
de Opinião e Carta ao Editor, desde que aprovados pelo Corpo Caso: Resultado de pesquisa de natureza empírica, experimen-
Editorial. Trabalhos apresentados em Congressos ou Reuniões tal ou conceitual (6000 palavras).
Científicas de áreas afins poderão constituir-se de anais em nú- Título: Em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito
meros ou suplementos especiais da Revista Neurociências. ao conteúdo, contendo informação suficiente para catalogação, não
Os artigos deverão ser inéditos, isto é, não publicados em excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos informativos.
outros periódicos, exceto na forma de Resumos em Congressos e Autor(es): Referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Refe-
não deverão ser submetidos a outros periódicos simultaneamente, rir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao
com o quê se comprometem seus autores. Os artigos devem artigo. Referir formação acadêmica, titulação máxima e vínculo
ser submetidos eletronicamente, via e-mail para o endereço: profissional de cada autor, por ex.: 1- Neurologista, Livre Do-
revistaneurociencias@yahoo.com. Recebido o manuscrito, o Corpo cente, Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-gra-
Editorial verifica se o mesmo encontra-se dentro dos propósitos duando na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital
do periódico e de acordo com as Normas de Publicação, São Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o
recusando-se aqueles que não cumprirem essas condições. O autor e endereço para correspondência.
Corpo Editorial emitirá um Protocolo de Recebimento do Artigo Resumo e Summary: Devem permitir uma visão panorâmica
e enviará a Carta de Autorização, a ser assinada por todos os do trabalho. Para os Artigos Originais, o resumo deve ser es-
autores, mediante confirmação de que o artigo seja inédito, e uma truturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não
declaração de eventuais conflitos de interesse pessoais, comerciais, exceder 200 palavras.
políticos, acadêmicos ou financeiros de cada autor. O Corpo Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o
Editorial enviará, então, o artigo para, pelo menos, dois revisores Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte des-
dentro da área do tema do artigo, no sistema de arbitragem por critores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br).
pares, que em até 60 dias deverão avaliar o conteúdo e a forma Corpo do Artigo: Apresentar a matéria do artigo seqüencial-
do texto. O Corpo Editorial analisará os pareceres e encaminhará mente: introdução e objetivo; método (sujeitos ou relato de caso,
as sugestões para os autores, para aprimoramento do conteúdo, Comitê de Ética, Consentimento Informado, procedimento ou
da estrutura, da redação e da clareza do texto. Os autores terão intervenção e análise estatística) com detalhes suficientes para
15 dias para revisar o texto, incluir as modificações sugeridas, a pesquisa poder ser duplicada, resultados (apresentados de
cabendo-lhes direito de resposta. O Corpo Editorial, quando os forma clara e concisa), discussão (interpretação dos resultados
revisores sugerirem a adição de novos dados, e a depender do comparados à literatura), conclusões, agradecimentos, referên-
estudo, poderá prover tempo extra aos autores, para cumprimento cias bibliográficas. As abreviações devem vir acompanhadas do
das solicitações. O Corpo Editorial verificará as modificações seu significado na primeira vez que aparecerem no texto. Nomes
realizadas no texto e, se necessário, sugerirá correções adicionais. comerciais e marcas registradas devem ser utilizadas com parci-
O Corpo Editorial poderá aceitar o artigo para publicação ou mônia, devendo-se dar preferência aos nomes genéricos.
recusá-lo se for inadequado. Para publicação, será observada a Quadros, Gráficos e Tabelas: Juntos não poderão exceder 5.
ordem cronológica de aceitação dos artigos e distribuição regional. Deverão ser apresentados em páginas separadas e no final do texto.
Os artigos aceitos estarão sujeitos à adequações de gramática, Em cada um, deve constar seu número de ordem, título e legenda.
clareza do texto e estilo da Revista Neurociências sem prejuízo Figuras: Até 2 ilustrações com tamanho não superior a 6 cm
ao seu conteúdo. Ficará subentendido que os autores concordam x 9 cm cada uma, com alta resolução. As fotos devem ser em
com a exclusividade da publicação do artigo no periódico, preto e branco contrastadas com eventuais detalhes como setas,
transferindo os direitos de cópia e permissões à publicadora. números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número
Separatas poderão ser impressas sob encomenda, arcando os de ordem e legenda, devem ser encaminhadas em outro arqui-
autores com seus custos. Os artigos são de responsabilidade de vo com nome do autor e do artigo. Ilustrações reproduzidas de
seus autores. textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização de
reprodução, tanto do autor como da publicadora.
INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu custo eleva-
www.unifesp.br/dneuro/neurociencias do, será de responsabilidade dos autores, assim como o custo por
www.revistaneurociencias.com.br número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados e desde
que sua publicação seja autorizada pela editora. O material rece-
Submissão do artigo: os artigos deverão ser encaminhados ao bido não será devolvido aos autores. Manter os negativos destas.
Editor Chefe via e-mail: revistaneurociencias@yahoo.com e poderão Referências: Máximo de 30 (as Revisões Sistemáticas deverão
ser utilizados editores de texto, preferencialmente “Word”, no solicitar o aumento do número de referências ao Editor, confor-
formato “doc”, espaço duplo, Times New Roman, fonte 12. me a necessidade), restritas à bibliografia essencial ao conteúdo

Rev Neurocienc 2008;16/4 342


do artigo. Todos os autores e trabalhos citados no texto devem Paulo – UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o autor
constar na listagem de referências bibliográficas. No texto, as e endereço para correspondência.
citações devem seguir o sistema numérico, isto é, são numerados Resumo e Summary: Devem permitir uma visão panorâmica
por ordem de sua citação no texto, utilizando-se números arábi- do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser estru-
cos sobrescritos segundo o estilo Vancouver (www.icmje.org). Por turado em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não ex-
exemplo: “....o horário de ir para a cama e a duração do sono na ceder 200 palavras.
infância e adolescência6-12,14,15.”. Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o
As referências devem ser ordenadas consecutivamente na ordem Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte des-
na qual os autores são mencionados no texto. Mais de 6 autores, critores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br).
listar os 6 primeiros seguidos de “et al.”. Corpo do Artigo: Apresentar a matéria do artigo seqüencial-
a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico mente: introdução, conclusão e referências bibliográficas.
(abreviados de acordo com o Index Medicus) ano; volume: pá- Referências: Citar até 100 referências, seguindo o sistema numéri-
gina inicial – final. co por ordem de sua citação no texto, segundo o estilo Vancouver.
Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC. Symptoms of at- Quadros e Tabelas: Juntos não devem exceder 2, apresenta-
tention-deficit/hyperactivity disorder in adults with restless legs dos em páginas separadas e no final do texto. Em cada um, deve
syndrome. Sleep 2004; 27: 1499-504. constar seu número de ordem, título e legenda.
b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não
for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: IV – Artigos de Resenha: É a apresentação do conteúdo de
editora, ano, total de páginas. uma obra (livros publicados, teses e dissertações dos últimos dois
Ex.: Ferber R, Kriger M. Principles and practice of sleep medici- anos), acompanhada de uma avaliação crítica (3000 palavras).
ne in the child. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1995, 253p. As Resenhas devem seguir os itens: título em inglês e em
c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capí- português ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, mas
tulo. In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não for a contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo
primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: edito- 90 caracteres. Nome do(s) autor(es), com formação, titulação
ra, ano, página inicial e página final. acadêmica e vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi
Ex.: Stepanski EJ. Behavioral Therapy for Insomnia. In: Kryger realizado, endereço para correspondência. Resumo e Summary:
MH; Roth T, Dement WC (eds). Principles and practice of sleep medici- até 200 palavras com Unitermos e Keywords: Máximo de 6
ne. 3rd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 2000, p.647-56. (seis), referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como
d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico ano; volume (suple- guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.
mento e seu número, se for o caso): página(s). Quando não pu- br). Corpo do texto contendo: tema, hipótese ou idéia central;
blicado em periódico: Título da publicação. Cidade em que foi argumentos; evidências científicas; avaliação pessoal quanto à
publicada: editora, ano, página(s). organização da obra, pontos fortes e fracos, bibliografia utilizada
Ex.: Carvalho LBC, Silva L, Almeida MM, et al. Cognitive (estilo Vancouver); conclusão, críticas e comentários.
dysfunction in sleep breathing disorders children. Sleep 2003;
26(Suppl):A135. V – Ensaio: é um texto literário breve, situado entre o poético
e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no tex- e o didático, expondo idéias, críticas e reflexões morais e filosófi-
to entre parênteses. cas a respeito de certo tema pesquisas da área das neurociências
f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou (disserta- (3000 palavras). Deverá conter: título em inglês e em português
ção). Cidade: instituição, ano, número de páginas. ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo in-
Ex.: Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na qualida- formação suficiente para catalogação, não excedendo 90 carac-
de de vida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo: UNIFESP, teres. Nome do(s) autor(es), com formação, titulação acadêmica
2004, 75p. e vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi realizado,
g) Documento eletrônico: Título do documento (Endereço endereço para correspondência; e no máximo 10 referências
na Internet). Local: responsável (atualização mês/ano; citado bibliográficas no estilo Vancouver. Resumo e Summary: Até
em mês/ano). Disponível em: site. 200 palavras com Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis),
Ex.: The pre-history of cognitive science (endereço na referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia,
Internet). Inglaterra: World Federation Neurology. (última consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br).
atualização 12/2005; citado em 01/2006). Disponível em:
http://www.wfneurology.org/index.htm. VI – Texto de Opinião e Carta ao Editor: deve conter opi-
nião qualificada sobre um tema na área de neurociências, nota curta,
III – Artigos de Revisão de Literatura e Atualização: Re- crítica sobre artigo já publicado na Revista Neurociências ou relato
visão crítica de literatura ou atualização relativo a neurociências, de resultados parciais ou preliminares de pesquisa (1000 palavras).
com ênfase em causa, diagnóstico, prognóstico, terapia ou pre- Deverá conter: título em inglês e em português ou espanhol, sintéti-
venção (8000 palavras). co e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para
Título: Em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito catalogação, não excedendo 90 caracteres. Nome do(s) autor(es), com
ao conteúdo, contendo informação suficiente para catalogação, não formação, titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição onde
excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos informativos. o trabalho foi realizado, endereço para correspondência; e no máxi-
Autor(es): Referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Refe- mo 10 referências bibliográficas (estilo Vancouver).
rir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao
artigo. Referir formação acadêmica, titulação máxima e vínculo Modelo de Carta de Autorização e Declaração de Conflito de
profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre Docente, Interesse: http://www.revistaneurociencias.com.br
Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-graduan-
do na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital São Instructions for authors: http://www.unifesp.br/dneuro/neurociencias

343 Rev Neurocienc 2008;16/4


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