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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE SÁ

CAMPUS SÃO JOSÉ


CURSO DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA II
PROFESSOR: Ms. João Fillipe Horr

ADEMIR ABDU JUNIOR


NATAN JUNIOR TEXEIRA
WEALTH KARLO FRANCOTTI

ROTEIRO DA AV2 – ESTUDO DIRIGIDO

1. A partir das reflexões suscitadas em sala de aula e possíveis referências, reflita sobre
a distinção entre sofrimento e adoecimento psicológico na construção da escuta clínica e
do psicodiagnóstico. Argumente, com isso, os três caminhos possíveis de expressão do
adoecimento psicológico e situe exemplos clínicos os sustentem.

R: Nos pressupostos presentes em Berg(1955) na sua obra intitulada “O Paciente


Psiquiátrico”, encontramos uma narrativa entre o paciente e sua loucura, onde essa
mesma loucura deve de ser compreendida em sua rede de relações, com os quatros
grupos observáveis, sendo eles: o Mundo, o Corpo, os Outros e o Tempo.
Nas palavras do autor, “o que vem à luz na nova psicopatologia, não pode se
restringir ao resumo do que o paciente observa introspectivamente “em si mesmo”,
mas consiste na descrição da fisionomia patológica das coisas. Ou seja, na descrição
da qualidade das coisas, que - também para o paciente - sejam mais reais e
convicentes” BERG (1955, p. 46).
E ele segue afirmando que, “alienação, isolamento, solidão e tudo o que se
passa nessa triste seqüência, tudo isto nunca existe em si e por si, mas se mostra na
realidade do ambiente, dos objetos, das relações humanas e nas realidades do corpo e
do tempo. Tudo isto está relacionado”. BERG (1955, p. 108).
Assim, no que concerne ao sofrimento psíquico podemos compreender que
estamos imersos numa construção de cultura do risco, em que o futuro deixou de ser
uma promessa e tornou-se uma ameaça. A temporalidade das coisas e fatos relaciona-se
ao sofrimento psíquico das pessoas, estando relacionada à época em que vivemos.
A constatação desse elemento adoencedor se apresenta em amplos aspectos
quantitativos (exemplo o crescimento das demanda nos serviços de saúde mental de
queixas de pânico, medo, insegurança e ansiedade) e nos contextos qualitativos temos
os elementos de cunho histórico e político.
A Modernidade criou uma crença exacerbada no progresso e, com ela, a
promessa de um futuro melhor, de modo que todas as atividades humanas ordenaram-se
para essa crença no futuro como promessa. No entanto, vivemos a maior crise social e
histórica em nossa atualidade, que se caracteriza por uma relação específica entre os
aspectos global e local. FREIRE, LEMOS (2011, p.308)
A partir da dificuldade em sustentar o dualismo entre o normal e anormal,
juntamente com o Sofrimento e o processo de Adoecimento psíquico, tendo em vista
que o “normal” nunca levou em conta toda a pressão da cultura e moral (conformismo
social), temos que ao passo de qualquer conduta desviante se enquadraria como
manifestação de anormalidade. Sendo possível, atualmente observarmos o quanto a
tristeza é nomeada como depressão e o medo transforma-se simplesmente em paranoia,
tão-somente desta forma discriminar, estigmatizar e excluir sujeitos, fomentando
espaços para a efetivação de uma visão de medicalização principalmente, de
antidepressivos e ansiolíticos.
A estrutura, neurótica ou psicótica, com ou sem estado psicopatológico, é sólida
e, conforme há a existência ou não de rupturas patológicas, pode levar a estados
sucessivos de adaptação, desadaptação, readaptação, entre outros. (BERGERET, 1996,
p. 51).
Diante dessas constatações e considerando a importância, cabe aqui destacar que
o Sofrimento psíquico está fortemente associado ao processo de experiências subjetiva,
ou seja, a intensidade da aflição psicológica depende exclusivamente de como este
mesmo a percebe. Reconhecendo que o sofrimento não possui uma forma única e
uniforme a todos os indivíduos, estamos lhe atribuindo uma dimensão psicológica do
ato de perceber suas próprias limitações nas concepções de dor, limites
físicos/emocionais, angústias e existenciais.
No adoecimento, encontramos sérias implicações para a própria compreensão da
identidade no sujeito, tais como: baixa autoestima, perda de habilidades laborativas e de
mobilidade, incapazes de gerar sentimentos de alegria e para o trabalho, juntamente com
a autocensura que ratificam estigmas sociais, clínicos e de ordens intrapessoais.
Do ponto de vista energético, os caminhos possíveis são orientados pelo próprio
sujeito, uma vez que esta mesma energia psíquica buscará percorrer pelo viés,
caminhos, mais fácil e menos custoso em relação à elaboração das expressões
simbólicas, cuja força de atração deste símbolo representa a quantidade correspondente
de libido.
A condição do estado de uma restrição pulsional, onde o sujeito está impedido
de realizar a descarga de sua excitação psíquica no outro, projeta assim toda sua raiva e
agressividade contra seu próprio eu, procurando minimizar o sofrimento psíquico pela
descarga destes sentimentos em seu corpo. Toda excitação psíquica necessita de um
mecanismo de descarga. WINOGRAD (2011).
Nesses casos, encontramos três vias para a expressão do adoecimento
psicológico, sendo eles: a Palavra, o Corpo e o Ato. Contudo, essas vias de
comunicação do sofrimento são permeadas por construções de ordens psíquicas e por si,
tem delimitações implicadas quanto à passividade da energia psíquica, constando entre
o desejo e a defesa, surgirá um consórcio que buscará proporcionar ao sujeito uma
sobrevivência psiquicamente, ocasionando a liberação de energia psíquica
principalmente pelo viés do menor investimento de esforço psíquico.
Essas vias econômicas de liberação das energias psíquicas perpassam pela
possiblidade de processamento na elaboração por parte do indivíduo, entretanto
localizamos na agressividade auto-inflingida a prática de auto-mutilação (se machucar,
se cortar, se queimar) ou a manifestação do Ato na tentativa de suicídio.
Alguns dos desdobramentos possíveis desses caminhos dinâmicos percorridos
por essa energia, que poderiam estar perceptíveis em clínica constituem:
 Caso do CORPO: percebemos que neste contexto estamos visualizando algo da
ordem mais primitiva nos seres humanos, uma vez que na impossibilidade de
elaboração, conhecidas como processos de somatizações/psicossoticas. Para facilitar
a compreensão basta percebemos que é no corpo, onde primeiro registramos e
reagimos aos estímulos externo e internos (pulsões), o corpo assume desta forma a
principal forma no registro da relação de deslocamento e condensação.
O que leva cada sujeito humano à "opção" do corpo como lugar de gozo, neste
ou naquele órgão, mobilizando a organização arcaica de seu corpo primitivo ainda
irrepresentável e de limites imprecisos, esconde-se em sua história e em algum
"recanto" impossível e temido de seu inconsciente. Partindo da histeria a conversão às
doenças orgânicas em geral. WINOGRAD (2011)
 Caso da FALA (Linguagem/ Simbólico/ Discurso):
Ao Falar, pensar, passar pelos significantes da Lei (cultura): tais são os efeitos da
falta do objeto que colocam assim o lugar da Coisa. É somente num segundo momento,
que o pensamento intervém, numa tentativa de reconhecer, pela elaboração simbólica da
linguagem, este fragmento de real ameaçador ou inquietante.
Portanto, o sujeito humano, em função de sua inserção na cultura e apropriação
de uma linguagem que lhe possa atribuir conotações de valores conceituais, dispõe de
uma maquinaria ou de uma "linguisteria", para assim, reconhecer e barrar a invasão do
estranho sobre seu corpo no dizer de Nestor Braunstein (1992) apud Bellodi (2000).

 Caso do ATO (atuação):


Para Freud os atos não são compreendidos de forma inocentes e sem valor
psicológico, não são meros movimentos, têm uma significação e são interpretáveis.
Desta forma, quanto maior a resistência do sujeito ao processo de elaboração e
manifestação pela linguagem (fala), mais extensivamente a atuação substituirá o
recordar, fluindo para exteriorização em atuações paralisantes, agressividade,
impaciência, impulsividade servindo de fonte impar na comunicação de conflitos
internos necessários de elaboração.
Nessa tentativa de dizer algo por meio de uma atuação, a colocação em ato do
material inconsciente tem lugar no campo transferencial, e este é o meio possível pelo
qual o sujeito pode vir a se implicar em seus próprios atos, sendo pura expressão dos
conflitos internos, possuindo um endereçamento.

2. A ansiedade e a tristeza compõe experiências afetivas da condição humana. A partir


do texto de Romero (disponível na pasta), reflita sobre a função da ansiedade e da
tristeza, sobre o objeto destas afetações e como podem expressar tantos aspectos do
campo da normalidade quando da psicopatologia.

A ansiedade e a tristeza são estados de ânimo que podem se manifestar em


diversos graus de intensidade, afetando a maneira de no mundo. A ansiedade e a
tristeza são inerentes à existência.
Já a tristeza se manifesta no passado, passado este que guarda algo perdido pelo
sujeito; é um sentimento inerente ao homem sadio, uma emoção que se manifesta diante
de frustrações, como uma perda ou uma decepção. Podendo haver ou não um motivo
consciente, especifico para a tristeza que invade ameaçar a existência do sujeito. Ambas
são manifestações da angustia de saber da própria existência e que por existir estará
livre e, portanto condenado por esta liberdade a escolher diante do não determinismo da
vida, nada esta determinando a nesta vida com exceção da morte.
A ansiedade é um estado gerador de expectativas no sujeito fazendo o preparar-
se para variadas situações de inquietude ou de uma possível ameaça. Quanto maior a
expectativa, maior a ansiedade ela tem sua temporalização no futuro.
E se revela uma angustia sintomática quando a uma falha na estrutura do sujeito
para lidar com o ser-ai no mundo, este contexto se caracteriza por não corresponder
como atitude frente às situações, quando se faz presente em todos os eventos, ou quase
todos se convertendo em algo dominante que impõem um sentimento de tristeza ou de
ansiedade que o sujeito não mais da conta deste sofrer e adoece.

3. De acordo com Van Der Berg (1981) existem quatro dimensões existenciais que
constituem a condição humana. Estas dimensões podem ser tanto fonte de força para o
sujeito, quando a mediação de sofrimento e até adoecimento na sua experiência.
Destaque quais são estas quatro dimensões e reflita sobre a sua função na condição
humana na compreensão em psicopatologia.

O sujeito existe através das relações com o mundo; um mundo que existe porque
o sujeito existe sendo um sujeito que necessita de um mundo para se manifestar;
manifestação esta que se da por meio de um corpo, corpo este que viabiliza ou
inviabiliza esta existência, existência esta que se da nas relações com outros sujeitos que
com seus corpos coabitam, mesmo que através de percepções diferentes do mesmo
mundo, mundo este onde tudo tem um tempo de fruição.
Sendo estas quatro dimensões fundamentais para o existir, seria um equivoco
separa-las ou ate desconsidera-las na busca de compreender uma patologia.
Van Der Bergue no livro o paciente psiquiátrico diz que o nosso mundo é uma
construção subjetiva; que para compreender o sujeito temos que considerar todo o
contexto, aprendendo a ver o mundo, seu corpo, suas relações com as outras pessoas,
seu passado e futuro da forma única que este sujeito o vê. Qualquer forma de ver ou
pinçar o sujeito, o separando do mundo se transformara em uma visão artificial,
portanto equivocada. Van Der Bergue escreve que “o paciente esta doente; isto significa
que seu mundo esta doente ou, mais literalmente (embora isto pareça estranho), que
seus objetos estão doentes”.

4. A relação entre crise e urgência é uma linha tênue, mas importante no campo da
intervenção psicológica e da rede de saúde mental. A partir dos textos indicados (ver no
SAVA), defina o que é urgência, crise e suas diferenças. Reflita sobre como a crise em
saúde mental traz potencialidades interventivas.

R: Durante nossa vida passamos por momentos de tensão, aonde leva o indivíduo
ao conflito e desequilíbrio, esses momentos são considerados intransponíveis. Ileno
Izídio da Costa define a causa de uma crise “é aquele cujo aparecimento causa
desequilíbrio psíquico, no qual o sujeito se encontra desprovido das competências que o
levam a uma re-acomodação às situações de conflito” (Costa, 2008).
No contexto familiar a crise não necessariamente está no sujeito, mas o sintoma
pode estar no âmbito familiar. “Toda crise provoca uma ruptura temporária da
homeostase do sistema familiar e, por conseguinte, uma necessidade de reorganização
das inter-relações e uma descoberta de novas regras de funcionamento familiar.” (Costa,
2008).
A crise pode ser definida como “crises são aqueles acontecimentos da vida que
atacam e ameaçam o senso de segurança e controle da pessoa” (Costa, 2008), a crise
também pode ser psicótica, aonde os sintomas se tornam perceptíveis, com alucinações
e delírios do paciente, geralmente nessas crises é que acontecem as urgências, que
envolvem risco de vida do sujeito em crise, ou de terceiros.

As crises nas urgências, com o envolvimento de risco de vida, os hospitais


psiquiátricos, tendem a usar tratamento farmacológico e em seguida internação do
sujeito.

REFERÊNCIAS

CORDIOLI, A.V. Psicoterapias. Abordagens atuais. Porto Alegre: Artes Médicas,


1993.

FIGUEIREDO, A. C. A construção do caso clínico: uma contribuição da psicanálise à


psicopatologia e à saúde mental. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., VII, 1, 75-86, 2004.

MENDES LEMOS, Patrícia; CELIO FREIRE, José. Os contornos tardo-modernos do


sofrimento e do adoecimento psíquico: proposições éticas para o Centro de Atenção
Psicossocial. Psicol. rev. Belo Horizonte, v. 17, n. 2, p. 303-321, ago. 2011. Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682011000
200010&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 09 jun. 2019.
VAN DEN BERG, J. H. O Paciente Psiquiátrico: esboço de psicopatologia
fenomenológico. São Paulo: Mestre Jou, 1981.

WINOGRAD, Monah; TEIXEIRA, Leônia Cavalcanti. Afeto e adoecimento do corpo:


considerações psicanalíticas. Ágora. Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 165-182,
2011. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S1516-
14982011000200001&lng=en&nrm=iso>. acesso em 09 de junho de 2019.

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