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Título:

I Minicurso Introdutório à Neuroanatomia – Correlações Clínicas I

Ligante: Data:
Túlio Maranhão 27/05/2013

Aluno:

Neuroanatomia Clínica

Estamos prestes a embarcar numa maravilhosa e paraplegia: paralisia dos membros inferiores;
desafiadora jornada - a exploração anatomoclínica do tetraplegia: paralisia dos quatro membros.
SNC, cuja complexidade é tamanha, que ainda não 1.2 - Alterações do tônus: tônus muscular é um
lhe é possível ser adequadamente definida em estado de contração parcial contínua de um
palavras. Comparado aos demais sistemas orgânicos, músculo que depende da integridade do arco
o sistema nervoso apresenta o privilégio de permitir reflexo monossináptico. Um músculo atônico, ou
excepcionais objetividade e precisão nas suas seja, que não possua “tônus”, exibe consistência
correlações clínicas, cujos sinais e sintomas resultam macia e flácida, sofrendo rápida atrofia. Diz-se
mais da localização da lesão do que da natureza que há hipertonia (espasticidade, rigidez) quando
desta. Exemplificando: não importa se tumor ou o tônus muscular está aumentado. Hipotonia, por
infarto, o córtex motor primário, ao ser acometido, sua vez, seria uma diminuição do tônus.
causará, basicamente, o mesmo distúrbio 1.3 – Alterações dos reflexos: nas lesões do SNC,
neurológico, ou seja, a mesma hemiplegia. pode haver um aumento dos reflexos
Determinante para a paixão dos estudantes de (hiperreflexia), diminuição destes (hiporreflexia),
medicina pelo assunto de neuroanatomia, a iniciação ou, ainda, os reflexos podem estar abolidos
clínica precoce ajuda, ainda, a uma melhor (arreflexia). Podem, ainda, estar presentes alguns
compreensão do tema em si. reflexos patológicos, como o sinal de Babinski.

Antes de iniciarmos a parte clínica, contudo, faz- Paralisias com hiporreflexia e hipotonia são
se necessário o conhecimento de certas definições, denominadas paralisias flácidas, caracterizando a
de modo a ajudar numa melhor compreensão das síndrome do neurônio motor inferior, a qual ainda
síndromes as quais abordaremos. Tendo-se em vista congrega atrofia muscular significante, presença de
que as lesões no sistema nervoso manifestam-se por fasciculação e fibrilação e hiporreflexia. O sinal de
alterações de sensibilidade e motricidade, temos: Babinski está ausente. Por outro lado, paralisias com
hiperreflexia e hipertonia são denominadas síndrome
1 – Alterações da motricidade: podem ser do neurônio motor superior, na qual o sinal de
alterações da motricidade voluntária, do tônus Babinski é positivo. Não há atrofia muscular, a não
ou dos reflexos. ser a secundária ao desuso, além de não se
1.1 – Alterações da motricidade voluntária: quando apresentarem fasciculações.
há uma perda de força muscular, fala-se que há
paresia; uma vez que o sintoma seja uma perda 2 – Alterações da sensibilidade: as principais são:
total da força muscular, acarretando na anestesia – perda total de uma ou mais
impossibilidade de realizar movimentos, fala-se modalidades de sensibilidade, sendo mais empregada
em paralisia (ou plegia). Temos cinco para a perda da sensibilidade tátil, reservando-se
importantes definições de plegia: hemiplegia: analgesia para a perda da sensibilidade dolorosa;
paralisia de todo um lado do corpo, isto é, hipoestesia – diminuição da sensibilidade;
membro superior, um lado do tronco e membro hiperestesia – aumento da sensibilidade; parestesias
inferior; monoplegia: paralisia de apenas um – distúrbios na sensibilidade, não causadas por
membro; diplegia: paralisia de dois membros estímulos exteriores ao corpo. Como exemplo, temos
correspondentes, isto é, braços ou pernas; a sensação de “formigamento”.
3 – Lesões da Medula segmentos abaixo do nível da lesão. As sensações
proprioceptivas são preservadas.
3.1 - Transsecção medular completa: resulta na
perda total de sensibilidade e dos movimentos 3.4 - Síndrome da medula central: mais
voluntários abaixo do nível da lesão. Pode ser frequentemente causada por hiperextensão da
causada por fratura com luxação da coluna vertebral, região cervical da coluna vertebral, fazendo com que
ferida por projétil de arma de fogo ou facada, além a ME seja pressionada anteriormente pelos corpos
de tumor expansivo. Após o término do período de vertebrais e, posteriormente, pelo ligamento
choque medular, podemos encontrar: paralisia amarelo, lesionando a região central da medula. Após
bilateral do neurônio motor inferior, acompanhada o período de choque medular, temos: paralisia
de atrofia muscular; síndrome do neurônio motor bilateral do neurônio motor inferior no segmento da
superior bilateralmente, abaixo do nível da lesão; lesão e atrofia muscular; paralisia espástica bilateral
perda bilateral de todas as sensações abaixo do nível abaixo do nível da lesão, com preservação sacral
da lesão, sendo a perda das sensações térmica e típica; perda bilateral das sensações de dor,
dolorosa cerca de dois ou três segmentos temperatura, tato leve e pressão abaixo do nível da
distalmente; perda do controle voluntário sobre as lesão, também com preservação sacral.
funções da bexiga e do intestino, por destruição de
3.5 - Siringomielia: decorre de uma anormalidade do
todas as fibras autonômicas descendentes. Em alguns
casos, no entanto, é possível uma recuperação do desenvolvimento na formação do canal central,
envolvendo mais frequentemente o TE e a região
controle esfincteriano fecal e urinário.
cervical da ME. No local da lesão, há cavitação e
3.2 - Hemissecção medular (Brown-Séquard): pode gliose na região central do neuroeixo. A seguinte
ser causada por fratura com luxação da coluna sintomatologia lhe é típica: perda das sensações de
vertebral, ferida por projétil de arma de fogo ou dor e temperatura em ambos os lados do corpo,
facada, ou, ainda, tumor expansivo. A hemissecção relacionados com os segmentos medulares
incompleta é mais comum, sendo a completa rara. acometidos; fraqueza do neurônio motor inferior nos
Após um período de choque medular, observa-se a músculos distais dos MMSS, podendo ser bilateral ou
seguinte sintomatologia: ipsilateralmente, temos: não, incialmente. À medida que vai acometendo a
síndrome do neurônio motor inferior no nível da região cervical e torácica superior, vai destruindo os
lesão; paralisia espástica abaixo do nível da lesão, cornos anteriores da medula, causando atrofia dos
estando o sinal de Babinski presente; perda da membros superiores; pode ocorrer paralisia espástica
discriminação tátil e sensações vibratórias e da bilateral das pernas, por acometimento dos tratos
propriocepção; contralateramente, encontramos: descendentes na substância branca; a síndrome de
perda das sensibilidades térmica e dolorosa, dois ou Horner pode estar presente.
três segmentos abaixo do nível da lesão; perda do
3.6 - Poliomielite: consiste numa infecção viral aguda
tato protopático e da sensação de pressão.
dos neurônios das colunas cinzentas anteriores da
3.3 - Síndrome da medula anterior (ou de Kahn): ME e dos núcleos motores dos nervos cranianos.
pode ser causada por uma fratura ou luxação Devido à imunização, a doença está praticamente
vertebral, lesão da artéria espinal anterior ou de suas contida. Nos casos de pólio, temos: paralisia e
artérias nutridoras, causando isquemia da ME, ou por emaciação dos músculos, sendo os dos MMII mais
uma hérnia de disco intervertebral. Após o período afetados que os dos MMSS; em casos mais severos, a
de choque medular, podemos encontrar: síndrome respiração pode ser ameaçada devido à extensão da
do neurônio motor inferior, bilateralmente, no nível paralisia aos músculos intercostais e diafragma. Os
da lesão; paralisia espástica bilateral abaixo do nível músculos da face, laringe, faringe e língua também
da lesão; perda bilateral das sensações de dor, podem ser paralisados.
temperatura, tato leve e pressão, dois ou três
3.7 - Esclerose Lateral Amiotrófica (doença de Lou endorfina diretamente no espaço subaracnóideo
Gehrig): confinada aos tratos corticospinais e aos espinal ou no espaço interventricular.
motoneurônios das colunas cinzentas anteriores da
ME. Doença crônica progressiva, possui etiologia 3.10 – Compressão da medula por tumor: as
desconhecida. Tipicamente ocorre no final da meia compressões dividem-se em extradurais e subdurais,
idade, sendo fatal em 2 a 6 anos. Há uma sendo estas últimas divididas, ainda, em
superposição dos sintomas do neurônio motor extramedulares e intramedulares. As causas
inferior, como atrofia muscular progressiva, paresia e extradurais incluem herniação de um disco
fasciculação, com as do neurônio motor superior, intervertebral, infecção das vértebras por
tuberculose e tumores primários e secundários
como paresia, espasticidade e sinal de Babinski. Há
também o acometimento dos núcleos motores dos destas; depósitos leucêmicos e abscessos extradurais
nervos cranianos. também podem comprimir a ME. Os dois tumores
extramedulares mais comuns são meningiomas e
3.8 - Tabes dorsalis: causada pela neurosífilis, fibromas nervosos. As causas intramedulares incluem
acomete mais comumente as regiões da medula tumores primários da medula espinal, como os
torácica e lombossacra. Neste caso, a Treponema gliomas. A sintomatologia é bastante variável,
pallidum induz a destruição seletiva das fibras no conforme a posição do tumor. De acordo com os
ponto de entrada da raiz posterior da medula, tractos lesionados, pode-se apresentar dor inicial, por
ocasionando perda das sensibilidades proprioceptivas acometimento das raízes posteriores, perda da
conscientes (cinético-postural, vibratória e motricidade, por acometimento do córticospinal
discriminação tátil), hipotonia (interrupção do arco- lateral, perda das sensações de dor e temperatura,
reflexo miotático), ataxia (pela perda das destruição do espinotalâmico lateral etc. É
informações proprioceptivas), e o sinal de Romberg importante lembrar-se da laminação de tais tractos, a
está presente. Nas lesões a nível cervical, o sinal de qual influencia na sintomatologia. Por exemplo,
Lhermitte também pode estar presente. Há, ainda, enquanto num tumor intramedular, os segmentos
perda das sensibilidades térmica e dolorosa. sacrais costumam ser preservados, no extramedular,
são os primeiros a serem prejudicados.
3.9 - Tratamento crônico da dor: em casos de
neoplasias malignas, frequentemente existe uma Referências Bibliográficas:
associação a dores crônicas, as quais nem sempre
respondem aos analgésicos mais potentes, como a SNELL, R. S.; Neuroanatomia Clínica, 7ª edição,
morfina. Sendo assim, uma vez que os pacientes Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2011;
estão em estado terminal, para dar um certo
MENESES, M. S.; Neuroanatomia Aplicada, 3ª
“conforto” aos mesmos, são adotadas medidas mais
edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011;
“agressivas” para amenizar as dores. Duas técnicas
GUSMÃO, S. S.; CAMPOS, G. B.; TEIXEIRA, A. L.;
eram bastante utilizadas nesse sentido: a rizotomia
posterior, que corresponde a secção das fibras Exames Neurológicos – Bases
aferentes, interrompendo de modo eficaz a condução Anatomofuncionais, 2ª edição, Rio de Janeiro:
de dor para o SNC e a cordotomia, que consiste na Revinter, 2007;
lesão do trato espinotalâmico lateral, privando os MACHADO, A.; Neuroanatomia Funcional, 2ª
pacientes das sensibilidades térmica e dolorosa. No edição, Rio de Janeiro/São Paulo: Atheneu, 2004.
primeiro caso, o grande inconveniente consiste no
fato de que a cirurgia priva o paciente das demais
sensações, além da dor. No segundo, corre-se o risco
de lesionar-se também o trato corticospinal lateral,
causando paralisia. Técnicas alternativas vêm sendo
utilizadas, como a administração intermitente de

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