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Grande parte das pessoas que perderam um membro ainda pode senti-lo, não associado a

uma memória, mas em detalhes completos de vida. Esses indivíduos podem flexionar as
áreas perdidas ou até mesmo sentir a irritação de uma pulseira no braço que perdeu, o que
sugere a existência de uma espécie de mapa do organismo bem distribuído em nosso
cérebro.

Fonte: https://blog.conforpes.com.br/dr-responde/o-que-e-sindrome-do-membro-fantasma/

A síndrome do membro fantasma possui caráter neurofisiológico, portanto, na qual a parte


amputada desmembra-se do corpo, mas não do cérebro, o que provoca os sintomas
associados à dor denominada fantasma.

Durante longo tempo sustentava-se a crença de que as sensações provenientes de


segmentos ausentes do corpo tinham origem psicológica, o que mudou a partir do século
XXI, momento no qual esta crença foi substituída pela “teoria fisiológica”. Essa mudança
ocorreu devido a avanços nas pesquisas cientificas que relacionaram a síndrome do
membro fantasma às áreas do córtex pós-central, determinando mapas somatossensoriais.
Em resumo, a síndrome do membro fantasma é uma consequência de fatores psíquicos e
fisiológicos, sendo bem explicada de modo amplo pela “teoria fisiológica”.

Essa síndrome afeta a qualidade de vida pessoal e implica diretamente nas ações e
atividades diárias, podendo causar baixa autoestima, alterações funcionais e emocionais.
Podem surgir também sentimento de tristeza, luto, culpa e não aceitação, assim como medo
de que a imagem corporal seja afetada.

Como funciona a dor associada ao membro fantasma?


Para entender melhor os mecanismos da dor fantasma, é necessário considerar todo o
caminho dos impulsos nervosos que vão do membro até ao cérebro.

Os membros do corpo são repletos de neurônios sensoriais responsáveis por diversas


sensações, desde as texturas que sentimos com as pontas dos dedos até a compreensão
de onde o corpo se encontra no espaço. Os caminhos neuronais são designados para
carregar essa entrada sensorial através da medula espinal até o cérebro. Tendo em vista
que grande parte desse caminho vai muito além da região do membro, a maior parte
permanece após uma amputação acidental ou intencional.

A perda de um membro altera o modo como aquelas informações, antes presentes naquela
região, são transferidas até o córtex cerebral. No local de uma amputação, as terminações
nervosas que foram rompidas podem “engrossar” e se tornar mais sensíveis, transmitindo
sinais de perigo mesmo em resposta a uma leve pressão, amplificando a sensibilidade. Sob
circunstâncias normais, estes sinais seriam reduzidos na coluna dorsal da medula espinal,
entretanto, após a amputação ocorre perda desse controle inibitório nessa região da medula
e os sinais se tornam mais intensos.

Posteriormente a esse caminho percorrido na medula, os impulsos nervosos são enviados


para o córtex somatosensorial, onde são processados. O corpo inteiro é mapeado nesse
córtex, no qual é possível visualizar que áreas representativas de muita sensibilidade
nervosa, como os lábios e as mãos, são apresentadas em maior dimensão.

Desse modo, a dor no membro fantasma é uma ilusão que machuca de verdade, pois os
pacientes normalmente referem sentir forte ardência, queimação ou até mesmo beliscões
no membro que foi amputado. Essa dor tende a aparecer com maior frequência em
pacientes que sofreram amputação traumática.

Homúnculo de Penfield

O homúnculo cortical ou homúnculo de Penfield, como é conhecido, é uma representação


psiconeuroanatômica do corpo humano com proporções baseadas no tamanho da
representação de cada parte do corpo no córtex cerebral. É basicamente uma imagem
corporal que o homem tem dele mesmo, possibilitando reconhecer a correspondência de
regiões corticais cerebrais com áreas do corpo humano. A quantidade de córtex dedicada a
uma parte especifica do corpo pode crescer ou encolher com base em quanta entrada
sensorial o cérebro recebe dessa parte do corpo. Por exemplo, a representação da mão
esquerda é maior em violinistas do que em não violinistas, o que demonstra íntima relação
com o nível de estimulação do membro. O cérebro também aumenta a representação
cortical quando uma parte do corpo é ferida a fim de aumentar as sensações indicativas de
perigo, sendo uma forma de alerta. Esta crescente representação pode levar à dor
fantasma.
Fonte: https://www.psicologiaprevitali.com.br/homunculo-de-penfield/

O Dr Sabbatini afirma que “no homúnculo motor, a região correspondente à boca e à língua
ocupava uma área muito grande do córtex motor, assim como a do polegar e dos dedos da
mão (regiões de movimentos complexos e muito finos), ao passo que a região
correspondente às nádegas, pernas etc., ocupavam uma área relativamente muito menor
(por terem movimentos mais grosseiros). No homúnculo sensorial, os lábios e as bochechas
e as pontas dos dedos eram as que apareciam com maiores áreas, uma vez que são as
mais sensíveis do nosso corpo, por terem mais sensores por centímetro quadrado que
qualquer outra área do corpo, e ocupando, portanto, uma área desproporcionalmente maior
do córtex” (Sabbatini, 1998).

Estima-se que o mapa cortical também é responsável pela sensação de partes do corpo
que não estão mais lá porque elas ainda têm representação no cérebro. Com o tempo, essa
representação pode encolher e o membro fantasma pode encolher com ele.

Dor fantasma

A dor pode ser definida como uma sensação desagradável originada por estímulos que
indicam lesão tecidual e possui componentes cognitivos, sociais e físicos. A sensação
dolorosa do membro amputado pode se apresentar como compressão, ardência e
queimação, e estar ligada não só aos aspectos físicos, como também aos psíquicos, apesar
de atualmente ser melhor sustentada a “teoria fisiológica” no caso dos amputados.
No período crítico, ou seja, na primeira semana após a amputação, todos os pacientes
referem dor. Esse quadro pode desaparecer e retornar após meses ou anos, sendo
comumente localizado na região distal dos membros. Existem alguns fatores de agravo da
dor, tais como toque no coto, pressões fortes na região, alterações de temperatura, reflexos,
dores de outras origens ou ainda o período de adaptação ao uso das próteses. Os fatores
de melhora, proporcionando alívio, são o repouso, distração, elevação do segmento e
massagem terapêutica no coto.

Quando ocorre a secção de um conjunto de nervos periféricos, as informações sensoriais


tornam-se completamente ausentes, o que promove um hiperativação dos neurônios
pertencentes ao sistema nervoso central. A reorganização do córtex pela superposição das
representações dos segmentos do corpo se relaciona com a intensidade da dor que
determinado membro apresenta. Assim, o processo de neuroplasticidade está envolvido
com a referida reorganização e é um mecanismo chave para a reabilitação no
pós-operatório de amputação.

Sinais e sintomas

Os sintomas gerais que são relatados, alguns já ditos aqui, são:

● Queimação;
● Situações ilusórias da existência do membro;
● Parestesia;
● Câimbras.

Em casos específicos de comprometimento do plexo braquial, pode-se perceber:

● Estiramento da mão irradiando para a região do cotovelo;


● Constrição do pulso;
● Impulsos elétricos e espasmos nas mãos;
● Sensação subjetiva de desaparecimento de porções do membro.

Um caso raro e bastante curioso, mas também possível, é a duplicação de membros, no


qual indivíduos relatam a presença de um membro fantasma e de um membro paralelo.

Variações de membro-fantasma

Há algumas manifestações dessa síndrome, as quais evoluem de modos diferentes


dependendo das condições em que o paciente se encontra.

A tetraplegia, por exemplo, que ocorre em pacientes que foram vítimas de trauma
raquimedular, pode desencadear a síndrome do membro fantasma nos quatro membros,
levando a situações de grande desconforto. Além desta, outra condição que leva a
sensação fantasma é a mastectomia radical. No caso da mastectomia, as pacientes relatam
perceber ainda a presença dos seios mesmo após o procedimento, referindo dor e até
mesmo acreditando que houve alguma falha no procedimento cirúrgico devido aos sintomas
intensos e persistentes.

Tratamento

O tratamento para a dor fantasma normalmente requer uma combinação de fisioterapia,


medicamentos para o tratamento da dor, próteses e tempo.

O tratamento fisioterapêutico envolve basicamente:

● Cinesioterapia ativa e resistida;


● Uso de vários objetos com participação ou não da visão;
● Dessensibilização da região do coto;
● Enfaixamento do coto;
● Reeducação postural;
● Adaptação de meias compressivas em conjunto com a prótese;
● Exercícios ativos domiciliares;
● Escolha correta de calçados.

Quanto ao tratamento farmacológico, pode-se perceber a utilização de analgésicos opioides


endógenos e fármacos anestésicos locais. Os primeiros são benéficos em dores
neuropáticas, a exemplo das provenientes do câncer e da neuralgia pós-herpética. Já os
anestésicos podem diminuir o quadro álgico pós-amputação.

Substâncias que possuem evidência de efeitos benéficos no controle da dor proveniente do


membro fantasma:

● Morfina;
● Quetamina;
● Cloridato de Tramadol;
● Memantina;
● Toxina botulínica.

Uma técnica denominada Terapia de caixa de espelho pode ser útil no desenvolvimento
da amplitude de movimento que foi perdida e reduzir a dor no membro fantasma. Consiste
no seguinte procedimento: o paciente coloca o membro fantasma numa caixa atrás de um
espelho e o membro intacto na frente do espelho, o que o faz ver dois membros idênticos
dos dois lados e isso “engana” o cérebro, projetando e sensação de ter ambos os membros
intactos.
Fonte:
https://dorescronicas.com.br/portfolio/dor-por-amputacoes-e-a-caixa-de-espelho/

Cientistas estão desenvolvendo tratamentos de realidade virtual que fazem a experiência


de terapia de caixa de espelho ainda mais realista. As próteses também podem criar um
efeito semelhante. Muitos pacientes relatam dor, principalmente quando removem sua
prótese à noite, mas com a realidade virtual os membros fantasmas são vistos como
extensões do corpo devido a projeção que ocorre. Alguns estudos demonstraram que o
tratamento com realidade virtual pode resultar em redução na intensidade e percepção da
dor no membro fantasma e, como consequência, melhora na qualidade do sono, redução no
uso de medicação para alívio da dor e melhor desempenho nas atividades cotidianas
diárias.
Fonte:
https://www.tecmundo.com.br/realidade-aumentada/112382-realidade-aumentada-solucao-c
ura-membros-fantasma.htm

Portanto, é notório que a amputação não significa a exclusão de uma pessoa do meio em
que ela está inserida, assim como de suas atividades normalmente exercidas, mas sim uma
nova fase de desafios que precisam ser enfrentados e vencidos.

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