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Psicologia Argumento Artigo PDF
Psicologia Argumento Artigo PDF
[T]
[A]
Sandra Adriana Neves Nunes , Marcos Gimenes Fernandes , Arsenio José Carmona Gutierrez[c]
[a] [b]
[R]
Resumo
[a]
Doutora em Psicologia As contribuições de Vygotsky para a pesquisa em psicologia parecem inegáveis na atualidade,
, Professora Adjunta da
mas permaneceram por algum tempo silenciadas. As razões para que continuem despertan-
Universidade Federal do
Sul da Bahia (UFSB) e-mail: do o interesse de pesquisadores no mundo inteiro estão, essencialmente, no seu rigor meto-
psandranunes7@hotmail.com dológico e nas características de seu sistema conceitual aberto e dialético, que permitiram a
compreensão aprofundada da natureza e do desenvolvimento dos processos psicológicos hu-
[b]
Doutor em Educação Física,
manos. O presente artigo centra-se na discussão de aspectos epistemológicos gerais da Teoria
professor do Departamento
de Ciências da Saúde da Histórico-Cultural de Vygotsky e nas suas implicações para a Psicologia do Desenvolvimento
Universidade Estadual de Santa Infantil. Parte-se do debate clássico da Filosofia da Ciência acerca da relação entre sujeito e ob-
Cruz (UESC), Ilhéus, BA – Brasil,
jeto, que fundamenta a crise da Psicologia referente à escolha do seu objeto de estudo. Em se-
e-mail: gimenes@uesc.br
guida, apresenta-se o Sistema Filosófico Marxista que fornece à Psicologia Histórico-Cultural
[c]
Doutor em Educação, professor uma concepção a respeito de mundo e de humanidade, das leis de seu desenvolvimento e
do Departamento de Ciências das vias de acesso e de produção do conhecimento. Uma vez discutida as bases filosóficas da
da Educação da Universidade
Teoria Vygotskyana, identificam-se e explicitam-se os seus princípios fundamentais: o princí-
Estadual de Santa Cruz (UESC),
Ilhéus, BA – Brasil, e-mail: pio da unidade da consciência e da atividade e o princípio da unidade do biológico e do social.
pcarmonauniversiabrasil@ Conclui-se com um debate acerca das implicações dessa perspectiva teórico-epistemólogica
hotmail.com
para a compreensão do desenvolvimento psicológico infantil. [#]]
a conception about world and humankind, the laws of its development and access and produc-
tion routes of knowledge. Once discussed the philosophical basis of Vygotsky’s theory, we identify
and explain its fundamental principles: the principle of unity of consciousness and activity and
the principle of unity of biological and social. We conclude with a discussion of the implications
of this theoretical-epistemological perspective to understand the psychological development of
children.
[K]
XIX unificaram-se no sistema teórico da Psicologia que negavam os aspectos subjetivos humanos no
Mentalista ou Idealista. A Psicologia Idealista ou campo da pesquisa em Psicologia.
Mentalista compreende os processos psicológicos Vygotsky (1990/1927) afirma que os novos
de forma relativamente autônoma em relação à sistemas psicológicos acabaram por produzir uma
base biológica e ao ambiente. Entendido como uma inversão da noção do que era considerado, pela
instância psicológica estruturada por imagens e Psicologia Clássica, como “tipo” e “variação”. A
símbolos que não apresentam uma relação lógica e Reflexologia e o Comportamentalismo, por exem-
temporal com o contexto social e cultural do indiví- plo, adotaram como “tipo” o animal, ao passo que a
duo, o psiquismo seria responsável por gerar seus “variação” seria o homem. A Psicanálise propõe que
próprios conteúdos. a mulher histérica seria o “tipo”, enquanto que to-
Na Psicologia Idealista, o meio de o pesquisa- dos os demais seriam “variações” do funcionamento
dor acessar os conteúdos mentais é o racionalista- neurótico. A Psicopatologia segue a mesma direção,
-empírico, que tem como premissa epistemológica propondo variações normais de tipos de caracteres
a crença de que a capacidade que o sujeito teria de patológicos.
ter consciência dos estados subjetivos poderia ser Para o autor, tanto as teorias de base subjetivista
treinada para fins de produção de conhecimento como as de base objetivista estavam produzindo co-
acerca da própria consciência. A Fenomenologia nhecimentos parciais, porque empregavam lentes
de Husserl (1859-1938) e o Introspeccionismo de unidimensionais para apreender o objeto. O proble-
Wundt (1832-1920) são exemplos que representam ma epistemológico de base gerava explicações redu-
o idealismo na Psicologia da época. cionistas da realidade e propagava posturas dogmá-
Nas primeiras décadas do século XX são produ- ticas entre os pesquisadores. O Introspeccionismo,
zidas profundas críticas contra essa postura meto- por exemplo, somente interessava-se pela consci-
dológica subjetivista, introspectiva e interpretativa. ência e ignorava a conduta e as manifestações in-
Além do caráter especulativo do método, os men- conscientes. O Comportamentalismo de Watson,
talistas, de acordo com Vygotsky (1990/1927), ao por sua vez, apenas reconhecia o comportamento,
realizar seus estudos com homens adultos e sãos, ignorando a consciência, e a Psicanálise interessa-
assumiam que esse seria o “tipo” de funcionamento va-se, fundamentalmente, pelo conceito de incons-
psicológico humano que servia de parâmetro para ciente em suas múltiplas manifestações. De fato,
estabelecer o que seriam as “variações” desse “tipo”. segundo Vygotsky (1990/1927), cada um desses
Partindo de uma visão adultocêntrica e sexista, as sistemas buscava construir uma psicologia positiva,
crianças e mulheres adultas seriam as “variações”. atribuindo indiscriminadamente as suas descober-
As funções mentais das crianças, por exemplo, eram tas científicas o status de conceito teórico geral. A
tomadas como qualitativamente semelhantes às Reflexologia, ao estabelecer a noção de reflexo, ex-
dos adultos, mas quantitativamente inferiores. trapolava essa noção para explicar toda a conduta
Para se contrapor aos idealistas, erguiam-se no- animal e humana; a Psicanálise, ao desvendar os
vos sistemas teóricos em diferentes continentes. impulsos inconscientes, assume-os como princípio
As novas correntes teóricas passaram a defender a da motivação e ato humano.
transformação da Psicologia em uma ciência natu- O erro metodológico da Psicologia Positivista
ral, positiva, a exemplo da Biologia e da Física. Para consistia em empregar somente o enfoque de bai-
esse grupo, a Psicologia deveria ser objetiva e mate- xo para cima (que parte do fato empírico, particu-
rialista, na qual a experiência direta (empiria) seria lar e o transforma em conceito científico). O autor
fundamental na pesquisa científica. Por essa razão, identifica um padrão uniforme decorrente desse
escolas como a Reflexologia de Pavlov (1849-1936) erro: Primeiro se chegava a uma descoberta inicial
e o Comportamentalismo de Watson eliminaram (reflexo condicionado salivar, neurose histérica, por
os fenômenos que não eram diretamente observá- exemplo). Em seguida, apresentava-se a conceitua-
veis ou de questionável verificação empírica de seu ção e elaborava-se um sistema explicativo (Conduta
programa científico. Resultaram de seus empreen- ® reflexos; ICS ® libido). Num terceiro momento,
dimentos experimentais, descobertas parciais que era realizada a generalização do conceito ou sis-
supervalorizavam os fatores orgânicos e ambientais tema explicativo a todas as classes de fenômenos
para a compreensão do comportamento humano e (conduta ® soma de reflexos; desenvolvimento ®
transformação da libido). Finalmente, o conheci- histórica. A postura dialética busca descobrir a uni-
mento científico desvinculava-se da realidade práti- dade real e o caráter concreto e multidimensional
ca que o havia gerado e era transformado em visão dos fatos e o historicismo é considerado um aspecto
de mundo (ontologia). essencial na explicação dos fatos e fenômenos do
Assim, o que Vygotsky sugere é que a fragmenta- desenvolvimento do homem como ser social.
ção da Psicologia em escolas e correntes não apenas
gerava discordâncias em termos de conclusões a
respeito dos fatos psicológicos, mas, sim, que os pró- Sistema Filosófico do Materialismo Histórico e
prios fatos psicológicos não coincidiam na Ciência Dialético
Psicológica. Múltiplas abordagens, sobre múltiplos
fatos, que geram verdades múltiplas. Nas palavras De um ponto de vista materialista histórico e
do autor, “um fato qualquer, expressado sucessiva- dialético, o mundo natural, físico – das coisas – é
mente mediante os conceitos de cada um desses distinto do mundo social e histórico dos homens.
três sistemas [Introspeccionismo, Reflexologia e Ainda que todos os fenômenos da realidade mante-
Psicanálise], adota três formas completamente dis- nham uma relação de interdependência (ou de rela-
tintas; mais exatamente, três aspectos diferentes do ção mútua entre si), as leis que regem as relações de
mesmo fato; ou ainda melhor, três fatos distintos” dependência entre os objetos do mundo físico são
(1990/1927, p. 299). naturais, frutos de investigação de diferentes ra-
O autor prossegue deduzindo que o que cada mos das ciências naturais, como a física e a química
uma dessas escolas pretendia era possuir um sis- (Marx & Engels, 2002/1845).
tema explicativo que serviria de base para uma Os fenômenos de natureza histórico-social, por
Psicologia Geral. A divergência metodológica gera- sua vez, têm leis próprias inerentes a essa natureza.
va, assim, ontologias distintas que eram incomuni- Nessa perspectiva filosófica, as leis das ciências na-
cáveis entre si e apontava a necessidade prática de turais não dariam conta da elucidação dos proble-
se sistematizar uma disciplina metateórica, capaz mas humanos. Para Vygotsky (1990/1927), o méto-
de reunir um conjunto de conceitos e princípios ex- do materialista dialético seria o único método capaz
plicativos comuns para unificar Psicologia. de oferecer as leis gerais que buscam compreender
A falta de princípios teóricos gerais, explicativos, e explicar os fenômenos psicossociais.
unificadores dentro da Psicologia, levava ao redu- As leis do materialismo dialético baseiam-se na
cionismo, ou ao seu oposto, o ecletismo (González, lógica dialética hegeliana, substituída a sua base
2003). Enquanto o enfoque reducionista na idealista por uma perspectiva material da realidade.
Psicologia é movido pelo dogmatismo e orienta-se A dialética hegeliana é dita idealista porque exclui
para o estudo de apenas um aspecto da realidade, elementos históricos e materiais de sua análise da
a postura eclética aceita e une fragmentos opostos realidade (Marx & Engels, 2002/1845). Para Marx
entre si, advindos de distintas teorias e enfoques e Engels (2002/1845) a dialética idealista de Hegel
epistemológicos, sem preocupar-se em realizar produz uma história de natureza mnemônica, isto é,
uma análise concreta que leve em consideração as que se fundamenta na consciência da consciência.
relações, o lugar e o momento em que uma determi- De acordo com a visão marxista, o erro da dialética
nada afirmação é verdadeira e a contrária não o é. hegeliana está em pressupor que a consciência ex-
Para Vygotsky (1990/1927), as respostas produ- plica o ser, quando em realidade deveria ser o ser
zidas para superar a crise: negar a crise, oferecida social, em suas condições concretas de vida, que de-
pelo ecletismo, ou tomar um partido entre posições terminaria a consciência. Assim, enquanto que para
polarizadas e reducionistas (minha teoria versus as Hegel o mundo se constitui a partir do pensamento,
teorias erradas), não haviam sido satisfatórias. Na para Marx e Engels (2002/1845) o pensamento é
sua visão, ambos os posicionamentos desconsidera- que se constitui a partir da realidade, pois “as idéias
vam a essência dialética e histórica dos fenômenos nada mais são do que coisas materiais transpostas e
psicológicos e sociais. Vygotsky (1990/1927) opta traduzidas na cabeça dos homens” (p. 203).
pelo método positivo, explicativo e científico, mas A partir dessa perspectiva, o mundo não é visto
expressa suas reservas. Para ele a Psicologia, além como um conjunto de coisas perfeitas e acabadas,
de materialista e científica, deveria ser dialética e mas sim como um complexo de processos. As
fases do processo são a tese, antítese e síntese. O de conhecimento. Como resposta a essas deman-
confronto da tese com a antítese gera uma síntese, das, surgiam tentativas de construir uma Biologia
qualitativamente diferentes do estágio anterior de Marxista, uma Física Marxista, uma Ciência Agrícola
desenvolvimento. O desenvolvimento dos proces- Marxista (Kozulin, 1994; Rubinstein, 1964).
sos não segue um movimento linear e é necessário Vygotsky (1990/1927) afirmava que a Psicologia
captar seu movimento e as forças que promovem os Marxista podia ser tão dogmática, reducionista e
saltos. falsedora da realidade quanto qualquer outra cor-
Todo fenômeno psicológico, nesse sentido, so- rente na Psicologia. No seu texto “Sobre Método
mente pode ser compreendido em sua dinamici- de Investigação Reflexológica em Psicologia”
dade, dentro das condições sociais e históricas em (Vygotsky, 1984/1930) o autor analisa os traba-
que é produzido. Compreender o fenômeno psico- lhos de alguns pesquisadores russos da época
lógico e social implica desvendar sua estrutura e como Blonski (1884-1941), Kornilov (1879-1957),
processo, situá-lo no espaço e tempo. Qualquer in- Bekhterev(1857-1927) e Pavlov (1849-1927) que
vestigação que toma o homem fora de seu contexto aboliram a consciência e processos psicológicos su-
histórico leva ao conhecimento parcial e ideologi- periores e mostra-se contrário a essa postura dog-
zado (Marx & Engels, 2002/1845). Assim, a visão mática: “Não quero descobrir [a natureza da] psi-
de mundo e de ser (ontologia) do materialismo que de graça, recolhendo algumas citações. Quero
histórico e dialético implica um olhar e uma com- aprender, a partir do conjunto do método de Marx
preensão do mundo (epistemologia) e de homem como construir uma ciência, como abordar a inves-
(antropologia). tigação da psique” (Vygotsky, 1991/1925, p. 421).
Além disso, o método dialético se expressaria No artigo “A Consciência como Problema da
concretamente na integração de diferentes técnicas Psicologia do Comportamento” (1991/1925), con-
e práticas profissionais da Psicologia que estavam trapondo-se ao pensamento hegemônico mecani-
se desenvolvendo desconectadas da psicologia teó- cista, Vygotsky defende a ideia de que a Psicologia
rica. Para Vygotsky (1990/1927), a prática teria um como ciência particular deveria dirigir seus esforços
papel fundamental no desenvolvimento da ciência à pesquisa da consciência e da conduta do homem,
psicológica. De fato, ao confrontar-se com os pro- como ser histórico, social, trabalhador e consciente.
blemas práticos observados na clínica, na escola e O autor partia da premissa de que os fenômenos psi-
na indústria, a Psicologia se veria obrigada a rever cológicos tipicamente humanos, aqueles mediados
seus próprios princípios. O autor conclui, com base pelos signos, como a atenção voluntária, a memória
nesse raciocínio, que a epistemologia e a prática episódica e semântica e o pensamento verbal, se-
formam uma unidade que dá origem e impulsiona a riam qualitativamente diferentes dos processos psi-
Crise e, em si mesma, a fonte de sua superação. cológicos elementares, observados numa variedade
de espécies animais. Orientado pela ideias de Marx,
Vygotsky apontava que o método “de cima para bai-
Teoria histórico-cultural xo” poderia ser útil na Psicologia, assim como fora
na análise econômica e social da sociedade capita-
A Teoria histórico-cultural de Vygotsky nasceu lista produzida em “O Capital”.
como um projeto científico ambicioso que buscava
construir uma Psicologia verdadeiramente cientí-
fica, assentada sob o método materialista históri- O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores
co e dialético. De fato esse foi um projeto inédito,
ainda que na Rússia pós-revolução (1917) toda Os processos psicológicos superiores dizem res-
a Psicologia de linha marxista estivesse empe- peito às capacidades psicológicas especificamente
nhada em construir uma Psicologia positiva. Isso humanas, como o pensamento conceitual, a memó-
porque o momento histórico pós-revolucionário ria semântica e a imaginação que se formam pela
imprimia uma nova organização social na Rússia, mediação cultural e se desenvolvem com a ajuda dos
que visava instaurar o comunismo como modo de procedimentos sociais de produção intelectual, dos
produção. Com a Revolução Socialista, uma série quais se apropria o indivíduo. Consequentemente,
de demandas foram impostas às diferentes áreas sua estrutura e o mecanismo de sua realização têm
uma origem social e se desenvolvem sob a influên- Diferentemente dos demais animais, é peculiar
cia da educação informal e formal na maioria das ao homem a capacidade de intervir transformando
culturas humanas (Vygotsky, 1995/1931). radicalmente o meio em que vive. Ao transformar a
Os processos psicológicos elementares, por sua realidade, o homem transforma a si mesmo (Leontiev,
vez, presentes também em outras espécies animais, 1978b). Os meios e os processos envolvidos na trans-
deveriam ser explicados mediante a complexifica- formação da natureza são, ao mesmo tempo, objetivos
ção de estruturas e do funcionamento de seu siste- (instrumentos externos) e subjetivos (instrumentos
ma nervoso, pela ação das leis biológicas da evolu- internos, ou psicológicos). A atividade é a categoria
ção propostas por Darwin (1859). Entretanto, para que explicita a dialética do sujeito e objeto. Assim,
explicar o psiquismo humano, o autor enfatizava a relação do homem com a realidade que o rodeia é
que as leis da evolução biológica deveriam ceder definida como uma inter-relação ativa (Rubinstein,
lugar à ação das leis de natureza histórico-social 1962; Kossakowski, 1987; Leontiev, 1978a).
(Vygotsky & Luria, 1996; Vygotsky, 1995/1931). Essa visão sustenta um dos mais importantes
Para o autor, na realidade, as duas linhas de desen- princípios da Psicologia Vygotskyana: o princípio
volvimento (a natural e a histórico-cultural) estão da unidade da consciência e da atividade. Aqui
presentes na ontogênese formando um processo a consciência adquire materialidade/objetividade
único e complexo que se interpenetram, dando ori- e sai do campo da metafísica, deixando de ser uma
gem a um indivíduo de natureza biológico‑social. entidade abstrata (Kossakowski, 1987; Abuljanova-
Essa diferenciação entre as linhas de desenvol- Slavskaia, 1987; Colectivo de Autores, 1989).
vimento foi posteriormente alvo de críticas de seus
seguidores, como Davidov, que a entendia como
desnecessária, haja vista que as funções psicológi- Princípio da unidade da consciência e da atividade
cas do ser humano, desde seu nascimento, são so-
cialmente determinadas (Davidov, 1988). Leontiev O princípio da unidade da consciência e da ati-
e Luria (1968) defenderam, entretanto, que tal di- vidade explicita o caráter dialético e materialista
visão dos processos em linhas de desenvolvimento dessa abordagem. A categoria atividade foi desen-
constituía somente um artifício metodológico. Nas volvida inicialmente por Rubinstein e Leontiev, a
palavras de Vygotsky (1987, p. 40): partir da década de 1930 (Rubinstein, 1962, 1964).
Enquanto Leontiev tomou como objeto central da
El desarrollo cultural del niño se caracteriza preci- Psicologia a atividade externa, prática do sujeito,
samente, en primer lugar porque se realiza con un Rubinstein centrava seus esforços para elucidar o
cambio dinámico del tipo orgánico. Se apoya sobre problema da atividade interna da personalidade.
los procesos de crecimiento, maduración y progre- Para Leontiev (1978a) a atividade tipicamente
so orgánico del niño y forma con él un todo único. humana é movida por necessidades ou interesses
Solamente mediante la abstracción podemos separar de um sujeito para uma finalidade. O sujeito é ati-
estos procesos. vo e atua sobre os objetos da realidade, mas a sua
atuação não é biologicamente programada, mas sim
Como é possível deduzir, dentro da lógica mate- impulsionada por motivos. A atividade humana é,
rialista histórica e dialética, a análise do psiquismo por isso, sempre orientada para algo ou alguém,
deveria partir daquelas formas da conduta que di- como um movimento resultante das necessidades
ferenciam a conduta do homem da conduta dos de- (ou interesses) internas e externas dos sujeitos.
mais animais. Nos animais, o processo que envolve Rubinstein (1962), por sua vez, enfatizou a im-
as relações de regulação entre o organismo e seu portância central da categoria personalidade para
meio fundamenta-se tanto nas mudanças adaptati- a teoria psicológica de orientação filosófica mar-
vas que acontecem no organismo (e órgãos) como xista. Para o autor, o psiquismo humano surge e
no psiquismo; desde sua forma mais elementar, se manifesta na atividade externa (na transforma-
encontrada em seres vivos bastante simples, até ção do mundo e de si mesmo), como um reflexo do
as formas mais complexas, encontradas em símios mundo social e natural que existe fora do sujeito.
e, em grande extensão, no homo sapiens (Leontiev, Entretanto, a consciência humana e a personalidade
1978b). têm um papel ativo e criador na atividade humana
de transformação do mundo e de si mesma. Esse pa- não alcançam as qualidades psíquicas característi-
pel pode ser percebido na regulação intencional de cas dos homens. Essas constatações corroboram a
toda atividade externa (falar, ler, andar etc.). hipótese de que sejam necessárias características
Pesquisadores atuais dessa escola teórica enten- genéticas e funcionais de um cérebro humano para
dem que a abordagem das diversas funções psíquicas que seja possível o processo específico da ontogêne-
superiores, a partir da categoria atividade, necessita se do psiquismo humano (Zaporozhets, 1987).
considerar suas duas características fundamentais: As diferenças qualitativas entre os animas e hu-
sua objetividade e sua subjetividade (González, manos, sustentadas pelas bases orgânicas, também
2003). A atividade não só é objetiva no sentido de podem ser observadas entre o desenvolvimento on-
que está determinada pelo mundo material objetivo, togenético e o desenvolvimento filogenético do psi-
mas também no sentido de que o mundo material quismo humano (Vygotsky, 1991/1925). Enquanto
atua sobre o homem por meio de sua atividade e não a filogênese da consciência humana se desenvolve
diretamente. Surge, assim, uma interação recíproca sem mudanças relevantes nas propriedades morfo-
entre o objeto e o sujeito da atividade: por um lado, lógicas do homem da transição do paleolítico mé-
o objeto aparece em uma relação com a atividade e, dio para o superior (Vygotsky, 1991/1925; Mithen,
por outro, o sujeito se dirige ao objeto como objeto 1998), a ontogênese do psiquismo na criança ocorre
de uma necessidade (Gutierrez, 2002). no processo de amadurecimento de um organismo
infantil (Vygotsky, 1995/1931; Luria, 1978). Assim,
o cérebro de um recém-nascido se diferencia do cé-
A unidade do biológico e do social rebro adulto quanto ao seu tamanho e à sua estru-
tura interna, assim como quanto às suas possibili-
O segundo princípio fundamental da teoria his- dades funcionais (Luria, 1988). Antes de atingir seu
tórica é o princípio da unidade entre o biológico amadurecimento, experimenta mudanças essenciais
e o social. A relação entre a biologia e a cultura é e, nos diferentes períodos de desenvolvimento, ge-
um tema historicamente controverso na história da ram-se possibilidades diferenciadas para a apropria-
Psicologia, revelando posicionamentos irredutíveis ção de novas experiências e formação de novos pro-
e inconciliáveis. Segundo Zaporozhets (1987), a cessos (Vygotsky, 1995/1931; Luria, 1988). A esse
oposição do biológico e do social deve ser conside- respeito, existe a hipótese de que a aprendizagem,
rada como relativa, haja vista que as particularida- que estimula o desenvolvimento de determinadas
des morfofisiológicas do homem se desenvolveram funções psicofisiológicas, seja particularmente efe-
e fixaram hereditariamente no período da antropo- tiva nos primeiros anos de vida, quando acontecem
gênese primitiva, sob a influência das práticas so- os períodos mais intensos de amadurecimento dos
cioprodutivas do homem na sociedade primitiva e, mecanismos nervosos correspondentes (Vygotsky,
também, de sua comunicação linguística. 1995/1931; Luria, 1988). A partir dessa perspectiva
A visão de Zaporozhets (1987) é representativa teórica, a aprendizagem não só conduziria a mudan-
da Psicologia Histórico-Cultural que enfatiza a de- ças funcionais, mas poderia ter também influência
pendência da consciência humana nas condições direta na formação do substrato cerebral da ativida-
educativas e vitais da sociedade, mas não nega as de psíquica. Em contrapartida, as particularidades
propriedades orgânicas do indivíduo para seu de- morfofisiológicas, como um processo de amadure-
senvolvimento psicológico (Luria, 1978). Um ser vivo cimento normal na infância, são condições não só
tem que nascer com particularidades morfofuncio- importantes, mas necessárias, para um desenvolvi-
nais herdadas, especificamente humanas, para que mento psicológico satisfatório.
possa produzir-se um processo de desenvolvimento
psíquico especificamente humano (Luria, 1978).
Experimentos realizados com primatas (Kellogg O desenvolvimento infantil sob o ponto de vista
& Kellogg, 1933; Ladygina-Kohts, 2002 e Gardner & da Psicologia Histórico-Cultural na atualidade:
Gardner, 1994) constatam que se eles são colocados Implicações para a pesquisa
em condições de vida e educação similares as de
uma criança, adquirem uma série de comportamen- A psicologia Vygotskyana atual aborda o desen-
tos não usuais para sua espécie, mas, apesar disso, volvimento psicológico como um processo dinâmico
que conduz a mudanças quantitativas e qualitativas sua conduta. Com o terceiro critério se explicita que
do conjunto de funções e atividades, assim como dos cada período exige suas próprias formas e métodos
elementos particulares do comportamento humano de influência educativa sobre a criança. Com a influ-
(Galperin, 1987; Davidov, 1988; Colectivo de Autores, ência constante do meio educacional e com a ida-
1989; Przetacznikowa, 1987). A mudança no desenvol- de, muda o volume e o caráter das informações que
vimento psicológico tem caráter progressivo e orien- estimulam o desenvolvimento dos conhecimentos
tado à realização de formas cada vez mais efetivas de e se diferenciam os meios de educação de crianças
regulação da inter-relação entre o indivíduo e o meio e jovens (Zaporozhets, 1987). Vale ressaltar que os
(Zaporozhets, 1987; Galperin, 1987; Davidov, 1988; três critérios mencionados são abordados na sua
Colectivo de Autores, 1989; Przetacznicowa, 1987). relação mútua: as mudanças na consciência se rea-
As mudanças qualitativas, mais importantes, lizam sob a influência da educação e se expressam
ou seja, as transformações essenciais na conduta nas mudanças de atividade e ação da criança.
dos indivíduos e na sua consciência, determinam
o passo à fase seguinte de desenvolvimento, a uma
nova fase da vida, diferenciada das precedentes. Sobre a análise condicional e causal do desenvolvimento
Parte-se de uma concepção de desenvolvimento por
estágios, por sequência de fases (Leontiev, 1978b; Para Przetacznikowa (1987), o problema das
Vygotsky, 1995/1931; Zaporozhets, 1987). Os perí- condições e dos fatores do desenvolvimento psí-
odos ou etapas e dentro deles as fases, delimitadas quico é ao mesmo tempo o problema de seus me-
por mudanças específicas de menor abrangência, canismos, das forças motrizes de sua dinâmica. A
constituem fatos psicológicos reais. Em outras pa- análise condicional e causal do desenvolvimento
lavras, essa característica de constituição em etapas ontogenético pode contribuir à solução do proble-
(a regularidade da sucessão das mudanças no de- ma (Przetacznikowa, 1987). A primeira (a análise
senvolvimento) é considerada uma propriedade es- condicional) procura a pesquisa das condições nas
trutural do processo de desenvolvimento e, ao mes- quais se realiza o desenvolvimento do homem; a ou-
mo tempo, um elemento essencial da organização tra (a análise causal) procura identificar e explicar
psíquica (Leontiev, 1978b; Vygotsky, 1995/1931; os nexos entre causas e efeitos neste processo.
Zaporozhets, 1987). Ao diferenciar as condições das causas, a auto-
Naturalmente, os limites dos estágios não são ra propõe que o desenvolvimento psicofísico de um
fixos e dependem da dinâmica e do ritmo individu- organismo é um processo que se efetua em determi-
al de desenvolvimento. Mas, em cada etapa surge nadas condições. Das condições de desenvolvimen-
um complexo peculiar de qualidades que em cada to depende a aparição e continuidade de um deter-
criança se manifesta de maneira individual e única. minado fenômeno, ou a permanência de um estado
A delimitação e aproximação dos estágios a respeito de coisas. As causas, por sua vez, são um tipo parti-
de determinados anos da vida (delimitação crono- cular de condições. Entretanto, elas somente podem
lógica) tem lugar sobre a base de três critérios: 1) O ser identificadas quando um determinado fenôme-
tipo e o nível de conhecimento e consciência da rea- no ocorre, necessariamente, a partir de outro, numa
lidade que circunda a criança; 2) A atividade predo- relação irreversível (Przetacznikowa, 1987).
minante na criança; 3) As formas e métodos espe- Frequentemente, na Psicologia do
cíficos de influência educacional (Leontiev, 1978b; Desenvolvimento, tanto as condições externas
Zaporozhets, 1987). (meio) como as internas do desenvolvimento psico-
O primeiro critério significa que em cada um dos lógico (fatores orgânicos) são chamadas fatores de
períodos mencionados se verificam mudanças es- desenvolvimento. As causas, nesse contexto, são ao
senciais no tipo de compreensão dos objetos e fenô- mesmo tempo os mecanismos e as forças motrizes
menos do mundo circundante, mudanças no tipo de do desenvolvimento, sendo que as forças motrizes
conhecimento da realidade (nas formas da percep- estão inter-relacionadas por uma rede de causas e
ção, memória, pensamento etc.). O segundo critério efeitos com as mudanças e efeitos evolutivos.
assinala que em cada período ocorrem importantes A partir da análise condicional e causal pro-
mudanças na atividade da criança, mostrando no- posta por Przetacznikowa (1987), é estabelecida
vas formas de ação e de atividades que modificam uma abordagem alternativa que estabelece uma
delimitação entre as condições em que acontece o primariamente, por que ou de que modo e por que
desenvolvimento psicológico e as determinantes, ou meio acontecem as mudanças evolutivas.
causas, do dito desenvolvimento. No grupo dos con-
dicionantes, encontramos as condições genéticas e
ecológicas do desenvolvimento psicológico, que cor- Sobre o papel da atividade da criança
respondem aos fatores tradicionalmente chamados
de “orgânicos” e “meio” na psicologia do desenvolvi- A atividade da criança possui uma qualidade
mento. No segundo grupo, das causas, estão a “ati- particular: é uma determinante do seu desenvol-
vidade” e a “educação”, ou seja, aqueles fatores que vimento psíquico e, ao mesmo tempo, está sujeita
influenciam diretamente nas mudanças evolutivas. a ela mesma, na medida em que avança a idade, ao
Dentre as condições orgânicas, destacam-se desenvolvimento e ao aperfeiçoamento (Leontiev,
aquelas relacionadas com a dotação genética do in- 1978b; Zaporozhets, 1987). O caráter progressivo
divíduo, com seu genótipo. Como estabelece a gené- da atividade humana consiste, precisamente, no
tica atual, os chamados modos de desenvolvimento fato de que no curso de vida se diversificam e am-
dependem de diferenças genotípicas, e os fatores pliam seus campos de ação, as diversas ocupações
genéticos aportam predisposições para o desen- se aperfeiçoam e, além disso, devido ao fato de que
volvimento individual (Wolanski, 1970; Alexander, o homem, em um meio cada vez mais complexo,
1989; Keller, 2002). A influência dos genes sobre as mudar o repertório de suas atividades e ações, pos-
características psicológicas é mediada e não mecâ- sibilita-se uma regulação eficiente de suas relações
nica e, portanto, muda em dependência de diversas com o meio (Leontiev, 1978b; Zaporozhets, 1987).
condições relacionadas ao ambiente. Da mesma Finalmente, vale ressaltar que a plasticidade da ati-
forma, a influência do meio sobre as características vidade própria dos humanos, que implica a capaci-
psicológicas depende das condições herdadas dos dade de desenvolver novas formas de atividades e
indivíduos. Para Przetacznikowa (1987) os fatores ações, transformar as já desenvolvidas, ou dar-lhes
ecológicos, tais como a pertença a uma determina- outra direção, é inversamente proporcional à idade
da classe social, a situação econômica da família, a do indivíduo; ou seja, maior na infância e na juven-
formação e profissão dos pais e outras, funcionam tude que nas etapas posteriores do desenvolvimen-
de modo distinto em diversas culturas e, por essa to (Leontiev, 1978a; Zaporozhets, 1987).
razão, o alcance de sua influência não pode ser de-
terminada de modo geral.
Na explicação das causas, Przetacznikowa Sobre o papel da educação
(1987) considera os fatores necessários e impres-
cindíveis no desenvolvimento dos processos psíqui- A formação do psiquismo na ontogênese não
cos e das formas de ação do indivíduo. Na análise se apoia somente nos contatos casuais da criança
causal dinâmica dos determinantes do desenvolvi- com os diversos elementos do meio, numa intera-
mento que influenciam as diversas etapas da onto- ção acidental entre o indivíduo, os acontecimentos
gênese, podem ser determinados os mecanismos de e fenômenos que são um produto da vida social. A
alguns fenômenos que se expressam em mudanças interação social é conduzida de forma consequente
e características do desenvolvimento psicológico. pelos educadores da criança e pelas diversas ins-
Entre os determinantes mais importantes do desen- tituições sociais que se ocupam especialmente da
volvimento infantil, a autora destaca a atividade, organização e execução do processo de educação e
indispensável para o desenvolvimento e a educa- prestam ajuda aos pais no desempenho das funções
ção que dirige o desenvolvimento da consciência e educativas (Vygotsky, 1994). O meio educacional,
da personalidade da criança mediante mecanismos seja na família, na pré-escola, na escola etc., pode
supraordenados de regulação e adaptação. ser considerado como um elemento das condições
Assim, a análise condicional do desenvolvimento de vida da criança no sentido amplo, ou seja, dos
apresentada tem por objetivo identificar e explicar fatores ecológicos do desenvolvimento (Vygotsky,
o conjunto de condições externas e internas onde 1994; Zaporozhets, 1987).
se produz o desenvolvimento psicológico da crian- Por outro lado, os processos de educação
ça, enquanto a análise causal tenta dar resposta, que têm lugar nesse meio constituem, junto à
atividade, o segundo determinante indispensá- do objeto de estudo tem sido abordado pelas dife-
vel do desenvolvimento ontogenético (Vygotsky, rentes disciplinas científicas e constitui o método
1994; Zaporozhets, 1987). A essência desse pro- de uma ciência particular. Falar de método, por-
cesso consiste em produzir, na psique da criança tanto, implica abordar o processo de produção de
em desenvolvimento, mudanças relativamente conhecimento desde um ponto de vista filosófico,
permanentes por meio das influências educativas, explicitando uma concepção de mundo e do ser
aquelas que têm sentido progressivo, ou seja, con- (ontologia), uma teoria geral acerca do modo como
tribuem com o desenvolvimento social e individu- conhecê-los (epistemologia) o que necessariamente
al da pessoa e correspondem a objetivos educacio- depende do estabelecimento da relação entre o ob-
nais e sociais. Dependendo do tipo de educação, jeto e o sujeito, e uma visão sistematizada das vias
as influências terão um caráter mais ou menos e dos meios (instrumentos e procedimentos, ou da
intencional, consciente, planificado e organizado tecnologia) para acessar e/intervir sobre o objeto
(Galperin, 1959). de estudo (metodologia).
Essa visão tem implicações para a análise psico- No âmbito das ciências humanas, interessa uma
lógica da prática educativa atual, na qual os objeti- classe particular de fenômenos – os fenômenos psi-
vos, os métodos e os meios de educação estão habi- cossociais. O homem, em suas mais variadas ativi-
tualmente adaptados às idades das crianças e suas dades no mundo (atividades nas quais estabelece
etapas de desenvolvimento, assim como às qualida- relação com os objetos do mundo, com outros ho-
des individuais da pessoa em desenvolvimento. De mens e consigo mesmo) é o objeto de estudo das
acordo com a perspectiva Vygotskyana, as exigên- ciências humanas. Por essa razão, de um ponto de
cias educacionais devem superar o nível atual de vista metodológico, interessa também ao pesquisa-
desenvolvimento psíquico do indivíduo. A educação dor explicitar a sua antropologia, ou, dito de outra
só é efetiva – afirmava Vygotsky (1994), quando se forma, a visão de homem da qual parte para explicar
antecipa ao desenvolvimento e se dirige àquelas os fenômenos humanos.
qualidades que se encontram ainda nos seus rudi- Diferentemente dos fenômenos naturais, os fe-
mentos, que não estão ainda amadurecidas. nômenos de natureza psicossocial são objetos de
A força da educação como determinante do de- difícil delimitação e apreensão. A dificuldade deve-
senvolvimento está, sobretudo, no fato de que ela é -se a dois fatores essenciais: de um lado, à própria
um processo social. Ela se configura como um pro- natureza complexa, processual e multidimensional
cesso organizado e executado por toda a sociedade. dos fenômenos psicossociais; de outro, aos meios
Diferentes instituições da vida social se implicam na disponíveis para acessá-los e compreendê-los.
realização e nos efeitos e resultados deste processo, Acessamos e desvendamos a realidade humana por
desde a família e a comunidade, até amplos círculos meio das capacidades humanas do pensamento,
da sociedade; todos eles participam de forma mais como a de raciocinar, analisar, abstrair, sintetizar
ou menos direta na educação das novas gerações. e generalizar. A discussão do método é, portanto,
Ambos, os determinantes do desenvolvimento- de natureza filosófica, e fundamenta o processo de
-educação e a atividade própria, estão intimamente produção de conhecimento, nas mais diversas áre-
vinculados. A educação que a sociedade e os outros as do conhecimento, mas tem relevância particular
proporcionam se transforma, progressivamente, para as ciências humanas. Daí a necessidade de
durante o desenvolvimento individual, em autoe- promover debates dessa natureza no contexto de
ducação e autoformação, existindo entre ambos os formação de pesquisadores e professores universi-
fatores uma estreita interdependência. tários brasileiros.
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