Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BLUMENAU, 2019
CEVADA, MALTES e ADJUNTOS
A cevada (Hordeum vulgare) é uma gramínea cerealífera e representa a quinta
maior colheita e uma das principais fontes de alimento para pessoas e animais. A área
cultivada no mundo chega a 530 000 km². O seu período de germinação é de dois a
cinco dias. Os grãos são dispostos em espigas, na extremidade do colmo. É uma cultura
tipicamente de inverno que não tolera o alagamento, sendo resistente à seca quando
comparada ao trigo, mas exigente em relação à fertilidade do solo.
A cevada fornece uma farinha alimentícia e o produto resultante da germinação
artificial dos grãos (malte) é utilizado na fabricação da cerveja e de outros produtos. Os
grãos torrados e moídos são usados na fabricação de uma bebida sem cafeína de aspecto
semelhante ao do café. A cevada é ainda empregada em alimentação animal como
forragem verde e na fabricação de ração.
A forma primitiva da cevada é a de seis fileiras. Esse tipo de cevada não era a
mais apropriada para a malteação, pois os grãos eram muito pequenos. Foi possível criar
através de cruzamentos, a cevada de duas fileiras, que contém grãos maiores e mais
densos (com mais material).
Malteria – Malteação
A malteria é a fábrica onde o grão de cevada é processado para beneficiamento
do mesmo e obtenção do malte de cevada. O processo de malteação objetiva-se
principalmente na síntese de enzimas e no desdobramento de compostos insolúveis em
compostos solúveis. Isto ocorre quando são dadas condições necessárias para o grão
germinar e se tornar uma nova planta. Porém para uma boa qualidade de malte de
cevada, o grão não poderá germinar ao ponto de se tornar uma nova planta e por este
motivo que a germinação do grão se faz de forma controla e interrompendo sua
germinação por meio de secagem. O processo de malteação se inicia na etapa de
maceração, etapa na qual os grãos são submersos em água para ativação e aceleração do
metabolismo dos grãos. Por subsequência ocorre a germinação controlada dos grãos, e
então a síntese enzimática. A germinação é controlada e, portanto, deve-se avaliar o
nível de modificação dos grãos, quando este nível for alcançado deve-se iniciar a etapa
de secagem. Na secagem, ocorre a inativação enzimática assim como o
desenvolvimento de cor e sabor.
Entende-se assim que malteação é um processo artificial de germinação
controlada. Quando ocorre a germinação do grão de cevada, modificações no interior do
grão acontecem, resultando em benefícios para a indústria cervejeira.
O grão da cevada é rico em carboidratos, proteínas, água e enzimas. Durante o
processo de malteação o grão passa por reações enzimáticas que modificam o grão
internamente, expondo assim mais facilmente suas substâncias que são necessárias para
a produção de cerveja. Faz-se necessário que cadeias de grande peso molecular dos
carboidratos e proteínas cheguem no processo de produção de cerveja já previamente
solubilizadas ou com menor peso molecular. Para que este efeito ocorra, a germinação
controlada se faz necessária. O controle também é importante na secagem dos grãos,
para que assim as enzimas ativadas e formadas durante a malteação sofram a menor
desnaturação proteica (degradação) possível. Outro objetivo na secagem é promover cor
e aroma no malte de cevada.
As malterias atuais utilizam a gravidade para alguns transportes de cevada no
processo de malteação. Como há uma grande quantidade de cevada e malte sendo
manuseada na produção, faz-se necessário que a malteria tenha o processo
preferencialmente verticalizado. Assim a cevada é primeiramente transportada
verticalmente para cima e conforme o processo de malteação acontece a cevada é
manuseada por gravidade para os outros processos, conforme na Figura 32.
Germinação
O objetivo da germinação e da malteação como um todo, é tornar as substâncias
de reserva do grão suscetíveis a hidrólise por enzimas sintetizadas também durante a
malteação.
O endosperma da cevada não produz enzimas e é composto por células mortas,
com paredes celulares envolvendo uma matriz protéica, dentro da qual estão os grãos de
amido (amiloplastos). As enzimas, por sua vez, são sintetizadas na camada de aleurona,
e migram até o endosperma para promover as transformações do grão. A β-amilase já
está presente no grão de cevada, então ocorre sua ativação. A α-amilase não está
presente no grão in natura, portanto é totalmente sintetizada no processo de malteação.
Degerminação
A degerminação é um processo, onde, as radículas que cresceram durante a
germinação e que na secagem foram secas juntamente com o malte verde, sejam
segregadas do grão de malte pronto. As radículas por possuírem grande quantidade de
proteínas, resultam em amargor desagradável na cerveja, por isso devem ser eliminadas.
Por estarem muito secas e sem utilidade para produção de cerveja, as radículas secas
absorvem grande quantidade de umidade, podendo assim, causar focos de contaminação
microbiológica no malte pronto. Utilizam-se máquinas de ar comprimido e peneiras
para a eliminação das radículas secas.
Guarda
O malte pronto, por ser higroscópio, deve ser armazenado em local e em
condições onde haja baixa umidade relativa do ar. O uso de silos metálicos fechados
deve ser visto com cuidado principalmente onde a umidade relativa do ar é elevada pois
pode levar a condensação de água dentro do silo causando danos irreparáveis ao malte.
Análises do malte
Quando o malte chega até a cervejaria ele passa por uma bateria de análises
antes de ser descarregado no setor de ensilagem do malte. Existem parâmetros que são
de fator qualitativo e parâmetros que são de valor econômico. Isso quer dizer que alguns
parâmetros, como a umidade, são calculados assim que a carga de malte chega até a
cervejaria e então se houver excesso de água contida no grão há um desconto no preço a
ser pago por esta carga.
Seguem nas tabelas abaixo as análises realizadas no malte antes de sair da
malteria em forma de laudo de malte, que normalmente também são as mesmas análises
feitas na cervejaria antes da liberação da carga de malte.
Adjuntos amiláceos
São aqueles nos quais o açúcar encontra-se, inicialmente, sob a forma
macromolecular (amido), sendo necessário para a sua utilização em fins cervejeiros um
tratamento prévio na sala de brassagem, de forma que a molécula de amido seja
hidrolisada (enzimaticamente), formando partículas menores (mono, di, trissacarideos e
dextrinas). Este tratamento na sala de brassagem e estritamente necessário, uma vez que
as leveduras não têm a capacidade de alimentarem-se diretamente de amido, com isto,
este deve ser primeiramente quebrado em açúcares, para então ser absorvido. No caso
da levedura cervejeira, o consumo de açúcares vai somente até os trissacarideos, sendo a
maltotriose o maior carboidrato fermentescível. Alguns exemplos:
High maltose: É um xarope com alto teor de maltose, obtida pela conversão
ácido-enzimática do amido. Apresenta adequada composição de açucares fermentáveis e
baixa viscosidade. Adjunto no processo de fermentação em substituição parcial do
malte, grits de milho ou quirera de arroz, proporciona ganho de produtividade na
filtração do mosto, pois pode ser adicionado ao mosto filtrado. A utilização da High
maltose leva a uma redução dos custos de vapor e de energia elétrica, bem como os
custos de armazenagem e controle de qualidade. Auxilia na qualidade sensorial e
coloidal da bebida por ser um ingrediente isento de gorduras e com baixo teor de
proteínas e cinzas.
Figura 8 – Exemplos de açúcares da cana possíveis de serem aplicados no processo
cervejeiro.
Principais tipos
Existem diversos tipo de maltes e maltes especiais disponíveis no mercado. Aqui
neste item traremos alguns do principais tipos com explicação sobre suas características.
Maltes base:
Malte de Trigo:
Não possui casca, portanto provê mais extrato. Deve-se ter cuidado para não
usar demais, pois a falta da casca prejudicará o processo de filtração do mosto;
Grãos ligeiramente menores que os de cevada;
Teor de proteínas bastante variável;
Variedades com baixo teor de proteína e baixa viscosidade são preferidas para
malteação;
Figura 10 – Espiga e grãos de trigo.
Malte de Aveia:
Grãos mais finos que a cevada;
Maior teor de cascas;
Menor extrato;
Maior teor de lipídios;
Grãos com grandes espaços;
vazios na casca;
Elevada concentração de lisina;
Pode ser incluída na dieta da;
Maioria dos celíacos.
Figura 11 - Espiga de aveia e maltes de aveia.
Malte de Centeio:
Cor 4 - 10 EBC;
Atributos: Forte ênfase no aroma típico de centeio; sabor maltado doce; notas de
pão e mel;
CaracterísticasEmpresta um componente de centeio suave para a cerveja;
Umidade: 6%;
Extrato (base seca): 81%;
Cor do mosto EBC (ºL): 4 (2.1)-10 (4.3).
Maltes Caramelo:
Realçam o corpo e fornecem paladar maltado na cerveja, enzimas são totalmente
destruídas;
Maltes acidificados:
Utilizado para correção do pH na mostura, adiciona ácido lático na malteação ou
acidificação natural;
Como podemos ver são muitas características que podem ser observadas ao
verificarmos os maltes que estão disponíveis. A seguir temos tabelas com os tipos mais
comuns de maltes e algumas de suas características.
Processos produtivos
Como vimos anteriormente, muitos tipos diferentes de malte estão disponíveis
para a produção da cerveja. A seguir veremos um pouco sobre sua produção.
A – Malte base
B – Maltes Especiais
Referências
ANNEMÜLLER, G., MANGER, H. Applied Mathematics for Malting and Brewing
Technologists: Technological Calculations, Benchmarks and Correlations for Process
Optimization. 1. ed em inglês. Berlim: Versuchs und Lehranstalt für Breaurei in Berlin
(VLB), 2017.
APHA (2005) Standard methods for the examination of water and waste water, 21st
edn. American Public Health Association, Washington, DC
BRASIL. Ministério da Agricultura. Decreto nº 6871, de 04 de junho de 2009.
Regulamenta a Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a
classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 05 jun. 2009. Disponível em:
http://planalto.gov.br/ccivil_03? Leis/L8918.htm> Acesso em: 19 jan 2019.
KUNZE, W. Tecnology Brewing and Malting. 3. ed. Berlim: Versuchs und Lehranstalt
für Breaurei in Berlin (VLB), 2004.