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Artigo - Educação Emancipatória - Juscélio Galvão
Artigo - Educação Emancipatória - Juscélio Galvão
Resumo
Abstract
The present article has as presupposition the observation of the educational policies
adopted in Latin America from the nineteenth century onwards, and in the continuity, to
discern some ideas and concepts of emancipatory education comparing the ideas of the
liberating education of Paulo Freire with the educational conceptions of José Pedro Varela.
To speak of emancipatory education is also to speak of liberating practices to escape the
various forms of domination. Both the works of José Pedro Varela and those of Paulo Freire
present a precise diagnosis of education in their countries, proposing radical reforms of the
educational system. From the study we have identified, these two outstanding educators have
given education the considerable role of collaborating to overcome ignorance and the
exercise of citizenship as ways of ensuring the survival of democracy through the building
of an emancipated citizen.
Key Words: Educational Conception, Emancipatory Education, Pedro Varela, Paulo Freire,
Latin America.
Introdução
Realizamos um estudo bibliográfico das obras de José Pedro Varela e de Paulo Freire,
utilizando a técnica de Análise Temática de Laurence Bardin, por possibilitar destacar os
núcleos de significação que compõem os textos. Há inúmeros questionamentos que podem
ser feitos no que se refere à contribuição desses pensadores no contexto da educação
enquanto maneira de emancipar o cidadão. Ao analisar parte da obra dos dois autores
escolhidos, pode-se afirmar que dedicaram suas vidas para libertar seus países das amarras
colonialistas e eurocentristas, de forma que a educação possa contribuir para a libertação e
emancipação do cidadão.
A Reforma Vareliana: A Educação como forma de Salvar o País do Atraso
José Pedro Varela nasceu durante esse período conturbado na cidade de Montevidéu
em 19 de março de 1845 em uma família de comerciantes. Seus pais eram imigrantes
argentinos que se estabeleceram no Uruguai para fugir de perseguições políticas em sua terra
natal depois da ascensão ao poder de Juan Manuel de Rosas. O pai além de comerciante,
também era intelectual, tendo traduzido obras de cunho pedagógico para o espanhol. Pelo
lado materno, a família de Varela contava com a presença de jornalistas, poetas, escritores,
sacerdotes e políticos. Durante sua infância e juventude, o cotidiano a de Varela e sua família
foi marcado por fatos violentos devido à instabilidade política que dominava o Uruguai. Um
fato que seguramente marcou sua infância e consequentemente influenciou na sua escolha
de lutar pelos menos favorecidos ocorreu durante a década de 1850, quando Montevidéu foi
assolada por um surto de febre amarela, viu seu pai trabalhar como enfermeiro voluntário na
Comisión de Caridad. O orgulho e admiração que Varela tinha por seu pai fez com que ele,
mesmo sendo de uma classe social abastada, através de suas publicações, juntamente com
outros jovens escritores de sua geração, como Carlos Maria Ramirez, Augustin de Vedia e
Júlio Herrera Y Obes, intensificasse suas críticas sobre a situação econômica e social do
Uruguai. Foi através de sua participação em periódicos utilizando o pseudônimo de
“Cuasimodo”, que Varela explicitou sua tendência heterodoxa que rompia com o dogma
católico, no artigo intitulado “Francisco Bilbao”, publicado em 24 de março de 1866:
O texto acima evidencia que Varela defendia a laicização do Estado, pois para ele a
articulação existente entre religião e política era uma das principais causas da debilidade
econômica e social da América Latina.
Varela tinha uma visão iluminista sobre a educação, pois representava o caminho que
poderia levar à democracia e à consequente libertação de um povo. Em suas obras observa-
se uma forte influência do pensamento positivista e do racionalismo, bem como uma postura
anticlericalista. Ao evidenciar a situação precária da educação em seus artigos, ele procurava
mostrar com suas críticas detalhadas que a educação era fundamental para o fim da barbárie
e o progresso da sociedade, pois ao contribuir para a educação moral e política, estaria
também contribuindo para o desenvolvimento econômico do país.
“Assim como a luz do sol”, deveria chegar a todos sem distinção de raça,
sexo ou classe social, “iluminando la conciencia del Pueblo y preparando al niño
para ser hombre y al homem para ser ciudadano” (VARELA apud DEMARCHI
& RODRIGUEZ, 1993: 812). Em tom de preocupação, lamentava a situação
educacional uruguaia. Para ele, as escolas travavam solitariamente verdadeiras
batalhas para “salvarse del inmenso naufragio que las amenaza, con mantenerse
de pie en medio a las ruinas que las rodean” (VARELA, 1964a: 12).
Nas propostas educacionais de Varela, existe uma intenção política mais ampla, com
a finalidade de consolidar o exercício republicano e a práxis democrática no país. Em suas
participações em periódicos como o jornal El Siglo e La Revista Literária, ele com apenas
vinte anos de idade conciliava as atividades de escritor e comerciante defendendo suas ideias
sobre educação popular e republicanismo. Sua atividade literária começou a ficar mais
incisiva e evidente quando ao voltar de uma viagem que ele realizou entre os anos de 1867
e 1868, percorrendo alguns países da América Latina, Europa e Estados Unidos. Esse tipo
de viagem era considerado tradicional para os membros da burguesia de Montevidéu, pois
era comum aos jovens de sua idade viajar para ampliar o seu horizonte intelectual e conhecer
outras culturas. Porém Varela demonstrou além desses, outros objetivos, ao conhecer
pessoalmente o escritor argentino Domingos Faustino Sarmiento, tornou-se seu amigo e
passou a se interessar mais ainda sobre temas educacionais. Também conheceu figuras
importantes do meio literário da época como Horace Mann e do escritor francês Victor Hugo.
Ao conhecer a realidade de outros países, e vendo que o mundo achava que seu país era uma
terra bastante atrasada, ficou revoltado. Essa revolta fica clara nas seguintes frases:
O que terão pensado os três milhões de visitantes vindos de todas as partes
do mundo ao ver que os objetos mais dignos de expor que encontraram em seu
seio a República são os trajes e os utensílios dos cossacos americanos? Não
mandaram nada em boa hora. A maior parte dos visitantes ignorou que há uma
pequena nação que se chama República Oriental. Mas agora, de ter mostrado aos
estrangeiros, como o melhor que há no país, o mais inculto, o mais selvagem que
se exibiu no palácio, agora os ingleses e os franceses e os russos e os austríacos e
todos, enfim, puderam dizer a si mesmos ao ler o nome de República Oriental
sobre um mostruário que guardava um poncho, um chiripá e algumas amostras
infinitesimais de lã, poderão ter dito: “Bem pobre e bem selvagem deve ser a nação
que expõe tais objetos como os mais dignos” (VARELA, 1867 apud CAMARA
DE REPRESENTANTES, 2000a, p. 279.
Durante sua viagem pelos Estados Unidos ficou impressionado pelo número de
escolas existentes naquele país e fez uma comparação com a Espanha, que no lugar de
escolas tinha muitas igrejas e conventos. Outro fato que o surpreendeu naquele país foi
constatar que a mulher tinha participação efetiva na vida civil, ocupando cargos públicos
importantes. Em suas cartas atribuiu o sucesso econômico obtido pelos Estados Unidos ao
investimento realizado em prol da educação pública. Varela também destacava que o povo
uruguaio era generoso e solidário, porém não dava a devida importância para a causa
educacional. Em suas críticas dizia que as escolas travavam uma luta solidária para salvar o
país do atraso.
No ano de 1876, José Pedro Varela publicou aquela que seria sua obra de maior
repercussão, La Legislación Escolar, obra de dezoito capítulos, sendo que um deles era
dedicado a um projeto de lei específico à educação, mas também tratava da situação
econômica, social e política do Uruguai. Nesse mesmo ano Varela foi nomeado Diretor da
Instrução Pública de Montevidéu e logo depois foi designado para o cargo de Inspetor
Nacional da Educação Pública (cargo equivalente ao de ministro da educação). Pouco tempo
depois de assumir o cargo, em 1877, conseguiu aprovar o Decreto-Ley de Educación
Comum, que com algumas modificações, utilizou os princípios contidos no seu livro,
realizou um diagnóstico da situação política e educacional na época e convocou todos os
setores da sociedade, promovendo uma verdadeira reforma no sistema educacional uruguaio.
Para Varela, primeiramente era necessário que garantido o direito a educação para todos,
criando meios para que a população tivesse uma instrução mínima, o que possibilitaria
chegar ao ensino superior de qualidade, defendia também a criação de escolas normais com
ensino profissionalizante, principalmente às mulheres, às quais deveriam ser abertas as
portas da docência, das funções públicas e também das atividades comerciais. Assim estas
seriam mais úteis à sociedade e enriqueceriam o espírito pela dedicação a questões mais
elevadas que as habilidades de corte e costura. Pensando nisso afirmou que:
Paulo Freire iniciou no ano de 1946 sua jornada para diminuir o analfabetismo no
Brasil, quando ao assumir o cargo de diretor do Departamento de Educação e Cultura do
Serviço Social de Pernambuco iniciou o trabalho com analfabetos pobres. Em 1961 tornou-
se diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife, onde
começou a desenvolver experiências que o levaram a criar o método de alfabetização popular
que ficou conhecido como “Método Paulo Freire”. Devido aos excelentes resultados obtidos
com esse método, no ano de 1963 o governo do presidente João Goulart criou o Plano
Nacional de Alfabetização, que previa a implantação de 20 mil núcleos de alfabetização pelo
país. Porém, poucos meses depois da implantação do Plano, o Golpe Militar de 1964
interrompeu esse trabalho e Paulo Freire foi preso e condenado ao exílio no exterior. Nos
diversos países em que residiu, atuando como escritor, professor e consultor, sempre
trabalhou em defesa de uma educação conscientizadora e libertadora. Como escritor, em sua
fase de exílio no Chile, escreveu seu primeiro livro, “Educação como Prática da
Liberdade”, obra que o credenciou a ser convidado para ser professor visitante da
Universidade de Harvard. Em sua obra mais famosa, Pedagogia do Oprimido (1968),
também escrito durante seu exílio no Chile e que foi traduzido para diversas línguas, mas
que por se tratar de um escritor exilado, só foi publicado no Brasil após o início do processo
de abertura política do governo Geisel em 1974. Nesse livro Freire defende que a educação
possibilite ao oprimido possa recuperar seu senso de humanidade para que assim supere essa
condição e se torne um ser crítico e pensante, capaz de lutar por seus direitos em uma
sociedade mais justa. Freire Afirmava que o educando através de uma prática dialética
poderia dialogar com sua realidade, sendo capaz de criar sua própria educação e construir
seu caminho de aprendizado. Em seu trabalho na área de educação popular sempre combateu
o que ele chamava de educação bancária, tecnicista e alienante, defendendo um modelo de
escolarização voltada para a formação de uma consciência política. Ele se diferenciou dos
demais pedagogos ao defender o diálogo com as pessoas simples como método de ensino
verdadeiramente democrático.
Considerações Finais
DIANA, Elvis de Almeida. Educação e cidadania política em José Pedro Varela: A reforma
vareliana como instrumento de democracia e progresso no Uruguai (1865-1881). 2016. 179f.
Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”, Franca, 2016.
https://novaescola.org.br/conteudo/4939/paulo-freire-ontem-hoje-e-amanha?utma_source=
facebook# - Acesso em 11/11/2018 às 05h e 20min.
http://www.institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/radar/o-que-cingapura-pode-nos-ensinar.html