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Escola Politécnida da Universidade de São Paulo

Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária


PHD 2301 - HIDRÁULICA

NOTAS DE AULA

ESCOAMENTO EM CANAIS

Apostila Elaborada pelo


Prof. Lloret
Digitação e Layout
Reginaldo Galhardo Martins

São Paulo
2000

1
PHD-2301 - Escoamento em Canais:Índice

ÍNDICE

ÍNDICE ........................................................................................................................................................ 1

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................................ 4

1.1 - DEFINIÇÃO ........................................................................................................................................ 4


1.2 CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................................... 4
1.3 EFEITOS DA VISCOSIDADE E DA RUGOSIDADE NO ESCOAMENTO ............................................................ 5
1.3.1 Influência da viscosidade ............................................................................................................. 5
O adimensional que traduz a influência da viscosidade é o número de Reynolds, expresso da forma:..... 5
1.3.2 Influência da rugosidade.............................................................................................................. 5
1.4 MOBILIDADE DO ESCOAMENTO ............................................................................................................ 6
1.5 GEOMETRIA DA SEÇÃO ......................................................................................................................... 6

2. DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES DE CIZALHAMENTO.................................................................... 9

2.1 DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES DE CIZALHAMENTO .................................................................................. 9


2.2 DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES .......................................................................................................... 9
2.2 EQUAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO ESCOAMENTO PELA DISTRIBUIÇÃO LOGARÍTMICA ...................................10
2.4 EQUAÇÕES EMPÍRICAS ........................................................................................................................11
2.4.1 Equação de Chézy.......................................................................................................................12
2.4.2 Equação de Manning ..................................................................................................................12
2.4.3 Fórmula Universal......................................................................................................................13
2.4.4 Coeficientes de resistência das diversas fórmulas ........................................................................13
É importante ressaltar que estas fórmulas são válidas somente para os caso de escoamentos em Regime
Turbulento Rugoso............................................................................................................................................14
2.5 SEÇÕES COM RUGOSIDADE COMPOSTA ................................................................................................19
2.5.1 Seções simples com rugosidades diferentes..................................................................................19
2.5.2 Seções Mistas..............................................................................................................................20

3. COEFICIENTE DE DESCARGA..........................................................................................................22

3.1 DEFINIÇÃO..........................................................................................................................................22

4. SEÇÕES TRANSVERSAIS DE CANAIS ..............................................................................................27

4.1 DIMENSIONAMENTO ............................................................................................................................27


4.2 SEÇÕES ECONÔMICAS OU DE MÍNIMO CUSTO .........................................................................................27
4.3 - SEÇÕES ESTÁVEIS .............................................................................................................................31
4.4 BORDA LIVRE .....................................................................................................................................32

5. EQUAÇÃO DA ENERGIA ....................................................................................................................33

5.1 - ENERGIA TOTAL NUMA SEÇÃO ...........................................................................................................33


5.2 BALANÇO DE ENERGIA ........................................................................................................................34

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:1. Introdução

5.4 ENERGIA ESPECÍFICA ..........................................................................................................................35


5.5 VARIAÇÃO DE SEÇÃO DE ESCOAMENTO ................................................................................................37

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:1. Introdução

1. INTRODUÇÃO

1.1 - Definição

O escoamento em conduto livre é aquele que apresenta uma parte do perímetro da


seção de escoamento em contato com a atmosfera. Seu movimento é decorrente da ação
gravitacional sobre as partículas fluidas.

N. A.

Figura 1- Seção de escoamento de um conduto livre (Galeria).

1.2 Classificação

Os escoamentos livres classificam-se da seguinte forma:


a) Quanto a variabilidade no tempo em:
!"Regime Permanente e Regime não Permanente: quando as
características hidráulicas são constantes, ou não, no tempo. Neste
último caso a variação pode ser:
- gradual: ex. propagação de ondas de enchente;
- brusca: ex. onda de choque.
b) Quanto a variabilidade no espaço em:
!"Regime uniforme e Regime variado: quando as características hidráulicas
permanecem constantes ou variam ao longo do percurso. Nesse último
caso a variação pode ser:
- gradual: ex. curvas de remanso;
- brusca: ex. ressalto hidráulico.

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:1. Introdução

1.3 Efeitos da Viscosidade e da Rugosidade no Escoamento

1.3.1 Influência da viscosidade

O adimensional que traduz a influência da viscosidade é o número de


Reynolds, expresso da forma:

V.D
Re =
ν
Equação 1 - Número de Reynolds

Onde: V é a velocidade;
D é o diâmetro hidráulico;

ν é o coeficiente cinemático de viscosidade.


O escoamento pode ser classificado, quanto à influência da viscosidade em:
Regime Laminar: quando Re<500;
Regime Turbulento: quando Re>2000.

1.3.2 Influência da rugosidade

Quando o escoamento encontra-se em regime turbulento, as irregularidades das


paredes podem influir no escoamento à medida que estas se exponham acima da sub-
camada viscosa. Assim sendo pode-se classificar o escoamento segundo a tabela 1:
Regime Turbulento: Quando:
Liso k<δ
Rugoso k>δ
Misto k≈δ
Tabela 1- Classificação do Regime Turbulento

Onde: k é a rugosidade absoluta da parede;


δ é a espessura da camada viscosa.

k δ>k

k
δ>k
Figura 2- Influência da rugosidade no escoamento
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PHD-2301 - Escoamento em Canais:1. Introdução

1.4 Mobilidade do Escoamento

O número de Froude representa a influência da força gravitacional no escoamento:

V
Fr =
√g . Rh
Equação 2 - Número de Froude

Onde: g é a aceleração da gravidade;


Rh é o raio hidráulico.
O escoamento pode ser classificado em:

Regime: Quando:

Fluvial (ou Lento) Fr<1


Torrencial (ou Rápido) Fr>1
Crítico Fr=1
Tabela 2 - Classificação do escoamento segundo o número de Froude

1.5 Geometria da seção

A geometria da seção vai determinar a dimensão da superfície de contato do


escoamento com a parede, além de outros efeitos tais como a distribuição de tensões e
velocidades na seção. Em razão disto, torna-se conveniente definir uma grandeza linear
característica do escoamento de Raio Hidráulico (Rh):

Área da Seção
Rh =
Perímetro Molhado

Equação 3 - Raio Hidráulico

Exemplo 1

Determinar o raio hidráulico para uma seção retangular, considerando as seguintes


a base e a largura: B/h ∈ {1, 10, 100}
Resolução: Base . Altura
Rh =
Base + 2. Altura

Algumas relações entre as dimensões da Base (B) e da Altura (h):


6
PHD-2301 - Escoamento em Canais:1. Introdução

B= H 10h 100h
Rh = 0.33h 0.83h 098h

Obs: quando Base >> Altura então Rh ≈ Altura (canal de grande Largura)

Área de Perímetro Raio


Forma Seção
Escoamento, A Molhado, P Hidráulico, R

b
y(b + y.cotg α)
Trapezoidal 2y
y(b + y.cotg α) b+
y
α
sen α 2y
b+
sen α

b
2y y.cos α
Triangular y2 cotg α
sen α 2
α

b
by
Retangular by b + 2y
y b + 2y

Fundo Largo e y
Plano by b y
b

D2 αD D sen α
Circular
α
y (α - sen α)
8 2 4 ( 1-
α )
D
Tabela 3 - Propriedades geométricas de algumas seções transversais típicas de condutos livres.

As seções fechadas, como as tubulações e galerias de drenagens quando estão


próximas de ocupar toda a área útil (escoamento forçado), proporcionalmente há um
aumento maior do perímetro molhado do que da seção de escoamento. Isto faz com que
7
PHD-2301 - Escoamento em Canais:1. Introdução

o raio hidráulico passo por um ponto de máximo, que na maior parte das seções fechadas
esta em torno de 0,80 a 0,90 do diâmetro, e depois decresça.

Exemplo 2

Determinar a curva de variação do Raio Hidráulico de uma seção circular, bem


como o seu ponto de máximo.
Resolução: De acordo com a tabela 3 o Raio Hidráulico de uma seção circular tem
a equação:
D sen α
Rh=
4 (1-
α )
A profundidade, seguindo o mesmo esquema da tabela 3, é determinada por:

D 1- sen α
h=
4 ( α )
α h/D Rh/D

0 0,000 0,000
30 0,017 0,011
60 0,067 0,043
90 0,146 0,091
120 0,250 0,0147
150 0,371 0,202
180 0,500 0,250
210 0,629 0,284
240 0,750 0,302
270 0,8541 0,303
300 0,933 0,291
330 0,983 0,272
360 1,000 0,25

1
Pode-se ver que o Raio Hidráulico é máximo para uma profundidade em torno de 0,85 do
diâmetro.

8
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

2. DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES DE CIZALHAMENTO

2.1 Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Considere-se um escoamento num canal de Grande largura, portanto


bidimensional, em regime permanente e uniforme, onde o fluido é real e homogêneo. O
equilíbrio de forças aplicadas a um volume de controle de largura e comprimento
unitários, conforme é apresentado na Figura 3 a seguir, resulta em:

j=tg α
α
h
h-y

Gx
E1 E2
y
τx
Gy G

Figura 3 - Distribuição de Tensões

E1 - E2 + Gx - τy = 0
Como: E1 = E2
Gx = γ.j.(h-y)
Portanto: τy=γ.h.j.(1-y/h)
Equação 4

Quando: y=h então τmín = 0


y=0 então τmáx = τ0=γ.h.j

2.2 Distribuição de Velocidades

Neste curso será tratado somente o caso particular da distribuição de velocidades


para o caso de escoamento em canais ou galerias em Regime Turbulento Rugoso.

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Integrando-se a equação de distribuição de tensão de cizalhamento ao longo da


vertical, resultará na equação de distribuição de velocidades:

V(y) y
= 2,5.ln( ) + 8,5
V* k

Equação 5 - equação de distribuição de velocidades

Onde: V(y) é a velocidade a uma distância y do fundo;


k é a rugosidade absoluta do leito;
V* é a velocidade de atrito, definida por:

τ0 = √ ghj
V* =
√ ρ
τ0 é a tensão de cizalhamento no leito;

ρ é a massa específica da água;


g é a aceleração da gravidade.

2.2 Equação da resistência ao escoamento pela distribuição logarítmica

A velocidade média é determinada fazendo-se ao longo da vertical:


V 1 h V(y)
= dy
V* h-k k V*

Equação 6

Desta integração resulta na Equação 7, também conhecida como Equação de


Resistência ao Escoamento:

V(y) y
= 2,5.ln( ) + 6,0
V* k
Equação 7 - Equação de Resistência ao Escoamento

Em se tratando de um canal de geometria qualquer, ou seja, desconsiderando que


o canal seja de grande largura, toma-se o valor do raio hidráulico (Rh) no lugar da
profundidade h.

Exemplo 3

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Determinar a capacidade de descarga líquida de um rio com 100 metros de largura


por 3,0 metros de profundidade e declividade de 0,00015 m/m. O leito é formado por
dunas de areia com rugosidade equivalente (ks) igual a 0,30 m.

Resolução: B>>h ⇒ Rh ≈ h

V* = √ ghj =√ 9,8 . 3,0 . 0,00015 = 0,0664 m/s


y 3
Q = A. V* .[2,5.ln( ) + 6,0] = 3,0 . 100 . 0,066. [ 2,5 ln( ) + 6,0 = 234 m3/s
k 0,3

Exemplo 4

Determinar a curva-chave de um rio com 100 metros de largura por 3,0 metros de
profundidade e declividade de 0,00015m/m. O leito é formado por dunas de areia com
rugosidade equivalente (ks) igual a 0,30 m.
Resolução: B>>h ⇒ Rh ≈ h
A partir da Equação 7 resulta:


h
Q = h.100. 0,0383. h . [ 2,5 ln( ) + 6,0 ]
0,3

h(m) Q(m3/s) Curva Chave - Resposta


0,5 10 250

1 35 200
1,5 71
2 116 150
Q(m/s)
3

2,5 171
100
3 234
50

0
2.4 Equações Empíricas 0 1 2 3 4
h(m) na literatura, das quais as que
Existem inúmeras fórmulas empíricas encontradas
ainda são amplamente utilizadas, por uma questão de tradição ou facilidade de uso, são
as de Chézy (1796) e de Manning (1889). As demais apresentam muito pouco interesse
prático, vazão pela qual não serão aqui tratadas.

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

2.4.1 Equação de Chézy

Considerando que a tensão de atrito junto ao leito pode ser expressa da forma:

V2
τ0 = Cf.ρ.
2
Onde: Cf é o coeficiente de resistência.
Resulta:
V2
τ0 = Cf.ρ. = γ . Rh . j
2
Ou:

√ √ Rh.j
2
V= g.Rh.j = C.
Cf
Equação 8


Onde: 2
C= g
É o Coeficiente de Chézy. Cf

2.4.2 Equação de Manning

A partir da equação de Chézy, Manning descreveu um coeficiente de resistência,


dependente também do raio hidráulico:

Rh1/6
C=
n

Ou:

1
V= Rh2/3. j1/2
n Equação 9

Igualando a equação de Manning com a logarítmica resulta:

V Rh1/6 Rh
= = 2,5ln( ) + 6,0
V* n√g k
12
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Plotando a função:
Rh1/6 Rh
= função( )
n√g k

Strickler ajustou-a à seguinte expressão:

Rh1/6 Rh Rh
Para : = 8,16.( ) 5 < < 700
n√g k k

De onde resulta:
k1/6 k1/6
n= =
8,16√g 26
Equação 10

2.4.3 Fórmula Universal

Uma forma de escrever a equação de resistência ao escoamento, é através da


fórmula Universal de perda de Carga, utilizada normalmente em condutos forçados:

1 . V2
j= f
4.Rh 2g
Ou:


V 8
=
V* f
Equação 11

2.4.4 Coeficientes de resistência das diversas fórmulas

Os coeficientes de resistência ao escoamento das diferentes fórmulas vistas


anteriormente podem ser expressas da seguinte forma adimensionalizada:


V 8 C Rh1/6 Rh
= = = = 2,5ln( ) + 6,0
V* f √g n √g k
Equação 12

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

É importante ressaltar que estas fórmulas são válidas somente para os caso de
escoamentos em Regime Turbulento Rugoso.
Valores do n de Manning.
Tipo de canal e descrição Mínimo Normal Máximo
A. - Condutos parcialmente cheios
A. 1. Metálicas
a. latão polido 0,0090 0,0100 0,0130
b. aço
1. com blocagem e soldado 0,0100 0,0120 0,0141
2. com rebites e em espiral 0,0130 0,0159 0,0169
c. ferro fundido dúctil
1. revestido 0,0100 0,0130 0,0141
2. não revestido 0,0110 0,0141 0,0159
d. ferro fundido
1. preto 0,0120 0,0141 0,0149
2. galvanizado 0,0130 0,0159 0,0169
e. ferro forjado
1. para drenagem subterrânea 0,0169 0,0189 0,0208
2. para drenagem de águas pluviais 0,0208 0,0238 0,0303
A.2. Não metálicas
a. butacito laminado 0,0080 0,0090 0,0100
b. vidro 0,0090 0,0100 0,0130
c. cimento
1. liso-superficial 0,0100 0,0110 0,0130
2. argamassa 0,0110 0,0130 0,0149
d. concreto
1. aqueduto reto e livre de detritos 0,0100 0,0110 0,0130
2. aqueduto com curvas, ligações e alguns detritos 0,0110 0,0130 0,0141
3. rebocado 0,0110 0,0120 0,0141
4. Coletor reto com caixas de visita, entradas, etc. 0,0130 0,0149 0,0169
S. rugoso, cofragem metálica 0,0120 0,0130 0,0141
6. rugoso, cofragem de madeira lisa 0,0120 0,0141 0,0159
7. rugoso, cofragem de madeira rugosa 0,0149 0,0169 0,0200
e. madeira
1. aduela 0,0100 0,0120 0,0141
2. laminado, tratado 0,0149 0,0169 0,0200
f. grês
1. manilha para drenagem simples 0,0110 0,0130 0,0169
2. coletor vidrado 0,0110 0,0141 0,0169
3. coletor vidrado com caixas de visita, entrada, etc. 0,0130 0,0149 0,0169
4. vidrado, de drenagem subterrânea com junta aberta 0,0141 0,0159 0,0179
g. em tijolo
1. vidrado 0,0110 0,0130 0,0149
2. revestido com argamassa 0,0120 0,0149 0,0169
h. coletores: de esgotos com curvas e ligações 0,0120 0,0130 0,0159
i. coletor com fundo revestido e extremidades lisas 0,0159 0,0189 0,0200
j. alvenaria de pedra 0,0179 0,0250 0,0303
B. Canais revestidos ou pré-fabricados
B.1. Metálicos
a. superfície de aço lisa
1. Não pintado 0,0110 0,0120 0,0141
2. Pintado 0,0120 0,0130 0,0169
b. forjado 0,0208 0,0250 0,0303
B.2. Não Metálicos
a. cimentado
1. De superfície lisa 0,0100 0,0110 0,0130
2. argamassa 0,0110 0,0130 0,0149
b. madeira
1. Aplanado, não tratado 0,0100 0,0120 0,0141

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PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Tipo de canal e descrição Mínimo Normal Máximo

2. Aplanado creosotado 0,0110 0,0120 0,0149


3. Não aplanado 0,0110 0,0130 0,0149
4. Tábua de Ripas 0,0120 0,0149 0,0179
5. Revestido com papel(com tela) 0,0100 0,0141 0,0169
c. Concreto
1. Rebocado à trolha 0,0110 0,0130 0,0149
2. Rebocado por escovas 0,0130 0,0149 0,0159
3. Rebocado, com fundo de
cascalho 0,0149 0,0169 0,0200
4. Não Rebocado 0,0141 0,0169 0,0200
5. Gunitado, seção regular 0,0159 0,0189 0,0233
6. Gunitado, seção ondulada 0,0179 0,0222 0,0250
7. Sobre uma rocha escavada regular 0,0169 0,0200
8. Sobre uma rocha escabada irregular 0,0222 0,0270
d. canal com fundo revestido de concreto com lados de
1. Pedra argamassada 0,0149 0,0169 0,0200
2. Pedra irregular argamassada 0,0169 0,0200 0,0238
3. Alvenaria de cascalho rebocado 0,0159 0,0200 0,0238
4. Alvenaria de cascalho não rebocado 0,0200 0,0250 0,0303
5. Cascalho seco ou empedrado 0,0200 0,0303 0,0345
e. fundo de cascalho com lados de
1. Concreto 0,0169 0,0200 0,0250
2. Pedra irregular argamassada 0,0200 0,0233 0,0263
3. Cascalho seco ou empedrado 0,0233 0,0333 0,0357
f. tijolo
1. Vidrado 0,0110 0,0130 0,0149
2. Em argamassa 0,0120 0,0149 0,0179
g. alvenaria
1. Cascalho cimentado 0,0169 0,0250 0,0303
2. Cascalho seco 0,0233 0,0323 0,0345
h. cantaria revestida 0,0130 0,0149 0,0169
i. asfalto
1. Liso 0,0130 0,0130
2. Rugoso 0,0159 0,0159
j. revestimento vegetal 0,0303 0,5000
C. Canal escavado ou dragado
a. em terra, reto e uniforme
1. limpo, acabado recentemente 0,0159 0,0179 0,0200
2. limpo, depois de temporais 0,0179 0,0222 0,0250
3. de cascalho, de seção uniforme, limpo 0,0222 0,0250 0,0303
4. com relva curta, com pouca vegetação . 0,0222 0,0270 0,0333
b. em terra, sinuoso e de funcionamento curto
1. sem vegetação 0,0233 0,0250 0,0303
2. com relva, pouca vegetação 0,0250 0,0303 0,0333
3. vegetação densa ou plantas aquáticas em canais
profundos 0,0303 0,0345 0,0400
4. fundo de terra e lados em cascalho 0,0278 0,0303 0,0345
5. fundo empedrado e com bancos de vegetação 0,0250 0,0345 0,0400
6. fundo com seixos rolados e lados lisos 0,0303 0,0400 0,0500
c. canal de enxugo-escavado ou dragado
1. sem vegetação 0,0250 0,0278 0,0333
2. pouca vegetação nos taludes 0,0345 0,0500 0,0588
d. escavado em rocha
1. pouco rugoso é uniforme 0,0250 0,0345 0,0400
2. muito rugoso e uniforme 0,0286 0,0400 0,0500
e. canais não cuidados, troncos e arbustos não cortados
1. vegetação densa, tão alta como a altu ra da água 0,0500 0,0769 0,1250
2. fundo liso, com arbustos nos lados 0,0400 0,0500 0,0769
3. o mesmo caso de vegetação alta 0,0455 0,0714 0,1111
4. arbustos cerrados 0,0769 0,1000 0,1429

15
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Tipo de canal e descrição Mínimo Normal Máximo

D. Cursos de água naturais


D. 1. Cursos de água (largura máxima do leito 30 m)
a. cursos de água em planície
1. limpo, em linha reta, com plataformas sem quedas ou
zonas profundas 0,0250 0,0303 0,0333
2. o mesmo que no ponto 1, com mais pedras e vegetação 0,0303 0,0345 0,0400
3. limpo, sinuoso, algumas zonas profundas e baixios 0,0333 0,0400 0,0455
4. o mesmo que no ponto 3, mas com alguma vegetação
e pedras 0,0345 0,0455 0,0500
5. o mesmo que no ponto 3, com mais baixios, rápidos
e contrações 0,0400 0,0476 0,0556
6. o mesmo que em 4, mas com mais pedras 0,0455 0,0500 0,0588
7. com seções de funcionamento mais lento, com vegetação
e zonas profundas 0,0500 0,0714 0,0769
8. seções com muita vegetação, zonas produndas ou
seções com golenas e com vegetação arborense 0,0769 0,1000 0,1429
b. cursos de água de montanha sem vegetação, margens em
declive e vegetação ao longo das margens acentuadas
1.fundo: cascalho, seixo rolado e pouco saibro 0,0303 0,0400 0,0500
D. 2. Troços fluviais
a. para pastagem, sem vegetação
1. relva baixa 0,0250 0,0303 0,0345
2. relva alta 0,0303 0,0345 0,0500
h. áreas cultivadas
1. sem cultura 0,0200 0,0303 0,0400
2. cultura em fileira 0,0250 0,0345 0,0455
3. cultura d 1 ispersa 0,0303 0,0400 0,0500
c. mato
1. mato disperso, vegetação cerrada 0,0345 0,0500 0,0714
2. inato pouco denso e árvores de inverno 0,0345 0,0500 0,0588
3. mato pouco denso e árvores de verão 0,0400 0,0588 0,0769
4. mato médio a denso de inverno 0,0455 0,0714 0,1111
5. mato médio a denso de verão 0,0714 0,1000 0,1667
d. árvores
1. salgueiros densos, de verão, em alinharnento
retilíneo 0,1111 0,1429 0,2000
2. terra limpa, com troncos de árvore sem rebentos 0,0303 0,0400 0,0500
3. o mesmo que o número anterior mas com um
crescimento intenso de rebentos 0,0500 0,0588 0,0769
4. com mais madeira, poucas - árvores caídas,
pouco crescimento subterrâneo com corrente abaixo
das ramas 0,0769 0,1000 0,1250
5. o mesmo que o anterior mas com corrente
alcançando a rama 0,1000 0,0123 0,1667
D. 3. cursos de água maiores (largura superficial em cheia > 30 m). 0 valor
K, é maior do que aquele para caudais menores com uma descrição similar,
pois as margens oferecem, uma resistência efectiva
a. seção regular sem seixos rolados, sem vegetação 0,0250 0,0058
b. seção irregular e rugosa 0,0345 0,0099
b. cursos de água de montanha sem vegetação, margens em
declive e vegetação ao longo das margens acentuadas
1.fundo: cascalho, seixo rolado e pouco saibro 0,0303 0,0400 0,0500
D. 2. Troços fluviais
a. para pastagem, sem vegetação
1. relva baixa 0,0250 0,03030 0,0344
2. relva alta 0,0303 0,03448 0,0500
h. áreas cultivadas
1. sem cultura 0,0200 0,0303 0,0400
2. cultura em fileira 0,0250 0,0344 0,0455
3. cultura d 1 ispersa 0,03030 0,0400 0,0500

16
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Tipo de canal e descrição Mínimo Normal Máximo

c. mato
1. mato disperso, vegetação cerrada 0,0345 0,0500 0,0714

2. inato pouco denso e árvores de inverno 0,0345 0,0500 0,0588


3. mato pouco denso e árvores de verão 0,0400 0,0588 0,0769
4. mato médio a denso de inverno 0,0455 0,0714 0,1111
5. mato médio a denso de verão 0,0714 0,1000 0,1667
d. árvores
1. salgueiros densos, de verão, em alinharnento
retilíneo 0,1111 0,1429 0,2000
2. terra limpa, com troncos de árvore sem rebentos 0,0303 0,0400 0,0500
3. o mesmo que o número anterior mas com um
crescimento intenso de rebentos 0,0500 0,0588 0,0769
4. com mais madeira, poucas - árvores caídas,
pouco crescimento subterrâneo com corrente
abaixo das ramas 0,0769 0,1000 0,1250
5. o mesmo que o anterior mas com corrente
alcançando a rama 0,100 0,0123 0,1667
D. 3. cursos de água maiores (largura superficial em cheia > 30 m).
0 valor K, é maior do que aquele para caudais menores com uma
descrição similar, pois as margens oferecem, uma resistência
efectiva
a. seção regular sem seixos rolados, sem vegetação 0,025 0,0058
b. seção irregular e rugosa 0,0345 0,0099

Exemplo 5

Determinar a profundidade do canal do exemplo 4 para uma vazão de 234 m3/s,


utilizando a equação empírica de Manning. Para efeito de cálculo, considere-se, além dos
dados originais, que o canal é escavado em terra, com margens protegidas por vegetação
rasteira, e que é de "grande Largura".
Resolução: A partir das equações 8 e 9 de Manning-Strickler, resulta:

k1/6 0,031/6
n= = = 0,031
26 26

Q = A . Rh2/3 . J1/2 . n -1

Considerando Rh ≈ h

234 = 100 . h . h2/3 . 0.000151/2 . 0.031 -1


h=2,94 m

Uma outra forma de resolver é adotando o valor tabelado para o coeficiente "κ" de

Strickler, que para este tipo de cnal é igual a 37 (n=0,027).

234 = 100 . h . h2/3 . 0.000151/2 . 0.027 -1

17
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

h = 2,68 m

Exemplo 6

Determinar a Curva-chave adimensionalizada de uma seção circular, referida à


vazão de seção plena. Adimensionalizar as profundidades, referindo-se ao diâmetro da
tubulação.
Resolução: A adimensionalização será feita da seguinte maneira:
Profundidade: H* = h/D
Vazão: Q*=Q/Qp
Do exemplo 2 tem-se o equacionamento da profundidade de escoamento que da
forma adimensionalizada resulta:

α
H* = 1 -[ (cos( 2 )]. 0,5

Considerando a equação de Manning: 1


Q = A . Rh2/3 . j1/2.
n
A adimensionalização da vazão será:
1
A . Rh2/3 . j1/2.
Q n
Q* = = 1
Qp Ap . Rhp2/3 . j1/2.
n
Da tabela 3 tem-se as seguintes equações dos elementos geométricos:

Área: D2
A = (α - sen α)
8
πD2
Ap =
4
D sen α
Rh: Rh =
4 (1-
α )
D
Rhp =
4
Substituindo estes valores na equação de Q*, tem-se:

2/3
1 1 sen α

Q* =
[(α - sen α)
8 ] {[ ( 4
1-
α )]} 18

π 1 2/3
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Resulta portanto a seguinte à relação:


α H* Q*
0 0,000 0,0000
30 0,017 0,0005
60 0,067 0,0089
90 0,146 0,0463
120 0,250 0,1370
150 0,371 0,2930
180 0,500 0,5000
210 0,629 0,7220
240 0,750 0,9120
270 0,854 1,0300
2
300 0,933 1,0750
330 0,983 1,0500
360 1,000 1,000

2.5 Seções com Rugosidade Composta

2.5.1 Seções simples com rugosidades diferentes

É comum em canalizações maiores, que as margens tenham rugosidades


diferentes em relação ao fundo. Como exemplo pode-se citar uma solução muito comum
que são os canais com margens verticalizadas, constituídas por muros de contenção em
concreto armado e fundo natural de terra.
Uma forma de determinar o fator de atrito médio de seções com rugosidades
variáveis é através da proposta de Einstein:
2/3
1 P
n
= κ = [ (Σ ∆Pl/(κl)3/2)
]
Equação 13 - Equação de Einstein

Onde:
P é o perímetro molhado da seção

Pl é a fração do perímetro molhado com coeficiente κl

κ é o fator de atrito de Strickler médio na seção

2
Pode-se ver que a vazão é máxima para uma profundidade em torno de 0,93 do diâmetro.

19
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

n é o fator de atrito de Manning (inverso de κ)

Exemplo 7

Determinar o fator de atrito de uma seção retangular, com 3,0 metros de


profundidade e 6,0 metros de largura. As paredes são constituídas de gabião e o fundo é
natural. Adotar uma rugosidade equivalente ks=0,03m para o gabião e ks=0,20m para o
fundo natural.
Resolução: Da equação de Manning-Strickler tem-se:

k1/6 0,031/6
Gabião: ng= = = 0,021
26 26

0,201/6
nf= = 0,029
Fundo: 26

A partir da Equação de Einstein, resulta:

2/3
1 P
n
= κ = [ (Σ ∆Pl/(κl)3/2)
]
2/3
1 12,0
n
= [ (6,0.0,021 3/2
]
) +(6,0.0,029 3/2)
n = 0,026

2.5.2 Seções Mistas

No caso de seções mistas, constituída de leito principal e leito secundário,


conforme pode ser visto na Figura 4 do exemplo 8 a seguir, faz-se uma composição de
escoamentos. Considerando-se os escoamentos nos leitos principal e secundário
separadamente, como se fossem dois canais independentes. Não se considera o
perímetro molhado na interface dos dois escoamentos.

20
PHD-2301 - Escoamento em Canais:2. Distribuição das Tensões de Cizalhamento

Exemplo 8

Determinar a vazão máxima escoada no canal de seção mista da Figura 4 a seguir.


A declividade é 0,00035 m/m.

2,0 m n=0,021
A G
n=0,021 F

4,0 m n=0,040
D E

3,0 m n=0,021
5,0 m

B 4,0 m n=0,029 C

Figura 4 - Figura para o exemplo 8

Resolução: Determina-se, como no exemplo anterior, o fator de atrito médio para o


leito principal e secundário:
2/3
1 P
= κ = [ ]
n (Σ ∆Pl/(κl)3/2)

Leito Principal:

2/3
1 12,0
np
= [ ((5,0+3,0).0,021 3/2) +(4,0.0,0293/2)
]

np = 0,024
Leito Secundário:

2/3
1 12,0
ns
= [ (2,0.0,021 3/2) +(4,0.0,0403/2)
]
ns = 0,034
Elementos geométricos
Leito Principal:
Área: Ap = 5,0 . 4,0 = 20,0 m2

21
PHD-2301 - Escoamento em Canais:3. Coeficiente de Descarga

Perímetro Molhado3: Pp = 5,0 + 4,0 + 3,0 = 12,0 m


Raio Hidráulico: Rhp = 20/12 = 1,67 m
Leito secundário:
Área: As = 2,0 . 4,0 = 8,0 m2
Perímetro Molhado3: Ps = 2,0 + 4,0 = 6,0 m
Raio Hidráulico: Rhs = 8,0/6,0 = 1,33 m
Determinação das vazões:

1
Q = A . Rh2/3 . j1/2.
n
Leito Principal
Qp = 20,0 . 1,672/3 . 0,000351/2 . 0,024-1
Qp = 21,9 m3/s
Leito Secundário:
Qs = 8,0 . 1,332/3 . 0,000351/2 . 0,034-1
Qs = 5,3 m3/s
Portanto a vazão total será: Qt = Qp + Qs = 21,9 + 5,3 = 27,2 m3/s

3. COEFICIENTE DE DESCARGA

3.1 Definição

A partir da equação 12 pode-se, conforme já foi visto anteriormene, determinar a


vazão de escoamento num canal. Tomando-se, por exemplo, a equação de Chézy a
equação resultante será:
Q= C . A .√ Rh.j
Define-se o coeficiente de descarga k(y) como sendo:

K(h)=Q . j1/2
Equação 14

Ou, a partir de 11:


A . Rh2/3 8.g.Rh.A2
k(h) = C . A .√ Rh = =
n f

3
Foi descontado o perímetro de interface dos escoamentos do leito principal e secundário.

22
PHD-2301 - Escoamento em Canais:3. Coeficiente de Descarga

Equação 15

O coeficiente de descarga, escrito segundo a equação 15 passa a ser dependente


somente das características geométricas da seção de escoamento ( forma da seção e
rugosidade). Portanto pode-se construir uma curva, como a da Figura 5 a seguir, que
representa a variação do coeficiente de descarga com a profundidade em regime
uniforme, também denominada de profundidade normal (hn), para diferentes estágios do
escoamento (variação da vazão), ou para trechos que apresentem variação na
declividade.

hn

Q k(h)
√j
Figura 5 - Variação do coeficiente de descarga com a profundidade normal (hn)

Exemplo 9

Foi feito um estudo hidrológico para uma bacia urbana, resultando nas seguintes
vazões no exutório:

T retorno
Q(m3/s)
(anos)

5 15
10 30
50 40

Pretende-se estudar a capacidade de descarga da canalização de drenagem desta


bacia, para estas vazões. O canal existente tem seção retangular com largura de 6,0

23
PHD-2301 - Escoamento em Canais:3. Coeficiente de Descarga

metros e profundidade de 3,0 metros. As paredes laterais são de gabião e o fundo em


terra (a mesma seção do exemplo 7). A declividade é de 0,0015m/m.
Resolução: Do exemplo 7, tem-se o fator de atrito médio de Manning para a seção,
n = 0,026. Com isto, determina-se a variação do coeficiente de descarga com a
profundidade de escoamento, a partir da equação:
2/3
A . Rh2/3 6,0.h 1
k(h) =
n
= 6,0.h. (
6,0 + 2.h ) .
0,026
h(m) K(h)

0.50 66
0.75 123
1.00 190
1.25 265
1.50 346 Q5anos
1.75 432
2.00 521
2.25 614
Q10anos
2.50 709
2.75 807
3.00 907
Q50anos
3.25 1009
3.50 1112

Os coeficientes de descarga para as vazões a serem estudadas são:

T(anos) Q k(h)=Q.j -1/2

5 15 387
10 30 774
50 40 1033

Pode-se verificar que o canal comporta vazões com períodos de retorno de 5 a 10


anos, porém necessitaria de uma profundidade próxima de 3,50 m para não extravasar.

Exemplo 10

Uma canaleta de seção triangular, formando ângulo de 90º no vértice, deverá


escoar uma vazão de 1,2 m3/s. Esta canaleta será feita em concreto e terá trechos com

24
PHD-2301 - Escoamento em Canais:3. Coeficiente de Descarga

declividades de 0,0015 m/m , 0,006 m/m e 0,02 m/m. Dimensionar as seções da canaleta
em cada trecho.

Resolução: A partir da tabela 2.1. adota-se o fator de atrito de Manning-Strickler,


que para a tubulação de concreto é:
n = 1/k = 1/77 = 0,013
Elementos Geométricos

Área: A = h2
Perímetro Molhado: P = 23/2h
Raio Hidráulico: Rh: 21/2 . h/4
Coeficiente de descarga:
2/3
A . Rh2/3 h√2 1
k(h) =
n
= h2. ( 4 ) .
0,013

j k(h)=Q.j1/2 h

0,0015 31,0 0,92


0,006 15,5 0,71
0,02 8,5 0,57

Exemplo 11

Dimensionar uma linha de drenagem com tubos circulares de concreto, para


atender uma vazão de 0,60 m3/s. Para acompanhar o terreno, esta linha terá quatro
trechos com declividades de 0,0350; 0,0012; 0,0025 e 0,0007 m/m.
Resolução: Da mesma maneira como foi feito no exemplo anterior, chega-se ao
fator de atrito de Manning-Strickler:

25
PHD-2301 - Escoamento em Canais:3. Coeficiente de Descarga

n = 0,013
O trecho mais crítico é o de menor declividade. Conforme foi visto no exemplo 6 a
vazão máxima ocorre a aproximadamente 0,93 da profundidade, e a mesma vazão de
seção plena ocorre também com a profundidade de 0,85 do diâmetro. Portanto, por
facilidade de cálculo, faz-se o dimensionamento para a seção plena, tendo garantido que
o escoamento não entrará em carga (h=0,85.D). Logo:

1
Q = A . Rh2/3 . j1/2.
n
Considerando que Rh = D/4, resulta:
2/3
πD2 D
0,60 =
4 ()4
. 0,00071/2 . 0,013-1

∴ D = 0,98 m ⇒ D = 1,00 m
A partir das equações dos elementos geométricos obtidos no exemplo 6, constrói-
se a seguinte curva de descarga para condutos circulares:

2/3
1 1 sen α
[ ] {[ ( )]}
8/3
k(α) = (α - sen α) . 1- . D
8 4 α n

Como D=1,00 m e n=0,013, então:


2/3
1 1 sen α 1
k(α) =
[ (α - sen α)
8 ] {[ (
.
4
1-
α )]} .
0,013

α H* k(α)

0 0,000 0,000
30 0,017 0,011
60 0,067 0,215
90 0,146 1,109
120 0,250 3,284*
150 0,371 7,017
180 0,500 11,980*
210 0,629 17,310*

26
PHD-2301 - Escoamento em Canais:4. Seções Transversais de Canais

240 0,750 21,860


270 0,854 24,780
300 0,933 25,780
330 0,983 25,250
360 1,000 23,970

Determina-se a seguir os valores dos coeficientes de descarga para os demais


trechos, e com a tabela dos coeficientes de descarga para condutos circulares,
anteriormente calculados, resultam as profundidades de escoamento nos demais trechos:

k(h)=Q . j1/2
J H (*)
K(α)
(m/m) (m)

0,0350 3,21 0,25


0,0012 17,3 0,63
0,0025 12,0 0,50

4. SEÇÕES TRANSVERSAIS DE CANAIS

4.1 Dimensionamento

Algumas seções fechadas, particularmente a circular, tem um critéiro de


dimensionamento como o que foi exposto no exemplo 6, que possibilita o cálculo direto a
partir da equação de resistência ao escoamento. Outras seções, bem como as seções
abertas, necessitam de mais uma condição para a determinação de suas dimensões. Por
exemplo, o dimensionamento de uma seção retangular apresenta duas variáveis, a
profundidade e a largura. Portanto, além da equação da resistência ao escoamento
necessita-se de uma segunda para tornar o sistema determinado. Esta Segunda equação
pode ser um condição econômica, ou de estabilidade do canal. Se o canal é trapezoidal,
escavado em terra, surge uma nova variável que é o ângulo do talude, que deve obedecer
as condições de estabilidade do talude. A seguir apresenta-se alguns destes que
possibilitam o dimensionamento de canais abertos.

4.2 Seções econômicas ou de mínimo custo

Existem alguns critérios para o dimensionamento de canais com seção de mínimo


custo, que dependem extritamente da concepção do canal. Para pequenas canaletas
27
PHD-2301 - Escoamento em Canais:4. Seções Transversais de Canais

revestidas uniformemente em todo o seu perímetro, sem obras especiais de contenção,


pode-se adotar a definição de seção econômica, do ponto de vista geométrico, que
proporciona a máxima área com o menor perímetro molhado. Segundo este critério a
seção de forma circular ou semi-circular seria naturalmente a mais econômica. Estas
seções são normalmente utilizadas em canalizações pré-moldadas de drenagem, porém
em canalizações construídas no local, deve-se recorrer a outras formas de seções, que
dependerão do tipo de revestimento que terão as paredes. Segundo os mesmos critérios
geométricos, prova-se facilmente que a seção de mínimo custo é aquela que circunscreve
um semi-círculo, conforme se ve na Figura 6 abaixo.

Figura 6 - Seção de mínimo custo

Os elementos geométricos da seção de mínimo custo são:


Área: A(h) = h . ( b + h . cotg α)
Equação 16

Perímetro: P(h) = b + 2 . h . √ 1 + cotg2 α


Equação 17

Raio Hidráulico: h . ( b + h . cotg α)


Rh(h) =
b + 2 . h . √ 1 + cotg2 α
Equação 17

O ângulo α é definido pelas características do material de margem ou da sua


proteção (gabiões ou enrocamentos).
Diferenciando as equações de A(h) e P(h) e igualando a zero, para encontrar os
valores de máxima área e mínimo perímetro molhado, resulta:

b = 2 . h .(√ 1 + cotg2 α - cotg α ) Equação 18

A = h2 .(2 . √ 1 + cotg2 α - cotg α ) Equação 19

P = 2 . h .(2 . √ 1 + cotg2 α - cotg α ) 28


PHD-2301 - Escoamento em Canais:4. Seções Transversais de Canais

Equação 20

Se a seção for retangular, recai-se num canso particular destas equações, em que
α = 90º, e portanto:

b=2.h
A = 2 . h2
P=4.h
A seção retangular exige que haja paredes de contenção verticais nas margens o
que nem sempre torna esta solução mais econômica. Outros critérios devem ser
considerados na avaliação da solução mais econômica, tais como custo de escavação,
estabilidade das margens, custo do revestimento e eventual contenção, etc, uma vez que
a seção econômica pode levar a profundidades relativamente grandes.

Exemplo 12

Dimensionar um canal retangular, dentro de um critério de mínimo custo, para


escoar uma vazão de 1,5 m3/s. O canal será construído em concreto e terá uma
declividade de 0,005 m/m.
Resolução: O fator de atrito de Manning para canais em concreto é n=0,013 (ver
exemplo do capítulo anterior).
Elementos Geométricos:
Área: A = 2 . h2
Rh: Rh = h/2
Determinação da profundidade h:

1
Q = A . Rh2/3 . j1/2.
n
2/3
h 1
1,5 = 2h2 .
() 2
. 0,0051/2.
0,013

h = 0,57 m ⇒ h = 0,60 m

b=2.h ⇒ b = 1,20 m

Exemplo 13

29
PHD-2301 - Escoamento em Canais:4. Seções Transversais de Canais

No problema do exemplo 11, admitindo que o trecho de menor declividade seja o


mais longo, estudar a substituição da tubulação por canaletas de concreto com seção
retangular ou trapezoidal com talude 1:1, de dimensões únicas para todos os trechos,
atendendo o critério de mínimo custo.
Resolução: adota-se o mesmo fator de atrito de Manning-Strickler, n=0,013. O
dimensionamento da seção de mínimo custo será feito para o trecho de menor
declividade.

Seção retangular:

b=2.h A = 2 . h2 P=4.h Rh = h/2

1
Q = A . Rh2/3 . j1/2.
n

substituindo, resulta:
2/3
h 1
0,60 = 2h2 .
() 2
. 0,00071/2.
0,013

h = 0,58 m ⇒ h = 0,60 m b = 1,20 m


Seção trapezoidal, talude 1:1 :
cotg α =1

A = h2 .(2 . √ 1 + cotg2 α - cotg α )


A = 1,83 h2
2/3
h 1
0,60 = 1,83h2 .
() 2
. 0,00071/2.
0,013

h = 0,60m

b = 2 . h .(√ 1 + cotg2 α - cotg α )


b = 0,83 . h = 0,50 m.

30
PHD-2301 - Escoamento em Canais:4. Seções Transversais de Canais

4.3 - Seções Estáveis

Ao dimensionar uma seção de canal é preciso considerar a capacidade de


transporte sólido do escoramento, para evitar problema de assoreamento ou erosão do
leito ou margens.

Linha de assoreamento α
b
Figura 7 - Seção com assoreamento do leito

α
Linha de erosão

Figura 8 - Seção com erosão da margem

O equilíbrio dinâmico de um curso de água é algo muito complexo, que depende de


inúmeros fatores, tais como a sua hidrologia, sedimentação, geologia, o meio ambiente,
ações antrópicas, etc. Em função desta complexidade será tratado neste curso somente o
que diz respeito ao equilíbrio estático, especificamente ao problema de erosões de
margem, e ao dimensionamento da proteção direta com enrocamento.
A distribuição de tensões ao longo do perímetro molhado, é variável de acordo com
a geometria. De maneira geral, os valores máximos da tensão sobre o leito e a margem
são os seguintes:

Fundo: τ0 f.max ≈ τ = γ. h. j
0 para b/h >4

Equação 21

τ0 m.max = 0,7. τ
0 para b/h >2

Equação 22

A condição crítica de início de transporte sólido é dada pelo Critério de Shields, que
para material granular grosseiro tem a seguinte expressão:

31
PHD-2301 - Escoamento em Canais:4. Seções Transversais de Canais

τ 0 cr = 0,06( s γ - γ).d 50

Equação 23

Onde:

τ0 cr - é a tensão de cizalhamento crítica para o início de transporte do material

sólido;

γs e γ - são os pesos específicos do material sólido e da água, respectivamente;


d50 - é o diâmetro médio do material sólido.
Para que não haja erosão, é necessário que seja satisfeita a condição:

τ0 cr > F.. τ
0 máx

onde: FS - representa um fator de segurança

τ0 máx - é a tensão máxima do fundo ou da margem, dependendo de

onde se esteja fazendo a proteção.

Caso se trate de proteção de margem, τ


0 cr deve ser multiplicado pelo fator:


tg φ 2
FT = cos φ . 1- ( )
tg ψ

em que φ e ψ são respectivamente os ângulos do talude e de atrito interno do


material. O ângulo de atrito interno do material de proteção é determinado através da
figura 5.3???

4.4 Borda Livre

A Borda Livre corresponde à folga que deve ser deixada para evitar extrazamentos
devidos a flutuações na vazão, ação de ondas de vento ou de embarcações, tec.
Existem diversos critérios propostos para a adoção de um valor de Borda Livre.
Como sugestão, considerando as características dos portes das canalizações no Estado
de São Paulo, pode-se adotar um valor de ordem de 25% da profundidade do
escoamento, ou um mínimo de 0,30 m, em pequenas canalizações. De qualquer maneira,

32
PHD-2301 - Escoamento em Canais:5. Equação da Energia

ao estipular um valor de Borda Livre deve-se considerar os níveis de incertezas das


variáveis que determinam a profundidade de escoamento.

Exemplo 14

Dimensionar o mesmo canal de seção retangular do exemplo 12, considerando


uma borda livre igual a Quarta parte da profundidade de escoamento.
Resolução:
Elementos Geométrico:
Profundidade: h = 0,8hcanal
Largura: B = 2.hcanal
Área: A = 2 . 0,8 . h2canal
A = 1,6 . h2canal
Per. Molhado: P = (2 + 2 . 0,8)hcanal
P = 3,6 . hcanal
Raio Hidráulico: Rh: [2 . 0,8/(2 + 2 . 0,8)] . hcanal
Determinação da profundidade h:

1
Q = A . Rh2/3 . j1/2.
n
1
1,5 = 1,60h2 . (0,444.hc)2/3. 0,0051/2.
0,013

hc = 0,63 ⇒ hc = 0,65 m

b = 2.hc ⇒ b = 1,30 m.

5. EQUAÇÃO DA ENERGIA

5.1 - Energia total numa seção

Considere-se o ponto a uma profundidade y do fundo de um canal de grande


largura, conforme a Figura 9 abaixo, pode-se escrever que a energia total por unidade de
peso de uma partícula fluida ali posicionada é:
P V2 Equação 24
H= +y+z+
γ 2g
Denomina-se as grandezas da equação 24 de:
33
PHD-2301 - Escoamento em Canais:5. Equação da Energia

H carga total

P Carga piezométrica
γ

y e z Carga geométrica

V2 Carga Cinética
2g

α1
V2 ∆H 1-2
2g
V2
P α2
γ 2g
h1
y
h2
z1
P.H.R z2

Figura 9 - Balanço de energia entre duas seções consecutivas.

Em termos de valores médios na seção, esta equação transforma-se em:

P V2
H= + z + α.
γ 2g
Equação 25

Onde: α é o coeficiente de Coriolis, que leva em conta a distribuição de


velocidades.
(α=1.1 em geral α=1.5 em casos extremos)
P
h é a profundidade de escoamento (h = γ
+ z )
Se o regime for uniforme será a profundidade normal (yn).

5.2 Balanço de Energia

Pelo princípio da conservação de energia, entre duas seções consecutivas,


conforme é indicado na Figura 10, pode-se escrever:

34
PHD-2301 - Escoamento em Canais:5. Equação da Energia

H1 = H2 + ∆H1-2
Ou:
2 2
z1 + y1 + α. V1 = z2 + y2 + α. V2 + ∆H1-2
2g 2g
No caso de escoamento em regime uniforme, não havendo variações das
características hidráulicas, ou seja, a profundidade (y) e a velocidade (V) mantém-se
constantes, resulta que a perda de carga no percurso(∆H1-2) é igual a variação da energia
potencial no trecho considerado (z1 - z2). A equação 25 é conhecida como Equação de
Bernoulli.

5.4 Energia Específica

Define-se como energia específica (He), à energia total de escoamento referida ao


leito:
2
2 α Q
He =y + α. V1 = y + ( )
2g 2g A
Equação 26

Fazendo a representação gráfica da variação da energia específica como


profundidade, tem-se:

He

Hemin
Regime Regime
Torrencial Fluvial

yc y
Figura 10 - Curva de Carga Específica

Esta curva passa por um ponto de mínimo, determinado da seguinte forma:

dHe αQ2 dA(y) αQ2B


dy
= 1- ( gA3(y) ) dy
= 1- ( gA3(y) )= 0 Equação 27
dA(y)
Onde: A(y) - é a área da seção de escoamento, que varia com a profundiade y. dy

35
PHD-2301 - Escoamento em Canais:5. Equação da Energia

B- é a largura superficial, igual à variação da área com a profundidade .


O último termo do segundo membro da equação acima, representa o quadrado no
número de Froude, ou seja:
2
αQ2B
Fr = ( gA3 )
Equação 28

Portanto a condição de mínimo da função 26 ocorre quando:

Fr = 1
Equação 29

Ou seja, na condição de regime crítico. Pode-se então dizer que o escoamento em


regime crítico é o que ocorre com a mínima energia para uma dada vazão.
Se agora considerar-se como variável dependente da vazão (Q) e não mais a
carga específica, resultará a seguinte função:

Q = √2g A(y) .√He - y

Equação 30

Cuja representação gráfica é a seguinte:

He Regime
Fluvial
yc
Regime
Torrencial

Qmáx
Q
De forma semelhante ao que foi feito anteriormente, determina-se o ponto de
máximo, que corresponde à condição crítica. Resulta, portanto, que a condição de
escoamento crítico é aquela em que ocorre a máxima vazão para uma dada carga
específica.

36
PHD-2301 - Escoamento em Canais:5. Equação da Energia

5.5 Variação de seção de escoamento

Para resolver problemas deste tipo, basta aplicar a equação de Bernoulli entre as
duas seções a montante e a jusante da singularidade. Por exemplificar, considere-se uma
expansão de escoamento, conforme a Figura 11:

2
1 L. de Carga
Q ∆H1-2
V1 2 V2 2
α α
2g 2g
y1 y2

Planta Perfil
Figura 11 - Esquema da Variação de energia para ocaso de estreitamento brusco.

He1 = He2 + ∆H1-2


Ou:
2 2
y1 + α. V1 = y2 + α. V2 + ∆H1-2
2g 2g
Equação 31

A perda de carga em singularidades pode ser expressa de forma generalizada:


2
V2
∆H1-2= Κ . α 1 = Κ .
1 αQ
2g 2g ( ) B1y1
Equação 32

Onde K é uma constante que depende fundamentalmente das características


geométricas da singularidade.
De maneira geral, em escoamentos fluviais, de baixa velocidade, o termo cinético
não é muito significativo, podendo-se, na maioria dos casos práticos de determinação de
variação de nível de água, desconsiderar a perda de carga local.
Neste exemplo em particular, se o canal for retangular, a relação de profundidade
será:
2 2
y1 +
1 αQ = y + 1 αQ
2g ( )
B1y1
2
2g ( ) B2y2
Equação 33

37
PHD-2301 - Escoamento em Canais:5. Equação da Energia

Conhecendo-se a relação entre as larguras e uma das profundidades, determina-se


a outra:
No caso de regime torrencial, em que o termo cinético é importante, resolve-se da
mesma maneira, acrescentado-se o termo da perda de carga localizada ao segundo
membro da equação, resultando:

2 2
y1 +
1+K αQ = y + 1 αQ
2g ( )
B1y1
2
2g ( )
B2y2
Equação 34

Com esta forma de equacionamento se resolvem problemas de entradas de


galerias, passagem por seções de ponte, sobre-elevações de fundo (soleiras submersas),
rebaixos no leito, entre outros. É necessário somente conhecer-se os diferentes valores
de K, para cada situação específica, disponíveis em Manuais de Projeto.

Exemplo 15

Determinar o nível de água de um canal, escoando uma vazão de 20,0 m3/s,


imediatamente à montante de um estreitamento de seção. O canal tem seção retangular
nos dois trechos, com larguras de 6,0 metros à montante e 3,0 metros na seção de
jusante. Neste último trecho a profundidade é de 2,0 metros.
Resolução: Aplicando a equação da energia específica neste trecho de mudança
de seção e desprezando as perdas locais, resulta:
2 2
y1 +
1 αQ = y + 1 αQ
2g ( )
B1y1
2
2g ( )
B2y2

2 2
2,0 +
1 20,0 1 20,0
( ) = y2 +
2g 3,0.2,0 2g ( )
6,0.y2
Resolvendo a equação acima, por tentativas, resulta:
y2≈ 2,48m

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