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Ficha 5.9 Exames de Diagnóstico Médico ANÁLISES LABORATORIAIS Ficha 5.

Hemograma sença de elementos anormais, como, por exemplo, os para-


sitas da malária.
É uma das análises laboratoriais mais frequentemente
solicitadas. Efetua a contagem, o estudo da morfologia
e a constituição dos diferentes elementos do sangue. Antes do exame
Como tal, o seu campo de aplicação é vasto.
Não é necessário qualquer tipo de preparação, nem mesmo
cumprir jejum.
Em que consiste?
Após uma colheita de sangue, são avaliados, através de um Durante o exame
equipamento automático, os elementos celulares que exis-
tem em cada milímetro cúbico (mm³) de sangue: os glóbulos O primeiro passo é a colheita de sangue a partir de uma
vermelhos (ou eritrócitos), os glóbulos brancos (ou  leucó- veia, habitualmente a da prega do antebraço. Tal como em
citos) e as plaquetas. O  hemograma avalia ainda a hemo- qualquer análise que envolva a recolha de sangue venoso,
globina, uma proteína que existe no interior dos glóbulos é aplicada uma banda elástica (garrote) à volta do braço
vermelhos e que é responsável pela cor do sangue, e o para tornar as veias mais proeminentes e facilitar a punção.
hematócrito, para determinar a proporção de glóbulos ver- O local é limpo com álcool e, no final, deve fazer-se pressão
melhos em relação ao volume total do sangue. durante algum tempo para estancar a hemorragia e prevenir
a formação de um hematoma.
Para analisar a configuração dos glóbulos vermelhos, é colo-
cada uma gota de sangue num pedaço de vidro (lâmina),
para a observar ao microscópio. O objetivo é detetar a pre- Como interpretar os resultados?
Os valores normais de glóbulos vermelhos, de glóbulos
OS PRINCIPAIS COMPONENTES DO SANGUE brancos, de plaquetas, de hemoglobina e de hematócrito
podem variar nos diferentes laboratórios e dependem da
Os glóbulos vermelhos (eritrócitos) são Têm a função de defender o organismo idade e do sexo do indivíduo, da altitude e do tipo de amos-
um dos componentes e têm a missão de dos agentes patogénicos e de combater tra de sangue. Genericamente, consideram-se como normais
transportar o oxigénio e o dióxido de as infeções. Nesse contexto, atacam os valores apresentados no quadro em baixo.
carbono numa proteína que contêm, a e destroem as bactérias, os vírus ou
hemoglobina. São células com a forma outros organismos. Os principais
de um haltere e uma vida média de tipos de leucócitos são os neutrófilos,
120 dias. Nessa altura, perderam já elas- os linfócitos, os monócitos, os eosinó-
VALORES SANGUÍNEOS CONSIDERADOS NORMAIS
ticidade e a capacidade de se deforma- filos e os basófilos. Cada um desem- Componente
Homens Mulheres Crianças
rem para conseguirem passar nos vasos penha um papel diferente na proteção do sangue
sanguíneos mais estreitos. São destruí- do organismo. Glóbulos 4,5 a 6 milhões 4 a 5,5 milhões 3,9 a 5,3 milhões
dos ao atravessarem pelos pequenos As plaquetas servem de base à formação vermelhos por microlitro (μl) por microlitro (μl) por microlitro (μl)
vasos sanguíneos do baço, que funciona, dos coágulos necessários para controlar Hemoglobina 14-16 g/dl 12-14 g/dl 10,3-15 g/dl
assim, como um verdadeiro controlo uma hemorragia. Estas células de peque- Hematócrito 40-55% 35-45% 30-40%
de qualidade. nas dimensões, que duram apenas cerca
Glóbulos brancos 4000-11 000/mm³ (*)
Os glóbulos brancos (leucócitos) são de nove dias, atuam em conjunto com
maiores do que os vermelhos e existem os fatores de coagulação, outras subs- Plaquetas 150 000-450 000/mm³
em muito menor número no sangue. tâncias em circulação no sangue. (*)
Nas crianças, sobretudo até aos seis anos, valores até
19 000/mm³ podem ser considerados normais.

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Ficha 5.9 Exames de Diagnóstico Médico ANÁLISES LABORATORIAIS Ficha 5.9

Glóbulos vermelhos e hemoglobina hematócrito. Isso só não acontece quando o número de gló-
Os valores de glóbulos vermelhos e de hemoglobina podem bulos vermelhos está reduzido, mas o seu volume individual
estar aumentados devido a alterações do teor em água no está aumentado. Uma situação possível no alcoolismo cró-
organismo, nomeadamente na sequência de desidratação, nico, mas também numa gastrite crónica, acompanhada de
diarreia, vómitos, suores excessivos, queimaduras graves má absorção de vitamina B12 ou de ácido fólico.
e uso de alguns medicamentos, como os diuréticos. Taba-
gismo, altitude elevada, exposição ao monóxido de carbono, Índices eritrocitários
doença pulmonar crónica ou proliferação anormal e descon- São parâmetros que podem dar informações adicionais
trolada de glóbulos vermelhos (policitemia vera) são outros quanto à causa de uma anemia. O VGM indica o tamanho
fatores capazes de contribuir para um aumento do número dos glóbulos vermelhos. O HGM corresponde à quantidade
de glóbulos vermelhos e da hemoglobina. de hemoglobina contida em cada glóbulo vermelho. O RDW
refere-se à homogeneidade da morfologia dos glóbulos ver-
Quando a hemoglobina e os glóbulos vermelhos apresen- melhos. Para saber mais sobre estas siglas, veja o quadro
tam valores baixos, existe uma anemia. Neste caso, os índi- em baixo.
ces eritrocitários e os reticulócitos (veja na página seguinte)
podem caracterizar a anemia e identifica a sua origem.
COMO LER OS ÍNDICES ERITROCITÁRIOS?
Valores
Índices Interpretação dos valores anormais
normais
CURIOSIDADE Pode estar aumentado numa anemia por
Índice de distribuição deficiência de ferro, mas não numa causada
A eritropoietina é uma hormona segregada pelo rim que 11,5-14%
eritrocitária (RDW) por anomalia congénita na constituição da
estimula a medula óssea a produzir mais glóbulos vermelhos. hemoglobina (talassemia).
Como o oxigénio é transportado pela hemoglobina (compo- Valores reduzidos podem assinalar, por
nente dos glóbulos vermelhos), uma subida da eritropoietina Hemoglobina globular exemplo, uma hipocromia (diminuição da
32-36 g/dl
aumenta a capacidade de transporte de oxigénio pelo sangue. média (HGM) coloração normal dos glóbulos vermelhos), o
Por isso, esta proteína tem sido, por vezes, indevidamente usada que ocorre nas anemias por deficiência de ferro.
como substância dopante em ciclistas e em corredores de longa Valores abaixo dos normais indicam uma
distância, para aumentar a sua resistência ao esforço. Este proce- anemia por deficiência de ferro, causada
dimento ilegal tem riscos para os atletas, pois a subida do hema- Volume globular médio por hemorragia, ou, ainda, uma talassemia.
80-95 fl (*)
tócrito provocada pela eritropoietina, e agravada pela desidra- (VGM) Num contexto de anemia, um VGM elevado
pode dever-se a falta de vitamina B12 ou
tação, pode levar à interrupção do fornecimento de sangue e,
de ácido fólico.
como tal, à morte.
(*) fl = fentolitros, uma submedida do litro (1 litro = 1015 fl)

Hematócrito Percentagem de reticulócitos


Se os valores forem inferiores ao normal, estamos perante Os reticulócitos são os precursores dos glóbulos vermelhos.
uma anemia, que pode ser consequência de hemorragia, o A sua análise permite avaliar a renovação dos glóbulos ver-
défice de absorção de ferro ou alterações da hemoglobina. melhos e, desta forma, o funcionamento da medula óssea,
onde são produzidos os componentes do sangue.
Valores superiores ao normal podem indicar desidratação
resultante, por exemplo, de diarreia, de uma queimadura Glóbulos brancos
extensa ou de uma anomalia da medula óssea com produ- A quimioterapia, a anemia aplástica (em que a medula óssea
ção excessiva de glóbulos vermelhos. A redução do número deixa de produzir glóbulos brancos), as infeções virais, o
de glóbulos vermelhos provoca também uma redução do alcoolismo, a sida e o lúpus estão, por vezes, na origem de

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Ficha 5.9 Exames de Diagnóstico Médico ANÁLISES LABORATORIAIS Ficha 5.9

uma diminuição dos glóbulos brancos. Esta situação reduz Um número elevado de plaquetas favorece a formação de
as defesas do organismo e torna as pessoas mais vulneráveis coágulos dentro dos vasos sanguíneos (tromboses) e pode
a infeções. ocorrer em alguns cancros ou em doenças inflamatórias.

Pelo contrário, o número de glóbulos brancos aumenta


quando há uma infeção, uma inflamação, stresse físico (tal É útil para…
como febre ou cirurgia) ou emocional grave, queimaduras,
insuficiência renal, tuberculose ou leucemias. Neste último … detetar anemias, em que o número
caso, normalmente o aumento é muito mais acentuado e de glóbulos vermelhos e a quantidade ATENÇÃO!
podem mesmo surgir formas ainda não diferenciadas (ima- de hemoglobina está reduzida. Os sin-
turas) de glóbulos brancos em circulação. O uso de medi- tomas são fadiga, fraqueza, palidez ou A avaliação das plaquetas
camentos, como os corticoides, ou a remoção do baço perda de peso; nem sempre está incluída nos
(esplenectomia) também podem fazer com o número de … confirmar anomalias na forma dos resultados de um hemograma.
Para que este parâmetro seja
leucócitos aumente. glóbulos vermelhos, o que ocorre em
considerado, o médico deverá
algumas anemias congénitas;
pedir um “hemograma com
Para a identificação do problema, é importante saber qual o … diagnosticar a policitemia vera, uma plaquetas” ou um “hemo-
tipo de leucócitos que está aumentado. Para isso, é efetuada doença em que a quantidade de gló- grama completo”.
uma contagem diferencial. Os valores considerados normais bulos vermelhos é excessiva;
são os apresentados no quadro em baixo. … quantificar os glóbulos brancos no
sangue e detetar, por exemplo, infe-
ções ou redução das defesas do organismo;
LEITURA DOS VALORES NA CONTAGEM DIFERENCIAL … verificar uma diminuição do número de plaquetas (trom-
Valores Causa provável bocitopenia), que, se for muito acentuada, pode predispor
Glóbulos brancos
normais do aumento o indivíduo para hemorragias graves, porque as plaquetas
Neutrófilos 45-75% Infeções de origem bacteriana participam nos mecanismos de coagulação do sangue. Tam-
Infeções de origem viral,
Linfócitos 15-45% bém pode diagnosticar um aumento do número de plaque-
como tuberculose
tas (trombocitose), com risco de trombose nos vasos;
Monócitos 0,5-10% Doenças virais
… avaliar se o número de plaquetas no sangue antes de uma
Eosinófilos 0-3% Parasitoses, alergias e asma
cirurgia não põe a pessoa em risco de uma hemorragia grave
Basófilos 0-2% Alergias (por exemplo, se forem < 50 000/mm3).

Plaquetas Quais os riscos?


Podem estar diminuídas na gravidez ou em doenças em que
são destruídas pelo próprio sistema imunitário, como a púr- A picada da veia para retirar o sangue pode ser ligeiramente
pura trombocitopénica idiopática, patologia que se carac- dolorosa, mas ainda assim suportável. O risco de formação
teriza pelo sangramento frequente das mucosas. As plaque- de hematoma no local da punção pode ser reduzido pres-
tas podem ainda estar diminuídas em doenças crónicas do sionando algum tempo, depois de retirada a agulha. Embora
fígado ou devido à administração de certos medicamentos isso raramente aconteça, a veia pode ficar inflamada (flebite).
e tratamentos, nomeadamente alguns diuréticos (como as Nesse caso, é tratada com a aplicação, várias vezes ao dia,
tiazidas), os corticoides e a quimioterapia. de uma compressa aquecida.

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Ficha 5.10 Exames de Diagnóstico Médico ANÁLISES LABORATORIAIS Ficha 5.10

Ionograma resultados. Na maioria das vezes, é o próprio laboratório que


o fornece.
Avalia os níveis de sódio, de potássio e de cloro através
de uma análise ao sangue ou, mais raramente, à urina.
É  uma das análises mais solicitadas pelos médicos e, Como interpretar os resultados?
entre outras funções, identifica problemas na hidratação
do organismo. No ionograma, há que ter em conta os valores do sódio, do
potássio e do cloro (veja o quadro em baixo). Habitualmente,
os valores de cloro tendem a ser proporcionais aos de sódio,
Em que consiste? exceto em casos muito pontuais. Por exemplo, uma acidose
pode afetar apenas o cloro.
São habitualmente quantificados o sódio, o potássio e o
cloro. Além do ionograma no sangue (ionograma sérico),
poderá ainda ser pedido um ionograma na urina, nomea- OS VALORES NORMAIS
damente quando se suspeita de doenças de origem renal. NO IONOGRAMA (*)
Em situações mais específicas, são também determinados os Sódio 137-142 mEq/l
níveis de magnésio, de cálcio e de fósforo. Potássio 3,5-5,5 mEq/l
Cloro 98-107 mEq/l
Os parâmetros avaliados neste exame são particularmente (*) medidos em mEq/l (miliequivalente por litro)

importantes para a estabilidade celular. Alterações signifi-


cativas dos seus valores podem ter consequências muito
graves no organismo.

Valores de sódio inferiores aos normais (hiponatremia)


Antes do exame podem estar associados, entre outros, a:
––aumento das gorduras no sangue e da secreção de ADH,
Não é necessário jejum prévio nem qualquer tipo de uma hormona da hipófise também designada hormona anti-
preparação. diurética. Esta alteração constitui a síndroma de secreção
inapropriada de ADH (SIADH);
––hipotiroidismo;
Durante o exame ––insuficiência renal;
––toma de alguns medicamentos, como a amitriptilina, a car-
Tratando-se de uma análise ao sangue, o primeiro passo bamazepina e a sertralina;
consiste na colheita de cinco mililitros de sangue, habitual- ––excesso de diuréticos;
mente na veia da prega do antebraço. Como em qualquer ––diarreia e vómitos.
análise que envolva a recolha de sangue venoso, para tornar
as veias mais proeminentes e facilitar a punção, é aplicado Valores de sódio superiores aos normais (hipernatremia)
um garrote à volta do braço. O local da punção é habitual- podem estar relacionados com:
mente limpo com álcool. No  final, deve fazer-se pressão ––síndroma de Cushing;
durante algum tempo para parar a hemorragia e prevenir a ––febre;
formação de um hematoma. ––queimaduras graves;
––diabetes insípida. Não se trata de uma “verdadeira” diabe-
Caso seja pedida a análise à urina, o recipiente utilizado para tes, apenas da incapacidade de reter água, por deficiência
a colheita da amostra deve estar limpo, para não falsear os de ADH.

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