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TJBA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

04/05/2020

Número: 8001102-16.2020.8.05.0256
Classe: AÇÃO POPULAR
Órgão julgador: 1ª V DA FAZENDA PÚBLICA DE TEIXEIRA DE FREITAS
Última distribuição : 04/05/2020
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Admissão / Permanência / Despedida
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MARCILIO CARLOS GOULART (AUTOR) JONATAS ANDRADE PEREIRA (ADVOGADO)
MUNICIPIO DE TEIXEIRA DE FREITAS (RÉU)
TEMOTEO ALVES DE BRITO (RÉU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
55016 04/05/2020 18:43 Petição Inicial Petição Inicial
635
55016 04/05/2020 18:43 Petição Inicial- Ação Civil de Pública Petição Inicial
666
PETIÇÃO INICIAL

Assinado eletronicamente por: JONATAS ANDRADE PEREIRA - 04/05/2020 18:42:24 Num. 55016635 - Pág. 1
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Número do documento: 20050418422441600000053059116
EXCELENTÍSSIMO (a) SENHOR (a) DOUTOR (a) JUIZ DE DIREITO DA VARA DA
ÚNICA FAZENDA PÚBLICA COMARCA DE TEIXEIRA DE FREITAS-BA.

MARCÍLIO CARLOS GOULART , brasileiro, divorciado, vereador, portador do


RG de nº MG-4.195.800 SSP/MG, portador do CPF de nº 588.613.946-04, cadastrado de
nº 942069505-31, por meio de seu advogado que esta subscreve, consoante instrumento
de procuração em anexo, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro
no art. 5.º, inciso LXXIII da CF, e ainda na Lei 4.717/65, interpor o presente remédio
constitucional,

AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER


LIMINAR

Contra o : (i) PIO DE TEIXEIRA DE FREITAS/BA


-
pe, Teixeira de Freitas - Bahia, CEP 45990-710; (ii)
TEMÓTEO ALVES DE BRITO, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o no
009.290.775- 04, domiciliado Avenida Marechal Castelo Branco, 145, Centro, Teixeira de
Freitas - BA, 45985-172; pelos substratos fáticos e jurídicos a seguir aduzidos.

-1- DA DESCRIÇÃO FÁTICA

-A COVID-19 que atualmente comove todo o Mundo ensejando numerosos gestos


de solidariedade e amor ao próximo em todo País, paradoxalmente, vem sendo terreno
fé á “ ” dos agentes públicos.

-No caso em apreço, a lamentável questão fática trazida a esse Juízo é mais uma
para ser incluída no currículo de abusos perpetrados pela atual Administração Pública
de Teixeira de Freitas-BA, na pessoa do Sr. Timoteo Alves de Brito, que, agora, se
aproveita da mitigação da capacidade fiscalizatória do Estado causada pela
concentração de esforços voltados ao combate da crise sanitária, para praticar
arbitrariedades.

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-Conforme consta dos autos, no dia 30 de abril de 2020, o segundo demandado, na
condição de gestor municipal, achou por bem, em audaciosa atitude deflagrar os
Decretos Municipais de nº 466, 467, 468, 469, 479, 480, 481/2020, exone “
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por tempo determinado, e ainda excluindo a gratificação de diversos servidores que
ç “ x ”
ato administrativo a suposta:
• a redução de receita pública, por conta da
crise econômica nacional agravada pela pande ia
do corona ru -19).

-Ressalte-se que, frente aos documentos colacionados à exordial, é profundamente


enganoso crer que tais motivos se prestariam para - num ambiente de insegurança e
incerteza causado pelo COVID-19, que recomendava um olhar solidário do gestor com
a população Teixeirense - deixar inadvertidamente inúmeras pessoas desempregadas,
e outras centenas com salários comprometidos, em verdadeiro atentado a Dignidade
da Pessoa Humana.
-A disfarçada motivação promovida pelo gestor municipal é desvendada pela
simples análise da receita do município na média dos meses anteriores à pandemia,
posto que, além do município já ter recebido crédito extraordinário do Governo
Federal no valor de R$ 4.554.643,81 (quatro milhões quinhentos e cinquenta e quatro
mil seiscentos e quarenta reais e oitenta e um centavos), para o combate à pandemia,
será ainda agraciado com mais R$ 15.240.201,02 (quinze milhões duzentos e quarenta
mil e duzentos e um reais e dois centavos), pelo Programa Federativo de
Enfrentamento ao Coronavirus, conforme tabela em anexo.
-É forçoso observar que o município de Teixeira de Freitas-BA receberá para o
combate a crise da pandemia, a significativa cifra de quase vinte milhões de reais!!! o
que seria mais que suficiente para preservação de empregos durante a pandemia do
novo coronavírus, tonando, portanto, incontestável a farsa inserida na motivação do
ato administrativo que demitiu e ainda excluiu gratificações de inúmeros servidores
municipais, alegando suposta redução de receita causada pelo COVID-19, porquanto, a
vultuosa verba recebida, demonstra, por si só, que houve aumento substancial de
receita justamente para conferir a municipalidade estrutura financeiro durante a crise.
-Conforme anotado acima, o gestor municipal decidiu realizar cortes de
gratificação concedida a servidores sem abertura de qualquer processo administrativo,

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desafiando, inclusive, precedente judicial do E. TJBA, envolvendo o próprio município
de Teixeira de Freitas-BA, no ano de 2019, consoante veremos.

-Portanto, nefastos são os efeitos do ato administrativo viciado praticado pelo


município de Teixeira de Freitas-BA, onde o gestor municipal simplesmente fez “
” á q q OVID-19 no atual
cenário, que recomendava, ao contrário do seu comportamento, a revisitação de muitos
conceitos na inegociável busca de agasalhar postulados caros numa sociedade
democrática de direito, quais sejam: a Vida; a Saúde; e a Dignidade da pessoa Humana,
todos de índole constitucional.
-Logo, na condição de Vereador do município de Teixeira de Freitas-BA, comovido
com as inúmeras pessoas alcançadas pelos efeitos do ato administrativo que ora se
impugna, que, simplesmente, acordaram desempregados, quando não com seus
salários comprometidos, sem qualquer contraditório, não vislumbraram outra medida
senão, recorre a esse Judiciário através do presente remédio constitucional.
-2- DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA DEMANDA

-Reza o art. O art. 5°, inciso LXXIII, da CRFB, admite a impetração da ação
popular, por qualquer cidadão, visando anular ato lesivo ao patrimônio público ou se
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural.
-No mesmo sentido, a Lei 4.717/65, legitima a propositura de ação popular a
qualquer cidadão, desde que, observados os requisitos processuais exigidos, seja
alegado de modo fundado a existência de ato lesivo ao patrimônio público:

ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do


Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades
autárquicas, de sociedades de economia mista.

-Nos autos, há elementos suficientes para, de plano, constatar a existência de lesão


concreta ao patrimônio público, no qual se extrai a deflagração de Decretos Municipais
7 9 79 x “ ” g
comissionados e rescindindo contratos de prestação de serviço por tempo
determinado, e ainda excluindo a gratificação de diversos servidores que continuaram
no serviço público municipal, sem a observância de um devido processo legal, tanto
em seu aspecto substancial (vício no conteúdo, ante ao flagrante desvio de finalidade
que contamina o ato administrativo), quanto em seu viés processual, na medida em

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que inexistiu qualquer processo administrativo prévio, em clara violação aos princípios
basilares da Administração Pública.
-Nesse cenário, impõe a Vossa Excelência reconhecer a ilegalidade do ato, com a
consequente nulidade, nos termos do art. 2º da Lei 4.717/65, in verbis:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no
artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade
do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único.
Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes
normas: e) o desvio da finalidade se verifica quando o agente pratica o ato
visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra
de competência.

-Quanto ao conceito de ilegalidade nos casos de anulação do ato administrativo,


diz Hely Lopes Meirelles: O conceito de ilegalidade ou ilegitimidade, para fins de
anulação do ato administrativo, não se restringe somente à violação frontal da lei.
Abrange não só a clara infringência do texto legal, como também o abuso por excesso
ou desvio de poder, ou por relegação dos princípios gerais do Direito. ("Direito
Administrativo Brasileiro", Malheiros, 2a. edição, p. 138). E complementa:"(...) Ainda
que se trate de poder discricionário da Administração, o ato pode ser revisto e anulado pelo
Judiciário, desde que, sob o rótulo de mérito administrativo, se aninhe qualquer ilegalidade
resultante de abuso ou desvio de poder".
-Portanto, na espécie, não estará o Judiciário imiscuindo-se no mérito do ato
administrativo, no sentido de verificar quanto à conveniência e oportunidade do ato. O
que se discute nesta demanda é exatamente a existência de lesividade em razão de
vícios da prática de ato administrativo que desaguam em prejuízo aos cobres do
município. Vejamos.
-2.1 – DA VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL – DEMISSÃO E
RET RADA DE GRAT F AÇÕES DE SERV DORES “E ASSA” SE A
OBSERVÂNCIA DE CONTRADITÓRIO PRÉVIO EM PLENO CLIMA DE
PANDEMIA – PRECEDENTES NO E. TJBA.

-No caso em apreço, verifica-se que o município de Teixeira de Freitas-BA (1º


requerido), por meio de seu gestor (ora segundo requerido), achou por bem, no meio
de uma crise sanitária e econômica que assola o País, demitir inúmeros contratos e
ainda extrair gratificações de diversos servidores, sumariamente, sem o necessário
devido processo legal, incorrendo, assim, em manifesta ilegalidade. Isso porque, a
rescisão unilateral do contrato temporário, embora caracterize ato administrativo
discricionário, podendo ser efetivada sempre que houver interesse público, estrito à

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conveniência e oportunidade, pressupõe inafastável observância ao devido processo
legal, em razões dos efeitos danosos causados a esfera jurídica do particular,
sobretudo, na espécie, onde envolveu inúmeros servidores no bojo de uma crise
sanitária e financeira.
-Com efeito, o ato da administração afigura-se ilegal, pois a demissão em massa se
deu em menoscabo ao procedimento formal assegurador do due process of law. Com o
advento da Constituição Federal de 1988, tornou-se imperativa a observância para
todos os administrados do devido processo legal, consubstanciada nas cláusulas
constitucionais da ampla defesa e do contraditório, corolário do postulado da não
surpresa. Portanto, em respeito à reportada diretriz constitucional, tem-se que todos os
atos processuais ou de natureza procedimental devem primar pela ciência bilateral das
partes, e pela possibilidade de tais atos serem contrariados com alegações e provas.
Registra-se que, sobre o assunto o E. TJBA já se manifestou em brilhante voto da
Desembargadora Ilona Márcia Reis, que assim descreveu:
(...) É inderrogável, para se outorgar legitimidade à demissão, ainda
que em contratos temporários, a instauração de prévio processo
administrativo, no qual fossem explicitadas as razões de fato e de
direito que implicaram no desfazimento do ato de contratação. Não se
trata, ressalte-se, de uma mera formalidade, um adereço normativo
dispensável ao talante do agente público, dado que se apresenta como
uma garantia da legitimidade da prerrogativa de autotutela outorgada
à Administração Pública. Decorrência imediata desta desordem é a
ofensa ao princípio da ampla defesa, claramente vulnerado. É
completamente descabida a autuação administrativa, quando se
constata que o afastamento da impetrante fora adotado de modo
sumário, sem que ao menos tenha a autora da ação mandamental
previamente cientificada. Se o contraditório configura a garantia de ser
cientificado com clareza não só da existência do processo, mas de tudo
o que nele ocorrera, visando permitir ao administrado manifestar-se
sobre todos os atos e fatos praticados, não se pode negar que a
preterição desta garantia vulnera, de modo intestino, o processo
administrativo(...)”.

-Cumpre sublinhar que em casos de redução da carga horária, que implicam em


diminuição dos vencimentos, faz-se imperioso o devido processo legal, quiçá quando
há extinção do contrato de trabalho, ainda que temporário, onde há supressão da
remuneração, revela-se com mais vigor a necessidade de respeito às garantias
constitucionais do devido processo legal, contraditório e ampla defesa (TJ-BA - APL:
05027150320158050103, Relator: Ilona Márcia Reis, Quinta Câmara Cível, Data de
Publicação: 08/11/2017).

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-No mesmo sentido se denota em relação a extinção das gratificações em massa
dos servidores, sem a observância do devido processo legal prévio, conforme se extrai
nos comunicados dos secretários, porquanto, o município REITERA tal abusividade, na
medida em que, já teria sofrido derrota em ação judicial de nº 0500343-
39.2017.8.05.0256, proveniente deste Juízo, onde o E. TJBA, acertadamente, decidiu que:

PARCIALMENTE CONCEDIDA
vantagens remuneratórias anteriormente concedidas a servidor
público, sem a previa instauração de processo administrativo, em que
sejam

supressão da gratificação anteriormente deferida ao servidor não foi


precedida do competente processo administrativo, indispensável para
a sua validade, à luz dos princípios constitucionais do contraditório e
da ampla defesa. Lado outro, não se pode acolher o pleito
indenizatório referente ao pagamento retroativo d

do STF). Recurso parcialmente provido.

-Portanto, é indiscutível a violação ao devido processo legal legislativo


procedimental pelo município de Teixeira de Freitas-BA, o que, por si só, já autoriza
anulação do ato administrativo que retirou a estabilidade econômica de inúmeras
pessoas durante uma crise econômica, sem que lhe fosse assegurado a abertura de
processo administrativo, com a garantia do contraditório e ampla defesa.
-2.2 – DA VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL SUBSTANCIAL –
MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO QUE NÃO GUARDA
COMPATIBILIDADE COM A SITUAÇÃO DE FATO PROPOSTA – MUNICÍPIO
QUE RECEBERÁ QUASE VINTE MILHÕES PARA O COMBATE A COVID-19 –
TRANSCEDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES.

-Sobre o assunto, é pertinente assinalar as lições de Fredie Didier Jr. que preconiza:

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[…]
exigências formais: devido é o processo que gera decisões jurídicas
[…]”
devido processo legal como fundamento dos deveres de
proporcionalidade ou razoabilidade não significa dizer que esses
deveres apenas se aplicam ao âmbito processual jurisdicional. Como já
se disse, o devido processo legal é princípio que se aplica em qualquer
produção normativa, inclusive no processo de produção dos negócios
j ” D D ER JR C D to
Processual Civil. Vol. 01: Introdução ao Direito Processual Civil e
Processo de Conhecimento. 16ª ed. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 50 e
53..

-Com efeito, o poder discricionário não é uma liberdade decisória externa ao


direito, de modo que, é plenamente legítimo ao Poder Judiciário promover o controle
de atos administrativos, quando praticado em desvio de finalidade, violando o devido
processo legal substancial.
-Sobre o assunto Bandeira de Mello explica que "Em despeito da discrição
presumida na regra de direito, se o administrador houver praticado ato discrepante do
único cabível, ou se tiver algum fim seguramente impróprio ante o confronto com a
finalidade da norma, o Judiciário deverá prestara adequada revisão jurisdicional,
porquanto, em rigor, a Administração terá desbordado da esfera discricionária.
-Com efeito, (...) mesmo os atos discricionários, se forem motivados, ficam
vinculados a esses motivos como causa determinante de seu cometimento e se sujeitam
ao confronto da existência e legitimidade dos motivos indicados. Havendo
desconformidade entre os motivos determinantes e a realidade, o ato é inválido.
-Aplica-se, no caso em análise, a teoria dos motivos determinantes, fundada na
consideração de que os atos administrativos, quando tiverem sua prática motivada,
ficam vinculados aos motivos expostos, para todos os efeitos jurídicos. Tais motivos é
que determinam e justificam a realização do ato, e, por isso mesmo, deve haver perfeita
correspondência entre eles e a realidade.
-Na espécie, não se debate o direito do município de Teixeira de Freitas-BA de
demitir funcionários, ainda que em massa, a sua conveniência, conforme procedeu.
Todavia, na esteira das diretrizes legais e jurisprudenciais acima expostas, ao deflagrar
tal procedimento administrativo compete ao município guardar compatibilidade entre
o motivo apresentado com a situação de fato expressamente manifestada, o que não se

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vislumbra na situação em epígrafe, sujeitando, deste modo, a invalidação do ato
administrativo. Isso porque, o gestor município apresenta como motivação, in verbis:

C D-19).

-Contudo, a disfarçada motivação promovida pelo gestor municipal é desvendada


pela simples análise da receita do município na média dos meses anteriores à
pandemia, posto que, além do município já ter recebido crédito extraordinário do
Governo Federal no valor de R$ 4.554.643,81 (quatro milhões quinhentos e cinquenta e
quatro mil seiscentos e quarenta reais e oitenta e um centavos), para o combate à
pandemia, será ainda agraciado com mais R$ 15.240.201,02 (quinze milhões duzentos e
quarenta mil e duzentos e um reais e dois centavos), pelo Programa Federativo de
Enfrentamento ao Coronavirus, conforme tabela em anexo.
-Com efeito, resta evidente que os motivos explicitados pelo município para
deflagração do ato administrativo, NÃO se mostram legítimos, uma vez que, se
encontram dissociados da realidade exposta, impondo a sua invalidação por notável
vício de motivação.
-Logo, sem multa delonga, a decisão administrativa que exonerou diversos cargos
comissionados e rescindiu contratos de prestação de serviço por tempo determinado,
encontra-se eivada de ilegalidade, tendo em vista que, demonstrada a insubsistência
dos motivos que embasaram a prática do ato administrativo, resta ele viciado,
impondo-se sua anulação por violação ao devido processo legal substancial.
-3. DA MEDIDA LIMINAR PARA SUSPENSÃO DOS EFEITOS DO ATO
ADMINISTRATIVO IMPUGNADO

-É q “( ) ç é x lo
parágrafo 4.º do art. 5.º da Lei n.º 4.717/65.
A mesma Lei determina obediência ao procedimento ordinário previsto no CPC e
a este remete no que não contraria seus dispositivos (mesma lei - arts. 7.º e 22). (TJ-RS -
AI: 70047577150 RS, Relator: Genaro José Baroni Borges, Data de Julgamento:
04/09/2013, Vigésima Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do
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pressupõe a configuração dos pressupostos típicos das tutelas de urgência. Na
presença de tais requisitos - fumus boni iuiris e periculum in mora - o deferimento da
medida se impõe. (TJ-SC - AI: 382725 SC 2005.038272- 5, Relator: Luiz Cézar Medeiros,
Data de Julgamento: 11/04/2006, Terceira Câmara de Direito Público).

Assinado eletronicamente por: JONATAS ANDRADE PEREIRA - 04/05/2020 18:42:24 Num. 55016666 - Pág. 8
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-Presentes, pois, no caso em epígrafe. O fumus boni iuris está presente e foi
demonstrado por meio da expressiva lesividade narrada, da verossimilhança jamais
afastada diante dos pressupostos fáticos narrados que diante das provas inequívocas
acostadas revelam prática de superfaturamento pela gestora municipal. Doutra parte, o
periculum in mora, requisito que condiciona a concessão não só da medida liminar,
mas todas as medidas de natureza cautelar, se configura quando houver fundado
temor de que, no decurso do tempo normal que antecede a tutela definitiva, ocorra
prejuízo de qualquer natureza que comprometa ou impossibilite a plena eficácia de
sentença que reconheça a pretensão.
-No presente caso, o dano refere-se aos prejuízos que experimentará a
Administração municipal em caso de fluência dos efeitos do ato administrativo
deflagrado ao arrepio do ordenamento jurídico, permitindo um prejuízo substancial
aos cobres públicos, na medida em que, se permitirá um desfalque de inúmeros
servidores responsáveis para garantia de serviços essenciais, respeitando a Supremacia
do Interesse Público.
-Ademais, o perigo de dano irreparável se estende aos administrados, na medida
em que, ante a injustificável rescisão do contrato de trabalho perderão seus empregos e
ficarão em situação de vulnerabilidade financeira em pleno período de isolamento
social ameaçando a Dignidade Humana. E assim, uma vez demonstrado o fumus boni
juris e o periculum in mora, ao juiz não é dado optar pela concessão ou não da cautela,
pois tem o dever de concedê-la, como de fato o fez. Por outro vértice, é indiscutível a
possibilidade de concessão de medida liminar em ação popular, como ensina a
doutrina, quando evidenc “ g
consubstanciado na iminência do dano, e, principalmente, pela demora da apreciação
‘ ’
- “
– mesmo, ‘initio litis’, no processo de ação popular
constitucional – visa a impedir que se consumem situações configuradas de dano
á g é (…)” ( D 7-AP, rel. Min.
Celso de Mello, j. 20.09.2001. Informativo STF n. 243, de 03.10.2 )”
exibidos os elementos convincentes sobre o apontado ato ilegal e a decorrente lesão ao
erário público, de rigor se afigura a concessão da medida vindicada, de forma a
garantir a inexistência de prejuízos ao erário municipal e aos próprios munícipes
envolvidos, evitando, ainda, a proliferação das irregularidades ora noticiadas.

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-4- DOS PEDIDOS

Pelo exposto, requer a Vossa Excelência:


a) em caráter LIMINAR, a concessão do provimento cautelar postulado,
determinando a SUSPENSÃO dos efeitos dos Decretos Municipais de nº 466, 467, 468,
469, 479, 480, 481/2020, reintegrando as suas funções os servidores dispensados pela
prefeitura Municipal de Teixeira de Freitas/BA, se ABSTENDO ainda de efetuar
qualquer demissão e extinção de gratificação sem a observância do devido processo
legal administrativo, nos termos do precedente do TJBA, ANULANDO ainda as que
caso já tenha sido efetivada, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 50.000,00
(quinhentas mil reais) aplicada diretamente ao segundo REQUERIDO;
b) a citação dos réus, para, querendo, contestar a presente ação, no prazo de 20
dias, sob pena de aplicação dos efeitos da revelia;
c) a citação do Município em separado, na forma do art. 6°, §3° da Lei 4.717/65;
d) c) a intimação do ilustre representante do Ministério Público, inclusive para
tomar as providências necessárias para propositura da competente ação judicial
objetivando responsabilizar o réu por prática de improbidade administrativa;
e) a PROCEDÊNCIA dos pedidos para decretar a invalidade dos atos lesivos ao
patrimônio público e à moralidade, declarando a nulidade dos decretos municipais
466, 467, 468, 469, 479, 480, 481/2020, com a manutenção definitiva das imposições
determinadas na liminar que espera deferimento;
f) a condenação dos Réus no pagamento das custas e demais despesas judiciais e
extrajudiciais, bem como nos honorários de advogado;
g) a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente a
testemunhal;
h) requer a isenção das custas processuais.
-Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais) para efeito meramente fiscal.

Termos em que pede deferimento.

TEIXEIRA DE FREITAS-BA, 04 DE MAIO DE 2020.

Jônatas Andrade Pereira


OAB/BA 31.652

Assinado eletronicamente por: JONATAS ANDRADE PEREIRA - 04/05/2020 18:42:24 Num. 55016666 - Pág. 10
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