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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sociais


Departamento de Linguística e Literatura
Curso de Doutoramento em Linguística

NEGAÇÃO MORFO-TONOLÓGICA EM CHANGANA

Candidato: Raul Balate Júnior


Supervisor: Prof. Doutor Bento Sitoe

Maputo, Outubro de 2016

I
NEGAÇÃO MORFO-TONOLÓGICA EM CHANGANA

Dissertação apresentada ao Departamento de Linguística e Literatura da Faculdade de Letras e


Ciências Sociais da UEM em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para a obtenção do
grau de Doutor em Linguística.

Candidato: Raul Balate Júnior


Supervisor: Prof. Doutor Bento Sitoe

O Juri

Presidente
______________________________

Supervisor
______________________________

Arguente Principal
______________________________

Arguente Interno
______________________________

Arguente Externo
______________________________

Maputo, Outubro 2016

II
Lista de abreviaturas
A Tom alto

AP Aspecto Perfectivo

AI Aspecto Imperfectivo

B Tom baixo

BV Base Verbal

CARP Causativa, aplicativa recíproca e passiva

CAUS Causativa

CEA Centro dos Estudos Africanos

Cf. Conferir

Ext Extensão

Fut Futuro

Fut Excl Futuro Exclusivo

Fut Seq Futuro Sequencial

Gloss Glossário

INE Instituto Nacional de Estatística

LBs Línguas Bantu

MC Marca de concordância

MO Marca de Objecto

MS Marca de Sujeito

MT Marca de Tempo

Neg1 Negação 1

Neg2 Negação 2

III
Neg3 Negação 3

Pass Passiva

Pass Cont Passado Contínuo

Pass Excl Passado exclusivo

Prec Passado recente

Prem Passado remoto

PB Proto Bantu

Rad Radical

Rec Recíproca

TAM Tempo, Aspecto e Modo

UFMG Universidade Federal Minas Gerais

V-inicial Vogal Inicial

V-final Vogal Final

VO Verbo Objecto

´ Tom alto
` Tom baixo
˅ Tom ascendente
˄ Tom descendente

IV
Resumo
A presente dissertação examina a negação morfo-tonológica em Changana assente na teoria de

Morfo-fonologia defendida por Kiparsky 1985. Defende-se nesta dissertação que a negação em

Changana processa-se morfo-tonalmente, ou seja, a negação é expressa por morfemas que devem

aparecer com informação tonal alto ou baixo, diferentemente do que se tinha concluído em

estudos anteriores que eram apontados apenas os morfemas como elementos que intervêm na

indicação da negação. A dissertação partiu de certas pressuposições umas que dão enfoque aos

morfemas e outras que dão enfoque aos tonemas, mas com o filtro introspectivo conjugado com

as interações com os falantes desta língua foi possível compreender que as duas componentes

morfemas e tonemas, funcionam em tandem. A negação foi examinada vis-a-vis Tempo e

Aspecto observando também a contraparte afirmativa.

Foi feita uma extensa revisão de literatura começando pelos conceitos operacionais

nomeadamente: Negação, Tempo, Aspecto e uma discussão sobre a marcação do tom. Esta

constitui a primeira tentativa de assinalar todos os níveis tonais existentes nos dados descritos.

Aliás, é preciso referir que os estudos anteriores já avançavam com indicação do tom baixo com

acento grave e as unidades portadoras de tom alto eram deixadas sem marcação diacrítica.

Apesar desta forma ter sido útil, avança-se nesta dissertação com indicação de mais níveis tonais

através de diacríticos seguindo uma proposta defendida por Mtenje, 1987; Wismann, 1989;

Schroeder, 2010; Liphola, 2010; Lojenga, 2011; Bordgwalt e Joyce 2013.

A dissertação estrutura-se em 8 capítulos. O primeiro capítulo é introdutório e apresenta as linhas

orientadoras com maior enfoque para os modelos teóricos. O segundo capítulo é sobre quadro

conceptual onde são apresentados os conceitos básicos recorrentes neste estudo. Para além dos

conceitos básicos são também apresentadas algumas ideias respeitantes à forma de indicação de

V
tom na ortografia. O terceiro capítulo reserva-se aos pressupostos metodológicos seguidos na

recolha de dados. O quarto capítulo faz a revisão da literatura destacando os estudos anteriores

sobre Changana. O quinto capítulo fala sobre fonologia segmental dando primazia à tonologia

nominal e verbal. O sexto capítulo é sobre negação morfo-tonológica em Changana em que

primeiro são destacados os estudos prévios relativos à negação nesta língua e depois um exame

de dados sobre a negação envolvendo Tempo e Aspecto. O sétimo capítulo faz a análise e

descrição de informação recolhida no campo e, o oitavo capítulo é dedicado às conclusões.

Palavras-chave: Aspecto, Negação, Tempo e Tom

VI
Abstract
The present dissertation examines Negation in Changana (S53) following the Morpho-
phonologic theory defended by Kiparsky 1985. Its defended, in this dissertation, that negation in
Changana is formed in tandem by morpheme and tones, in other words, negation is expressed by
morphemes that should appear with tonal information High or Low, differently in what have
been concluded in previous studies that only morphemes was indicated as negation mark. The
dissertation starts from certain assumptions some that give focus to the morphemes and another
that give focus to the tonemes, but with the introspective filter correlated with the interactions
with the speakers of this language was possible to understand that the two components
morphemes and tonemes, work in tandem. Negation was examined from Tense and Aspect vis-à-
vis also observing the positive form.
An extensive revision of the literature was done, starting from the operational concepts namely:
Negation, Tense, Aspect and discussion about the representation of the tone in the writing. This
constitutes the first attempt of marking all of the existent tonal levels in the described data. In
fact, it is necessary to refer that the previous studies already moved forward with indication of
the low tone with acute accent and the units bearers of high tone was left without diacritical
demarcation. In spite of this form it was useful, it is advanced in this dissertation with indication
of more tonal levels through diacritical following the proposal defended by (Mtenje, 1987;
Wismann, 1989; Schroeder, 2010; Liphola, 2010; Lojenga, 2011; Bordgwalt and Joyce 2013).
The dissertation is structured in 8 chapters. The first chapter is introductory and it presents the
guiding lines with larger focus for the theoretical frameworks. The second chapter deals with
concepts where the basic concepts and discussion about tone representation in writing system is
presented. The third chapter is reserved to the Methodological used to collects the data. The
fourth chapter makes the revision of the literature focusing on the previous studies on Changana.
The fifth chapter describes segmental phonology highlighting the nominal verbal tonology. The
sixth chapter deals with Negation from Morpho-tonologic domain in Changana. The seventh
chapter makes the analysis and description of information collected in the field and, the eighth
chapter is dedicated to the conclusions.

Key words: Aspect, Negation, Tense and Tone

VII
Declaração
Declaro que esta dissertação nunca foi apresentada, na sua essência, para a obtenção de qualquer

grau académico em nenhuma instituição e que o conteúdo expresso é resultado da minha

investigação e orientações do meu supervisor, estando indicadas no texto e na bibliografia as

fontes que utilizei.

VIII
Agradecimentos
A realização deste trabalho contou com a colaboração de inúmeras pessoas e instituições. Quero

em primeiro lugar dizer um muito obigado ao Prof. Doutor Bento Sitoe meu supervisor pelas

orientações constantes. Não me posso esquecer do contributo valioso pela disponibilização de

fontes, aliás grande parte dos dados analisados foram recolhidos em material por si produzidos

nomeadamente dicionário Changana Português, Relatório de Padronização de Línguas

Moçambicanas, Tese, e artigos. Recordo-me de um período que até disse e repito: Assim já não

posso mais corrigir enquanto não se resolver a questão da indicação tonal. Não desanimei,

continuei escrevendo sem que ele respondesse, mas finalmente acertámo-nos.

A Prof. Maud Devos, imensos agradecimentos pelos comentários valiosos que permitiram a

melhoria desta dissertação na sua fase final. Creio que algumas questões não foram devidamente

tratadas neste estudo, mas prometo tomar em conta num estudo mais afinado. Quero agradecer

igualmente ao Prof. Doutor Marcelino Liphola que me iniciou nesta luta difícil do tom. Recordo-

me que quando lhe disse que ia continuar a analisar o tom ele humoristicamente respondeu:

Hum, vais continuar nesta linha da morfofonologia, percebi em entrelinhas que navegaria num

território escorregadio.

Ao Professor Catedrático Armindo Ngunga pela cumplicidade na minha formação. As aulas

teóricas da morfologia e de sintaxe incentivaram-me ainda mais o gosto pelos tópicos das línguas

bantu. A minha formação tornou-se ainda mais fácil quando consegui através do CEA um

financiamento para os meus estudos, instituição dirigida por Professor Ngunga. Como diz o

ditado popular: “Não há um sem dois.”, eis que quando estava em apuros sobre o lugar onde

podia fazer pesquisa, apareceu o Professor Ngunga como tábua de salvação. Foi através do

Professor Ngunga que consegui escrever grande parcela desta dissertação graças ao projecto

IX
intercâmbio da Capes que me permitiu viajar ao Brasil. É mesmo para dizer ‘Asante, mwalimu’.

No Brasil também tive apoios substanciais do Professor Fábio Bonfim Duarte apaixonado por

Changana. Estendo os meus agradecimentos à turma de Pós-ling da UFMG pelo acolhimento e

companheirismo. À Professora Maria Taddoni da Universidade São Paulo pelas sugestões de

bibliografia dadas.

Ao Professor Doutor David Langa, Xaka la mina, pelo apoio concedido, sobretudo na

disponibilização das fontes que corporizam a minha dissertação e ainda na leitura e comentários

feitos.

Ao Doutor Paulino Fumo pelo encorajamento e abertura total para discutir a minha dissertação

apesar das ocupações com o seu doutoramento em Linguística Textual na Universidade Paris 8.

Ao Doutor Maurício Matlombe, meu director da Escola Comunitária Nossa Senhora do

Livramento, pela sua cumplicidade nos meus estudos. Difícil é estudar trabalhando no ensino

secundário devido ao horário. Aos meus alunos de então que tinham, por vezes, de ter aulas de

recuperação aos sábados vão os meus calorosos agradecimentos. Sei que ninguém reprovou a

Português nesse ano de 2013. Foi gratificante!

A todos os colegas do Departamento de Português da Universidade Pedagógica pelo

encorajamento: Dra Alice, Dra Cecilia minhas professoras e mais tarde minhas companheiras de

luta o meu khanimambu. Ao Professor Agostinho Goenha pela pergunta de insistência : “Então,

já terminaste de escrever a dissertação?” vai um intenso agradecimento.

Ao Prof. Doutor Geraldo Macalane por me ter iniciado aos estudos das línguas bantu. Zikomo!

Aos colegas da turma de doutoramento: Atanásio, Pedro, Junior, Sonia e França(+). A este

último presto a minha homenagem pelo encorajamento desde que nos conhecemos em 1998 até

ao último dia do seu desaparecimento fisico. Tiramos fotos no último dia de aulas e eu brincando

X
dizia: “vamos tirar a última foto juntos.” e afinal seria mesmo a última. Insististe num almoço de

três pessoas e falei-te de um acidente que eu sonhara afinal era o último adeus. França, até

sempre meu grande amigo!

Aos meus irmãos: Arão (meu pai e meu filho), Daniel, João e Hortência que sempre prestaram o

seu apoio desde pequenos. Sempre alguém recordava o ensinamento de papá: “Quem não estuda

é o mesmo que não ver.” Vocês foram impulsionadores dos meus estudos, por vezes, de forma

inconscientes com as vossas piadas: “Lwèyì àngàtíví kútírhá nchúmú; múkômbéní màbúkù ní

màxjòrìnálì.” ‘este nada sabe fazer senão ler livros e jornais’. Na vossa frase há uma negativa

que hoje constitui o meu objecto de estudo. Obrigado pela indicação profética do tema.

Ao meu filho Arão que teve que sofrer alguns meses da minha ausência. Um khanimambu pela

compreensão.

Aos meus consultores linguísticos Dr. Jaime Mondlane, Ezra Chambal Nhampoca, Yolanda

Manave, Abílio Macuácua, Leonor Simão, quero expressar o meu inteiro agradecimento.

Aos meus pais Amélia Quive e Raul Balate, meu Eu, apesar de estarem a morar espiritualmente

com Jesus Cristo quero vos apresentar os melhores agradecimentos. Recordo-me, pai, que

quando estavas prestes a morrer naquele dia 17 de Maio de 1987 choraste para mim e Hortência.

As palavras que deixaste naquele dia ainda ecoam em mim: “Mísálá mífúndhá xìkólwè

vánàngá!” ‘fiquem a estudar, meus filhos’. Ainda estou a estudar, pai! Minha mãe, cujo Adeus

foi marcado com o início do meu Doutoramento em 2013, também me lembro quando disse que

me queria inscrever para estudar. Ùté: “Hé wèná Junior, kàsì kùfúndhà kákònè àkúhélí ní lèsvì?”

‘Tu Júnior, afinal o tal estudar não termina?’ Eu prometi: “Kútàhélà.” ‘Há-de terminar.’

Obrigado por tudo.

XI
A terminar, endereço agradecimentos a Direcção Científica da Universidade Eduardo Mondlane

pela bolsa concedida desde o Mestrado até ao Doutoramento.

XII
Dedicatória
Dedico esta dissertação aos meus queridos pais Amélia Quive e Raul Balate que apesar de terem

partido desta terra continuam me iluminando e me orientado com as suas angélicas e santas

almas!

XIII
Índice
Lista de abreviaturas........................................................................................................................................... III
Resumo................................................................................................................................................................. V
Abstract .............................................................................................................................................................. VII
Declaração......................................................................................................................................................... VIII
Agradecimentos .................................................................................................................................................. IX
Dedicatória ........................................................................................................................................................ XIII
Capítulo I:Introdução Geral............................................................................................................................... 1
1.1 Introdução ................................................................................................................................................ 1
1.2 Localização e classificação da língua Changana......................................................................................... 4
1.3 Objectivos................................................................................................................................................ 8
1.3.1 Geral............................................................................................................................................................ 8
1.3.2 Específicos.................................................................................................................................................. 8
1.4 Problema ........................................................................................................................................................ 8
1.5 Hipóteses........................................................................................................................................................ 8
1.6 Relevância científica do estudo .................................................................................................................... 9
1.7 Modelos teóricos ......................................................................................................................................... 10
1.7.1 Teoria da Fonologia Lexical.................................................................................................................... 11
1.7.2 Gramática Léxico-Funcional ................................................................................................................... 12
Capítulo II: Quadro Conceptual ...................................................................................................................... 13
2.1 Introdução .............................................................................................................................................. 13
2. 2 Negação ...................................................................................................................................................... 13
2.3 Tempo .......................................................................................................................................................... 14
2.4 Aspecto ........................................................................................................................................................ 15
2.5 Distinção tempo e aspecto .......................................................................................................................... 17
2.6 Tom ............................................................................................................................................................. 18
2.6.1 Tom lexical ............................................................................................................................................... 19
2.6.2 Tom gramatical ........................................................................................................................................ 20
2.7 Regras Tonais .............................................................................................................................................. 31
2.7.1 Propagação de tom alto............................................................................................................................ 31
2.7.2 Duplicação tonal....................................................................................................................................... 31
2.7.3 Propagação tonal não final ...................................................................................................................... 32
2.8 Distinção tom e acento ................................................................................................................................ 32
2.9 Marcação do tom na escrita ........................................................................................................................ 34
Capítulo III: Pressupostos Metodológicos ..................................................................................................... 41
3.1 Introdução .................................................................................................................................................... 41
3.2 Antecedentes da escolha do tema ............................................................................................................... 41
3.3 Trabalho de campo ...................................................................................................................................... 42
3.4 Seleçcão e perfil de informantes ................................................................................................................ 43
3.5 Métodos ....................................................................................................................................................... 45
3.5.1 Método Filológico .................................................................................................................................... 45
3.5.2 Método Introspectivo ............................................................................................................................... 45
3.5.3 Método de Elicitação ............................................................................................................................... 45
3.6 Análise de dados.......................................................................................................................................... 46
3.7 Validade dos dados ..................................................................................................................................... 46
Capítulo IV: Revisão da Literatura ................................................................................................................. 47
4.1 Introdução .................................................................................................................................................... 47
4.2 Estudos anteriores sobre Changana............................................................................................................ 47
4.2.1 Sitoe (1996, 2001) .................................................................................................................................... 47
4.2.2 Langa (2001) ............................................................................................................................................ 49
4.2.3 Ribeiro (2010) .......................................................................................................................................... 50
4.2.4 Balate (2011) ............................................................................................................................................ 52
4.2.5 Langa (2012) ............................................................................................................................................ 52
4.2.5 Ngunga e Faquir (2011) ........................................................................................................................... 53
4.2.6 Ngunga e Simbine (2012)........................................................................................................................ 54
Capítulo V: Fonologia Segmental, Tonologia Nominal e Tonologia Verbal............................................... 56
5.1 Fonologia Segmental .................................................................................................................................. 57
5.1.2 Vogais ....................................................................................................................................................... 57
5.1.3 Consoantes................................................................................................................................................ 65
5.2 Tonologia Nominal ..................................................................................................................................... 70
5.3 Tonologia verbal ......................................................................................................................................... 74
5.3.1 Estrutura do verbo .................................................................................................................................... 78
Capítulo VI: Negação Morfo-tonológica em Changana ................................................................................ 90
6.1 Introdução .................................................................................................................................................... 90
6.2 Estudos Prévios sobre Negação em Changana .......................................................................................... 90
6.2.1 Negação em Changana segundo Ribeiro (1965) .................................................................................... 92
6.2.2 Negação em Changana segundo Sitoe (1996) ........................................................................................ 92
6.2.3 Negação em Changana segundo Ngunga (2004); Ngunga e Simbine (2012) ...................................... 93
6.2.4 Negação em Changana segundo Langa (2012) ...................................................................................... 95
6.3 Negação Morfo-tonológica em Changana ................................................................................................. 97
6.3.1 Negação de verbos de tom baixo no Presente habitual.......................................................................... 98
6.3.2 Negação de verbos de tom baixo no Presente Progressivo ................................................................. 104
6.3.3 Negação de verbos de tom alto no Presente habitual........................................................................... 110
6.3.4 Negação de verbos de tom alto no Presente Progressivo .................................................................... 116
6.4 Passado recente de verbos de tom baixo.................................................................................................. 118
6.4.1 Negação de verbos de tom baixo no Passado Recente ........................................................................ 118
6.4.2 Negação de verbos de tom alto no Prec e AP ...................................................................................... 121
6.4.3 Negação de verbos de tom baixo no Prem ........................................................................................... 124
6.4.4 Negação de verbos de tom baixo no Prem e AI ................................................................................... 128
6. 5 Negação no Futuro ................................................................................................................................... 130
6.5.1 Negação de verbos de tom baixo no futuro .......................................................................................... 130
6.5.2 Negação de verbos de tom alto no futuro ............................................................................................. 131
Capítulo VII: Análise e descrição da informação recolhida em Entrevistas ............................................. 136
Capítulo VIII: Conclusão .............................................................................................................................. 140
Bibliografia ...................................................................................................................................................... 143
Anexo 1 ............................................................................................................................................................ 150
Capítulo I:Introdução Geral
Cada língua apresenta estratégias próprias para a realização da negação podendo ser

fonológicas, morfológicas, sintácticas, lexicais ou mesmo a combinação de estratégias nos

vários níveis.

[Horn, 1985]

1.1 Introdução
A presente dissertação examina a negação em Changana à luz da teoria da morfo-fonologia

lexical defendida por Kiparsky (1985). Changana é uma língua bantu (LB) falada em

Moçambique, África do Sul e Zimbábwe e é conhecida como S53 na classificação de Guthrie

(1967-1971). Neste estudo, o enfoque será dado ao Changana de Moçambique cujo autor é

falante nativo.

A dissertação encontra os seus pilares estruturais na obra prima de Nurse e Philipson intitulada

Bantu Languages que aborda com maior detalhe diversos aspectos sobre as línguas bantu para

além da sugestão que apresenta sobre as novas investigações que devem ser realizadas. Nurse e

Philipson (2006) afirmam que as possíveis combinações lexicais e fonológicas são fortes

candidatas à investigação, designadamente as negativas contrastivas, uma na posição pré-inicial

à frase independente e outra na posição pós-inicial associada às estruturas mínimas tais como

relativas, conjuntivo e infinitiva. Do ponto de vista de organização textual, a dissertação segue a

linha orientadora de Fortin (2011)1. Similarmente ao que Tanda (2005) verificou em Mokpe2, a

1
O processo de investigação possui três fases: (i) conceptual, (ii) metodológica e (iii) empírica Fortin (1999:38)
2
Mokpe é uma língua bantu falada na zona costeira dos Camarões e tem o código A22 de acordo com a
classificação de Guthrie (1971).

1
negação, em Changana, está intrinsincamente relacionada ao Tempo e Aspecto e, por causa

disto, a negação será examinada vis-à-vis Tempo e Aspecto. Em outras palavras, será revisitada a

tonologia verbal desta língua, mas antes faremos uma incursão pela tonologia nominal

organizando os itens lexicais em classes nominais.

A negação tem merecido inúmeras pesquisas desde tempos passados por parte dos linguistas

(Meinhof, 1906; Werner 1919; Meeussen, 1967; Kamba Muzenga, 1978). A partir dessas

investigações, essencialmente morfológicas, as diversas línguas do mundo são classificadas de

acordo com a forma como marcam a negação em três tipologias (i) partículas negativas, (ii)

afixos negativos e (iii) auxiliares negativos (Dahl, 1979; Payne, 1985; Trask, 1993; Pfau, 2008).

A negação é um traço comum a todas as línguas (Zhang, 2001) e é definida como sendo um

processo ou construção na análise gramatical e semântica que expressa tipicamente a contradição

do significado da frase (Crystal, 1993).

Observações preliminares de dados como àngátsùtsúmí ‘não corre’ vs. ángátsùtsúmì ‘que corra’

ângàtsùtsúmí ‘não corria’ vs. ăngàntsùtsúmí ‘não correrá’ introspectiva e filologicamente obtidos

e atestados em diversos falantes do Changana sugerem que a negação, bem como a variação

Tempo-Aspecto, é marcada não apenas por elementos morfológicos tal como se sugere em

Zerbian, 2004; Ngunga, 2004, Miti, 2005; Canonici, 2006, Langa, 2012, Ngunga e Simbine,

2012, mas também por elementos tonológicos confirmando-se o pressuposto acima, de Horn

(1985), em que a negação pode combinar vários níveis. Este mesmo comportamento observado

preliminarmente em Changana, foi encontrado por Liphola (2010) ao examinar as formas

positivas e negativas em Shimakonde concluindo que a negação indicada pelo padrão tonal

contrasta com o tom análogo da forma positiva como se pode ver em áválimiile ‘que eles

cultivaram’ avalímiíle ‘não cultivaram’. Portanto, os dados destas línguas mostram que para

2
além do fonema que sempre foi visto como unidade que distingue significados como advogaram

fonologistas da escola de Praga, Trubetzkoy3 e Jackobson, os suprassegmentos, juntamente com

os fonemas, são fundamentais para a distinção lexical e gramatical.

A investigação propõe-se, de uma forma geral, examinar os mecanismos de negação em

Changana combinando as perspectivas morfológica e prosódica. Uma vez que o verbo é uma

categoria que concatena os morfemas de Tempo e de Aspecto, a negação será analisada tendo em

conta a variabilidade destas categorias. Aliás, um estudo profundo realizado por Dahl (1979)

sobre a negação nas diversas línguas do mundo encontrou três padrões. Usando este modelo,

Changana pertenceria à categoria de línguas que usam afixos negativos que se juntam ao verbo

na posição pré-inicial e final. Sem pretender entrar em choque com o modelo usado, a presente

dissertação não assume o modelo como tal e pretende examinar a negação combinando os

domínios morfológicos e fonológicos.

Apesar de existir um número considerável de literatura nesta língua, nomeadamente: dicionários,

bíblias, romances, gramáticas e trabalhos descritivos (artigos, monografias, dissertações) o

enfoque privilegiado foi sempre de adiamento ou marginalização da representação gráfica do

tom. Por esta via, esta dissertação também apresenta uma discussão acerca de representação

gráfica do tom e coloca uma proposta a seguir. Por causa dos depressores tonais (Kisseberth &

Volk S/d, Lee S/d) existentes nesta língua, reconhece-se à partida a complexidade e dificuldade

que se teve ao representar o tom graficamente. Nesta dissertação, avança-se com uma singela

3
A principal contribuição de Trubetzkoy para a linguística foi no campo da fonologia, em particular na
análise de sistemas fonológicos de linguagens individuais e na procura de leis fonológicas universais e
gerais. Sua principal obra, Grundzüge der Phonologie (Princípios de Fonologia), foi publicada após a sua
morte. Nesse livro ele apresenta a sua famosa definição de fonema como a menor unidade distintiva na
estrutura de uma língua. Esse trabalho foi crucial para que a fonologia e a fonética passassem a ser
vistas como duas ciências distintas. Wikipedia.org. 12:30. 31 de Março de 2014

3
proposta de representação do tom (v. tabela 5) que pode ser levada para uma discussão alargada

nos fora de padronização das línguas moçambicanas.

1.2 Localização e classificação da língua Changana

Ngunga & Faquir (2011) sistematizam uma informação situando a língua Changana

geograficamente, classificando e apresentando o número de falantes e as variantes. Para tal,

servem-se de estudos de Doke, 1945; Cole, 1961; Guthrie, 1967; INE, 2010; NELIMO, 1989;

Sitoe, 1996; Sitoe & Ngunga, 2000; Langa, 2012.

Assim, para Doke (1945, citado por Cole (1961) Shangaan-Tsonga (60/4) é um grupo linguístico

que inclui três línguas mutuamente inteligíveis faladas principalmente nas três províncias

moçambicanas do sul do Save (Inhambane, Gaza e Maputo) nomeadamente: Rhonga (60/4/1,

Changana ou Tsonga (60/4/2) e Tshwa (60/4/3). Na classificação de Guthrie (1967-1971) este

grupo chama-se Tshwa-Rhonga de que faz parte também a língua gwambe (S.52), além destas

três línguas que são codificadas como S. 51 (Tswa), S.53 (Changana) e S.54 (Ronga).

De acordo com os dados do INE, 2010, esta língua é falada por mais de 1.682.438 sendo a

segunda língua bantu mais falada em Moçambique atrás de Makhuwa.

Changana S.53 possui as seguintes variantes em Moçambique:

a) Xihlanganu (falada nos distritos de Namaacha, Moamba e Magude);

b) Xidzonga (falada nos distritos de Magude, Bilene e parte de Massingir);

c) Xin’walungu (falada no distrito Massingir);

d) Xibila (falada no vale do Limpopo e parte do distrito de Chibuto);

4
e) Xihlengwe (falada nos distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, Chicualacuala, Panda,

Morrumbene, Massinga, Vilanculos e Guvuro. (Sistematização retirada em Langa, 2012). Os

mapas que se seguem ilustram os locais onde esta língua possui maior número de falantes.

O presente estudo não adopta dados de uma variante específica, mas alguns dados obtidos

filologicamente são da variante Xidzonga, tida como referência (cf Nelimo, 1989; Sitoe &

Ngunga, 2000 e Ngunga & Faquir 2011).

Mapa1: Província de Gaza

Na província de Gaza, a
variante Xidzonga é falada
no distrito de Bilene e parte
de Massingir, a variante
Xin’walungu fala-se no
distrito de Massingir,
Xibila falada no vale do
Limpopo e parte do Chibuto, a variante Xihlengwe fala-se nos distritos de Manjacaze, Chibuto,
Guijá, Chicualacuala.

5
Mapa2: Província de Inhambane
Na província de Inhambane fala-se Xihlengwe nos distritos de Morrumbene, Massinga,
Vilanculos e Govuro.

6
Mapa3: Província de Maputo

Na província de Maputo fala-se a variante Xihlanganu nos distritos de Namaacha, Moamba e


Magude.
Os três mapas (1, 2 e 3) acima indicam os distritos onde as variantes do Changana são
maioritariamente faladas. Importa referir que a língua Changana sem olhar para as variantes
específicas foi apurada como sendo a mais falada nas províncias de Gaza (87.3) e Maputo (42.8).
Na província de Inhambane a língua Changana é falada por menos do 1% da população. INE,
Censo da População e Habitação 2007.

7
1.3 Objectivos

1.3.1 Geral
Compreender os processos linguísticos envolvidos na marcação da negação em Changana

1.3.2 Específicos
 Examinar o processo de negação em Changana combinando os domínios morfológicos e

fonológicos

 Descrever a negação em Changana na perspectiva morfológica

 Descrever a negação em Changana na perspectiva tonológica

 Analisar a interação da negação prosódica sobre o Tempo e Aspecto

1.4 Problema
O estudo tem duas questões de partida:

1. Que processos linguísticos estão subjacentes à marcação da negação em Changana?

2. Será que a representação gráfica do tom tem influência na interpretação semântica de um

enunciado em Changana?

1.5 Hipóteses
a) A negação é marcada exclusivamente por processos morfológicos em Changana

b) A negação é marcada exclusivamente por processos fonológicos em Changana

c) A negação é marcada concomitantemente por processos morfológicos e fonológicos

em Changana.

8
1.6 Relevância científica do estudo

A negação constitui uma área fascinante de estudo descritivo e da teoria linguística por causa das

várias posições que os morfemas de negação ocupam nas línguas do mundo e a necessidade de se

determinar a posição destes morfemas na estrutura profunda (Tanda, 2005). Igual posição é

defendida por d’ Oliveira 2010 ao analisar alguns dados de negação em Ibibio, uma língua falada

na Nigéria (Essien, 1990), combinando os domínios morfológico e tonológico verificou que a

vogal do morfema de tempo passado II ké- sofria um processo de assimilação regressiva com o

prefixo í-, o que lhe fez reconhecer que este tópico merecia futuros estudos aprofundados.

Apesar de existirem diversos estudos sobre a negação nas diversas línguas do mundo e nas

línguas Bantu em particular (Meeussen, 1976; Rycroft, 1980; Louw, 1983; Dembetembe, 1985;

Katamba; 1990; Odden; 1996; Ngunga, 2004; Nurse; 2008), regista-se uma escassez de literatura

que aborda de forma particular a negação em Changana combinando os domínios morfológicos e

tonológicos. O problema já havia sido identificado por Meeussen (1967), quando afirmou ser

difícil se predizer os padrões da negação na estrutura do verbo no Proto-Bantu. Apesar de

reconhecer esta dificuldade avança com uma proposta de modelo em que provavelmente os

morfemas negativos encaixar-se-iam, nomeadamente na posição pré-inicial, na posição pós-

inicial. Aliás, muito recentemente, um estudo realizado sobre a morfofonologia do verbo em

Changana por Langa (2012) recorrendo ao modelo da morfologia lexical concluiu que a negação

é expressa por morfemas. À mesma conclusão chegam Ngunga e Simbine (2012) apesar de

terem usado uma combinação de teorias. Reconhece-se a utilidade destes estudos, porém nesta

dissertação, o interesse não será verificar a negação como unidade mínima morfológica (umm),

mas sim como um todo (morfemas e tonemas) na flexão verbal.

9
Por esta razão, a opção por este tema justifica-se, por um lado, na necessidade de fornecer

elementos teóricos descritivos sobre o funcionamento gramatical desta língua e, por outro,

suscitar novas análises e reexames que devem ser feitos nas outras línguas do tronco bantu, que

sejam tonais, recorrendo a esta abordagem.

1.7 Modelos teóricos

Esta secção apresenta os modelos actualmente recorrentes na Linguística usados na descrição das

línguas bantu. Descreve-se com mais detalhes dois modelos teóricos nomeadamente fonologia

lexical e gramática léxico-funcional por serem aquelas que serão úteis na análise dos nossos

dados. Por um lado, o modelo da fonologia lexical vai explicar a combinação da morfologia e

fonologia (tonologia) e por outro a gramática léxico-funcional na sua subcomponente de

Princípio de Espelho (Mirror Principle) defendido por Baker (1988) será usada para explicar

certas restrições de ocorrência de marcas de objecto em verbos com extensões causativa e

passiva.

Existem diversos modelos teóricos de análise usados em Linguística de forma geral e para as

línguas bantu em particular. Alguns destes modelos têm sofrido modificações em virtude da

descoberta de outros elementos que não se encaixam nos padrões definidos. Comummente para

as línguas bantu, e, sobretudo para as línguas tonais, estão em voga análises que adoptam as

teorias da gramática léxico-funcional (Kaplan & Bresnan,1982), da fonologia lexical (Kiparsky,

1985), teoria optimalista (Prince & Smolensky, 1993), minimalista (Chomsky, 2007).

10
1.7.1 Teoria da Fonologia Lexical

Tradicionalmente, a análise das categorias flexionais do verbo foi feita sempre à luz de modelos

da gramática descritiva e subsequentemente evoluiu em consequência de novos modelos

propostos pela gramática generativa (Chomsky e Halle, 1968).

No essencial, as teorias linguísticas acima explicam as categorias flexionais do verbo como

sendo o resultado de operações morfológicas. Nessa base, a negação é expressa através de

morfemas que se juntam ao tema verbal.

Um novo paradigma da Linguística, desenvolvido pela teoria autossegmental (Goldsmith, 1976;

Kisseberth, 1979; Clement, 1986), viria, pela primeira vez, trazer uma abordagem diferente sobre

a relação entre os níveis segmental e autossegmental. Por essa via, também se procurou

compreender a relação entre a estrutura morfológica e os processos fonológicos.

Nesse processo, a morfologia prosódica (McCarthy e Prince, 1979) desempenhou um papel

importante ao mostrar que alguns processos morfológicos são melhor interpretados tendo em

conta a estrutura prosódica.

O presente trabalho examina a negação em Changana adoptando o quadro teórico da Linguística

Descritiva na sua componente da Fonologia Lexical (Kiparsky, 1985). Este modelo,

comummente conhecido como Morfo-fonologia discute a interface entre a Morfologia e

Fonologia (Kiparsky, 1982 e Mohan, 1989). O pressuposto básico reflectido neste modelo é o de

que existem regras que se aplicam ao nível lexical e existem outras regras aplicáveis no nível

pós-lexical. Esse facto sugere que há um conjunto de regras sensíveis a morfemas, outras

11
sensíveis ao comportamento de segmentos tais como vogais/consoantes; nasais/orais e outras

ainda cujos processos resultam da interface entre as diferentes componentes da gramática.

1.7.2 Gramática Léxico-Funcional

De acordo com Neidle (1988) o termo Gramática Léxico-Funcional (GLF) ou em Inglês Lexical

Functional Grammar (LFG) primeiro surgiu impresso num volume editado em 1982 por Bresnan

(1982) intitulado The Mental Representation of Grammatical Relations, resultante de uma

investigação ao longo dos tempos. O autor acrescenta que a GLF difere da gramática

transformacional e da relacional ao assumir um único nível de estrutura sintáctica. A GLF rejeita

o movimento sintáctico dos constituintes como o mecanismo pelo qual a realização da estrutura

sintáctica em superfície dos argumentos é determinada e não permite a alteração das relações

gramaticais dentro da sintaxe. A única estrutura do constituinte que corresponde à estrutura

sintagmática da árvore é postulada.

Por sua vez Morais (1988) postula que a GLF proporciona uma teoria formalmente explícita e

coerente de como as estruturas de superfície estão relacionadas com as estruturas temáticas. A

teoria reconhece e assinala dois níveis de descrição sintáctica a cada sentença da língua: a

estrutura de constituinte (estrutura-c) e a estrutura funcional (estrutura- f). Essas estruturas

descrevem fenómenos puramente sintácticos que são distintos dos fenómenos lexicais,

envolvendo as entradas lexicais, e dos fenómenos semânticos, envolvendo o escopo dos

quantificadores e dos advérbios, as inferências lógicas.

12
Capítulo II: Quadro Conceptual

2.1 Introdução

Este capítulo sobre o quadro conceptual fornece a definição dos conceitos fundamentais e discute
a distinção entre alguns conceitos. O capítulo, para além desta introdução, apresenta as seguintes
secções: (2.2) negação, (2.3) tempo, (2.4) aspecto, (2.5) distinção tempo e aspecto, (2.6) tom,
(2.7) Regras tonais (2.8) distinção entre tom e acento e (2.9) Marcação do tom na escrita.

2. 2 Negação

Existem diversos autores que definem a negação. Para este estudo vamos nos apoiar nas
definições apresentadas por Crystal 1993, Tanda 2005, Bond, 2007, Zhang s/d.
Crystal (1993) define a negação como processo ou construção na gramática e análise semântica
que expressa a contradição do significado da frase.
Tanda (2005), no seu artigo intitulado Negation in Mokpe and two related coastal bantu
languages of Cameroon apoia-se na definição de Crystal 1993. Bond (2007) no seu artigo
Towards a canon for negation a construção negativa é minimamente definida pela presença de
morfema(s) negativo(s), mas é comummente indicada pela combinação de morfemas. Acrescenta
que os linguistas identificam as construções negativas em relação às construções afirmativas.
Para Zhang s/d, no seu artigo intitulado Negation under Incomplet Languages Acquisition of
Mandarim Chinese, afirma que a negação é um traço gramatical universal e é definida como
sendo a forma de converter uma frase afirmativa num discurso contraditório de negação.
As definições acima têm em comum o facto de a negação se relacionar com a frase afirmativa.
No estudo de Tanda (2005), recorrendo ao modelo da Teoria de Princípios e Parâmetros, indica-
se que há um reconhecimento explícito de que a negação tem constituído uma área fascinante
recentemente quer pelos linguistas descritivos quer pelos linguistas teóricos por causa da
variação das posições que o morfema negativo ocupa nas diversas línguas do mundo e a
necessidade de determinar a posição destes morfemas na estrutura profunda.
Ainda, Tanda (2005) afirma que enquanto algumas línguas empregam um morfema negativo
simples, outras empregam mais do que três morfemas. Ao estudar os morfemas negativos em

13
Mokpe concluiu que embora esta língua e outras relacionadas empreguem dois ou mais
morfemas negativos, esses morfemas não estão em variação livre. Para além disso, Tanda
verificou que a negação, nesta língua, tem uma ligação intrínseca com o Tempo. A mesma autora
faz também um exame sobre a relação entre a negação e outras construções como
quantificadores de negação existencial e outras categorias funcionais como o Tempo e o
Aspecto. Em relação à influência da negação no Tempo observou que o Tempo Presente e o
Futuro não são alterados pela presença do morfema negativo.
À semelhança de outras categorias gramaticais tais como Tempo e Aspecto, género feminino que
são determinados em relação a outras distinções codificadas em línguas particulares, a negação é
uma categoria super-ordinada presente em todas as línguas (Bond, 2007).

2.3 Tempo

A categoria Tempo tem sido objecto de muitas investigações ao longo dos anos. Foi sempre
preocupação dos linguistas apresentar uma definição consensual.
Lyons (1977) indica que tempo é categoria deíctica que contém uma referência de um período
temporal que não pode ser identificado excepto em relação ao momento de enunciação.
Comrie (1985) à semelhança de Lyons (1977) refere que o tempo localiza as situações que
decorrem quer ao mesmo tempo quer no momento subsequente ao momento presente.
Reichenberg (1947), muito antes de Lyons e Comrie, tinha referido que o tempo expressa a
relação entre o momento do discurso e outro intervalo de interesse que o designa ponto de
referência. O tempo de referência é, em princípio, distinto do tempo de conteúdo. Este autor
indica, numa linha temporal, três momentos: referência, evento e momento de enunciação.
O tempo localiza eventos, processos, estados, e actividades no tempo em relação ao momento de
enunciação como ponto de referência ou centro deíctico (Costa, 1990 apud Macalane, 1993).
Por sua vez Mateus et alli (2003) afirmam que o tempo serve para localizar as situações (eventos
ou estados) expressas nas línguas em diferentes tipos de enunciados. A forma mais comum de
marcar essa localização é através dos tempos verbais embora os advérbios ou expressões
adverbiais de tempo e certas construções temporais tenham também essa função (op.cit).

14
Considerando as definições e divisões temporais acima, pode-se concluir que os tempos
gramaticais se dividem em três domínios: passado, presente e futuro, o que permite que se fale
numa relação de anterioridade, simultaneidade e posterioridade do tempo relativamente ao
momento de referência e que normalmente é o centro de enunciação (Vogel, 1997 e Mateus et
alii, 2003). Na revisão da literatura será retomada esta secção focalizando-se, sobretudo em
Tempos onde nitidamente a intervenção do tom é marcante na distinção temporo-aspectual e
segmentos positivos versus negativos.

2.4 Aspecto

A categoria Aspecto tem sido estudada ao longo dos anos por vários linguistas sendo analisada
em três abordagens nomeadamente semântica, discursiva e trans-linguística (Hartmann & Stork,
1972; Quirk & Greenbaum, 1973; Comrie 1976; Lyons, 1977; Stageberg 1981; Carmen &
Leblanc,1984; Chung e Timberlake, 1985; Talmy, 1985; Elson & Pickett 1985; Crystal, 1987;
Mish, 1991).
Hartmann & Stork (1972: 20) definem aspecto como “uma categoria gramatical do verbo
marcado por prefixos, sufixos e mudanças internas de vogais, indicando não apenas a sua
localização no tempo (Tempo), mas também a duração do tipo de ação expressa ”. Por sua vez
Quirk & Greenbaum (1973) afirmam que o aspecto consiste na maneira como a acção verbal é
experenciada.
Para Comrie (1976), o aspecto são diferentes formas de ver a constituição temporal de uma
situação.
Stageberg (1981) define aspecto como a expressão dos significados concernentes a continuidade
ou distribuição dos eventos no tempo.
Segundo Carmen & Leblanc (1984), o aspecto é um dos conceitos elusivos da gramática
referindo a diversas realizações superficiais de uma teoria para a outra e de uma língua para a
outra. Segundo este autor existem três formas para expressar o aspecto: (i) o Aspecto pode estar
incorporado no tempo como é o caso da referência temporal do passdo, onde o imperfeito (1a) e
o passé composé (1b) geralmente codificam a oposição entre o imperfectivo e o perfectivo assim

15
como o habitual e o episódico, (ii) o aspecto pode ser mapeado no léxico ou sintagma verbal tal
como ocorre no passado habitual usado em Inglês.
Em Francês esta opção é exemplificada pelas frases como être en train para estar em processo,
tal como em (2a).

(1a) je chantais ‘eu cantava’ (imperfectivo habitual)


(1b) j’ai chanté ‘eu tenho cantado (perfectivo episódico)

(2a) je suis en train de chanter ‘estou cantando’ (progressivo)


(2b) je chante souvent ‘canto muitas vezes’ (habitual)

[Carmen L. Leblanc, 1984:66]

Para Chung e Timberlake (1985), o aspecto caracteriza a estrutura interna temporal de um


evento. Como Comrie caracteriza a diferença entre o Tempo e o Aspecto em termos de situação
interna temporal, Timberlake configura o Aspecto como tendo dois parâmetros básicos: acabado
(perfectivo) e dinâmico (imperfectivo).
De acordo com Cunha (1985) o aspecto é categoria gramatical que manifesta o ponto de vista do
qual o locutor considera a ação expressa pelo verbo. Postula que a acção pode ser considerada
“concluída” ou “não concluída” e que é o significado dos verbos auxiliares que transmite ao
contexto os sentidos de incoativo, permansivo e conclusivo. Assim, refere-se ao aspecto num
sentido geral, não como categoria verbal e não se preocupa em sistematizá-lo.
Luft (1987) considera a categoria aspecto como exprimindo a oposição entre acabado/não-
acabado.
Muito recentemente, Rau (2005) afirma que os estudos prévios sobre Tempo, Aspecto e Modo
(doravante TAM) foram abordados em três perspectivas maiores: (i) semântica defendida por
Comrie, 1976; (ii) discursiva defendida por (Schiffrin, 1981; Hopper, 1982; Myhill, 1982), e (iii)
comparação das línguas (Bybee 1985).

16
2.5 Distinção tempo e aspecto

A distinção entre tempo e aspecto tem levado debates sérios entre os linguistas. Por exemplo,
Nurse (2003) afirma que os termos Tempo e Aspecto têm sido usados hitherto sem definição. O
tempo são representações temporais que contêm o evento. Eles localizam os eventos no tempo
universal. Por sua vez, o aspecto são as diferentes representações do tempo dentro do evento.
Macalane sistematiza as diferenças entre tempo e aspecto da seguinte forma:

Tabela 1: Divergências entre Tempo e Aspecto


Tempo Aspecto

O tempo é uma categoria relacional ou O aspecto, pelo contrário, diz respeito à


indexal: localiza o momento de perspectivação temporal interior de uma
ocorrência da situação em relação ao dada eventualidade, concentrando-se
momento de enunciação ou qualquer unicamente no intervalo de tempo em
outro ponto tomado como “tempo questão.
referencial ou de ancoragem”.
O tempo tem um carácter deíctico: O aspecto é uma categoria “autónoma”
assenta no presente enunciativo como em termos referenciais.
um marco de referência em relação ao
qual podem ser determinados um antes
e um depois.
O tempo aborda as situações ou estados O aspecto perspectiva as situações a
de coisas de um modo essencialmente partir do seu “interior”, analisando-as
“exterior”, encarando-as com um todo subatomicamente.
“atómico”.

17
Alguns adverbiais limitam-se a As classes aspectuais são uma
determinar uma mera localização propriedade típica do aspecto.
temporal para eventos, sem grandes
consequências ao nível aspectual
Fonte: Macalane (2009:182)

2.6 Tom

Muitos autores têm definido o conceito tom (Pike, 1945; Crystal, 1969; Halliday, 1970;
Goldsmith, 1979; Weiss, 1988; Creissels, 1994; Gussenhoven, 2004; Hartman, 2007; Zerbian &
Barnard, 2009).
Pike (1945) conceitua o tom como variação de melodia que é lexicalmente relevante para se
fazer contrastes entre frases e distinguir-se palavras. Em 1948, o mesmo autor reelabora o
conceito do tom afirmando que uma língua é tonal quando tem significante lexical contrastivo e
um pico relativo em cada sílaba.
Na visão de Crystal (1969), o tom é definido de três maneiras (i) melodia do enunciado, (ii) uma
unidade prosódica e (iii) estímulo sonoro.
Halliday (1970) define o tom como um dos aspectos prosódicos que se caracterizam pelo
movimento melódico em uma palavra ou frase com algum contraste gramatical.
Goldsmith (1979) prefere definir línguas tonais para referir aquelas línguas em que se usa o traço
tom para distinguir itens lexicais e gramaticais.
Para Weiss (1988) o tom é o nível relativo da altura da voz na emissão de uma sílaba ou de uma
palavra.
Uma língua é tonal quando a comutação fonológica é limitada à altura ou à melodia de uma
única sílaba ou mora que é susceptível de construir a única marca de uma comutação entre duas
unidades significativas mínimas (Creissels, 1994).

Gussenhoven (2004) não define o conceito tom como tal, mas avança na perspectiva de indicar
os tipos de tons existentes nas línguas tonais: (i) as que possuem tons de nível em que se requer
que a sílaba atinja certo pico de altura e (ii) as que possuem tom de contorno em que se requere
que a sílaba seja dita com um certo movimento do pico. Este autor cita Pike (1984) como sendo

18
o estudioso que categorizou estas línguas em duas dimensões (i) línguas do registo tonal e (ii)
línguas de contorno tonal. O autor acrescenta que os contrastes tonais têm uma dimensão
paradigmática, o número de contrastes tonais possíveis numa dada sílaba e a dimensão
sintagmática, o número de posições na palavra onde os contrastes são usados. Seguindo o roteiro
das línguas tonais de dimensão paradigmática muitas línguas tonais têm níveis de contrastes
binários com os símbolos A (alto) e B (baixo). O número de contrastes tonais pode, com raridade
de aumento, atingir três, quatro ou cinco (Maddieson, 1978).
E, na dimensão sintagmática, as línguas variam de número de posições cujo contraste tonal pode
ser feito.
Hartmann (2007) define o tom como categoria fonológica que distingue palavras ou conteúdos.
A mesma autora acrescenta que o tom refere às diferenças de picos percebidos como variação de
frequências fundamentais (f0). Ela acrescenta que a língua que usa o tom para diferenciar
significados de palavras é tonal.
Zerbian e Barnard (2009) afirmam que as línguas tonais usam o tom para distinguir significados
gramaticais e lexicais.
Hurskanen (2009) não define o tom à semelhança de outros autores, mas indica que é um traço
característico na maioria das línguas africanas e na maior parte das línguas bantu. Acrescenta que
a principal característica do tom é que não é um traço segmental ao contrário das sequências dos
fonemas que são representadas na escrita normal com sequências de caracteres ortográficos.
Ngunga (2004) apresenta as diferenças entre tom lexical (3) e tom gramatical4 (4).
Todos os autores alistados acima assumem que o tom é fundamental para a distinção de itens
lexicais e gramaticais.

2.6.1 Tom lexical


Fala-se em tom lexical quando este desempenha a sua função distintiva no nível do léxico. Isto é,
quando ele é portador do significado lexical, ou seja, quando duas palavras podem ser incluídas
no dicionário (com sentidos diferentes evidentemente) só porque se distinguem a nível

4
Sitoe (1996:301) designa de tom sintáctico.

19
suprassegmental embora sejam iguais a nível segmental. Em Changana, há nomes que se
distinguem pelo tom e pouquíssimos verbos que assim o fazem.

2.6.2 Tom gramatical

‘É aquele que aparece na gramática da língua, e não no dicionário. Por outras palavras, o tom
gramatical é aquele que serve para exprimir aspectos gramaticais da língua. Por exemplo, às
vezes, a diferença entre os tempos verbais pode ser expressa através do tom, o mesmo
acontecendo com as diferenças dos modos verbais, presença ou ausência de marcas de objeto na
estrutura de forma verbal, presença ou ausência de marcas de negação ou de afirmação Ngunga
(2004:90-91).
Hartmann (2007) e Neman (2000) apresentam dados que confirmam a intervenção do tom para
diferenciar os itens lexicais e itens gramaticais ilustrados em (3) e (4) em língua Hausa.

(3) tsáaràa – tsáaráa ‘to arrange, to organize – an equal, age-mate’ (organizar-igual)


kúukàa – kúukáa ‘baobab tree – crying’ (embondeiro-chorando)
gàagáràa – gáagàráa ‘be impossible for, – cut with blunt instrument’ (ser
impossível para- cortar com instrumento não afiado)

[Hartmann, 2007:223]
(4) màatáa – máatáa ‘wife – wives’ (esposa-esposas)
dáfàa – dàfáa ‘to cook – cook!’ (cozinhar-cozinhe)
sháa – sháà ‘to drink – drinking’ (beber- bebendo)
táa – táà ‘she (completive) – she (potential) ela (completiva)-ela (potencial)
[Neman, 2000:600]

Os dados da língua Hausa apresentados em (3) e (4) demonstram que o tom é capaz de distinguir
itens lexicais e gramaticais respectivamente. Em Changana, língua objecto deste estudo, veremos
mais tarde que também o tom desempenha a mesma função. Com efeito, usando rigidamente
terminologia lexical e gramatical pode-se afirmar que o tom lexical (5) é menos produtivo em
Changana que o tom gramatical (6) tal como concluiu Langa (2012).
(5) màvélé ‘seios’

20
màvèlé ‘milho’
nàlà ‘palha’
nàlá ‘inimigo’
khèlé ‘cova’
khélè ‘sapo’
kámbá ‘ladrão’
kàmbà ‘casca’?
kùhòlà ‘receber’
kùhólá ‘arrefecer’

(6) a. áhífámbì ‘vamos’


àhífámbí ‘não vamos/não estamos a ir’
b. áhôfámbá ‘já estávamos a ir’
àhófámbá ‘não estamos a ir’
c. áhíngàfámbì ‘vamos’
àhíngàfámbí ‘não iremos’
áhíngàfámbí ‘não estávamos a ir’
d. áfámbìlè ‘foi’
âfámbílé ‘tinha ido’
e. átàfámbà ‘irá’
âtàfámbá ‘iria’
f. hìngáfàmbà ‘podemos ir’
híngàfámbà ‘que vás’
g. wàhànyà ‘você está saudável’
wáhányà ‘ele está saudável’
wàhányá ‘você ainda está a defecar’
wáhányá ‘ele ainda está a defecar’
Os dados presentes em (5) e (6) mostram as diferenças entre o tom lexical e gramatical em
Changana. Apesar de os dados indicarem a diferença entre o tom lexical e tom gramatical,
dedicamos uma secção sobre tom lexical e tom gramatical/flexional concentrando-nos apenas
nos verbos no infinitivo, com extensões verbais, verbos reduplicados, com marcas de tempos

21
(Presente, Passado e Futuro). Os dados seguintes foram obtidos através de combinação de dois
métodos : filológico (dados do dicionário verbos Changana-Português) e Introspecção seguindo
o modelo proposto por Marlo (2013).
(7) a. verbos no infinitivo
kù[n-à] ‘chover’
kù[t-à] ‘vir’
kù[ny-à] ‘defecar’
kù[w-à] ‘cair’
kù[y-à] ‘ir’
b.
kù[n-ìs-à] ‘fazer chover’
kù[n-èl-à] ‘chover para’
kù[n-èl-ìw-à] ‘ser chovido’
kù[ n-èt-èt-èl-à] ‘chover várias vezes’
kù[ n-èt-èt-èl-ìw-à] ‘ser chovido várias vezes’
kù[ny-ìs-à] ‘fazer defecar’
kù[ny-èl-à] ‘defecar para’
kù[ny-èl-ìw-à] ‘ser defecado’
Kù[ ny-ìs-ìw-à] ‘ser feito defecar’
Kù[w-ìs-à] ‘fazer cair’
Kù[w-èl-à] ‘cair para’
Kù[w-èl-ìw-à] ‘ser caido’
Os verbos presentes nos dados fornecidos em (7a-b) apresentam similaridades de ponto de vista
tonal, ou seja, são de tom baixo. Em (7a) temos verbos simples ou não derivados e em (7b)
temos verbos com extensões verbais. Observa-se que a presença de extensões verbais não altera
o padrão tonal lexical do verbo quer em verbos de radicais com consoantes [-n-, -t-, e –ny-] quer
em radicais com glides [-y-, -w-]. O exame que se segue é de verbos de tom baixo com radicais
CVC-.

(8) a. kù[ chàd- à] ‘casar’


kù[bòl-à] ‘apodrecer’

22
kù[dàn-à] ‘evergonhar-se’
kù[hlàny-à] ‘enlouquecer’

b. kù[bòl-ìs-à] ‘fazer apodrecer’


kù[bòl-èl-à] ‘apodrecer para’
kù[bòl-èl-ìw-à] ‘ser feito apodrecer’
kù[dàn-ìs-à] ‘fazer evergonhar-se’
kù[dàn-ìs-èk-à] ‘ser se envergonhável’
kù[dàn-èl-à] ‘envergonhar-se para’
kù[hlàny-ìs-à] ‘fazer enlouquecer’
kù[hlàny-ìs-ìw-à] ‘ser feito enlouquecer’
kù[hlàny-èl-à] ‘enlouquecer para’
À semelhança dos dados fornecidos em (7), os dados em (8) são de tom baixo apesar de
apresentar diferenças do ponto de vista da composição da estrutura do radical. Em (8a) temos
verbos no infinitivo com radicais não derivados e em (8b) com verbos com extensões verbais.
Tonalmente apresentam a mesma configuração. Os dados que se seguem são de verbos no
infinitivo com radicais mais longos.
(9) a. kù[rhùrhùmèl-à] ‘tremer’
kù[dlòkòlòt-à] ‘picar no olho’
kù[hùndzùlùk-à ‘virar’
kù[phàphàm-à] ‘acordar em sobressalto’
kù[ndzòndzòmèl-à] ‘afundar’

b. kù[rhùrhùmèl-ìs-à] ‘fazer tremer’


kù[rhùrhùmèl-ìs-àn-à] ‘fazer tremer um ao outro’
kù[rhùrhùmèl-ìs-ìw-à] ‘ser feito tremer’
kù[rhùrhùmèl-ètèl-à] ‘tremer repetidas vezes’
kù[dlòkòlòt-àn-à] ‘picar-se um ao outro no olho’
kù[hùndzùlùk-èk-à] ‘ser virável’
kù[phàphám-ìs-ìw-à] ‘ser feito acordar em sobressalto’
kù[ndzòndzòmèl-èl-à] ‘afundar para’

23
Os dados fornecidos em (9a-b) dizem respeito a verbos no infinitivo com radicais mais longos.
Em (9a) são radicais não derivados e em (9b) radicais com extensões verbais. Nos dois casos
regita-se o mesmo padrão tonal, ou seja, são todos os verbos de tom baixo. o exame que se segue
é de verbos reduplicados.

(10) a. kù[dlìdlìmbètàdlìdlìmbèt-à] ‘empurrar repetidas vezes’


kù[sùkàsùk-à] ‘sair repetidas vezes’
kù[fìdàfìd-à] ‘subornar/aliciar repetidas vezes’

kù[hlàmpsàhlàmps-à] ‘lavar repetidas vezes’


kù[tsùtsùmàtsùtsùm-à] ‘correr repetidas vezes’
kù[tsòtsèlàtsotsèl-à] ‘espiar repetidas vezes’

b. kù[dlìdlìmbètàdlìdlìmbèt -ìs-à] ‘fazer empurrar repetidas vezes’


kù[sùkàsùk-ìs-à] ‘fazer sair repetidas vezes’
kù[fìdàfìd -ìs-à] ‘fazer subornar/aliciar repetidas vezes’
kù[hlàmpsàhlàmps -ìs-à] ‘fazer lavar repetidas vezes’
kù[tsùtsùmàtsùtsùm -ìs-à] ‘fazer correr repetidas vezes’
kù[tsòtsèlàtsotsèl -ìs-à] ‘fazer espiar repetidas vezes’

Os dados presentes em (10a-b) são de verbos reduplicados em Changana na forma infinitiva.


Como se constata são de tom baixo. Os dados presentes em (10a) não são derivados e em (10b)
têm extensões verbais com tom baixo, ou seja, o tom lexical do verbo é preservado mesmo com a
presença das extensões.
Sumariamente, pode-se afirmar que o tom lexical, nesta língua, é preservado mesmo com o
acréscimo das extensões verbais quer em verbos de radicais simples quer em verbos de radicais
longos e ainda em verbos reduplicados. A seguir fornecem-se os verbos de tom alto e examina-se
o comportamento tonal lexical.

(11) a. kú[b-á] ‘bater’

24
kú[f-á] ‘morrer’
kú[x-á] ‘amanhecer’
kú[th-á] ‘jogar’
kú[dl-á] ‘comer’
kú[tw-á] ‘ouvir’
kú[xw-á] ‘ficar por alguns dias’

b. kú[b-ís-á] ‘fazer bater’


kú[f-ís-á] ‘fazer morrer’
kú[x-ís-á] ‘fazer amanhecer’
kú[th-ís-á] ‘fazer jogar’
kú[dl-ís-á] ‘fazer comer’
kú[tw-ís-á] ‘fazer ouvir’
kú[xw-ís-á] ‘fazer ficar por alguns dias’
kú[b-íw-á] ‘ser batido’
kú[f-íw-á] ‘ser morrido’
kú[x-íw-á] ‘ser amanhecido’
kú[th-íw-á] ‘ser jogado’
kú[dl-íw-á] ‘ser comido’
kú[tw-íw-á] ‘ser ouvido’
kú[b-él-á] ‘bater para’
kú[f-él-á] ‘morrer para’
kú[x-él-á] ‘amanhecer para’
kú[th-él-á] ‘jogar para’
kú[dl-él-á] ‘comer para’
kú[xw-élél-á] ‘ficar por alguns dias para’

Os dados fornecidos em (11a-b) indicam verbos de tom alto com radicais -C- e radicais -CG-. Os
dados fornecidos em (11a) não são derivados enquanto em (11b) apresentam extensões verbais.
Com efeito, existem similaridades do ponto de vista tonal. Ambos os verbos são de tom alto. A
seguir são fornecidos verbos no infinitivo com radicais -CVC-.

25
(12) a. kù[fámb-à] ‘andar’
kù[támb-à] ‘peidar’
kù[fémb-á] ‘advinhar mediunicamente’
kù[twás-á] ‘estar preparado para praticar a medicina africana’
kù[kál-á] ‘ser raro’
kù[khál-á] ‘reclamar’

b. kù[fámb-ís-à] ‘fazer andar’


kù[támb-ís-à] ‘fazer peidar’
kù[fémb-ís-á] ‘fazer advinhar mediunicamente’
kù[twás-ís-á] ‘fazer estar preparado para praticar a medicina africana’
kù[kál-ís-á] ‘fazer ser raro’
kù[khál-ís-á] ‘fazer reclamar’

Os dados fornecidos em (12a-b) referem-se aos verbos no infinitivo com radicais -CVC-/CGVC.
Nota-se que a vogal do radical tem tom alto o mesmo que acontece com a vogal presente nas
extensões verbais em (12b), ou seja, a presença da extensão verbal não altera o tom inicial do
verbo. Os dados que se seguem fazem referência aos verbos com radicais longos não derivados e
com extensões verbais.

(13) a. kù[tsóndzíhél-à] ‘enrolar’


kù[tsémákány-à] ‘atravessar’
kù[tsékátsék-à] ‘abanar’
kù[phándlúkél-à] ‘salpicar’
b.
kù [tsóndzíhél-ís-à] ‘fazer enrolar’
kù[tsémákány-ís-à] ‘fazer atravessar’
kù[tsékátsék-ís-à] ‘fazer abanar’
kù[phándlúkél-ís-à] ‘fazer salpicar’

26
kù[tsóndzíhél-íw-à] ‘ser enrolado’
Kù[tsémákány-íw-à] ‘ser atravessado’
Kù[tsékátsék-íw-à] ‘ser abanado’
Kù[phándlúkél-íw-à] ‘ser salpicado’

Os dados apresentados em (13a-b) indicam verbos no infinitivo com tom alto. Registam uma
característica comum. Todas as vogais presentes no radical são de tom alto, aliás mesmo com as
extensões verbais (13b), as vogais do radical permacem com o tom alto. A seguir são fornecidos
verbos redupicados no infinitivo.
(14) a. kù[phíndhàphíndh-à] ‘repetir repetidas vezes
ku[fámbàfámb-à] ‘andar repetidas vezes’
kù[phúzàphúz-à] ‘beber repetidas vezes’

b. kù[phíndhàphíndh-ís-à] ‘fazer repetir repetidas vezes’


ku[fámbàfámb-ís-à] ‘fazer andar repetidas vezes’
kù[phúzàphúz-ís-à] ‘fazer beber repetidas vezes’

Os dados em (14a-b) são verbos reduplicados no infinitivo. Em (14a) não são derivados em em
(14b) apresentam extensões verbais. Ambos os verbos são de tom alto.
Em resumo, conclui-se que existem verbos de tom baixo e de tom alto em Changana cuja
distribuição tonal não é sensível à estrutura do radical seja simples seja complexo, ou por outras,
existem verbos com radicais simples de tom baixo e verbos com radicais simples de tom baixo e
ainda verbos com radicais complexos de tom baixo bem como radicais complexos de tom alto.
As extensões verbais fonecidas acomodam-se aos padrões tonais do verbo, aliás como sugere
Meeussen (1959:426) as extensões verbais têm tom neutro. O exame que se segue é com
algumas marcas de tempo.

(15) âyínílé ‘já tinha chovido’


âwílé ‘já tinha caído’

27
âtílé ‘já tinha vindo’

âyínísíwílé ‘já tinham feito chover’


âwísíwílé ‘já tinham feito cair’
âtísíwílé ‘já tinham feito vir’

Os dados presentes em (15) indicam verbos no passado remoto em Changana. Recorde-se que os
mesmos verbos foram examinados no infinitivo (7) e foi dito que eram de tom baixo. No
entanto, aqui são de tom alto. A vogal inicial (doravante V-inicial) apresenta tom descendente
resultante da fusão do tom alto com baixo (á+à).
(16) átáchádà ‘casaria’
átábólà ‘apodreceria’
átáhlányà ‘enlouqueceria’

Similarmente aos dados presentes em (15) em que os verbos são de tom alto com a variação de
tempo acareta consequências de ponto de vista do tom lexical, mudando o verbo de tom baixo
para o tom alto. Regista-se nestes dados (16) que o tom da V-inicial propaga-se até à penúltima
sílaba.

(17) ángàtàbólá ‘não apodrecerá’


ángàtàhlányá ‘não enlouquecerá’
ángàtàdáná ‘não se envergonhará’
ángàtàbòlísá ‘não fará apodrecer’
ángàtàhlànyísá ‘não fará enlouquecer’
ángàtàbòlèlìwà ‘não lhe será apodrecido’

O mesmo fenómeno descrito em (16) passa-se com os dados fornecidos em (17). Lexicalmente
foi descrito que estes verbos no infinitivo são portadores de tom baixo, mas como se observa,
estão a alterar os seus padões tonais, ou seja, o tom gramatical/flexional apaga em algumas
marcas de tempo o tom lexical.
(18) àngá[ból-í] ‘não apodrece’

28
àngá[hlány-í] ‘não enlouquece’
àngá[dán-í] ‘não se envergonha’
àvá[bòl-ís-án-í] ‘não se apodrecem um ao outro’
àvá[hlàny-ís-án-í] ‘não se enlouquecem um ao outro’
àvà[dàn-ís-án-í] ‘não se envergonham um ao outro’

Os dados presentes em (18) mostram que há preservação do tom lexical baixo em apenas na
primeira vogal do radical.
(19) ángábólì ‘que apodreça’
ángánhlányì ‘que enlouqueça’
ángádánì ‘que se envergonhe’
ávábólísánì ‘que se apodreçam um ao outro’
áváhlányísánì ‘que se enlouqueçam um ao outro’
ávádánísánì ‘que se envergonham um ao outro’

Observando estes dados (19) e os dados anteriores (18) notam-se similaridades do ponto de vista
dos segmentos ou morfemas que os compõem, mas são diferentes tonalmente o que lhes permite
a diferenciação do ponto de vista semântico Entretanto, tal como relatámos, no infinitivo são
verbos de tom baixo, mas com a variação de Tempo aparecem na categoria de verbos de tom
alto.

(20) váhákévá[rhúrhúmél-à] ‘alguma vez (num passado longíquo) tremeram’


váhákévá[gómbónyók-à] ‘alguma vez( num passado longíquo) estiveram tortos’
váhákévá[dlókólót-à] ‘alguma vez (num passado longíquo) ‘picaram no olho’
váhákévá[húndzúlút-à] ‘alguma vez (num passado longíquo) viraram’

Os dados em (20) mostram verbos flexionados na terceira pessoa do plural referindo-se a eventos
que aconteceram num passado longíquo. Nota-se a alteração do padrão tonal do verbo, ou seja, o
tom gramatical altera o tom lexical do verbo deixando de ser baixo passando a ser alto.

(21) wá[rhúrhúmél-à] ‘ele está a tremer’

29
wá[gómbónyók-à] ‘ele está a ficar torto’
wá[húndzúlút-à] ‘ ele está a virar’
Os verbos presentes em (21) sabe-se que no infinitivo têm tom baixo, mas o tom alto presente na
MS altera o padrão tonal do verbo passando de baixo para alto. Neste caso, aplica-se a regra de
propagação tonal.
Em síntese, pode-se afirmar que o tom lexical é sensível à alteração devido às variações de
Tempo e ou pessoa gramatical. A seguir, examinam-se os verbos de tom alto, recorrendo o
mesmo critério a que foram sujeitos os verbos de tom baixo.

(22) wènè wà[fàmb]à ‘tu vais’


wènè wà[fàmb]ìsà ‘tu fazes andar’
wènè wà[fàmb]èlà ‘tu andas para’
wènè wà[fàmb]ètèlà ‘tu andas várias vezes’
wènè wà[fàmb]ìsìwà ‘tu és feito andar’
wènè wà[fàmb]èlànà nì mùnghánù wákù ‘tu e teu amigo se dão’
Os dados presentes em (22) mostram a alteração do tom lexical na V-inicial do radical devido a
segunda pessoa do singular um vez que segmentalmente são idênticos com a 3ª pessoa do
singular como se pode observar a seguir.
(23) yènà wá[fámb]á ‘ele/a vai’
yènà wá[fámb]ísá ‘ele/a faz andar’
yènà wá[fámb]élá ‘ele/a anda para’
yènà wá[fámb]étélá ‘ele/a anda várias vezes’
yènà wá[fámb]síwá ‘ele/a é feito anda’
yènà wá[fámb]élánà nì mùnghánù wákù ‘ele/a dá-se bem com o seu/sua amigo/a
Os dados (23) mostram a preservação do tom lexical do verbo -fámb-, o que não acontece com
os dados (22) onde se regista a alteração do tom.
(24) àngá[tsèmàkàny-ì] ‘ele não está a atravessar’
àngá[tsòndzìhèl-ì] ‘ele não está a enrolar’
àngá[tsèkàtsèk-ì] ‘ele não está a abanar’

30
Estes dados (24) na negativa confirmam a alteração do padrão tonal do verbo, como se sabe no
infinitivo é do tom alto, mas com as marcas de flexão passou a tom baixo. Na situação da
preservação do tom lexical em segmentos análogos gera significados diferentes como se pode
observar.
(25) ángá[tsémákány-ì] ‘que atravesse’
ángá[tsóndzíhél-ì] ‘que enrole’
ángá[tsékátsék-ì] ‘que enrole’

Os dados (25) mostram similaridades do ponto de vista segmental com os (24), mas diferem
tonalmente. Estes (25) indicam que o tom lexical é preservado excepto na última sílaba,
enquanto os (24) mostra a alteração do tom.
Em suma, conclui-se que o tom lexical é sensível em alguns casos devido as marcas de pessoa,
variação de Tempo e diferenciação da positiva com negativa.

2.7 Regras Tonais

Tal como acontece em muitas línguas tonais, as palavras são sensíveis a regras tonais.
(Goldsmith, 1979; Hyman, 2009). Destacaremos neste estudo as regras de propagação de tom
alto, duplicação tonal, propagação não final (non finallity) e bloqueio do tom.

2.7.1 Propagação de tom alto

Propagação ou expansão é uma das propriedades que o tom tem de se propagar ou de expandir
seguindo certa direcção quer de direita para esquerda quer de esquerda para direita ou consiste
na cópia para a unidade portadora de tom seguinte sob condições que variam entre línguas.
(Goldsmith, 1979; Selkirk, 2009).

2.7.2 Duplicação tonal

De acordo com Odden (1989) e Liphola (2001) está-se perante a regra de propagação binária
quando o tom alto no início da raiz verbal copia-se para a mora seguinte dando sequência de dois
tons altos em superfície.

31
2.7.3 Propagação tonal não final

Esta regra dá conta do processo de propagação do tom alto que não atinge a última vogal, ou
seja, que a propagação termina na penúltima sílaba (Odden, 1994; Liphola, 2001; Zerbian e
Barnard, 2009).

2.8 Distinção tom e acento

Muitos estudiosos, recorrendo a diversos modelos linguísticos de análise, têm enveredado na


busca de fronteiras demarcadoras entre o tom e acento (Goldsmith, 1992; Odden, 1998; Liphola,
2009).
Goldsmith (1992) diferencia o tom do acento dividindo as línguas naturais em: tonais e não
tonais (de acento). Assim, as línguas tonais diferenciam-se das não tonais de duas formas: (i) a
melodia de um conteúdo numa língua não tonal é composta por unidades prosódicas que são
directamente distribuídas pelos itens lexicais do conteúdo, e que menos se propagam pelas
construções sintácticas existentes na frase e (ii) as línguas tonais geralmente possuem regras
fonológicas que modificam as melodias do tom dependendo do tom localizado à sua volta tal
como em estrutura sintáctica na qual ocorrem.

Odden (1989) afirma que existem poucos princípios norteadores que tricotomizam as línguas em:
línguas de pico, línguas de acento e línguas de tom, uma vez não existirem propriedades
acústicas nem fisiológicas dos construtos linguísticos que justificam a separação das línguas em
duas ou três tipologias. Acrescenta que nas línguas de acento, a posição do pico prosódico é
predizível por regra (colocação do acento sobre a penúltima, antepenúltima ou unidade inicial),
existe precisamente uma sílaba na palavra com o tal contraste cujo pico é tratado privativamente.
Nas línguas altamente tonais, a posição do contraste prosódico é não predizível, podendo ser
mais do que um pico prosódico e o contraste pode não ser predizível realizado por um ou mais
níveis de pico.
Para (Liphola, 2009), distinguir o tom do acento não é um assunto trivial, pois exige o
estabelecimento de critérios que tenham em conta aspectos tipológicos e funcionais de cada um
dos traços suprassegmentais.

32
Este autor apresenta, em seguida, quatro argumentos subjacentes na dificuldade de distinção do
tom e do acento recorrendo em alguns casos a Odden (1989). (i) tanto o acento quanto o tom se
realizam foneticamente através de manipulação do mesmo parâmetro fonético, nomeadamente o
pico de proeminência relativa da voz, (ii) o tom e acento têm a ver com a duração, amplitude e
frequência dos formantes, (iii) existe um ofuscamento do uso do tom pelo uso popular da palavra
acento através de sistema de escrita e ensino das línguas acentuais e (iv) a complexidade
estrutural do tom em relação ao acento, facto que contribui para a sua marginalização. Liphola
(2009) faz um sumário dos parâmetros principais utilizados na distinção entre o tom e o acento.

Tabela 2 Distinção entre tom e acento


Tom Acento
Parâmetros
1. Proeminência relativa + proeminente + proeminente

2. Propagação + propagável -propagável

3. Mobilidade + móvel + móvel

4. Domínio de ocorrência -restrito: (frase, + restrito:palavra


palavras, morfema,
segmento)
5. Número de proeminências n (variável) 1
por domínio de ocorrência

Fonte: Liphola, 2009:82

33
2.9 Marcação do tom na escrita

Pour la représentation des tons, j'admets le principe de I.I.L.C.A5. de n'écrire que le


TONEMES, et cela quand c'est nécessaire. Ce dernier point est pourtant assez vague;
car nous ne connaissons la langue qu'imparfaitement, et il se pourrait que l'écrivain
blanc trouve que le contexte est suffisament clair sans signes tonétiques, alors que
l'indigène est dérouté (des cas arrivent). Mais cette difficulté n'est pas définitive, elle
cessera lorsque les indigènes suffisament éduqués écriront eux-mêmes et lorsque les
Blancs connaîtront mieux la langue. Nous pouvons donc tranquillement conserver le
principe.
G. HULSTAERT. M.S.C 1937.
If orthograpy of tone language is difficult to use or to learn, then a good part of the
reason, I believe, is that the designer either has not paid enough attention to the
function of tone languages Bird, 1988.

Tratando-se da primeira abordagem que combina abordagem morfológica e tonológica, julgamos


pertinente a inclusão de uma discussão acerca das abordagens da marcação do tom na escrita de
forma a permitir uma melhor leitura dos dados por parte do nosso leitor.
A discussão sobre a inclusão do tom na escrita constitui debate e desafio recentes na área da
linguística (Bird, 1998; Liphola, 2010; Lojenga 2011; Picanço 2012).
De acordo com Bird (1988) as línguas tonais apresentam desafios interessantes para os que
trabalham na ortografia. Assim, são conhecidas duas abordagens que dão conta do tom: (i)
omissão das marcas tonais e (ii) uso exaustivo de diacríticos.

A partir das duas citações acima percebe-se que o assunto da marcação do tom permanece ainda
em aberto.
Hurskenen (2009) afirma que muitos sistemas ortográficos das línguas tonais em África não
marcam o tom. Os argumentos de não inclusão do tom na escrita são vários (Mfonyam 1989;
Stegen, 2005; Ngozi, 2005), e um dos argumentos apresentados é que tornaria lento o processo

5
Institut International des Langues e Civilisations Africaines

34
de leitura (Bird, 1999). Piker (1947) assume que o tom se deve excluir na escrita para
salvaguardar a economia gráfica.
Schoroeder (2010) mostra com exemplos (26) a ambiguidade que se pode gerar na ausência de
informação gráfica tonal na língua Leud6.
(26) ma bbi bbi ‘I walked’ (eu caminhei)
ma bbi bbi ‘We walked’ (nós caminhámos)
ma bbi bbi ‘I will walk’ (eu caminharei)
ma bbi bbi ‘We will walk’ (nós caminharemos)
ma bbi bbi ‘I shoud walk’ (eu deveria caminhar)
ma bbi bbi ‘We should walk’ (nós deveriamos caminhar)
ma bbi bbi ‘I am walking’ (eu estou caminhando)
ma bbi bbi ‘We are walking’ (nós estamos caminhando)
[Schroeder, 2010:62]
Os dados indicados em (26) mostram a pertinência de inclusão de informação tonal na marcação
do tom na escrita.
Com efeito, Wismann (1989, 1995) recomenda a indicação do tom baixo com acento grave e
deixar o tom não marcado noutros níveis. Langa (2012) na sua tese de doutoramento usa
literalmente dois acentos para marcar o tom nos seus dados. Acento grave, o mais frequente e o
acento agudo menos frequente. Importa referir que há vogais que não aparecem marcadas com
acentos o que deixa antever que existem três níveis tonais. Com efeito, dos três níveis indicados
nos seus dados, o autor considera que apenas marcou com acento grave as vogais que aparecem
mapeados com tom baixo como se pode confirmar no trecho que se segue:
“Neste trabalho, apenas se marca o tom baixo (`) porque, segundo Sitoe (1996), é menos
frequente no Changana. Assim, as vogais que não tiverem o diacrítico marcado significam que
têm tom alto” Langa (2012:80)
Sitoe (2013) reutiliza o modelo de Wismann no seu dicionário Changana-Português, porém
marcando com acento agudo as unidades portadoras de tom alto e sem marcação as vogais de
tom baixo. Retomaremos este ponto na tonologia verbal. Mtenje (1987) marca o tom num corpus

6
Leud é uma lingua centro-sudânica falada na RDC.

35
que diferencia as subcategorias do tempo passado e do presente em Chichewa como indicam no
corpus (27).
(27) ndi-ná-fotokoz-a (simple past) ‘I explained’ (eu expliquei)
ndi-náfótókoz-a (recent past) ‘I explained recently’ (eu expliquei recentemente)
ndi-nâ:-fotókoz-a (remot past) ‘I explained sometime ago’ (eu expliquei há algum
tempo)
ndi-na-fótókoz-a (present habitual) ‘I always explain’ (eu explico sempre)
ndi-na-fotokoz-a (past habitual) ‘I used to explain’ (eu costumava explicar)
[Mtenje, 1987:72]
Os dados fornecidos em (27) indicam os diferentes subníveis do passado e do presente habitual
em Chichewa. Segmentalmente são idênticos, mas diferem suprassegmentalmente indicando
desta feita configurações temporais diferentes.
Num outro desenvolvimento, Lojenga (2011) reporta os problemas e abordagens existentes na
representação do tom na escrita.
Lojenga (2011) afirma que as palavras consistem em consoantes, vogais e melodias tonais que
podem servir para indicar a distinção mínima, ambos no léxico e na gramática da língua. Ela,
ainda, afirma que no passado havia muita resistência na representação do tom na ortografia pelas
seguintes razões: (i) É um traço não encontrado em Francês, Inglês, Espanhol, Português, línguas
oficiais de muitos países africanos, (ii) O sistema tonal da língua em preparação para a ortografia
tonal não é um assunto fácil de analisar, (iii) Muitas pessoas têm a suposição de que a ortografia
representando o tom impregnado de sinais diacríticos tornaria a leitura num sistema pesado e
penoso.
O tom é um traço importante, muitas vezes negligenciado pelos linguistas assim como pelos
falantes nativos. A ortografia do tom necessita de ser acompanhada de uma metodologia assim
como de consciencialização das pessoas e treinamento para escolher as marcas do tom na língua.
Lojenga sugere a divisão das línguas tonais em dois grupos para a representação do tom na
escrita: (i) línguas com tom estável e (ii) línguas com tom instável, no qual vários processos
operam, assim que o tom muda com base no contexto na palavra.
Relativamente ao grupo com o tom estável, a melodia tonal das palavras isoladas permanece a
mesma em qualquer contexto da palavra em que possa ocorrer, ou seja, não existe uma regra
tonal que possa mudar o tom neste contexto. A melodia tonal da palavra pode mudar devido a

36
razões gramaticais não relacionadas com o contexto tonal da palavra. Em algumas línguas, os
nomes no singular e no plural, os locativos, os paradigmas tempo e aspecto são diferenciados
pelo tom.
Quanto ao segundo grupo, que consiste em línguas com mudança de tom, o processo tonal opera
em várias formas: numa mesma palavra podem aparecer diferentes padrões tonais baseados no
contexto tonal. O tom alto tende geralmente a propagar-se tal como acontece Shimakonde (28a)
em Kimwani (28b).
(28a) vandi-gúgúvaadya ‘fizeram ajoelhar’
vandi-tálákeedya ‘fizeram cozinhar’
[Liphola,2001:208]
(28b) wákosómóola ‘tinham tossido’
wápakaníila ‘tinham conversado’
wánangáníiza’tinham olhado’
[Liphola, 2010:89]
Em (28a) e (28b) estamos diante de um processo designado duplicação tonal que é forma
especial de propagação tonal.
Esta divisão tipológica tonal tem consequências na representação ortográfica em que nas línguas
onde o tom tem múltiplas funções resultará em mais sinais tonais na ortografia que as línguas
com poucos níveis tonais.
Lojenga vai mais longe afirmando que o desenvolvimento da metodologia para o ensino destes
dois tipos de sistemas radicais é um grande desafio. Diferentes abordagens devem ser trabalhadas
para as pessoas que já estão alfabetizadas na língua e aqueles que estão na fase de pré-
alfabetização e cada abordagem deve colocar bem claro a distinção entre os contrastes tonais e
gramaticais.
Em Moçambique, existem, literalmente, três instrumentos puramente linguísticos que
sistematizam a ortografia das línguas moçambicanas (I, II e III relatórios de padronização das
línguas moçambicanas) publicados de 10 em 10 anos.
Os três relatórios, na essência, sobre a língua Changana fazem referência ao tom e indicam que
existem dois tipos de tons, nomeadamente A e B, contrastivos tanto a nível lexical como
gramatical, mas indica-se que a sua marcação será feita apenas nos pares mínimos em que pelo
contexto, não seja possível estabelecer a distinção de significados (Sitoe & Ngunga 2000;

37
Ngunga & Faquir, 2011:231). Esta simplificação do contorno da representação tonal talvez seja
consequência dos dados analisados cujo enfoque se deu no contraste lexical onde claramente se
estabelecem as diferenças entre A e B. Os dados que serão analisados neste estudo, confirmam
esta ocorrência a nível lexical. Com efeito, revelam que existem mais níveis tonais nesta língua
que merecem uma explicação, sobretudo a nível gramatical.
Roberts (2013) apresenta uma sistematização sobre a tipologia da ortografia do tom definindo 6
parâmetros e um número correspondente de escolhas que se podem conferir na tabela 3.
Tabela 3: Tipologia da Ortografia do tom
Parâmetro Escolha
1. Domínio Fonográfico (baseado em sons)
Semiográfico (baseado em significados)
2. Alvo Tons: Alto, Médio, Baixo, CT-contorno tonal
Gramatical: número, género, TAM
Léxico: Pares mínimos tonais e conjuntos lexicais
3. Símbolos Acentos, pontuação, sublinhado, letras mudas e números
4. Posição Expoente, subscrito a esquerda ou a direita, ou grafema,
morfema, palavra e frase
5. Densidade Zero, parcial e exaustivo
6. Profundidade Notação em superfície (pós-lexical/output)
Tom profundo, ortografia transparente, ortografia
profunda

Fonte: Roberts (2013:104)


A tabela 3 constitui uma das propostas de ortografia de tom mais recente apresentada numa
colectânea de artigos organizados por Bordgwaldt e Joyce (2013). Nela são sumarizados os
principais sistemas de representação tonal seguidos nas diversas línguas tonais do mundo. Para o
presente estudo, a representação do tom enquadra-se no parâmetro 3 e 6 em acentos na parte da
escolha como será mostrado mais a frente na tabela 5.
Apesar de se reconhecer a importância da intervenção tonal nestas línguas, ainda existe um
adiamento para a sua inclusão na escrita. Liphola (2010) foi o primeiro linguista moçambicano a
propor uma ortografia que incluísse a informação tonal em Shimakonde, uma língua bantu falada

38
em Cabo Delgado. Para este autor, a ideia de incluir o tom na escrita das línguas moçambicanas
remonta desde os anos 80, altura em que se realizou o I seminário sobre a padronização das
línguas moçambicanas. Um dos desafios que coloca é que a inclusão do tom na escrita requer um
treinamento especializado por parte dos utentes do sistema ortográfico.
Liphola (2010) avança com a seguinte proposta de representação tonal na escrita:
Tabela 4: Representação do tom em Shimakonde
Designação Representação do tom na escrita
Tom de nível alto < áá > ou <á>
Tom ascendente < aá >
Tom descendente < áa >
Tom baixo-ascendente < aâ >
Tom de nível baixo <aa>

Fonte: (Liphola, 2010)


Este problema de representação do tom na escrita também foi encontrado por Picanço (2012) ao
estudar Mundurukú uma língua tonal falada no Amazonas. O autor constatou que os falantes
nativos alfabetizados não representavam o tom na escrita servindo-se de contextos sintácticos e
semânticos para diferenciar os significados.
Valendo-se da amostra dos dados presentes em (5) e (6), a presente dissertação readapta o
modelo de Liphola 2010 na representação do tom e avança com a seguinte proposta
sistematizada na tabela 5.
Tabela 5 Proposta de representação do tom em Changana
Designação Forma de repres. Exemplo Gloss.
Alto [á] [á]ngádlì que coma
Ascendente [ǎ] [ǎ]ngadlí (àá) não comerá
Médio [a] [a]ngatádlá não comeria
Baixo [à] [à]ngádlí não come
Descendente [â] [â]ngàdlí (áà) não comia
Fonte: Elaborada pelo autor
Na tabela 5 estão sistematizadas informações relativas aos níveis tonais existentes em Changana
que doravante serão seguidas neste estudo. Apesar de se reconhecer que existem dois níveis

39
tonais Alto e Baixo pode-se dizer que do ponto de vista gramatical ocorrem 5 níveis tonais a
saber: alto, ascendente, médio, baixo e descendente. O tom médio não tem sido descrito nos
materiais do Changana.
Concluído este capítulo sobre o quadro conceptual cujo objectivo foi de fornecer os principais
conceitos a serem utilizados neste estudo e uma revisão teórica sobre as pesquisas relacionadas
com a representação gráfica do tom. O capítulo que se segue ocupa-se dos pressupostos
metodológicos.

40
Capítulo III: Pressupostos Metodológicos

3.1 Introdução

Este capítulo descreve os pressupostos metodológicos seguidos na pesquisa que permitiu a

produção desta dissertação. Para além da introdução (3.1), o capítulo tem os seguintes tópicos:

antecedentes da escolha do tema (3.2), trabalho de campo (3.3), selecção e perfil dos informantes

(3.4), métodos (3.5), análise de dados (3.6) e validade de dados (3.7).

Existe muita literatura que discute como se constroem os pressupostos metodológicos de uma

forma geral (Eco 1992; Fortin 1999; Bogdan e Birklen 2012, Popart et alli, 2013) e no caso de

Linguística em particular (Sliger e Shohman 1989 e Quirk 2011). Na essência apresentam e

explicam os tópicos que devem figurar nesta etapa. Para esta dissertação, em função das

hipóteses, e os objectivos traçados, foram elencados os tópicos apresentados no parágrafo

anterior que a seguir serão descritos.

3.2 Antecedentes da escolha do tema

O interesse pela investigação da negação em Changana surge em 2009 nas aulas de Tipologia

das Línguas Bantu e de Interface Fonologia e Sintaxe orientadas pelos Professores Bento Sitoe e

Marcelino Liphola, respectivamente. A partir destas disciplinas entrámos em contacto com obras

como Autossegmental Phonology de Goldsmith (1979), Autossegmental Studies in Bantu Tone

de Clements e Goldsmith (1984), rodoppiamento sintáctico em Italiano de Nespor e Vogel

(1986), Shorternning Vowel in Kimatumbi de Selkirk (1998), Aspectos da Fonologia e

Morfologia de Shimakonde de Liphola (2001) dentre outros tópicos discutidos foi crescendo em

mim o interesse de recorrer aos modelos empregues para testar as nuances tonais existentes na

língua. Observações preliminares sobre dados do tipo àhíyètlélí hí mhàká yá tìnsúná ‘não

41
dormimos por causa de mosquitos’ e áhíyètlélì mùrhándzìwá ‘durmamos minha querida’,

exemplos de corpus apresentado numa aula de Tipologia das Línguas Bantu, trabalho feito

juntamente com Berta Paulino, deram cada vez mais alento à necessidade de se pensar num

tópico relacionado com a negação visto que os conhecimentos anteriores indicavam, para além

de outros morfemas que a- e -i seriam os marcadores de negação. Ora, os dados já estavam a dar

pistas sobre algo mais que precisava de ser dita. Com efeito, a solidificação foi se dando no

decurso da elaboração da dissertação do Mestrado com o título ‘a função do tom na marcação do

tempo futuro em Changana’. A exposição às diversas fontes sobre o tom, aliada à nossa intuição

linguística como falante nativo desta língua, desempenhou um papel importantíssimo sobre a

decisão que fizemos. Portanto, mesmo depois da conclusão do Mestrado, o nosso enfoque

continuou sendo a negação na perspectiva morfo-tonológica e como consequência disso

começamos a apresentar, em seminários e/ou conferências, este tópico. Ao todo foram 4

comunicações apresentadas: 2011: na Universidade Pedagógica no Departamento de Português

em sessões de palestras; 2012: na Escola Comunitária Nossa Senhora do Livramento em

jornadas científicas, 2013: na Universidade de Swazilândia em conferência da LASU, 2013 na

Universidade Pedagógica na Conferência Internacional de multiculturalidades e línguas. Os

inputs recebidos nesses encontros encorajaram-nos a seguir em frente.

3.3 Trabalho de campo

Como foi descrito na secção anterior, o trabalho de campo teve início formal quando começamos

a desenvolver textos com vista a apresentar este tema em seminários. A base inicial consistia

numa lista de verbos no Presente contrastando com a parte negativa. Através dos inputs que ia

recebendo, fomos ampliando o corpus para os outros tempos verbais (Passado e Futuro) e ainda

42
informação Aspectual (Perfectivo e Imperfectivo). Buscamos os pressupostos da teoria

fundamentada (grounded theory) defendida por Glaser e Strauss (1967) para a produção e análise

de dados. Segundo estes autores, a produção de dados é simultânea à análise. Ainda no que diz

respeito a este modelo, Poupart et alli (2012) referem que quando se trata de colecta de dados, e

portanto, da sua produção, as reflexões e os conselhos metodológicos se centram, sobretudo, na

questão da selecção dos dados de observação e na clarificação das anotações de campo. Por

razões práticas seleccionámos 5 informantes falantes nativos do Changana oriundos de diferentes

distritos. Outros dados foram obtidos filologicamente, elicitação e por meio de introspecção que

constituem os métodos usados (v. Secção 3.6).

3.4 Seleçcão e perfil de informantes

Foram selecionados 5 informantes, doravante consultores linguísticos, seguindo o procedimento

não probabilístico. De acordo com Sampier (1997) as amostras não probabilísticas, as quais

também se chamam amostras dirigidas supõem um procedimento de selecção informal um pouco

arbitrário. Estes autores acrescentam que uma amostra não probabilística tem uma vantagem para

um determinado desenho de estudo que requer tanto uma representatividade de elementos de

uma população com certas características homogêneas.

Várias foram as motivações subjacentes à escolha destes consultores linguísticos: teóricas e

práticas. Do ponto de vista teórico há uma crítica recorrente em pesquisas centradas em pobres,

grupos étnicos, os desafortunados, mas que em contrapartida há muitos menos estudos sobre as

classes médias e superiores. Então, este estudo centra a sua atenção em consultores com nível

superior. Caracteristicamente, os nossos informantes ou consultores linguísticos apresentam estes

dados sistematizados tendo as seguintes categorias (i) idade, (ii) habilitações literárias, (iii)

43
naturalidade, (iv) residência, migrações entre o local de naturalidade e a residência actual e

tempo de permanência no local de residência actual.

(i) Idade

Os consultores linguísticos possuem idades que variam entre 32 e 54 anos de idade, ou seja, 1

consultor tem 32, 2 consultoras têm 37 anos, 1 consultor tem 47 anos e 1 consultora tem 54

anos.

(ii) Habilitações literárias

Os consultores linguísticos possuem nível superior. 2 têm nível de Mestrado em Linguística e

3 nível de licenciatura nos seguintes cursos: Direito e História, Ensino de Português e Ensino

Básico.

(iii) Naturalidade

Os consultores são ao todo naturais da província de Gaza. 1 é de Manjacaze, 2 de Chókwè, 1

de Xai-Xai e 1 de Chibuto.

(iv) Residência, migrações entre o local de naturalidade e a residência actual e tempo de

permanência no local de residência actual.

Os consultores linguísticos são residentes em Brasil, Maputo, Xai-Xai, e Manjakaze. Das

informações apuradas junto dos consultores, caracteristicamente tiveram em comum dois

tipos de migrações uma forçada pela guerra de civil que opunha as forças do governo de

Moçambique e as forças do Movimento de Resistência Nacional e outra resultante da procura

de escolas e emprego nas cidades. Discriminadamente 1 saiu de Gaza para Maputo em 1989

e fixou a sua residência, deslocando-se de vez em quando a Chókwè para cumprir certas

obrigações, os 4 moravam em Xai-Xai durante o conflito armado (1977-1992) e mais tarde

44
foram a Maputo frequentar os cursos superiores. Findo os cursos, 1 regressou a Manjakaze, 2

a Xai-Xai e 1 reside actualmente no Brasil, mas tem a sua residência de permanência em

Maputo.

3.5 Métodos

Para a produção desta dissertação três métodos foram empregues: Filológico, elicitação e

introspecção.

3.5.1 Método Filológico

De acordo com Severino (2000) e Ngunga (2002) o método filológico consiste na consulta de

fontes para a recolha de informação relevante sobre a língua em análise a partir de material

escrito existente. Para o efeito, foram recolhidas informações em monografias (Langa 2001),

gramáticas (Ribeiro, Ngunga e Simbine 2012), dissertações (Langa 2012, Hlungwane 2013),

dicionários Changana-Português (Sitoe 1996, 2011), relatórios de seminários sobre a

padronização das línguas moçambicanas (I, II e III) e na novela bilingue Changana-Português

Zabela – uma vida desperdiçada (Sitoe 2013).

3.5.2 Método Introspectivo

Segundo Greenbaum (1984) o linguista cuja língua materna é sujeita à investigação pode

suplementar o corpus de dados a partir do seu próprio conhecimento da língua. Assim, alguns

dados desta dissertação foram obtidos através da minha intuição linguística.

3.5.3 Método de Elicitação

45
Este método consiste em buscar os dados em falantes nativos podendo ser feito através de

emissão de juizo de gramaticalidade, tradução de conteúdos a partir da língua que se pretende

estudar (Cheliah, 2001) Desta feita, para o presente estudo, os consultores tiveram que traduzir

certas formas verbais do Português para Changana e escolher certos significados em função dos

itens apresentados (v. Anexos 1-5). Primeiro distribuimos o questionário para os consultores

após o preenchimento e retorno tivemos uma conversa em separado com cada um deles para ter

acesso como liam os materiais. No caso da consultora Ezra Nhampoca dada a sua ausência no

país foi possível entrar em contacto via skype.

3.6 Análise de dados

A análise de dados, seguida, nesta dissertação, combina técnicas quantitativas e qualitativas. Os

resultados foram processados em tabelas com tratamento estatísticos seguidas de comentários

sobre as tendências. Do ponto de vista de quadro téorico sirvimo-nos dos pressupostos da

Fonologia Lexical (Kiparsky, 1985) modelo, comummente conhecido como Morfo-fonologia

que discute a interface entre a Morfologia e Fonologia (Kiparsky, 1982 e Mohan, 1989).

3.7 Validade dos dados

Para conferir a validade dos dados, certos procedimentos foram seguidos: Todos os consultores

linguísticos são falantes nativos do Changana, apesar de pertencerem a distritos diferentes, o que

de certo ponto confere a diversificação das variantes. Ainda, usam esta língua como meio de

comunicação. Ademais, somos co-consultores linguístico em virtude de sermos falantes nativos

com similaridades com os outros consultores. O capítulo que se segue faz a revisão da literatura.

46
Capítulo IV: Revisão da Literatura

4.1 Introdução

Este capítulo ocupa-se, essencialmente, da revisão da literatura7. Nele estão sistematizados


estudos sobre esta língua, estudos prévios sobre a negação em geral8 e em línguas bantu em
particular.

4.2 Estudos anteriores sobre Changana

A língua Changana tem sido alvo de estudos ao longo dos tempos (Bleek, 1862; Koelle, 1854;
Sitoe, 1996, 2001 e 2011; Langa, 2001, 2008, 2012; Matsinhe, 2008; Ribeiro, 2010; Balate,
2011; Ngunga & Simbine, 2012). Estes estudos, na essência, são de dois paradigmas: (i)
descrição geral e (ii) descrição específica. Na descrição geral encontram-se estudos que fazem
referência às classificações da língua, dicionários e na (ii) descrição específica referem-se aos
estudos que focalizam tópicos específicos na língua.
Em seguida, faz-se uma breve referência a alguns estudos realizados cujos dados neles
constantes poderão posteriormente ser capitalizados nesta dissertação.

4.2.1 Sitoe (1996, 2001)

O autor publica um dicionário bilingue (Changana-Português) com 356 páginas sob chancela do
INDE. No dicionário, para além de um conjunto de pouco mais de 12.000 verbetes apresenta
uma secção breve de gramática desta língua. A versão revista e alargada deste dicionário surge
em 2011, sob a chancela da Texto Editores. Como a sua predecessora, reserva uma parte onde
fala sobre tom.

7
A revisão da literatura permite determinar o nível actual dos conhecimentos relativamente ao
problema de investigação em estudo e ainda determinar os conceitos ou teoria que servirão de
quadro de referência e, por fim, realça as forças e as fraquezas dos estudos examinados [Fortin,
1999:40].
8
Aqui far-se-á um resumo histórico de estudos feitos sobre a negação organizados em áreas:
Fonológica, Morfológica e Sintáctica

47
Em 2001, o mesmo autor estudou ‘verbs of motion in Changana’. Neste estudo, Sitoe apresenta
uma grelha de tempos verbais que julgamos pertinente a sua inclusão neste estudo sobretudo os
tempos negativos.
Tabela 6: Tempos na negação em Changana
Negativa MT MC MT2 MT3 MT4 MT5 BV MT6
Presente a hí tírh í
Pre. Sequencial hí nga tírh í
Pres. Exclusivo a h ó tírh í
Pres. Contínuo a h á há tírh í
Pres. Condicional ngí hí nga tírh í
Fut Seq hí nga tá tírh á
Fut 1 a hí nga tá tírh á
Fut 2 a hí nga t í tírh á
Fut 3 a hí nga tírh á
Fut Excl a hí nga t ó tírh á
Fut Cont a hí nga há tá tírh á
Fut Cond ngí hí nga tá tírh á
Pass Imm á h á há tá kú tírh á
Pass Exc a hí yó tírh á
Pass Pro a hí nga tírh í
Pass Prox Exc á hí ng ó tírh á
Pass Pro Cont á hí nga há tírh í
Pass Perf á hí sí tírh á
Pass Concl Perf a hí nga sí tírh á
Pass Seq a hí nga tírh ángá
Pass hí tírh ángá
Pass Hab a h á tírh ángá
Pass Cont a h á há tírh ángá
Pass Concl a hí nga tírh ángá
Pass Cond ngí hí nga tírh ángá

48
Optativo hi nga tírh i
Optativo Excl hi nga vó tírh a
Potencial a hi ng é tírh í
Fonte: Sitoe (2001:238)
Na tabela 6 estão indicados os morfemas negativos de um verbo de tom baixo -tìrh- e como se
constata, a vogal do radical passou a ser alta. Fazemos um estudo profundo sobre a negação no
VI capítulo.

4.2.2 Langa (2001)

Langa (2001) desenvolve um estudo sobre a reduplicação verbal em Changana empregando duas
abordagens nomeadamente morfológica e semântica. Na abordagem morfológica analisou a
formação de palavras e sua estrutura interna e na abordagem semântica interessou-se pelas
implicações ao nível dos significados da fala de ocorrência desses processos de formação de
palavras. Langa norteou o seu estudo à volta da hipótese segundo a qual a reduplicação verbal
em Changana independentemente do tipo da base em que actua serve ou para expressar o aspecto
iteractivo das acções descritas pelos verbos ou para expressar micro-repetições internas.
Langa, trabalhando com um corpus de 400 verbos9 em Changana, permitiu chegar às seguintes

conclusões:

Em Changana reduplica-se a raiz verbal ou trabalhando-se com verbos no infinitivo, a

base verbal.

As raízes verbais parcialmente reduplicados, admitem a reduplicação total, desde que a

parte reduplicada não seja novamente reduplicada, devendo depois, seguir as mesmas restrições

morfológicas que aqueles (os totalmente reduplicados).

9
Dados obtidos pela combinação de quatro métodos: filológico, introspecção, observação
participante e de entrevista. [Langa, 2001:18]

49
As raízes verbais de estrutura de tipo - C-, não aceitam a reduplicação morfológica, e

que para exprimir a ideia de repetição ou frequência usam o mecanismo de adição do sufixo -

etel -. (Langa, 2001:42)

4.2.3 Ribeiro (2010)

Sob chancela da editora Paulinas, Ribeiro (2010) publica um dicionário gramatical Changana
que cobre aspectos ligados a: (i) valores da linguagem e antroponímia, (ii) dicionário gramatical
changana e (iii) aspectos culturais do povo changana e problemática missionária. Em relação à
ortografia Ribeiro (2010:18) afirma que:
Sendo Changana uma língua basicamente grave e de vogais abertas,
torna-se desnecessária qualquer acentuação gráfica. As variantes
entre o e e o o abertos e semi-abertos são sujeitas a regras tão claras
que dispensam qualquer sinalização gráfica. (...) o acento tónico em
Changana cai invariavelmente na penúltima sílaba, fazendo com que
a gravidade seja a característica mais notável das palavras
changanas.
Estas afirmações categóricas têm o seu valor dada a sua disponibilização documental da língua.
Portanto, a ausência dos sinais que marcam o tom forçam as interpretações das frases como se
pode conferir em 29.
(29) amuxavele banci ‘comprou-lhe um casaco’
anitsalelile apapila ‘escreveu-me uma carta’
atisela bava ambuti ‘trouxe uma cabra ao pai’
[Ribeiro, 2010:35]
Na ausência do glossário as frases em (29) também podem ser lidas com significados seguintes
em (30).

50
(30) amuxavele banci ‘tinha lhe comprado um casaco’
anitsalelile apapila ‘tinha me escrito uma carta’
atisela bava ambuti ‘trazia um cabrito ao pai/ traz um cabrito ao pai.

Outro dado importante a ter em conta sobre a predizibilidade do alongamento vocálico numa
certa posição é quando não se está a falar em itens gramaticais. Os exemplos em (30), grosso
modo, podem ser reescritos da seguinte forma (31).
(31) aamuxavele banci ‘tinha lhe comprado um casaco’
aanitsalelile apapila ‘tinha me escrito uma carta’
aatisela bava ambuti ‘trazia um cabrito ao pai/ traz um cabrito ao pai.

Portanto, a questão do alongamento da vogal nesta língua também é um assunto que merece um
reexame cuidadoso. Valendo-se da nossa proposta na tabela (5), as frases (29) deviam estar
escritas da seguinte forma:

(32) ámùxávélé bǎncì ‘comprara-lhe um casaco’


ánìtsálélílé pápílà ‘escrevera-me uma carta’
átìsélà ‘mbútì bàvá ‘trouxera a cabra ao pai’

Importa referir que na proposta de Sitoe (2011) os verbos já aparecem indicados com a
informação tonal como se pode observar no corpus em (33).

(33) -bákányá v.t. 1. afastar (empurrar para o lado p.e. uma mão que nos põem em cima, ou
uma cortina). 2. parar (um golpe) desviar (um golpe) 3. rejeitar (fig.) [cf. -bákányísa].
-bákútá 1. v.t. tirar (com vertedouro, colher grande, etc.(líquidos) vazar (com vertedouro,
colher grande, etc.(líquidos) despejar (com vertedouro, colher grande, etc.(líquidos) 2. v.i. remar.
-bákútéla v.i.freq. remar. [cf. -bákútá].
-bala v.t. 1. escrever. 2. marcar (presenças para pagamento da jornada de trabalho) (Z) -
bhala.
-b'ala v.t. 1. dizer. Alava kub'ala yiní hí lesvo? Que quer dizer com isso? 2. contar.
Váb'álá tihomu rhangéni. Estão a contar o gado no curral. (Z) -bala.
-báléká II v.t.&i. fugir (de) escapar (de) desertar. sin. -tímélá.
-bálésá v.t. 1. ferir (com alguma coisa como pau ou pedra, abrindo feridas) ferir (com
arma de fogo). 2. disparar (arma de fogo) atirar (com arma de fogo).

51
-báléséla v.t. 1. ferir com arma de fogo. 2. disparar (arma de fogo) atirar com (arma de
fogo)
-balha v.i. suar transpirar.
[Sitoe, 2013:2]
Em (33) as vogais marcadas com o acento agudo (´) mostram o tom alto e as vogais sem
diacríticos são de tom baixo.
Recuperando os dados fornecidos em (30), devem doravante estar marcados tonalmente da
seguinte forma:
(34) âmùxàvélé bǎncì ‘tinha lhe comprado um casaco’
ânìtsálélílé pápílà ‘tinha me escrito uma carta’
âtísélá b’àvá mbútí ‘trazia um cabrito ao pai’

4.2.4 Balate (2011)


Balate (2011) examina a função do tom na marcação do tempo futuro em Xibila uma das

variantes do Changana falada no distrito de Chibuto tendo-se servido de aporte teórico

linguístico da Fonologia Lexical, um modelo que envolve princípios morfológicos e fonológicos,

que defende que a morfologia e a fonologia se aplicam em tandem. Os dados examinados

permitiram-lhe mostrar que a intervenção tonal é bastante crucial na marcação do tempo futuro

nesta língua.

4.2.5 Langa (2012)

Langa (2012) faz um estudo descritivo aprofundado sobre a morfofonologia do verbo em


Changana priorizando seu focus na identificação e análise dos constituintes verbais.
Dentre os diversos pontos explorados, a tese de Langa cobre aspectos ligados à Fonologia,
Morfologia, Sintaxe e aos Ideofones.
Segundo Langa (2012:9) a sua dissertação seguiu, do ponto de vista ortográfico, o padrão
estabelecido pelo (NELIMO, 1989; Sitoe e Ngunga, 2000 e Ngunga e Faquir, 2011). Desta feita,
podem-se destacar dois níveis tonais, um alto e um baixo representados graficamente com
diacríticos.
O principal problema de investigação que motivou o estudo era de a partir da estrutura do verbo
nas LBs analisar como é que os constituintes derivacionais e flexionais do Changana se

52
distribuíam. Langa conclui que os morfemas, sobretudo TAM podem ser expressos quer por
segmentos quer através dos suprassegmentos.

4.2.5 Ngunga e Faquir (2011)

Ngunga e Faquir (2011), em prosseguimento à padronização da ortografia de línguas


moçambicanas, fazem uma breve descrição do Changana usando o mesmo critério para as outras
16 línguas. Os autores sistematizam informação relativa à localização e número de falantes,
variantes, sistema ortográfico, alfabeto, tom, segmentação de palavras, sinais de pontuação.
Quanto ao tom, os autores afirmam que:

O tom pode ser alto (A) e é contrastivo, tanto a nível lexical como
gramatical.
Em textos comuns, o tom será marcado apenas nos pares mínimos em
que, pelo contexto, não seja possível estabelecer a distinção de
significados. Nestes casos, o tom alto será marcado com acento agudo
sobre a vogal da sílaba portadora do tom baixo. Contudo, por razões
de economia,10 sugere-se apenas a marcação do tom baixo (por ser
geralmente mais raro que o alto), pelo que as sílabas de tom alto não
são marcadas [Ngunga e Faquir (2012: 231)]

Ngunga e Faquir (2012), apesar de reconhecerem a importância do tom na representação gráfica,


esquivam-se, de forma subtil, deste fenómeno alegando razões de economia e com
consequências na interpretação dos dados.

(35) a. mamani wa wena asasekile ‘a tua mãe é bonita’ Ngunga & Faquir (2012:233)
b. b’anga ‘bar’ op. cit. pág.236

10
Sublinhado nosso.

53
A inserção dos tons nos dados em (35a,35b) resultam em outros significados como se observa
em caso (36a) e (36b).
(36) a. mámánì wá wèná âsásékílé ‘a tua mãe era bonita’
b. -b’àngà ‘tomar à força’

4.2.6 Ngunga e Simbine (2012)

Ngunga e Simbine (2012) publicam um volume extenso de 310 páginas intitulado ‘Gramática
Descritiva da Língua Changana’. Esta gramática difere substancialmente da gramática de Ribeiro
pela sua estruturação e abordagem dos tópicos elencados: (i) Elementos de fonética, (ii)
elementos de fonologia, (iii) elementos de morfologia nominal, (iv) morfologia verbal, (v)
elementos de sintaxe, (vi) semântica e (vii) diversos fenómenos gramaticais e outros. Os autores,
antes de entrar nos aspectos específicos da gramática, fazem uma apresentação da língua
informando sobre a localização geográfica, número de falantes, variantes, estudos prévios11,
corpus e enquadramento teórico.
Relativamente aos elementos de fonética, os autores apresentam o quadro geral das vogais e
consoantes. No que diz respeito aos elementos da fonologia, para além de descreverem as regras
que envolvem as vogais (resolução de hiatos, harmonia vocálica), regras básicas aplicadas a
consoantes (pré-nasalização, labialização/velarização, aspirantização, aspiração); elementos
suprassegmentais, os autores enfatizam que no processo de transformação dos sons da fala em
sinais gráficos, a fonologia desempenha um papel primordial (Ngunga e Simbine, 2012:43).
Em relação à representação/marcação do tom, os autores apresentam duas abordagens: uma que
recorre a letras A e B (pág.71) e outra que recorre a diacríticos (pág.72). Quanto à abordagem a
seguir, Ngunga e Simbine (2012:73) afirmam que:
O uso do diacrítico reduz para a metade o espaço ocupado quando se
usa as letras A e B na marcação dos tons. Para evitar que o texto
esteja denso em termos de símbolos gráficos, o que pode dificultar o

11
Em parte servi-me da indicação dos estudos prévios referidos nesta gramática para procurar as
fontes primárias e sumarizá-las.

54
processo de leitura, também se toma uma decisão adicional sobre que
tom marcar na escrita entre os dois (caso apenas dois tons sejam
contrastivos, isto, é aqueles que contribuem na identificação de
palavras de significados diferentes) a escolha do tom a incluir na
escrita não é fácil de se fazer12, pois não pode ser aleatória.

A partir da discussão das duas propostas de abordagens na representação do tom na escrita pode-
se assumir que, efectivamente, ocorrem dois níveis tonais nesta língua. O capítulo que se segue é
sobre Fonologia Segmental.

12
Sublinhado nosso

55
Capítulo V: Fonologia Segmental, Tonologia Nominal e Tonologia
Verbal

No work has yet been carried out on the prosodic expression of focus in Xitsonga

[Zerbian, 2007:74]

Este capítulo examina Fonologia segmental, tonologia nominal e verbal em Changana para

permitir compreender os níveis tonais existentes do ponto de vista lexical (profundo) e

gramatical (superfície). O exame começa por apresentar a Fonologia segmental para dar conta

dos sons existentes na língua. Serão apresentadas algumas singelas propostas dos sons que não

foram mencionados nos instrumentos consultados, nomeadamente gramáticas e relatórios de

padronização das línguas moçambicanas. O destaque, no entanto, não será em segmentos como

tal uma vez que já existe uma extensa literatura a esse respeito (Nelimo, 1989; Sitoe, 1996, 2001;

2013; Langa, 2001, 2008, 2012; Ribeiro, 2010; Ngunga & Faquir 2011; Ngunga & Simbine,

2012), mas sim em suprassegmentos. A seguir à Fonologia segmental, apresenta-se a tonologia

nominal em que os itens lexicais estão sistematizados numa tabela de acordo com as classes

nominais. À semelhança dos dados apresentados na fonologia segmental, a análise incide sobre o

comportamento do padrão tonal. São apresentadas algumas regras básicas do padrão tonal

encontradas nos nomes. Apesar de os verbos poderem ser tratados como nomes no âmbito das

classes nominais, reserva-se uma secção específica sobre a tonologia verbal devido à sua

complexidade estrutural (cf. Hyman & Byarushengo, 1984:58). Aliás, o exame da negação que

constitui pano de fundo deste estudo só pode ser feito à luz da tonologia verbal. Paralelamente, à

56
análise do comportamento tonal em verbos não derivados, uma atenção será dada às extensões

verbais e, como proposta inovadora sobre este ponto, são utilizados os pressupostos da teoria de

incorporação defendida por Baker (1986).

5.1 Fonologia Segmental

5.1.2 Vogais
Existe um consenso entre os bantuistas de que a maior parte das línguas bantu apresentam um

sistema de 10 ou 5 vogais resultantes da redução ou simplificação das vogais do proto-bantu, e

um número variado de consoantes (Meeussen 1967). De acordo com Hyman (2003:45) enquanto

o PB tinha um sistema vocálico de 10, a maioria das línguas bantu faladas em áreas largas e

contíguas evoluiu para um sistema de 5 vogais. Changana apresenta segmentalmente um sistema

de 5 vogais esquematizadas na tabela que se segue.

Tabela 6. Vogais do Changana

Anteriores centrais Recuadas


Altas i U
Médias e O
Baixa a
Fonte: Elaborada pelo autor

As 5 vogais presentes nesta tabela (5) podem ocorrer em todas as posições de palavra e sendo

portadoras de informação tonal.

57
As 5 vogais do Changana

(37) /a/ -bàlà ‘escrever’

-dádá ‘aprender a dar os primeiros passos’

/e/ -bélá ‘pregar; cravar usando martelo’

-dèdà ‘chegar para trás’

/i/ bìlà ‘apelido Changana’

-dìdà ‘agitar; mexer; misturar’

/o/ -bòlà ‘apodrecer; estar apodrecido’

dòdà ‘conselheiro; ancião; homem venerável’

/u/ -búlá ‘conversar’

-dùdà ‘fazer muito dinheiro; ter muito dinheiro num dado momento’

Langa (2012:58)

Os dados presentes em (37) confirmam a ocorrência das 5 vogais em Changana portadoras de

tons alto e baixo. As vogais, como foi sistematizado na tabela 5 do capítulo II, podem ser

portadoras de tons ascendente, descendente, médio nos diversos contextos fonológicos. Como

58
afirma Langa (2012: 59) a duração vocálica não é relevante nesta língua, pois não contrasta

significados.

Para dar conta do fenómeno do alongamento vocálico nesta língua, Langa (2012) recupera os

dados presentes em (37) e mostra a posição silábica em que ocorre a vogal longa.

(38a) /a/ -bààlà ‘escrever’

-dààdà ‘aprender a dar os primeiros passos’

/e/ -béélá ‘pregar; cravar usando martelo’

-dèèdà ‘chegar para trás’

/i/ bììlà ‘apelido Changana’

-dììdà ‘agitar; mexer; misturar’

/o/ - bòòlà ‘apodrecer; estar apodrecido’

Dòòdà ‘conselheiro; ancião; homem venerável’

/u/ -búúlá ‘conversar’

-dùùdà ‘fazer muito dinheiro; ter muito dinheiro num dado momento’

Langa (2012:58)

(38b) kùyètlè:là ‘dormir’

59
kùyètlèlì:sà ‘fazer dormir’

kùyètlèlà:nà ‘dormirem-se’

kùyètlèlì:wà ‘ser dormido’

kùyètlèlè:là ‘dormir para’

kùyètlèlìsà:nà ‘fazer dormir um ao outro’

kùyètlèlìsìwà ‘ser feito dormir’

kùyètlèlètè:là ‘dormir várias vezes’

kùyètlèlè:kà ‘ser dormível’

(38c) kúlúúmà ‘to bite’ ‘morder’

kúlúmúúlà ‘to cut’ ‘cortar’

kúlúmúláángà ‘to cut into small pieces’ ‘cortar em pequenos pedaços’

kúlúmúlángííla ‘ to cut into small pieces for someone’ ‘cortar em pequenos

pedaços para para alguém’

[Manus, 2014:162]

Os dados em (38a) revelam que o alongamento vocálico, nesta língua, é predizível ocorrendo na

penúltima sílaba do radical como acontece em muitas línguas bantu13 documentadas. Quanto à

informação tonal, os dados (37) e (38) estão marcados por diacríticos indicando que são

portadoras de tom. Os dados fornecidos em (38b) da língua Shimakonde reforçam a ideia da

predizibilidade da vogal longa tal como foi visto por Hyman (2013:195) nos dados de Shona. Os

dados em (38c) são da língua Shimákonde que mostram o mesmo fenómeno do alongamento

vocálico predizível nas línguas bantu.

13
Diversas línguas tem proeminência automática na penúltima sílaba, realizando a vogal como longa ou local de
perturbação o qual pode ser referido como acento. [Kisseberth and Odden, (2003:59)]

60
Em Changana, o alongamento vocálico não é contrastivo como em Yao, Emákhuwa e outras

línguas moçambicanas de famíla bantu.

Os dados em (39a-b) mostram que o contraste breve/longo marca distinção dos significados em

Yao e Lulamogi. Comecemos por itens lexicais com vogais breves na penúltima sílaba do

radical.

(39a) kupata ‘obter’

kupeta ‘ornamentar, adquirir’

kucima ‘odiar’

kusoma ‘picar’

kuputa ‘apagar’

[Ngunga e Faquir, 2011:51]

(39b) ó-ku-sib-á ‘to tie’ (amarrar)

ó-ku-sem-á ‘to draw (water)’ (atrair)

ó-ku-hol-á ‘to lend (money)’ (emprestar)

ó-ku-many-many-á ‘to know’ (saber)

[Hyman, 2015:167]

Assim, quando as mesmas sequências descritas em (39a-b) apresentam a vogal longa tem

consequências do ponto de vista de significado como se pode conferir nos dados em (40a-b).

(40a) kupaata ‘sacudir, limpar’

61
kupeeta ‘peneirar’

kuciima ‘ofegar

kusooma ‘estudar, ler’

kupuuta ‘bater’

[Ngunga e Faquir, 2011:51]

(40b) ó-ku-siib-á ‘to be fast’ ( ser rápido)

ó-ku-seen-á ‘to become thin’ (tornar-se magro)

ó-ku-hool-á ‘to diferentiate between’ (diferenciar entre)

ó-ku-tuum-á ‘to jump’ (saltar)

ó-ku-maany-á ‘to pluck’ (arrancar)

[Hyman, 2015:167]

Similarmente aos dados em Yao e Lulamogi, na língua Emakhuwa o alongamento vocálico é

contrastivo. A seguir são apresentados os exemplos desta língua.

(41) omala ‘acabar’

omela ‘germinar

omila ‘assoar’

olola ‘trabalhar em troca de bens’

orula ‘despir’

[Ngunga e Faquir, (2011:73)]

A duração vocálica, nestas línguas, é contrastiva, isto é, há palavras que só são diferentes porque

uma tem uma vogal longa numa certa posição e outra tem uma vogal breve na mesma posição

62
em que a primeira tem vogal longa. Os dados em (41) mostram o contraste com os dados em (42)

resultantes da vogal breve versus longa.

(42) omaala ‘calar-se’

omeela ‘repartir’

omiila ‘entornar’

oloola ‘curar’

oruula ‘fazer emergir’

[Ngunga e Faquir, (2011:73)]

Os dados fornecidos em (37) e em (38) não são contrastivos uma vez que em Changana não

recorre ao alongamento vocálico para contrastar significados diferentemente dos dados (39-42)

das línguas Yao e Emákhwa cujas contrastividades breves/longa têm implicações semânticas.

Com efeito, é preciso acrescentar que em Changana, do ponto de vista da fonologia

suprassegmental, todas as vogais podem ocorrer com os níveis tonais alto, ascendente, médio,

baixo e descendente como indicam as tabelas 7-11.

Tabela7: vogal <a> com os níveis tonais


Tipo de tom Forma de repres. Exemplo Gloss.
Alto [á] Ángádlì que coma
Ascendente [ǎ] Ăngàdlí não comerá
Médio [a] Ángatádlá não comeria
Baixo [à] Àngádlí não come
Descendente [â] Ângàdlí não comia
Fonte: Elaborada pelo autor

63
Tabela 8: vogal <e> com os níveis tonais
Tipo de tom Forma de repres. Exemplo Gloss.
Alto [é] pétsà ‘dobre’
Ascendente [ě] hěmbè ‘camisa’
Médio [e] mùsveki ‘cozinheiro’
Baixo [è] mùpèndì ‘pintor’
Descendente [ê] sê ‘já/depois’
Fonte: Elaborada pelo autor
Tabela 9: vogal <i> com os níveis tonais

Tipo de tom Forma de repres. Exemplo Gloss.


Alto [í] àngàdlí ‘que não coma’
Ascendente [ǐ] vhǐkì ‘semana’
Médio [i] ángàdli ‘...não ‘não comer’
comer’
Baixo [ì] bǎncì ‘camisa’
Descendente [î] - nyîmpí ‘é guerra’
Fonte: Elaborada pelo autor
Tabela 10: vogal <o> com os níveis tonais

Tipo de tom Forma de repres. Exemplo Gloss.


Alto [ó] bókòdwá ‘tipo de passarinho’
Ascendente [ŏ] vhŏndhwè ‘rato dos canaviais’
Médio [o] xìkhóhlolá ‘escarro’
Baixo [ò] Tòlwénì ‘anteontem’
Descendente [ô] mhólôvà‘ ‘contenda’
Fonte: Elaborada pelo autor

64
Tabela11: vogal <u> com os níveis tonais
Tipo de tom Forma de repres. Exemplo Gloss.
Alto [ú] phúzà ‘beba’
Ascendente [ŭ] vhŭsà ‘alerte’
Médio [u] í nkulù ‘é grande’
Baixo [ù] xìsànù ‘chissano’
Descendente [û] xìvávûlá ‘canícula’
Fonte: Elaborada pelo autor
As tabelas 7-11 sistematizam a ocorrência dos níveis tonais em todas as vogais. Depreende-se
das tabelas que os tons médio, ascendente e descendente são resultantes de assimilação tonal,
depressão tonal, propagação ou fusão de tons. Assim, para efeitos práticos sou a favor da
indicação dos dois tons na escrita alargada o Alto e Baixo e uma especificação tonal para
documentos técnicos cujo objectivo principal seja a indicação dos níveis tonais. A seguir
descrevem-se as consoantes do Changana.

5.1.3 Consoantes
Tabela 12. Consoantes de Changana

Descrição e exemplos
Grafema
SF

b b be Oclusiva bilabial com ar pulmonar expirado. kùbá ‘bater’ mùbàlú ‘cobertor’.

ɓ b’ b’e Oclusiva bilabial vozeada com ar fanringal inspirado. b’àvá ‘pai’

kùb’óphá‘amarrar’

tʃ c ce Oclusiva palatal não vozeada com ar pulmonar exipirado. kùcákúnhá

‘mastigar’; kùcíngá ‘txingar’

d d de Oclusiva alveolar vozeada com ar pulmonar expirado. kùdédá ‘gatinhar’

65
kùdídíyélà ‘ferimentar’

ɗ d’ d’e Oclusiva alveolar vozeada com ar faringal inspirado. d’àzànànà ‘tapado, não

esperto’ d’okómelá ‘fruto silvestre comestível’

f f F Fricativa labiodental não vozeada com ar pulmonar expirado. fútsú ‘cágado’

kùfényá ‘pentear-se’

g g ge Oclusiva velar vozeada com ar pulmonar expirado. gèjò ‘charrua’ gògógò

‘lata’

h h he Fricativa glotal não vozeada com ar pulmonar expirado. háhàní. 'tia’, kùhòlà

‘receber’

dʒ j je Lateral alveolar vozeada com ar pulmonar expirado. kùjóndzá ‘estudar’

14 kùjìmà ‘virar’

k k ke Velar não vozeada. kùkámá ‘espremer’ kámbá ‘ladrão’

l l le Lateral alveolar com ar pulmonar expirado. kùlává ‘querer’ kùlòvhà ‘faltar’

m m me Nasal bilabial com ar pulmonar expirado. màhùngù‘notícias’ nòmò ‘boca’

m n ne Nasal alveolar com ar pulmonar expirado. moná ‘crueldade/malevolência,

màsàná ‘raios solares’ nenge ‘perna’

ŋ n’ n’e Nasal velar com pulmonar expirado. n’anga ‘curandeiro’, kun’oka ‘derreter’

man’ini ‘boato’

p p pe Oclusiva bilabial não vozeada com ar pulmonar expirado. Papila ‘carta’

kupepa ‘refrescar’

! q qe Implosiva palatal não vozeada com ar bucal inspirado. mágàqàmpémpó

14
Penso que por lapso, os autores colocaram ɫ. Cf. Ngunga e Faquir 2011:28.

66
‘tocador de apito’ kùqòndhà ‘apontar’

r r re Vibrante múltipla alveolar com ar expirado. ‘osso’ rìgwè‘pedra’ xirilo

‘choro’ masvorí ‘estrabismo, kuringa ‘experimentar’

s s re Fricativa alveolar não vozeada com ar pulmonar expirado. kùsáséká ‘ser

bonito/a’ màsàná ‘raios solares’

t t te Oclusiva alveolar não vozeada com ar pulmonar expirado. tùvà ‘rola’ kùtívá

‘saber’

ʋ v ve Aproximante labiodental vozeada com ar pulmonar expirado. vító ‘nome’

kùváká ‘dores pré-natais’

w we Glide arredonada. wázínì ‘quinta-feira’ wènà ‘você/Tu’

ʃ x xe Fricativa palatal não vozeada com ar pulmonar expirado. xìkhwá ‘faca’

xìfùfùnhùnù ‘joaninha’

y y Glide menos arredondada. yìngwè ‘leopardo’ yìndlò ‘casa’

z z ze Fricativa alveolar vozeada com ar pulmonar expirado. kùzóndhá

‘detestar’xìzìvá‘remendo’

Fonte: Ngunga e Faquir (2011:28-29). Acrescentada a indicação do tom ao material orginal.

A tabela (12) indica as consoantes que existem em Changana. Os exemplos colocados

apresentam estrutura tonal semelhante quando se trata de prefixos de classe 7 (xì-) e 15 (ku-)

cujas vogais apresentam tom baixo. Para além das consoantes alistadas nesta tabela, Changana

dispõe de outros sons que não se podem representar por grafemas simples (Ngunga e Faquir

2011:29). A seguir são apresentados os referidos dígrafos na tabela (13).

67
Tabela 13. Dígrafos do Changana

Descrição e exemplos
Desg.
Letra
SF.

bv bv bve Africada lábiodental vozeada com ar pulmonar expirado. kùbvún’wálá

‘entrar na água em salto’ kùbvùnyà‘tirar coisas de qualquer maneira’

bʐ bz bze Africada lábio-alveolar vozeada com ar pulmonar expirado. bzàlá

‘bebida’ bzányí ‘capim’

dʎ dl dle Fricativa pós-alveolar vozeada com ar pulmonar expirado. kùdlòmà

‘correr’ kùdlá ‘comer’

dz dz dze Africada alveolar vozeada com ar pulmonar expirado. kùdzéthá ‘não

conseguir’ ndzóvó, ‘anzol’ dzólòngá ‘confusão’

g! gq gqe Implosiva velar vozeada com ar bucal inspirado (clique) mùgqòmú ‘lata’

mùgqìvélà‘sábado’

ɬ hl hl Fricativa lateral não vozeada. kùhlànyà ‘ser tolo’ kùhlùphà ‘fazer sofrer’

ʎ lh lhe Fricativa lateral vozeada. Nkùlhándè (apelido). bòlhèlà ‘garrafa’ kùlhúmá

‘ter certo hábito’

mh mh mh Nasal bilabial aspirada. mhàká ‘problema’ mhàkwà ‘buraco’

nh nh nh Nasal alveolar aspirada. nhóngá ‘pau’ nhùlù ‘montão’

ɳ ny nye Nasal palatal. nyama nyàmà ‘carne’ kùfényá ‘pentear’

pf pf pf Africada labio-dental não vozeada. kùpfùmèlà ‘aceitar’ kùpfátlányá

‘partir’ màpfàlù ‘angústia’

68
pfh pfh pfh Africada labio-dental não vozeada aspirada. kùpfhányá ‘arrombar’

kùpfhùmbà ‘adivinhar’

pʂ ps pse Africada labio-alveolar não vozeada. kùpsómpsá‘chupar’ kùpsálá ‘dar à

luz/ parir’ kùpsànyà ‘pisar’

pʂh psh psh Africada labio-alveolar aspirada. Kùpshùkà ‘ser vermelho’ kùpshítélá

e ‘cuspir’

ʂ s ʂ kùsvéká ‘cozinhar’ kùsvàmà ‘chuviscar’

th h th Oclusiva alveolar aspirada. ‘ kùthómá ‘acertar ’ Mùthéwúyé ‘apelido’

tl tl tle Africada lateral alveolar não vozeada. kùtlútá ‘remar’ kùtlúlá ‘saltar’

tlh tlh Africada lateral alveolar não vozeada aspirada. kùtlhèlà ‘voltar’

tlhe kùtlhòmà ‘enfiar’

ts ts tse Africada alveolar não vozeada. kùtsémá ‘cortar’ kùtsàkà ‘alegrar-se’

v vh vh Fricativa labio-dental aspirada. móvhà ‘carro’ hóvhà ‘lesma’

ʒ x xj xjèn’wè ‘um’ kùxjìì ‘estar quente’

ʐ zv zve Fricativa lábio-alveolar vozeada. kùzvîmm ‘estar escuro’ màzvàyà

(apelido)

Fonte: Ngunga & Simbine 2012. Acrescentada indicação tonal

A tabela (13) mostra os grafemas combinados que representam uma única consoante. São

combinações de duas ou três consoantes. Similarmente aos dados da tabela (12), a estes dados

(13) está incorporada a informação tonal o que difere da fonte primária. Existe, nos dados

alistados na tabela (13), uma maior predominância de tom Baixo e Alto. A seguir apresenta-se a

tonologia nominal. Para o efeito elaborou-se uma tabela colocando os itens lexicais em classes

nominais.

69
5.2 Tonologia Nominal
Tabela 14: Classes nominais em Changana

Classe Prefixo Exemplo Gloss.

1 mu- mùpfhùmbà Visitante

2 va- vàpfhùmbà Visistantes

1ª Ø háhànì Tia

2ª va- váháhànì tias

3 mu- ntsùmbùlà mandioca

4 mi- mìntsùmbùlà mandiocas

5 ri-/ Ø vókó braço

6 ma- màvókó braços

7 xi- xìtúlú cadeira

8 svi- svìtúlú cadeiras

9 yi-(N) nghònyàmà leão

10 ti- tìnghònyàmà leões

11 li- lìqòdóvà sovela

10 t- tìqòdóvà sovelas

14 vu- vùxàkà parentesco

15 ku- kùfúndhá estudar

16 ha- hàlénò Cá

17 ku- kùsúhí perto

18 mu- ndzhákú atrás

21 ji- jìmóvhà carro grande

Fonte: Adaptada pelo autor seguindo o modelo de Hlungwani 2012

70
Os dados que aparecem na tabela (14) revelam que em Changana existe um padrão tonal similar

nos prefixos de classe, o que confirma o estudo de Clements (1984)15 que ao estudar os

princípios de atribuição/colocação de tom em Kikuyu concluiu que todos os prefixos de classe

nesta língua eram do tom baixo. Ainda, em relação às outras sílabas o padrão tonal também não

é o mesmo. Há certas palavras que apresentam tom alto na penúltima sílaba e outras cujo tom

alto e ou baixo ocorrem na última sílaba da palavra. Para não se cair em erros de generalização,

os dados que se seguem mostram como se comporta o tom numa determinada classe nominal. Os

dados estão organizados de acordo com a estrutura -C-, -CG-, -CVC- e –CVCVC16- tendo em

conta os pares das classes nominais. Nesta primeira secção, a concentração será feita apenas nas

classes onde é possível estabelecer singular e plural para comparar os níveis tonais dos dois itens

lexicais. Mais adiante, reserva-se uma secção específica para lidar com a tonologia verbal. Para o

efeito, a análise incidirá sobre verbetes do Dicionário Changana-Português de Sitoe (2011).

Classes 1/2 nomes com estrutura -C-

Classe 1 gloss classe 2 gloss

(43) mùnhù ‘pessoa’ vànhù ‘pessoas’

mùfí ‘falecido’ vàfí ‘falecidos’

mùdlí ‘aquele que come’ vàdlí ‘aqueles que comem’

15
É preciso assinalar que os prefixos nominais são de tom baixo. Clements (1984:284-285)
16
Depois de um exame minucioso concluímos que estaria a ser muito repetitivo ao descrever o comportamento
tonal de todas as classes, pois numa mesma classe nominal ocorrem padrões tonais diferentes. Desta feita, os
dados referentes à descrição das outras classes nominais estão em anexo.

71
mùbí 17 ‘aquele que bate vàbí ‘aqueles que batem’

Os dados revelam que, os nomes da classe 1 e 2 com radical -C- apresentam tom baixo no

prefixo de classe diferentemente das sílabas finais em que alguns nomes têm tom baixo e outros

tom alto. Em (44) mostram-se os dados da mesma classe com estrutura do radical -CG-.

Classes 1/2 nomes com estrutura -CG-18

Classe 1 Gloss. classe 2 Gloss.

(44) mùlwì ‘lutador’ vàlwì ‘lutadores’

mùtwí ‘ouvinte’ vàtwí ‘ouvintes’

mùxwí ‘amanhecedor’ vàxwí ‘amanhecedores’

Os dados presentes em (44) mostram a invariabilidade tonal entre nomes de classe 1 e de classe

2.

Classes 1/2 com estrutura -CVC-

Classe 1 Gloss. classe 2 Gloss.

(45) a. mùyìvì ‘ladrão’ vàyìvì ‘ladrões’

17
mûbí ‘bate-no’ / vâbí bate-nos
18
Na essência, os nomes presentes neste corpus podem ser parafraseados por ‘aquele que’. Dai o surgimento
da(s) palavra(s) amanhecedor(es).

72
mùlôyì ‘feiticeiro’ vàlôyì ‘feiticeiros’

mùlàndì ‘preto’ vàlàndì ‘pretos’

b. wánúná ‘homem’ vávánúná ‘homens’

wánsátì ‘mulher’ vávàsátì mulheres’

Similarmente aos dados fornecidos em (44), os dados em (45a) apresentam o mesmo

padrão tonal quer no singular quer no plural, ou seja, as sílabas são do tom baixo. Com efeito, em

(45b) os dados mostram o tom alto nos prefixos de classe. Registam-se diferenças entre as vogais

finais dos dois dados. Em wánúná/vávànúná não se aplica a regra de propagação não final

enquanto em wánsàtì/vávàsátì se aplica.

Classe 1/2 com estrutura –CVCVC-

Classe 1 Gloss. classe 2 Gloss.

(46) a. mùxôlôlì ‘explorador’ vàxôlolì ‘exploradores’

b. mùhùlùxì ‘salvador’ vàhùlùxì ‘salvadores’

c. mùkhóngèlí ‘religioso’ vàkhóngèlí ‘religiosos’

Os dados fornecidos em (46a-c) apesar de apresentar a mesma estrutura do radical, ou

seja, -CVCVC- têm padrões tonais diferenciados. Em (46a) o tom que se verifica no radical é

descendente, em (46b) é baixo e em (46c) é alto e baixo. A partir destes dados é possível afirmar

que em Changana os padrões tonais não são influenciados pela estrutura do radical, pois nomes

com radicais similares podem apresentar estruturas tonais diferentes, ou seja, raízes nominais

podem ser de tom alto ou baixo.

73
A secção que se segue faz um exame sobre a tonologia verbal do Changana. Reservou-se uma

parte específica devido a complexidade que esta categoria oferece (Hyman e Byarushengo, 1984;

Nurse, 2003).

5.3 Tonologia verbal


O exame consiste em análise de verbos extraídos do Dicionário Changana-Português de Sitoe

2013. A organização obedeceu a um critério tonal. Os verbos de tom baixo por um lado e do tom

alto por outro. Este fenómeno de verbos de tom baixo e tom alto já tinha sido estudado noutras

línguas como em Sotho (Zerbian, 2006); em Kijita (Cassimjee e Kisseberth, 1998) e em Ikalanga

(Hyman e Mathangwane, 1998).

(47) a) verbos de tom baixo

go lwa ‘lutar’

go hlaba ‘atirar’

go tlogela ‘partir’

go dumedisa ‘saudar’

b) verbos de tom alto

go fá ‘dar’

go ráta ‘amar’

go bóloya ‘matar’

go khúrúmetsa ‘cobrir’

Como se pode observar em (47)19, os verbos em Sesotho podem ser de tom alto (47a) ou de tom

baixo (47b) tal como ocorre em Kijita (Cassimjee e Kisseberth, 1998). Os dados presentes em

(48) mostram verbos do tom baixo e do tom alto em kijita.

19
As vogais sem diacríticos são de tom baixo.

74
(48) a) verbos do tom baixo

okubuma ‘bater’

okubumana ‘bater um ao outro’

b) verbos de tom alto

okubóna ‘ver’

okubonána ‘ver um ao outro’.

À semelhança do que ocorre nos verbos em Sotho, os verbos em Kijita fornecidos em (48)

apresentam diferenças tonais, uns são de tom baixo (48a) e outros são de tom alto (48b).

O mesmo fenómeno ocorre em Ikalanga (Hyman e Mathangwane, 1998) como ilustram os

dados em (49).

(49) a) Verbos de tom baixo

kuuwa ‘cair’

kuuna ‘chover’

kushaluula ‘escolher’

b) verbos de tom alto

kuuchá ‘temer’

kuupá ‘dar’

kutúúká ‘insultar’

Os dados em (49) mostram que há verbos em que todas as sílabas são de tom baixo (49a) e

outras que tem tom alto na última sílaba (49b).

O contraste entre radicais de tom baixo e de radicais de tom alto relaciona-se com o Proto-Bantu

(Odden, 1998). O Changana, pelos dados descritos abaixo, mostra que conservou a distinção

entre radicais de tom baixo e radicais de tom alto.

75
No corpus que se segue são sistematizados dados dos verbos em Changana recolhidos em

verbetes do Dicionário Changana-Português (Sitoe:2013). ‘O melhor contexto de iniciação de

elicitação é usualmente o infinitivo formado por prefixo nominal de classe 15 (kù) mais o tema

verbal. A razão para esta iniciação prende-se com o facto de consitituir um ambiente natural que

não é marcado pela flexão tonal’ Marlo (2013:9). O tracinho antes das bases verbais deve ser

interpretado como marca do infinitivo classe 15 (kù-) que tem tom baixo. Ao material

apresentado acrescenta-se a representação do tom baixo através do diacrítico (`) uma vez que na

fonte não está sinalizado o tom baixo, mas sim o alto.

(50) -dlìdlìmbètà ‘empurrar’

-dzòndzòmèlà ‘afundar-se’

-fùhùlà ‘dar meia cozedura’

-làndzà ‘seguir’

-lòlòsà ‘aproveitar’

Os verbos fornecidos em (50) são de tom baixo.

(51) -hélékétà ‘acompanhar’

-hétísékà ‘ser perfeito’

-gómbónyókà ‘estar torto’

-fámbélánà ‘corresponder, coadunar’

-dókádókísánà ‘debater’

Os verbos fornecidos em (51) apresentam tom alto excepto a última sílaba que tem tom baixo.

(52) -áká ‘construir’

-ákísá ‘ reconstruir’

-phófúlá ‘ vir à superfície’

76
-phókótá ‘bater palmas’

-phóndlá ‘arrombar’

-nkékélá ‘cacarejar’

-kúngélá ‘enrolar’

-hlóngólá ‘perseguir’

Os verbos fornecidos em (52) são de tom alto. Apresentados os dados e analisados todos os

verbos do Changana no material em alusão, verificam-se três tipos de verbos (i) com tom baixo

(50), (ii) com tom alto excepto a última sílaba (51) e com tom alto (52). Também foi possível

concluir que não existe uma correlação entre a estrutura verbal e os níveis de representação tonal.

Sumariamente, recorrendo à formalização de regras fonológicas, as três categorias de verbo

podem ser assim representados:

(53) dzòndzòmèl à ‘afundar-se’

B B B B

(54) -gómbónyók à ‘estar torto’

A A A B

(55) phófúl á ‘vir à superfície’

AAA

77
5.3.1 Estrutura do verbo

Diversos estudos que se ocupam das línguas bantu (Katamba, 1990; Odden, 1996; Hyman, 1997;

Ngunga, 2004) só para citar alguns exemplos, reconhecem que o verbo é a categoria gramatical

mais complexa em comparação com o nome. Para este facto, concorrem duas razões: (i) o verbo

é a única categoria flexional portadora de informação gramatical de tempo, aspecto, pessoa e

número e (ii) o verbo permite os processos de extensões verbais, de reduplicação e ainda de

infixação.

Não obstante observarem-se ligeiras diferenças estruturais das diversas propostas sobre a

estrutura verbal, Meeussen (1959) reconhece que o verbo apresenta semelhanças em muitas LB

como se pode observar no esquema da estrutura verbal.

Tabela 15. Estrutura verbal em LB segundo Meeussen (1959)

pré- Inicial pós- marca Infixo radical sufixo final pós-

inicial inicial objecto final

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Adaptada pelo autor

Segundo a estrutura verbal (tab.15) proposta por Meeussen (1959), simplificado por Nurse

(2008), Hyman (2007) observa-se que o lugar mais à esquerda do radical é reservado aos

prefixos pré-inicial (1), inicial (2), pós inicial (3) marca de objecto (4) infixo (5) enquanto mais à

direita localizam-se o sufixo (7), final (8) e pós final (9).

Nurse (2008), muito recentemente, quase resgata a proposta de Meeussen (1959) e adopta a

representação indicada na tabela 16.

78
Tabela 16. Estrutura do verbo em LB segundo Nurse (2008)

pré- Inicial pós- Formativo limitativo infixo radical sufixo Pré- Vogal

inicial inicial final final

1 2 3 4 5 6a 6b 6c 7 8

Adaptada pelo autor

As principais diferenças entre as propostas de Meeussen (1959) apresentada na tabela 15 e de

Nurse (2008) na tabela 16 residem, essencialmente, na nomenclatura e classificação que se

podem sistematizar da seguinte forma:

Na posição 4, que Meeussen designa por marca, Nurse codifica como formativo; a posição 5 é

ocupada por infixo no esquema de Meeussen enquanto Nurse chama de posição 6a; a posição 6

para Meeussen é apenas ocupada pelo radical enquanto Nurse subdivide-a em três partes: 6a

infixo, 6b radical, 6c sufixo (extensão). Para Meeussen a posição 7 é ocupada pelo sufixo

enquanto para Nurse é ocupada pela pré-final.

Similarmente, Hyman (2007) apresenta uma representação da estrutura verbal simplificada a

partir da proposta de Meeussen (1959). Hyman reduz as 9 posições para 6 como se pode

observar na tabela 17.

Tabela 17. Estrutura verbal em LB segundo Hyman (2007)

pré-tema Tema Base Radical extensões vogal final

1 2 3 4 5 6

Adaptada pelo autor

Hyman (2007) afirma que o estatuto do pré-tema é menos claro no Proto-Bantu, generalizando

para as línguas Bantu actuais. Para ele, a proposta elaborada por Meeussen (1959) não está

79
suficientemente clara se a posição 1 na tabela 15 é ocupada por um constituinte ou é formada por

uma palavra com um tema ou é um constituinte independente.

Liphola (2001) capitaliza os esquemas apresentados por (Odden, 1996 e Downing, 1997)

apresentando a estrutura verbal do Shimakonde estabelecendo relações hierárquicas dos

constituintes internos como mostra o esquema (A) do verbo na página que se segue.

(A) Estrutura verbal em Shimakonde segundo Liphola (2001)

Verbo

Prefixos flexionais Macro-Tema

Prefixos de objecto Tema

Radical Extensão Vogal Final

Va-ka-si tu guguval íl a

Liphola (2001) indica que o macro-tema inclui o tema e os prefixos de objecto. O tema, por sua

vez, inclui o radical (-guguval-) e sufixos derivacionais ou extensões (-il) e a vogal final (-a).

Enquanto as estruturas verbais indicadas nas tabelas em (15-17) mostram apenas a ordem linear

dos constituintes internos, a estrutura em (A) estabelece níveis hierárquicos à semelhança da

estrutura (B) proposta por Ngunga (2004).

80
(B) Estrutura verbal em LB segundo Ngunga (2004)

Verbo

Pré-Tema Macro-Tema

Tema F

Tema D

Prefs [[PI-MS-PS] MO Raiz Sufs [Exts VF]

Ngunga propõe três níveis de tema, a saber: macro-tema, tema F e tema D enquanto Liphola

distingue o macro-tema do tema.

Existem duas abordagens sobre a estrutura do verbo em LB. Uma apresentada por Meeussen,

Nurse e Hyman que se preocupa com as relações lineares de constituintes internos do verbo.

A segunda abordagem apresentada por Liphola (2001) e Ngunga (2004) mostra que existe uma

hierarquização de elementos que compõem a estrutura do verbo.

Analisadas as estruturas verbais em LB, pode-se concluir que, fundamentalmente, todos os

autores concordam que em LB, o verbo aglutina um conjunto de elementos que estabelecem um

conjunto de relações morfo-sintácticas e que desempenham funções gramaticais importantes tais

como marca de sujeito, negação, marca de objecto entre outros.

As diferenças reflectidas na forma de representação da estrutura verbal não indicam diferenças

internas da estrutura como tal, mas na forma como cada modelo teórico específico tenta captar as

relações morfo-sintácticas que os morfemas exibem.

81
(C). Estrutura verbal em Changana

Verbo

Prefixos flexionais Macro-Tema

Prefixos de objecto Tema

Radical Extensão Vogal Final

ní-ngà-tá mú vón él á

Como se pode observar na estrutura verbal em Changana (C), esta apresenta os prefixos

flexionais constituídos por morfemas marcadores de sujeito ní-; morfema marcador de negação -

ngá-; morfema marcador de tempo futuro -tá-. No macro-tema observa-se o prefixo de objecto -

mu- e tema com radical -vón-, extensão -el- e, por fim, a vogal final -á.

Em todas as propostas apresentadas as extensões verbais posicionam-se adjacentemente ao

radical enquanto a marca de objecto na posição anterior como está assinalado em (C). Feita esta

sistematização sobre a estrutura verbal, segue-se o exame tonal dos verbos com extensões20. Tal

20
Sobre extensões verbais em Changana v. Sitoe, 2009 e Langa 2001, 2012 e 2013.

82
como foi visto nos dados (50-55), os verbos em Changana agrupam-se tonalmente em três

categorias. O exame dos dados extraídos em Langa (2012) que a seguir se apresenta pretende

verificar em que medida os padrões tonais de um verbo pode ser ou não afectados pela extensão

verbal.

Apesar de existirem muitas extensões verbais em Changana, por questões metodológicas,

restringir-se-á aos estudados por Baker (1988) recorrendo ao modelo CARP (causativa-

aplicativa-recíproca-passiva).

O exame inicia com verbos de tom baixo e com extensão causativa

(56) a. -dlìdlìmbètà ‘empurrar’

-dzòndzòmèlà ‘afundar-se’

-fùhùlà ‘dar meia cozedura’

-làndzà ‘seguir’

-lòlòsà ‘aproveitar’

b. -dzòndzòmèlìsà ‘fazer afundar-se’

-fùhùlìsà ‘ fazer meia cozedura’

-làndzìsà ‘ fazer seguir’

-lòlòsìsà ‘ fazer aproveitar’

c. -dlìdlìmbètèlà ‘empurrar para’

83
-dzòndzòmèlèlà ‘afundar-se para’

-fùhùlèlà ‘dar meia cozedura para’

-làndzèlà ‘seguir para’

-lòlòsèlà ‘aproveitar para’

d. -dlìdlìmbètànà ‘empurrar um ao outro’

-dzòndzòmèlànà ‘afundar-se um ao outro’

-làndzànà ‘seguir um ao outro’

-lòlòsànà ‘aproveitar um ao outro’

e. -dlìdlìmbètìwà ‘ser empurrado’

-dzòndzòmètìwà ‘ser afundado’

-fùhùlìwà ‘ser dado meia cozedura’

-làndzìwà ‘ser seguido’

-lòlòsìwà ‘ser aproveitado’

Os dados em (56a) fazem referência aos verbos de base e são de tom baixo tal como já tinha sido

descrito em (50). O mesmo acontece com os verbos fornecidos em (56b-e) apesar de possuírem

extensões. A partir destes dados é possível concluir que os verbos de tom baixo no infinitivo

permanecem com o mesmo padrão tonal quando lhes são acrescidas as extensões verbais. O

exame que se segue dá conta de verbos da segunda categoria tonal, ou seja, os que têm tom alto

excepto na última sílaba.

(57). a kátsínyétà ‘apertar’

kálákásà ‘irritar’

khávángélà ‘cortar em pedaços’

84
kókómólà ‘lamentar’

ndzúlúkélà ‘girar’

níngíníkà ‘abanar’

nyángálátà ‘fazer cócegas’

b. kátsínyétísà ‘fazer apertar’

kálákásísà ‘fazer irritar’

khávángélísà ‘fazer cortar em pedaços’

kókómólísà ‘fazer lamentar’

ndzúlúkélísà ‘fazer girar’

níngíníkísà ‘fazer abanar’

nyángálátísà ‘fazer cócegas’

c. kátsínyétélà ‘apertar para’

kálákásélà ‘irritar para’

khávángélélà ‘cortar em pedaços para’

kókómólélà ‘lamentar para’

ndzúlúkélélà ‘girar para’

níngíníkélà ‘abanar para’

nyángálátélà ‘fazer cócegas para’

d. kátsínyétánà ‘apertar um ao outro’

kálákásánà ‘irritar um ao outro’

khávángélánà ‘cortar em pedaços um ao outro’

85
kókómólánà ‘lamentar um ao outro’

ndzúlúkélánà ‘girar um ao outro’

níngíníkánà ‘abanar um ao outro’

nyángálátánà ‘fazer cócegas um ao outro’

e. kátsínyétíwà ‘ser apertado’

kálákásíwà ‘ser irritado’

khávángélíwà ‘ ser cortado em pedaços’

kókómólíwà ‘ser lamentado’

ndzúlúkélíwà ‘ser girado’

níngíníkíwà ‘ser abanado’

nyángálátíwà ‘ser feito cócegas’

Os dados em (57a) fazem alusão aos verbos de base e são de tom alto excepto a última sílaba que

é do tom baixo. Os dados fornecidos em (57b-e) dizem respeito aos verbos da mesma categoria,

mas com extensões verbais. Nota-se que as extensões verbais não alteram a estrutura tonal do

verbo de base. Finaliza-se este capítulo com dados relativos aos verbos de tom alto com as

extensões verbais.

(58) a. -áká ‘construir’

-phófúlá ‘vir à superfície’

-phókótá ‘bater palmas’

-phóndlá ‘arrombar’

-nkékélá ‘cacarejar’

-kúngélá ‘enrolar’

-hlóngólá ‘perseguir’

86
b. -ákísá ‘fazer construir’

-phófúlísà ‘fazer vir à superfície’

-phókótísà ‘fazer bater palmas’

-phóndlísá ‘fazer arrombar’

-nkékélísà ‘fazer cacarejar’

-kúngélísà ‘fazer enrolar’

- hlóngólísà ‘fazer perseguir’

c. -ákélá ‘construir para’

-ákísélà ‘reconstruir para ’

-phófúlélà ‘vir à superfície para ’

-phókótélà ‘bater palmas para ’

-phóndlélá ‘arrombar para ’

-nkékélélà ‘cacarejar para’

-kúngélélà ‘enrolar para’

-hlóngólélà ‘perseguir para’

d. -ákísánà ‘reconstruir um ao outro’

-phófúlánà ‘vir à superfície um ao outro’

-phókótánà ‘bater palmas um ao outro’

-nkékélánà ‘cacarejar um ao outro’

-kúngélánà ‘enrolar um ao outro’

-hlóngólánà ‘perseguir um ao outro’

87
e. -ákíwá ‘ser construido’

-ákísíwà ‘ser reconstruído’

-phófúlíwà ‘ser trazido à superfície’

-phókótíwà ‘ser batido palmas’

-phóndlíwá ‘ser arrombado’

-nkékélíwà ‘ser cacarejado’

-kúngélíwà ‘enrolar’

-hlóngólíwà ‘ser perseguido’

Os dados fornecidos em (58a) dizem respeito aos verbos de base e são de tom alto pertencentes à

terceira categoria do ponto de vista tonal. Os dados apresentados em (58b-e) têm extensões

verbais. Observando cuidadosamente todas as extensões verificam-se dois padrões, (i) que

mantêm os níveis tonais e (ii) que altera o nível tonal da última vogal, ou recorrendo à

terminologia de Meeussen (1961:226) teríamos pós-radicais com tom alto e pós-radicais com

tom baixo. Fazem parte do padrão (i) as extensões verbais causativa, aplicativa e passiva, desde

que o radical não exceda duas sílabas; do padrão (ii) faz parte a extensão recíproca e as extensões

causativa, aplicativa e passiva, com verbos de radical com 3 sílabas ou mais. Fez-se um exame

de literatura que aborda as extensões verbais para descobrir quais são os seus níveis tonais e nada

está indicado.

Apesar de se ter verificado a alteração do padrão tonal em extensão recíproca nestes verbos de

tom alto, conclui-se que em Changana existem três categorias de verbos do ponto de vista tonal

nomeadamente: os que têm tom baixo, os que têm tom alto excepto a última vogal (que tem tom

baixo) e os que têm tom alto. Outra constatação verificada é que o comprimento do radical

parece que influencia no padrão tonal quando se lhe agrega a extensão, ou seja, os verbos de tom

88
alto com mais de três sílabas têm tom baixo na vogal final diferentemente dos verbos que têm

menos de três sílabas no radical que permanecem com tom alto na vogal final. O capítulo que se

segue faz um exame sobre a negação em Changana.

89
Capítulo VI: Negação Morfo-tonológica em Changana

6.1 Introdução

O presente capítulo examina a negação morfo-tonológica em Changana. O exame vai privilegiar

uma combinação de domínios morfológicos e tonológicos. Tal como foi dito no capítulo I, a

negação será examinada vis-à-vis Tempo e Aspecto, partindo de verbos de tom baixo,

perpassando pelos de tom alto e, por fim, extensões verbais. Também será feito um exame tonal

com todos os elementos gramaticais aglutinados ao verbo para se compreender se não terão

influência na mudança de significado tendo em conta os seus padrões tonais.

Os dados a serem examinados neste capítulo foram obtidos pela combinação de métodos:

filológico (gramáticas, teses, artigos, , Dicionário Changana-Português), introspectivo e

entrevistas.

Após esta breve nota introdutória, segue-se uma apresentação de estudos anteriores sobre a

negação em Changana.

6.2 Estudos Prévios sobre Negação em Changana

No capítulo III fez-se uma referência aos estudos da negação no geral. Nele foi visto que a

negação nas diversas línguas do mundo obedecia a três critérios: o emprego de (i) partículas

negativas, (ii) afixos negativos e (iii) auxiliares negativos. A negação que constitui objecto do

presente estudo situar-se-ia no segundo critério, o do emprego de afixos negativos. Esta

abordagem morfémica é desenvolvida desde Meinhof como sistematiza Petter (2004:268). “C.

Meinhof (1906-1948 ) foi o primeiro estudioso a reconstruir os morfemas negativos *ka, *nka,

*ta, *nta, sem todavia precisar nem o modo nem a posição em que aparecem. Segundo ele, o

morfema de tipo –si atestado no domínio banto, derivaria de *ka; assim a sequência *-ka-ni- teria

chegado a –si-. Por outro lado, o autor assinala que a simetria entre o negativo e o afirmativo não

90
é sempre perfeita. Essa observação coloca em questão o estatuto geral da negação em línguas

bantu; pode-se perguntar se a conjugação negativa difere totalmente da afirmativa. Werner

(1919), retoma o essencial das conclusões de seus predecessores, propondo a seguinte hipótese: a

dissimetria entre o negativo e o afirmativo teria sido total em proto-bantu; algumas línguas

teriam perdido a conjugação negativa e utilizado o morfema negativo à esquerda da forma

afirmativa. Meeussen (1967) reconstrói não só os morfemas negativos, mas também os outros

morfemas da conjugação negativa (finais e formativos): pré-iniciais *ka- e *ta- (indicativo), pós-

inicias *tí- (subjuntivo) e *-ta- (em orações relativas e com o infinitivo); finais *-i (indicativo

presente negativo), *-a (infinitivo e relativas), *-ídé (passado) e *-e (subjuntivo).”

Esta abordagem foi e continua recorrente nas línguas bantu em que sempre se indicou o lugar dos

morfemas negativos no modelo verbal. Desta feita, o mais recente de todos é o de Nurse (2003)

que se mostra a seguir com todos os morfemas do Changana.

Tabela 18. Estrutura verbal do Changana recorrendo ao modelo de Nurse (2003)

a u nga ta xi von is a
Neg MS Neg MT MO Rad Ext Vf
não farás ver algo
Fonte: Elaborada pelo autor

Como aparentemente este modelo satisfaz os propósitos da indicação da negação em Changana,

então os estudos, mesmo com dados que dão pistas sobre outra informação a acrescentar,

limitaram-se, sobretudo nos morfemas. Este estudo assume esta abordagem, mas acrescenta a

informação suprassegmental, pois sem a informação tonal num mesmo segmento é possível ter-

se leituras do tipo:

(59) a. amungataxivonisa ‘que vocês iriam fazer ver’

b. amungataxivonisa ‘não irão fazer ver’

c. amungataxivonisa ‘não vão fazer ver’

91
d. amungataxivonisa ‘não iriam fazer ver’

A negação em Changana tem sido referida nos estudos feitos por missionários (Ribeiro, 1965) e

por linguistas moçambicanos (Sitoe, 1996; Ngunga, 2004; Ngunga e Simbine 2012; Langa,

2012).

6.2.1 Negação em Changana segundo Ribeiro (1965)


Ribeiro (1965:163) afirma que as desinências negativas são -i e –anga. Acrescenta que em alguns

tempos compostos, a negação é feita pelo verbo auxiliar e o verbo principal não toma a

desinência negativa. A seguir são apresentados exemplos de negação segundo este autor.

(60) a. angasifika ‘ainda não chegou’

b. anitshami nivona ‘não tenho visto’

Os dados (60a,60b) estão a negrito dando logo uma ambiguidade para o leitor. Em (60a) como

aparece a desinência (terminologia do autor) –anga, a situação aparentemente é resolvida. Em

relação ao dado (60b), no entanto, ocorre dois /i/ sem o morfema -anga.

6.2.2 Negação em Changana segundo Sitoe (1996)


Sitoe (1996) dedica uma parte no seu dicionário a descrever sumariamente os aspectos ligados à

gramática do Changana. Relativamente à negação, tópico do nosso interesse, o autor encontra

duas formas como ilustram os dados (61) e (62).

92
(61) ndzìngevoni

ùngànghenì. ùngàji tàndza lèrì. ‘não entre. não coma este o ovo.’

andzingàtateka ‘(eu) Não levaria’

àndzijanga; àwujanga; àngajanga. ‘não comi; não comeste; não comeu.

Os dados presentes em (61) mostram os morfemas negativos. Neles é comum o morfema –ngà

antes do radical e -anga após o radical. A repetição do morfema -anga na terceira pessoa é uma

estratégia semântico-fonológica que garante o valor da negação pois caso contrário ficaria na

afirmativa.

(62) àndziji nyama ‘não como carne, não estou a comer carne’

àwuji nyama ‘não comes carne, não estás a comer carne’

Em (62) estão indicados dados referentes à outra forma de marcação de negação que Sitoe

(1996) encontra em Changana. Diferentemente dos dados fornecidos em (61), estes não

aprensentam o morfema -ngà/-anga. Embora o autor não discuta com profundidade a questão da

negação, vê-se a priori que reconhece a pertinência de inclusão da informação tonal facto que se

verifica no dicionário. Todos os dados (61,62) estão em tempos e modos diferentes, daí a

diferença nos morfemas negativos.

6.2.3 Negação em Changana segundo Ngunga (2004); Ngunga e Simbine (2012)

De acordo com Ngunga (2004); Ngunga e Simbine (2012:141) a marca de negação ocupa

diferentes posições da estrutura estrutura verbal. Os autores apresentam um corpus constituído

por três verbos na afirmativa e negativa onde assinalam as marcas de negação nos tempos

passado, presente e futuro.

(63) tempo verbal forma afirmativa/negativa gloss.

93
Passado hilumile ‘mordemos’

hijile ‘comemos’

ahijanga ‘não comemos’

svifile ‘morreram’

asvifanga ‘não morreram’

Presente haluma ‘mordemos’

ahilumi ‘não mordemos’

haja ‘comemos’

ahiji ‘não comemos’

svafa ‘morrem’

asvifi ‘não morrem’

Futuro hitaluma ‘morderemos’

hingataluma ‘não morderemos’

svitafa ‘morrerão’

svingatafa ‘não morrerão’

A partir dos dados em (63), Ngunga e Simbine (2012: 142) chegam a três conclusões, as mesmas

de Ngunga 2004, em função dos tempos gramaticais: (i) no tempo passado a marca de negação é

afixo descontínuo a- -nga, (ii) no presente a marca de negação é o afixo descontínuo a...-i e (iii)

no tempo futuro a marca de negação é o afixo descontínuo a-...-nga-. Os dados examinados mais

adiante confirmam estas conclusões porém se lhes acrescentar a informação tonal na maioria dos

casos podem ter interpretações não negativas.

94
6.2.4 Negação em Changana segundo Langa (2012)

Langa (2012) tem uma secção onde examina a negação em Changana. O autor defende que a

negação é expressa morfologicamente através de morfemas, que por sua vez, variam de acordo

com o tempo verbal (pág.44). Numa primeira fase, põe em discussão os templates de

representação do verbo em línguas bantu. Por um lado, coloca os que defendem um ordenamento

linear dos morfemas (Meeussen, 1967 e Mutaka e Tamanji 2000) e por outro a apresentação

hierárquica dos constituintes (Ngunga, 2004 e Liphola, 2001). Também aponta a divergência nos

autores que defendem o ordenamento linear quanto ao número de posições e a terminologia

usada.

Ao examinar o tempo passado na forma negativa, Langa encontra dois padrões: (i) à...-ngà com

nomes das classes (3-10) e (ii) –ng- -ngà com nomes das classes 1 e 2. Com efeito, o exame mais

aprofundado sobre a negação nesta língua mostra que os padrões vão para além destas

constatações. Aliás, num exercício rápido com dados introspectivamente elicitados do verbo -dlá

‘comer’ nos tempos primários (presente, passado e futuro) indicam que o fenómeno da negação

incluindo a informação tonal amplia as conclusões de Langa como ilustram os dados (64-66).

(64)

a. presente b. passado c. futuro

anídlí ‘não como’ anídlángá ‘não comi’ aníngatádlá ‘não comerás’

awúdlí ‘não comes’ awúdlángá ‘não comeste’ awúngatádlá ‘não comerá’

angádlí ‘não come’ angádlángá ‘não comeu’ ângatádlá ‘não comerá’

ahídlí ‘não comemos’ ahídlángá ‘não comemos’ ahíngatádlá ‘não comeremos’

amúdlí ‘não comeis’ amúdlángá ‘não comestes’ amúngatádlá ‘não comereis’

95
avádlí ‘não comem’ avadlángá ‘não comeram’ avángatádlá ‘não comerão’

Os dados em (64a) indicam a negação no presente. É preciso assinalar que a marcação tonal é

importantíssima para a marcação da negativa porque na 1ª e 3ª pessoas do singular segmentos

similares, mas com tons diferentes resultam em interpretações positivas como em : juze áte anídlí

‘josé disse que eu comesse’ ou ángádli xa ‘que coma então’.

Os dados em (64b) indicam a negação no passado. Diferem dos dados do presente por possuírem

-ng- uma vogal final (-á) com tom alto. Na 3ª pessoa, o tom é tão relevante pois o distingue

segmentalmente da forma análoga do passado remoto ângadlángá ‘não tinha comido’.

Em (64c) estão apresentados dados relativos à negação no tempo futuro. Similarmente ao tempo

passado também apresentam o morfema -ng-. Importa referir que é possível obter-se o futuro

apagando o morfema -ta-. Aliás sobre este assunto há dois fenómenos que podem ocorrer (i)

apagamento do a- inicial e do próprio -ta- como documentam os dados (65a) e (65b).

(65a) (65b)

níngatádlá ‘não comerei’ níngadlí ‘não comerei’

wúngatádlá ‘não comerás’ wúngadlí ‘não comerás’

ángatádlá ‘não comerá’ ángadlí‘não comerá’

híngatadlá ‘não comerão’ ‘híngadlí ‘não comeremos’

múngatádlá ‘não comereis’ múngadlí ‘não comereis’

vángatádlá ‘não comerão vángadlí ‘não comerão’

Em (65a) a negação no futuro ocorre sem o morfema a- e em (65b) a negação no futuro ocorre

sem os morfemas a- e o morfema -ta-. Ademais é possível termos o morfema -nga- sem que

ocorra a negação como ilustram os dados apresentados em (66).

96
(66)

ningâdlá ‘posso comer’

wungâdlá ‘podes comer’

angâdlá ‘podes comer’

hingâdlá ‘pode comer’

mungâdlá podeis comer’

vangâdlá ‘podem comer’

Os dados em (66) revelam mais uma vez que a informação segmental desprovida de informação

tonal pode precipitar a descrição do fenómeno da negação em Changana uma vez que ocorre a

marca -ng- comummente descrito como morfema negativo.

Em conclusão, não se pode legitimar a negação apenas pela simples presença dos morfemas a-, -

ng- como se tinha concluído em Ribeiro 1965; Sitoe, 1996; Ngunga, 2004; Ngunga & Simbine,

2012 e Langa, 2012.

6.3 Negação Morfo-tonológica em Changana

Esta secção examina a negação na perspectiva morfo-tonológica em Changana. Preferimos não

segmentar os morfemas para podermos captar todas as nuances envolvidas. Longe de seguirmos

padrões puramente gramaticais inicia-se o exame com todas as pessoas gramaticais, mas por

motivos metodológicos de controlo de variável será afinado mais tarde o escopo apenas para a 3ª

pessoa do singular dada a sua diferenciação com as demais pessoas gramaticais quer na

constituição morfémica interna quer no padrão tonal. Aliás, a base para uma teorização

consolidada parte necessariamente pela descrição de muitos dados e depois com poucos dados se

pode fazer uma generalização. Como se fez referência na introdução deste capítulo, a negação

97
será examinada vis-à-vis Tempo e Aspecto contrapondo com a parte afirmativa a iniciar com

verbos de tom baixo.

6.3.1 Negação de verbos de tom baixo no Presente habitual


afirmativa negativa

(67) mìnà nàxàvà ‘eu compro’ mìnà àníxáví ‘não compro’

wènà wàxàvà ‘tu compras’ wènà àwúxáví ‘não compras’

yènà wáxávà ‘ele compra’ yènà àngáxáví‘não compra’

hìnà hàxàvà ‘nós compramos’ hìnà àhìxàvì ‘não compramos’

n’wìnà màxàvà ‘vocês compram’ n’wìnà àmíxáví‘não compram’

vònà váxávà ‘eles compram’ vònà àváxáví ‘não compram’

Estes dados (67) mostram que a forma positiva tem o tom baixo no prefixo de MS, excepto na 3ª

pessoa (sg e pl.) cuja MS tem o tom alto. O tom alto de MS da 3ª pessoa é duplicado para a

primeira vogal do radical. Nas formas negativas, todas as vogais na posição inicial têm o tom

baixo, mas todas as vogais na antepenúltima sílaba têm o tom alto, excepto na primeira pessoa do

plural. Em seguida, o tom alto da antepenúltima sílaba é sujeito à propagação.

Os dados fornecidos em (67) são exemplos de um verbo de tom baixo conjugado em todas as

pessoas gramaticais na forma afirmativa e na negativa. Registam-se semelhanças e diferenças

entre si. Entre segunda e terceira pessoas na positiva/afirmativa registam-se semelhanças ao nível

dos elementos segmentais e diferem entre si ao nível suprassegmental. Na segunda pessoa, temos

tom baixo e na terceira tom alto. Os níveis tonais verificados na forma afirmativa são diferentes

dos verificados na forma negativa. Na afirmativa temos tom baixo excepto na 3ª pessoa do plural

(váxávà) enquanto em todas pessoas na negativa temos tom alto.

(68) áníngáxávì ‘que eu compre’

98
híngàxávà ‘que compres tu’

ángáxávì ‘que compre ele’

áhíngàxávì ‘que compremos’

híngàxàvánì ‘que comprem’

ávángáxávì ‘que comprem’

Os dados fornecidos em (68), apesar de possuírem os morfemas típicos de negação -nga e -i

conforme foi descrito nos capítulos anteriores e, sobretudo na parte inicial deste capítulo,

indicam forma afirmativa. As vogais iniciais de todas as pessoas gramaticais apresentam tom alto

que só se propaga na 1ª pessoa (sg), 3ª pessoa (pl) de igual forma, ou seja, de primeira vogal

inicial à esquerda até penúltima vogal. Todas as vogais finais apresentam tom baixo.

afirmativa negativa

(69) mìnà nàtà ‘eu venho’ mìnà ànítí ‘não venho’

wènà wàtà ‘tu vens’ wènà àwútí ‘não vens’

yènà wátá ‘ele vem’ yènà àngátí ‘não vem’

hìnà hàtà ‘nós vimos’ hìnà àhítí ‘não viemos’

n’wìnà màtà ‘vocês vem’ n’wìnà àmítí ‘não vem’

vònà vátá ‘eles vem” vònà àvátí ‘não vem’

Os dados fornecidos em (69) revelam que todos os verbos na forma positiva têm o tom baixo,

excepto a 3ª pessoa gramatical que tem o tom alto na primeira vogal do radical. O tom alto

associado à primeira vogal do tema verbal duplica para a vogal seguinte dando uma sequênci de

dois tons na superfície. As formas negativas de (69) exibem o tom baixo em todas as vogais

iniciais do verbo, mas a vogal seguinte da penúltima sílaba tem o tom alto que afecta a última

vogal do verbo através de uma regra geral de duplicação tonal.

99
(70) a. Mànyìsà átè ànítí lànà ‘O Manhiça disse que eu não viesse aqui’

Mànyísà áté ánítí láná ‘O Manyisa disse que eu viesse aqui’

b. Mànyìsà átè Mùndàwù àngátí lànà ‘O Manhiça disse o Mundau que não viesse

aqui’

Mànyìsà átè Mùndàwù ángátí lànà ‘O Manhiça disse que o Mundau fosse ai’

c. Mànyìsà átè áhítì lànà ‘O Manhiça disse que nós viessemos aqui’

Mànyìsà áté áhítí láná ‘O Manhiça disse que nós não vínhamos

aqui’

Os dados fornecidos em 70 (a-c) mostram par de dados um na negativa e outro na positiva. As

diferenças registam-se ao nível suprassegmental. Em (70a) a vogal inicial do verbo tem tom

baixo diferentemente da vogal seguinte que tem tom alto que se duplica na vogal seguinte por

sinal a última. Na segunda frase o verbo apresenta tom alto na primeira sílaba que se propaga até

ao fim da palavra.

Em (70b) verifica-se o mesmo padrão descrito em (70a) ao passo que em (70c) apenas a vogal

final do verbo na positiva é que tem tom baixo. regista-se duplicação tonal no primeiro caso e

propagação até a última vogal no segundo caso.

No capítulo V fez-se um exame tonal sobre os verbos com extensões. Foram tiradas algumas

conclusões, no entanto tratava-se de verbos no infinitivo. Nesta secção os verbos serão

apresentados tendo em conta as as pessoas gramaticais e variação tempo/aspecto nas formas

afirmativa e negativa.

(71) a. Extensão causativa

100
Presente habitual -khàvìsà ‘fazer chutar’

afirmativa negativa

mìnà nàkhàvìsà ‘faço chutar’ mìnà àníkhàvísí ‘não faço chutar’

wènà wàkhàvìsà ‘tu fazes chutar’ wènà àwúkhàvísí ‘não fazes chutar’

yènà wákhávísà‘ele faz chutar’ yènà àngákhàvísí ‘não faz chutar’

hìnà hàkhàvìsà ‘nós fazemos chutar’ hìnà àhíkhàvísí ‘não fazemos chutar’

n’wìnà màkhàvìsà ‘vocês fazem chutar’ n’wìnà àmíkhàvísí ‘não fazem chutar’

vònà vákhávísà ‘eles fazem chutar’ vònà àvákhàvísí ‘não fazem chutar’

b. extensão passiva -khàvìwà ‘ser chutado’

afirmativa negativa

mìnà nàkhàvìwà ‘sou chutado’ mìnà àníkhàvíwí ‘não são chutado’

wènà wàkhàvìwà ‘tu és chutado’ wènà àwúkhàvíwí ‘não são chutado’

yènà wàkhàvì ‘ele é chutado’ yènà àngákhàvíwí ‘não é chutado’

hìnà hàkhàvìwà ‘nós somos chutados’ hìnà àhíkhàvíwí ‘não somo chutados’

n’wìnà màkhàvìwà ‘vocês são chutados’ n’wìnà àmíkhàvíwí ‘não são chutados’

vònà vákhávíwà ‘eles são chutados’ vònà àvákhàvíwí ‘não são chutados’

c. extensão causativa-passiva -khavisiwa ‘ser feito chutar’

afirmativa negativa

mìnà nàkhàvìsìwà ‘sou feito chutar’ mìnà àníkhàvísíwí ‘não sou feito chutar’

101
wènà wàkhàvìsìwà ‘tu és feito chutar’ wènà àwúkhàvísíwí ‘não és feito chutar’

yènà wákhávísíwà ‘ele é feito chutar’ yènà àngákhàvísíwí ‘não é feito chutar’

hìnà hàkhàvìsìwà ‘nós somos feito chutar’ hìnà àhíkhàvísíwí ‘não somos feito chutar’

n’wìnà màkhàvìsìwà ‘vocês são feitos chutar’ n’wìnà àmíkhàvísíwí ‘não são feitos chutar’

vònà vákhávísíwà ‘eles são feito chutar’ vònà àvákhàvísíwí ‘não são feitos chutar’

Os dados em (71a) mostram que o tom alto pode ser associado aos prefixos ou ao radical. Com

efeito, na forma afirmativa em (71a), o radical -khav- tem o tom baixo. Mas os prefixos de MS

podem ter o tom A ou o tom B. se o prefixo MS tiver A, então esse tom da posição inicial do

verbo propaga-se até a penúltima vogal. Mas se o prefixo tem B, então nada acontece.

As formas negativas em (71a) mostram que o radical -khav- continua com tom B e a vogal da

extensão causativa -is- tem tom alto. Sucede que o tom alto da extensão duplica até à última

vogal originando dois tons de nível na superfície. Note-se que a V-inicial; a forma negativa tem

o tom B, mas a vogal seguinte que precede o radical tem tom A. este tom nunca se propaga para

a vogal do radical -khav- devido ao tom alto de extensão (Princípio de Contorno Obrigatório).

Os verbos da positiva em (71b) revelam similaridades encontrados em (71a). observe-se que o

último exemplo em (71b) tem A em todas as vogais. Neste caso, o tom alto do prefixo va-

propaga-se para as vogais seguintes. Os verbos negativos em (71b) têm o mesmo padrão, ou seja,

o radical -khav- entra na gramática com tom baixo. assim, a V-inicial do verbo tem tom Baixo,

mas a vogal seguinte tem Tom alto e este tom não é sujeito à duplicação devido ao tom alto

seguinte da passiva.

Os dados fornecidos em (71a-c) indicam a conjugação do verbo -khávà‘chutar’ em todas pessoas

gramaticais no presente habitual com extensão causativa (71a), extensão passiva (71b) e as

extensões causativa-passiva (71c) nas formas afirmativa e negativa.

102
Em (71a) na forma afirmativa as 3ªs pessoas têm tom alto e as restantes pessoas gramaticais têm

tom baixo. Na forma negativa, o padrão tonal é o mesmo que se pode sumarizar da seguinte

forma:

(72) Neg1BMSARadBExt.Caus.ANeg2A

Ilustrando com um exemplo fica

à- ní- khàv -ís -í

Neg1 MS Rad Caus Neg2

B A B A A

Similarmente ao descrito em (71a), os dados fornecidos em (72b) apresentam o mesmo padrão

tonal na afirmativa onde todas as pessoas gramaticais na afirmativa excepto as 3as apresentam

tom baixo. Na forma negativa todas as pessoas gramaticais apresentam a estrutura tonal seguinte:

(73) Neg1BMSARadBExt.Pass.ANeg2A

Ilustrando com um exemplo

à- wú - khàv - íw - í

Neg1 MS Rad Pass Neg2

B A B A A

103
Em (71c) estão apresentados dados relativos a forma afirmativa e negativa do verbo com

combinação de extensões verbais causativa e passiva. Do ponto de vista tonal existem

similaridades com o que foi descrito em (71a) e (71b), por isso que se dispensa a repetição

descritiva redundante. A representação tonal na escrita é pertinente, pois os mesmos segmentos

com indicação tonal diferente alteram a negação como se ilustra em (74).

(74) áníkhàvísíwì ‘que me façam chutar’

áwúkhàvísíwì ‘que te façam chutar’

áákhàvísíwì ‘que o façam chutar’

áhíkhàvísíwì ‘que nos façam chutar’

ámúkhàvísíwì ‘que vos façam chutar

ávákhàvísíwì ‘que os faça dançar’

Os dados fornecidos em (74) revelam o mesmo padrão tonal, ou seja, a primeira vogal apresenta

tom alto que se duplica na vogal seguinte e a vogal do radical -khav- tem tom baixo em todas as

pessoas gramaticais.

6.3.2 Negação de verbos de tom baixo no Presente Progressivo


afirmativa negativa

(75) mìnà n(h)óxávà ‘eu estou a comprar’ mìnà ànóxává ‘não estou a comprar’

wènà w(h)óxávà ‘tu estás a comprar’ wènà àwóxává‘não estás a comprar’

yènà óxávà‘ele está a comprar’ yènà àngóxává ‘não está comprar’

hìnà hóxávà‘nós estamos a comprar’ hìnà àhóxává ‘não estamos a comprar’

n’wìnàm(h)óxávà‘vocês estão a comprar’ n’wìnà àmóxává ‘não estão a comprar’

vònà vóxávà ‘eles compram’ vònà àvóxává‘não estão a comprar’

104
Estes dados (75) revelam que o padrão tonal no presente progressivo na negativa é semelhante

do presente habitual apesar de existirem diferenciações morfémicas, designadamente vogais

finais que no presente habitual é -i e no presente progressivo é -a ambas com tom baixo.

Na forma afirmativa as vogais da MS têm tom alto que se duplica na vogal do radical -xav-. A

última vogal de todas as pessoas na positiva é do tom baixo. Na forma negativa, a V-inicial

apresenta tom baixo e na MS a vogal é portadora de tom alto sujeito à propagação.

Os dados que se seguem são do presente progressivo com um verbo de radical -C- e com tom

baixo.

(76) afirmativa negativa

mìnà n(h)ôtà ‘eu estou a vir’ ànó(h)ótá ‘não estou a vir’

wènà w(h)ôtà ‘ ‘tu estás a vir’ àwó(h)ótá ‘não estás a vir’

yènà ôtà ‘ele está a vir’ àngó(h)ótá ‘não está a vir’

hìnà (h)ôtà ‘nós estamos a vir’ à(h)ó(h)ótá ‘não estamos a vir’

n’wìna m(h)ôtà ‘vocês estão a vir’ àmó(h)ótá ‘não estão a vir’

vònà vôtà ‘eles estão a vir’ àvó(h)ótá ‘não estão a vir’

Os dados presentes em (76) revelam padrões tonais diferentes na forma afirmativa e negativa. Na

forma positiva V-inicial apresenta tom descendente. E todas as vogais finais são de tom baixo. na

forma negativa a V-inicial de todas as pessoas gramaticais apresenta tom baixo, mas a vogal

senguinte apresenta tom alto que se propaga até à última vogal. Na forma afirmativa há

ocorrência do tom descendente resultante da aplicação de regra fonológica de harmonização

vocálica como se pode observar a seguir.

(77) Mìnà ná+kùtà ‘eu estou a vir’

105
A primeira regra fonológica que actua é de apagamento da consoante velar -voz ficando duas

vogais em contacto +bx, -arr e +alt, +arr que resultam numa vogal -alt e -bx como vem ilustrado

em (78).

(78) á+ù ô. Este ô guarda tanto o tom alto de á como o tom baixo de ù.

Presente progessivo -khàvìsà ‘fazer chutar’

(79) afirmativa negativa

mìnà n(h)ókhávísà ‘estou a fazer chutar’ ànókhávísá ‘não estou a fazer chutar’

wènà w(h)ókhávísà ‘tu estás a fazer chutar’ àwókhávísá ‘não estou a fazer chutar’

yènà ó(h)ókhávísà ‘ele está a fazer chutar’ àngókhávísá ‘não está a fazer chutar’

hìnà hókhávísà ‘nós estamos a fazer chutar’ àhókhávísá ‘não estamos a fazer chutar’

nwìnà m(h)ókhávísà ‘vocês estão a fazer chutar’ àmókhávísá ‘não estão a fazer chutar’

vònà vhókhávísà ‘eles estão a fazer chutar’ àvókhávísá ‘não estão a fazer chutar’

Os dados fornecidos em (79) na positiva apresentam mesmo padrão tonal, ou seja, a V-inicial

apresenta tom alto que se propaga até a vogal de extensão causativa -is-. A última vogal de todas

as pessoas gramaticais na positiva é portadora de tom baixo. Na parte negativa dos dados em

(79) a V-inicial apresenta tom B e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até à vogal final.

importa referir que as grandes diferenças entre a parte positiva e negativa do ponto de vista tonal

regista-se ao nível da vogal final em que na positiva é baixa e na negativa é alta.

(80) ánóhókhávísà ‘ estava a fazer chutar’ áníngàhàkhávísí ‘não estava a fazer chutar’

áwóhókhávísà ‘ estavas a fazer chutar’ áwúngàhàkhávísí ‘não estavas a fazer chutar’

áwóhókhávísà ‘ estava a fazer chutar’ áángàhàkhávísí ‘não estava a fazer chutar’

áhóhókhávísà ‘ estávamos a fazer chutar’ áhíngàhàkhávísí ‘não estávamos a fazer chutar’

106
ámóhókhávísà ‘ estavam a fazer chutar’ ámúngàhàkhávísí ‘não estavam a fazer chutar’

ávóhókhávísà ‘ estavam a fazer chutar’ ávángàhàkhávísí ‘não estavam a fazer chutar’

Os dados em (80) revelam por um lado formas verbais na forma afirmativa com V-inicial com

tom alto que se propaga até à vogal de extensão -is- e por outro formas verbais na negativa que

apresentam similaridades entre si do ponto de vista de padrão tonal. A V-inicial de todas as

pessoas gramaticais tem tom alto que é sujeito à regra de duplicação tonal, mas que é bloqueiado

por depressor -ng- e como logo a seguir tem tom baixo a vogal seguinte também tem tom baixo e

no radical -khav- como ocorre o tom alto se propaga até à última vogal. Ilustrando as duas

situações teríamos:

(81) a. afirmativa b. negativa

MTAMSAMAspARadACausAVfB Neg1AMSANeg2BMAspBRadACausANeg3A

á- vó - hó- kháv - ís - à á - vá - ngà - hà - kháv - ís - í

A A A A A B A A B B A A A

A ilustração apresentada em (81) indica níveis diferentes dos tons quer na afirmativa quer na

negativa. Com efeito, registam-se similaridades nas marcas de Tempo, de Sujeito, Aspecto e

Radical em que são de tom alto. A vogal final da forma afirmativa tem tom baixo o mesmo

acontecendo com Neg2 (-ngà-) e marca de Aspecto (-hà-) na forma negativa. Estes morfemas (de

negação e de Aspecto) bloqueiam a propagação de tom alto.

A seguir examina-se a negação de verbo com extensão passiva.

Presente Progressivo com extensão passiva

(82) afirmativa negativa

107
nhókhávíwà ‘estou a ser chutado’ ànhókhávíwá ‘não estou a ser chutado’

whókhávíwà ‘tu estás a ser chutado’ àwókhávíwá ‘não estás a ser chutado’

ókhávíwà‘ele está a ser chutado’ àngókhávíwá ‘não está a ser chutado’

hókhávíwà‘nós estamos a ser chutados’ àhókhávíwá ‘não estamos a ser chutados’

mhókhávíwà ‘vocês estão a ser chutados’ àmókhávíwá ‘não estão a ser chutados’

vókhávíwà ‘eles estão a ser chutados’ àvókhávíwá ‘não estão a ser chutados’

Os dados fornecidos em (82) na afirmativa apresentam a V-inicial com tom alto que se propaga

até a vogal de extensão passiva -íw-. A última vogal da forma positiva tem tom baixo em todas

as pessoas gramaticais. Na parte negativa em (82) a V-inicial tem tom baixo, a vogal seguinte

tem tom alto que se propaga até à última vogal. Os mesmos dados na forma negativa com tom

baixo na última vogal passam para forma afirmativa como se indica em (83).

(83) ánókhávíwà ‘estava a ser chutado’

áwókhávíwà ‘estavas a ser chutado’

áwókhávíwà ‘estava a ser chutado’

áhókhávíwà ‘estavamos a ser chutados’

ámókhávíwà ‘estavam a ser chutados’

ávókhávíwà ‘estavam a ser chutados’

Os dados (82) na forma negativa e (83) apresentam similaridades do ponto de vista segmental.

Com efeito, suprassegmentalmente diferem entre si o que acareta mudanças semânticas. Os

dados (82) referentes à parte negativa apresentam V-inicial baixa e a vogal seguinte alta cujo tom

se propaga até a última vogal. Em (83) a V-inicial é alta que se propaga até a vogal de extensão

passiva -iw-. Os dados em (84) referem-se à extensão causativa-passiva.

Presente Progressivo com extensão causativa-passiva

108
(84) afirmativa negativa

nókhávísíwà ‘estão a fazer me chutar’ ànókhávísíwá ‘não me estão a fazer chutar’

wókhávísíwà ‘estão a fazer-te chutar’ àwókhávísíwá ‘não te estão a fazer chutar’

ókhávísíwà‘estão a fazê-lo chutar’ àngókhávísíwá ‘não o estão a fazer chutar’

hókhávísíwà ‘estão a fazer-nos chutar’ àhókhávísíwá ‘não nos estão a fazer chutar’

mókhávísíwà‘estão a fazer-vos chutar’ àmókhávísíwá ‘não vos estão a fazer chutar’

vókhávísíwà ‘estão a fazê-los chutar’ àvókhávísíwá ‘não os estão a fazer chutar’

Os dados fornecidos em (84) indicam um verbo com extensão causativa-passiva no presente

progressivo. Na parte positiva a V-inicial tem tom alto que se propaga até à vogal da extensão

passiva. A vogal final é baixa em todas as pessoas gramaticais. Na parte negativa a V-inicial é

baixa, mas logo a seguir a vogal é portadora de tom alto que se propaga até à última vogal. As

diferenças tonais estão nas vogais finais das duas formas tal como se observou nos dados

fornecidos em (82). Aplicando o mesmo mecanismo usado em (82) das formas negativas, resulta

em formas positivas como se pode conferir em (85).

(85) ánókhávísíwà ‘estavam a fazer me chutar’

áwókhávísíwà ‘ estavam a fazer te chutar’

áókhávísíwà ‘estavam a fazê-lo chutar’

áhókhávísíwà ‘estavam a fazer-nos chutar’

ámókhávísíwà ‘estavam a fazer-vos chutar’

ávókhávísíwà ‘estavam a fazê-los chutar’

Os dados em (85) são segmentalmente idênticos com as formas análogas negativas apresentadas

em (84). Com efeito, a informação suprassegmental é diferente na V-inicial e Vogal final o que

109
traz consequências do ponto de vista de significados, pois em (84) estamos perante forma

negativa e (85) forma positiva.

Na secção que se segue examinam-se dados relativos ao Presente habitual e presente progressivo

em verbos com tom alto. Segue-se a mesma estratégia usada no exame das formas verbais com

tom baixo.

6.3.3 Negação de verbos de tom alto no Presente habitual

(86) afirmativa negativa

mìnà nàdlá ‘como’ ànídlí ‘não como’

wènà wàdlá ‘comes’ àwúdlí ‘não comes’

yènà wâdlá ‘come’ àngádlí ‘não come’

hìnà hàdlá ‘comemos’ àhídlí ‘não comemos’

mwìnà màdlá ‘comem’ àmídlí ‘ não comem’

vònà vâdlá ‘comem’ àvádlí ‘não comem’

Os dados em (86) dizem respeito ao presente habitual do verbo –dl-. A V-inicial da MS da forma

positiva apresenta tom baixo em todas as pessoas exceptuando a 3ª pessoa (sg e pl.) que

apresentam tom descendente. A vogal final tem tom alto. Na forma negativa a V-inicial

apresenta tom baixo ao passo que a vogal seguinte tem tom alto sujeito à regra de duplicação

tonal daí que a vogal final também tem tom alto. Com efeito, alterando o tom da vogal –í, o

significado passa a ser positivo apesar de até co-ocorrer o morfema -nga descrito nos estudos

anteriores como marca da negação.

(87) ánídlì/áníngádlì ‘que eu coma’

áwúdlì/áwúngádlì ‘que comas’

110
áádlì/ángádlì ‘que coma’

áhídlì/áhíngádlì ‘que comamos’

ámúdlì/ámúngádlì ‘que comam’

ávádlì/ávángádlì ‘que comam’

Como se pode observar, os dados fornecidos em (87) do modo conjuntivo mais à esquerda são

segmentalmente idênticos com os dados da forma negativa presentes em (86) do presente

progressivo diferindo nos tons das vogais finais. Em (86) a vogal final tem tom alto resultante da

regra de duplicação tonal e em (87) tem tom baixo. No fundo ocorre em (87) a regra de

duplicação tonal que se regista na V-inicial que se copia para a vogal seguinte.

(88) afirmativa negativa

nàsímámá ‘insisto’ ànísímámí ‘não insisto’

wàsímámá ‘insistes’ àwúsímámí ‘não insisto’

wâsímámá ‘insiste’ àngásímámí ‘não insiste

hàsímámá ‘insistimos’ àhísímámí ‘não insistimos’

màsímámá ‘insistem’ àmísímámí ‘não insistem’

vâsímámá ‘insistem’ àvásímámí ‘não insistem’

Os dados fornecidos em (88) mostram um verbo com uma estrutura complexa diferente do

examinado em (87). Mas partilham um traço comum que é o da tonalidade. Ambos são verbos de

tom alto. Assim sendo os mesmos fenómenos verificados em (87) também se verificam aqui

nestes dados, ou seja, as vogais finais quer na afirmativa quer na negativa têm tom alto

111
Similarmente ao que foi descrito nos dados (80, 82, 85 e 87), os dados fornecidos em (88)

quando se lhes altera o padrão tonal da V-inicial o significado também altera, pois os dados em

(89) ilustram estas consequências resultantes da alteração do padrão tonal.

(89) ánísímámì/áníngàsímámì ‘que eu insista’

áwúsímámì/áwúngàsímámì ‘que insistas’

áásímámì/ángásímámì ‘que insista’

áhísímámì/áhíngàsímámì ‘áhíngásímámí ‘que insistamos

ámísímámì/ámíngàsímámì ‘que insistam’

ávásímámì/ávángàsímámì ‘ávángásímámí ‘que insistam’

Os dados fornecidos em (89) mais à esquerda são idênticos segmentalmente quando comparados

com os fornecidos em (88) na forma negativa do modo conjuntivo. Porém diferem tonalmente.

Em (88) são do tom alto e em (89) a vogal final é de tom baixo indicando a forma afirmativa do

modo conjuntivo. A seguir examinam-se verbos de tom alto com extensões.

(90) Extensão causativa

afirmativa negativa

nàdlísá ‘faço comer’ ànídlísí ‘não faço comer’

wàdlísá ‘fazes comer’ àwúdlísí ‘não fazes comer’

wâdlísá ‘faz comer’ àngádlísí ‘não faz comer’

hàdlísá ‘fazemos comer’ àhídlísí ‘não fazemos comer’

màdlísá ‘fazem comer’ àmúdlísí ‘não fazem comer’

vâdlísá ‘fazem comer’ àvádlísí ‘não fazem comer’

112
Em (90) examina-se um verbo de tom alto com extensão causativa. Na forma positiva a V-

inicial tem tom baixo em todas as pessoas gramaticais excepto a 3ª pessoa (sg, pl) cuja V-inicial

apresenta tom descendente. Na parte negativa, a V-nicial tem tom baixo e, a vogal seguinte tem

tom alto que se propaga até à vogal final. Tal como foi descrito no capítulo IV, as extensões

verbais são afectadas pelo tom existente no verbo. De acordo com Richardson citado por

Meeussen as extensões verbais são tonalmente neutros. Se o verbo for do tom baixo, a extensão

fica com tom baixo e se for de tom alto também ficam afectada por tom alto. Nestes exemplos,

não se verificam excepções. A forma afirmativa tem vogal final alta -á quanto se verifica na

forma negativa -í. À semelhança da explicação fornecida aquando do exame do mesmo verbo

sem extensão, a alteração dos padrões tonais da última e penúltima vogais faz com que os

deixem de ter significados negativos como se ilustra em (91).

(91) ánīdlísì/ánīngádlísì ‘que faça comer’

áwūdlísì/áwūngádlísì ‘que faças comer’

âdlísì/ángādlísì ‘que faça comer’

áhīdlísì/áhīngádlísì ‘que façamos comer’

ámūdlísì/ámūngádlísì ‘que façam comer’

ávādlísì/ávāngádlísì ‘que façam comer’

Os dados fornecidos em (91) ilustram como o tom influencia na interpretação dos itens lexicais.

A V-inicial tem tom alto em todas as pessoas gramaticais que não se duplica, pois logo a seguir

tem tom ascendente. A vogal da extensão causativa é de tom alto que também não se duplica,

portanto a vogal final tem tom baixo. Como se pode observar estes dados não se diferem na

estrutura interna morfémica com os dados na forma negativa apresentados em (90). A seguir

examina-se o mesmo verbo com extensão passiva no presente habitual.

113
(92) afirmativa negativa

nàdlíwá ‘sou comido’ ànídlíwí ‘não sou comido’

wàdlíwá ‘és comido’ àwúdlíwí ‘não és comido’

wâdlíwá ‘é comido’ àngádlíwí ‘ não é comido’

hàdlíwá ‘somos comidos’ àhídlíwí ‘não somos comidos’

màdlíwá ‘são comidos’ àmúdlíwí ‘não são comidos’

vâdlíwá ‘são comidos’ àvádlíwí ‘não são comidos’

Os dados fornecidos em (92) na afirmativa apresentam tom baixo na MS em todas as pessoas

gramaticais excepto a 3ª pessoa (sg, pl.) que tem tom descendente, a vogal seguinte pertencente à

extensão passiva -iw- tem tom alto sujeito à duplicação daí que a V-final tem tom alto. Na forma

negativa, a V-inicial tem tom baixo e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final.

Quando ocorre o tom ascendente sobre penúltima vogal e o tom baixo sobre a vogal final fica-se

com imperativo na forma positiva como se vê a seguir em (93).

(93) ánīdlíwì ‘que seja comido’

áwūdlíwì ‘que sejas comido’

ángādlíwì ‘que seja comido’

áhīdlíwì ‘que sejamos comidos’

ámūdlíwì ‘que sejam comidos’

ávādlíwì ‘que sejam comidos’

Os dados em (93) mostram como a mudança dos níveis tonais interfere na interpretação

semântico-gramatical dos itens. Diferentemente do que se sucede em (92) na qual a V-inicial tem

tom baixo e a vogal seguinte com tom alto que se propaga até a V-final, em (92) a V-inicial tem

tom alto que é bloqueiado pela ocorrência de tom ascendente em MS. Em (92), na forma

114
negativa segmentalmente não se diferem com os dados (93), mas o tom é distintivo. Seguem-se

os dados com extensão causativa-passiva.

afirmativa negativa

(94) mìnà nàdlísíwá ‘eu sou feito comer’ ànídlísíwí ‘não sou feito comer’

wènà wàdlísíwá ‘tu és feito comer’ àwúdlísíwí ‘não és feito comer’

yènà wâdlísíwá ‘ele é feito comer’ àngádlísíwí ‘não é feito comer’

hìnà hàdlísíwá ‘nós somos feito comer’ àhídlísíwí ‘não somos feitos comer’

mwìnà màdlísíwá ‘vocês são feitos comer’ àmúdlísíwí ‘não são feitos comer’

vònà vâdlísíwá ‘eles são feitos comer àvádlísíwí ‘não são feitos comer’

Similarmente aos dados em (92), os dados em (94) na forma positiva apresentam tom baixo na

V-inicial em todas as pessoas gramaticais excepto a 3ª pessoa (sg, pl.) que tem tom descendente.

A vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final. E, na forma negativa dos dados em

(94) também se assemelham tonalmente com os dados fornecidos em (92), pois apresentam V-

inicial com tom baixo e a MS com tom alto que se propaga atá a V-final tal como ocorre na parte

positiva. Fazendo o exercício de colocar o tom ascendente na penúltima vogal e tom alto na

vogal final tem-se como resultado a alteração do significado (v. 95).

(95) ánīdlísíwì ‘que seja feito comer’

áwūdlísíwì ‘que sejas feito comer’

ángādlísíwì ‘que seja feito comer’

áhīdlísíwì ‘que sejamos feito comer’

ámūdlísíwì ‘que sejam feitos comer’

ávādlísíwì ‘que sejam feitos comer’

115
Os dados fornecidos em (95) são segmentalmente idênticos com os apresentados em (94) na

parte negativa, mas diferem entre si pelo padrão tonal. Estes dados em (95) a V-inicial tem tom

alto e a vogal que está na MS tem tom ascendente. As vogais de extensão causativa e passiva têm

tom alto e aúltima vogal tem tom baixo.

6.3.4 Negação de verbos de tom alto no Presente Progressivo


(96) afirmativa negativa

n(h)ôsímámá ‘estou a insistir’ ànósímámá ‘não estou a insistir’

wènà wôsímámá ‘estás a insistir’ àwósímámá ‘não estás a insistir’

yènà ôsímámá ‘está a insistir’ àngósímámá ‘não está a insistir’

hìnà (h)ôsímámá ‘estamos a insisitir’ àhósímámá ‘não estamos a insistir’

n’wìnà môsímámá ‘estão a insistir’ àmósímámá ‘não estão a insistir’

vònà vôsímámá ‘estão a insistir’ àvósímámá ‘não estão a insistir’

Os dados apresentados em (96) referem-se ao presente progressivo nas formas afirmativa e

negativa. Na forma afirmativa a vogal [ô] apresenta tom descendente resultante da aplicação da

regra de harmonização vocálica explicada em (78). Os tons das vogais de radical e vogal final

são idênticos quer na forma afirmativa quer na negativa. Na forma positiva todas as pessoas

gramaticais apresentam o mesmo padrão tonal, ou seja, têm tom descendente na MS e a vogal

seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final. na parte negativa, a V-inicial tem tom baixo e

na MS a vogal tem tom alto sujeito à regra de propagação. Colocando o tom ascendente sobre a

segunda vogal de esquerda para direita na mesma forma negativa apresentada em (96) tem se

como resultado o passado imperfeito na forma afirmativa.

(97) ánôsímámá ‘estava a insistir’

áwôsímámá ‘estavas a insistir’

116
ángôsímámá ‘estava a insistir’

áhôsímámá ‘estavamos a insistir’

ámôsímámá ‘estavam a insistir’

ávôsímámá ‘estavam a insistir’

Os dados fornecidos em (97) indicam como a variação tonal influi na interpretação dos itens

nesta língua. A V-incial nestes dados tem tom alto, a vogal na MS tem tom descendente e a

primeira vogal do radical -simam- tem tom alto sujeito à regra de propagação. Em (96) na forma

negativa ocorrem os mesmos segmentos que em (97). Nos dados que se seguem examina-se a

negação de verbo com extensão causativa.

afirmativa negativa

(98) nôsímámísà ‘estou a fazer insistir’ ànósímámísá ‘não estou a fazer insitir’

wôsímámísà ‘estás a fazer insistir’ àwósímámísá ‘não estás a fazer insistir’

ôsímámísà ‘está a fazer insistir’ àngósímámísá ‘não está a fazer insistir’

hôsímámísà ‘estamos a fazer insistir’ àhósímámísá ‘não estamos a fazer insistir’

môsímámísà ‘estão a fazer insistir’ àmósímámísá ‘não estão a fazer insistir

vôsímámísà ‘estão a fazer insistir’ àvósímámísá ‘não estão a fazer insistir’

Os dados (98) mostram as formas afirmativa e negativa do presente progressivo. A forma

afirmativa difere da forma negativa do ponto de vista tonal. A primeira vogal de esquerda para

direita tem tom descendente na afirmativa enquanto na negativa tem tom baixo, a última vogal

tem tom baixo na forma afirmativa enquanto na forma negativa tem tom alto. Na forma positiva,

a V-inicial tem tom descendente e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a vogal final,

porém na parte negativa regista-se uma V-inicial com tom baixo e a vogal seguinte com tom alto

117
sujeito à propagação tal como se verificou na parte positiva. A alteração do padrão tonal da

forma negativa do itens fornecidos em (98) resulta na polaridade positiva como se ilustra em (99)

(99) ánôsímámísà ‘estava a fazer insistir’

áwôsímámísà ‘estavas a fazer insistir’

ángôsímámísà ‘estava a fazer insistir’

áhôsímámísà ‘estávamos a fazer insistir’

ámôsímámísà ‘estavão a fazer insistir’

ávôsímámísà ‘estavam a fazer insistir’

A partir destes dados (99) é possível dispensar a descrição dos dados com extensão passiva e

causativa-passiva porque não se mostrarão diferenças.

6.4 Passado recente de verbos de tom baixo


Em Changana, o tempo passado subdivide-se em passado recente (Prec) e Passado Remoto

(Prem). A partir dos dados que se seguem, o enfoque será dado à 3ª pessoa gramatical do

singular de forma a garantir o controlo da variável e permitir com que mais verbos possam ser

examinados.

6.4.1 Negação de verbos de tom baixo no Passado Recente


(100) àngáwángá ‘não caiu’

àngáchàdángá ‘não se casou’

àngábzèkélángá ‘não inclinou’

àngáyèhlékétángá ‘não reflectiu’

àngágqùmángá ‘não gemeu’

àngáhlàmbányángá ‘não jurou’

àngálàmúlélángá ‘não socorreu’

118
àngákùndzúmúkángá ‘não desagregou’

àngánàválátángá ‘não esticou’

Os dados em (100) referem-se a negação no Prec e no AP de 10 verbos de tom baixo com

estruturas silábicas diferenciadas na terceira pessoa do singular em Changana . Os dados revelam

dois padrões tonais: baixo e alto. A MS -à tem tom baixo em todos os verbos, as vogais presentes

em -ngá-/-ngá tem tom alto. Em verbos de radicais complexos a sílaba imediatamente a seguir ao

morfema -ngá tem tom baixo. A segunda vogal do radical verbal tem tom alto sujeito à

propagação. A seguir descrevem-se os mesmos verbos com extensão causativa.

(101) àngáwísángá ‘não fez cair’

àngáchàdísángá ‘não fez casar’

àngábzèkélísángá ‘não fez inclinar’

àngáyèhlékétángá ‘não fez reflectir’

ángágqùmísángá ‘não fez gemer’

àngáhlàmbányísángá ‘não fez jurar’

àngálàmúlélísángá ‘não fez socorrer’

angákùndzúmúlísángá ‘não fez desagregar’

àngánàválátísángá ‘não fez esticar’

Similarmente aos dados apresentados em (100), os dados fornecidos em (101) apesar de

possuírem extensão causativa -is- apresentam mesma característica tonal, ou seja, apresentam

dois padrões tonais: baixo e alto. A marca de negação 1 (Neg1) tem tom baixo em todos os

verbos, as vogais presentes em -ngá- tem tom alto. Como a segunda vogal destes radicais é alta,

o tom, nela presente, propaga-se para as restantes vogais. Em verbos de radicais complexos a

119
sílaba imediatamente a seguir ao morfema -nga-. Os exemplos que imediatamente se seguem dão

conta da negação dos mesmos verbos com extensão passiva.

(102) àngáwèlíwángá ‘não foi caido’

àngáchàdíwángá ‘não foi casado’

àngábzèkélíwángá ‘não foi inclinado’

àngáyèhlékétíwángá ‘não foi reflectido’

àngágqùmíwángá ‘não foi gemido’

àngáhlàmbányíwángá ‘não foi jurado’

àngálàmúlélíwángá ‘não foi socorrido’

àngákùndzúmúlíwángá ‘não foi desagregado’

àngánàválátíwángá ‘não foi esticado’

Os dados (102) indicam a negação de verbos contendo extensão passiva -iw- em Changana no

Prec e no Aspecto Perfectivo. A V-inicial tem tom baixo e a vogal seguinte tem tom alto. A

primeira vogal dos radicais apresentam tom baixo e a que segue tem tom alto sujeito à

propagação. A análise destes dados indica que o morfema -íw- é do tom alto à semelhança das

vogais dos morfemas -ngá-/-ngá (Neg2/Neg3). Examinam-se em seguida verbos com extensão

causativa-passiva em (103).

(103) àngáwèlísíwángá ‘não foi feito cair’

àngáchàdísíwángá ‘não foi feito casar’

àngábzèkélísíwángá ‘não foi feito inclinar’

àngáèhlékétíwángá ‘não foi feito reflectir’

àngágqùmísíwángá ‘não foi feito gemer’

àngáhlàmbányísíwángá ‘não foi feito jurar’

120
àngálàmúlélísíwángá ‘não foi feito socorrer’

àngákùndzúmúkísíwángá ‘não foi feito desagregar’

àngánàválátísíwángá ‘não foi feito esticar’

Os dados fornecidos em (103) mostram a negação de verbos de tom baixo com extensão

causativa-passiva no Prec e AP em Changana. A presença da extensão causativa-passiva não

altera o padrão verificado quando o verbo não apresenta extensão ou mesmo quando tiver

extensão não combinada.

6.4.2 Negação de verbos de tom alto no Prec e AP


(104) àngáfángá ‘não morreu’

àngágúgángá ‘não envelheceu’

àngáhákélángá ‘não pagou’

àngáhlámálángá ‘não se admirou’

àngákhúkhúzángá ‘não arrasou’

àngákómbétángá ‘não apontou’

àngánhlánhlánángá ‘não contundiu’

àngányényéntsángá ‘não enojou’

àngáphéphérhángá ‘não peneirou’

àngáríngélángá ‘não pescou’

Os dados em (104) constituem a negação dos verbos de tom alto no Prec e AP na 3ª pessoa do

singular. Similarmente à negação de verbos de tom baixo reflectindo mesmo Tempo e Aspecto

têm dois morfemas (-ngá-/-ngá) (Neg2/Neg3), todos com tom alto. A V-inicial tem tom baixo e a

vogal seguinte tem tom alto sujeito à propagação. O exercício a seguir consiste em examinar os

mesmos verbos com extensão causativa no mesmo Tempo e Aspecto.

121
(105) àngáfísángá ‘não fez morrer’

àngágúgísángá ‘não fez envelheceu’

àngáhákélísángá ‘não fez pagar’

àngáhlámálísángá ‘não fez admirar’

àngákhúkhúzísángá ‘não fez arrasar’

àngákómbétísángá ‘não fez apontar’

àngánhlánhlánísángá ‘não fez contundir’

àngányényéntsísángá ‘não fez enojar’

àngáphéphérhísángá ‘não fez peneirar’

àngáríngélísángá ‘não fez pescar’

Os dados em (105) indicam a negação de verbos com extensão causativa de tom alto no

Prec e AP. Os dados apresentam dois padrões tonais: baixo para a V-inicial e a vogal

seguinte tem tom alto sujeito à propagação. Em seguida, examina-se a negação de verbos

de TA com extensão passiva.

(106) àngábíwángá ‘não foi batido’

àngádláyíwángá ‘não foi morto’

àngáhákélíwángá ‘não foi pago’

àngáhlámálíwángá ‘não foi admirado’

àngákhúkhúzíwángá ‘não foi arrasado’

àngákómbétíwángá ‘não foi apontado’

àngánhlánhláníwángá ‘não foi contundido’

àngányényéntsíwángá ‘não foi enojado’

àngáphéphérhíwángá ‘não foi peneirado’

122
àngáríngélíwángá ‘não foi pescado’

Os dados fornecidos em (106) referem-se à negação de verbos de tom alto com extensão passiva

-íw- no Prec e AP. Não se registam diferenças com os dados análogos examinados acima, ou

seja, o padrão tonal comporta-se da mesma forma: Para finalizar este exame, seguem-se os dados

com extensão causativa-passiva.

(107) àngáfísíwángá ‘não foi feito morrer’

àngágúgísíwángá ‘não foi feito envelhecer’

àngáhákélísíwángá ‘não foi feito pagar’

àngáhlámálísíwángá ‘não foi feito admirar’

àngákhúkhúzísíwángá ‘não foi feito arrasar’

àngákómbétísíwángá ‘não foi feito apontar’

àngánhlánhlánísíwángá ‘não foi feito contundir’

àngányényéntsísíwángá ‘não foi feito enojar’

àngáphéphérhísíwángá ‘não foi feito peneirar’

àngáríngélísíwángá ‘não foi feito pescar’

A negação de verbos de tom alto com extensão causativa-passiva segue o mesmo padrão tonal

com os demais verbos de tom alto ou em conclusão, a negação de verbos de tom alto no Prec e

AP a V-inicial tem tom baixo e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final.

A secção que se segue dá conta da negação no Prem AP começando por verbos de tom baixo e,

por fim verbos de tom alto.

123
6.4.3 Negação de verbos de tom baixo no Prem
(108) ângàwángá (áāngàwángá) ‘não tinha caido’

ângàchàdángá ‘não tinha casado’

ângàbzèkélángá ‘não tinha inclinado’

ângàyèhlékétángá ‘não tinha reflectido’

ângàgqùmángá ‘não tinha gemido’

ângàhlàmbányángá ‘não tinha jurado’

ângàlàmúlélángá ‘não tinha socorrido’

ângàkùndzúmúkángá ‘não tinha desagregado’

ângànàválátángá ‘não tinha esticado’

Em (108) estão apresentados formas negativas de verbos de tom baixo no tempo Prem.

Diferentemente das formas negativas dos verbos de tom baixo em que os morfemas (-ngá-/-ngá)

apareciam com tom alto nestes verbos registam-se diferenças entre estes dois morfemas de ponto

de vista tonal. A V-inicial tem tom descendente, as duas sílabas seguintes tem tom baixo e a

quarta vogal, por sinal a segunda do radical verbal tem tom alto que se propaga até a V-final. As

diferenças de níveis tonais fazem com que haja mudança de ponto de vista Tempo (do Passado

recente para o Passado remoto). A seguir examina-se a negação de verbos com extensão

causativa.

(109) ângàwìsángá ‘não tinha feito cair’

ângàchàdísángá ‘não tinha feito casar’

ângàbzékélísángá ‘não tinha feito inclinar’

ângàyèhlékétísángá ‘não tinha feito reflectir’

124
ângàgqùmísángá ‘não tinha feito gemer’

ângàfùngísángá ‘não tinha feito jurar’

ângàlàmúlélísángá ‘não tinha feito socorrer’

ângàkùndzúmúkísángá ‘não tinha feito desagregar’

ângànáválátísángá ‘não tinha feito esticar’

Similarmente aos dados fornecidos em (108), os dados em (109) referem-se à negação de verbos

de tom baixo no Prem, desta vez com extensão causativa -is-. A presença da extensão causativa

não altera o padrão tonal verificado, ou por outra, a V-inicial tem tom descendente, as duas

sílabas seguintes têm tom baixo e a quarta vogal tem tom alto que se propaga até a V-final. Nos

dados que se seguem examina-se a negação de verbos de tom baixo com extensão causativa-

passiva.

(110) ângàwísíwángá ‘não tinha sido feito cair’

ângàchàdísíwángá ‘não tinha sido feito casar’

ângàbzèkélísíwángá ‘não tinha sido feito inclinar’

ângàyèhlékétísíwángá ‘não tinha sido feito reflectir’

ângàgqùmísíwángá ‘não tinha sido feito gemer’

ângàhlàmbányísíwángá ‘não tinha sido feito jurar’

ângàlàmúlélísíwángá ‘não tinha sido feito socorrer’

ângàkùndzúmúkísíwángá ‘não tinha sido feito desagregar’

ângànàválátísíwángá ‘não tinha sido feito esticar’

Os dados apresentados em (110) indicam a negação de verbos com extensão causativa-passiva de

tom baixo no Prem. O padrão tonal nestes dados é o seguinte: a V-inicial tem tom descendente,

125
as duas sílabas seguintes tem tom baixo e a quarta vogal tem tom alto que se propaga até a V-

final.

(111) ângàfángá ‘não tinha morrido’

ângàgúgángá ‘não tinha envelhecido’

ângàhákélángá ‘não tinha pago’

ângàhlámálángá ‘não tinha admirado’

ângàkhúkhúzángá ‘não tinha arrasado’

ângàkómbétángá ‘não tinha apontado’

ângànhlánhlánángá ‘não tinha contundido’

ângànyényéntsángá ‘não tinha enojado’

ângàphéphérhángá ‘não tinha peneirado’

ângàríngélángá ‘não tinha pescado’

Observando os dados fornecidos em (111) chega-se a conclusão de que são segmentalmente

idênticos aos fornecidos em (104). Com efeito, diferem-se do ponto de vista do padrão tonal e,

consequentemente na diferenciação do Tempo: Prec e Prem. Os dados em (111) apresentam três

padrões tonais: descendente â-, baixo -ngà- e alto -ngá enquanto os dados em (104) apresentam

dois tons baixo -à e alto -ngá-, -ngá como se disse antes.

(112) ângàfísángá ‘não tinha feito morrer’

ângàgúgísángá ‘não tinha feito envelhecer’

ângàhákélísángá ‘não tinha feito pagar’

ângàhlámálísángá ‘não tinha feito admirar’

ângàkhúkhúzísángá ‘não tinha feito arrasar’

126
ângàkómbétísángá ‘não tinha feito apontar’

ângànhlánhlánísángá ‘não tinha feito contundir’

ângànyényéntsísángá ‘não tinha feito enojar’

ângàphéphérhísángá ‘não tinha feito peneirar’

ângàríngélísángá ‘não tinha feito pescar’

Em (112) fornecem-se as formas negativas dos verbos de tom alto com extensão causativa no

Prem. Como se pode observar registam-se três níveis tonais: descendente â-, baixo -ngá- e alto

na sílaba que se segue que depois se propaga até a V-final. Os dados que se seguem

imediatamente dão conta da negação de verbos de tom alto com extensão passiva no Prec.

(113) ângàbíwángá ‘não tinha sido morto’

ângàdláyíwángá ‘não tinha sido envelhecido’

ângàhákélíwángá ‘não tinha sido pago’

ângàhlámálíwángá ‘não tinha sido admirado’

ângàkhúkhúzíwángá ‘não tinha sido arrasado’

ângàkómbétíwángá ‘não tinha sido apontado’

ângànhlánhláníwángá ‘não tinha sido contundido’

ângànyényéntsíwángá ‘não tinha sido enojado’

ângàphéphérhíwángá ‘não tinha sido peneirado’

ângàríngélíwángá ‘não tinha sido pescado’

Os dados apresentado (113) mostram o a negação de verbos de tom baixo com extensão passiva

no Prem. Neles registam-se três tons: descendente â-, baixo -ngá- e alto na primeira vogal do

radical sujeito à propagação. Importa referir que são esses tons responsáveis pela diferenciação

127
com o Prec tal como se descreveu em (106). A terminar o exame da negação de verbos de tom

alto no Prem são apresentados verbos com extensão causativa-passiva.

(114) ângàfísíwángá ‘não tinha sido feito morrer’

ângàgúgísíwángá ‘não tinha sido feito envelhecer’

ângàhákélísíwángá ‘não tinha sido feito pagar’

ângàhlámálísíwángá ‘não tinha sido feito admirar’

ângàkhúkhúzísíwángá ‘não tinha sido feito arrasar’

ângàkómbétísíwángá ‘não tinha sido feito apontar’

ângànhlánhlánísíwángá ‘não tinha sido feito contundir’

ângànyényéntsísíwángá ‘não tinha sido feito enojar’

ângàphéphérhísíwángá ‘não tinha sido feito peneirar’

ângàríngélísíwángá ‘não tinha sido feito pescar’

Os dados fornecidos em (114) mostram a negação de verbos de tom alto com extensão causativa-

passiva no Prem. A V-inicial tem tom descendente, a vogal que se segue tem tom baixo e a

primeira vogal do radical tem tom alto sujeito à propagação até a V-final. Similarmente aos

dados (111), (112) e (113) ocorrem nos dados (114) três níveis tonais.

6.4.4 Negação de verbos de tom baixo no Prem e AI


(115) ângàwí ‘não caia’

ângàchádí ‘não se casava’

ângàbzèkélí ‘não inclinava’

ângàèhlékétí ‘não reflectia’

128
ângàgqúmí ‘não gemia’

ângàhlàmbányí ‘não jurava’

ângàlàmúlélí ‘não socorria’

ângàkùndzúmúkí ‘não desagregava’

ângànàválátí ‘não esticava’

Em (115) estamos perante a negação de verbos de tom baixo no Prem indicando o Aspecto

Imperfectivo (AI). Evidenciam-se três níveis tonais: a V-inicial tem tom descendente, as duas

sílabas seguintes apresentam tom baixo, e a primeira vogal do radical tem tom alto que se

propaga até a V-final. A seguir examina-se a negação de verbos com tom alto no Prem e AI.

(116) ângàfísíwí ‘não era feito morrer’

ângàgúgísíwí ‘não era feito envelhecer’

ângàhákélísíwí ‘não era feito pagar’

ângàhlámálísíwí ‘não era feito admirar’

ângàkhúkhúzísíwí ‘não era feito arrasar’

ângàkómbétísíwí ‘não era feito apontar’

ângànhlánhlánísíwí ‘não era feito contundir’

ângànyényéntsísíwí ‘não era feito enojar’

ângàphéphérhísíwí ‘não era feito peneirar’

ângàríngélísíwí ‘não era feito pescar’

Os dados fornecidos em (116) fazem referência à negação de verbos de tom alto com extensão

causativa-passiva. Similarmente aos dados fornecidos em (115) estes dados (116) apresentam

mesma configuração tonal, ou seja, a V-inicial tem tom descendente, as duas sílabas seguintes

apresentam tom baixo, e a primeira vogal do radical tem tom alto que se propaga até a V-final.

129
6. 5 Negação no Futuro
O tempo futuro é bastante complexo nesta língua. Para além de ser marcado morfologicamente (-

ta-) é igualmente marcado tonalmente sem ocorrência do (-ta-). A presença de (-ta-) não garante

per si a ocorrência de um futuro igual ao de Inglês (will).

6.5.1 Negação de verbos de tom baixo no futuro


(117) ángàtáchádá ‘não se casará’

ángàtábzékélá ‘não inclinará’

ángàtáéhlékétá ‘não reflectirá’

ángàtágqúmá ‘não gemerá’

ángàtáhlámbányá ‘não jurará’

ángàtálámúlélá ‘não socorrerá’

ángàtákúndzúmúká ‘não desagregará’

ángàtánáválátá ‘não esticará’

Os dados presentes em (117) mostram a negação de verbos de tom baixo no futuro. Como se

observa, o tom lexical é afectado mudando de baixo para alto. Há ocorrência de dois níveis

tonais: alto á- na V-inicial e nas restantes sílabas excepto -ngà- (Neg2) que tem tom baixo. Como

foi indicado nas linhas iniciais desta secção a alteração de níveis tonais destes segmentos vai

implicar na mudança de significado como se ilustra a seguir.

(118) ângàtáchádá ‘não se casaria’

ângàtábzékélá ‘não inclinaria’

ângàtáyéhlékétá ‘não reflectiria’

ângàtágqúmá ‘não gemeria’

ângàtáhlámbányá ‘não juraria’

130
ângàtálámúlélá ‘não socorreria’

ângàtákúndzúmúká ‘não desagregaria’

ângàtánáválátá ‘não esticaria’

Os dados (118) mostram como a variação tonal sobre os segmentos afectam a configuração

temporal de um verbo. Nos dados em (117) a V-inicial tem tom alto ao passo que em (118) a V-

inicial tem tom descendente. Esta alteração do padrão tonal das vogais iniciais acareta

alternâncias sginificativas do ponto de vista de tempo. Note-se que a informação tonal diferente é

que origina a interpretação distinta dos dados (117) e (118).

(119) ǎngàchádí ‘não se casará’

ǎngàbzèkélí ‘não inclinará’

ǎngàèhlékétí ‘não reflectirá’

ǎngàgqúmí ‘não gemerá’

ǎngàhlàmbányí ‘não jurará’

ǎngàlàmúlélí ‘não socorrerá’

ǎngàkùndzúmúkí ‘não desagregará’

ǎngànàválátí ‘não esticará’

Em (119) estamos diante negação de verbos de tom baixo no tempo futuro e como se nota não

ocorre o morfema -ta-, que ocorre nas formas alternativas do futuro negativo como se viu em

(118). Verificam-se três níveis tonais: Ascendente ǎ-, baixo -ngà- e alto -í.

6.5.2 Negação de verbos de tom alto no futuro


(120) ángàtáfísíwá ‘não será feito morrer’

131
ángàtágúgísíwá ‘não será feito envelhecer’

ángàtáhákélísíwá ‘não será feito pagar’

ángàtáhlámálísíwá ‘não será feito admirar’

ángàtákhúkhúzísíwá ‘não será feito arrasar’

ángàtákómbétísíwá ‘não será feito apontar’

ángàtánhlánhlánísíwá ‘não será feito contundir’

ángàtányényéntsísíwá ‘não será feito enojar’

ángàtáphéphérhísíwá ‘não será feito peneirar’

ángàtáríngélísíwá ‘não será feito pescar’

Em (120) está indicada a negação de verbos de tom alto com extensão causativa-passiva.

Literalmente são visíveis dois níveis tonais: baixo em -ngà- (Neg2) e alto nas restantes sílabas,

ou seja, a V-inicial tem tom alto a vogal seguinte tem tom baixo e a vogal MTF tem tom alto que

se propaga até a V-final. Similarmente à negação de verbos de tom baixo, a mudança do padrão

tonal tem implicações semânticas. Os dados que se seguem evidenciam este aspecto.

(121) ângàtáfísíwá ‘não seria feito morrer’

ângàtágúgísíwá ‘não seria feito envelhecer’

ângàtáhákélísíwá ‘não seria feito pagar’

ângàtáhlámálísíwá ‘não seria feito admirar’

ângàtákhúkhúzísíwá ‘não seria feito arrasar’

ângàtákómbétísíwá ‘não seria feito apontar’

ângàtánhlánhlánísíwá ‘não seria feito contundir’

ângàtányényéntsísíwá ‘não seria feito enojar’

ângàtaphéphérhísíwá ‘não seria feito peneirar’

132
ângàtáríngélísíwá ‘não seria feito pescado’

Há similaridades segmentais entre os dados (120) e (121). Com efeito, ao nível suprassegmental

registam-se diferenças que resultam na alteração da configuração temporal. Neste caso

específico, a V-inicial tem tom descendente diferentemente do alto registado nos dados

fornecidos em (120) cuja V-inicial tem tom alto. Segue-se, finalmente, a apresentação de outra

estratégia de marcação da negação no futuro sem morfema (-ta-), com extensão causativa-

passiva.

(122) ǎngàfísíwí ‘não será feito morrer’

ǎngàgúgísíwí ‘não será feito envelhecer’

ǎngàhákélísíwí ‘não será feito pagar’

ǎngàhlámálísíwí ‘não será feito admirar’

ǎngàkhúkhúzísíwí ‘não será feito arrasar’

ǎngàkómbétísíwí ‘não será feito apontar’

ǎngànhlánhlánísíwí ‘não será feito contundir’

ǎngànyényéntsísíwí ‘não será feito enojar’

ǎngàphéphérhísíwí ‘não será feito peneirar’

ǎngàríngélísíwí ‘não será feito pescado’

Os dados em (122) mostram que a negação em Changana no tempo futuro pode ocorrer sem (-ta)

bastando para isso colocar o tom Ascendente sobre a V-inicial e a vogal final ter sido tom alto

como consequência de propagação do tom da primeira vogal do radical.

133
Resumindo, o capítulo VI fez um exame sobre a negação em Changana. Numa primeira fase o

enfoque foi olhando para a componente afirmativa versus negativa tendo em conta que a

definição assumida para este estudo é de Crystal (1993) que vê a negação como um processo ou

construção na gramática e análise semântica que expressa a contradição do significado da frase

(v.pág1). Paralelamente ao estudo da negação em comparação à sua polaridade positiva, fez-se

uma incursão sobre Tempo e Aspecto usando a terminologia de Tanda (2005). Porque o

objectivo central deste estudo era examinar a negação tendo em conta a combinação dos níveis

morfológicos e tonológicos (Horn, 1985), fez-se a descrição dando como enfoque os morfemas

negativos e suprassegmentais. A partir dos dados recolhidos em diversos materiais escritos e

elicitados pelo autor depois testados em falantes do Changana foi possível notar que a negação

processa-se combinando níveis morfológicos e tonológicos. Devido a complexidade da tonologia

verbal (cujo mapeamento tonal não tem que ver com a estrutura de radical) nesta língua não se

pode aferir que os morfemas e tonemas negativos afectam a estrutura tonal do verbo. Foi visto

que a variabilidade de Tempo e Aspecto são cruciais na alteração de padrão tonal lexical de um

verbo. Os morfemas negativos em conformidade com o Tempo/Aspecto podem ser do tom alto

ou de tom baixo. a propagação do tom é bloqueiado pelo morfema negativo -ngà-. Os morfemas

negativos precisam sempre de estar acompanhados de informação tonal, pois caso contrário é

possível obter-se leituras de polaridade positiva.

E, ainda conclui-se que em Changana, o tom não constitui uma propriedade exclusiva dos verbos

negativos. O tom é uma componente fundamental na gramática da língua. Foi visto que o tom

tanto ocorre nos verbos na forma positiva quanto na forma negativa, mas a sua distribuição na

estrutura de superfície (tom fonético) é determinada pela categoria flexional do verbo

(tempo/aspecto) e pela pessoa gramatical.

134
O capítulo que se segue diz respeito à análise de dados recolhidos nas entrevistas.

135
Capítulo VII: Análise e descrição da informação recolhida em Entrevistas

O presente capítulo faz uma descrição dos dados obtidos a partir das entrevistas realizadas cujas

perguntas procuram dar respostas à hipótese segundo a qual a representação do tom na escrita em

formas negativas do Changana é pertinente. As entrevistas foram realizadas em momentos e

formas diferentes dada a dispersão dos informantes. As entrevistas foram enviadas através da

plataforma e-mail no mês de Abril de 2014 tendo seguido o processo de espera. Após a

devolução das entrevistas por meio da mesma plataforma, conversou-se com a informante Ezra

Chambal via Skype (dado que o autor estava em Minas Gerais e a informante em Florianópolis)

no mês de Maio de 2014 para retestar a informação preenchida. No mês de Junho, mas em dias

diferentes foi possível conversar com os restantes informantes (Abílio Macuácua, Leonor Simão,

Jaime Mondlane e Hortência Manave em Maputo. A partir dos dados descritos é possível

concluir que a negação não capta as variantes desta língua como acontece na variação

lexemática. Para melhor sistematização dos dados elaborou-se uma grelha de análise.

Os resultados das entrevistas mostram que a representação do tom na escrita é relevante nesta

língua apesar de cada um dos informantes ter optado por uma forma diferente de reperesentação.

Aliás, esta diferenciação na tentativa de representar o tom na escrita é decorrente de ausência um

instrumento oficial que oriente como colocar similar aos relatórios da ortografia das línguas

moçambicanas. Relativamente à ortografia seguida por infomantes foi notória que uns conhecem

o que está padronizado e outros não. Apesar de ser um número que não nos permite generalizar é

lícito afirmar que o instrumento padronizador precisa de ser divulgado.

136
Tabela 19: Respostas dos informantes
Inf. 1 Inf.2 Inf.3 Inf.4 Inf.5
Formas
verbais
em
Portuguê
s
Ele não Angaxávi Angachavi angaxavi angachavi angaxávi
compra
Ele não angaxàvi angachavi angaxavi angachavi angaxàvi
está a
comprar
Ele não é angaxaviwi angachaviwi angaxaviwi angachaviwi angaxaviwi
comprad
o
Ele não é angaxavisiwanga angachavisiwi angaxavisiwi angachavisiwi
feito angaxavisiwang
comprar a
Ele não angaxavanga angachavanga angaxavanga angachavanga angaxavanga
comprou
Ele não aangaxavi angachavi angaxavi angachavi aangaxavi
comprav
a
Ele já se aangahaxavi angahachavi angahaxavi angahachavi se aangahaxavi
não
estava a
comprar
Ele não angaxaviwanga angachaviwan angaxaviwanga angachaviwan angaxaviwanga
foi ga ga
comprad
o
Ele não angaxavisiwanga angachavisiw angaxavisiwan angachavisiw
foi feito anga ga anga angaxavisiwang
comprar a
Ele ataxava atachava ataxava atachava ataxava
comprar
á
Ele não angataxava/ angatachava angataxava angatachava angaxavi
comprari angaxavi
a
Ele não angataxaviviwa angatachava angataxava angatachava angataxaviviwa
será
comprad
o
Ele não angataxavisiwa angatachavisi angataxavisiwa angatachavisi angataxavisiwa

137
será feito wa wa
comprar
Ela não angaji angagui angadlhi angagui angaji
come
Ela não angaji angagui angadlhi angagui angaji
está a
comer
Ela não é angajiwi angaguiwi angadlhiwi angaguiwi angajiwi
comida
Ela não angajanga angaganga angadlhanga angaganga angajanga
comeu
Ela não aangaji angagui angadlhi angagui angaji
comia
Ela já se aangaji angahagui angahadlhi angahagui angaji
não
estava a
comer
Ela não angajiwanga angajiwanga
foi angaguiwanga angadlhiwanga angaguiwanga
comida
Ela não angajisiwi angaguisiwe angadlhisiwe angaguisiwe angajisiwi
feita
comer
Ela não angataja/angaji angataga angatadlha angataga angaji
comerá
Ela não angeji angataga angatadlha angataga angeji
comeria
Ela não angataguiwa angatadlhiwa angataguiwa angajiwi
será angatajiwa/angaji
comida wi
Ela não angajisiwi
será feita angatajisiwa/anga angataguisiwa angatadlhisiwa angataguisiwa
comer jisiwi

Fonte: Sistematizada pelo autor

A tabela 19 sistematiza a informação recolhida nos informantes respeitantes à primeira questão

da entrevista. Os 5 informantes colocaram os morfemas negativos, ou seja, apesar de

diferenciação na escrita decorrente por um lado de situações dialectais como é o caso do verbo -

dla/-ja/-ga ‘comer’ e, por outro, o desconhecimento da escrita padrão ch em vez de x no verbo -

138
xava. Do ponto de vista de representação do tom, a informante 1 faz uma mistura quer através de

diacríticos, mas apenas para o verbo -xava quer através da duplicação da vogal. Os restantes

informantes não marcam o tom e como consequência tem muitos itens similares em angaxavi-

angachavi ‘ele não compra/ele não está a comprar.

A segunda parte da entrevista consistia na marcação do X entre elementos da coluna A e B.

como não se pretendia que uma das partes da entrevista influenciasse a outra, os nossos dados

em Changana também não foram marcados tonalmente, portanto na coluna A providenciou-se

material em Changana e na coluna B material em Português. Em angafambi, os informantes 1 e 3

assinalaram não vai. Os informantes 2, 4 e 5 assinalaram as duas alternativas, ou seja, angafambi

traduz-se em não vai e não estava a ir. O mesmo aconteceu para o item angafambisiwi em que os

informantes 1 e 3 assinalaram apenas a alternativa não é feito ir e os outros assinalaram duas

alternativas não é feito ir e não estava a ser feito ir. No último exercício da mesma pergunta, os

informantes seleccionaram angatshukangaafamba/angatshukangaafambile como tradução da

expressão nunca foi.

Depois deste preenchimento houve conversas com os informantes para ouvir as suas opiniões

acerca da necessidade de reperesentação do tom na escrita o que em alguns caso era necessário

recorrer a exemplos para esclarecimento do conceito. Os informantes reconhecem que é

necessário incluir-se a informação tonal na escrita de textos em Changana, mas dizem ser muito

penoso e complexo o que corrobora com estudos feitos a esse respeito (Piker, 1947; Mfonyam

1989; Bird, 1998/99; Stegen, 2005; Ngozi, 2005).

O capítulo que se segue faz a conclusão geral desta tese.

139
Capítulo VIII: Conclusão
O pressuposto básico defendido nesta dissertação é o de que a negação em Changana processa-se

em tandem morfo-tonalmente. Os argumentos a favor deste pressuposto não só são provados

pelos estudos teóricos, mas sim pelos dados levantados filologicamente de diversas línguas, do

Changana como língua objecto de estudo, dados recolhidos em entrevistas, conversas e dados

elicitados introspectivamente.

O estudo seguiu, estruturalmente, as linhas orientadoras de Fortin (2011) segundo as quais um

trabalho de investigação deve se compor em três partes partes fundamentais: conceptual,

metodológica e empírica. Assim, foram levantados e definidos os conceitos essenciais tais como

aspecto, tempo, negação e tom. Além disso foram fornecidos princípios básicos sobre o tom,

uma discussão sobre a representação fonológica do tom, diferenças entre tom lexical e tom

gramatical. A este respeito foi visto através dos dados que em Changana, o tom gramatical é o

mais complexo devido a concatenação de diversos morfemas ao verbo. Por sua vez, foi visto que

os verbos no infinitivo nesta língua seguindo a terminologia de Marlo (2013) apresentam dois

padrões tonais: alto e baixo. A par disso concluiu-se que o tom lexical é sensível à variação de

pessoa gramatical 3ª pessoa (do singular e do plural) e às marcas de Tempo, podendo alterar o

tom baixo para alto ou alto para baixo.

Relativamente ao processo de negação que era o objecto do estudo, conclui-se que em Changana,

o tom não constitui uma propriedade exclusiva dos verbos negativos. O tom é uma componente

fundamental na gramática da língua. Isto difere do que foi visto por Mwita (2008:302) ao estudar

Kuria em que o morfema de negação /-te-/ provoca a alteração do padrão tonal, ou seja, o

morfema de negação nesta língua causa o tom alto. Em Changana, os dados analisados mostram

140
que a distribuição do tom que ocorre nas formas positivas e nas formas negativas é determinada

pela categoria flexional do verbo (tempo/aspecto) e pela pessoa gramatical.

Do ponto de vista teórico, trabalhou-se com uma abordagem eclética, mas assente na teoria da

morfo-fonologia lexical defendida por Kiparsky (1985). A este respeito, verificou-se através dos

dados que há regras que se aplicam ao nível lexical como é o caso das categorias tonais dos

verbos. Com efeito, há regras que se aplicam pós-lexicalmente onde há alteração do padrão tonal

de um verbo devido à variação do Tempo/Aspecto e distinção entre a forma negativa e positiva e

ainda as diferenças entre a segunda e terceira pessoa gramatical do singular.

Apesar de existirem, do ponto de vista teórico, ideias contra (Piker, 1947; Mfonyam 1989; Stegen,

2005; Ngozi, 2005) e a favor (Mtenje, 1987; Wismann, 1989; Sitoe, 1996; Schroeder, 2010;

Liphola, 2010; Lojenga, 2011; Bordgwalt e Joyce 2013) da representação do tom nas línguas

tonais concluiu-se que é pertinente a inclusão do tom nos materiais que permite desambiguar

significados quer lexicais quer gramaticais em Changana.

Os informantes, selecionados através do procedimento não probabilístico e combinando com os

métodos filológico, introspectivo e de elicitação de dados, providenciaram informações valiosas

para a produção deste estudo. As imprecisões decorrentes das análises e sistematização de dados

são da inteira responsabilidade do autor.

Porque qualquer estudo termina com uma abertura para as próximas investigações seria desejável

que se fizesse um survey sobre o processo de negação das línguas tonais de Moçambique e a

partir destas pesquisas propor-se um modelo único de representação do tom na escrita seguindo

as seguintes fases:

1. Sistematização dos dados sobre as línguas tonais de Moçambique

1.1 tipos de tons (lexical ou gramatical)

141
1.2 padrões tonais

1.3 níveis de propagação do tom

2. representação do tom na escrita

2.1 nos dicionários

2.2 nos manuais escolares

2.3 nos trabalhos científicos

2.4 nas gramáticas

2.5 nos romances, revistas, jornais

2.6 na constituição da República e outros documentos oficiais.

142
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Tamanji, P. 1980. Negation and verb movement in Bafurt. Amberst:UMASS.

Tanda, V. 2005. Negation in Mokpe. And two related coastal bantu languages od Cameroon.

University of Bue.

Trask, R. 1993. A Dictionary of Grammatical Terms in Linguistic. Routledge, London and

Turabian, K. 1996. A Manual for writers of terms Papers, Theses, and dissertations. Sixth

Edition. The University of Chicago Press. University of Illinois.

Verma, G. & Beard. R. 1981. What is educational Research? Perspectives on Techniques of

Research. Aldershot. Gower.

Vogel, R. 1997. Aspect of Tense. Netherlands.

Welmers, W. 1959. Tonemics, morphotonemics and tonal morpheme. General Linguistics.

Zhang, J. 2001. The effects of duration and sonority on Contour tone Distribution. Typological

Survey and formal analysis. UCLA.

Zerbian, S. 2007. A first Approach to information Structuring in Xitsonga/Xichangana.

University of Witwatersrand. South Africa.

149
Anexo 1

Questionário Linguístico
Data de administração do questionário:
Data de devolução do questionário__________________

I. Identificação

Nome completo Ezra Chambal Nhampoca


Língua Materna Xichangana
Distrito de nascimento: Chókwe
Distrito de crescimento até 12 anos: Chókwe
Idade: 35
Nível: Mestrado
Lugar onde frequentou os últimos estudos Maputo - Universidade Eduardo Mondlane
Profissão: docente

II. Traduza as seguintes formas verbais do Português para Changana


Formas verbais em Português Formas verbais em Changana
Ele não compra yena angaxávi
Ele não está a comprar yena angaxàvi
Ele não é comprado yena angaxaviwi
Ele não é feito comprar yena angaxavisiwanga
Ele não comprou yena angaxavanga
Ele não comprava yena aangaxavi
Ele já não estava a comprar yena se aangahaxavi
Ele não foi comprado yena angaxaviwanga
Ele não foi feito comprar yena angaxavisiwanga
Ele comprará yena ataxava
Ele não compraria yena angataxava/ angaxavi
Ele não será comprado yena angataxaviviwa
Ele não será feito comprar yena angataxavisiwa
Ela não come yena angaji
Ela não está a comer yena angaji
Ela não é comida yena angajiwi
Ela não comeu yena angajanga
Ela não comia yena aangaji
Ela já não estava a comer yena se aangaji
Ela não foi comida yena angajiwanga
Ela não feita comer yena angajisiwi
Ela não comerá yena angataja/angaji

150
Ela não comeria yena angeji
Ela não será comida yena angatajiwa/angajiwi
Ela não será feita comer yena angatajisiwa/angajisiwi

III. Assinale na coluna B com X o(s) significado(s) da forma verbal indicada na coluna A.

1. A B
não vai__X__
não estava a ir___
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____

2. A B
não é feito ir__X__
não estava a ser feito ir___
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____

IV. Marque com X a(s) forma(s) que significam nunca foi.


a. angatshukangaafamba_X__
b. angatshukangaafambile_X__
c. angazangaafamba__X_
d. angazangaafambile_X__
e. angatazaafambile__
f. angatatshukaafambile__

Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento: 24/04/2014

151
ANEXO 2

Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________

I. Identificação

Nome completo___Hortencia Manave______________________________


Língua Materna__Xichangana
Distrito de nascimento Manjacaze
Distrito de crescimento até 12 anos_________________________________________
Idade 33_________________________________________________________________
Nível licenciada_____________________________________________________________
Lugar onde frequentou os últimos estudos Maputo, UP______________________________
Profissão professora_________________________________________________________

II. Traduza as seguintes formas verbais do Português para Changana


Formas verbais em Português Formas verbais em Changana
Ele não compra angaxavi
Ele não está a comprar angaxavi
Ele não é comprado angaxaviwi
Ele não é feito comprar angaxavisiwi
Ele não comprou angaxavanga
Ele não comprava a angaxavi
Ele já não estava a comprar angahaxavi
Ele não foi comprado angaxaviwanga
Ele não foi feito comprar angaxavisiwanga
Ele comprará ataxava
Ele não compraria angataxava
Ele não será comprado angataxava
Ele não será feito comprar angataxavisiwa
Ela não come yena angadlhi
Ela não está a comer yena angadlhi
Ela não é comida yena angadlhiwi
Ela não comeu yena angadlhanga
Ela não comia yena angadlhi
Ela já não estava a comer yena angahadlhi
Ela não foi comida yena angadlhiwanga
Ela não feita comer yena angadlhisiwe
Ela não comerá yena angatadlha
Ela não comeria yena angatadlha
Ela não será comida yena angatadlhiwa

152
Ela não será feita comer yena anagatadlhisiwa

III. Assinale na coluna B com X o(s) significado(s) da forma verbal indicada na


coluna A.

1. A B
não vai__x__
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____

2. A B
não é feito ir__x__
não estava a ser feito ir_x__
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____

3. Marque com X a(s) forma(s) que significam nunca foi.


a. angatshukangaafamba_x__
b. angatshukangaafambile_x__
c. angazangaafamba___
d. angazangaafambile___
e. angatazaafambile__
f. angatatshukaafambile__

Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_22 Abril 2014_________________________

153
ANEXO 3

Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________

I. Identificação

Nome completo___Leonor Simão______________________________


Língua Materna__Xichangana
Distrito de nascimento Manjacaze
Distrito de crescimento até 25 anos_________________________________________
Idade 54_________________________________________________________________
Nível licenciada_____________________________________________________________
Lugar onde frequentou os últimos estudos Maputo, UP______________________________
Profissão professora_________________________________________________________

II. Traduza as seguintes formas verbais do Português para Changana


Formas verbais em Português Formas verbais em Changana
Ele não compra angachavi
Ele não está a comprar angachavi
Ele não é comprado angachaviwi
Ele não é feito comprar angachavisiwi
Ele não comprou angachavanga
Ele não comprava angachavi
Ele já não estava a comprar angahachavi
Ele não foi comprado angachaviwanga
Ele não foi feito comprar angachavisiwanga
Ele comprará atachava
Ele não compraria angatachava
Ele não será comprado angatachava
Ele não será feito comprar angatachavisiwa
Ela não come yena angaguii
Ela não está a comer yena angaguii
Ela não é comida yena angaguiwi
Ela não comeu yena angadlhanga
Ela não comia angadlhi
Ela já não estava a comer aangahadlhi
Ela não foi comida angaguiwanga
Ela não feita comer angaguisiwe
Ela não comerá angataga
Ela não comeria angataga
Ela não será comida angataga

154
Ela não será feita comer yena angataguiisiwa

III. Assinale na coluna B com X o(s) significado(s) da forma verbal indicada na


coluna A.

1. A B
não vai___
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____

2. A B
não é feito ir__x__
não estava a ser feito ir___
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____

3. Marque com X a(s) forma(s) que significam nunca foi.


a. angatshukangaafamba_x__
b. angatshukangaafambile_x__
c. angazangaafamba___
d. angazangaafambile___
e. angatazaafambile__
f. angatatshukaafambile__

Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_01 Maio 2014_________________________

155
ANEXO 4

Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________

I. dentificação

Nome completo___Abilio Macuacua______________________________


Língua Materna__Xichangana
Distrito de nascimento Chibuto
Distrito de crescimento até 16 anos_________________________________________
Idade 33_________________________________________________________________
Nível licenciado_____________________________________________________________
Lugar onde frequentou os últimos estudos Maputo, UEM______________________________
Profissão Tecnico de
GTZ_________________________________________________________

II. Traduza as seguintes formas verbais do Português para Changana


Formas verbais em Português Formas verbais em Changana
Ele não compra angachavi
Ele não está a comprar angachavi
Ele não é comprado angachaviwi
Ele não é feito comprar angachavisiwi
Ele não comprou angachavanga
Ele não comprava aangachavi
Ele já não estava a comprar angahachavi
Ele não foi comprado angachaviwanga
Ele não foi feito comprar angachavisiwanga
Ele comprará atachava
Ele não compraria angatachava
Ele não será comprado angatachava
Ele não será feito comprar angatachavisiwa
Ela não come angadlhi
Ela não está a comer angadlhi
Ela não é comida angadlhiwi
Ela não comeu angadlhanga
Ela não comia angadlhi
Ela já não estava a comer angahadlhi
Ela não foi comida angadlhiwanga
Ela não feita comer angadlhisiwe
Ela não comerá angatadlha
Ela não comeria angatadlha
Ela não será comida angatadlhiwa

156
Ela não será feita comer angatadlhisiwa

III. Assinale na coluna B com X o(s) significado(s) da forma verbal indicada na coluna
A.

1. A B
não vai____
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____

2. A B
não é feito ir____
não estava a ser feito ir_x__
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____

3. Marque com X a(s) forma(s) que significam nunca foi.


a. angatshukangaafamba_x__
b. angatshukangaafambile_x__
c. angazangaafamba___
d. angazangaafambile___
e. angatazaafambile__
f. angatatshukaafambile__

Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_17 de Maio 2014_________________________

157
ANEXO 5

Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________

I. Identificação

Nome completo___Jaime Mondlane______________________________


Língua Materna__Xichangana
Distrito de nascimento Chókwé
Distrito de crescimento até 16 anos_________________________________________
Idade _________________________________________________________________
Nível Mestre_____________________________________________________________
Lugar onde frequentou os últimos estudos Maputo, UEM______________________________
Profissão Docente_________________________________________________________

II. Traduza as seguintes formas verbais do Português para Changana


Formas verbais em Português Formas verbais em Changana
Ele não compra angaxavi
Ele não está a comprar angaxavi
Ele não é comprado angaxaviwi
Ele não é feito comprar angaxavisiwi
Ele não comprou angaxavanga
Ele não comprava aaangaxavi
Ele já não estava a comprar angaxavi
Ele não foi comprado angaxaviwanga
Ele não foi feito comprar angaxavisiwanga
Ele comprará Ataxava
Ele não compraria angataxava
Ele não será comprado angataxava
Ele não será feito comprar angataxavisiwa
Ela não come Angadlhi
Ela não está a comer Angadlhi
Ela não é comida angadlhiwi
Ela não comeu angadlhanga
Ela não comia angadlhi
Ela já não estava a comer angahadlhi
Ela não foi comida angadlhiwanga
Ela não feita comer angadlhisiwe
Ela não comerá angatadlha
Ela não comeria angatadlha
Ela não será comida angatadlhiwa

158
Ela não será feita comer angatadlhisiwa

III. Assinale na coluna B com X o(s) significado(s) da forma verbal


indicada na coluna A.

1. A B
não vai___x_
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____

1. A B
não é feito ir__x__
não estava a ser feito ir_x__
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____

1. Marque com X a(s) forma(s) que significam nunca foi.


a. angatshukangaafamba_x__
b. angatshukangaafambile_x__
c. angazangaafamba___
d. angazangaafambile___
e. angatazaafambile__
f. angatatshukaafambile__

Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_8 de Maio 2014_________________________

159

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