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I
NEGAÇÃO MORFO-TONOLÓGICA EM CHANGANA
O Juri
Presidente
______________________________
Supervisor
______________________________
Arguente Principal
______________________________
Arguente Interno
______________________________
Arguente Externo
______________________________
II
Lista de abreviaturas
A Tom alto
AP Aspecto Perfectivo
AI Aspecto Imperfectivo
B Tom baixo
BV Base Verbal
CAUS Causativa
Cf. Conferir
Ext Extensão
Fut Futuro
Gloss Glossário
MC Marca de concordância
MO Marca de Objecto
MS Marca de Sujeito
MT Marca de Tempo
Neg1 Negação 1
Neg2 Negação 2
III
Neg3 Negação 3
Pass Passiva
PB Proto Bantu
Rad Radical
Rec Recíproca
VO Verbo Objecto
´ Tom alto
` Tom baixo
˅ Tom ascendente
˄ Tom descendente
IV
Resumo
A presente dissertação examina a negação morfo-tonológica em Changana assente na teoria de
Morfo-fonologia defendida por Kiparsky 1985. Defende-se nesta dissertação que a negação em
Changana processa-se morfo-tonalmente, ou seja, a negação é expressa por morfemas que devem
aparecer com informação tonal alto ou baixo, diferentemente do que se tinha concluído em
estudos anteriores que eram apontados apenas os morfemas como elementos que intervêm na
indicação da negação. A dissertação partiu de certas pressuposições umas que dão enfoque aos
morfemas e outras que dão enfoque aos tonemas, mas com o filtro introspectivo conjugado com
as interações com os falantes desta língua foi possível compreender que as duas componentes
Foi feita uma extensa revisão de literatura começando pelos conceitos operacionais
nomeadamente: Negação, Tempo, Aspecto e uma discussão sobre a marcação do tom. Esta
constitui a primeira tentativa de assinalar todos os níveis tonais existentes nos dados descritos.
Aliás, é preciso referir que os estudos anteriores já avançavam com indicação do tom baixo com
acento grave e as unidades portadoras de tom alto eram deixadas sem marcação diacrítica.
Apesar desta forma ter sido útil, avança-se nesta dissertação com indicação de mais níveis tonais
através de diacríticos seguindo uma proposta defendida por Mtenje, 1987; Wismann, 1989;
orientadoras com maior enfoque para os modelos teóricos. O segundo capítulo é sobre quadro
conceptual onde são apresentados os conceitos básicos recorrentes neste estudo. Para além dos
conceitos básicos são também apresentadas algumas ideias respeitantes à forma de indicação de
V
tom na ortografia. O terceiro capítulo reserva-se aos pressupostos metodológicos seguidos na
recolha de dados. O quarto capítulo faz a revisão da literatura destacando os estudos anteriores
sobre Changana. O quinto capítulo fala sobre fonologia segmental dando primazia à tonologia
primeiro são destacados os estudos prévios relativos à negação nesta língua e depois um exame
de dados sobre a negação envolvendo Tempo e Aspecto. O sétimo capítulo faz a análise e
VI
Abstract
The present dissertation examines Negation in Changana (S53) following the Morpho-
phonologic theory defended by Kiparsky 1985. Its defended, in this dissertation, that negation in
Changana is formed in tandem by morpheme and tones, in other words, negation is expressed by
morphemes that should appear with tonal information High or Low, differently in what have
been concluded in previous studies that only morphemes was indicated as negation mark. The
dissertation starts from certain assumptions some that give focus to the morphemes and another
that give focus to the tonemes, but with the introspective filter correlated with the interactions
with the speakers of this language was possible to understand that the two components
morphemes and tonemes, work in tandem. Negation was examined from Tense and Aspect vis-à-
vis also observing the positive form.
An extensive revision of the literature was done, starting from the operational concepts namely:
Negation, Tense, Aspect and discussion about the representation of the tone in the writing. This
constitutes the first attempt of marking all of the existent tonal levels in the described data. In
fact, it is necessary to refer that the previous studies already moved forward with indication of
the low tone with acute accent and the units bearers of high tone was left without diacritical
demarcation. In spite of this form it was useful, it is advanced in this dissertation with indication
of more tonal levels through diacritical following the proposal defended by (Mtenje, 1987;
Wismann, 1989; Schroeder, 2010; Liphola, 2010; Lojenga, 2011; Bordgwalt and Joyce 2013).
The dissertation is structured in 8 chapters. The first chapter is introductory and it presents the
guiding lines with larger focus for the theoretical frameworks. The second chapter deals with
concepts where the basic concepts and discussion about tone representation in writing system is
presented. The third chapter is reserved to the Methodological used to collects the data. The
fourth chapter makes the revision of the literature focusing on the previous studies on Changana.
The fifth chapter describes segmental phonology highlighting the nominal verbal tonology. The
sixth chapter deals with Negation from Morpho-tonologic domain in Changana. The seventh
chapter makes the analysis and description of information collected in the field and, the eighth
chapter is dedicated to the conclusions.
VII
Declaração
Declaro que esta dissertação nunca foi apresentada, na sua essência, para a obtenção de qualquer
VIII
Agradecimentos
A realização deste trabalho contou com a colaboração de inúmeras pessoas e instituições. Quero
em primeiro lugar dizer um muito obigado ao Prof. Doutor Bento Sitoe meu supervisor pelas
fontes, aliás grande parte dos dados analisados foram recolhidos em material por si produzidos
Moçambicanas, Tese, e artigos. Recordo-me de um período que até disse e repito: Assim já não
posso mais corrigir enquanto não se resolver a questão da indicação tonal. Não desanimei,
A Prof. Maud Devos, imensos agradecimentos pelos comentários valiosos que permitiram a
melhoria desta dissertação na sua fase final. Creio que algumas questões não foram devidamente
tratadas neste estudo, mas prometo tomar em conta num estudo mais afinado. Quero agradecer
igualmente ao Prof. Doutor Marcelino Liphola que me iniciou nesta luta difícil do tom. Recordo-
me que quando lhe disse que ia continuar a analisar o tom ele humoristicamente respondeu:
Hum, vais continuar nesta linha da morfofonologia, percebi em entrelinhas que navegaria num
território escorregadio.
teóricas da morfologia e de sintaxe incentivaram-me ainda mais o gosto pelos tópicos das línguas
bantu. A minha formação tornou-se ainda mais fácil quando consegui através do CEA um
financiamento para os meus estudos, instituição dirigida por Professor Ngunga. Como diz o
ditado popular: “Não há um sem dois.”, eis que quando estava em apuros sobre o lugar onde
podia fazer pesquisa, apareceu o Professor Ngunga como tábua de salvação. Foi através do
Professor Ngunga que consegui escrever grande parcela desta dissertação graças ao projecto
IX
intercâmbio da Capes que me permitiu viajar ao Brasil. É mesmo para dizer ‘Asante, mwalimu’.
No Brasil também tive apoios substanciais do Professor Fábio Bonfim Duarte apaixonado por
bibliografia dadas.
Ao Professor Doutor David Langa, Xaka la mina, pelo apoio concedido, sobretudo na
disponibilização das fontes que corporizam a minha dissertação e ainda na leitura e comentários
feitos.
Ao Doutor Paulino Fumo pelo encorajamento e abertura total para discutir a minha dissertação
apesar das ocupações com o seu doutoramento em Linguística Textual na Universidade Paris 8.
Livramento, pela sua cumplicidade nos meus estudos. Difícil é estudar trabalhando no ensino
secundário devido ao horário. Aos meus alunos de então que tinham, por vezes, de ter aulas de
recuperação aos sábados vão os meus calorosos agradecimentos. Sei que ninguém reprovou a
encorajamento: Dra Alice, Dra Cecilia minhas professoras e mais tarde minhas companheiras de
luta o meu khanimambu. Ao Professor Agostinho Goenha pela pergunta de insistência : “Então,
Ao Prof. Doutor Geraldo Macalane por me ter iniciado aos estudos das línguas bantu. Zikomo!
Aos colegas da turma de doutoramento: Atanásio, Pedro, Junior, Sonia e França(+). A este
último presto a minha homenagem pelo encorajamento desde que nos conhecemos em 1998 até
ao último dia do seu desaparecimento fisico. Tiramos fotos no último dia de aulas e eu brincando
X
dizia: “vamos tirar a última foto juntos.” e afinal seria mesmo a última. Insististe num almoço de
três pessoas e falei-te de um acidente que eu sonhara afinal era o último adeus. França, até
Aos meus irmãos: Arão (meu pai e meu filho), Daniel, João e Hortência que sempre prestaram o
seu apoio desde pequenos. Sempre alguém recordava o ensinamento de papá: “Quem não estuda
é o mesmo que não ver.” Vocês foram impulsionadores dos meus estudos, por vezes, de forma
inconscientes com as vossas piadas: “Lwèyì àngàtíví kútírhá nchúmú; múkômbéní màbúkù ní
màxjòrìnálì.” ‘este nada sabe fazer senão ler livros e jornais’. Na vossa frase há uma negativa
que hoje constitui o meu objecto de estudo. Obrigado pela indicação profética do tema.
Ao meu filho Arão que teve que sofrer alguns meses da minha ausência. Um khanimambu pela
compreensão.
Aos meus consultores linguísticos Dr. Jaime Mondlane, Ezra Chambal Nhampoca, Yolanda
Manave, Abílio Macuácua, Leonor Simão, quero expressar o meu inteiro agradecimento.
Aos meus pais Amélia Quive e Raul Balate, meu Eu, apesar de estarem a morar espiritualmente
com Jesus Cristo quero vos apresentar os melhores agradecimentos. Recordo-me, pai, que
quando estavas prestes a morrer naquele dia 17 de Maio de 1987 choraste para mim e Hortência.
As palavras que deixaste naquele dia ainda ecoam em mim: “Mísálá mífúndhá xìkólwè
vánàngá!” ‘fiquem a estudar, meus filhos’. Ainda estou a estudar, pai! Minha mãe, cujo Adeus
foi marcado com o início do meu Doutoramento em 2013, também me lembro quando disse que
me queria inscrever para estudar. Ùté: “Hé wèná Junior, kàsì kùfúndhà kákònè àkúhélí ní lèsvì?”
‘Tu Júnior, afinal o tal estudar não termina?’ Eu prometi: “Kútàhélà.” ‘Há-de terminar.’
XI
A terminar, endereço agradecimentos a Direcção Científica da Universidade Eduardo Mondlane
XII
Dedicatória
Dedico esta dissertação aos meus queridos pais Amélia Quive e Raul Balate que apesar de terem
partido desta terra continuam me iluminando e me orientado com as suas angélicas e santas
almas!
XIII
Índice
Lista de abreviaturas........................................................................................................................................... III
Resumo................................................................................................................................................................. V
Abstract .............................................................................................................................................................. VII
Declaração......................................................................................................................................................... VIII
Agradecimentos .................................................................................................................................................. IX
Dedicatória ........................................................................................................................................................ XIII
Capítulo I:Introdução Geral............................................................................................................................... 1
1.1 Introdução ................................................................................................................................................ 1
1.2 Localização e classificação da língua Changana......................................................................................... 4
1.3 Objectivos................................................................................................................................................ 8
1.3.1 Geral............................................................................................................................................................ 8
1.3.2 Específicos.................................................................................................................................................. 8
1.4 Problema ........................................................................................................................................................ 8
1.5 Hipóteses........................................................................................................................................................ 8
1.6 Relevância científica do estudo .................................................................................................................... 9
1.7 Modelos teóricos ......................................................................................................................................... 10
1.7.1 Teoria da Fonologia Lexical.................................................................................................................... 11
1.7.2 Gramática Léxico-Funcional ................................................................................................................... 12
Capítulo II: Quadro Conceptual ...................................................................................................................... 13
2.1 Introdução .............................................................................................................................................. 13
2. 2 Negação ...................................................................................................................................................... 13
2.3 Tempo .......................................................................................................................................................... 14
2.4 Aspecto ........................................................................................................................................................ 15
2.5 Distinção tempo e aspecto .......................................................................................................................... 17
2.6 Tom ............................................................................................................................................................. 18
2.6.1 Tom lexical ............................................................................................................................................... 19
2.6.2 Tom gramatical ........................................................................................................................................ 20
2.7 Regras Tonais .............................................................................................................................................. 31
2.7.1 Propagação de tom alto............................................................................................................................ 31
2.7.2 Duplicação tonal....................................................................................................................................... 31
2.7.3 Propagação tonal não final ...................................................................................................................... 32
2.8 Distinção tom e acento ................................................................................................................................ 32
2.9 Marcação do tom na escrita ........................................................................................................................ 34
Capítulo III: Pressupostos Metodológicos ..................................................................................................... 41
3.1 Introdução .................................................................................................................................................... 41
3.2 Antecedentes da escolha do tema ............................................................................................................... 41
3.3 Trabalho de campo ...................................................................................................................................... 42
3.4 Seleçcão e perfil de informantes ................................................................................................................ 43
3.5 Métodos ....................................................................................................................................................... 45
3.5.1 Método Filológico .................................................................................................................................... 45
3.5.2 Método Introspectivo ............................................................................................................................... 45
3.5.3 Método de Elicitação ............................................................................................................................... 45
3.6 Análise de dados.......................................................................................................................................... 46
3.7 Validade dos dados ..................................................................................................................................... 46
Capítulo IV: Revisão da Literatura ................................................................................................................. 47
4.1 Introdução .................................................................................................................................................... 47
4.2 Estudos anteriores sobre Changana............................................................................................................ 47
4.2.1 Sitoe (1996, 2001) .................................................................................................................................... 47
4.2.2 Langa (2001) ............................................................................................................................................ 49
4.2.3 Ribeiro (2010) .......................................................................................................................................... 50
4.2.4 Balate (2011) ............................................................................................................................................ 52
4.2.5 Langa (2012) ............................................................................................................................................ 52
4.2.5 Ngunga e Faquir (2011) ........................................................................................................................... 53
4.2.6 Ngunga e Simbine (2012)........................................................................................................................ 54
Capítulo V: Fonologia Segmental, Tonologia Nominal e Tonologia Verbal............................................... 56
5.1 Fonologia Segmental .................................................................................................................................. 57
5.1.2 Vogais ....................................................................................................................................................... 57
5.1.3 Consoantes................................................................................................................................................ 65
5.2 Tonologia Nominal ..................................................................................................................................... 70
5.3 Tonologia verbal ......................................................................................................................................... 74
5.3.1 Estrutura do verbo .................................................................................................................................... 78
Capítulo VI: Negação Morfo-tonológica em Changana ................................................................................ 90
6.1 Introdução .................................................................................................................................................... 90
6.2 Estudos Prévios sobre Negação em Changana .......................................................................................... 90
6.2.1 Negação em Changana segundo Ribeiro (1965) .................................................................................... 92
6.2.2 Negação em Changana segundo Sitoe (1996) ........................................................................................ 92
6.2.3 Negação em Changana segundo Ngunga (2004); Ngunga e Simbine (2012) ...................................... 93
6.2.4 Negação em Changana segundo Langa (2012) ...................................................................................... 95
6.3 Negação Morfo-tonológica em Changana ................................................................................................. 97
6.3.1 Negação de verbos de tom baixo no Presente habitual.......................................................................... 98
6.3.2 Negação de verbos de tom baixo no Presente Progressivo ................................................................. 104
6.3.3 Negação de verbos de tom alto no Presente habitual........................................................................... 110
6.3.4 Negação de verbos de tom alto no Presente Progressivo .................................................................... 116
6.4 Passado recente de verbos de tom baixo.................................................................................................. 118
6.4.1 Negação de verbos de tom baixo no Passado Recente ........................................................................ 118
6.4.2 Negação de verbos de tom alto no Prec e AP ...................................................................................... 121
6.4.3 Negação de verbos de tom baixo no Prem ........................................................................................... 124
6.4.4 Negação de verbos de tom baixo no Prem e AI ................................................................................... 128
6. 5 Negação no Futuro ................................................................................................................................... 130
6.5.1 Negação de verbos de tom baixo no futuro .......................................................................................... 130
6.5.2 Negação de verbos de tom alto no futuro ............................................................................................. 131
Capítulo VII: Análise e descrição da informação recolhida em Entrevistas ............................................. 136
Capítulo VIII: Conclusão .............................................................................................................................. 140
Bibliografia ...................................................................................................................................................... 143
Anexo 1 ............................................................................................................................................................ 150
Capítulo I:Introdução Geral
Cada língua apresenta estratégias próprias para a realização da negação podendo ser
vários níveis.
[Horn, 1985]
1.1 Introdução
A presente dissertação examina a negação em Changana à luz da teoria da morfo-fonologia
lexical defendida por Kiparsky (1985). Changana é uma língua bantu (LB) falada em
(1967-1971). Neste estudo, o enfoque será dado ao Changana de Moçambique cujo autor é
falante nativo.
A dissertação encontra os seus pilares estruturais na obra prima de Nurse e Philipson intitulada
Bantu Languages que aborda com maior detalhe diversos aspectos sobre as línguas bantu para
além da sugestão que apresenta sobre as novas investigações que devem ser realizadas. Nurse e
Philipson (2006) afirmam que as possíveis combinações lexicais e fonológicas são fortes
à frase independente e outra na posição pós-inicial associada às estruturas mínimas tais como
linha orientadora de Fortin (2011)1. Similarmente ao que Tanda (2005) verificou em Mokpe2, a
1
O processo de investigação possui três fases: (i) conceptual, (ii) metodológica e (iii) empírica Fortin (1999:38)
2
Mokpe é uma língua bantu falada na zona costeira dos Camarões e tem o código A22 de acordo com a
classificação de Guthrie (1971).
1
negação, em Changana, está intrinsincamente relacionada ao Tempo e Aspecto e, por causa
disto, a negação será examinada vis-à-vis Tempo e Aspecto. Em outras palavras, será revisitada a
tonologia verbal desta língua, mas antes faremos uma incursão pela tonologia nominal
A negação tem merecido inúmeras pesquisas desde tempos passados por parte dos linguistas
(Meinhof, 1906; Werner 1919; Meeussen, 1967; Kamba Muzenga, 1978). A partir dessas
acordo com a forma como marcam a negação em três tipologias (i) partículas negativas, (ii)
afixos negativos e (iii) auxiliares negativos (Dahl, 1979; Payne, 1985; Trask, 1993; Pfau, 2008).
A negação é um traço comum a todas as línguas (Zhang, 2001) e é definida como sendo um
Observações preliminares de dados como àngátsùtsúmí ‘não corre’ vs. ángátsùtsúmì ‘que corra’
ângàtsùtsúmí ‘não corria’ vs. ăngàntsùtsúmí ‘não correrá’ introspectiva e filologicamente obtidos
e atestados em diversos falantes do Changana sugerem que a negação, bem como a variação
Tempo-Aspecto, é marcada não apenas por elementos morfológicos tal como se sugere em
Zerbian, 2004; Ngunga, 2004, Miti, 2005; Canonici, 2006, Langa, 2012, Ngunga e Simbine,
2012, mas também por elementos tonológicos confirmando-se o pressuposto acima, de Horn
(1985), em que a negação pode combinar vários níveis. Este mesmo comportamento observado
positivas e negativas em Shimakonde concluindo que a negação indicada pelo padrão tonal
contrasta com o tom análogo da forma positiva como se pode ver em áválimiile ‘que eles
cultivaram’ avalímiíle ‘não cultivaram’. Portanto, os dados destas línguas mostram que para
2
além do fonema que sempre foi visto como unidade que distingue significados como advogaram
Changana combinando as perspectivas morfológica e prosódica. Uma vez que o verbo é uma
categoria que concatena os morfemas de Tempo e de Aspecto, a negação será analisada tendo em
conta a variabilidade destas categorias. Aliás, um estudo profundo realizado por Dahl (1979)
sobre a negação nas diversas línguas do mundo encontrou três padrões. Usando este modelo,
Changana pertenceria à categoria de línguas que usam afixos negativos que se juntam ao verbo
na posição pré-inicial e final. Sem pretender entrar em choque com o modelo usado, a presente
dissertação não assume o modelo como tal e pretende examinar a negação combinando os
tom. Por esta via, esta dissertação também apresenta uma discussão acerca de representação
gráfica do tom e coloca uma proposta a seguir. Por causa dos depressores tonais (Kisseberth &
Volk S/d, Lee S/d) existentes nesta língua, reconhece-se à partida a complexidade e dificuldade
que se teve ao representar o tom graficamente. Nesta dissertação, avança-se com uma singela
3
A principal contribuição de Trubetzkoy para a linguística foi no campo da fonologia, em particular na
análise de sistemas fonológicos de linguagens individuais e na procura de leis fonológicas universais e
gerais. Sua principal obra, Grundzüge der Phonologie (Princípios de Fonologia), foi publicada após a sua
morte. Nesse livro ele apresenta a sua famosa definição de fonema como a menor unidade distintiva na
estrutura de uma língua. Esse trabalho foi crucial para que a fonologia e a fonética passassem a ser
vistas como duas ciências distintas. Wikipedia.org. 12:30. 31 de Março de 2014
3
proposta de representação do tom (v. tabela 5) que pode ser levada para uma discussão alargada
Ngunga & Faquir (2011) sistematizam uma informação situando a língua Changana
servem-se de estudos de Doke, 1945; Cole, 1961; Guthrie, 1967; INE, 2010; NELIMO, 1989;
Assim, para Doke (1945, citado por Cole (1961) Shangaan-Tsonga (60/4) é um grupo linguístico
que inclui três línguas mutuamente inteligíveis faladas principalmente nas três províncias
grupo chama-se Tshwa-Rhonga de que faz parte também a língua gwambe (S.52), além destas
três línguas que são codificadas como S. 51 (Tswa), S.53 (Changana) e S.54 (Ronga).
De acordo com os dados do INE, 2010, esta língua é falada por mais de 1.682.438 sendo a
4
e) Xihlengwe (falada nos distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, Chicualacuala, Panda,
mapas que se seguem ilustram os locais onde esta língua possui maior número de falantes.
O presente estudo não adopta dados de uma variante específica, mas alguns dados obtidos
filologicamente são da variante Xidzonga, tida como referência (cf Nelimo, 1989; Sitoe &
Na província de Gaza, a
variante Xidzonga é falada
no distrito de Bilene e parte
de Massingir, a variante
Xin’walungu fala-se no
distrito de Massingir,
Xibila falada no vale do
Limpopo e parte do Chibuto, a variante Xihlengwe fala-se nos distritos de Manjacaze, Chibuto,
Guijá, Chicualacuala.
5
Mapa2: Província de Inhambane
Na província de Inhambane fala-se Xihlengwe nos distritos de Morrumbene, Massinga,
Vilanculos e Govuro.
6
Mapa3: Província de Maputo
7
1.3 Objectivos
1.3.1 Geral
Compreender os processos linguísticos envolvidos na marcação da negação em Changana
1.3.2 Específicos
Examinar o processo de negação em Changana combinando os domínios morfológicos e
fonológicos
1.4 Problema
O estudo tem duas questões de partida:
enunciado em Changana?
1.5 Hipóteses
a) A negação é marcada exclusivamente por processos morfológicos em Changana
em Changana.
8
1.6 Relevância científica do estudo
A negação constitui uma área fascinante de estudo descritivo e da teoria linguística por causa das
várias posições que os morfemas de negação ocupam nas línguas do mundo e a necessidade de se
determinar a posição destes morfemas na estrutura profunda (Tanda, 2005). Igual posição é
defendida por d’ Oliveira 2010 ao analisar alguns dados de negação em Ibibio, uma língua falada
vogal do morfema de tempo passado II ké- sofria um processo de assimilação regressiva com o
prefixo í-, o que lhe fez reconhecer que este tópico merecia futuros estudos aprofundados.
Apesar de existirem diversos estudos sobre a negação nas diversas línguas do mundo e nas
línguas Bantu em particular (Meeussen, 1976; Rycroft, 1980; Louw, 1983; Dembetembe, 1985;
Katamba; 1990; Odden; 1996; Ngunga, 2004; Nurse; 2008), regista-se uma escassez de literatura
tonológicos. O problema já havia sido identificado por Meeussen (1967), quando afirmou ser
reconhecer esta dificuldade avança com uma proposta de modelo em que provavelmente os
Changana por Langa (2012) recorrendo ao modelo da morfologia lexical concluiu que a negação
é expressa por morfemas. À mesma conclusão chegam Ngunga e Simbine (2012) apesar de
terem usado uma combinação de teorias. Reconhece-se a utilidade destes estudos, porém nesta
dissertação, o interesse não será verificar a negação como unidade mínima morfológica (umm),
9
Por esta razão, a opção por este tema justifica-se, por um lado, na necessidade de fornecer
elementos teóricos descritivos sobre o funcionamento gramatical desta língua e, por outro,
suscitar novas análises e reexames que devem ser feitos nas outras línguas do tronco bantu, que
Esta secção apresenta os modelos actualmente recorrentes na Linguística usados na descrição das
línguas bantu. Descreve-se com mais detalhes dois modelos teóricos nomeadamente fonologia
lexical e gramática léxico-funcional por serem aquelas que serão úteis na análise dos nossos
dados. Por um lado, o modelo da fonologia lexical vai explicar a combinação da morfologia e
Princípio de Espelho (Mirror Principle) defendido por Baker (1988) será usada para explicar
passiva.
Existem diversos modelos teóricos de análise usados em Linguística de forma geral e para as
línguas bantu em particular. Alguns destes modelos têm sofrido modificações em virtude da
descoberta de outros elementos que não se encaixam nos padrões definidos. Comummente para
as línguas bantu, e, sobretudo para as línguas tonais, estão em voga análises que adoptam as
1985), teoria optimalista (Prince & Smolensky, 1993), minimalista (Chomsky, 2007).
10
1.7.1 Teoria da Fonologia Lexical
Tradicionalmente, a análise das categorias flexionais do verbo foi feita sempre à luz de modelos
Kisseberth, 1979; Clement, 1986), viria, pela primeira vez, trazer uma abordagem diferente sobre
a relação entre os níveis segmental e autossegmental. Por essa via, também se procurou
importante ao mostrar que alguns processos morfológicos são melhor interpretados tendo em
Fonologia (Kiparsky, 1982 e Mohan, 1989). O pressuposto básico reflectido neste modelo é o de
que existem regras que se aplicam ao nível lexical e existem outras regras aplicáveis no nível
pós-lexical. Esse facto sugere que há um conjunto de regras sensíveis a morfemas, outras
11
sensíveis ao comportamento de segmentos tais como vogais/consoantes; nasais/orais e outras
De acordo com Neidle (1988) o termo Gramática Léxico-Funcional (GLF) ou em Inglês Lexical
Functional Grammar (LFG) primeiro surgiu impresso num volume editado em 1982 por Bresnan
investigação ao longo dos tempos. O autor acrescenta que a GLF difere da gramática
o movimento sintáctico dos constituintes como o mecanismo pelo qual a realização da estrutura
sintáctica em superfície dos argumentos é determinada e não permite a alteração das relações
Por sua vez Morais (1988) postula que a GLF proporciona uma teoria formalmente explícita e
teoria reconhece e assinala dois níveis de descrição sintáctica a cada sentença da língua: a
descrevem fenómenos puramente sintácticos que são distintos dos fenómenos lexicais,
12
Capítulo II: Quadro Conceptual
2.1 Introdução
Este capítulo sobre o quadro conceptual fornece a definição dos conceitos fundamentais e discute
a distinção entre alguns conceitos. O capítulo, para além desta introdução, apresenta as seguintes
secções: (2.2) negação, (2.3) tempo, (2.4) aspecto, (2.5) distinção tempo e aspecto, (2.6) tom,
(2.7) Regras tonais (2.8) distinção entre tom e acento e (2.9) Marcação do tom na escrita.
2. 2 Negação
Existem diversos autores que definem a negação. Para este estudo vamos nos apoiar nas
definições apresentadas por Crystal 1993, Tanda 2005, Bond, 2007, Zhang s/d.
Crystal (1993) define a negação como processo ou construção na gramática e análise semântica
que expressa a contradição do significado da frase.
Tanda (2005), no seu artigo intitulado Negation in Mokpe and two related coastal bantu
languages of Cameroon apoia-se na definição de Crystal 1993. Bond (2007) no seu artigo
Towards a canon for negation a construção negativa é minimamente definida pela presença de
morfema(s) negativo(s), mas é comummente indicada pela combinação de morfemas. Acrescenta
que os linguistas identificam as construções negativas em relação às construções afirmativas.
Para Zhang s/d, no seu artigo intitulado Negation under Incomplet Languages Acquisition of
Mandarim Chinese, afirma que a negação é um traço gramatical universal e é definida como
sendo a forma de converter uma frase afirmativa num discurso contraditório de negação.
As definições acima têm em comum o facto de a negação se relacionar com a frase afirmativa.
No estudo de Tanda (2005), recorrendo ao modelo da Teoria de Princípios e Parâmetros, indica-
se que há um reconhecimento explícito de que a negação tem constituído uma área fascinante
recentemente quer pelos linguistas descritivos quer pelos linguistas teóricos por causa da
variação das posições que o morfema negativo ocupa nas diversas línguas do mundo e a
necessidade de determinar a posição destes morfemas na estrutura profunda.
Ainda, Tanda (2005) afirma que enquanto algumas línguas empregam um morfema negativo
simples, outras empregam mais do que três morfemas. Ao estudar os morfemas negativos em
13
Mokpe concluiu que embora esta língua e outras relacionadas empreguem dois ou mais
morfemas negativos, esses morfemas não estão em variação livre. Para além disso, Tanda
verificou que a negação, nesta língua, tem uma ligação intrínseca com o Tempo. A mesma autora
faz também um exame sobre a relação entre a negação e outras construções como
quantificadores de negação existencial e outras categorias funcionais como o Tempo e o
Aspecto. Em relação à influência da negação no Tempo observou que o Tempo Presente e o
Futuro não são alterados pela presença do morfema negativo.
À semelhança de outras categorias gramaticais tais como Tempo e Aspecto, género feminino que
são determinados em relação a outras distinções codificadas em línguas particulares, a negação é
uma categoria super-ordinada presente em todas as línguas (Bond, 2007).
2.3 Tempo
A categoria Tempo tem sido objecto de muitas investigações ao longo dos anos. Foi sempre
preocupação dos linguistas apresentar uma definição consensual.
Lyons (1977) indica que tempo é categoria deíctica que contém uma referência de um período
temporal que não pode ser identificado excepto em relação ao momento de enunciação.
Comrie (1985) à semelhança de Lyons (1977) refere que o tempo localiza as situações que
decorrem quer ao mesmo tempo quer no momento subsequente ao momento presente.
Reichenberg (1947), muito antes de Lyons e Comrie, tinha referido que o tempo expressa a
relação entre o momento do discurso e outro intervalo de interesse que o designa ponto de
referência. O tempo de referência é, em princípio, distinto do tempo de conteúdo. Este autor
indica, numa linha temporal, três momentos: referência, evento e momento de enunciação.
O tempo localiza eventos, processos, estados, e actividades no tempo em relação ao momento de
enunciação como ponto de referência ou centro deíctico (Costa, 1990 apud Macalane, 1993).
Por sua vez Mateus et alli (2003) afirmam que o tempo serve para localizar as situações (eventos
ou estados) expressas nas línguas em diferentes tipos de enunciados. A forma mais comum de
marcar essa localização é através dos tempos verbais embora os advérbios ou expressões
adverbiais de tempo e certas construções temporais tenham também essa função (op.cit).
14
Considerando as definições e divisões temporais acima, pode-se concluir que os tempos
gramaticais se dividem em três domínios: passado, presente e futuro, o que permite que se fale
numa relação de anterioridade, simultaneidade e posterioridade do tempo relativamente ao
momento de referência e que normalmente é o centro de enunciação (Vogel, 1997 e Mateus et
alii, 2003). Na revisão da literatura será retomada esta secção focalizando-se, sobretudo em
Tempos onde nitidamente a intervenção do tom é marcante na distinção temporo-aspectual e
segmentos positivos versus negativos.
2.4 Aspecto
A categoria Aspecto tem sido estudada ao longo dos anos por vários linguistas sendo analisada
em três abordagens nomeadamente semântica, discursiva e trans-linguística (Hartmann & Stork,
1972; Quirk & Greenbaum, 1973; Comrie 1976; Lyons, 1977; Stageberg 1981; Carmen &
Leblanc,1984; Chung e Timberlake, 1985; Talmy, 1985; Elson & Pickett 1985; Crystal, 1987;
Mish, 1991).
Hartmann & Stork (1972: 20) definem aspecto como “uma categoria gramatical do verbo
marcado por prefixos, sufixos e mudanças internas de vogais, indicando não apenas a sua
localização no tempo (Tempo), mas também a duração do tipo de ação expressa ”. Por sua vez
Quirk & Greenbaum (1973) afirmam que o aspecto consiste na maneira como a acção verbal é
experenciada.
Para Comrie (1976), o aspecto são diferentes formas de ver a constituição temporal de uma
situação.
Stageberg (1981) define aspecto como a expressão dos significados concernentes a continuidade
ou distribuição dos eventos no tempo.
Segundo Carmen & Leblanc (1984), o aspecto é um dos conceitos elusivos da gramática
referindo a diversas realizações superficiais de uma teoria para a outra e de uma língua para a
outra. Segundo este autor existem três formas para expressar o aspecto: (i) o Aspecto pode estar
incorporado no tempo como é o caso da referência temporal do passdo, onde o imperfeito (1a) e
o passé composé (1b) geralmente codificam a oposição entre o imperfectivo e o perfectivo assim
15
como o habitual e o episódico, (ii) o aspecto pode ser mapeado no léxico ou sintagma verbal tal
como ocorre no passado habitual usado em Inglês.
Em Francês esta opção é exemplificada pelas frases como être en train para estar em processo,
tal como em (2a).
16
2.5 Distinção tempo e aspecto
A distinção entre tempo e aspecto tem levado debates sérios entre os linguistas. Por exemplo,
Nurse (2003) afirma que os termos Tempo e Aspecto têm sido usados hitherto sem definição. O
tempo são representações temporais que contêm o evento. Eles localizam os eventos no tempo
universal. Por sua vez, o aspecto são as diferentes representações do tempo dentro do evento.
Macalane sistematiza as diferenças entre tempo e aspecto da seguinte forma:
17
Alguns adverbiais limitam-se a As classes aspectuais são uma
determinar uma mera localização propriedade típica do aspecto.
temporal para eventos, sem grandes
consequências ao nível aspectual
Fonte: Macalane (2009:182)
2.6 Tom
Muitos autores têm definido o conceito tom (Pike, 1945; Crystal, 1969; Halliday, 1970;
Goldsmith, 1979; Weiss, 1988; Creissels, 1994; Gussenhoven, 2004; Hartman, 2007; Zerbian &
Barnard, 2009).
Pike (1945) conceitua o tom como variação de melodia que é lexicalmente relevante para se
fazer contrastes entre frases e distinguir-se palavras. Em 1948, o mesmo autor reelabora o
conceito do tom afirmando que uma língua é tonal quando tem significante lexical contrastivo e
um pico relativo em cada sílaba.
Na visão de Crystal (1969), o tom é definido de três maneiras (i) melodia do enunciado, (ii) uma
unidade prosódica e (iii) estímulo sonoro.
Halliday (1970) define o tom como um dos aspectos prosódicos que se caracterizam pelo
movimento melódico em uma palavra ou frase com algum contraste gramatical.
Goldsmith (1979) prefere definir línguas tonais para referir aquelas línguas em que se usa o traço
tom para distinguir itens lexicais e gramaticais.
Para Weiss (1988) o tom é o nível relativo da altura da voz na emissão de uma sílaba ou de uma
palavra.
Uma língua é tonal quando a comutação fonológica é limitada à altura ou à melodia de uma
única sílaba ou mora que é susceptível de construir a única marca de uma comutação entre duas
unidades significativas mínimas (Creissels, 1994).
Gussenhoven (2004) não define o conceito tom como tal, mas avança na perspectiva de indicar
os tipos de tons existentes nas línguas tonais: (i) as que possuem tons de nível em que se requer
que a sílaba atinja certo pico de altura e (ii) as que possuem tom de contorno em que se requere
que a sílaba seja dita com um certo movimento do pico. Este autor cita Pike (1984) como sendo
18
o estudioso que categorizou estas línguas em duas dimensões (i) línguas do registo tonal e (ii)
línguas de contorno tonal. O autor acrescenta que os contrastes tonais têm uma dimensão
paradigmática, o número de contrastes tonais possíveis numa dada sílaba e a dimensão
sintagmática, o número de posições na palavra onde os contrastes são usados. Seguindo o roteiro
das línguas tonais de dimensão paradigmática muitas línguas tonais têm níveis de contrastes
binários com os símbolos A (alto) e B (baixo). O número de contrastes tonais pode, com raridade
de aumento, atingir três, quatro ou cinco (Maddieson, 1978).
E, na dimensão sintagmática, as línguas variam de número de posições cujo contraste tonal pode
ser feito.
Hartmann (2007) define o tom como categoria fonológica que distingue palavras ou conteúdos.
A mesma autora acrescenta que o tom refere às diferenças de picos percebidos como variação de
frequências fundamentais (f0). Ela acrescenta que a língua que usa o tom para diferenciar
significados de palavras é tonal.
Zerbian e Barnard (2009) afirmam que as línguas tonais usam o tom para distinguir significados
gramaticais e lexicais.
Hurskanen (2009) não define o tom à semelhança de outros autores, mas indica que é um traço
característico na maioria das línguas africanas e na maior parte das línguas bantu. Acrescenta que
a principal característica do tom é que não é um traço segmental ao contrário das sequências dos
fonemas que são representadas na escrita normal com sequências de caracteres ortográficos.
Ngunga (2004) apresenta as diferenças entre tom lexical (3) e tom gramatical4 (4).
Todos os autores alistados acima assumem que o tom é fundamental para a distinção de itens
lexicais e gramaticais.
4
Sitoe (1996:301) designa de tom sintáctico.
19
suprassegmental embora sejam iguais a nível segmental. Em Changana, há nomes que se
distinguem pelo tom e pouquíssimos verbos que assim o fazem.
‘É aquele que aparece na gramática da língua, e não no dicionário. Por outras palavras, o tom
gramatical é aquele que serve para exprimir aspectos gramaticais da língua. Por exemplo, às
vezes, a diferença entre os tempos verbais pode ser expressa através do tom, o mesmo
acontecendo com as diferenças dos modos verbais, presença ou ausência de marcas de objeto na
estrutura de forma verbal, presença ou ausência de marcas de negação ou de afirmação Ngunga
(2004:90-91).
Hartmann (2007) e Neman (2000) apresentam dados que confirmam a intervenção do tom para
diferenciar os itens lexicais e itens gramaticais ilustrados em (3) e (4) em língua Hausa.
[Hartmann, 2007:223]
(4) màatáa – máatáa ‘wife – wives’ (esposa-esposas)
dáfàa – dàfáa ‘to cook – cook!’ (cozinhar-cozinhe)
sháa – sháà ‘to drink – drinking’ (beber- bebendo)
táa – táà ‘she (completive) – she (potential) ela (completiva)-ela (potencial)
[Neman, 2000:600]
Os dados da língua Hausa apresentados em (3) e (4) demonstram que o tom é capaz de distinguir
itens lexicais e gramaticais respectivamente. Em Changana, língua objecto deste estudo, veremos
mais tarde que também o tom desempenha a mesma função. Com efeito, usando rigidamente
terminologia lexical e gramatical pode-se afirmar que o tom lexical (5) é menos produtivo em
Changana que o tom gramatical (6) tal como concluiu Langa (2012).
(5) màvélé ‘seios’
20
màvèlé ‘milho’
nàlà ‘palha’
nàlá ‘inimigo’
khèlé ‘cova’
khélè ‘sapo’
kámbá ‘ladrão’
kàmbà ‘casca’?
kùhòlà ‘receber’
kùhólá ‘arrefecer’
21
(Presente, Passado e Futuro). Os dados seguintes foram obtidos através de combinação de dois
métodos : filológico (dados do dicionário verbos Changana-Português) e Introspecção seguindo
o modelo proposto por Marlo (2013).
(7) a. verbos no infinitivo
kù[n-à] ‘chover’
kù[t-à] ‘vir’
kù[ny-à] ‘defecar’
kù[w-à] ‘cair’
kù[y-à] ‘ir’
b.
kù[n-ìs-à] ‘fazer chover’
kù[n-èl-à] ‘chover para’
kù[n-èl-ìw-à] ‘ser chovido’
kù[ n-èt-èt-èl-à] ‘chover várias vezes’
kù[ n-èt-èt-èl-ìw-à] ‘ser chovido várias vezes’
kù[ny-ìs-à] ‘fazer defecar’
kù[ny-èl-à] ‘defecar para’
kù[ny-èl-ìw-à] ‘ser defecado’
Kù[ ny-ìs-ìw-à] ‘ser feito defecar’
Kù[w-ìs-à] ‘fazer cair’
Kù[w-èl-à] ‘cair para’
Kù[w-èl-ìw-à] ‘ser caido’
Os verbos presentes nos dados fornecidos em (7a-b) apresentam similaridades de ponto de vista
tonal, ou seja, são de tom baixo. Em (7a) temos verbos simples ou não derivados e em (7b)
temos verbos com extensões verbais. Observa-se que a presença de extensões verbais não altera
o padrão tonal lexical do verbo quer em verbos de radicais com consoantes [-n-, -t-, e –ny-] quer
em radicais com glides [-y-, -w-]. O exame que se segue é de verbos de tom baixo com radicais
CVC-.
22
kù[dàn-à] ‘evergonhar-se’
kù[hlàny-à] ‘enlouquecer’
23
Os dados fornecidos em (9a-b) dizem respeito a verbos no infinitivo com radicais mais longos.
Em (9a) são radicais não derivados e em (9b) radicais com extensões verbais. Nos dois casos
regita-se o mesmo padrão tonal, ou seja, são todos os verbos de tom baixo. o exame que se segue
é de verbos reduplicados.
24
kú[f-á] ‘morrer’
kú[x-á] ‘amanhecer’
kú[th-á] ‘jogar’
kú[dl-á] ‘comer’
kú[tw-á] ‘ouvir’
kú[xw-á] ‘ficar por alguns dias’
Os dados fornecidos em (11a-b) indicam verbos de tom alto com radicais -C- e radicais -CG-. Os
dados fornecidos em (11a) não são derivados enquanto em (11b) apresentam extensões verbais.
Com efeito, existem similaridades do ponto de vista tonal. Ambos os verbos são de tom alto. A
seguir são fornecidos verbos no infinitivo com radicais -CVC-.
25
(12) a. kù[fámb-à] ‘andar’
kù[támb-à] ‘peidar’
kù[fémb-á] ‘advinhar mediunicamente’
kù[twás-á] ‘estar preparado para praticar a medicina africana’
kù[kál-á] ‘ser raro’
kù[khál-á] ‘reclamar’
Os dados fornecidos em (12a-b) referem-se aos verbos no infinitivo com radicais -CVC-/CGVC.
Nota-se que a vogal do radical tem tom alto o mesmo que acontece com a vogal presente nas
extensões verbais em (12b), ou seja, a presença da extensão verbal não altera o tom inicial do
verbo. Os dados que se seguem fazem referência aos verbos com radicais longos não derivados e
com extensões verbais.
26
kù[tsóndzíhél-íw-à] ‘ser enrolado’
Kù[tsémákány-íw-à] ‘ser atravessado’
Kù[tsékátsék-íw-à] ‘ser abanado’
Kù[phándlúkél-íw-à] ‘ser salpicado’
Os dados apresentados em (13a-b) indicam verbos no infinitivo com tom alto. Registam uma
característica comum. Todas as vogais presentes no radical são de tom alto, aliás mesmo com as
extensões verbais (13b), as vogais do radical permacem com o tom alto. A seguir são fornecidos
verbos redupicados no infinitivo.
(14) a. kù[phíndhàphíndh-à] ‘repetir repetidas vezes
ku[fámbàfámb-à] ‘andar repetidas vezes’
kù[phúzàphúz-à] ‘beber repetidas vezes’
Os dados em (14a-b) são verbos reduplicados no infinitivo. Em (14a) não são derivados em em
(14b) apresentam extensões verbais. Ambos os verbos são de tom alto.
Em resumo, conclui-se que existem verbos de tom baixo e de tom alto em Changana cuja
distribuição tonal não é sensível à estrutura do radical seja simples seja complexo, ou por outras,
existem verbos com radicais simples de tom baixo e verbos com radicais simples de tom baixo e
ainda verbos com radicais complexos de tom baixo bem como radicais complexos de tom alto.
As extensões verbais fonecidas acomodam-se aos padrões tonais do verbo, aliás como sugere
Meeussen (1959:426) as extensões verbais têm tom neutro. O exame que se segue é com
algumas marcas de tempo.
27
âtílé ‘já tinha vindo’
Os dados presentes em (15) indicam verbos no passado remoto em Changana. Recorde-se que os
mesmos verbos foram examinados no infinitivo (7) e foi dito que eram de tom baixo. No
entanto, aqui são de tom alto. A vogal inicial (doravante V-inicial) apresenta tom descendente
resultante da fusão do tom alto com baixo (á+à).
(16) átáchádà ‘casaria’
átábólà ‘apodreceria’
átáhlányà ‘enlouqueceria’
Similarmente aos dados presentes em (15) em que os verbos são de tom alto com a variação de
tempo acareta consequências de ponto de vista do tom lexical, mudando o verbo de tom baixo
para o tom alto. Regista-se nestes dados (16) que o tom da V-inicial propaga-se até à penúltima
sílaba.
O mesmo fenómeno descrito em (16) passa-se com os dados fornecidos em (17). Lexicalmente
foi descrito que estes verbos no infinitivo são portadores de tom baixo, mas como se observa,
estão a alterar os seus padões tonais, ou seja, o tom gramatical/flexional apaga em algumas
marcas de tempo o tom lexical.
(18) àngá[ból-í] ‘não apodrece’
28
àngá[hlány-í] ‘não enlouquece’
àngá[dán-í] ‘não se envergonha’
àvá[bòl-ís-án-í] ‘não se apodrecem um ao outro’
àvá[hlàny-ís-án-í] ‘não se enlouquecem um ao outro’
àvà[dàn-ís-án-í] ‘não se envergonham um ao outro’
Os dados presentes em (18) mostram que há preservação do tom lexical baixo em apenas na
primeira vogal do radical.
(19) ángábólì ‘que apodreça’
ángánhlányì ‘que enlouqueça’
ángádánì ‘que se envergonhe’
ávábólísánì ‘que se apodreçam um ao outro’
áváhlányísánì ‘que se enlouqueçam um ao outro’
ávádánísánì ‘que se envergonham um ao outro’
Observando estes dados (19) e os dados anteriores (18) notam-se similaridades do ponto de vista
dos segmentos ou morfemas que os compõem, mas são diferentes tonalmente o que lhes permite
a diferenciação do ponto de vista semântico Entretanto, tal como relatámos, no infinitivo são
verbos de tom baixo, mas com a variação de Tempo aparecem na categoria de verbos de tom
alto.
Os dados em (20) mostram verbos flexionados na terceira pessoa do plural referindo-se a eventos
que aconteceram num passado longíquo. Nota-se a alteração do padrão tonal do verbo, ou seja, o
tom gramatical altera o tom lexical do verbo deixando de ser baixo passando a ser alto.
29
wá[gómbónyók-à] ‘ele está a ficar torto’
wá[húndzúlút-à] ‘ ele está a virar’
Os verbos presentes em (21) sabe-se que no infinitivo têm tom baixo, mas o tom alto presente na
MS altera o padrão tonal do verbo passando de baixo para alto. Neste caso, aplica-se a regra de
propagação tonal.
Em síntese, pode-se afirmar que o tom lexical é sensível à alteração devido às variações de
Tempo e ou pessoa gramatical. A seguir, examinam-se os verbos de tom alto, recorrendo o
mesmo critério a que foram sujeitos os verbos de tom baixo.
30
Estes dados (24) na negativa confirmam a alteração do padrão tonal do verbo, como se sabe no
infinitivo é do tom alto, mas com as marcas de flexão passou a tom baixo. Na situação da
preservação do tom lexical em segmentos análogos gera significados diferentes como se pode
observar.
(25) ángá[tsémákány-ì] ‘que atravesse’
ángá[tsóndzíhél-ì] ‘que enrole’
ángá[tsékátsék-ì] ‘que enrole’
Os dados (25) mostram similaridades do ponto de vista segmental com os (24), mas diferem
tonalmente. Estes (25) indicam que o tom lexical é preservado excepto na última sílaba,
enquanto os (24) mostra a alteração do tom.
Em suma, conclui-se que o tom lexical é sensível em alguns casos devido as marcas de pessoa,
variação de Tempo e diferenciação da positiva com negativa.
Tal como acontece em muitas línguas tonais, as palavras são sensíveis a regras tonais.
(Goldsmith, 1979; Hyman, 2009). Destacaremos neste estudo as regras de propagação de tom
alto, duplicação tonal, propagação não final (non finallity) e bloqueio do tom.
Propagação ou expansão é uma das propriedades que o tom tem de se propagar ou de expandir
seguindo certa direcção quer de direita para esquerda quer de esquerda para direita ou consiste
na cópia para a unidade portadora de tom seguinte sob condições que variam entre línguas.
(Goldsmith, 1979; Selkirk, 2009).
De acordo com Odden (1989) e Liphola (2001) está-se perante a regra de propagação binária
quando o tom alto no início da raiz verbal copia-se para a mora seguinte dando sequência de dois
tons altos em superfície.
31
2.7.3 Propagação tonal não final
Esta regra dá conta do processo de propagação do tom alto que não atinge a última vogal, ou
seja, que a propagação termina na penúltima sílaba (Odden, 1994; Liphola, 2001; Zerbian e
Barnard, 2009).
Odden (1989) afirma que existem poucos princípios norteadores que tricotomizam as línguas em:
línguas de pico, línguas de acento e línguas de tom, uma vez não existirem propriedades
acústicas nem fisiológicas dos construtos linguísticos que justificam a separação das línguas em
duas ou três tipologias. Acrescenta que nas línguas de acento, a posição do pico prosódico é
predizível por regra (colocação do acento sobre a penúltima, antepenúltima ou unidade inicial),
existe precisamente uma sílaba na palavra com o tal contraste cujo pico é tratado privativamente.
Nas línguas altamente tonais, a posição do contraste prosódico é não predizível, podendo ser
mais do que um pico prosódico e o contraste pode não ser predizível realizado por um ou mais
níveis de pico.
Para (Liphola, 2009), distinguir o tom do acento não é um assunto trivial, pois exige o
estabelecimento de critérios que tenham em conta aspectos tipológicos e funcionais de cada um
dos traços suprassegmentais.
32
Este autor apresenta, em seguida, quatro argumentos subjacentes na dificuldade de distinção do
tom e do acento recorrendo em alguns casos a Odden (1989). (i) tanto o acento quanto o tom se
realizam foneticamente através de manipulação do mesmo parâmetro fonético, nomeadamente o
pico de proeminência relativa da voz, (ii) o tom e acento têm a ver com a duração, amplitude e
frequência dos formantes, (iii) existe um ofuscamento do uso do tom pelo uso popular da palavra
acento através de sistema de escrita e ensino das línguas acentuais e (iv) a complexidade
estrutural do tom em relação ao acento, facto que contribui para a sua marginalização. Liphola
(2009) faz um sumário dos parâmetros principais utilizados na distinção entre o tom e o acento.
33
2.9 Marcação do tom na escrita
A partir das duas citações acima percebe-se que o assunto da marcação do tom permanece ainda
em aberto.
Hurskenen (2009) afirma que muitos sistemas ortográficos das línguas tonais em África não
marcam o tom. Os argumentos de não inclusão do tom na escrita são vários (Mfonyam 1989;
Stegen, 2005; Ngozi, 2005), e um dos argumentos apresentados é que tornaria lento o processo
5
Institut International des Langues e Civilisations Africaines
34
de leitura (Bird, 1999). Piker (1947) assume que o tom se deve excluir na escrita para
salvaguardar a economia gráfica.
Schoroeder (2010) mostra com exemplos (26) a ambiguidade que se pode gerar na ausência de
informação gráfica tonal na língua Leud6.
(26) ma bbi bbi ‘I walked’ (eu caminhei)
ma bbi bbi ‘We walked’ (nós caminhámos)
ma bbi bbi ‘I will walk’ (eu caminharei)
ma bbi bbi ‘We will walk’ (nós caminharemos)
ma bbi bbi ‘I shoud walk’ (eu deveria caminhar)
ma bbi bbi ‘We should walk’ (nós deveriamos caminhar)
ma bbi bbi ‘I am walking’ (eu estou caminhando)
ma bbi bbi ‘We are walking’ (nós estamos caminhando)
[Schroeder, 2010:62]
Os dados indicados em (26) mostram a pertinência de inclusão de informação tonal na marcação
do tom na escrita.
Com efeito, Wismann (1989, 1995) recomenda a indicação do tom baixo com acento grave e
deixar o tom não marcado noutros níveis. Langa (2012) na sua tese de doutoramento usa
literalmente dois acentos para marcar o tom nos seus dados. Acento grave, o mais frequente e o
acento agudo menos frequente. Importa referir que há vogais que não aparecem marcadas com
acentos o que deixa antever que existem três níveis tonais. Com efeito, dos três níveis indicados
nos seus dados, o autor considera que apenas marcou com acento grave as vogais que aparecem
mapeados com tom baixo como se pode confirmar no trecho que se segue:
“Neste trabalho, apenas se marca o tom baixo (`) porque, segundo Sitoe (1996), é menos
frequente no Changana. Assim, as vogais que não tiverem o diacrítico marcado significam que
têm tom alto” Langa (2012:80)
Sitoe (2013) reutiliza o modelo de Wismann no seu dicionário Changana-Português, porém
marcando com acento agudo as unidades portadoras de tom alto e sem marcação as vogais de
tom baixo. Retomaremos este ponto na tonologia verbal. Mtenje (1987) marca o tom num corpus
6
Leud é uma lingua centro-sudânica falada na RDC.
35
que diferencia as subcategorias do tempo passado e do presente em Chichewa como indicam no
corpus (27).
(27) ndi-ná-fotokoz-a (simple past) ‘I explained’ (eu expliquei)
ndi-náfótókoz-a (recent past) ‘I explained recently’ (eu expliquei recentemente)
ndi-nâ:-fotókoz-a (remot past) ‘I explained sometime ago’ (eu expliquei há algum
tempo)
ndi-na-fótókoz-a (present habitual) ‘I always explain’ (eu explico sempre)
ndi-na-fotokoz-a (past habitual) ‘I used to explain’ (eu costumava explicar)
[Mtenje, 1987:72]
Os dados fornecidos em (27) indicam os diferentes subníveis do passado e do presente habitual
em Chichewa. Segmentalmente são idênticos, mas diferem suprassegmentalmente indicando
desta feita configurações temporais diferentes.
Num outro desenvolvimento, Lojenga (2011) reporta os problemas e abordagens existentes na
representação do tom na escrita.
Lojenga (2011) afirma que as palavras consistem em consoantes, vogais e melodias tonais que
podem servir para indicar a distinção mínima, ambos no léxico e na gramática da língua. Ela,
ainda, afirma que no passado havia muita resistência na representação do tom na ortografia pelas
seguintes razões: (i) É um traço não encontrado em Francês, Inglês, Espanhol, Português, línguas
oficiais de muitos países africanos, (ii) O sistema tonal da língua em preparação para a ortografia
tonal não é um assunto fácil de analisar, (iii) Muitas pessoas têm a suposição de que a ortografia
representando o tom impregnado de sinais diacríticos tornaria a leitura num sistema pesado e
penoso.
O tom é um traço importante, muitas vezes negligenciado pelos linguistas assim como pelos
falantes nativos. A ortografia do tom necessita de ser acompanhada de uma metodologia assim
como de consciencialização das pessoas e treinamento para escolher as marcas do tom na língua.
Lojenga sugere a divisão das línguas tonais em dois grupos para a representação do tom na
escrita: (i) línguas com tom estável e (ii) línguas com tom instável, no qual vários processos
operam, assim que o tom muda com base no contexto na palavra.
Relativamente ao grupo com o tom estável, a melodia tonal das palavras isoladas permanece a
mesma em qualquer contexto da palavra em que possa ocorrer, ou seja, não existe uma regra
tonal que possa mudar o tom neste contexto. A melodia tonal da palavra pode mudar devido a
36
razões gramaticais não relacionadas com o contexto tonal da palavra. Em algumas línguas, os
nomes no singular e no plural, os locativos, os paradigmas tempo e aspecto são diferenciados
pelo tom.
Quanto ao segundo grupo, que consiste em línguas com mudança de tom, o processo tonal opera
em várias formas: numa mesma palavra podem aparecer diferentes padrões tonais baseados no
contexto tonal. O tom alto tende geralmente a propagar-se tal como acontece Shimakonde (28a)
em Kimwani (28b).
(28a) vandi-gúgúvaadya ‘fizeram ajoelhar’
vandi-tálákeedya ‘fizeram cozinhar’
[Liphola,2001:208]
(28b) wákosómóola ‘tinham tossido’
wápakaníila ‘tinham conversado’
wánangáníiza’tinham olhado’
[Liphola, 2010:89]
Em (28a) e (28b) estamos diante de um processo designado duplicação tonal que é forma
especial de propagação tonal.
Esta divisão tipológica tonal tem consequências na representação ortográfica em que nas línguas
onde o tom tem múltiplas funções resultará em mais sinais tonais na ortografia que as línguas
com poucos níveis tonais.
Lojenga vai mais longe afirmando que o desenvolvimento da metodologia para o ensino destes
dois tipos de sistemas radicais é um grande desafio. Diferentes abordagens devem ser trabalhadas
para as pessoas que já estão alfabetizadas na língua e aqueles que estão na fase de pré-
alfabetização e cada abordagem deve colocar bem claro a distinção entre os contrastes tonais e
gramaticais.
Em Moçambique, existem, literalmente, três instrumentos puramente linguísticos que
sistematizam a ortografia das línguas moçambicanas (I, II e III relatórios de padronização das
línguas moçambicanas) publicados de 10 em 10 anos.
Os três relatórios, na essência, sobre a língua Changana fazem referência ao tom e indicam que
existem dois tipos de tons, nomeadamente A e B, contrastivos tanto a nível lexical como
gramatical, mas indica-se que a sua marcação será feita apenas nos pares mínimos em que pelo
contexto, não seja possível estabelecer a distinção de significados (Sitoe & Ngunga 2000;
37
Ngunga & Faquir, 2011:231). Esta simplificação do contorno da representação tonal talvez seja
consequência dos dados analisados cujo enfoque se deu no contraste lexical onde claramente se
estabelecem as diferenças entre A e B. Os dados que serão analisados neste estudo, confirmam
esta ocorrência a nível lexical. Com efeito, revelam que existem mais níveis tonais nesta língua
que merecem uma explicação, sobretudo a nível gramatical.
Roberts (2013) apresenta uma sistematização sobre a tipologia da ortografia do tom definindo 6
parâmetros e um número correspondente de escolhas que se podem conferir na tabela 3.
Tabela 3: Tipologia da Ortografia do tom
Parâmetro Escolha
1. Domínio Fonográfico (baseado em sons)
Semiográfico (baseado em significados)
2. Alvo Tons: Alto, Médio, Baixo, CT-contorno tonal
Gramatical: número, género, TAM
Léxico: Pares mínimos tonais e conjuntos lexicais
3. Símbolos Acentos, pontuação, sublinhado, letras mudas e números
4. Posição Expoente, subscrito a esquerda ou a direita, ou grafema,
morfema, palavra e frase
5. Densidade Zero, parcial e exaustivo
6. Profundidade Notação em superfície (pós-lexical/output)
Tom profundo, ortografia transparente, ortografia
profunda
38
em Cabo Delgado. Para este autor, a ideia de incluir o tom na escrita das línguas moçambicanas
remonta desde os anos 80, altura em que se realizou o I seminário sobre a padronização das
línguas moçambicanas. Um dos desafios que coloca é que a inclusão do tom na escrita requer um
treinamento especializado por parte dos utentes do sistema ortográfico.
Liphola (2010) avança com a seguinte proposta de representação tonal na escrita:
Tabela 4: Representação do tom em Shimakonde
Designação Representação do tom na escrita
Tom de nível alto < áá > ou <á>
Tom ascendente < aá >
Tom descendente < áa >
Tom baixo-ascendente < aâ >
Tom de nível baixo <aa>
39
tonais Alto e Baixo pode-se dizer que do ponto de vista gramatical ocorrem 5 níveis tonais a
saber: alto, ascendente, médio, baixo e descendente. O tom médio não tem sido descrito nos
materiais do Changana.
Concluído este capítulo sobre o quadro conceptual cujo objectivo foi de fornecer os principais
conceitos a serem utilizados neste estudo e uma revisão teórica sobre as pesquisas relacionadas
com a representação gráfica do tom. O capítulo que se segue ocupa-se dos pressupostos
metodológicos.
40
Capítulo III: Pressupostos Metodológicos
3.1 Introdução
produção desta dissertação. Para além da introdução (3.1), o capítulo tem os seguintes tópicos:
antecedentes da escolha do tema (3.2), trabalho de campo (3.3), selecção e perfil dos informantes
Existe muita literatura que discute como se constroem os pressupostos metodológicos de uma
forma geral (Eco 1992; Fortin 1999; Bogdan e Birklen 2012, Popart et alli, 2013) e no caso de
explicam os tópicos que devem figurar nesta etapa. Para esta dissertação, em função das
O interesse pela investigação da negação em Changana surge em 2009 nas aulas de Tipologia
das Línguas Bantu e de Interface Fonologia e Sintaxe orientadas pelos Professores Bento Sitoe e
Marcelino Liphola, respectivamente. A partir destas disciplinas entrámos em contacto com obras
Morfologia de Shimakonde de Liphola (2001) dentre outros tópicos discutidos foi crescendo em
mim o interesse de recorrer aos modelos empregues para testar as nuances tonais existentes na
língua. Observações preliminares sobre dados do tipo àhíyètlélí hí mhàká yá tìnsúná ‘não
41
dormimos por causa de mosquitos’ e áhíyètlélì mùrhándzìwá ‘durmamos minha querida’,
exemplos de corpus apresentado numa aula de Tipologia das Línguas Bantu, trabalho feito
juntamente com Berta Paulino, deram cada vez mais alento à necessidade de se pensar num
tópico relacionado com a negação visto que os conhecimentos anteriores indicavam, para além
de outros morfemas que a- e -i seriam os marcadores de negação. Ora, os dados já estavam a dar
pistas sobre algo mais que precisava de ser dita. Com efeito, a solidificação foi se dando no
tempo futuro em Changana’. A exposição às diversas fontes sobre o tom, aliada à nossa intuição
linguística como falante nativo desta língua, desempenhou um papel importantíssimo sobre a
decisão que fizemos. Portanto, mesmo depois da conclusão do Mestrado, o nosso enfoque
Como foi descrito na secção anterior, o trabalho de campo teve início formal quando começamos
a desenvolver textos com vista a apresentar este tema em seminários. A base inicial consistia
numa lista de verbos no Presente contrastando com a parte negativa. Através dos inputs que ia
recebendo, fomos ampliando o corpus para os outros tempos verbais (Passado e Futuro) e ainda
42
informação Aspectual (Perfectivo e Imperfectivo). Buscamos os pressupostos da teoria
fundamentada (grounded theory) defendida por Glaser e Strauss (1967) para a produção e análise
de dados. Segundo estes autores, a produção de dados é simultânea à análise. Ainda no que diz
respeito a este modelo, Poupart et alli (2012) referem que quando se trata de colecta de dados, e
questão da selecção dos dados de observação e na clarificação das anotações de campo. Por
distritos. Outros dados foram obtidos filologicamente, elicitação e por meio de introspecção que
não probabilístico. De acordo com Sampier (1997) as amostras não probabilísticas, as quais
arbitrário. Estes autores acrescentam que uma amostra não probabilística tem uma vantagem para
práticas. Do ponto de vista teórico há uma crítica recorrente em pesquisas centradas em pobres,
grupos étnicos, os desafortunados, mas que em contrapartida há muitos menos estudos sobre as
classes médias e superiores. Então, este estudo centra a sua atenção em consultores com nível
dados sistematizados tendo as seguintes categorias (i) idade, (ii) habilitações literárias, (iii)
43
naturalidade, (iv) residência, migrações entre o local de naturalidade e a residência actual e
(i) Idade
Os consultores linguísticos possuem idades que variam entre 32 e 54 anos de idade, ou seja, 1
consultor tem 32, 2 consultoras têm 37 anos, 1 consultor tem 47 anos e 1 consultora tem 54
anos.
3 nível de licenciatura nos seguintes cursos: Direito e História, Ensino de Português e Ensino
Básico.
(iii) Naturalidade
de Xai-Xai e 1 de Chibuto.
tipos de migrações uma forçada pela guerra de civil que opunha as forças do governo de
de escolas e emprego nas cidades. Discriminadamente 1 saiu de Gaza para Maputo em 1989
e fixou a sua residência, deslocando-se de vez em quando a Chókwè para cumprir certas
44
foram a Maputo frequentar os cursos superiores. Findo os cursos, 1 regressou a Manjakaze, 2
Maputo.
3.5 Métodos
Para a produção desta dissertação três métodos foram empregues: Filológico, elicitação e
introspecção.
De acordo com Severino (2000) e Ngunga (2002) o método filológico consiste na consulta de
fontes para a recolha de informação relevante sobre a língua em análise a partir de material
escrito existente. Para o efeito, foram recolhidas informações em monografias (Langa 2001),
gramáticas (Ribeiro, Ngunga e Simbine 2012), dissertações (Langa 2012, Hlungwane 2013),
Segundo Greenbaum (1984) o linguista cuja língua materna é sujeita à investigação pode
suplementar o corpus de dados a partir do seu próprio conhecimento da língua. Assim, alguns
45
Este método consiste em buscar os dados em falantes nativos podendo ser feito através de
estudar (Cheliah, 2001) Desta feita, para o presente estudo, os consultores tiveram que traduzir
certas formas verbais do Português para Changana e escolher certos significados em função dos
itens apresentados (v. Anexos 1-5). Primeiro distribuimos o questionário para os consultores
após o preenchimento e retorno tivemos uma conversa em separado com cada um deles para ter
acesso como liam os materiais. No caso da consultora Ezra Nhampoca dada a sua ausência no
que discute a interface entre a Morfologia e Fonologia (Kiparsky, 1982 e Mohan, 1989).
Para conferir a validade dos dados, certos procedimentos foram seguidos: Todos os consultores
linguísticos são falantes nativos do Changana, apesar de pertencerem a distritos diferentes, o que
de certo ponto confere a diversificação das variantes. Ainda, usam esta língua como meio de
com similaridades com os outros consultores. O capítulo que se segue faz a revisão da literatura.
46
Capítulo IV: Revisão da Literatura
4.1 Introdução
A língua Changana tem sido alvo de estudos ao longo dos tempos (Bleek, 1862; Koelle, 1854;
Sitoe, 1996, 2001 e 2011; Langa, 2001, 2008, 2012; Matsinhe, 2008; Ribeiro, 2010; Balate,
2011; Ngunga & Simbine, 2012). Estes estudos, na essência, são de dois paradigmas: (i)
descrição geral e (ii) descrição específica. Na descrição geral encontram-se estudos que fazem
referência às classificações da língua, dicionários e na (ii) descrição específica referem-se aos
estudos que focalizam tópicos específicos na língua.
Em seguida, faz-se uma breve referência a alguns estudos realizados cujos dados neles
constantes poderão posteriormente ser capitalizados nesta dissertação.
O autor publica um dicionário bilingue (Changana-Português) com 356 páginas sob chancela do
INDE. No dicionário, para além de um conjunto de pouco mais de 12.000 verbetes apresenta
uma secção breve de gramática desta língua. A versão revista e alargada deste dicionário surge
em 2011, sob a chancela da Texto Editores. Como a sua predecessora, reserva uma parte onde
fala sobre tom.
7
A revisão da literatura permite determinar o nível actual dos conhecimentos relativamente ao
problema de investigação em estudo e ainda determinar os conceitos ou teoria que servirão de
quadro de referência e, por fim, realça as forças e as fraquezas dos estudos examinados [Fortin,
1999:40].
8
Aqui far-se-á um resumo histórico de estudos feitos sobre a negação organizados em áreas:
Fonológica, Morfológica e Sintáctica
47
Em 2001, o mesmo autor estudou ‘verbs of motion in Changana’. Neste estudo, Sitoe apresenta
uma grelha de tempos verbais que julgamos pertinente a sua inclusão neste estudo sobretudo os
tempos negativos.
Tabela 6: Tempos na negação em Changana
Negativa MT MC MT2 MT3 MT4 MT5 BV MT6
Presente a hí tírh í
Pre. Sequencial hí nga tírh í
Pres. Exclusivo a h ó tírh í
Pres. Contínuo a h á há tírh í
Pres. Condicional ngí hí nga tírh í
Fut Seq hí nga tá tírh á
Fut 1 a hí nga tá tírh á
Fut 2 a hí nga t í tírh á
Fut 3 a hí nga tírh á
Fut Excl a hí nga t ó tírh á
Fut Cont a hí nga há tá tírh á
Fut Cond ngí hí nga tá tírh á
Pass Imm á h á há tá kú tírh á
Pass Exc a hí yó tírh á
Pass Pro a hí nga tírh í
Pass Prox Exc á hí ng ó tírh á
Pass Pro Cont á hí nga há tírh í
Pass Perf á hí sí tírh á
Pass Concl Perf a hí nga sí tírh á
Pass Seq a hí nga tírh ángá
Pass hí tírh ángá
Pass Hab a h á tírh ángá
Pass Cont a h á há tírh ángá
Pass Concl a hí nga tírh ángá
Pass Cond ngí hí nga tírh ángá
48
Optativo hi nga tírh i
Optativo Excl hi nga vó tírh a
Potencial a hi ng é tírh í
Fonte: Sitoe (2001:238)
Na tabela 6 estão indicados os morfemas negativos de um verbo de tom baixo -tìrh- e como se
constata, a vogal do radical passou a ser alta. Fazemos um estudo profundo sobre a negação no
VI capítulo.
Langa (2001) desenvolve um estudo sobre a reduplicação verbal em Changana empregando duas
abordagens nomeadamente morfológica e semântica. Na abordagem morfológica analisou a
formação de palavras e sua estrutura interna e na abordagem semântica interessou-se pelas
implicações ao nível dos significados da fala de ocorrência desses processos de formação de
palavras. Langa norteou o seu estudo à volta da hipótese segundo a qual a reduplicação verbal
em Changana independentemente do tipo da base em que actua serve ou para expressar o aspecto
iteractivo das acções descritas pelos verbos ou para expressar micro-repetições internas.
Langa, trabalhando com um corpus de 400 verbos9 em Changana, permitiu chegar às seguintes
conclusões:
base verbal.
parte reduplicada não seja novamente reduplicada, devendo depois, seguir as mesmas restrições
9
Dados obtidos pela combinação de quatro métodos: filológico, introspecção, observação
participante e de entrevista. [Langa, 2001:18]
49
As raízes verbais de estrutura de tipo - C-, não aceitam a reduplicação morfológica, e
que para exprimir a ideia de repetição ou frequência usam o mecanismo de adição do sufixo -
Sob chancela da editora Paulinas, Ribeiro (2010) publica um dicionário gramatical Changana
que cobre aspectos ligados a: (i) valores da linguagem e antroponímia, (ii) dicionário gramatical
changana e (iii) aspectos culturais do povo changana e problemática missionária. Em relação à
ortografia Ribeiro (2010:18) afirma que:
Sendo Changana uma língua basicamente grave e de vogais abertas,
torna-se desnecessária qualquer acentuação gráfica. As variantes
entre o e e o o abertos e semi-abertos são sujeitas a regras tão claras
que dispensam qualquer sinalização gráfica. (...) o acento tónico em
Changana cai invariavelmente na penúltima sílaba, fazendo com que
a gravidade seja a característica mais notável das palavras
changanas.
Estas afirmações categóricas têm o seu valor dada a sua disponibilização documental da língua.
Portanto, a ausência dos sinais que marcam o tom forçam as interpretações das frases como se
pode conferir em 29.
(29) amuxavele banci ‘comprou-lhe um casaco’
anitsalelile apapila ‘escreveu-me uma carta’
atisela bava ambuti ‘trouxe uma cabra ao pai’
[Ribeiro, 2010:35]
Na ausência do glossário as frases em (29) também podem ser lidas com significados seguintes
em (30).
50
(30) amuxavele banci ‘tinha lhe comprado um casaco’
anitsalelile apapila ‘tinha me escrito uma carta’
atisela bava ambuti ‘trazia um cabrito ao pai/ traz um cabrito ao pai.
Outro dado importante a ter em conta sobre a predizibilidade do alongamento vocálico numa
certa posição é quando não se está a falar em itens gramaticais. Os exemplos em (30), grosso
modo, podem ser reescritos da seguinte forma (31).
(31) aamuxavele banci ‘tinha lhe comprado um casaco’
aanitsalelile apapila ‘tinha me escrito uma carta’
aatisela bava ambuti ‘trazia um cabrito ao pai/ traz um cabrito ao pai.
Portanto, a questão do alongamento da vogal nesta língua também é um assunto que merece um
reexame cuidadoso. Valendo-se da nossa proposta na tabela (5), as frases (29) deviam estar
escritas da seguinte forma:
Importa referir que na proposta de Sitoe (2011) os verbos já aparecem indicados com a
informação tonal como se pode observar no corpus em (33).
(33) -bákányá v.t. 1. afastar (empurrar para o lado p.e. uma mão que nos põem em cima, ou
uma cortina). 2. parar (um golpe) desviar (um golpe) 3. rejeitar (fig.) [cf. -bákányísa].
-bákútá 1. v.t. tirar (com vertedouro, colher grande, etc.(líquidos) vazar (com vertedouro,
colher grande, etc.(líquidos) despejar (com vertedouro, colher grande, etc.(líquidos) 2. v.i. remar.
-bákútéla v.i.freq. remar. [cf. -bákútá].
-bala v.t. 1. escrever. 2. marcar (presenças para pagamento da jornada de trabalho) (Z) -
bhala.
-b'ala v.t. 1. dizer. Alava kub'ala yiní hí lesvo? Que quer dizer com isso? 2. contar.
Váb'álá tihomu rhangéni. Estão a contar o gado no curral. (Z) -bala.
-báléká II v.t.&i. fugir (de) escapar (de) desertar. sin. -tímélá.
-bálésá v.t. 1. ferir (com alguma coisa como pau ou pedra, abrindo feridas) ferir (com
arma de fogo). 2. disparar (arma de fogo) atirar (com arma de fogo).
51
-báléséla v.t. 1. ferir com arma de fogo. 2. disparar (arma de fogo) atirar com (arma de
fogo)
-balha v.i. suar transpirar.
[Sitoe, 2013:2]
Em (33) as vogais marcadas com o acento agudo (´) mostram o tom alto e as vogais sem
diacríticos são de tom baixo.
Recuperando os dados fornecidos em (30), devem doravante estar marcados tonalmente da
seguinte forma:
(34) âmùxàvélé bǎncì ‘tinha lhe comprado um casaco’
ânìtsálélílé pápílà ‘tinha me escrito uma carta’
âtísélá b’àvá mbútí ‘trazia um cabrito ao pai’
permitiram-lhe mostrar que a intervenção tonal é bastante crucial na marcação do tempo futuro
nesta língua.
52
distribuíam. Langa conclui que os morfemas, sobretudo TAM podem ser expressos quer por
segmentos quer através dos suprassegmentos.
O tom pode ser alto (A) e é contrastivo, tanto a nível lexical como
gramatical.
Em textos comuns, o tom será marcado apenas nos pares mínimos em
que, pelo contexto, não seja possível estabelecer a distinção de
significados. Nestes casos, o tom alto será marcado com acento agudo
sobre a vogal da sílaba portadora do tom baixo. Contudo, por razões
de economia,10 sugere-se apenas a marcação do tom baixo (por ser
geralmente mais raro que o alto), pelo que as sílabas de tom alto não
são marcadas [Ngunga e Faquir (2012: 231)]
(35) a. mamani wa wena asasekile ‘a tua mãe é bonita’ Ngunga & Faquir (2012:233)
b. b’anga ‘bar’ op. cit. pág.236
10
Sublinhado nosso.
53
A inserção dos tons nos dados em (35a,35b) resultam em outros significados como se observa
em caso (36a) e (36b).
(36) a. mámánì wá wèná âsásékílé ‘a tua mãe era bonita’
b. -b’àngà ‘tomar à força’
Ngunga e Simbine (2012) publicam um volume extenso de 310 páginas intitulado ‘Gramática
Descritiva da Língua Changana’. Esta gramática difere substancialmente da gramática de Ribeiro
pela sua estruturação e abordagem dos tópicos elencados: (i) Elementos de fonética, (ii)
elementos de fonologia, (iii) elementos de morfologia nominal, (iv) morfologia verbal, (v)
elementos de sintaxe, (vi) semântica e (vii) diversos fenómenos gramaticais e outros. Os autores,
antes de entrar nos aspectos específicos da gramática, fazem uma apresentação da língua
informando sobre a localização geográfica, número de falantes, variantes, estudos prévios11,
corpus e enquadramento teórico.
Relativamente aos elementos de fonética, os autores apresentam o quadro geral das vogais e
consoantes. No que diz respeito aos elementos da fonologia, para além de descreverem as regras
que envolvem as vogais (resolução de hiatos, harmonia vocálica), regras básicas aplicadas a
consoantes (pré-nasalização, labialização/velarização, aspirantização, aspiração); elementos
suprassegmentais, os autores enfatizam que no processo de transformação dos sons da fala em
sinais gráficos, a fonologia desempenha um papel primordial (Ngunga e Simbine, 2012:43).
Em relação à representação/marcação do tom, os autores apresentam duas abordagens: uma que
recorre a letras A e B (pág.71) e outra que recorre a diacríticos (pág.72). Quanto à abordagem a
seguir, Ngunga e Simbine (2012:73) afirmam que:
O uso do diacrítico reduz para a metade o espaço ocupado quando se
usa as letras A e B na marcação dos tons. Para evitar que o texto
esteja denso em termos de símbolos gráficos, o que pode dificultar o
11
Em parte servi-me da indicação dos estudos prévios referidos nesta gramática para procurar as
fontes primárias e sumarizá-las.
54
processo de leitura, também se toma uma decisão adicional sobre que
tom marcar na escrita entre os dois (caso apenas dois tons sejam
contrastivos, isto, é aqueles que contribuem na identificação de
palavras de significados diferentes) a escolha do tom a incluir na
escrita não é fácil de se fazer12, pois não pode ser aleatória.
A partir da discussão das duas propostas de abordagens na representação do tom na escrita pode-
se assumir que, efectivamente, ocorrem dois níveis tonais nesta língua. O capítulo que se segue é
sobre Fonologia Segmental.
12
Sublinhado nosso
55
Capítulo V: Fonologia Segmental, Tonologia Nominal e Tonologia
Verbal
No work has yet been carried out on the prosodic expression of focus in Xitsonga
[Zerbian, 2007:74]
Este capítulo examina Fonologia segmental, tonologia nominal e verbal em Changana para
gramatical (superfície). O exame começa por apresentar a Fonologia segmental para dar conta
dos sons existentes na língua. Serão apresentadas algumas singelas propostas dos sons que não
padronização das línguas moçambicanas. O destaque, no entanto, não será em segmentos como
tal uma vez que já existe uma extensa literatura a esse respeito (Nelimo, 1989; Sitoe, 1996, 2001;
2013; Langa, 2001, 2008, 2012; Ribeiro, 2010; Ngunga & Faquir 2011; Ngunga & Simbine,
nominal em que os itens lexicais estão sistematizados numa tabela de acordo com as classes
nominais. À semelhança dos dados apresentados na fonologia segmental, a análise incide sobre o
comportamento do padrão tonal. São apresentadas algumas regras básicas do padrão tonal
encontradas nos nomes. Apesar de os verbos poderem ser tratados como nomes no âmbito das
classes nominais, reserva-se uma secção específica sobre a tonologia verbal devido à sua
complexidade estrutural (cf. Hyman & Byarushengo, 1984:58). Aliás, o exame da negação que
constitui pano de fundo deste estudo só pode ser feito à luz da tonologia verbal. Paralelamente, à
56
análise do comportamento tonal em verbos não derivados, uma atenção será dada às extensões
verbais e, como proposta inovadora sobre este ponto, são utilizados os pressupostos da teoria de
5.1.2 Vogais
Existe um consenso entre os bantuistas de que a maior parte das línguas bantu apresentam um
um número variado de consoantes (Meeussen 1967). De acordo com Hyman (2003:45) enquanto
o PB tinha um sistema vocálico de 10, a maioria das línguas bantu faladas em áreas largas e
As 5 vogais presentes nesta tabela (5) podem ocorrer em todas as posições de palavra e sendo
57
As 5 vogais do Changana
-dùdà ‘fazer muito dinheiro; ter muito dinheiro num dado momento’
Langa (2012:58)
tons alto e baixo. As vogais, como foi sistematizado na tabela 5 do capítulo II, podem ser
portadoras de tons ascendente, descendente, médio nos diversos contextos fonológicos. Como
58
afirma Langa (2012: 59) a duração vocálica não é relevante nesta língua, pois não contrasta
significados.
Para dar conta do fenómeno do alongamento vocálico nesta língua, Langa (2012) recupera os
dados presentes em (37) e mostra a posição silábica em que ocorre a vogal longa.
-dùùdà ‘fazer muito dinheiro; ter muito dinheiro num dado momento’
Langa (2012:58)
59
kùyètlèlì:sà ‘fazer dormir’
kùyètlèlà:nà ‘dormirem-se’
[Manus, 2014:162]
Os dados em (38a) revelam que o alongamento vocálico, nesta língua, é predizível ocorrendo na
penúltima sílaba do radical como acontece em muitas línguas bantu13 documentadas. Quanto à
informação tonal, os dados (37) e (38) estão marcados por diacríticos indicando que são
predizibilidade da vogal longa tal como foi visto por Hyman (2013:195) nos dados de Shona. Os
dados em (38c) são da língua Shimákonde que mostram o mesmo fenómeno do alongamento
13
Diversas línguas tem proeminência automática na penúltima sílaba, realizando a vogal como longa ou local de
perturbação o qual pode ser referido como acento. [Kisseberth and Odden, (2003:59)]
60
Em Changana, o alongamento vocálico não é contrastivo como em Yao, Emákhuwa e outras
Os dados em (39a-b) mostram que o contraste breve/longo marca distinção dos significados em
Yao e Lulamogi. Comecemos por itens lexicais com vogais breves na penúltima sílaba do
radical.
kucima ‘odiar’
kusoma ‘picar’
kuputa ‘apagar’
[Hyman, 2015:167]
Assim, quando as mesmas sequências descritas em (39a-b) apresentam a vogal longa tem
consequências do ponto de vista de significado como se pode conferir nos dados em (40a-b).
61
kupeeta ‘peneirar’
kuciima ‘ofegar
kupuuta ‘bater’
[Hyman, 2015:167]
omela ‘germinar
omila ‘assoar’
orula ‘despir’
A duração vocálica, nestas línguas, é contrastiva, isto é, há palavras que só são diferentes porque
uma tem uma vogal longa numa certa posição e outra tem uma vogal breve na mesma posição
62
em que a primeira tem vogal longa. Os dados em (41) mostram o contraste com os dados em (42)
omeela ‘repartir’
omiila ‘entornar’
oloola ‘curar’
Os dados fornecidos em (37) e em (38) não são contrastivos uma vez que em Changana não
recorre ao alongamento vocálico para contrastar significados diferentemente dos dados (39-42)
das línguas Yao e Emákhwa cujas contrastividades breves/longa têm implicações semânticas.
suprassegmental, todas as vogais podem ocorrer com os níveis tonais alto, ascendente, médio,
63
Tabela 8: vogal <e> com os níveis tonais
Tipo de tom Forma de repres. Exemplo Gloss.
Alto [é] pétsà ‘dobre’
Ascendente [ě] hěmbè ‘camisa’
Médio [e] mùsveki ‘cozinheiro’
Baixo [è] mùpèndì ‘pintor’
Descendente [ê] sê ‘já/depois’
Fonte: Elaborada pelo autor
Tabela 9: vogal <i> com os níveis tonais
64
Tabela11: vogal <u> com os níveis tonais
Tipo de tom Forma de repres. Exemplo Gloss.
Alto [ú] phúzà ‘beba’
Ascendente [ŭ] vhŭsà ‘alerte’
Médio [u] í nkulù ‘é grande’
Baixo [ù] xìsànù ‘chissano’
Descendente [û] xìvávûlá ‘canícula’
Fonte: Elaborada pelo autor
As tabelas 7-11 sistematizam a ocorrência dos níveis tonais em todas as vogais. Depreende-se
das tabelas que os tons médio, ascendente e descendente são resultantes de assimilação tonal,
depressão tonal, propagação ou fusão de tons. Assim, para efeitos práticos sou a favor da
indicação dos dois tons na escrita alargada o Alto e Baixo e uma especificação tonal para
documentos técnicos cujo objectivo principal seja a indicação dos níveis tonais. A seguir
descrevem-se as consoantes do Changana.
5.1.3 Consoantes
Tabela 12. Consoantes de Changana
Descrição e exemplos
Grafema
SF
kùb’óphá‘amarrar’
65
kùdídíyélà ‘ferimentar’
ɗ d’ d’e Oclusiva alveolar vozeada com ar faringal inspirado. d’àzànànà ‘tapado, não
kùfényá ‘pentear-se’
‘lata’
h h he Fricativa glotal não vozeada com ar pulmonar expirado. háhàní. 'tia’, kùhòlà
‘receber’
14 kùjìmà ‘virar’
ŋ n’ n’e Nasal velar com pulmonar expirado. n’anga ‘curandeiro’, kun’oka ‘derreter’
man’ini ‘boato’
kupepa ‘refrescar’
14
Penso que por lapso, os autores colocaram ɫ. Cf. Ngunga e Faquir 2011:28.
66
‘tocador de apito’ kùqòndhà ‘apontar’
t t te Oclusiva alveolar não vozeada com ar pulmonar expirado. tùvà ‘rola’ kùtívá
‘saber’
xìfùfùnhùnù ‘joaninha’
‘detestar’xìzìvá‘remendo’
apresentam estrutura tonal semelhante quando se trata de prefixos de classe 7 (xì-) e 15 (ku-)
cujas vogais apresentam tom baixo. Para além das consoantes alistadas nesta tabela, Changana
dispõe de outros sons que não se podem representar por grafemas simples (Ngunga e Faquir
67
Tabela 13. Dígrafos do Changana
Descrição e exemplos
Desg.
Letra
SF.
g! gq gqe Implosiva velar vozeada com ar bucal inspirado (clique) mùgqòmú ‘lata’
mùgqìvélà‘sábado’
ɬ hl hl Fricativa lateral não vozeada. kùhlànyà ‘ser tolo’ kùhlùphà ‘fazer sofrer’
68
pfh pfh pfh Africada labio-dental não vozeada aspirada. kùpfhányá ‘arrombar’
kùpfhùmbà ‘adivinhar’
pʂh psh psh Africada labio-alveolar aspirada. Kùpshùkà ‘ser vermelho’ kùpshítélá
e ‘cuspir’
tl tl tle Africada lateral alveolar não vozeada. kùtlútá ‘remar’ kùtlúlá ‘saltar’
tlh tlh Africada lateral alveolar não vozeada aspirada. kùtlhèlà ‘voltar’
(apelido)
A tabela (13) mostra os grafemas combinados que representam uma única consoante. São
combinações de duas ou três consoantes. Similarmente aos dados da tabela (12), a estes dados
(13) está incorporada a informação tonal o que difere da fonte primária. Existe, nos dados
alistados na tabela (13), uma maior predominância de tom Baixo e Alto. A seguir apresenta-se a
tonologia nominal. Para o efeito elaborou-se uma tabela colocando os itens lexicais em classes
nominais.
69
5.2 Tonologia Nominal
Tabela 14: Classes nominais em Changana
1ª Ø háhànì Tia
10 t- tìqòdóvà sovelas
16 ha- hàlénò Cá
70
Os dados que aparecem na tabela (14) revelam que em Changana existe um padrão tonal similar
nos prefixos de classe, o que confirma o estudo de Clements (1984)15 que ao estudar os
nesta língua eram do tom baixo. Ainda, em relação às outras sílabas o padrão tonal também não
é o mesmo. Há certas palavras que apresentam tom alto na penúltima sílaba e outras cujo tom
alto e ou baixo ocorrem na última sílaba da palavra. Para não se cair em erros de generalização,
os dados que se seguem mostram como se comporta o tom numa determinada classe nominal. Os
dados estão organizados de acordo com a estrutura -C-, -CG-, -CVC- e –CVCVC16- tendo em
conta os pares das classes nominais. Nesta primeira secção, a concentração será feita apenas nas
classes onde é possível estabelecer singular e plural para comparar os níveis tonais dos dois itens
lexicais. Mais adiante, reserva-se uma secção específica para lidar com a tonologia verbal. Para o
15
É preciso assinalar que os prefixos nominais são de tom baixo. Clements (1984:284-285)
16
Depois de um exame minucioso concluímos que estaria a ser muito repetitivo ao descrever o comportamento
tonal de todas as classes, pois numa mesma classe nominal ocorrem padrões tonais diferentes. Desta feita, os
dados referentes à descrição das outras classes nominais estão em anexo.
71
mùbí 17 ‘aquele que bate vàbí ‘aqueles que batem’
Os dados revelam que, os nomes da classe 1 e 2 com radical -C- apresentam tom baixo no
prefixo de classe diferentemente das sílabas finais em que alguns nomes têm tom baixo e outros
tom alto. Em (44) mostram-se os dados da mesma classe com estrutura do radical -CG-.
Os dados presentes em (44) mostram a invariabilidade tonal entre nomes de classe 1 e de classe
2.
17
mûbí ‘bate-no’ / vâbí bate-nos
18
Na essência, os nomes presentes neste corpus podem ser parafraseados por ‘aquele que’. Dai o surgimento
da(s) palavra(s) amanhecedor(es).
72
mùlôyì ‘feiticeiro’ vàlôyì ‘feiticeiros’
padrão tonal quer no singular quer no plural, ou seja, as sílabas são do tom baixo. Com efeito, em
(45b) os dados mostram o tom alto nos prefixos de classe. Registam-se diferenças entre as vogais
finais dos dois dados. Em wánúná/vávànúná não se aplica a regra de propagação não final
seja, -CVCVC- têm padrões tonais diferenciados. Em (46a) o tom que se verifica no radical é
descendente, em (46b) é baixo e em (46c) é alto e baixo. A partir destes dados é possível afirmar
que em Changana os padrões tonais não são influenciados pela estrutura do radical, pois nomes
com radicais similares podem apresentar estruturas tonais diferentes, ou seja, raízes nominais
73
A secção que se segue faz um exame sobre a tonologia verbal do Changana. Reservou-se uma
parte específica devido a complexidade que esta categoria oferece (Hyman e Byarushengo, 1984;
Nurse, 2003).
2013. A organização obedeceu a um critério tonal. Os verbos de tom baixo por um lado e do tom
alto por outro. Este fenómeno de verbos de tom baixo e tom alto já tinha sido estudado noutras
línguas como em Sotho (Zerbian, 2006); em Kijita (Cassimjee e Kisseberth, 1998) e em Ikalanga
go lwa ‘lutar’
go hlaba ‘atirar’
go tlogela ‘partir’
go dumedisa ‘saudar’
go fá ‘dar’
go ráta ‘amar’
go bóloya ‘matar’
go khúrúmetsa ‘cobrir’
Como se pode observar em (47)19, os verbos em Sesotho podem ser de tom alto (47a) ou de tom
baixo (47b) tal como ocorre em Kijita (Cassimjee e Kisseberth, 1998). Os dados presentes em
19
As vogais sem diacríticos são de tom baixo.
74
(48) a) verbos do tom baixo
okubuma ‘bater’
okubóna ‘ver’
À semelhança do que ocorre nos verbos em Sotho, os verbos em Kijita fornecidos em (48)
apresentam diferenças tonais, uns são de tom baixo (48a) e outros são de tom alto (48b).
dados em (49).
kuuwa ‘cair’
kuuna ‘chover’
kushaluula ‘escolher’
kuuchá ‘temer’
kuupá ‘dar’
kutúúká ‘insultar’
Os dados em (49) mostram que há verbos em que todas as sílabas são de tom baixo (49a) e
O contraste entre radicais de tom baixo e de radicais de tom alto relaciona-se com o Proto-Bantu
(Odden, 1998). O Changana, pelos dados descritos abaixo, mostra que conservou a distinção
75
No corpus que se segue são sistematizados dados dos verbos em Changana recolhidos em
elicitação é usualmente o infinitivo formado por prefixo nominal de classe 15 (kù) mais o tema
verbal. A razão para esta iniciação prende-se com o facto de consitituir um ambiente natural que
não é marcado pela flexão tonal’ Marlo (2013:9). O tracinho antes das bases verbais deve ser
interpretado como marca do infinitivo classe 15 (kù-) que tem tom baixo. Ao material
apresentado acrescenta-se a representação do tom baixo através do diacrítico (`) uma vez que na
-dzòndzòmèlà ‘afundar-se’
-làndzà ‘seguir’
-lòlòsà ‘aproveitar’
-dókádókísánà ‘debater’
Os verbos fornecidos em (51) apresentam tom alto excepto a última sílaba que tem tom baixo.
-ákísá ‘ reconstruir’
76
-phókótá ‘bater palmas’
-phóndlá ‘arrombar’
-nkékélá ‘cacarejar’
-kúngélá ‘enrolar’
-hlóngólá ‘perseguir’
Os verbos fornecidos em (52) são de tom alto. Apresentados os dados e analisados todos os
verbos do Changana no material em alusão, verificam-se três tipos de verbos (i) com tom baixo
(50), (ii) com tom alto excepto a última sílaba (51) e com tom alto (52). Também foi possível
concluir que não existe uma correlação entre a estrutura verbal e os níveis de representação tonal.
B B B B
A A A B
AAA
77
5.3.1 Estrutura do verbo
Diversos estudos que se ocupam das línguas bantu (Katamba, 1990; Odden, 1996; Hyman, 1997;
Ngunga, 2004) só para citar alguns exemplos, reconhecem que o verbo é a categoria gramatical
mais complexa em comparação com o nome. Para este facto, concorrem duas razões: (i) o verbo
infixação.
Não obstante observarem-se ligeiras diferenças estruturais das diversas propostas sobre a
estrutura verbal, Meeussen (1959) reconhece que o verbo apresenta semelhanças em muitas LB
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Segundo a estrutura verbal (tab.15) proposta por Meeussen (1959), simplificado por Nurse
(2008), Hyman (2007) observa-se que o lugar mais à esquerda do radical é reservado aos
prefixos pré-inicial (1), inicial (2), pós inicial (3) marca de objecto (4) infixo (5) enquanto mais à
Nurse (2008), muito recentemente, quase resgata a proposta de Meeussen (1959) e adopta a
78
Tabela 16. Estrutura do verbo em LB segundo Nurse (2008)
pré- Inicial pós- Formativo limitativo infixo radical sufixo Pré- Vogal
1 2 3 4 5 6a 6b 6c 7 8
Na posição 4, que Meeussen designa por marca, Nurse codifica como formativo; a posição 5 é
ocupada por infixo no esquema de Meeussen enquanto Nurse chama de posição 6a; a posição 6
para Meeussen é apenas ocupada pelo radical enquanto Nurse subdivide-a em três partes: 6a
infixo, 6b radical, 6c sufixo (extensão). Para Meeussen a posição 7 é ocupada pelo sufixo
partir da proposta de Meeussen (1959). Hyman reduz as 9 posições para 6 como se pode
1 2 3 4 5 6
Hyman (2007) afirma que o estatuto do pré-tema é menos claro no Proto-Bantu, generalizando
para as línguas Bantu actuais. Para ele, a proposta elaborada por Meeussen (1959) não está
79
suficientemente clara se a posição 1 na tabela 15 é ocupada por um constituinte ou é formada por
Liphola (2001) capitaliza os esquemas apresentados por (Odden, 1996 e Downing, 1997)
constituintes internos como mostra o esquema (A) do verbo na página que se segue.
Verbo
Va-ka-si tu guguval íl a
Liphola (2001) indica que o macro-tema inclui o tema e os prefixos de objecto. O tema, por sua
vez, inclui o radical (-guguval-) e sufixos derivacionais ou extensões (-il) e a vogal final (-a).
Enquanto as estruturas verbais indicadas nas tabelas em (15-17) mostram apenas a ordem linear
80
(B) Estrutura verbal em LB segundo Ngunga (2004)
Verbo
Pré-Tema Macro-Tema
Tema F
Tema D
Ngunga propõe três níveis de tema, a saber: macro-tema, tema F e tema D enquanto Liphola
Existem duas abordagens sobre a estrutura do verbo em LB. Uma apresentada por Meeussen,
Nurse e Hyman que se preocupa com as relações lineares de constituintes internos do verbo.
A segunda abordagem apresentada por Liphola (2001) e Ngunga (2004) mostra que existe uma
autores concordam que em LB, o verbo aglutina um conjunto de elementos que estabelecem um
internas da estrutura como tal, mas na forma como cada modelo teórico específico tenta captar as
81
(C). Estrutura verbal em Changana
Verbo
ní-ngà-tá mú vón él á
Como se pode observar na estrutura verbal em Changana (C), esta apresenta os prefixos
flexionais constituídos por morfemas marcadores de sujeito ní-; morfema marcador de negação -
ngá-; morfema marcador de tempo futuro -tá-. No macro-tema observa-se o prefixo de objecto -
mu- e tema com radical -vón-, extensão -el- e, por fim, a vogal final -á.
radical enquanto a marca de objecto na posição anterior como está assinalado em (C). Feita esta
sistematização sobre a estrutura verbal, segue-se o exame tonal dos verbos com extensões20. Tal
20
Sobre extensões verbais em Changana v. Sitoe, 2009 e Langa 2001, 2012 e 2013.
82
como foi visto nos dados (50-55), os verbos em Changana agrupam-se tonalmente em três
categorias. O exame dos dados extraídos em Langa (2012) que a seguir se apresenta pretende
verificar em que medida os padrões tonais de um verbo pode ser ou não afectados pela extensão
verbal.
restringir-se-á aos estudados por Baker (1988) recorrendo ao modelo CARP (causativa-
aplicativa-recíproca-passiva).
-dzòndzòmèlà ‘afundar-se’
-làndzà ‘seguir’
-lòlòsà ‘aproveitar’
83
-dzòndzòmèlèlà ‘afundar-se para’
Os dados em (56a) fazem referência aos verbos de base e são de tom baixo tal como já tinha sido
descrito em (50). O mesmo acontece com os verbos fornecidos em (56b-e) apesar de possuírem
extensões. A partir destes dados é possível concluir que os verbos de tom baixo no infinitivo
permanecem com o mesmo padrão tonal quando lhes são acrescidas as extensões verbais. O
exame que se segue dá conta de verbos da segunda categoria tonal, ou seja, os que têm tom alto
kálákásà ‘irritar’
84
kókómólà ‘lamentar’
ndzúlúkélà ‘girar’
níngíníkà ‘abanar’
85
kókómólánà ‘lamentar um ao outro’
Os dados em (57a) fazem alusão aos verbos de base e são de tom alto excepto a última sílaba que
é do tom baixo. Os dados fornecidos em (57b-e) dizem respeito aos verbos da mesma categoria,
mas com extensões verbais. Nota-se que as extensões verbais não alteram a estrutura tonal do
verbo de base. Finaliza-se este capítulo com dados relativos aos verbos de tom alto com as
extensões verbais.
-phóndlá ‘arrombar’
-nkékélá ‘cacarejar’
-kúngélá ‘enrolar’
-hlóngólá ‘perseguir’
86
b. -ákísá ‘fazer construir’
87
e. -ákíwá ‘ser construido’
-kúngélíwà ‘enrolar’
Os dados fornecidos em (58a) dizem respeito aos verbos de base e são de tom alto pertencentes à
terceira categoria do ponto de vista tonal. Os dados apresentados em (58b-e) têm extensões
verbais. Observando cuidadosamente todas as extensões verificam-se dois padrões, (i) que
mantêm os níveis tonais e (ii) que altera o nível tonal da última vogal, ou recorrendo à
terminologia de Meeussen (1961:226) teríamos pós-radicais com tom alto e pós-radicais com
tom baixo. Fazem parte do padrão (i) as extensões verbais causativa, aplicativa e passiva, desde
que o radical não exceda duas sílabas; do padrão (ii) faz parte a extensão recíproca e as extensões
causativa, aplicativa e passiva, com verbos de radical com 3 sílabas ou mais. Fez-se um exame
de literatura que aborda as extensões verbais para descobrir quais são os seus níveis tonais e nada
está indicado.
Apesar de se ter verificado a alteração do padrão tonal em extensão recíproca nestes verbos de
tom alto, conclui-se que em Changana existem três categorias de verbos do ponto de vista tonal
nomeadamente: os que têm tom baixo, os que têm tom alto excepto a última vogal (que tem tom
baixo) e os que têm tom alto. Outra constatação verificada é que o comprimento do radical
parece que influencia no padrão tonal quando se lhe agrega a extensão, ou seja, os verbos de tom
88
alto com mais de três sílabas têm tom baixo na vogal final diferentemente dos verbos que têm
menos de três sílabas no radical que permanecem com tom alto na vogal final. O capítulo que se
89
Capítulo VI: Negação Morfo-tonológica em Changana
6.1 Introdução
uma combinação de domínios morfológicos e tonológicos. Tal como foi dito no capítulo I, a
negação será examinada vis-à-vis Tempo e Aspecto, partindo de verbos de tom baixo,
perpassando pelos de tom alto e, por fim, extensões verbais. Também será feito um exame tonal
com todos os elementos gramaticais aglutinados ao verbo para se compreender se não terão
Os dados a serem examinados neste capítulo foram obtidos pela combinação de métodos:
entrevistas.
Após esta breve nota introdutória, segue-se uma apresentação de estudos anteriores sobre a
negação em Changana.
No capítulo III fez-se uma referência aos estudos da negação no geral. Nele foi visto que a
negação nas diversas línguas do mundo obedecia a três critérios: o emprego de (i) partículas
negativas, (ii) afixos negativos e (iii) auxiliares negativos. A negação que constitui objecto do
abordagem morfémica é desenvolvida desde Meinhof como sistematiza Petter (2004:268). “C.
Meinhof (1906-1948 ) foi o primeiro estudioso a reconstruir os morfemas negativos *ka, *nka,
*ta, *nta, sem todavia precisar nem o modo nem a posição em que aparecem. Segundo ele, o
morfema de tipo –si atestado no domínio banto, derivaria de *ka; assim a sequência *-ka-ni- teria
chegado a –si-. Por outro lado, o autor assinala que a simetria entre o negativo e o afirmativo não
90
é sempre perfeita. Essa observação coloca em questão o estatuto geral da negação em línguas
(1919), retoma o essencial das conclusões de seus predecessores, propondo a seguinte hipótese: a
dissimetria entre o negativo e o afirmativo teria sido total em proto-bantu; algumas línguas
afirmativa. Meeussen (1967) reconstrói não só os morfemas negativos, mas também os outros
morfemas da conjugação negativa (finais e formativos): pré-iniciais *ka- e *ta- (indicativo), pós-
inicias *tí- (subjuntivo) e *-ta- (em orações relativas e com o infinitivo); finais *-i (indicativo
Esta abordagem foi e continua recorrente nas línguas bantu em que sempre se indicou o lugar dos
morfemas negativos no modelo verbal. Desta feita, o mais recente de todos é o de Nurse (2003)
a u nga ta xi von is a
Neg MS Neg MT MO Rad Ext Vf
não farás ver algo
Fonte: Elaborada pelo autor
então os estudos, mesmo com dados que dão pistas sobre outra informação a acrescentar,
limitaram-se, sobretudo nos morfemas. Este estudo assume esta abordagem, mas acrescenta a
informação suprassegmental, pois sem a informação tonal num mesmo segmento é possível ter-
se leituras do tipo:
91
d. amungataxivonisa ‘não iriam fazer ver’
A negação em Changana tem sido referida nos estudos feitos por missionários (Ribeiro, 1965) e
por linguistas moçambicanos (Sitoe, 1996; Ngunga, 2004; Ngunga e Simbine 2012; Langa,
2012).
tempos compostos, a negação é feita pelo verbo auxiliar e o verbo principal não toma a
desinência negativa. A seguir são apresentados exemplos de negação segundo este autor.
Os dados (60a,60b) estão a negrito dando logo uma ambiguidade para o leitor. Em (60a) como
relação ao dado (60b), no entanto, ocorre dois /i/ sem o morfema -anga.
92
(61) ndzìngevoni
ùngànghenì. ùngàji tàndza lèrì. ‘não entre. não coma este o ovo.’
Os dados presentes em (61) mostram os morfemas negativos. Neles é comum o morfema –ngà
antes do radical e -anga após o radical. A repetição do morfema -anga na terceira pessoa é uma
estratégia semântico-fonológica que garante o valor da negação pois caso contrário ficaria na
afirmativa.
(62) àndziji nyama ‘não como carne, não estou a comer carne’
Em (62) estão indicados dados referentes à outra forma de marcação de negação que Sitoe
(1996) encontra em Changana. Diferentemente dos dados fornecidos em (61), estes não
aprensentam o morfema -ngà/-anga. Embora o autor não discuta com profundidade a questão da
negação, vê-se a priori que reconhece a pertinência de inclusão da informação tonal facto que se
verifica no dicionário. Todos os dados (61,62) estão em tempos e modos diferentes, daí a
De acordo com Ngunga (2004); Ngunga e Simbine (2012:141) a marca de negação ocupa
por três verbos na afirmativa e negativa onde assinalam as marcas de negação nos tempos
93
Passado hilumile ‘mordemos’
hijile ‘comemos’
svifile ‘morreram’
haja ‘comemos’
svafa ‘morrem’
svitafa ‘morrerão’
A partir dos dados em (63), Ngunga e Simbine (2012: 142) chegam a três conclusões, as mesmas
de Ngunga 2004, em função dos tempos gramaticais: (i) no tempo passado a marca de negação é
afixo descontínuo a- -nga, (ii) no presente a marca de negação é o afixo descontínuo a...-i e (iii)
no tempo futuro a marca de negação é o afixo descontínuo a-...-nga-. Os dados examinados mais
adiante confirmam estas conclusões porém se lhes acrescentar a informação tonal na maioria dos
94
6.2.4 Negação em Changana segundo Langa (2012)
Langa (2012) tem uma secção onde examina a negação em Changana. O autor defende que a
negação é expressa morfologicamente através de morfemas, que por sua vez, variam de acordo
com o tempo verbal (pág.44). Numa primeira fase, põe em discussão os templates de
representação do verbo em línguas bantu. Por um lado, coloca os que defendem um ordenamento
linear dos morfemas (Meeussen, 1967 e Mutaka e Tamanji 2000) e por outro a apresentação
hierárquica dos constituintes (Ngunga, 2004 e Liphola, 2001). Também aponta a divergência nos
usada.
Ao examinar o tempo passado na forma negativa, Langa encontra dois padrões: (i) à...-ngà com
nomes das classes (3-10) e (ii) –ng- -ngà com nomes das classes 1 e 2. Com efeito, o exame mais
aprofundado sobre a negação nesta língua mostra que os padrões vão para além destas
constatações. Aliás, num exercício rápido com dados introspectivamente elicitados do verbo -dlá
‘comer’ nos tempos primários (presente, passado e futuro) indicam que o fenómeno da negação
incluindo a informação tonal amplia as conclusões de Langa como ilustram os dados (64-66).
(64)
95
avádlí ‘não comem’ avadlángá ‘não comeram’ avángatádlá ‘não comerão’
Os dados em (64a) indicam a negação no presente. É preciso assinalar que a marcação tonal é
similares, mas com tons diferentes resultam em interpretações positivas como em : juze áte anídlí
Os dados em (64b) indicam a negação no passado. Diferem dos dados do presente por possuírem
-ng- uma vogal final (-á) com tom alto. Na 3ª pessoa, o tom é tão relevante pois o distingue
Em (64c) estão apresentados dados relativos à negação no tempo futuro. Similarmente ao tempo
passado também apresentam o morfema -ng-. Importa referir que é possível obter-se o futuro
apagando o morfema -ta-. Aliás sobre este assunto há dois fenómenos que podem ocorrer (i)
(65a) (65b)
Em (65a) a negação no futuro ocorre sem o morfema a- e em (65b) a negação no futuro ocorre
sem os morfemas a- e o morfema -ta-. Ademais é possível termos o morfema -nga- sem que
96
(66)
Os dados em (66) revelam mais uma vez que a informação segmental desprovida de informação
tonal pode precipitar a descrição do fenómeno da negação em Changana uma vez que ocorre a
Em conclusão, não se pode legitimar a negação apenas pela simples presença dos morfemas a-, -
ng- como se tinha concluído em Ribeiro 1965; Sitoe, 1996; Ngunga, 2004; Ngunga & Simbine,
segmentar os morfemas para podermos captar todas as nuances envolvidas. Longe de seguirmos
padrões puramente gramaticais inicia-se o exame com todas as pessoas gramaticais, mas por
motivos metodológicos de controlo de variável será afinado mais tarde o escopo apenas para a 3ª
pessoa do singular dada a sua diferenciação com as demais pessoas gramaticais quer na
constituição morfémica interna quer no padrão tonal. Aliás, a base para uma teorização
consolidada parte necessariamente pela descrição de muitos dados e depois com poucos dados se
pode fazer uma generalização. Como se fez referência na introdução deste capítulo, a negação
97
será examinada vis-à-vis Tempo e Aspecto contrapondo com a parte afirmativa a iniciar com
Estes dados (67) mostram que a forma positiva tem o tom baixo no prefixo de MS, excepto na 3ª
pessoa (sg e pl.) cuja MS tem o tom alto. O tom alto de MS da 3ª pessoa é duplicado para a
primeira vogal do radical. Nas formas negativas, todas as vogais na posição inicial têm o tom
baixo, mas todas as vogais na antepenúltima sílaba têm o tom alto, excepto na primeira pessoa do
Os dados fornecidos em (67) são exemplos de um verbo de tom baixo conjugado em todas as
entre si. Entre segunda e terceira pessoas na positiva/afirmativa registam-se semelhanças ao nível
dos elementos segmentais e diferem entre si ao nível suprassegmental. Na segunda pessoa, temos
tom baixo e na terceira tom alto. Os níveis tonais verificados na forma afirmativa são diferentes
dos verificados na forma negativa. Na afirmativa temos tom baixo excepto na 3ª pessoa do plural
98
híngàxávà ‘que compres tu’
conforme foi descrito nos capítulos anteriores e, sobretudo na parte inicial deste capítulo,
indicam forma afirmativa. As vogais iniciais de todas as pessoas gramaticais apresentam tom alto
que só se propaga na 1ª pessoa (sg), 3ª pessoa (pl) de igual forma, ou seja, de primeira vogal
inicial à esquerda até penúltima vogal. Todas as vogais finais apresentam tom baixo.
afirmativa negativa
Os dados fornecidos em (69) revelam que todos os verbos na forma positiva têm o tom baixo,
excepto a 3ª pessoa gramatical que tem o tom alto na primeira vogal do radical. O tom alto
associado à primeira vogal do tema verbal duplica para a vogal seguinte dando uma sequênci de
dois tons na superfície. As formas negativas de (69) exibem o tom baixo em todas as vogais
iniciais do verbo, mas a vogal seguinte da penúltima sílaba tem o tom alto que afecta a última
99
(70) a. Mànyìsà átè ànítí lànà ‘O Manhiça disse que eu não viesse aqui’
b. Mànyìsà átè Mùndàwù àngátí lànà ‘O Manhiça disse o Mundau que não viesse
aqui’
Mànyìsà átè Mùndàwù ángátí lànà ‘O Manhiça disse que o Mundau fosse ai’
c. Mànyìsà átè áhítì lànà ‘O Manhiça disse que nós viessemos aqui’
Mànyìsà áté áhítí láná ‘O Manhiça disse que nós não vínhamos
aqui’
diferenças registam-se ao nível suprassegmental. Em (70a) a vogal inicial do verbo tem tom
baixo diferentemente da vogal seguinte que tem tom alto que se duplica na vogal seguinte por
sinal a última. Na segunda frase o verbo apresenta tom alto na primeira sílaba que se propaga até
ao fim da palavra.
Em (70b) verifica-se o mesmo padrão descrito em (70a) ao passo que em (70c) apenas a vogal
final do verbo na positiva é que tem tom baixo. regista-se duplicação tonal no primeiro caso e
No capítulo V fez-se um exame tonal sobre os verbos com extensões. Foram tiradas algumas
afirmativa e negativa.
100
Presente habitual -khàvìsà ‘fazer chutar’
afirmativa negativa
wènà wàkhàvìsà ‘tu fazes chutar’ wènà àwúkhàvísí ‘não fazes chutar’
hìnà hàkhàvìsà ‘nós fazemos chutar’ hìnà àhíkhàvísí ‘não fazemos chutar’
n’wìnà màkhàvìsà ‘vocês fazem chutar’ n’wìnà àmíkhàvísí ‘não fazem chutar’
vònà vákhávísà ‘eles fazem chutar’ vònà àvákhàvísí ‘não fazem chutar’
afirmativa negativa
hìnà hàkhàvìwà ‘nós somos chutados’ hìnà àhíkhàvíwí ‘não somo chutados’
n’wìnà màkhàvìwà ‘vocês são chutados’ n’wìnà àmíkhàvíwí ‘não são chutados’
vònà vákhávíwà ‘eles são chutados’ vònà àvákhàvíwí ‘não são chutados’
afirmativa negativa
mìnà nàkhàvìsìwà ‘sou feito chutar’ mìnà àníkhàvísíwí ‘não sou feito chutar’
101
wènà wàkhàvìsìwà ‘tu és feito chutar’ wènà àwúkhàvísíwí ‘não és feito chutar’
yènà wákhávísíwà ‘ele é feito chutar’ yènà àngákhàvísíwí ‘não é feito chutar’
hìnà hàkhàvìsìwà ‘nós somos feito chutar’ hìnà àhíkhàvísíwí ‘não somos feito chutar’
n’wìnà màkhàvìsìwà ‘vocês são feitos chutar’ n’wìnà àmíkhàvísíwí ‘não são feitos chutar’
vònà vákhávísíwà ‘eles são feito chutar’ vònà àvákhàvísíwí ‘não são feitos chutar’
Os dados em (71a) mostram que o tom alto pode ser associado aos prefixos ou ao radical. Com
efeito, na forma afirmativa em (71a), o radical -khav- tem o tom baixo. Mas os prefixos de MS
podem ter o tom A ou o tom B. se o prefixo MS tiver A, então esse tom da posição inicial do
verbo propaga-se até a penúltima vogal. Mas se o prefixo tem B, então nada acontece.
As formas negativas em (71a) mostram que o radical -khav- continua com tom B e a vogal da
extensão causativa -is- tem tom alto. Sucede que o tom alto da extensão duplica até à última
vogal originando dois tons de nível na superfície. Note-se que a V-inicial; a forma negativa tem
o tom B, mas a vogal seguinte que precede o radical tem tom A. este tom nunca se propaga para
a vogal do radical -khav- devido ao tom alto de extensão (Princípio de Contorno Obrigatório).
último exemplo em (71b) tem A em todas as vogais. Neste caso, o tom alto do prefixo va-
propaga-se para as vogais seguintes. Os verbos negativos em (71b) têm o mesmo padrão, ou seja,
o radical -khav- entra na gramática com tom baixo. assim, a V-inicial do verbo tem tom Baixo,
mas a vogal seguinte tem Tom alto e este tom não é sujeito à duplicação devido ao tom alto
seguinte da passiva.
gramaticais no presente habitual com extensão causativa (71a), extensão passiva (71b) e as
102
Em (71a) na forma afirmativa as 3ªs pessoas têm tom alto e as restantes pessoas gramaticais têm
tom baixo. Na forma negativa, o padrão tonal é o mesmo que se pode sumarizar da seguinte
forma:
(72) Neg1BMSARadBExt.Caus.ANeg2A
B A B A A
tonal na afirmativa onde todas as pessoas gramaticais na afirmativa excepto as 3as apresentam
tom baixo. Na forma negativa todas as pessoas gramaticais apresentam a estrutura tonal seguinte:
(73) Neg1BMSARadBExt.Pass.ANeg2A
à- wú - khàv - íw - í
B A B A A
103
Em (71c) estão apresentados dados relativos a forma afirmativa e negativa do verbo com
similaridades com o que foi descrito em (71a) e (71b), por isso que se dispensa a repetição
Os dados fornecidos em (74) revelam o mesmo padrão tonal, ou seja, a primeira vogal apresenta
tom alto que se duplica na vogal seguinte e a vogal do radical -khav- tem tom baixo em todas as
pessoas gramaticais.
(75) mìnà n(h)óxávà ‘eu estou a comprar’ mìnà ànóxává ‘não estou a comprar’
104
Estes dados (75) revelam que o padrão tonal no presente progressivo na negativa é semelhante
finais que no presente habitual é -i e no presente progressivo é -a ambas com tom baixo.
Na forma afirmativa as vogais da MS têm tom alto que se duplica na vogal do radical -xav-. A
última vogal de todas as pessoas na positiva é do tom baixo. Na forma negativa, a V-inicial
Os dados que se seguem são do presente progressivo com um verbo de radical -C- e com tom
baixo.
Os dados presentes em (76) revelam padrões tonais diferentes na forma afirmativa e negativa. Na
forma positiva V-inicial apresenta tom descendente. E todas as vogais finais são de tom baixo. na
forma negativa a V-inicial de todas as pessoas gramaticais apresenta tom baixo, mas a vogal
senguinte apresenta tom alto que se propaga até à última vogal. Na forma afirmativa há
105
A primeira regra fonológica que actua é de apagamento da consoante velar -voz ficando duas
vogais em contacto +bx, -arr e +alt, +arr que resultam numa vogal -alt e -bx como vem ilustrado
em (78).
(78) á+ù ô. Este ô guarda tanto o tom alto de á como o tom baixo de ù.
mìnà n(h)ókhávísà ‘estou a fazer chutar’ ànókhávísá ‘não estou a fazer chutar’
wènà w(h)ókhávísà ‘tu estás a fazer chutar’ àwókhávísá ‘não estou a fazer chutar’
yènà ó(h)ókhávísà ‘ele está a fazer chutar’ àngókhávísá ‘não está a fazer chutar’
hìnà hókhávísà ‘nós estamos a fazer chutar’ àhókhávísá ‘não estamos a fazer chutar’
nwìnà m(h)ókhávísà ‘vocês estão a fazer chutar’ àmókhávísá ‘não estão a fazer chutar’
vònà vhókhávísà ‘eles estão a fazer chutar’ àvókhávísá ‘não estão a fazer chutar’
Os dados fornecidos em (79) na positiva apresentam mesmo padrão tonal, ou seja, a V-inicial
apresenta tom alto que se propaga até a vogal de extensão causativa -is-. A última vogal de todas
as pessoas gramaticais na positiva é portadora de tom baixo. Na parte negativa dos dados em
(79) a V-inicial apresenta tom B e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até à vogal final.
importa referir que as grandes diferenças entre a parte positiva e negativa do ponto de vista tonal
(80) ánóhókhávísà ‘ estava a fazer chutar’ áníngàhàkhávísí ‘não estava a fazer chutar’
106
ámóhókhávísà ‘ estavam a fazer chutar’ ámúngàhàkhávísí ‘não estavam a fazer chutar’
Os dados em (80) revelam por um lado formas verbais na forma afirmativa com V-inicial com
tom alto que se propaga até à vogal de extensão -is- e por outro formas verbais na negativa que
pessoas gramaticais tem tom alto que é sujeito à regra de duplicação tonal, mas que é bloqueiado
por depressor -ng- e como logo a seguir tem tom baixo a vogal seguinte também tem tom baixo e
no radical -khav- como ocorre o tom alto se propaga até à última vogal. Ilustrando as duas
situações teríamos:
MTAMSAMAspARadACausAVfB Neg1AMSANeg2BMAspBRadACausANeg3A
A A A A A B A A B B A A A
A ilustração apresentada em (81) indica níveis diferentes dos tons quer na afirmativa quer na
negativa. Com efeito, registam-se similaridades nas marcas de Tempo, de Sujeito, Aspecto e
Radical em que são de tom alto. A vogal final da forma afirmativa tem tom baixo o mesmo
acontecendo com Neg2 (-ngà-) e marca de Aspecto (-hà-) na forma negativa. Estes morfemas (de
107
nhókhávíwà ‘estou a ser chutado’ ànhókhávíwá ‘não estou a ser chutado’
whókhávíwà ‘tu estás a ser chutado’ àwókhávíwá ‘não estás a ser chutado’
mhókhávíwà ‘vocês estão a ser chutados’ àmókhávíwá ‘não estão a ser chutados’
vókhávíwà ‘eles estão a ser chutados’ àvókhávíwá ‘não estão a ser chutados’
Os dados fornecidos em (82) na afirmativa apresentam a V-inicial com tom alto que se propaga
até a vogal de extensão passiva -íw-. A última vogal da forma positiva tem tom baixo em todas
as pessoas gramaticais. Na parte negativa em (82) a V-inicial tem tom baixo, a vogal seguinte
tem tom alto que se propaga até à última vogal. Os mesmos dados na forma negativa com tom
baixo na última vogal passam para forma afirmativa como se indica em (83).
Os dados (82) na forma negativa e (83) apresentam similaridades do ponto de vista segmental.
dados (82) referentes à parte negativa apresentam V-inicial baixa e a vogal seguinte alta cujo tom
se propaga até a última vogal. Em (83) a V-inicial é alta que se propaga até a vogal de extensão
108
(84) afirmativa negativa
hókhávísíwà ‘estão a fazer-nos chutar’ àhókhávísíwá ‘não nos estão a fazer chutar’
progressivo. Na parte positiva a V-inicial tem tom alto que se propaga até à vogal da extensão
passiva. A vogal final é baixa em todas as pessoas gramaticais. Na parte negativa a V-inicial é
baixa, mas logo a seguir a vogal é portadora de tom alto que se propaga até à última vogal. As
diferenças tonais estão nas vogais finais das duas formas tal como se observou nos dados
fornecidos em (82). Aplicando o mesmo mecanismo usado em (82) das formas negativas, resulta
Os dados em (85) são segmentalmente idênticos com as formas análogas negativas apresentadas
em (84). Com efeito, a informação suprassegmental é diferente na V-inicial e Vogal final o que
109
traz consequências do ponto de vista de significados, pois em (84) estamos perante forma
Na secção que se segue examinam-se dados relativos ao Presente habitual e presente progressivo
em verbos com tom alto. Segue-se a mesma estratégia usada no exame das formas verbais com
tom baixo.
Os dados em (86) dizem respeito ao presente habitual do verbo –dl-. A V-inicial da MS da forma
positiva apresenta tom baixo em todas as pessoas exceptuando a 3ª pessoa (sg e pl.) que
apresentam tom descendente. A vogal final tem tom alto. Na forma negativa a V-inicial
apresenta tom baixo ao passo que a vogal seguinte tem tom alto sujeito à regra de duplicação
tonal daí que a vogal final também tem tom alto. Com efeito, alterando o tom da vogal –í, o
significado passa a ser positivo apesar de até co-ocorrer o morfema -nga descrito nos estudos
110
áádlì/ángádlì ‘que coma’
Como se pode observar, os dados fornecidos em (87) do modo conjuntivo mais à esquerda são
progressivo diferindo nos tons das vogais finais. Em (86) a vogal final tem tom alto resultante da
regra de duplicação tonal e em (87) tem tom baixo. No fundo ocorre em (87) a regra de
duplicação tonal que se regista na V-inicial que se copia para a vogal seguinte.
Os dados fornecidos em (88) mostram um verbo com uma estrutura complexa diferente do
examinado em (87). Mas partilham um traço comum que é o da tonalidade. Ambos são verbos de
tom alto. Assim sendo os mesmos fenómenos verificados em (87) também se verificam aqui
nestes dados, ou seja, as vogais finais quer na afirmativa quer na negativa têm tom alto
111
Similarmente ao que foi descrito nos dados (80, 82, 85 e 87), os dados fornecidos em (88)
quando se lhes altera o padrão tonal da V-inicial o significado também altera, pois os dados em
Os dados fornecidos em (89) mais à esquerda são idênticos segmentalmente quando comparados
com os fornecidos em (88) na forma negativa do modo conjuntivo. Porém diferem tonalmente.
Em (88) são do tom alto e em (89) a vogal final é de tom baixo indicando a forma afirmativa do
afirmativa negativa
112
Em (90) examina-se um verbo de tom alto com extensão causativa. Na forma positiva a V-
inicial tem tom baixo em todas as pessoas gramaticais excepto a 3ª pessoa (sg, pl) cuja V-inicial
apresenta tom descendente. Na parte negativa, a V-nicial tem tom baixo e, a vogal seguinte tem
tom alto que se propaga até à vogal final. Tal como foi descrito no capítulo IV, as extensões
verbais são afectadas pelo tom existente no verbo. De acordo com Richardson citado por
Meeussen as extensões verbais são tonalmente neutros. Se o verbo for do tom baixo, a extensão
fica com tom baixo e se for de tom alto também ficam afectada por tom alto. Nestes exemplos,
não se verificam excepções. A forma afirmativa tem vogal final alta -á quanto se verifica na
forma negativa -í. À semelhança da explicação fornecida aquando do exame do mesmo verbo
sem extensão, a alteração dos padrões tonais da última e penúltima vogais faz com que os
Os dados fornecidos em (91) ilustram como o tom influencia na interpretação dos itens lexicais.
A V-inicial tem tom alto em todas as pessoas gramaticais que não se duplica, pois logo a seguir
tem tom ascendente. A vogal da extensão causativa é de tom alto que também não se duplica,
portanto a vogal final tem tom baixo. Como se pode observar estes dados não se diferem na
estrutura interna morfémica com os dados na forma negativa apresentados em (90). A seguir
113
(92) afirmativa negativa
gramaticais excepto a 3ª pessoa (sg, pl.) que tem tom descendente, a vogal seguinte pertencente à
extensão passiva -iw- tem tom alto sujeito à duplicação daí que a V-final tem tom alto. Na forma
negativa, a V-inicial tem tom baixo e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final.
Quando ocorre o tom ascendente sobre penúltima vogal e o tom baixo sobre a vogal final fica-se
Os dados em (93) mostram como a mudança dos níveis tonais interfere na interpretação
semântico-gramatical dos itens. Diferentemente do que se sucede em (92) na qual a V-inicial tem
tom baixo e a vogal seguinte com tom alto que se propaga até a V-final, em (92) a V-inicial tem
tom alto que é bloqueiado pela ocorrência de tom ascendente em MS. Em (92), na forma
114
negativa segmentalmente não se diferem com os dados (93), mas o tom é distintivo. Seguem-se
afirmativa negativa
(94) mìnà nàdlísíwá ‘eu sou feito comer’ ànídlísíwí ‘não sou feito comer’
hìnà hàdlísíwá ‘nós somos feito comer’ àhídlísíwí ‘não somos feitos comer’
mwìnà màdlísíwá ‘vocês são feitos comer’ àmúdlísíwí ‘não são feitos comer’
vònà vâdlísíwá ‘eles são feitos comer àvádlísíwí ‘não são feitos comer’
Similarmente aos dados em (92), os dados em (94) na forma positiva apresentam tom baixo na
V-inicial em todas as pessoas gramaticais excepto a 3ª pessoa (sg, pl.) que tem tom descendente.
A vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final. E, na forma negativa dos dados em
(94) também se assemelham tonalmente com os dados fornecidos em (92), pois apresentam V-
inicial com tom baixo e a MS com tom alto que se propaga atá a V-final tal como ocorre na parte
positiva. Fazendo o exercício de colocar o tom ascendente na penúltima vogal e tom alto na
115
Os dados fornecidos em (95) são segmentalmente idênticos com os apresentados em (94) na
parte negativa, mas diferem entre si pelo padrão tonal. Estes dados em (95) a V-inicial tem tom
alto e a vogal que está na MS tem tom ascendente. As vogais de extensão causativa e passiva têm
negativa. Na forma afirmativa a vogal [ô] apresenta tom descendente resultante da aplicação da
regra de harmonização vocálica explicada em (78). Os tons das vogais de radical e vogal final
são idênticos quer na forma afirmativa quer na negativa. Na forma positiva todas as pessoas
gramaticais apresentam o mesmo padrão tonal, ou seja, têm tom descendente na MS e a vogal
seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final. na parte negativa, a V-inicial tem tom baixo e
na MS a vogal tem tom alto sujeito à regra de propagação. Colocando o tom ascendente sobre a
segunda vogal de esquerda para direita na mesma forma negativa apresentada em (96) tem se
116
ángôsímámá ‘estava a insistir’
Os dados fornecidos em (97) indicam como a variação tonal influi na interpretação dos itens
nesta língua. A V-incial nestes dados tem tom alto, a vogal na MS tem tom descendente e a
primeira vogal do radical -simam- tem tom alto sujeito à regra de propagação. Em (96) na forma
negativa ocorrem os mesmos segmentos que em (97). Nos dados que se seguem examina-se a
afirmativa negativa
(98) nôsímámísà ‘estou a fazer insistir’ ànósímámísá ‘não estou a fazer insitir’
afirmativa difere da forma negativa do ponto de vista tonal. A primeira vogal de esquerda para
direita tem tom descendente na afirmativa enquanto na negativa tem tom baixo, a última vogal
tem tom baixo na forma afirmativa enquanto na forma negativa tem tom alto. Na forma positiva,
a V-inicial tem tom descendente e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a vogal final,
porém na parte negativa regista-se uma V-inicial com tom baixo e a vogal seguinte com tom alto
117
sujeito à propagação tal como se verificou na parte positiva. A alteração do padrão tonal da
forma negativa do itens fornecidos em (98) resulta na polaridade positiva como se ilustra em (99)
A partir destes dados (99) é possível dispensar a descrição dos dados com extensão passiva e
(Prem). A partir dos dados que se seguem, o enfoque será dado à 3ª pessoa gramatical do
singular de forma a garantir o controlo da variável e permitir com que mais verbos possam ser
examinados.
118
àngákùndzúmúkángá ‘não desagregou’
dois padrões tonais: baixo e alto. A MS -à tem tom baixo em todos os verbos, as vogais presentes
em -ngá-/-ngá tem tom alto. Em verbos de radicais complexos a sílaba imediatamente a seguir ao
morfema -ngá tem tom baixo. A segunda vogal do radical verbal tem tom alto sujeito à
possuírem extensão causativa -is- apresentam mesma característica tonal, ou seja, apresentam
dois padrões tonais: baixo e alto. A marca de negação 1 (Neg1) tem tom baixo em todos os
verbos, as vogais presentes em -ngá- tem tom alto. Como a segunda vogal destes radicais é alta,
o tom, nela presente, propaga-se para as restantes vogais. Em verbos de radicais complexos a
119
sílaba imediatamente a seguir ao morfema -nga-. Os exemplos que imediatamente se seguem dão
Os dados (102) indicam a negação de verbos contendo extensão passiva -iw- em Changana no
Prec e no Aspecto Perfectivo. A V-inicial tem tom baixo e a vogal seguinte tem tom alto. A
primeira vogal dos radicais apresentam tom baixo e a que segue tem tom alto sujeito à
propagação. A análise destes dados indica que o morfema -íw- é do tom alto à semelhança das
vogais dos morfemas -ngá-/-ngá (Neg2/Neg3). Examinam-se em seguida verbos com extensão
causativa-passiva em (103).
120
àngálàmúlélísíwángá ‘não foi feito socorrer’
Os dados fornecidos em (103) mostram a negação de verbos de tom baixo com extensão
altera o padrão verificado quando o verbo não apresenta extensão ou mesmo quando tiver
Os dados em (104) constituem a negação dos verbos de tom alto no Prec e AP na 3ª pessoa do
singular. Similarmente à negação de verbos de tom baixo reflectindo mesmo Tempo e Aspecto
têm dois morfemas (-ngá-/-ngá) (Neg2/Neg3), todos com tom alto. A V-inicial tem tom baixo e a
vogal seguinte tem tom alto sujeito à propagação. O exercício a seguir consiste em examinar os
121
(105) àngáfísángá ‘não fez morrer’
Os dados em (105) indicam a negação de verbos com extensão causativa de tom alto no
Prec e AP. Os dados apresentam dois padrões tonais: baixo para a V-inicial e a vogal
seguinte tem tom alto sujeito à propagação. Em seguida, examina-se a negação de verbos
122
àngáríngélíwángá ‘não foi pescado’
Os dados fornecidos em (106) referem-se à negação de verbos de tom alto com extensão passiva
-íw- no Prec e AP. Não se registam diferenças com os dados análogos examinados acima, ou
seja, o padrão tonal comporta-se da mesma forma: Para finalizar este exame, seguem-se os dados
A negação de verbos de tom alto com extensão causativa-passiva segue o mesmo padrão tonal
com os demais verbos de tom alto ou em conclusão, a negação de verbos de tom alto no Prec e
AP a V-inicial tem tom baixo e a vogal seguinte tem tom alto que se propaga até a V-final.
A secção que se segue dá conta da negação no Prem AP começando por verbos de tom baixo e,
123
6.4.3 Negação de verbos de tom baixo no Prem
(108) ângàwángá (áāngàwángá) ‘não tinha caido’
Em (108) estão apresentados formas negativas de verbos de tom baixo no tempo Prem.
Diferentemente das formas negativas dos verbos de tom baixo em que os morfemas (-ngá-/-ngá)
apareciam com tom alto nestes verbos registam-se diferenças entre estes dois morfemas de ponto
de vista tonal. A V-inicial tem tom descendente, as duas sílabas seguintes tem tom baixo e a
quarta vogal, por sinal a segunda do radical verbal tem tom alto que se propaga até a V-final. As
diferenças de níveis tonais fazem com que haja mudança de ponto de vista Tempo (do Passado
recente para o Passado remoto). A seguir examina-se a negação de verbos com extensão
causativa.
124
ângàgqùmísángá ‘não tinha feito gemer’
Similarmente aos dados fornecidos em (108), os dados em (109) referem-se à negação de verbos
de tom baixo no Prem, desta vez com extensão causativa -is-. A presença da extensão causativa
não altera o padrão tonal verificado, ou por outra, a V-inicial tem tom descendente, as duas
sílabas seguintes têm tom baixo e a quarta vogal tem tom alto que se propaga até a V-final. Nos
dados que se seguem examina-se a negação de verbos de tom baixo com extensão causativa-
passiva.
tom baixo no Prem. O padrão tonal nestes dados é o seguinte: a V-inicial tem tom descendente,
125
as duas sílabas seguintes tem tom baixo e a quarta vogal tem tom alto que se propaga até a V-
final.
idênticos aos fornecidos em (104). Com efeito, diferem-se do ponto de vista do padrão tonal e,
padrões tonais: descendente â-, baixo -ngà- e alto -ngá enquanto os dados em (104) apresentam
126
ângàkómbétísángá ‘não tinha feito apontar’
Em (112) fornecem-se as formas negativas dos verbos de tom alto com extensão causativa no
Prem. Como se pode observar registam-se três níveis tonais: descendente â-, baixo -ngá- e alto
na sílaba que se segue que depois se propaga até a V-final. Os dados que se seguem
imediatamente dão conta da negação de verbos de tom alto com extensão passiva no Prec.
Os dados apresentado (113) mostram o a negação de verbos de tom baixo com extensão passiva
no Prem. Neles registam-se três tons: descendente â-, baixo -ngá- e alto na primeira vogal do
radical sujeito à propagação. Importa referir que são esses tons responsáveis pela diferenciação
127
com o Prec tal como se descreveu em (106). A terminar o exame da negação de verbos de tom
Os dados fornecidos em (114) mostram a negação de verbos de tom alto com extensão causativa-
passiva no Prem. A V-inicial tem tom descendente, a vogal que se segue tem tom baixo e a
primeira vogal do radical tem tom alto sujeito à propagação até a V-final. Similarmente aos
dados (111), (112) e (113) ocorrem nos dados (114) três níveis tonais.
128
ângàgqúmí ‘não gemia’
Em (115) estamos perante a negação de verbos de tom baixo no Prem indicando o Aspecto
Imperfectivo (AI). Evidenciam-se três níveis tonais: a V-inicial tem tom descendente, as duas
sílabas seguintes apresentam tom baixo, e a primeira vogal do radical tem tom alto que se
propaga até a V-final. A seguir examina-se a negação de verbos com tom alto no Prem e AI.
Os dados fornecidos em (116) fazem referência à negação de verbos de tom alto com extensão
causativa-passiva. Similarmente aos dados fornecidos em (115) estes dados (116) apresentam
mesma configuração tonal, ou seja, a V-inicial tem tom descendente, as duas sílabas seguintes
apresentam tom baixo, e a primeira vogal do radical tem tom alto que se propaga até a V-final.
129
6. 5 Negação no Futuro
O tempo futuro é bastante complexo nesta língua. Para além de ser marcado morfologicamente (-
ta-) é igualmente marcado tonalmente sem ocorrência do (-ta-). A presença de (-ta-) não garante
Os dados presentes em (117) mostram a negação de verbos de tom baixo no futuro. Como se
observa, o tom lexical é afectado mudando de baixo para alto. Há ocorrência de dois níveis
tonais: alto á- na V-inicial e nas restantes sílabas excepto -ngà- (Neg2) que tem tom baixo. Como
foi indicado nas linhas iniciais desta secção a alteração de níveis tonais destes segmentos vai
130
ângàtálámúlélá ‘não socorreria’
Os dados (118) mostram como a variação tonal sobre os segmentos afectam a configuração
temporal de um verbo. Nos dados em (117) a V-inicial tem tom alto ao passo que em (118) a V-
inicial tem tom descendente. Esta alteração do padrão tonal das vogais iniciais acareta
alternâncias sginificativas do ponto de vista de tempo. Note-se que a informação tonal diferente é
Em (119) estamos diante negação de verbos de tom baixo no tempo futuro e como se nota não
ocorre o morfema -ta-, que ocorre nas formas alternativas do futuro negativo como se viu em
(118). Verificam-se três níveis tonais: Ascendente ǎ-, baixo -ngà- e alto -í.
131
ángàtágúgísíwá ‘não será feito envelhecer’
Em (120) está indicada a negação de verbos de tom alto com extensão causativa-passiva.
Literalmente são visíveis dois níveis tonais: baixo em -ngà- (Neg2) e alto nas restantes sílabas,
ou seja, a V-inicial tem tom alto a vogal seguinte tem tom baixo e a vogal MTF tem tom alto que
se propaga até a V-final. Similarmente à negação de verbos de tom baixo, a mudança do padrão
tonal tem implicações semânticas. Os dados que se seguem evidenciam este aspecto.
132
ângàtáríngélísíwá ‘não seria feito pescado’
Há similaridades segmentais entre os dados (120) e (121). Com efeito, ao nível suprassegmental
específico, a V-inicial tem tom descendente diferentemente do alto registado nos dados
fornecidos em (120) cuja V-inicial tem tom alto. Segue-se, finalmente, a apresentação de outra
estratégia de marcação da negação no futuro sem morfema (-ta-), com extensão causativa-
passiva.
Os dados em (122) mostram que a negação em Changana no tempo futuro pode ocorrer sem (-ta)
bastando para isso colocar o tom Ascendente sobre a V-inicial e a vogal final ter sido tom alto
133
Resumindo, o capítulo VI fez um exame sobre a negação em Changana. Numa primeira fase o
enfoque foi olhando para a componente afirmativa versus negativa tendo em conta que a
definição assumida para este estudo é de Crystal (1993) que vê a negação como um processo ou
uma incursão sobre Tempo e Aspecto usando a terminologia de Tanda (2005). Porque o
objectivo central deste estudo era examinar a negação tendo em conta a combinação dos níveis
morfológicos e tonológicos (Horn, 1985), fez-se a descrição dando como enfoque os morfemas
elicitados pelo autor depois testados em falantes do Changana foi possível notar que a negação
verbal (cujo mapeamento tonal não tem que ver com a estrutura de radical) nesta língua não se
pode aferir que os morfemas e tonemas negativos afectam a estrutura tonal do verbo. Foi visto
que a variabilidade de Tempo e Aspecto são cruciais na alteração de padrão tonal lexical de um
verbo. Os morfemas negativos em conformidade com o Tempo/Aspecto podem ser do tom alto
ou de tom baixo. a propagação do tom é bloqueiado pelo morfema negativo -ngà-. Os morfemas
negativos precisam sempre de estar acompanhados de informação tonal, pois caso contrário é
E, ainda conclui-se que em Changana, o tom não constitui uma propriedade exclusiva dos verbos
negativos. O tom é uma componente fundamental na gramática da língua. Foi visto que o tom
tanto ocorre nos verbos na forma positiva quanto na forma negativa, mas a sua distribuição na
134
O capítulo que se segue diz respeito à análise de dados recolhidos nas entrevistas.
135
Capítulo VII: Análise e descrição da informação recolhida em Entrevistas
O presente capítulo faz uma descrição dos dados obtidos a partir das entrevistas realizadas cujas
perguntas procuram dar respostas à hipótese segundo a qual a representação do tom na escrita em
formas diferentes dada a dispersão dos informantes. As entrevistas foram enviadas através da
plataforma e-mail no mês de Abril de 2014 tendo seguido o processo de espera. Após a
devolução das entrevistas por meio da mesma plataforma, conversou-se com a informante Ezra
Chambal via Skype (dado que o autor estava em Minas Gerais e a informante em Florianópolis)
no mês de Maio de 2014 para retestar a informação preenchida. No mês de Junho, mas em dias
diferentes foi possível conversar com os restantes informantes (Abílio Macuácua, Leonor Simão,
Jaime Mondlane e Hortência Manave em Maputo. A partir dos dados descritos é possível
concluir que a negação não capta as variantes desta língua como acontece na variação
lexemática. Para melhor sistematização dos dados elaborou-se uma grelha de análise.
Os resultados das entrevistas mostram que a representação do tom na escrita é relevante nesta
língua apesar de cada um dos informantes ter optado por uma forma diferente de reperesentação.
instrumento oficial que oriente como colocar similar aos relatórios da ortografia das línguas
moçambicanas. Relativamente à ortografia seguida por infomantes foi notória que uns conhecem
o que está padronizado e outros não. Apesar de ser um número que não nos permite generalizar é
136
Tabela 19: Respostas dos informantes
Inf. 1 Inf.2 Inf.3 Inf.4 Inf.5
Formas
verbais
em
Portuguê
s
Ele não Angaxávi Angachavi angaxavi angachavi angaxávi
compra
Ele não angaxàvi angachavi angaxavi angachavi angaxàvi
está a
comprar
Ele não é angaxaviwi angachaviwi angaxaviwi angachaviwi angaxaviwi
comprad
o
Ele não é angaxavisiwanga angachavisiwi angaxavisiwi angachavisiwi
feito angaxavisiwang
comprar a
Ele não angaxavanga angachavanga angaxavanga angachavanga angaxavanga
comprou
Ele não aangaxavi angachavi angaxavi angachavi aangaxavi
comprav
a
Ele já se aangahaxavi angahachavi angahaxavi angahachavi se aangahaxavi
não
estava a
comprar
Ele não angaxaviwanga angachaviwan angaxaviwanga angachaviwan angaxaviwanga
foi ga ga
comprad
o
Ele não angaxavisiwanga angachavisiw angaxavisiwan angachavisiw
foi feito anga ga anga angaxavisiwang
comprar a
Ele ataxava atachava ataxava atachava ataxava
comprar
á
Ele não angataxava/ angatachava angataxava angatachava angaxavi
comprari angaxavi
a
Ele não angataxaviviwa angatachava angataxava angatachava angataxaviviwa
será
comprad
o
Ele não angataxavisiwa angatachavisi angataxavisiwa angatachavisi angataxavisiwa
137
será feito wa wa
comprar
Ela não angaji angagui angadlhi angagui angaji
come
Ela não angaji angagui angadlhi angagui angaji
está a
comer
Ela não é angajiwi angaguiwi angadlhiwi angaguiwi angajiwi
comida
Ela não angajanga angaganga angadlhanga angaganga angajanga
comeu
Ela não aangaji angagui angadlhi angagui angaji
comia
Ela já se aangaji angahagui angahadlhi angahagui angaji
não
estava a
comer
Ela não angajiwanga angajiwanga
foi angaguiwanga angadlhiwanga angaguiwanga
comida
Ela não angajisiwi angaguisiwe angadlhisiwe angaguisiwe angajisiwi
feita
comer
Ela não angataja/angaji angataga angatadlha angataga angaji
comerá
Ela não angeji angataga angatadlha angataga angeji
comeria
Ela não angataguiwa angatadlhiwa angataguiwa angajiwi
será angatajiwa/angaji
comida wi
Ela não angajisiwi
será feita angatajisiwa/anga angataguisiwa angatadlhisiwa angataguisiwa
comer jisiwi
diferenciação na escrita decorrente por um lado de situações dialectais como é o caso do verbo -
138
xava. Do ponto de vista de representação do tom, a informante 1 faz uma mistura quer através de
diacríticos, mas apenas para o verbo -xava quer através da duplicação da vogal. Os restantes
informantes não marcam o tom e como consequência tem muitos itens similares em angaxavi-
como não se pretendia que uma das partes da entrevista influenciasse a outra, os nossos dados
traduz-se em não vai e não estava a ir. O mesmo aconteceu para o item angafambisiwi em que os
alternativas não é feito ir e não estava a ser feito ir. No último exercício da mesma pergunta, os
Depois deste preenchimento houve conversas com os informantes para ouvir as suas opiniões
acerca da necessidade de reperesentação do tom na escrita o que em alguns caso era necessário
necessário incluir-se a informação tonal na escrita de textos em Changana, mas dizem ser muito
penoso e complexo o que corrobora com estudos feitos a esse respeito (Piker, 1947; Mfonyam
139
Capítulo VIII: Conclusão
O pressuposto básico defendido nesta dissertação é o de que a negação em Changana processa-se
pelos estudos teóricos, mas sim pelos dados levantados filologicamente de diversas línguas, do
Changana como língua objecto de estudo, dados recolhidos em entrevistas, conversas e dados
elicitados introspectivamente.
metodológica e empírica. Assim, foram levantados e definidos os conceitos essenciais tais como
aspecto, tempo, negação e tom. Além disso foram fornecidos princípios básicos sobre o tom,
uma discussão sobre a representação fonológica do tom, diferenças entre tom lexical e tom
gramatical. A este respeito foi visto através dos dados que em Changana, o tom gramatical é o
mais complexo devido a concatenação de diversos morfemas ao verbo. Por sua vez, foi visto que
os verbos no infinitivo nesta língua seguindo a terminologia de Marlo (2013) apresentam dois
padrões tonais: alto e baixo. A par disso concluiu-se que o tom lexical é sensível à variação de
pessoa gramatical 3ª pessoa (do singular e do plural) e às marcas de Tempo, podendo alterar o
Relativamente ao processo de negação que era o objecto do estudo, conclui-se que em Changana,
o tom não constitui uma propriedade exclusiva dos verbos negativos. O tom é uma componente
fundamental na gramática da língua. Isto difere do que foi visto por Mwita (2008:302) ao estudar
Kuria em que o morfema de negação /-te-/ provoca a alteração do padrão tonal, ou seja, o
morfema de negação nesta língua causa o tom alto. Em Changana, os dados analisados mostram
140
que a distribuição do tom que ocorre nas formas positivas e nas formas negativas é determinada
Do ponto de vista teórico, trabalhou-se com uma abordagem eclética, mas assente na teoria da
morfo-fonologia lexical defendida por Kiparsky (1985). A este respeito, verificou-se através dos
dados que há regras que se aplicam ao nível lexical como é o caso das categorias tonais dos
verbos. Com efeito, há regras que se aplicam pós-lexicalmente onde há alteração do padrão tonal
Apesar de existirem, do ponto de vista teórico, ideias contra (Piker, 1947; Mfonyam 1989; Stegen,
2005; Ngozi, 2005) e a favor (Mtenje, 1987; Wismann, 1989; Sitoe, 1996; Schroeder, 2010;
Liphola, 2010; Lojenga, 2011; Bordgwalt e Joyce 2013) da representação do tom nas línguas
tonais concluiu-se que é pertinente a inclusão do tom nos materiais que permite desambiguar
para a produção deste estudo. As imprecisões decorrentes das análises e sistematização de dados
Porque qualquer estudo termina com uma abertura para as próximas investigações seria desejável
que se fizesse um survey sobre o processo de negação das línguas tonais de Moçambique e a
partir destas pesquisas propor-se um modelo único de representação do tom na escrita seguindo
as seguintes fases:
141
1.2 padrões tonais
142
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149
Anexo 1
Questionário Linguístico
Data de administração do questionário:
Data de devolução do questionário__________________
I. Identificação
150
Ela não comeria yena angeji
Ela não será comida yena angatajiwa/angajiwi
Ela não será feita comer yena angatajisiwa/angajisiwi
III. Assinale na coluna B com X o(s) significado(s) da forma verbal indicada na coluna A.
1. A B
não vai__X__
não estava a ir___
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____
2. A B
não é feito ir__X__
não estava a ser feito ir___
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____
Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento: 24/04/2014
151
ANEXO 2
Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________
I. Identificação
152
Ela não será feita comer yena anagatadlhisiwa
1. A B
não vai__x__
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____
2. A B
não é feito ir__x__
não estava a ser feito ir_x__
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____
Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_22 Abril 2014_________________________
153
ANEXO 3
Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________
I. Identificação
154
Ela não será feita comer yena angataguiisiwa
1. A B
não vai___
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____
2. A B
não é feito ir__x__
não estava a ser feito ir___
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____
Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_01 Maio 2014_________________________
155
ANEXO 4
Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________
I. dentificação
156
Ela não será feita comer angatadlhisiwa
III. Assinale na coluna B com X o(s) significado(s) da forma verbal indicada na coluna
A.
1. A B
não vai____
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____
2. A B
não é feito ir____
não estava a ser feito ir_x__
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____
Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_17 de Maio 2014_________________________
157
ANEXO 5
Questionário Linguístico
Data de administração do questionário_______________
Data de devolução do questionário__________________
I. Identificação
158
Ela não será feita comer angatadlhisiwa
1. A B
não vai___x_
não estava a ir_x__
angafambi não foi____
não irá____
não iria____
que vá____
1. A B
não é feito ir__x__
não estava a ser feito ir_x__
não foi feito ir___
angafambisiwi não será feito ir____
que seja feito ir____
não seria feito ir____
Muito Obrigado
Data do fim do Prenchimento_8 de Maio 2014_________________________
159