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Scientiarum Historia II – Encontro Luso-Brasileiro de História das Ciências – UFRJ / HCTE & Universidade de Aveiro

Mitos que Permeiam os Sete Metais Antigos


Esteban Lopez Moreno1,*
1
Professor Associado da- Fundação CECIERJ, Diretoria de Extensão. Email:
estebanlmoreno@gmail.com

Palavras Chave: mitologia, elementos químicos, tabela periódica, número sete.

Introdução
Durante milhares de anos, povos de elevado teor mítico-religioso, como os egípcios, chineses,
indianos e astecas, tinham especial interesse pela Metalurgia assim como pela
Astronomia/Astrologia, porém desconhece-se que qualquer outra cultura tenha desenvolvido uma
correlação elaborada e inequívoca entre estes saberes como foi iniciada pelos antigos povos da
Mesopotâmia, anteriores a 1.000 a.C. Para sete metais antigos essa relação recebeu um tratamento
especial, que foi se alterando ao longo do tempo e permanece incrustada em nossa cultura até os
dias atuais. Este trabalho propõe-se a explorar algumas das relações cosmológicas e mitológicas dos
sete metais antigos.

Resultados e Discussão
A construção da relação simbólica entre os metais e os planetas foi fomentada por uma importante
coincidência numérica. Desde os tempos antigos, eram sete os principais planetas visíveis a olho nu,
i.e.: Mercúrio, Venus, Marte, Júpiter, Saturno, Lua e o Sol (para a simbologia astrológica a lua e o sol
são planetas); como também eram conhecidos com relativa segurança sete elementos metálicos, i.e:
ouro, prata, ferro, mercúrio, bronze, electrum (uma liga natural de ouro e prata muito apreciada pelos
egípcios, gregos e romanos) e o chumbo. Sete tornou-se um dos números sagrados, porém a
associação dos sete metais aos sete planetas não eram claras e as relações com os elementos
variaram de época e de região1. A afinidade entre os planetas e os metais recebeu contornos claros
com os babilônios. Eles encontraram no ouro o metal mais sublime, um equivalente ao Sol, de brilho
também amarelo e o mais importante astro do céu. Com efeito, o venerado herói mítico Marduk, entre
inúmeras atribuições, era também conhecido como o “Senhor do Ouro”. A Lua comumente controlava
a prata, porém aos demais metais não havia uma dominância clara em relação aos planetas e
tampouco à simbologia mítica. Com o florescimento da cidade grega de Alexandria, a partir do século
IV a.C., confluíram neste local várias correntes sapienciais, amalgamando conhecimentos da filosofia
grega, da sabedoria caldaica, da metalurgia e cosmovisão babilônica e egípcia, entre outras
correntes iniciáticas e seus aportes místicos. Foi nesta fornalha cultural que se desenvolveu
sobremaneira a Alquimia, e as visões míticas dos metais receberam novos refinamentos com os
corpos celestes e associações com os representantes do panteão dos deuses do Olimpo. As
conexões simbólicas ainda variaram até sua cristalização definitiva, especialmente para o estanho.
Segundo os primeiros alquimistas, na Grécia do século V d.C, o estanho estava ligado a Hermes,
sem o privilégio de uma regência entre os sete planetas, enquanto o planeta Júpiter associava-se ao
electrum. O mais antigo dos autores alquímicos, Zózimo de Panopólis (século III), também ligava
Júpiter ao electrum. Até o século XI imaginava-se que esta liga representava um metal puro, apesar
de ter sido produzida artificialmente pelos egípcios antigos (conhecida como asem). Com o progresso
dos métodos de purificação, o mercúrio tornou-se o legitimo representante de Hermes e de seu
homônimo planetário (aliás, o único metal que recebeu o mesmo nome do planeta), o electrum cai em
desuso, e as dominâncias estabeleceram-se em função apenas dos sete metais, conforme a
seqüência: ouro/Sol, prata/Lua, ferro/Marte, mercúrio/Mercúrio, estanho/Júpiter, cobre/Vênus e
chumbo/Saturno.

Conclusões
A respectividade entre os setes elementos e os sete planetas representou uma importância referência
histórica, não apenas por conta de seus aportes míticos, mas também por se estenderem, por
exemplo, às sete cores do arco-íris, às sete notas musicais, às sete operações alquímicas.

Referências e Notas
1
Leicester, H.M., The Historical Background of Chemistry, New York: Dover Publications Inc. 1971.
2
Eliade, M.; Ferreiros e Alquimistas, Zahar Editores, 1979.

Agradecimentos
2º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – 28 a 30 de outubro de 2009
Scientiarum Historia II – Encontro Luso-Brasileiro de História das Ciências – UFRJ / HCTE & Universidade de Aveiro

Ao Professor Carlos A. L. Filgueiras pelo apoio a este trabalho.

25a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - SBQ 2

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