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DESAFIOS DO ESTADO ANGOLANO EM RELAÇÃO À IMIGRAÇÃO

ILEGAL

Angola, segundo dados oficiais, tendo uma fronteira terrestre e fluvial de 5.517
Km, está muito vulnerável à imigração ilegal. Notemos, por exemplo, que
Cabinda tem fronteira terrestre com a RDC de 100 Km e fluvial de 186 Km,
perfazendo um total de 286 Km e que a província do Zaire tem extensão
fronteiriça com a RDC de 102 Km terrestre e 213 Km fluvial, totalizando 315
Km.
À vulnerabilidade proporcionada pela extensão das fronteiras, soma-se a derivada
das afinidades culturais e dos laços familiares entre as populações fronteiriças de
um e de outro lado.
Por exemplo, o domínio das línguas angolanas, cokwe, fiote e kikongo pelos
imigrantes ilegais, maioritariamente da RDC, aliado à semelhança de outros
aspectos culturais entre as etnias das zonas fronteiriças, tem facilitado a sua
entrada nas províncias fronteiriças. Inclusive, diz-se que haverá casos em que o
mandato das Autoridades Tradicionais ultrapassa fronteiras de ambas partes.
Assim, no nosso país, todos os dias são interpelados em todas as províncias
fronteiriças e não só, centenas e centenas de imigrantes ilegais sobretudo da
RDC, mas também, em número reduzido, da Namíbia, Zâmbia, da Mauritânia,
Gâmbia, Senegal, Guiné Conacri, Mali, Serra Leoa e Nigéria.
Agrega-se a estes os que entram legalmente, (como chineses, vietnamitas, alguns
europeus e outras nacionalidades), mas depois de um período determinado, não
legalizam a permanência, passando a serem também imigrantes ilegais. Ou seja,
todos os dias há registo de tentativa e/ou entrada ilegal, há repatriamento, assim
como saída voluntária, de tal nível que certo, comandante policial, se referiu ao
fenómeno, como parecendo ser uma “invasão silenciosa”.
Geralmente os imigrantes ilegais, são jovens, com idades, provavelmente,
compreendidas, entre os 18 e os 55 anos, maioritariamente do sexo masculino,
com baixa escolarização e sem qualificação profissional, movidos pela busca de
melhores condições de vida, fuga à instabilidade política e militar, fuga à
conflitos étnicos ou religiosos, fuga à pobreza e desemprego e o desejo do
enriquecimento ilícito, socorrem-se de diferentes artimanhas para, por via
terrestre, marítima ou fluvial, se infiltrarem no nosso país.
Ao que tudo indica, parte significativa dos imigrantes ilegais não são portadores
de competências. E se as tivessem? Mesmo sendo pouco provável, pensamos que
nesses casos, a postura do Governo seria a de ponderar a sua legalização, pois,
por exemplo, pelo mundo afora há casos de imigrantes que representaram
benefícios para os países em que entraram. Portanto, um estudo das
características sociodemográficas poderia indicar que aspectos positivos deles
poderiam ser aproveitados para as actividades produtivas.
CONSEQUÊNCIA
De resto, as consequências nefastas da imigração ilegal podem ser subdivididas
em:
1- Quanto ao tempo, podem ser de curto, médio e longo prazo. Imaginemos,
por exemplo, que daqui há 20 ou 30 anos uma determinada província
fronteiriça tenha mais cidadãos oriundos da imigração ilegal do que dos
naturais.
2- Quanto à Política e de Segurança Pública, podem constituir, a médio e
longo prazo, minorias perigosas, podem dificultar o exercício da
Administração Pública, aumenta a possibilidade da prática de diversos
crimes incluindo o tráfego de seres humanos, podem provocar conflitos
transfronteiriços e inclusive beliscar as relações entre os Estados vizinhos,
etc;
3- Quanto à economia podem propiciar a actividade económica ilícita que
impede ao Estado de arrecadar receitas por via de impostos, favorecem o
mercado informal, podem representar um aumento dos custos do erário
público, etc;
4- Quanto à demografia, como variáveis demográficas importantes, podem
contribuir para o crescimento abrupto da população e alteração da sua
estrutura;
5- Quanto à Cultura podem (Apesar de algumas afinidades culturais, na
dança, música, língua falada, alimentação, etc,) acarretar a aquisição de novos
e estranhos hábitos e ritos culturais e religiosos.
CONCLUSÃO
Não sendo xenofobia, (pois o país, deu bom exemplo de recepção de refugiados e
de imigrantes legais) conter a imigração ilegal, até porque ela tem efeitos
negativos, haverá que, baseado na legislação nacional e internacional a respeito,
continuar a reforçar as medidas para a sua redução. Aliás, nessa senda se
enquadram a iniciativa presidencial de criação, em Novembro do ano passado, de
uma Comissão de alto nível para analisar a questão e a iniciativa parlamentar, em
Fevereiro de 2016, de discussão do tema.

MIGRAÇÃO EM ANGOLA
Imigrar, no verdadeiro sentido da palavra, significa entrar num país que não é o
seu de origem para ali viver ou passar um período da sua vida.
A imigração em Angola teve início em 1482, pois foi a partir desse momento que
os portugueses chegaram às costas do nosso território com intenções muito
ambíguas.
A situação específica do imigrante dá origem à formação de vários aspectos de
identidade causados pela busca do sentido de pertença e pela tentativa de
recuperação do lugar antropológico, quer dizer do cenário em que se desenvolveu
o seu percurso cultural: a formação da sua personalidade, a aquisição da
capacidade de interacção com o meio e as pessoas e o itinerário marcante da sua
história individual.
O fenómeno de aculturação e assimilação iniciado pelo primeiro contingente de
imigrantes portugueses, era característico daquela época do iluminismo, em que o
sujeito ocidental era extremamente individualista, segundo Stuart Hall (1998,
p.7), análise da evolução do conceito de identidade. Tal perfil psicológico
manteve-se intacto nos grupos que se seguiram ao longo dos cinco séculos,
influenciando elementos de outras nacionalidades que se lhes juntaram na sua
acção invasora.

Entre os imigrantes portugueses, o salto da individualização para a interacção,


quer dizer, para o sujeito sociológico que, pela primeira vez, reconhecia a
importância dos outros "eus", apenas aconteceu na última metade do século XX,
quando começou a perceber os valores e os símbolos do mundo do autóctone e se
aliou a ele para a sua defesa.
Desmantelado o colonialismo português, proclamada a Independência Nacional,
terminado vitoriosamente o período da luta armada pela preservação da soberania
nacional e da integridade territorial, criada a segunda República e o Estado
democrático e de direito, começou a segunda fase da imigração em Angola: a
imigração em massa, sendo parte da mesma feita à margem da lei ou de modo
fraudulento. Este último já dera lugar a instauração de uma sindicância ordenada
pelo Presidente da República.
Atravessaram as nossas fronteiras imigrantes das mais diversas proveniências e
culturas, nomeadamente, portugueses, brasileiros, chineses, vietnamitas,
indianos, filipinos, muçulmanos do Mali, do Senegal, do Líbano, cidadãos do
vizinho Congo Democrático, etc.:
Com o fenómeno da globalização, o enriquecimento europeu, os projectos
legislativos dos países da União Europeia para a entrada exclusiva de
estrangeiros especializados e a perspectiva de repatriamento de milhares de
ilegais.
As condições difíceis dos centros de detenção dos imigrantes ilegais, como os do
Texas, Nova Jersey e Arizona, nos Estados Unidos. A existência de grupos
organizados para agredir imigrantes ilegais, como os "Minutemen" (brigadas
civis que tentam impedir a passagem dos ilegais pela fronteira com México),
segundo o Diário do Nordeste, de 23 do corrente mês, que reportava sobre a
actividade de Jorge Bustamante, relator especial das Nações Unidas para os
Direitos Humanos dos Imigrantes, Imprensa brasileira. Significa um fechar de
portas dos países ricos, motivando a inversão do fluxo.

A queda no custo dos transportes e a rapidez da comunicação que facilitaram o


acesso a informações sobre os países e seus territórios tornaram a emigração para
os países periféricos mais atraente.
Os emigrantes dos países pobres passaram a escolher potências regionais como
destino. Estas, mesmo possuindo problemas económicos e sociais oferecem
algumas oportunidades que não encontram nos seus países de origem.
A situação exige dos países de acolhimento, como Angola, o aperfeiçoamento da
legislação sobre a entrada de estrangeiros e dos mecanismos de controlo dos
imigrantes ilegais, o que, em parte, já está a ter lugar com a aprovação, na
antepenúltima semana, da nova lei dos estrangeiros pela Assembleia Nacional e a
inauguração do centro de instalação temporária de estrangeiros, no Aeroporto
Internacional 4 de Fevereiro, ocorrida por ocasião das comemorações do 31º
aniversário do Serviço de Migração e Estrangeiros.
O quadro já é preocupante. As organizações islâmicas sedeadas em Angola, umas
integradas por angolanos e outras por expatriados. Já trazem na sua génese a
semente do conflito e da violência. A luta interna pela liderança levou a que os
expatriados classificassem os seus membros em categorias de muçulmanos de
primeira e de segunda, cabendo aos angolanos a última.
É muito estranho como uma religião não legalizada, recebeu terreno, construiu
mesquitas e realiza os seus cultos perante a contemplação serena das autoridades
competentes. É incrível como o deus, tanto dos cristãos, como dos muçulmanos,
que chegam à Angola, orienta sempre que os angolanos ocupem a última
categoria da estrutura orgânica das suas organizações. É estrategicamente errado
estrangeiros estarem a liderar ideologicamente multidões no nosso território.
As parcerias empresariais com os estrangeiros têm sido uma porta de entrada
fraudulenta de imigrantes, que de turistas passam para imigrantes económicos
ilegais casam com as nossas compatriotas e depois são elas e os seus familiares
que lhes atribuem o estatuto informal de angolano. É como diz o ditado " quem
conquista uma mulher conquista uma nação". E a imigração ilegal torna-se
cancerosa, convertendo Angola num el dourado dos ilegais.

O saudoso Dr. Agostinho Neto já alertara a seu tempo: "África é um corpo inerte
onde cada abutre vem debicar o seu pedaço". Cuidado. "Nós somos milhões…"
Angola é dinâmica.
A temática das migrações e suas interfaces com os direitos humanos está na
ordem do dia dos debates académicos e organizacionais, tanto em nível nacional
quanto internacional. Essas discussões foram estimuladas, em grande parte, pela
aceleração dos fluxos migratórios propiciados, nos últimos anos, pela estrutura de
um mundo globalizado e seus paradoxos.
Ao mesmo tempo em que num contexto globalizado os recursos de comunicação
e transporte são mais acessíveis às pessoas, possibilitando a mobilidade para
além das fronteiras nacionais, os Estados-nação, principais destinos migratórios,
criam obstáculos jurídico-administrativos que interferem tanto no controle da
entrada de estrangeiros nas fronteiras, quanto no acesso a dispositivos legais que
lhes permitam interagir como migrantes.
Esse fenômeno parece ser mais tênue em países em desenvolvimento, como
Brasil e Argentina. Porém, como mostram os textos de Roberta Camineiro
Baggio e Daniel Braga Nascimento (no contexto brasileiro), e de Natalia
Gavazzo (no contexto argentino), os fluxos migratórios das últimas décadas
incitaram a revisão da legislação migratória em ambos os países, provocando
reações da sociedade civil contra os dispositivos governamentais impingidos nos
mesmos, em vista de que atingem os direitos dos migrantes.
Nesses países travam-se, então, batalhas de migrantes, em parceria com agentes
governamentais e não governamentais, dirigidas a confrontar os dispositivos e as
ações que colocam os migrantes na posição de vítimas de práticas de exclusão,
entre as quais se destacam a xenofobia e o racismo. Contexto no qual os
imigrantes se mobilizam para serem reconhecidos como sujeitos de direitos com
poder de decisão sobre o rumo de suas vidas de forma digna. O esvaziamento
entre fronteiras sociais e culturais que caracteriza os espaços transnacionais
possibilita dar visibilidade às violações dos direitos humanos dos migrantes em
situação de vulnerabilidade.
Fenômeno que tem sensibilizado e estimulado pesquisadores a agir, como disse
Denise Jardim, não apenas na construção de um campo de estudos migratórios,
mas como agentes que participam dos processos enfrentados pelos migrantes
para se posicionarem nas sociedades de acolhida como “cidadãos do mundo”.
Âmbito no qual, seguindo os artigos de Denise Cogo e Mohammed ElHajji, entre
outros, os meios de comunicação desempenham um papel estratégico na
produção de espaços de agenciamento de coletivos, redes e organizações
migratórias nas suas lutas por Migrações e direitos humanos problemática
socioambiental - 14 - direitos e cidadania. A tecnologia da comunicação propicia
a mobilização e a articulação entre migrantes e as redes transnacionais das quais
fazem parte.

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