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ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Pontos essenciais:
Péricles elogia a democracia e a sua superioridade sobre os restantes regimes
políticos; a afirmação dos princípios básicos da igualdade, da liberdade e da
participação cívica na vida pública; a apologia do debate público das grandes
questões do Estado; a defesa da tolerância, do equilíbrio e da moderação na
acção política; a atenção particular concedida às leis sociais de protecção dos
pobres e a concepção da possibilidade de “sair da pobreza pelo trabalho”; a
impotante dada à cultura, o desporto, os espectáculos e divertimentos
públicos); a referência, à prosperidade económica da cidade e à sua abertura
do exterior; a ideia de que qualquer país, mesmo democrático, carece de
poderio militar para conseguir defender-se com êxito dos seus inimigos; a
defesa inteligente da ideia de uma sociedade democrática (aberta, tolerante,
organizada civilmente e respeitadora do indivíduo), em contrato permanente
com o modelo oposto de uma sociedade totalitária (fechada, intolerante,
militarizada e colectivista); e, enfim, o elogio dos que aceitam morrer pela
Pátria e a exortação aos vivos para que saibam honrar o exemplo dos que
tombaram no cumprimento do dever.
Heródoto
O pensamento de Heródoto
Heródoto representa sem dúvida o espírito antigo. Muito se tem insistido
sobre seu paralelo (e amizade) com Sófocles, mas a dualidade teológica e
humana que se encontra em sua obra possui maior semelhança com o
trabalho de Ésquilo. A dupla motivação factual da tragédia neste autor
(responsabilidade humana e causalidade divina), não é diferente da posição
de Heródoto, para quem (I 32, 1) “a divindade é, em todos as ordens,
invejosa e causa de perturbação”. Mas, ao mesmo tempo, aparece uma
tendência que busca no homem mesmo a causa do seu destino. Tem-se um
plano sobrenatural que põe em relevo a fragilidade do ser humano, que é
“todo incerteza”.
O destino, portanto, se converte numa força pré-moral que se impõe de
maneira inexorável. Isto implica num pessimismo que é consubstanciado no
pensamento grego. O ser humano se sente sujeito às instabilidades e é
impotente (Ἡμήχανος) ante os desígnios divinos.
Sem dúvida, o aparente dogmatismo da φθόνος θεἩν (inveja dos deuses)
não diminui a responsabilidade dos homens. Os castigos que este sofre são
provocados diretamente na proporção da soberbia (Ἡβρις) humana. Quando
um homem se encontra numa posição de relevo que excede às suas
possibilidades naturais, tente a incorrer em soberbia, e é culpado de crimes e
sortilégios, que atentam contra a estabilidade ético-social. Para se precaver
das hostilidades divinas o homem deve praticar a justiça, a piedade e a
modéstia sem que, como ocorre em Sófocles, seja absolutamente seguro que
isto baste para ter sucesso. É um posicionamento similar ao da tragédia, da
lírica e da épica.
Esta atitude de Heródoto, dirigida pela moderação, determina seu
pensamento político: obrigado a exilar-se de sua pátria por um regime
tirânico, abomina a tirania, cuja essência é a irresponsabilidade ante a lei e
aos demais membros da comunidade; se mostra convencido dos benefícios
que representa a liberdade, daí sua admiração por Atenas e justificação de
seu apogeu. Liberdade face à subordinação – este é o diferencial entre gregos
e bárbaros.
Para Xenofonte, as leis de Esparta seriam impostas não apenas como normas
de origem humana, mas como preceitos de emanação divina: Licurgo não
legislou sem primeiro de dirigir a Delfos para perguntar aos deuses se não
seria bom para Esparta obedecer às leis que ele tinha feito.
Platão concebeu três moldes de classes sociais, tendo por base a célebre
“teoria dos metais”, segundo a qual cada pessoa possui na sua alma um
metal colocado por Deus. Nalgumas, esse metal seria o ferro ou o bronze, e
nesse caso a pessoa estaria destinada a pertencer à classe dos
artesãos/artífices (seriam os trabalhadores, cuja principal função consistia em
assegurar os bens e o sustento da cidade), noutras pessoas seria a prata, e
pertenceriam portanto à classe dos guardas/militares (cuja função seria a
proteger e defender a cidade), e, finalmente, teríamos um restrito grupo de
pessoas cuja alma seria caracterizada pelo ouro, pertencendo tais elementos
à classe mais importante, a dos magistrados/governantes, à qual as outras
duas estariam subordinadas (a função dos governantes seria, logicamente, a
de colocar a sabedoria ao serviço do governo da cidade).
A teoria dos metais seria um dos critérios para seleccionar os cidadãos para
as classes propostas por Platão, todavia, esse “metal” seria apurado, não por
hereditariedade, mas pelo sistema educacional imposto pelos magistrados
que faria sobressair as inclinações naturais de cada um.
Outro grande contributo de Platão para a História das Ideias Políticas prende-
se com a sua tipologia das formas de Governo. O filósofo projecta 5 modelos:
Aristóteles
Aristóteles defende o primado da lei sobre a vontade dos homens. Para ele a
regra geral é a do respeito pela lei, a da observância da legalidade, a dos
sistema das leis, objectivas e impessoais, acima da vontade, do capricho e da
discricionaridade dos homens. Há, pois, neste sistema, toda a possibilidade
de atender às circunstâncias particulares de cada caso: será essa a tarefa dos
órgãos executores da lei, por delegação dela e dentro dos limites por ela
definidos. Ou seja, “o primado da lei é preferível ao governo livre de qualquer
cidadão”, pois “a lei é a razão sem o apetite”, ao passo que o poder pessoal é
o domínio das paixões incontroláveis, subjectivo e arbitrário.
Para Aristóteles, o regime legítimo ou “bom” é aquele que tem por fim o bem
comum e que é conforme à justiça, ao invés daqueles que apenas só tendem
para o benefício particular de alguns. Assim, o Estagirita apresenta uma
classificação de regimes políticos agrupados em regimes sãos (monarquia,
aristocracia e a república) e regimes degenerados (tirania, oligarquia e
democracia:
- Entre as monarquias, dá-se o nome de realeza aquela que tem por fim o
interesse geral;
- O governo de um pequeno número de homens, ou de vários, mas não de um
só, chama-se aristocracia, porque eles o exercem para o maior bem do
Estado e de todos os membros da sociedade;
- Quando a multidão governa no sentido do interesse geral, chama-se
república.
Tal como Platão, Aristóteles também emitiu a sua teoria sobre a sucessão
cíclica das formas de governo: começaria na monarquia (o governo dos
antigos), passaria para a aristocracia, oligarquia, tirania, de seguida a
democracia e resultaria na república mista que resultará tanto melhor quanto
se apoiar mais na classe média.
Pontos essenciais:
Os principais contributos de Aristóteles para a História das Ideias Políticas
são: a apresentação de uma concepção acerca da natureza humana, da qual
deduz depois como consequências as suas outras observações e propostas; a
crítica directa da Cidade Ideal de Platão e, portanto, a defesa da família, da
propriedade privada e do pluralismo essencial; a análise das classes sociais e
o papel preponderante reconhecido às classes médias; a defesa do primado
da lei sobre a vontade dos homens; a classificação dos regimes políticos sãos
e degenerados; e a teoria do regime misto como forma de governo ideal.
Cícero
Cícero nasceu em Roma (séc. II e I a.C., de 106-43 a.C.). Foi um dos maiores
juristas, governantes e filósofos da Antiguidade Clássica. Escreveu o tratado
De Republica. É influenciado por Platão e Aristóteles. Escreve num período
importante da história de Roma, o período final da República, quando este já
vai ser substituído pelo Império.
Cícero é um dos mais representantes do estoicismo, os quais defendem que:
a ideia de que o princípio do mundo e da realidade é a razão (logos); a noção
de devoção permanente ao dever e do controle de si mesmo; a existência de
um deus único cuja relação com os homens é igual ou semelhante à de um
pai para com os seus filhos; a noção de igualdade fundamental entre os
homens como membros de uma mesma família; a ideia de um Estado
mundial e de uma cidadania universal; e finalmente a ideia de uma lei ou
direito natural de origem divina.
A IDADE MÉDIA
Santo Agostinho
As duas Cidades
Santo Agostinho considera haver duas Cidades – a cidade celeste ou Civitas
Dei, comunidade dos homens que vivem segundo o espírito e buscam a
Justiça; e a cidade terrena, ou Civitas Diaboli, conjunto dos homens que vivem
segundo a carne a para satisfação dos seus prazeres. Uma é a cidade do
bem, outra a cidade do mal. Ambas estão em luta permanente, uma contra a
outra, e ambas disputam a posse do mundo. A vida presente é uma luta, um
combate quotidiano: só na vida futura haverá paz autêntica e duradoira.
Daí que o Etado, em si mesmo, não possa ser considerado a priori como bom
ou mau: tudo vai dos que o governam. Se o Estado é governado por homens
que praticam o bem e amam a Deus, é bom e trabalha para a cidade celeste;
se o governam aqueles que praticam o mal e ignoram ou hostilizam Deus, é
mau e concorre para a Cidade Terrena.
Só na Cidade Celeste há verdadeira paz, verdadeira justiça, verdadeiro bem;
na Cidade Terrena, os homens esforçam-se por alcançar a paz mas, como não
há paz sem Deus, contram apenas uma aparência de paz; procuram alcançar
a justiça mas, como não há justiça sem Deus, econtram apenas uma
aparência de justiça; e tentam alcançar o bem mas, como não há bem sem
Deus, encontram apaenas a aparência de bem.
Noção de Estado
Da concepção pessimista acerca do Homem e da natureza human, há-de
resultar como consequência lógica uma concepção repressiva do Estado: se o
Homem é mau para o seu semelhante, o Estado deve servir essencialmente
para prevenir e reprimir os erros, as injustiças, os crimes.
O Estado – ao contrário do que defendi Aristóteles – não deve procurar
(porque é impossível) tornar os homens bons e virtuosos: apenas deve tentar
fazer reinar uma certa paz e segurança exteriores nas relações sociais entre
os homens.
O Estado é pois uma ordem exterior e coerciva (a paz e a segurança terrenas
devem ser asseguradas através da coacção e punição, através do sistema
jurídica, o Direito), não tem a ver com o Bem e com a Justiça, mas apenas
com a paz e a segurança possíveis na Cidade Terrena. A Cidade de Deus é
uma ordem de amor; o Estado, no interior da Cidade Terrena, é uma ordem
de coacção.
A paz
A principal finalidade a prosseguir no uso do poder é, para Santo Agostinho, a
preservação da paz. Santo Agostinho considera então que “a paz é o supremo
bem da Cidade” e que existe uma “aspiração universal em direcção à paz”.
As funções da autoridade
Santo Agostinho analisa as 3 funçoes em que se desdobra a autoridade:
imperare (comandar), providere (prover) e consulare (aconselhar). São estes
os deveres do chefe, que traduzem 3 funções ou officia: o officium imperandi,
o officium providendi, e o officium consulendi.
- O officium imperandi é o primeiro de todos: consiste na função de comando
e é o mais importante e o mais difícil dos deveres do chefe. O poder não é
uma propriedade pessoal, mas uma função, um serviço.
- O officium providendi é a segunda das funções do governante: consiste em
prever as necessidades do país e em prover à sua satisfação.
- O officium consulendi faz ressaltar a posição do chefe como conselheiro do
seu povo. O governante deve não apenas comandar e prover, mas também
aconselhar – e deve fazê-lo com espírito fraterno.
A Igreja e o Estado
Santo Agostinho tinha ideias claras sobre a matéria: os poderes eclesiástico e
civil são distintos e independentes. Cada um move-se na sua esfera própria
de jurisdição e actua por sua conta, só sendo responsável perante Deus. Toda
e qualquer ingerência de um nos domínios reservados do outro é
inconveniente e perigosa.
Santo Agostinho manteve-se na posição tradicional do Cristianismo primitivo.
E especificava mesmo que a Igreja, por amor da concórdia civil, deve aceitar
o Estado tal como ele é, com os erros e insuficiências que inevitavelmente o
caracterizam, oferecendo-lhe, na pessoa dos seus fiéis, cidadãos bons e
virtuosos. A Igreja devia ser, assim, uma verdadeira escola de civismo.
Mas houve dois factores que formariam o “agostinianismo político”, ou a
doutrina da supremacia da Igreja sobre o Estado:
- O primeiro foi a doutrina de Santo Agostinho favorável à intervenção do
Estado contra as seitas heréticas, na medida em que defender ser dever o
Estado punir com as suas leis os hereger – funcionando assim na prática
como “braço secular” da Igreja, e aceitando as definições da verdade
religiosa dadas por esta -, não há dúvida de que contribuiu poderosamente
para acentuar a ideia de subordinação do Estado à Igreja.
- O segundo factor foi a própria concepção da Cidade de Deus, como algo de
intrinsecamente superior à Cidade Terrena. É certo que nem aquela
correspondia à Igreja, nem esta ao Estado.
A necessidade de o Estado se submeter à religião e caminhar para Deus,
como elemento da Cidade Celeste, ia provocar o desvio de interpretação que
nela estava implícito. Nasceu assim o já referido “agostinianismo político”.
S. Tomás de Aquino
O homem e a sociedade
Segundo S. Tomás de Aquino, e na esteira de Aristóteles, o homem é um
animal social e, mais do que isso, é um animal político.
A vida em sociedade é própria do homem porque ele não seria capaz de
prover a tudo o que é necessária à vida com os seus próprios meios. Por isso
a sociedade política é a sociedade perfeita, no sentido de que é a única capaz
de proporcionar a satisfação de todas as necessidades da vida. É preciso que
alguém “comande o leme” e o mesmo acontece com as sociedade políticas:
daí a necessidade do governo dos povos e, portanto, do poder político.
Diferentemente de Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino não considera que a
relação política entre governantes e governados seja consequência do pecado
original: pois, para ele, já no paraíso, no “estado de inocência”, essa relação
existia, embora não dotada de coacção.
Em S. Tomás de Aquino, a sociedade política, o Estado, tem uma origem
natural: é um produto da natureza e da razão. É uma consequência do
carácter social e político do homem, que exige uma autoridade que governe
para se realizar o bem comum.
Segundo S. Tomás de Aquino, a sociedade, embora não tenha origem
contratual expressa, repousa num elemento voluntário, que é o
consentimento tácito comum dos seres humanos que pertencem a uma
determinada comunidade.
A pessoa e o Estado
Para S. Tomás de Aquino, o homem não é só indivíduo; o homem é pessoa,
tem natureza racional, goza de liberdade, tem direitos próprios em função da
sua dignidade, por isso que foi criado à imagem e semelhança de Deus. É
uma noção fundamental que decorre da essência mesma do Cristianismo.
Quer dizer: o homem não é uma simples peça do mecanismo estadual, tem
autonomia, goza de independência, é um ser com fins próprios.
A origem do poder
S. Tomás de Aquino entende, como não podia deixar de ser, que todo o poder
vem de Deus.
E explica: “ a sociedade é uma exigência da natureza; para viver em
sociedade é necssária uma autoridade que comande em ordem ao bem
comum; logo, a autoridade é uma exigência da natureza. Mas todas as
exigências da natureza procedem de Deus, seu autor; ora a autoridade é uma
exigência da natureza; logo, a autoridade procede de Deus”.
Até aqui S. Tomás de Aquino mantém-se na linha do ensinamento de S. Paulo,
mas a partir daí vai introduzir um elemento totalmente novo.
O Aquinatense vai, na verdade, ensinar que o poder, de origem divina, é
transmitido directamente ao povo, e do povo é que vai, se ele assim o
determinar, para os governantes.
Esta doutrina – doutrina da ordem popular do poder ou, como se dirá mais
tarde, doutrina da soberania popular – conjugada com o ensinamento
pauliano da origem divina do poder, pode condensar-se na fórmula “todo o
poder vem de Deus através do povo”.
Daqui resulta que Deus concede o poder ao povo, e portanto o povo é que é o
verdadeiro titular do poder político. O povo pode, pois, exercer directamente
o poder, ou delegar o seu exercício em governantes: estes serão meros
delegados do povo, actuando no lugar em vez do povo.
Era a negação do que se chamaria da doutrina do direito divino dos reis – isto
é, da ideia de que o poder vem directamente de Deus para os reis, sem
qualquer mediação popular.
Regimes políticos
Assim, S. Tomás de Aquino, repete que há 3 formas justas de governo: a
monarquia, a aristocracia e a república; e 3 formas desviadas ou injustas: a
tirania, a oligarquia e a democracia. Reconhece que qualquer das 3 primeiras
formas é legítima, porque em todas elas os governos actuam justamente, e
condena as outras 3, porque nelas os governos actuam injustamente – tudo
sempre em relação ao bem comum.
Quanto ao regime ideal, S. Tomás de Aquino distigue entre o regime melhor
“em teroria” e “na prática”: teoricamente, o regime ideal é para ele a
Monarquia; praticamente, porém, as suas preferências vão para um regime
misto.
S. Tomás de Aquino prefere a monarquia por 4 ordens de razões:
- Do ponto de vista teológico, a monarquia é o regime que mais se aproxima
do governo do mundo por Des, que é também o governo de um só, e da
forma de governo que Cristo pretendeu para a sua Igreja
- Do ponto de vista filosófico, a arte de governar, como todas as artes, deve
imitar a natureza: a sociedade política deve seguir o modelo da natureza. Ora
na natureza tudo vem da unidade e tudo regressa à unidade, o que é também
um argumento no sentido da monarquia.
- Do ponto de vista prático, o governo de vários ou de muitos nunca se torna
eficaz senão quando, após as necessárias deliberações, todos se põem de
acordo e atingem a unidade. Portanto, é melhor o governo de um só do que o
de muitos, que primeiro têm de procurar entre si alcançar um consenso.
-Do ponto de vista histórico, enfim, o passado mostra que os países sem rei
sempre viveram na discórdia e sempre andaram à deriva, como
designadamente na história de Roma. Pelo contrário, as cidades e países
governados por um rei gozam de paz, florescem em justiça e vivem felizes na
abundância das riquezas.
Mas, por razões práticas, acrescenta que o regime ideal não deve ser uma
monarquia pura. Para ele, é necessário associar à responsabilidade do
governo não só as elites, capazes de, pela sua inteligência, pelos seus
conhecimentos, pelos seus méritos, assegurar uma boa gestão dos negócios
públicos, mas também, no tocante às decisões fundamentais sobre a vida
colectiva, toda a população, todo o povo.
Assim, o regime misto preconizado por S. Tomás de Aquino é uma monarquia
temperada por elementos de aristocracia e por elementos de república,
seguindo aqui bastante o pensamente de Aristóteles e de Cícero.
Assim, as monarquia garantirá a unidade e a eficácia do poder; a aristocracia
permitirá contribuir com a superioridade do mérito para a boa administração;
e a república assegurará a participação dos cidadãos no governo do país.
- Primeiro, um poder que seja unido é mais eficiente do que outro que seja
dividido. Assim, da mesma forma que é melhor um poder produtor de bem
ser unido, é mais nocivo que um poder produtor de mal seja unido do que
dividido. Por isso, a tirania é pior do que a oligarquia, e esta é pior do que a
democracia.
- Segundo, o que torna um regime injusto é o facto de serem prosseguidos os
interesses pessoais do governante em detrimento do bem-estar da
comunidade. Ora, servindo a tirania para satisfazer apenas os interesses de
um homem só, é aí que se fica mais longe (mais longe ainda do que na
oligarquia) da satisfação dos interesses de todos.
- Terceiro, é bom que um bom governo seja unido e forte, mas é mau que um
mau governo seja forte e unido. Por consequência, de todas as formas
injustas de governo, a democracia é a mais tolerável, e a tirania é a pior.
- Quarto, a tirania não há apaenas satisfação de interesses pessoais do tirano
em prejuízo dos interesses do povo e do país: há também opressão dos
súbditos. E tudo isso acontece porque “não há lei” e portanto nada é seguro,
tudo é incerto.
- Quinto, o tirano semeia a discórdia entre os seus súbditos. Como vive
permanentemente no receio de uma revolta, o tirano divide para reinar.
- Sexto, a tirania gera o medo dos cidadãos perante o poder. Ninguém se
sente livre ou seguro.
- Sétimo, e em consequência de tudo isto, o tirano não consegue
normalmente assegurar um país forte perantes os inimigos exteriores. Em
regra, o tirano é forte perante os seus súbditos, mas fraco perante os seus
inimigos.
Estado e Igreja
Em meados estava-se no auge da supremacia do papado, segundo a doutrina
do sacerdotalismo e do “agostinianismo”: o poder espiritual predominava
sobre o poder temporal, pois os titulares deste, como cristãos, tinham de se
submeter à Igreja.
Ora, S. Tomás vem dizer que tanto o poder espiritual como o poder temporal
são legítimos – e têm ambos origem divina.
Segundo ele, a vida sobrenatural é sem dúvida superior à vida terrena, e por
isso S. Tomás de Aquino reconhece, na esteira da tradição medieval, a
primazia do poder espiritual sobre o poder temporal. Mas acrescenta: essa
primazia só se verifica naquilo que se refira à salvação das almas. Ou seja, S.
Tomás de Aquino procura fechar a porta por onde tinham passado todos os
abusos da doutrina da supremacia do poder espiritual sobre o poder
temporal.
E acrescenta que o poder secular só está subordinado ao espiritual enquanto
tal subordinação for requerida por Deus, que é como quem diz, enquanto for
necessária para a salvação da alma, baseando-se no Evangelho de S. Mateus
“dai a César o que é de César”.
A IDADE MODERNA
O espírito do Renascimento e a política
Por um lado, dá-se uma atenuação muito forte do espírito religioso global e
envolvente que marcou a Idade Média, e uma clara acentuação do
humanismo e dos valores profanos, com um certo resvalar para o paganismo,
num quadro geral de restauração da cultura greco-romana e dos traços
característicos da Antiguidade Clássica, e da ruptura com a Idade Média. Tudo
o que é humano passa a ser mais importante do que o divino.
Por último, cumpre chamar a atenção para que é durante esta fase - cerca de
um século depois do seu inicio – que se produz esse grande terramoto da
historia europeia que é a Reforma protestante, seguida da Contra - reforma
católica – acontecimentos que dividem a Europa cristã em países católicos e
protestantes, com inevitáveis implicações politicas
Foi então que redigiu a sua obra mais conhecida e mais célebre - «O
Príncipe», escrita em 1513 – 1514, mas publicada apenas em 1531, quatro
anos após a sua morte. Este livro foi oferecido a LORENZO DE MEDICIS, ou
Lourenço O Magnifico, de quem o autor queria obter o favor de um emprego.
MAQUIAVEL não faz juízos morais. Para ele não tem sentido distinguir entre
rei e tirano: o príncipe é bom ou mau, não em função de critérios éticos, mas
em função de êxito político. Bom é o príncipe capaz de conquistar o poder e
de o manter por muitos anos; é mau aquele que não chega a possuir o poder
ou eu o perde em pouco tempo.
Para ele, não há política juízos éticos: o único critério é o do êxito político.
Não importa se os príncipes usam ou não a crueldade: o que conta é se a
crueldade foi bem usada e teve êxito, ou foi mal usada e fracassou.
Nacionalismo
Segundo, MAQUIAVEL, o príncipe deve ser cruel quando necessário; mais vale
a um príncipe ser temido do que ser amado; o príncipe deve usar da boa fé
ou da má fé, conforme o que lhe for mais útil; não é preciso ter todas as
qualidades, o que é preciso é parecer tê-las; algumas coisas que parecem
virtudes levariam, se seguidas, à ruína, e outras que parecem vícios resultam
em maior segurança e bem-estar do príncipe; o príncipe deve entregar a
outros a execução das tarefas impopulares; e conceder ele próprio os favores
ou benefícios; um príncipe que deseje manter o Estado é frequentemente
forçado a praticar o mal, etc. Assim, sendo nas acções dos príncipes apenas
se atende ao fim a alcançar, conquistar e manter o Estado; se esse fim for
atingido pelo Príncipe, todos os meios que ele tiver usado, ainda que
ilegítimos, serão por todos considerados como honrosos e louvados. Para
MAQUIAVEL, o mal, não consiste em cometer um crime, consiste em
praticar um erro político.
A Republica, ou o Estado
BODIN começa por definir no seu livro o que é a Republica, ou seja, como
diríamos hoje, o Estado. Em primeiro lugar, o Estado é o governo recto,
isto é, um poder político que deve ser subordinado à moral, à justiça e ao
Direito natural. É um domínio exercido sobre os homens livres e que portanto
se contrapõe à noção de tirania e de governo tirânico, que BODIN condena
veementemente. E critica ARISTOTELES, que propunha como finalidade do
Estado “viver bem e com felicidade”, uma vez que o Estado deve visar mais
alto “a contemplação das coisas naturais, humanas e divinas”. Em segundo
lugar, o Estado é um governo que incide sobre várias famílias. E este ponto é
importante, porque para BODIN, ao contrário da tradição grega,
nomeadamente de ARISTOTELES, o elemento fundamental da pólis, da
Republica, não é o indivíduo mas sim a família. Em terceiro lugar, BODIN
chama a atenção para que a Republica tem a ver com o governo daquilo que
é comum às famílias. E, portanto, significa o reconhecimento de que só o
que é público compete ao Estado: ao Estado não compete intervir naquilo que
pertence à esfera privada das pessoas; nomeadamente não compete ao
Estado intervir na vida da família, e no seu esteio material, que é a
propriedade. A propriedade e a família são, assim, dois limites ao
poder soberano.
Um conceito novo: a soberania
Esta ideia da soberania como poder uno e indivisível, encabeçado no Rei, que
assim detêm nas mãos a totalidade dos poderes do Estado, legislativo,
executivo e judicial, iria caracterizar a realidade politica durante todo o
período do absolutismo, mas seria fortemente contestada, me menos de
duzentos anos, pelos teóricos libérias, defensores da separação de poderes.
Conclusão:
Dois anos antes deste regresso, HOBBES, ainda exilado em França, tem
notícia da decapitação de CARLOS I (1649). O período de turbulência e
conflito armado que antecede a morte do rei e que se lhe segue mais reforça
ainda o sentimento de horror que HOBBES nutria em relação à desordem, à
anarquia, à guerra civil, e a sua firma determinação de construir uma teoria
política capaz de dar uma base racional a um Estado forte. HOBBES procura,
pois, justificar um poder absoluto, ainda que não necessariamente o de um
Rei hereditário. Contanto que o Estado seja forte e garanta a paz e a
segurança.
Há, pois, uma necessidade de cada homem querer sempre mais e melhor,
mesmo que seja apenas para ter a certeza de que não ficará pior. Aqui
aparece pela primeira vez o homem a viver em sociedade, isto é, ao lado de
outros homens, “o desejo perpetuo e sem descanso de mais e mais poder”
conduz fatalmente os homens à competição uns com os outros, porque tanto
as riquezas, como as honras, como o poder politico, são bens escassos, que
não podem pertencer a todos plenamente. Assim, “a competição pela
riqueza, pelas honras, pelo governo, conduz os homens à rivalidade, à
inimizade e à guerra: porque o meio de um competidor satisfazer o seu
desejo é matar, submeter, suplantas ou repelir o outro”.
A maior paixão do homem a sua sensação mais forte, o principal motivo das
suas acções é, segundo HOBBES, o medo da morte.
HOBBES conclui, pois, que para sair da guerra que caracteriza o “estado de
natureza1, e encontrar a paz que só é garantida pelo “estado de sociedade”,
é necessário que os homens renunciem, ao menos em parte, ao seu direito a
todas as coisas, à sua liberdade e o transfiram para um Poder comum a todos
garanta a paz e a segurança. É o que ROUSSEAU chamará, um século depois,
o contrato social.
Em HOBBES, o Estado não tem fins ilimitados: ele é uma criação humana com
tarefas bem precisas e bem delimitadas. Pois, para ele, o Estado serve
sobretudo para garantir a paz e a segurança dos indivíduos, quer contra o
inimigo externo, quer contra as desordens e perturbações internas. A partir
dai, caberá à lei determinar outras funções acessórias que devam pertencer
ao Estado, mas tudo o resto competirá à actividade privada dos indivíduos. O
Estado hobbesiano é autoritário, mas não é totalitário. Não pretende absorver
na esfera da acção pública todas as iniciativas e instituições privadas. A ideia
fundamental de HOBBES é que a defesa nacional e a segurança são tarefas
do Estado, ao passo que as industrias, isto é, actividades produtivas, é uma
tarefa dos cidadãos, no exercício da sua liberdade.
Para HOBBES, tal como para BODIN, a soberania não pode ser dividida nem
partilhada: pois, se houver partilha, quem tiver a última palavra é que será
soberano, ou então haverá dois soberanos, o que dividira não apenas o poder
mas o próprio Estado.
Rousseau era contrário ao luxo e à vida material. Para ele o grande mal dos
tempos modernos era a civilização burguesa, com hábitos de luxo e de
criação de desejos artificiais. Rousseau propunha uma vida familiar com
simplicidade, no plano político, uma sociedade baseada na justiça, igualdade
e soberania do povo presente na obra “O Contrato Social”.
Sendo assim, para ele o “Estado é convencional, resulta da vontade geral, é
uma soma manifestada pela maioria dos indivíduos numa sociedade”. Para
ele, o governo é uma instituição que promove o bem comum e só é
suportável enquanto justo. E não correspondendo os anseios populares do
povo, este tem direito de substituí-lo.
O Contrato social
O soberano
O governo
• Que a forma dos governos deve depender das situações locais e que é
absurdo querer em toda a parte impor uma única solução;
Religião
O governo moderado
A Resistência ao Poder
Kant
Filosofia de KANT
Fontes e Origens
Alem dos escritores da antiguidade, KANT esta penetrado de MONTESQUIEU,
DE ROUSSEAU principalmente.
A razão prática não é de modo algum para KANT uma razão oportunista. Os
preceitos da razão prática (isto é, da razão aplicada ao mundo da acção)
impõem-se como absolutos relativamente aos quais nenhuma transgressão é
admissível. O preceito moral contido nos fins não pode em caso algum ser
subordinado aos meios, mesmo quando estes permitiriam abreviar o caminho
que conduz aos fins. O ideal de KANT é o “politico moralista”, e não o
maquiavélico. A moral é sempre o juiz inapelável da política.