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Disciplina de Direito de Civil VII - Direito de Família

Professora: M.a Daniela Bortoli Tomasi

Nomes: Caroline Nunes Oliveira, Gabriel Sanches, Tais Garcia e Vinicius Eckerleben.

CURATELA

A finalidade da curatela é conceder proteção aos incapazes no que se refere a seus


interesses, a fim de garantir a preservação dos negócios realizados por eles com relação a
terceiros. A curatela, via de regra, constitui um poder assistencial ao incapaz maior, ao completar-
lhe ou substituindo-lhe a vontade, e nisto encontra-se sua diferença em relação à tutela.

1. Características:

Segundo o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2019, p. 696), a curatela apresenta


cinco características relevantes:

a) Os seus fins são assistenciais;

A curatela completa no Código Civil os sistemas assistências que se referem à


capacidade do sujeito, sendo a curatela destinado para aqueles que não podem,
por si mesmo, reger seus bens e a sua pessoa. GONÇALVES (2019) define a
curatela como um “encargo atribuído a alguém, para reger a pessoa e administrar
os bens de maiores incapazes, que não possam fazê-lo por si mesmos”,
mencionando também que a exceção quanto aos nascituros e aos maiores de 16 e
menores de 18 anos.

b) Tem caráter eminentemente publicista;

GONÇALVES (2019), diz que: “O caráter publicista advém do fato de ser dever do
Estado zelar pelos interesses dos incapazes. Tal dever, no entanto, é delegado a
pessoas capazes e idôneas, que passam a exercer um múnus público, ao serem
nomeadas curadoras”.

c) Tem, também, caráter supletivo da capacidade;

O caráter supletivo da curatela, em terceiro lugar, origina-se do fato de o curador ter


o encargo de representar ou assistir o seu curatelado, cabendo em todos os casos
de incapacidade não suprida pela tutela. (GONÇALVES, 2019). Em outras palavras,
supre-se a incapacidade, podendo ser absoluta ou relativa dependendo do grau de
imaturidade, deficiência física ou mental da pessoa, pelos institutos da
representação e da assistência.

d) É temporária, perdurando somente enquanto a causa da incapacidade se


mantiver (cessada a causa, levanta-se a interdição);

A quarta característica da curatela, como visto, é a temporariedade, pois subsistem


a incapacidade e a representação legal pelo curador enquanto perdurar a causa da
interdição. Cessa a incapacidade desaparecendo os motivos que a determinaram.
Assim, no caso da loucura e da surdo-mudez, por exemplo, desaparece a
incapacidade, cessando a enfermidade físico-psíquica que a determinou. Quando a
causa é a menoridade, desaparece pela maioridade e pela emancipação.
(GONÇALVES, 2019). Desta forma , nos casos da loucura e da surdo-mudez, por
exemplo, desaparece a incapacidade, cessando a enfermidade físico-psíquica que
as deu causa. Da mesma forma, quando a causa é a menoridade, desaparecerá
pela maioridade e/ou pela emancipação

e) A sua decretação requer certeza absoluta da incapacidade.

A certeza da incapacidade, por fim, é obtida por meio de um processo de


interdição, disciplinado nos Arts. 747 e seguintes do Código de Processo Civil de
2015. (GONÇALVES, 2019)

2. Espécies de curatela:

O Código Civil declara, no art. 1.767, com as alterações promovidas pela Lei n.
13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) sujeitos a curatela:

I – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir


sua vontade;
II – (Revogado);
III – os ébrios habituais e os viciados em tóxico; IV – (Revogado); V – os
pródigos”

Mais adiante, entretanto, como já dito, o aludido diploma trata também da curatela dos
nascituros (art. 1.779).
As curadorias especiais, como esclarece Orlando Gomes, “distinguem-se pela finalidade
específica, que, uma vez exaurida, esgota a função do curador, automaticamente. Têm cunho
meramente funcional. Não se destinam à regência de pessoas, mas sim à administração de bens
ou à defesa de interesses. Para fins especiais, as leis de organização judiciária cometem a
membros do Ministério Público as funções de curadoria. Esses curadores oficiais assistem
judicialmente nos negócios em que são interessados menores órfãos, interditos, ausentes, falidos.
Daí a existência dos curadores de resíduos, de massas falidas, de órfãos e ausentes, de
menores”.
Dentre as curadorias especiais podem ser mencionadas:

a) a instituída pelo testador para os bens deixados a herdeiro ou legatário menor (CC,
art. 1.733, § 2°);
b) a que se dá à herança jacente (CC, art. 1.819);
c) a que se dá ao filho, sempre que no exercício do poder familiar colidirem os
interesses do pai com os daquele (CC, art. 1.692; Lei n. 8.069/90, arts. 142, parágrafo
único, e 148, parágrafo único, f);
d) a dada ao incapaz que não tiver representante legal ou, se o tiver, seus interesses
conflitarem com os daquele;
e) a conferida ao réu preso;
f) a que se dá ao revel citado por edital ou com hora certa, que se fizer revel (curadoria
in litem, CPC, art. 72, I e II).

O Estatuto da Pessoa com Deficiência

A Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015, denominada “Estatuto da Pessoa com Deficiência”,


promoveu uma profunda mudança no sistema das incapacidades, alterando substancialmente a
redação dos Arts. 3° e 4° do Código Civil, que passou a ser a seguinte:

“Art. 3° São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
Art. 4° São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os
exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade;
IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será
regulada por legislação especial”.

Observa-se que o art. 3°, que trata dos absolutamente incapazes, teve todos os seus
incisos revogados, apontando no caput, como únicas pessoas com essa classificação, “os
menores de 16 (dezesseis) anos”.

Curatela dos impedidos, por causa transitória ou permanente, de exprimir sua vontade

Não se cuida, como já dito, de enfermidade ou deficiência mental, mas de toda e qualquer
outra causa que impeça a manifestação da vontade do agente. Incluem-se aqui as doenças
graves que tornam a pessoa completamente imobilizada, sem controle dos movimentos e
incapacitadas de qualquer comunicação, em estado afásico, ou seja, impossibilitadas de
compreender a fala ou a escrita, como sucede comumente nos casos de acidente vascular
cerebral (isquemia e derrame cerebral), e nas doenças degenerativas do sistema nervoso, que
deixam a pessoa prostrada, sem lucidez, perturbada no seu juízo e na sua vontade, ou em estado
de coma.

Curatela dos ébrios habituais e viciados em tóxico


Preleciona Silvio Venosa que, nessa categoria “incluem-se as pessoas que podem ser
interditadas em razão de deficiência mental relativa por fatores congênitos ou adquiridos, como os
alcoólatras e os viciados em tóxico. Como essas pessoas podem ser submetidas a tratamento e
voltar à plenitude de suas condutas, os estados mentais descritos são, em princípio, reversíveis”
A curatela dos toxicômanos abrange os incapazes em virtude do vício ou dependência de
substâncias tóxicas em geral, seja cocaína, morfina, ópio, maconha ou outra, bem como o álcool.

Curatela dos Pródigos

O pródigo é aquele de que desperdiça seu patrimônio de maneira demasiada. Pode-se


dizer que é aquele que se desfaz de seus bens de maneira errônea e este fato está ligado à sua
personalidade.

“A prodigalidade constitui desvio da personalidade, comumente ligado à


prática do jogo e à dipsomania (alcoolismo), e não, propriamente, de um
estado de alienação mental23. Se, no entanto, evoluir a esse ponto,
transformando-se em enfermidade ou deficiência mental, com prejuízo do
necessário discernimento, poderá ser enquadrado como absolutamente
incapaz (CC, art. 3º, II)”. (GONÇALVES, 2019).

Há divergência no entendimento de que submeter os Pródigos à internação, curatela


dentre outras medias é uma hipótese aceitável e efetiva. Para alguns é uma violação de direitos,
como por exemplo a Liberdade Individual. Porém, o Código Civil em seu artigo 1.767 inciso V
estabelece que os Pródigos estão sujeitos à curatela visto que podem reduzir-se à uma situação
de miséria, tornando-se assim um problema para o Estado.
Com o intuito de resguardo, proteção e cuidado, a curatela dos pródigos visa manter sua
integridade física, emocional, patrimonial, e não sua família.

Curatela do Nascituro

Art. 1.779, CC: Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e
não tendo o poder familiar. Assim estabelecendo o Código Civil no que diz respeito ao nascituro,
estas são as duas hipóteses em que cabe curatela.
O interesse na curatela do Nascituro está quando este vier a receber legado, doação ou
herança.

Curatela do enfermo e do portador de deficiência física

Quando se fala em Curatela do Enfermo e do Portador de Deficiência Física, não há que


se falar em verdadeira interdição mas sim, em uma representação administrativa.

“Tal modalidade de curatela somente terá utilidade quando o paciente, por


enfermidade ou deficiência física, estiver impossibilitado de outorgar

mandato a procurador de sua confiança, para os fins mencionados, como


sucede com o indivíduo que não consegue assinar a procuração ou se
encontra na CTI do hospital, impossibilitado fisicamente de constituir
procurador (por se encontrar em estado de coma ou inconsciente há longo
tempo, p. ex.), estando a família necessitada de retirar dinheiro de agência
bancária para pagamento das despesas, ou para atender necessidades
urgentes, ou ainda ultimar negócios inadiáveis”. (GONÇALVES, 2019).

3. O Procedimento De Interdição

Conforme exposto anteriormente, a incapacidade é verificada por meio de um


procedimento de interdição, regulado pelo CPC em seu art. 747 e seguintes, bem como pela Lei
dos Registros Públicos (Lei nº 6.015/73).
Quando o Ministério Público formular o pedido de interdição, será nomeado curador à lide
ao interditando, porém, se formulado por outra pessoa, o Ministério Público atuará como fiscal,
conforme regula os arts. 178, II, e 752, §1º, NCPC; o §2º, do presente art. ainda regula a
possibilidade de o interditando constituir advogado, e, caso não o faça, deverá ser nomeado
curador especial.
O CPC regula, em seu art. 751, §1º ao 4º, o interrogatório, minucioso, feito pelo juiz, para
que este possa formar a sua convicção a respeito da incapacidade alegada em face do
interditando, podendo este ser acompanhado por especialista. Em até 15 dias, após o
interrogatório, o interditando pode impugnar o pedido, através de seu advogado constituído ou
curador designado.
Como garantia de ampla defesa, qualquer parente sucessível, o cônjuge ou o companheiro
do interditando, poderão intervir como assistentes, conforme o art. 752, §3º, NCPC.
Decorrido o prazo de impugnação, será nomeado um perito para realizar o exame do
interditando e, respectivamente, apresentar seu laudo. Se, ainda, restarem duvidas, acerca da
capacidade do interditando, poderá o juiz, com base no art. 480, NCPC, solicitar nova pericia.
Quando houver a necessidade de produção de provas, o juiz designará a audiência de
instrução e julgamento, tendo em vista que o interditando tem direito a provar que pode gerir a sua
vida e administrar os seus bens, com a oitiva de testemunhas.
Quando se tratar de relativamente incapazes, será fixado limites para a curatela, os quais
restringem o interditando de praticar atos que comprometam o seu patrimônio sem a presença do
curador.
Há a possibilidade de o juiz nomear mais de um curador para pessoas com deficiência,
com base no art. 1.775-A, CC.
Segundo Gonçalves (2020, pag. 713) o registro e a publicação da sentença, que declara a
interdição, tornam-na pública, não podendo, a partir daí, terceiros que celebrem contratos com o
incapaz alegar ignorância de seu estado.

Legitimidade Para Requerer A Interdição


O art. 747, NCPC, dispõe sobre a legitimidade para a interdição, sendo um rol taxativo, não
preferencial, sendo assim, qualquer das pessoas indicadas pode promover a ação.

Art. 747. A interdição pode ser promovida:


I - pelo cônjuge ou companheiro;
II - pelos parentes ou tutores;
III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o
interditando;
IV - pelo Ministério Público.
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação
que acompanhe a petição inicial.

Em havendo discordância entre os legitimados, cabe ao juiz redobrar os cuidados na


apreciação do pedido.
Em se tratando de interdição por doença mental grave, só caberá ao Ministério Público
promover a interdição quando as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não
existirem ou não promoverem a interdição e, se existindo, forem incapazes as pessoas
mencionadas nos incisos I e II do art. 747 (NCPC, Art. 748, I e II). Nos casos onde os sujeitos
mencionados no art. 747, NCPC, não promoverem a ação, será estipulado um prazo para que
possam suprir a omissão.

Pessoas Habilitadas A Exercer A Curatela

O Art. 1.775, CC, indica quem deve ser nomeado curador ao interdito, com isso a curatela
pode ser legitima (§1º e §2º) ou dativa (§3º).

Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de


fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito.
§1 o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe;
na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto.
§ 2 o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.
§ 3  o  Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a
escolha do curador.

Após a nomeação o curador deve zelar pela pessoa e pelos bens do curatelado.
Cabe ao Ministério Público ou a quem tenha legitimo interesse requerer, nos casos
previstos em lei, a remoção do curador ou a sua substituição, conforme dispõe os arts. 761 e 762,
NCPC, respectivamente.

Natureza Jurídica Da Sentença De Interdição


Segundo Gonçalves (2020, pag. 721) a respeito da natureza jurídica da sentença que
decreta a interdição, tem prevalecido o entendimento de que não é constitutiva, por não criar o
estado de incapacidade, mas apenas declaratória da existência de uma situação. Para que seja
possível anular atos práticos antes da sentença, deve ser provada a incapacidade naquela época,
isto em uma ação autônoma.

Levantamento Da Interdição

Regulado pelo Código de Processo Civil, em seu art. 756, levantar-se-á a curatela quando
cessar a causa que a determinou. Pode ser pedido pelo interessado, pelo curador ou pelo
Ministério Público e será apensado aos autos da interdição, conforme §1º do referido artigo. Será
nomeado um perito ou uma equipe multidisciplinar para proceder ao exame do interdito. Para a
apresentação do laudo, será designada nova audiência de instrução e julgamento (§2º).
Após o acolhimento do pedido, será decretado o levantamento da interdição, este, por sua
vez, pode ser integral ou parcial, e será publicado a sentença após o transito em julgado, na forma
do art. 755, §3º.

“Art. 755, § 3º: A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas


naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no
sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do
Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na
imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com
intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do
curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a
interdição, os atos que o interdito poderá praticar autonomamente”.

Referências:
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: volume 6 - direito de família. 16. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/
9788553608966/cfi/696!/4/4@0.00:61.7. Acesso em: 15 jun. 2020.

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