Você está na página 1de 17

Aquisição e Perda da Posse

ROGÉRIO RIBEIRO DOMINGUES


Advogado. Professor de Direito Civil na Universidade Cândido Mendes.

Resumo: Este estudo visa a examinar os modos de aquisição e perda da posse, com foco na
distinção entre os denominados modos originários e derivados de aquisição, fazendo um cotejo entre
a enumeração dos modos elencados no Código Civil de 1916 e a redação do atual Código Civil, e,
principalmente, com análise da perda da posse quando o possuidor esbulhado não está presente no
momento do esbulho, apresentando uma inovadora interpretação do art. 1.224 do Código Civil em
vigor.
Palavras Chave: posse – aquisição – apreensão da coisa – ocupação – tradição – constituto
possessório – sucessão hereditária – perda – ausência.
Résumé: Cette étude vise à examiner les modes d’acquisition et de la perte de la possession, en se
concentrant sur la distinction entre les modes d’acquisition dits originaires et dérivés, comparant le
dénombrement des modes énumérés dans le code civil du 1916 et la rédaction du code civil actuel ,
et, principalement, avec l’analyse de la perte de la possession lorsque le possesseur dépouillé n’est
pas présent au moment du dépouillement, présentant une nouvelle interprétation de l’article 1.224 du
code civil en vigueur.
Mots – Clés: possession – acquisition-appréhension de la chose – occupation – tradition – constitut
possessoire – succession héréditaire – perte – absense.
Sumário: 1. Aquisição da posse – Noções. 2. Modos de aquisição. 2.1 – Modos originários de
aquisição. 2.2 – Modos derivados de aquisição. 2.3 – Sucessão causa mortis. 3. O exercício do
direito. 4. Da perda da posse – Noções. 4.1 – Da perda. da posse para o ausente. Referências
bibliográficas.

1. Aquisição da posse – Noções


Sendo a posse o exercício pleno ou não de algum dos poderes inerentes ao domínio, ela é adquirida
ou se inicia no momento em que começa ou se torna possível esse exercício de poder. Por força
dessa evidência, a enumeração dos modos de aquisição e perda no Código Civil de 1916 era objeto
de críticas, como salienta Orlando Gomes.[1] Apesar das críticas, muitos entendem que há
necessidade de se determinar o momento em que a posse tem início ou é adquirida, vez que tudo na
posse gira em torno do tempo, como distinguir se a ação possessória empregada é de força nova ou
de força velha ou a consumação do lapso temporal para a aquisição do domínio pela usucapião,
tornando justificável a enumeração legal. Orlando Gomes ressalta que os defensores da enumeração
argumentam também que “a incoerência doutrinária incriminada ao legislador por haver
especificado modos de aquisição da posse, teria a escusa de não ser o Código obra teórica, que
devesse guardar fidelidade absoluta à doutrina que aceitou”.[2]
O Código Civil de 1916 dispunha nos três incisos do art. 493 que a posse seria adquirida pela
apreensão da coisa ou exercício do direito, pelo fato de se dispor da coisa ou do direito e por
qualquer dos modos de aquisição em geral. Arnold Wald, analisando o referido art. 493 do Código
Civil de 1916, conclui que, além de não ser taxativa a enumeração nele contida, apresenta um grau
de generalidade em seu trato, sendo redundante.[3]
Carlos Alberto Gonçalves entende que “justifica-se, todavia, a fixação da data da aquisição da posse
por várias razões. Primeiro, porque os vícios da posse decorrem da forma pela qual ela é adquirida,
surgindo em seu momento inicial. A posse é violenta ou clandestina em virtude de um vício
contraído no momento de sua aquisição, e não em consequência de um fato posterior. Segundo,
porque permite apurar se transcorreu o lapso de ano e dia capaz de distinguir a posse nova da posse
velha. E terceiro, porque marca o início do prazo de usucapião”.[4] Mas, considerando que foi
“acolhida a teoria de Ihering, pela qual a posse é estado de fato correspondente ao exercício da
propriedade, ou de seus desmembramentos, basta a lei prescrever que haverá posse sempre que essa
situação se definir nas relações jurídicas”.[5] Todavia, defende Clóvis ao dizer que “a incoerência,
porém, não pode ser atribuída a Clóvis Beviláqua, pois seu Projeto não continha regras sobre a
aquisição da posse”.[6] O próprio Clóvis, comentando o art. 493 do Código Civil de 1916, diz que “é
um artigo perfeitamente ocioso, o 493, em face da doutrina aceita pelo Código Civil. Se a posse é o
estado de fato, correspondente ao exercício da propriedade ou de seus desmembramentos, sempre
que esta situação se definir, nas relações jurídicas, haverá posse. Mas, se se queria um artigo sobre
aquisição de posse, bastaria o n. III”.[7]
O atual Diploma Legal dispõe no art. 1.204 que a posse é adquirida desde o momento em que se
torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
Marco Aurélio Bezerra de Melo aplaude a mudança na legislação apontando que não era razoável
definir a posse de acordo com uma teoria e prever os modos de aquisição em consonância com outra,
dizendo que para sua aquisição basta que o pretenso possuidor se comporte como prevê o art.
1.204.[8]
Embora concordemos que a enumeração dos meios de aquisição e de perda da posse não coadune
com a posição doutrinária esposada pelo legislador, tanto no Código Civil de 1916 quanto no de
2002, não podemos olvidar que é imperioso determinar com precisão o exato momento em que ela
se inicia ou é adquirida e quando termina ou se perde. A modificação advinda no novo Código
poderia ser entendida como um marco positivo não fosse o clamoroso equívoco ao dispor que ela se
inicia ou se adquire desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de
qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Ao dizer que ela é adquirida quando se torna possível
o exercício em nome próprio dos poderes da propriedade, o legislador fez colidir o art. 1.204 com o
1.197, excluindo o possuidor direto, que não a exerce em nome próprio, malgrado o faça por direito
próprio. A emenda saiu pior que o soneto. Somente poder-se-ia falar em evolução se fosse suprimida
do art. 1.204 a expressão em nome próprio.

Se o legislador supôs que com isso estaria excluindo o detentor, o erro chega a ser bisonho, pois este
não exerce posse em nome alheio. O detentor simplesmente não exerce posse, seja em seu nome,
seja em nome alheio. Quem o faz em nome alheio é o possuidor direto, que acabou excluído, na
dicção do art. 1.204, da qualidade de possuidor. Nesse ponto equivoca-se Maria Helena Diniz ao
dizer que “o “fâmulo da posse” é aquele que, em virtude de sua situação de dependência econômica
ou de um vínculo de subordinação em relação a uma outra pessoa (possuidor direto ou indireto),
exerce sobre o bem, não uma posse própria, mas a posse desta última e em nome desta, em
obediência a uma ordem ou instrução”[9], pois, como dissemos, o detentor não exerce a posse nem
em seu nome nem em nome alheio.
O Código Civil alemão, com mais precisão, dispõe, no art. 854, que “a posse de uma coisa se
adquire pela obtenção do poder de fato sobre esta coisa”, sem cogitar que esse poder se exerça em
nome próprio, como disposto no art. 1.204 do nosso atual Código Civil. O mencionado art. 854 do
Código Civil tedesco, em sua segunda parte, aduz que “o acordo do precedente possuidor e do
adquirente é suficiente para a aquisição logo que este último se encontra em situação de exercer seu
poder sobre a coisa”. Paulo Nader, malgrado não cite a segunda parte do art. 854 do Código Civil
alemão, mas apenas a primeira, ressalta que não é preciso o efetivo exercício do poder para se
adquirir a posse, bastando a possibilidade desse exercício[10]. De fato, para haver posse não é
necessário o exercício do poder sobre uma coisa, sendo suficiente a possibilidade desse exercício.
Nesse ponto, o atual Código Civil brasileiro, acertadamente, prescreve que a posse é adquirida
quando se torna possível o exercício dos poderes inerentes à propriedade sobre a coisa. Não exige o
exercício desse poder. Basta que seja possível o exercício.
José Carlos Moreira Alves, ao enfrentar a questão de a posse ser um fato ou um direito, lembra que o
argumento em favor dela ser um direito por não ser possível adquirir ou perder um fato não procede,
pois seriam expressões impróprias. A posse, no entender do insigne jurista, não se adquire nem se
perde: ela se inicia e se extingue[11]. Mas, apesar dessa interessante observação, é do mesmo modo
necessário precisar o momento em que ela se inicia ou é adquirida e o momento em que ela se
extingue ou se perde.
Portanto, entendemos que a redação do art. 493 do Código Civil de 1916, malgrado redundante, não
acarretava em qualquer problema de ordem prática, ao passo que o disposto no art. 1.204 do atual
Código Civil, ao dizer que a posse é adquirida quando exercida em nome próprio comete um
equívoco gritante, constituindo um retrocesso legislativo, aproximando-se mais da teoria de Savigny
do que o art. 493 do Código Civil revogado. Sem dúvida, exercer a posse em nome próprio é exercê-
la com animus domini ou rem sibi habendi.

2. Modos de aquisição
Abstraindo-nos da despicienda, porém inócua, enumeração do art. 493 do Código Civil de 1916 e do
grave equívoco do art. 1.204 do novel diploma legal, a posse é adquirida ou se inicia por modos que
se agrupam em duas categorias: originários e derivados. Na primeira não há transferência do
precedente possuidor ao que a adquire. Na segunda categoria há essa transferência. A relevância
dessa descrição é destacada por Silvio Rodrigues ao dizer que “é de alta importância a distinção
entre meios derivados e originários de aquisição da posse. Pois, se a maneira de aquisição é
orignária, a posse se apresenta despida dos vícios que a maculavam em mãos do antecessor, visto
tratar-se de uma nova posse, de uma situação de fato que acabou de nascer, possivelmente com
defeitos novos, mas sem os vícios anteriores”. Prosseguindo, Silvio Rodrigues esclarece que “por
outro lado, se a aquisição da posse se deu por meio derivado, o adquirente recebe a posse com todos
os vícios que a inquinavam nas mãos do alienante”[12].
2.1 – Modos originários de aquisição
Os modos originários são a apreensão da coisa, se a coisa for móvel, a ocupação, se a coisa for
imóvel, e o exercício do direito, se se tratar do denominado jus in re aliena e se decorrer de
usucapião, independentemente de estarem ou não elencados na lei.

2.1.1 – A apreensão da coisa


Pode ocorrer de modo lícito ou lícito. É lícita quando se apreende uma res nullius ou uma res
derelictae, situações em que aquele que apreende a coisa adquire a posse e o domínio da coisa
apreendida. Será ilícita a apreensão se a coisa for furtada, roubada ou tiver sido perdida pelo legítimo
possuidor. Nessas situações, obviamente, só se adquire a posse, não a propriedade.

A invenção ou descoberta, como o novo Código prefere denominar o ato de encontrar um objeto
perdido, pode gerar uma posse lícita se o inventor tiver a intenção de restituir o objeto encontrado ao
legítimo possuidor ou à autoridade competente. Enquanto estiver com a coisa em seu poder será
possuidor pleno, pois não houve desdobramento da posse, vez que não existiu relação jurídica com o
possuidor que a perdeu, de modo a justificá-la. Será uma posse provisória, porém plena. Não se pode
cogitar de detenção, posto que o inventor não está seguindo ordens e instruções do possuidor nem
está com o objeto por tolerância deste. Se o inventor tiver a intenção de ficar com a coisa para si,
adquirirá posse plena e ilícita, porém ad interdicta e ad usucapionem, ou seja, posse em nome
próprio.

2.1.2 – A ocupação
Do mesmo modo que a apreensão da coisa móvel, a ocupação de imóveis pode se dar de forma lícita
ou ilícita. É lícita quando o imóvel ocupado não pertencer a ninguém ou tiver sido abandonado. Será
ilícita se decorrer de esbulho, haja ou não violência, clandestinidade ou precariedade. Mesmo sem
esses vícios o imóvel pode ter sido esbulhado pelo simples fato de o adquirente saber que não tem
direito de se apossar do bem, procedendo, pois, com má-fé. É importante frisar que até na posse
precária há posse, ainda que a precariedade persista, produzindo efeitos, a despeito de afirmações em
contrário, pois, malgrado o abuso de confiança ser permanente, aquele que a adquire com
precariedade pode se valer das ações possessórias contra terceiros, bem como o esbulhado não pode
restituir-se por sua própria força, sendo compelido a se utilizar dos interditos possessórios para
recuperá-la.

2.2 – Modos derivados de aquisição


São modos derivados de aquisição da posse a tradição, em que há o consentimento do transmitente, a
sucessão hereditária, na qual, embora não haja o consentimento daquele que transmite a posse, há
inequívoca transferência, não podendo ser considerada aquisição originária, e o exercício do direito,
exceto se for decorrente de usucapião, quando será um modo originário de aquisição da posse. A
tradição pode ser efetiva ou material, simbólica ou ficta e consensual. A sucessão causa mortis dá-se
pela herança e pelo legado.

2.2.1 – Tradição efetiva ou material


Dá-se pela efetiva entrega da coisa, como ocorre na compra e venda e nos demais casos de alienação
da propriedade, já que nas hipóteses de locação e comodato, por exemplo, em que não há
transferência do domínio, não há transmissão de posse com a tradição, mas sim o seu
desdobramento, vez que o locador e o comodante, nos exemplos dados, não perdem a posse,
continuando a exercê-la de forma indireta, ficando o locatário e o comodatário com a posse direta na
qual são imitidos. O mesmo se dá nos direitos reais sobre coisas alheias, como no usufruto, em que o
usufrutuário adquire apenas a posse direta, sem dela se demitir o nu proprietário. De toda sorte, o
titular do direito pessoal sobre coisa alheia adquire a posse direta com a tradição, assim como o
titular do jus in re aliena, exceto se a aquisição se der por usucapião, como será esclarecido no item 3
deste estudo.

2.2.2 – Tradição simbólica ou ficta


Na tradição simbólica ou ficta a entrega efetiva da coisa não ocorre, sendo substituída por atitudes
que demonstram o propósito de transmitir a posse da coisa ou colocá-la à disposição do adquirente,
tal como a entrega das chaves ou mesmo a inserção num contrato de cláusula em que conste que a
posse foi transmitida naquele ato. É, em verdade, a traditio longa manu do direito romano.

2.2.3 – Tradição consensual


Não deixa de ser uma espécie de tradição ficta – pois a coisa não é efetivamente entregue –, que
assume, nas palavras de Orlando Gomes[13], duas formas: a traditio brevi manu e o constitutum
possessorium. Nessas modalidades há uma inversão no animus. Quem possui em nome alheio passa
a possuir em nome próprio, quem possui em nome próprio passa a possuir em nome alheio.
2.2.3.1 – Traditio brevi manu
Ocorre com aquele que, tendo posse direta, possuindo por direito próprio, mas em nome alheio,
como o locatário e o usufrutuário, adquire a propriedade e, em consequência, deixa de possuir em
nome alheio, passando a possuir em nome próprio, pondo fim ao desdobramento da posse, sem
necessidade de praticar qualquer ato, por isto que já estava na posse direta e passa a ter posse plena.

2.2.3.2 – Constituto possessório


No constitutum possessorium ocorre exatamente o oposto do que se dá na traditio brevi manu.
Aquele que possui em nome próprio passa a possuir em nome alheio, v.g., como acontece com o
proprietário que aliena sua propriedade e continua na posse como inquilino. Nesse caso o
proprietário tinha posse plena e a desdobra, ficando o adquirente, agora locador, com a posse
indireta, enquanto o alienante, sem se deslocar, fica com a posse direta.

Ovídio Batista da Silva, respeitável jurista gaúcho, equivoca-se em sua excelente obra – “Ação de
Imissão de Posse” –, ao criticar Clóvis Beviláqua, nos termos que se seguem: “ora, se o alienante
conserva a coisa em seu poder, em virtude de contrato de locação, não se pode reduzir a relação
fática com a coisa a simples detenção. Nem se dará, como disse Clóvis Beviláqua (Direito das
coisas, v.1, t. 1, § 16, p. 50), que o possuidor “em seu próprio nome” passe, pelo constituto
possessório, a “possuir em nome de outrem”, citando um texto do Digesto (41, 2, frag. 18, pr.), que
seria romanismo inaplicável ao sistema brasileiro contemporâneo”[14]. É que o alienante passa a
possuir efetivamente em nome de outro, como locatário, embora por direito próprio, não cogitando
Clóvis de detenção no trecho objeto da crítica.
2.3 – Sucessão causa mortis
Na sucessão decorrente do falecimento do possuidor há inequívoca transferência da posse, seja na
herança, seja no legado, sendo, em consequência, um modo derivado de aquisição da posse.

A sucessão universal, em que o sucessor se coloca no lugar do de cujus, substituindo-o e assumindo


seu posto no mundo jurídico, só ocorre na herança. Todas as demais sucessões são singulares,
inclusive no legado, em que o bem se destaca da herança a título singular, não entrando o legatário
na posse de imediato, adquirindo o domínio e o direito de exigir do herdeiro que lhe entregue a coisa
legada.

O atual Código Civil dispõe no art. 1.206, repetindo o art. 495 do Código Civil de 1916, que a posse
se transmite aos herdeiros e legatários do possuidor com os mesmos caracteres. Contudo, o art.
1.207, assim como o fazia o art. 496 do Código anterior, disciplina que o sucessor universal continua
de direito a posse do seu antecessor, concedendo ao sucessor singular a faculdade de unir a sua posse
à do antecessor. Desse modo poder-se-ia concluir que o legatário, como sucessor singular que é, não
estaria prosseguindo com a posse do de cujus, podendo optar pela conveniência ou não de unir sua
posse à do de cujus.

Clóvis Beviláqua, entretanto, pondera que “o legatário é sucessor a título particular, como, porém,
sucede por herança, que é modo universal de transmitir o patrimônio, o Código Civil estabelece a
continuidade da posse entre o testador e o legatário. Certamente, com a morte do testador, a sua
posse transfere-se aos herdeiros, e, não havendo herdeiro, ao executor do testamento, e este ou o
herdeiro a transfere ao legatário; mas transfere com o mesmo caráter, sem alteração nem solução de
continuidade”[15]. Paulo Nader diverge desse entendimento, afirmando que “o legatário somente
usará da faculdade de somar as posses, naturalmente, caso a acessão não prejudique os seus
interesses, ou seja, quando a posse antiga não for inquinada de vícios. Unidas as posses, o adquirente
poderá beneficiar-se do tempo da posse do antecessor, para o fim de prescrição aquisitiva. Se a posse
anterior era de mais de ano e dia o adquirente passará a ser titular de posse velha”[16]. Em seu favor,
Paulo Nader invoca Silvio Rodrigues, que, em nota de rodapé, observa: “não vejo inconveniente em
se admitir, mesmo para o sucessor universal ou para o legatário, a possibilidade de considerar sua
posse com uma situação de fato nova, inteiramente desligada da anterior. A posse, mera relação de
fato, gera efeitos em virtude da circunstância de existir, sem que o fato de sua origem deva, de
qualquer modo, interferir nesses efeitos”[17].
Os argumentos nos dois sentidos são respeitáveis, mas acreditamos que assiste razão a Clovis, já
que, efetivamente, não há solução de continuidade nas posses. De toda forma, não há dúvida de que
se trata de modo derivado de aquisição de posse.

3. O exercício do direito
Por ser um modo de aquisição de posse que tanto pode ser originário como derivado, optamos por
fazer seu exame em separado. Preliminarmente, deve-se observar que, malgrado a posse seja de
coisas, e não de direitos, nos direitos reais sobre coisas alheias há posse, que recai sobre a coisa
objeto dos denominados jus in re aliena, como nas servidões, na superfície e no usufruto. Será um
modo derivado se decorrer da tradição e originário se proveniente da usucapião, com o
desdobramento da posse em ambas as hipóteses.

Nessas modalidades de direito real há inequívoco poder ou possibilidade de poder sobre coisas que
não pertencem ao seu titular, havendo em consequência, posse, que os jurisconsultos romanos
denominavam quasi possessio, por se tratar de direitos. A impropriedade de se denominar posse a
essas situações em que o titular de um direito sobre coisa alheia, como no usufruto, tinha poder sobre
essa coisa, levou o direito romano a corrigir essa situação anormal pelo expediente da quasi
possessio iuris, que coloca o usufrutuário e outros titulares do jus in re aliena na mesma situação em
que se encontra o possuidor, não os considerando meros detentores, como expõe George Cornil com
clareza[18]. Deve-se atentar ao fato de que nesses jus in re aliena, o seu titular, com a tradição,
adquire apenas a posse direta, pois o proprietário continua com a posse indireta do que é seu. O
mesmo ocorre com o titular de direito pessoal, que, com a tradição, adquire tão somente a posse
direta, permanecendo aquele que a desdobrou com a indireta. Em todas essas hipóteses o modo de
aquisição é inequivocadamente derivado.
A única possibilidade de o exercício do direito ser modo de aquisição de posse originário é a
usucapião. É o que ocorre, por exemplo, com o usufruto adquirido por usucapião, em que o exercício
do direito leva à aquisição do jus in re aliena e da posse legítima dele decorrente. A princípio, se
alguém ocupar um imóvel, com posse própria, ainda que se trate de imóvel com posse desdobrada e
ocupado por usufrutuário, possuidor direto, o esbulhador adquirirá a propriedade se ocorrer a
usucapião, não o usufruto. Tanto o nu proprietário quanto o usufrutuário terão perdido a posse
indireta e direta, respectivamente, juntamente com o direito do qual eram titulares.

Se, porém, v.g., uma pessoa acreditar ter adquirido o usufruto sobre um bem e exercê-lo pelo prazo
estabelecido em lei, adquirirá, por usucapião, o usufruto desse bem. Caio Mário da Silva Pereira
coloca a usucapião como um dos modos de constituição de usufruto “quando adquirido pelo decurso
do prazo prescricional em favor, ex. gr., de pessoa que o tenha adquirido de quem não seja
proprietário”[19].
Com relação à aquisição de usufruto por usucapião, o atual Código Civil apresenta erro grotesco, no
art. 1.391, ao dispor: “o usufruto de imóveis, quando não resulte de usucapião, constituir-se-á
mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis”.

Não há a menor dúvida de que a aquisição do direito real de usufruto por usucapião, por sentença
declaratória, que servirá de título para o registro imobiliário pertinente, necessita ser registrada para
ter eficácia erga omnes, do mesmo modo que qualquer outro título aquisitivo.

Entendemos que esse gritante equívoco legislativo se deve à incorreta reprodução, no Código
vigente, do art. 715 do Código Civil de 1916, que dispunha: “o usufruto de imóveis, quando não
resulte do direito de família, dependerá de transcrição no respectivo registro”.

Além da vontade, seja por convenção ou por testamento, e da usucapião, o usufruto também se
constitui por determinação legal, como ocorre com os bens dos menores, que, por força do disposto
no art. 1.689, nº I, do Código Civil, são usufruídos pelos pais enquanto no exercício do poder
familiar. Evidentemente esse usufruto exercido pelos pais, que decorre do direito de família,
independe de registro imobiliário, como prescrevia o art. 715 do Código revogado. O novo diploma
legal erra tanto ao dispensar, no art. 1.391, o registro do usufruto adquirido por usucapião, quanto
por não o dispensar expressamente quando provenientede direito de família. Não obstante essas
falhas do Código Civil, como a lei deve ser interpretada de forma sistemática, em seu conjunto, não
resta a menor dúvida de que, a despeito do texto legal, o usufruto adquirido por usucapião, tal qual a
propriedade quando assim adquirida, carece de registro para ter eficácia contra todos, como direitos
reais que são: o usufruto e a propriedade.

4. Da perda da posse – Noções


A enumeração dos modos de perda da posse no art. 520 do Código Civil de 1916 era objeto das
mesmas críticas à enumeração dos modos de aquisição, já tratadas no item 1 deste estudo. Com
efeito, a posse se perde quando não mais é possível o exercício pleno ou não de algum dos poderes
inerentes ao domínio. Dispunha o mencionado art. 520, em cinco incisos, que a posse se perde pelo
abandono, pela tradição, pela perda ou destruição da coisa ou por ser esta posta fora do comércio,
pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este não foi manutenido ou
reintegrado em tempo competente, e pelo constituto possessório. No seu parágrafo único, o referido
art. 520, de forma infeliz, regulava a perda da posse de direitos, quando, em verdade, o que se perde
é a posse direta dos titulares de direitos reais sobre coisas alheias, já que o direito não é possuído,
mas a coisa.

No abandono, na tradição e na perda ou destruição da coisa ou quando ela é colocada fora do


comércio, há inequívoca perda da posse. Já no constituto possessório, o que ocorre, como vimos no
item 2.2.3.2 deste estudo, é que o possuidor pleno desdobra a posse, deixando de ter posse plena, e
passa a ter posse direta.

Quanto à posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, há efetiva perda da posse, vez que
não é possível uma coisa ser possuída ao mesmo tempo por duas pessoas, exceto na hipótese do seu
desdobramento. Uma vez cessada a violência ou a clandestinidade, o possuidor perde a posse para o
esbulhador ou o ladrão. Até mesmo na posse precária, malgrado as opiniões em contrário, há perda
da posse, que passa a ser exercida por aquele que abusa da confiança do possuidor, produzindo
efeitos, como já esclarecido no item 2.1.2, deste estudo.

O atual Código Civil prescreve, no art. 1.223, que se perde a posse quando cessa, embora contra a
vontade do possuidor, o poder sobre o bem ao qual se refere o art. 1.196. Fica, pois, implícito que a
posse é perdida também pela vontade do possuidor, sendo desnecessária a enumeração do art. 520 do
Código Civil anterior. Desse modo, resta superada a inútil distinção da perda da posse pela perda do
animus, pela perda do corpus e pela perda do animus e do corpus, que não coaduna com o art. 1.196
do atual Código Civil, tampouco com o art. 496 do Código Civil de 1916. Seria suficiente, no
Código revogado, para tratar da perda da posse, o inciso IV do art. 520, que vem a ser a redação do
art. 1.223 do Código vigente.

4.1 – Da perda da posse para o ausente


Dispõe o art. 1.224 do Código Civil, que aquele que não presenciou o esbulho só vem a perder a
posse quando, tendo notícia dele, se abstém de retomar a coisa, ou, tentando retomá-la, é
violentamente repelido. Reproduz, como se vê, a infeliz redação do art. 522 do Código Civil de
1916, apenas substituindo a palavra ausente pela expressão: por aquele que não presenciou o
esbulho.
Esse dispositivo legal colide com todo o sistema possessório adotado no direito pátrio. Sua
interpretação, na forma como foi redigido, ensejaria o entendimento de que o possuidor poderia a
qualquer tempo, dez, vinte ou quarenta anos após o esbulho, empregar a força para recuperar a
posse, o que, sem dúvida, é um gritante equívoco. O parágrafo primeiro do art. 1.210 autoriza o
possuidor a usar da força para impedir o esbulho ou recuperar a coisa esbulhada, desde que o faça
logo, exatamente como dispunha o art. 502 do Código Civil de 1916. Esse “logo”, que, no Projeto de
Clóvis Beviláqua, era incontinenti, deve ser no calor dos acontecimentos, na feliz expressão de
Carlos Roberto Gonçalves[20]. Ninguém, absolutamente ninguém, ao comentar o parágrafo primeiro
do art. 1.210 do atual Código, ou o art. 502 do Código de 1916, defende que o possuidor possa
empregar a força para recuperar a posse em momento distante do esbulho. Contudo, com raras
exceções, os autores ficam silentes quando comentam o art. 1224. No Código Civil revogado os
doutrinadores, em sua quase totalidade, se cingiam, ao comentar o art. 522, a esclarecer que a
palavra ausente não era empregada no seu sentindo técnico, ou seja, não se referia à pessoa
desaparecida, mas sim àquele que não presenciou o esbulho. Com a redação do atual Código Civil,
que não utiliza a palavra ausente, pouco restou a ser comentado, preferindo os doutrinadores
permanecer em silêncio, limitando-se a reproduzir o texto legal. Outros, como Pontes de Miranda,
chegam ao extremo de interpretá-lo literalmente, afirmando que o possuidor, ao ter ciência do
esbulho – que pode ter ocorrido há cinquenta anos –, não retoma a coisa, já que nunca teria perdido a
posse[21]. Para Pontes, há clandestinidade na posse do esbulhador enquanto o esbulhado não tiver
ciência do esbulho, o que é um despropósito se a posse do esbulhador for exercida às claras.
Acompanham esse entendimento diversos autores, como Serpa Lopes[22]. E Marco Aurélio
Viana[23].
Não só ficaria ao talante do possuidor que não presenciou o esbulho dizer quando dele teve notícia,
trazendo a insegurança jurídica, como também o esbulhador não teria posse, malgrado a exercesse à
vista de todos. Podemos supor que o possuidor tenha viajado para o exterior, onde vem a permanecer
por muitos anos sem tomar conhecimento de que seu imóvel foi esbulhado tão logo iniciou sua
viagem. O esbulhador, nessa hipótese, não obstante exerça a posse perante todos, publicamente, não
seria possuidor, pois aquele que sofreu o esbulho, por desídia, não teve notícia dele. Afirmamos que
ele não soube do esbulho por desídia, pois o esbulhador não exerce posse clandestina, no exemplo
dado, mas sim às claras. Nesse caso se um terceiro invadisse o imóvel em questão, aquele que o
havia esbulhado estaria privado de defender sua posse, pois não seria possuidor, não dispondo dos
interditos possessórios. A solução apregoada por Tito Fulgêncio[24], no que é acompanhador por
Carvalho Santos[25], um dos poucos autores que enfrenta essa questão, no sentido de que o
esbulhador é possuidor em face de terceiro, gozando de proteção possessória pela regra adversus
extraneos vitiosa possessio solet, também não é razoável. No direito romano o esbulhador sempre
gozava de proteção contra o terceiro, mas não contra o proprietário, que só tinha necessidade de se
socorrer judicialmente se não conseguisse recuperar a coisa pelo emprego da força. Essa situação
não ocorre no direito atual, que só permite o uso da força nos termos do parágrafo primeiro do art.
1.210, ou seja, desde que o faça logo. Ademais, Tito Fulgêncio, equivocadamente, nega a posse ao
esbulhador enquanto o possuidor esbulhado não souber do esbulho[26], repetindo a ultrapassada
disposição do direito romano, que prescrevia que o possuidor ausente não perdia a posse de um
imóvel quando não tinha conhecimento do esbulho, partindo da premissa de que teria havido
clandestinidade, como expõe Molitor[27]. Não se pode perder de vista que no direito romano ao
legítimo possuidor era sempre permitido empregar a força para recuperar seu bem, a qualquer tempo,
até mesmo porque a usucapião só existia para a posse com justo início. Além disso, o terceiro que
esbulhava um imóvel, sem conhecimento do legítimo possuidor, ainda que não lhe fosse reconhecida
a possessio civilis, mas apenas a naturalis possessio, poderia defender essa posse contra terceiros,
como o reconhecem todos os romanistas. Charles Mainz chega a dizer: “com efeito, que pode dispor
a lei diante daquele que se acha na posse de uma coisa, sem que seja estabelecido que ele a adquiriu
de uma maneira legal? Certamente ela não protegerá essa posse como protegeria um direito
legalmente adquirido; mas enquanto não for provado que essa situação lesa o direito de outrem, ela
respeitará a vontade da pessoa, que se manifesta pela apreensão da coisa”[28].
Devemos considerar, ainda, que o direito romano, ao estabelecer que o possuidor ausente não perdia
a posse quando não tinha conhecimento do esbulho, o fazia em função das propriedades utilizadas
apenas em uma estação do ano. (saltus hiberni), como esclarece Girard[29]. Mas, ainda consoante o
notável professor da Universidade de Paris, a posse se considera perdida para “os fundos de terra,
que o proprietário deixou vacantes por negligência, dos quais ele esteve por muito tempo
ausente”[30].
A propósito, é de se indagar como ficaria a situação desse esbulhador com relação à usucapião. Não
temos conhecimento de opiniões doutrinárias ou julgados negando a declaração de domínio ao
possuidor, com posse própria, ou seja, que a tenha exercido como sua, pelo período previsto em lei,
sob o pretexto de que o proprietário não tenha sabido do esbulho. Seria um disparate se tal se desse.
Queremos enfatizar que estamos tratando de posse exercida à vista de todos por esbulhador que
praticou o esbulho sem o conhecimento do antigo possuidor, que, sem dúvida, malgrado o texto
legal, perdeu a posse desde o momento do esbulho.

Silvio Rodrigues, tratando do art. 522 do Código Civil de 1916, com clareza, entende que a solução
da lei é má, apregoando sua suspensão e considera negligente o possuidor que não soube do esbulho,
em detrimento do esbulhador que exerce a posse mansa e pacificamente[31]. Só discordamos de
Silvio Rodrigues no que tange ao lapso temporal para a proteção da posse do esbulhador, que não
precisa exercê-la por mais de ano e dia para obtê-la. Se assim fosse, o “logo” do parágrafo primeiro
do art. 1.210, ou do art. 502 do Código Civil de 1916, seria estendido a um ano e um dia, o que não é
correto, nem é defendido por quem quer que seja.
Marco Aurélio Bezerra de Melo sustenta que “o atual Código consolidou no artigo em referência o
entendimento da melhor doutrina, estabelecendo que a vítima de um apossamento clandestino
somente perderá a posse quando, ao tomar conhecimento da agressão, quedar-se inerte, ou, ao tentar
recuperá-la, for violentamente repelida”[32]. Com isso, tratando-se de posse clandestina, como
ressalta Marco Aurélio, não haveria necessidade de o possuidor esbulhado propor o pertinente
interdito possessório, podendo retomar a coisa por sua própria força, esclarecendo que “o sentido do
dispositivo legal é o de assegurar ao esbulhado a recuperação da posse assim que tomar
conhecimento da lesão, e se houver sido a perda da própria disponibilidade do bem, cabível será a
ação de reintegração de posse”[33]. Mas isso, queremos frisar, é se houver clandestinidade, em que o
ocupante não é possuidor, nos precisos termos do art. 1.208 do Código Civil. De tal forma, esse
raciocínio não se aplica à hipótese de o possuidor não ter presenciado o esbulho em que o esbulhador
passa a exercer a posse perante todos, não o fazendo às ocultas, clandestinamente, o que não é
percebido pela quase totalidade dos doutrinadores, que fazem uma interpretação completamente
equivocada do dispositivo legal em análise.
Com relação à posição adotada por Tito Fulgêncio em que o esbulhador não seria possuidor em
relação ao esbulhado, mas seria perante terceiros, Marco Aurélio adverte que “o problema dessa
admissão é que repugna ao bom senso que uma pessoa (esbulhador) não seja possuidora em relação
a alguém (esbulhado) e ao mesmo tempo possa ostentar essa qualidade diante de um eventual
terceiro que queira para si o bem esbulhado”[34], com o que concordamos plenamente.
Contudo, a solução apregoada por Marco Aurélio também não é razoável. Pretende o ilustre autor
criar um desdobramento excepcional da posse, nos moldes do art. 1.197 do Código Civil, em que o
esbulhador figure como possuidor direto perante terceiros, enquanto o esbulhado seria possuidor
indireto, podendo defender sua posse contra o esbulhador, sem esclarecer o que seria defendê-la, isto
é, se poderia usar da força para retomá-la ou se teria que empregar a ação possessória pertinente[35].
Com a devida vênia, entendemos que essa ideia não é razoável nem resolve a equivocada redação do
art. 1.224 do Código Civil. A solução, ao nosso ver, é simples. Basta que se crie a presunção
absoluta de que o possuidor que não presenciou o esbulho dele teve conhecimento imediato se o
esbulhador não usou da clandestinidade. Se o esbulho foi às claras e o esbulhador exerce a posse
publicamente, o esbulhado teve conhecimento do esbulho, sem possibilidade de prova em contrário,
até mesmo por ter faltado ao dever eterno de vigilância. Não se pode premiar o desleixo do
possuidor que se absteve do dever de vigiar o que possui, fora do permissivo legal do parágrafo
primeiro do art. 1.210, isto é, se reagir logo, entendendo-se o “logo” com razoabilidade, como um
momento próximo ao desapossamento. De forma alguma esse “logo” pode ser interpretado como
“logo que soube”, pois, como já assinalado, tal entendimento acarretaria insegurança jurídica.

Portanto, o art. 1.224, que remonta ao direito romano, onde o legítimo possuidor esbulhado sempre
podia usar a força para retomar o que era seu, a qualquer tempo, tivesse ou não conhecimento do
esbulho, só pode ser interpretado no direito atual com a presunção iuris et de iure de que, se não
houve clandestinidade, ele soube do esbulho tão logo ocorreu. Fora daí não há como esse dispositivo
possa se conciliar com o sistema possessório adotado no direito positivo pátrio.
Referências Bibliográficas
ALVES, José Carlos Moreira. Posse. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. Tomo I.

BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. 3. tir. Rio de Janeiro: Editora
Rio. 1977.

_________. Direito das Coisas. 5. ed.. Rio de Janeiro: Forense. Vol. I.

CORNIL George. Traité de La Possesion. Paris: Alber Fontemoing, Éditeur. 1905.

DA SILVA, Ovídio Batista. Da Ação de Imissão de Posse. 3. ed. Rio de Janeiro: Revista dos
Tribunais. 2001.

DE MELLO, Marco Aurélio Bezerra. Direito Civil: Coisas. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2017.

DE MIRANDA, Pontes. Tratado de Direito Privado. 8. ed. Rio de Janeiro: Borsoi. 1971. Tomo X.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 22. ed. São Paulo:
Saraiva. 2007.

FULGÊNCIO, Tito. Da Posse e das Ações Possessórias. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1978.

GIRARD, Paul Frédéric. Manual Elementaire de Droit Romain. 3. ed. Paris: Arthur Rousseau,
Editeur. 1901.

GOMES, Orlando. Direitos Reais. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1983.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. Vol. 5.

MAINZ, Charles. Cours de Droit Romain. Typ. Bruylant Christophe & Cie. 5. ed. Bruxelas. 1891.

MOLITOR, J.P. Cours de Droit Romain Approfondi. Auguste Durant Libraire. 1852.

NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: Direito das Coisas. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2006.
Vol. 4.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. vol. IV. 12. ed. Rio de Janeiro. Editora
Forense, 1997.

RODRIGUES, Silvio, Direito Civil: Direito das Coisas. Volume 5. 24. ed. São Paulo. Saraiva. 1997.

SANTOS, J. M. de Carvalho. Código Civil Brasileiro Interpretado. 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos S.A. 1956. Vol. VII.
WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 10. ed. Rio de Janeiro:
Revista dos Tribunais. 1995.

[1]
“Orlando Gomes. Direitos Reais. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1983. p. 46. “JUSTIFICATIVA
DE ENUMERAÇÃO. O Código Civil brasileiro enumera os modos de aquisição da posse. Não
poucos condenam esse modo de proceder. Argui-se que se não compadece com a orientação que
adotou no tratamento da posse. Se o possuidor é todo aquele, que tem de fato o exercício, pleno ou
não, de algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade, quem quer que se encontre numa
dessas situações terá adquirido a posse. Discriminar modos pelos quais se adquire constitui inútil a
especiosa particularização”.
[2]
Orlando Gomes, ob. cit., p. 46.
[3]
Arnold Wald. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito das Coisas. 10. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, p. 73. “A análise mais minuciosa do dispositivo legal revela, aliás, que a enumeração
do art. 493 não é taxativa, apresentando um tal grau de generalidade no seu texto, que foi
considerado redundante. Efetivamente, o referido artigo esclarece que a posse de direitos se inicia
com seu exercício e a posse de coisas com a apreensão do objeto. Ora, sabemos que os meios de
exercer um direito ou de apreender uma coisa são os mais diversos possíveis. Dizer que a posse se
adquire pelo exercício do direito é o elemento característico e suficiente para comprovar a existência
de posse no nosso sistema jurídico”.
[4]
Carlos Roberto Gonçalves. Direito Civil Brasileiro. 11. ed. São Paulo. 2012, vol. 5. p 106.
[5]
Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit., p. 107.
[6]
Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit., p. 107.
[7]
Clóvis Beviláqua. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Rio –
edição histórica, 3ª tiragem. 1977. p. 976.
[8]
Marco Aurélio Bezerra de Mello. Direito Civil. Coisas. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2017. p.
54 “Ao elencar a apreensão e possibilidade de disposição da coisa como forma de aquisição da
posse, restava clara a ligação ao “corpus” e “animus”, ou seja, apreender um bem significava manter
intencionalmente contato físico com a coisa, assim como dispor de um bem tem o mesmo conteúdo.
Decerto que não é correto definir a posse segundo uma teoria e prever formas de aquisição e perda
que se filiem a outra. Com efeito, no Código novo vislumbra-se um resgate da lógica encontrada na
obra de Ihering e Sailelles, pois se consideramos possuidor quem exterioriza a propriedade atento à
sua função econômica, adquirir-se-á a posse desde o momento em que se tornar possível, segundo as
regras de direito, o exercício pessoal de qualquer um dos poderes inerentes à propriedade.
Importante destacar que a referida aquisição deverá dar-se sem violência, clandestinidade ou
precariedade ou então que tais vícios tenham convalescido na forma como estudamos no item 9 do
Capítulo II. Isso porque, para de adquirir legitimamente uma posse, mister que o pretenso possuidor
não se inclua nas hipóteses legais dos arts. 1.198 e 1.208 do Código Civil e realize o comportamento
exigido pelo artigo 1.204 do mesmo corpo de leis: “Adquire-se a posse desse o momento em que se
torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.”
[9]
Maria Helena Diniz. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito das Coisas. 22. ed. São Paulo:
Saraiva. 2007. p. 40.
[10]
Paulo Nader. Curso de Direito Civil. Direito das Coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 64.
“O Código Civil alemão foi preciso ao dizer, no art. 854, que “a posse de uma coisa é adquirida pela
obtenção do poder de fato sobre a coisa”. Adquire-se a posse, portanto, não propriamente pelo
exercício do poder de uso, gozo ou disposição, mas pela simples possibilidade de seu exercício. Ou
seja, o exercício é exigível em estado de potência, não em ato.
[11]
José Carlos Alves Moreira. Posse. 2. ed. Rio de Janeiro Forense. 1999. Vol. II, Tomo I, p. 96-
97. “Assim, por exemplo, Lenz investe contra os que sustentam que a posse é um fato, advertindo
que ela se adquire e se perde, em um fato não é susceptível de aquisição ou de perda. Essa objeção
os partidários da tese atacada procuram afastar, acentuando que, em verdade, a posse não se adquire
ou se perde – expressões usadas desde o direito romano, mas impróprias –, porém se inicia e se
extingue”.
[12]
Silvio Rodrigues. Direito Civil. Direito das Coisas. 24. ed. São Paulo: Saraiva. 1997. p. 41.
[13]
Orlando Gomes, ob. cit., p. 48.
[14]
Ovídio Batista da Silva. Da ação de imissão de posse. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais.
2001. p. 169.
[15]
Clóvis Beviláqua. Direito das Coisas. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense. Vol. I p. 51.
[16]
Paulo Nader, ob. cit., p.70.
[17]
Silvio Rodrigues, ob. cit., p. 42.
[18]
George Cornil. Traité de La Possesion. Paris: Alber Fontemoing, Éditeur. 1905. p. 62. “Ceci est
une bizarrerie, parce que l’usufrutier, qui a um droit réel, c’est-à-dire un droit autonome et
indépendant, devrait a fortiori avoir la libre autonome du possesseur. Le droit romain a d’ailleurs
corrigé cette bizarrerie par l’expedient de la quase possessio iuris, qui place em réalite l’usufruitier
dans la mème situation que s’il avait la corporis possessio au lieu d’être détenteur.”
[19]
Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de Direito Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1997.
Vol. IV, p. 200.
[20]
Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit., p. 131. “A legítima defesa não se confunde com o desforço
imediato. Este ocorre quando o possuidor, já tendo perdido a posse (esbulho), consegue reagir, em
seguida, e retomar a coisa. A primeira somente tem lugar enquanto a turbação perdurar, estando o
possuidor na posse da coisa. O desforço imediato é praticado diante do atentado já consumado, mas
ainda no calor dos acontecimentos. O possuidor tem de agir com suas próprias forças, embora possa
ser auxiliado por amigos e empregados, permitindo-lhes ainda, se necessário, o emprego de armas.”
[21]
Pontes de Miranda. Tratado de Direito Privado. 8. ed. Rio de Janeiro: Borsoi. 1971. Tomo X, p.
270. “Se o ausente tem notícia da tença por outrem, começa para ele o momento crítico para sua
posse: tem de retomar a coisa. Se não a retoma, perde a posse, pois que, com a cessação da
clandestinidade da tença pelo outro, se inicia a posse do outro. Se há violência do tomador, que obste
à retomada da coisa (não se diga “retomada da posse”, porque, “ex hypothesi, ainda não se perdeu,
cf. arts 497, 2.ª parte, e 522), caracteriza-se o esbulho que faz nascer a pretensão à reintegração.”
[22]
Miguel Maria de Serpa Lopes, ob. cit., p. 172. “Trata-se de prover a situação de um esbulho
perpetrado no período em que o possuidor não se encontre presente. Era a situação denominada pelas
Ordenações como sendo uma ‘quase força’ e que se reproduz no citado art. 522. Faculta-se, por êsse
modo, ao ausente, consoante a clara explicação de Clóvis, o direito de recuperar a coisa por sua
própria autoridade ou pela justiça, e sòmente no caso de não conseguir retomá-la é que se poderá
reputá-la perdida.”
[23]
Marco Aurélio S. Viana. Teoria e Prática do Direito das Coisas. São Paulo: Saraiva. 1983. p. 44.
“Assim, mesmo na ausência do possuidor, ele continua a possuir a coisa, ainda que ela tenha sido
apreendida por terceiro. Mas, a partir do momento em que o possuidor toma conhecimento de que a
coisa foi esbulhada, exige-lhe a lei que providencie meios para retomá-la. Se não o faz, omite-se,
abstém-se da retomada, aí, sim, a posse é tida como perdida. Outra hipótese é aquela de o possuidor
tentar recuperar a coisa pelo desforço incontinenti (§ 35, supra), mas é repelido violentamente. O
esbulhador reage com violência, cria um obstáculo impeditivo do exercício dos direitos de
possuidor. Também aqui se perde a posse.”
[24]
Tito Fulgêncio. Da Posse e das Ações Possessórias. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1978. p. 201.
“Qual a posição jurídica do ocupante em face do terceiro? É um possuidor gozando de proteção
possessória pela regra: “adversus extraneos vitiosa possessio prodesse solet”.
[25]
. J. M. de Carvalho Santos. Código Civil Brasileiro Interpretado. 3. ed. 1942. Vol. VII p. 258.
“4- Posição jurídica do ocupante em face de terceiro. Em face de terceiro, o consequente é possuidor
e como tal goza da proteção possessória, como ensina TITO FULGENCIO, pela regra: “adversus
extraneos vitiosa possessio prodesse solet”.
[26]
Tito Fulgêncio, ob. cit., p. 200. “Recuperá-la, é o termo legal, e, porque ilimitado e indistinto,
entende-se toda a retomada de posse, seja pelo esforço, seja pela justiça. O esforço deve ser feito
logo, diz o Código, art. 502, “incontinenti ou ex in continenti”, como já explicamos, mas, em se
tratando de ausência, este tempo moral se entende do momento em que chega ao conhecimento do
ausente a ocupação “ibi tendo noticia da occupação”.
[27]
J. P. Molitor. Cours de Droit Romain Approfondi. Paris: Auguste Durant, Libraire. 1852. Vol.
4, p. 108. “Mais la possesion d’un immeuble n’est pas perdue lorsqu’un tiers ocupe le bien en
l’absence et à l’insu du possesseur; il n’y a pas de possession clandestine d’un immeuble.”
[28]
Charles Maynz. Cours de Droit Romain. 5. ed. Bruxelas : Typ. Bruylant Christophe & Cie. 1891
Vol. I p. 628-629 “En effet, que peut faire la Loi vis-à-vis de celui qui se trouve en possession d’une
chose, sans qu’il soit établi qu’il a acquis la chose d’une manière légale? Certes, elle ne protégera
pas sa possession comme elle protégerait un droit légalement acquis: mais tant qu’il n’est pas prouvé
que cet état de choses lèse les droits d’un autre, elle respectera la volonté de l’homme qui s’est
manifestée par la prise de la chose.”
[29]
Paul Frédéric Girard. Manuel Elementaire de Droit Romain. 3. ed. Paris: Arthur Rousseau,
Editeur. 1901. p. 271-272. “De même la possession d’un fonds de terre pas perdu parce que le
propriétaire du fons, ni même parce qu’il reste assez longtempos sans y venir, si cela s’explique par
la nature des lieux, si par exemple il s’agit de fonds qu’on n’utilize que dans une saison.”
[30]
Paul Frédéric Girard, ob. cit., p. 272 “Ainsi encore pour le fonds de terre que le maitre a laissés
vacants par négligence, dont il a été longtemps absent.”.
[31]
Silvio Rodrigues, ob. cit., p. 49 “A solução da lei é má, por se inspirar na preocupação
excessivamente individualista, de proteger o possuidor em viagem ou fora do lugar onde se encontra
a coisa possuída. O artigo em tese deve ser suprimido, pois cria uma discriminação em favor daquele
possuidor negligente, em detrimento do interesse social que é no sentido de conferir proteção a quem
quer que, mansa e pacificamente, exerça posse pública por mais de ano e dia.”
[32]
Marco Aurélio Bezerra de Melo, ob. cit., p. 62.
[33]
Marco Aurélio Bezerra de Melo, ob. cit., p. 62.
[34]
Marco Aurélio Bezerra de Melo, ob. cit., p. 63.
[35]
. Marco Aurélio Bezerra de Melo, ob. cit., p. 63 “Como resolver o impasse? Acreditamos que a
figura prevista no art. 1.197 do Código Civil que regula o desdobramento da posse poderia conferir
maior juridicidade à opinião de Tito Fulgêncio, pois estaríamos diante de uma excepcional hipótese
de desdobramento fático da posse. Fático, pois, pela regra geral do instituto, somente haverá a
dicotomia posse direta e indireta diante de relação jurídica de direito pessoal ou real na qual uma
pessoa reserve consigo a posse indireta de um bem, transmitindo, por força do negócio jurídico, a
posse direta para outra. Sendo excepcional a situação, continuamos crendo ser possível resolver o
dilema mediante a absorção dessa figura jurídica. Nesse caso, figurará como possuidor direto o
esbulhador – perante terceiros –, e o esbulhado, como possuidor indireto que, por sua vez, poderá
promover a defesa de sua posse contra o esbulhador assim que tomar conhecimento do esbulho (art.
1.224 do CC). Somente poderá fazê-lo perante terceiros se estes não estiverem de boa fé na forma do
que reza o art. 1.212 do Código Civil: “o possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de
indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era”.

Disponível em: http://genjuridico.com.br/2019/06/30/revista-forense-429-aquisicao-perda-


posse/

Você também pode gostar