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Lévi Strauss - Fichamento As Estruturas Elementares Do Parentesco
Lévi Strauss - Fichamento As Estruturas Elementares Do Parentesco
Petrópolis, Vozes,
1982. p. 41- 107.
CAPÍTULO I - NATUREZA E CULTURA
1. O problema da passagem entre a ordem biológica e a social na análise do
comportamento humano
Esta dificuldade é dupla, de um lado podendo tentar-se definir, para cada atitude, uma causa de
ordem biológica ou social, e de outro lado, procurando por que mecanismo atitudes de origem
cultural podem enxertar-se em comportamentos que são de natureza biológica, e conseguir integrá-
los a si (p. 42)
Permanece sempre aberta a questão de saber se a reação estudada está ausente por causa de
sua origem cultural ou porque os mecanismos fisiológicos que condicionam seu
aparecimento não se acham ainda montados, devido à precocidade da observação (p. 42)
[...] se o homem é um animal doméstico é o único que se domesticou a si próprio [...] não
existe comportamento natural da espécie ao qual o indivíduo isolado possa voltar mediante
regressão [...]. É impossível, portanto, esperar no homem a ilustração de tipos de
comportamento de caráter pré-cultural. (p. 43)
[...] a vida social dos macacos não se presta à formulação de nenhuma norma [...]. Não
somente o comportamento do mesmo sujeito não é constante, mas não se pode perceber
nenhuma regularidade no comportamento coletivo [...] a sistematização torna-se impossível
devido a frequentes irregularidades (p. 45)
A mesma lei, que, no casamento entre primos cruzados, equipara um grupo de primos
coirmãos a irmãos e irmãs entre si, faz da outra metade desses mesmos primos coirmãos
esposos potenciais [...] vê na aliança do tio materno com a sobrinha, e mais raramente
da tia materna com o sobrinho, tipos de casamentos muito recomendáveis [...] ao passo
que uma pretensão análoga da parte do tio paterno ou da tia materna suscitaria o mesmo
horror que o incesto com os pais, aos quais estes colaterais são igualados (p. 69)
São as dificuldades de existência cotidiana e o obstáculo que criam para a formação dos
privilégios econômicos [...] que limitam, nesses níveis arcaicos, o açambarcamento das
mulheres em proveito de alguns [...] em sociedades primitivas, onde o volume da
unidade social é fraco e onde há maior concorrência econômica e social, a monogamia -
instituição não positiva que nada mais é do que o limite da poligamia (poligamia
abortada) – é mais comum (p. 77 -78).
[...] a tendência polígama profunda, cuja existência pode ser admitida em todos os
homens, faz aparecer sempre insuficiente o número de mulheres disponíveis.
Acrescentamos que, mesmo se as mulheres são, em número, equivalentes aos homens,
nem todas são igualmente desejáveis – dando a este termo um sentido mais amplo que
sua habitual conotação erótica [...] a demanda de mulheres, atual ou virtualmente, está
sempre em um estado de desequilíbrio e de tensão (p. 78)
Por definição, sempre e em toda parte é isso. Desde que as mulheres constituem um
valor essencial à vida do grupo, em todo casamento o grupo intervém necessariamente
em dupla forma: a do “rival”, que, por intermédio do grupo, afirma que possuía um
direito de acesso igual ao do cônjuge, direito a respeito do qual as condições nas quais
foi realizada a união devem estabelecer que foi respeitado; e a do grupo enquanto
grupo, o qual afirma que a relação que torna possível o casamento deve ser social – isto
é, definida nos termos do grupo e não natural, com todas as consequências,
incompatíveis com a vida coletiva [...] Considerada em seu aspecto puramente formal, a
proibição do incesto, portanto, é apenas a afirmação, pelo grupo, que em matéria de
relação entre os sexos não se pode fazer o que se quer. O aspecto positivo da interdição
consiste em dar início a um começo de organização. (p. 83)
Regra da proibição do incesto afirma que não é com base em sua distribuição
natural que as mulheres devem receber seu uso social. Qual é a base então? [...]
a regulamentação moderna e eterna do “produto escasso”, a proibição do incesto
tem logicamente em priemiro lugar por finalidade “imobilizar” as mulheres no
seio da família, a fim de que a divisão delas, ou a competição em torno delas
seja feita no grupo e sob o controle do grupo, e não em regime privado. (p. 84-
85)
- Exemplo: em Dubu, brancos não são homens como os inhames. Nesse grupo a
continuidade coletiva se dá em função da continuidade das linhagens vegetais e há
jardins femininos e masculinos, provenientes de sementes ancestrais transmitidas do
irmão da mãe ao filho ou à filha da irmã.