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Huntress Universe

&
Wings Traduções

Tradução: Angel
Revisão Inicial: Gleisse
Revisão Final: Mika
Leitura Final: Diana
Verificação: Aurora
Formatação: Angel

10/2020
Aviso
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IDIOMA ORIGINAL!
Toda traição começa com confiança...
Muita coisa aconteceu desde o ataque brutal
que transformou Sasha Keleterina em um dos
mortos-vivos. Ela deixou Arsen e os vampiros
Draugur para trás, mas lidar com Niko e seus
avanços quase a faz rastejar de volta. Embora
Arsen continue implorando por seu perdão, ela
ainda está muito ferida por sua traição para
estar perto dele.
Quando Jackson descobre a verdade sobre o
ataque de Sasha, Sasha fica mais uma vez em
conflito sobre onde reside sua lealdade e quem
são seus verdadeiros amigos. O tempo está
passando, e com uma guerra total no horizonte,
Sasha luta desesperadamente para encontrar
uma cura para salvar não apenas os vampiros...
mas ela mesma.
Quem diria que ser um vampiro seria tão
difícil?
O DRAUGUR

Muito antes de Vlad, o Empalador, havia


Vasile Draugur.
Descendente de um imperador senhor da
guerra, Vasile era uma força nunca antes
testemunhada na história. Mas, apesar de toda
a sua força e poder, seu povo caiu em
dissolução quando a fome, a doença e a guerra
se espalharam por suas terras. Desesperado e
desejoso de provar a si mesmo, Vasile procurou
a ajuda dos Servos de Hekate, a mão direita da
rainha do submundo.
Ele implorou por ajuda, graça e
misericórdia, mas seus gritos caíram em
ouvidos surdos. Seu destino foi selado no
momento em que ele entrou no templo, pedindo
a ajuda de Hekate.
Insatisfeito com a profecia e irritado com as
palavras da sacerdotisa, Vasile matou uma das
sacerdotisas de Hekate, uma jovem inocente
que na verdade era a princesa Avilda, filha do
grande rei Ivar Baetal.
Ele tentou salvar a garota e falhou.
Hekate o amaldiçoou com as palavras: —
Pelo sangue que você roubou esta noite, você
viverá mesmo em morte — Horrorizado pelas
ações de seu líder, o povo de Vasile se rebelou,
selando-o em uma caverna, sozinho, incapaz de
morrer e faminto.
Em busca de vingança pela perda de sua
filha, Ivar Baetal devastou o mundo conhecido,
oferecendo sua vida e sua humanidade a uma
bruxa para atingir seus objetivos. Ao ser
capturado por um grande inimigo, Ivar
arrancou a garganta do líder, prometendo
destruir cada um deles. A história de um líder
morto-vivo do inferno se espalhou como fogo
entre os que restaram nos destroços.
Reunindo suas forças, Ivar logo acreditou
nos mitos contados sobre ele, bebendo sangue
todas as noites para continuar liderando seu
exército à vitória e vingando sua filha. Loucura
tomou sua mente e seus próprios oficiais se
voltaram contra ele, recusando-se a beber
sangue como ele. Embora eles tenham
conseguido mergulhar uma faca em seu
coração, Ivar ressuscitou na noite seguinte,
declarando-se um deus e transformando
aqueles que permaneceram leais a ele em
criaturas de sua própria criação - os Baetal.
Ivar jurou encontrar o homem que matou sua
filha e destruir qualquer vestígio dele e de sua
linhagem.
Anos depois, um terremoto dizimou a
caverna em que Vasile estava selado,
libertando-o. Esquecido e inseguro do novo
mundo ao seu redor, ele criou outros como ele,
destinados a viver eternamente mesmo em
morte.. Logo, seus números aumentaram e os
Draugur nasceram - poderosos, sábios e entre
as mais antigas raças de vampiros. Sem o
conhecimento de Vasile, seu inimigo ainda
andava pela terra, procurando e caçando-o.

Os Draugur e os Baetal.
Eles não podem ser conhecidos.
Não são vistos.
Eles vivem de acordo com uma regra: sua
existência depende de sua própria inexistência.
CAPÍTULO 1

— Por favor, Deus, por favor, — digo


baixinho, feliz por ter o laboratório que Niko
construiu para mim. Olho para a contagem
regressiva no meu telefone. Os dígitos mudam
para mais cinco minutos, e me atrapalho em
silenciá-lo enquanto concentro minha atenção
novamente no microscópio.
A oração murmurada que tenho repetido
morre nos meus lábios quando um donut
vermelho se transforma em uma foice cinza e se
encolhe, finalmente implodindo e liberando
mais vírus por todos os seus vizinhos.
— Filho da puta! — A bolha de esperança
que cresceu lentamente dentro de mim explode
e suspiro. Se eu ver mais uma ondinha de vírus
hoje, vou jogar este microscópio pela maldita
janela.
Embora esteja desapontada, não posso ficar
muito chateada. Este teste manteve o vírus sob
controle por seis minutos, em vez do anterior
que manteve por dois. Estou na direção certa,
mas como existem muitas opções para seguir
agora, é como vendar meus olhos e jogar um
dardo no alvo.
Pego a bolsa do meu sangue na pequena
geladeira sob a mesa e olho para ela. — O que é
que está faltando para parar o vírus? — Eu
pergunto ao laboratório vazio.
Eu adiciono uma única gota a uma amostra
na lâmina e observo como o vírus ataca minhas
células antes de ser absorvido e, em questão de
segundos, tudo o que resta são lindos donuts
vermelhos, circulando como se o vírus nunca
tivesse existido. — Você está zombando de mim,
eu sei. — Neste ponto, não me importo de
persuadir o vírus a trabalhar comigo. Isso ou
amaldiçoá-lo até a submissão.
Ainda não encontrei no meu sangue a
combinação de elementos que anula o vírus, o
que significa que produzir a cura é quase
impossível. A menos que eu abra uma veia para
todos. E como sei quanto sangue será
necessário? Mais para os vampiros que estão
doentes há mais tempo? Só uma gota serve?
Um copo? Não tenho dados para comparar. Se
ao menos eu puder adiar a reação por tempo
suficiente, talvez não precise ficar me secando.
— Vampiro morre por sangria, hoje às dez. —
Eu bufo com minha própria piada e continuo
fazendo anotações.
Claro, não seria um problema se eu ainda
produzisse meu próprio sangue. Meu corpo se
recusa a substituí-lo por novas células
sanguíneas, a menos que esteja lanchando uma
bolsa de sangue. Em vez disso, devo tomar cada
vez menos do meu próprio sangue, pois não
tenho certeza se o que está atualmente no meu
sangue impedindo o vírus continuará a
aparecer enquanto substituo o meu próprio
sangue pelo de outras pessoas. Como se
lembrasse meu status de “não mais humana”,
uma tontura me atinge, um sinal de que preciso
beber mais sangue e logo.
Eu tomo as duas últimas pílulas de ferro
com um gole de água, engolindo em seco.
Simplesmente não consigo me imaginar
agarrando a garganta de alguém e bebendo seu
sangue para tomar meu remédio. — Oh, oi, com
licença, só preciso da sua jugular emprestada
para que possa tomar minhas vitaminas.
Maldita anemia vampírica. Espero que você
entenda. — Okay, certo.
— Sasha, você está mais pálida do que o
habitual. Você precisa se alimentar. — A voz de
Nikolai consegue irritar meus nervos e formigar
meu corpo ao mesmo tempo. Estupida ligação
com criador. Niko tinha me dado um lugar para
dormir depois que Arsen tinha me usado, mas
isso não significa que não lembro que foi ele
quem me atacou violentamente e me fez ser o
que sou. Ele também é o maior asno do mundo,
então tem isso também.
— Você precisa parar de se aproximar
sorrateiramente de mim e eu preciso resolver
este quebra-cabeça antes que o vírus saia do
controle. — É a mesma discussão de sempre e
minha determinação falha cada vez mais. Eu
preciso manter minhas forças, mas de jeito
nenhum vou me alimentar dele. Eu o ignoro o
melhor que posso, preparando uma nova
lâmina.
Ele suspira e se inclina contra a mesa ao
meu lado. — Eu não sei por que você nega,
Sasha. Eu sei do que você precisa.
Eu sufoco um gemido com o óbvio duplo
sentido. O lembrete de por que não consigo
funcionar do jeito que costumava é um corte
profundo, e ele sabe disso. Normalmente,
enrijeço minha mandíbula para manter o
mínimo de xingamentos, mas sei que ele está
realmente aqui para uma atualização, e seis
minutos não vão agradá-lo.
— Você está aqui por preocupação comigo
ou para verificar meu progresso? — Eu bufo
enquanto ele se inclina em minha direção,
bloqueando meu caminho. — Nikolai, saia do
meu caminho. Estou me esforçando para salvar
a raça dos vampiros, lembra?
— Falhando em salvar, pelo que vejo.
Respiro fundo, conto até dez e o empurro
para um lado. — Eu vou continuar falhando,
também, se você não me deixar trabalhar em
paz. Idiota arrogante. — Murmuro a última
parte em voz baixa, mas não tão baixo que ele
não pode ouvi-la.
— Você precisa de sangue, uma boa foda
dura e um banho, não necessariamente nessa
ordem. — Ele ri, balançando as sobrancelhas
sugestivamente, e não tenho que fingir
engasgar com suas palavras.
— Droga Nikolai, você não tem idade
suficiente para saber quando não dizer algo?
Você pensaria que centenas de anos de prática
significariam algo. Mas, aparentemente, você
não pode ensinar novos truques a um cachorro
velho. — Se você estiver no laboratório, pelo
menos seja útil. — Estendo um copo vazio,
apenas para assustá-lo, e o solto antes que ele
o pegue de mim. Olho por cima do microscópio.
— Você pode varrer isso? Você deveria ter
segurado.
Ele zomba e se afasta dos pequenos
pedaços de vidro estilhaçados, mas sinto seu
olhar na parte de trás da minha cabeça
enquanto olho através do vidro do meu
microscópio.
— Eu não limpo nada. Sou o Mestre dos
Baetal.
— Você é o “Senhor Dedos de Manteiga dos
Reflexos Vampíricos Menos que Estelares” pelo
que acabei de ver. — Eu pego a pá de lixo,
limpando a bagunça rapidamente, se não um
pouco dramaticamente. — Veja, é tão fácil que
até você pode fazer. — Idiota pretensioso.
— Tenho idade suficiente para não me
importar com palavras medíocres, Sasha. E só
tenho sido útil desde que você chegou. — Ele
cruza os braços sobre o peito, seu tom um
pouco ameaçador.
Eu olho para ele. Apesar de constantemente
me dizer o quanto preciso dele e o quão útil ele
é, Nikolai tem sido de pouca ajuda para mim
desde que ele me mordeu e mudei de humana
para vampira. Agora, enquanto procuro uma
cura, me pergunto pela centésima vez que
diabos estou fazendo aqui.
— Não sou eu quem constantemente briga
com a única pessoa entre o meu povo e a
aniquilação.
Ele agarra meus ombros e força meu queixo
para cima. É uma jogada manipuladora que ele
pensa que não conheço, mas vou jogar o jogo
dele por enquanto. Ele empurra meu cabelo
para fora do meu rosto com um suspiro. —
Você me escolheu, lembra?
Eu reviro meus olhos. — Não faça disso
algo que não é, Niko. Você é o menor de dois
males. O diabo que você conhece e tudo isso.
Agora, minha vida é como uma versão
realmente fodida de escolher sua própria
aventura, a edição paranormal do clichê.
Ele me avalia por um momento antes de me
soltar. — Ok, então o que você precisa? — Ele
arregaça a manga e bate no braço como se
estivesse procurando uma boa veia. — Pegue
um pouco do meu sangue para trabalhar.
Talvez ajude você a descobrir o que diferencia
seu sangue, se você tiver algo para comparar.
Hesitei em pedir exatamente isso porque ele
está curado. O vírus não deveria ter deixado
nada na corrente sanguínea, mas vale a pena
tentar. Talvez ver o sangue dele interagir com o
meu me dê a pausa que espero. Ele me dá uma
seringa estéril, ainda em seu papel de
embrulho. — Qualquer agulha serve? Tenho
certeza que você está morrendo de vontade de
entrar em mim. — Ele pisca e é tão desarmante
que, por um momento, ele é apenas um cara
gostoso se oferecendo para me deixar cutucá-lo,
e eu sorrio a contragosto.
— Sim, tudo bem, vamos ver o que faz
Nikolai funcionar. Se isso vai tirar você do meu
pé enquanto trabalho, vou tentar qualquer
coisa neste momento. — Amarro um torniquete
em torno de seu bíceps, limpando seu braço
enquanto ele faz beicinho ante minhas
palavras.
— Se suas palavras fossem lâminas, você já
teria me sangrado milhares de vezes.
Eu o ignoro enquanto tiro alguns frascos do
seu sangue. — Sim, tenho certeza que você é
supersensível e apenas esconde muito bem. —
Eu retiro a agulha, limpando as gotas
carmesins deixadas em sua pele, ignorando o
aperto no meu estômago faminto com a visão.
— Agora, me dê uma ou três horas para criar
uma amostra, e vou deixar você ver através do
meu microscópio.
Ele franze a testa, mas sua necessidade de
cura substitui seu desejo de ter certeza de que
sei que ele é o chefe, como sabia que seria. Isso
não o impede de se inclinar para seu beijo
obrigatório, e eu apresento minha bochecha
como uma filha obediente.
Seus lábios frios e secos pressionam contra
o lado do meu rosto e consigo abafar o
estremecimento de repulsa de seu toque. Ele sai
sem mais discussões ou distrações, assim como
a centrífuga exige minha atenção com um bipe
agudo.
O som faz minha cabeça parecer um tubo
de pasta de dente sendo apertado com muita
força com a tampa ainda colocada, e bato com a
mão no botão liga/desliga para interromper o
barulho incessante, sento à mesa e coloco
minha cabeça em meus braços, bloqueando a
luz e apoiando minha testa enquanto espero a
tontura passar.
Tenho que me alimentar logo, e embora
odeie admitir, apesar das bolsas de sangue me
sustentarem, elas não satisfazem como sei que
a caça faria. Meus instintos me levam a caçar.
Para atacar aqueles mais fracos que eu. Não
posso confiar em mim o suficiente para parar,
no entanto. E não vou tirar a vida de outra
pessoa por esporte. Tento descansar alguns
minutos antes de continuar. A necessidade de
dormir também desaparecerá com o tempo.
Alguns dos vampiros mais velhos ao meu redor
podem passar dias sem dormir. Eles também
seguem uma programação noturna, preferindo
esconder sua existência nas sombras como
faziam antigamente. Não sei quantas
discussões tive com eles que, graças à cultura
pop, é mais provável que alguém peça uma foto
com eles do que fugir gritando para que os
habitantes da cidade pegarem os forcados.
Não sei se desmaiei instantaneamente
depois que minha imaginação se dirigiu para
fazendeiros que usavam tochas ou se levei uma
eternidade para adormecer, mas parece um
instante quando um toque suave no meu ombro
me acorda.
— Tenho uma entrega para você, Sasha. —
Um jovem vampiro desliza uma caixa sobre a
mesa ao lado do meu cotovelo. — Desculpe por
te acordar.
— Não, preciso ficar acordada. Obrigada. —
Olho para a caixa quando ele sai. Arsen. Eu sei
que é dele sem abri-la, assim como ainda posso
sentir suas mãos no meu corpo, mesmo que
não o tenha visto desde que deixei seu
complexo. Suas ações ainda ardem, como mil
abelhas atacando meu coração. Ele me tocou,
como um piano afinado, e eu caí nessa, anzol,
linha e chumbada. Não sei o que é pior. Saber
que me usou, ou que apesar de tudo, sinto falta
dele. Sinto falta do seu sorriso quando olhava
para mim, sua mão nas minhas costas
enquanto caminhávamos, e a maneira como
seus lábios pareciam contra os meus toda vez
que nos beijávamos.
Agora tudo o que estou fazendo é por mim,
pela pesquisa e pelos vampiros afetados. Não
para Arsen e o Draugur, e certamente não para
Nikolai e o Baetal. Eu sou Sasha, a vampira
sem clã, aqui apenas por causa das emoções
científicas.
Eu carrego a caixa luxuosamente embalada
de volta para a porta de vidro que fecha o
laboratório, pegando meu marcador do meu
jaleco. Retorne ao remetente. Escrevo em
grandes letras maiúsculas na etiqueta de
endereço e largo a embalagem no chão do lado
de fora da porta do laboratório. Eu vou embora,
fingindo que não estou curiosa sobre o que ele
continua me enviando. Toda carta, todo buquê,
toda caixa grande ou pequena, voltou.
Não tenho intenção de voltar para Arsen,
exceto para entregar a cura, e se pudesse
confiar em Nikolai para devolvê-lo ao Baetal, eu
o enviaria por correio.
Pelo menos Nikolai não me lembrou a
chegada iminente do meu novo ajudante. Algum
cientista russo que Niko trouxe da pátria para
dar uma segunda opinião sobre o vírus. Tenho
certeza de que eles se conhecem há muito
tempo, mas não tenho ideia se esse cara
aprendeu matemática quando Pitágoras ainda
estava tentando descobrir coisas entre os
sacrifícios aos deuses gregos ou se ele é
realmente atual. Com a minha sorte, ele virá
armado com um ábaco, anotações de alguns
alquimistas e hábitos horríveis.
Não pedi para estar nesta situação, sedenta
de sangue e desumanamente forte. E a
discussão que tive com Niko sobre trazer
alguém foi enorme. Eu o mandei à merda. Ele
riu e aceitou tudo. Quando se cansou da minha
ira, me lembrou que estava no comando aqui, e
só era capaz de usar o seu equipamento com
sua autorização. Não tive escolha a não ser
ceder e aceitar a chegada iminente do intruso.
Não é como se pudesse fazer esses testes no
laboratório do campus. E se alguém tropeçar
nele? — Ei, olhe. Sasha encontrou a supercura
para toda e qualquer doença humana. Tem
apenas alguns efeitos colaterais: presas e uma
fome que nunca diminui.
Sei que estou perto de descobrir qual tipo
de vírus e achei que ter outro par de mãos
ajudaria ou até me daria uma nova perspectiva.
Eu prefiro Jackson, pelo menos sei que ele sabe
o que diabos está fazendo, mas não posso
exatamente trazer meu melhor amigo humano
para um complexo de vampiros e dizer a ele
para ignorar as figuras velozes com dentes
pontudos.
Posso odiar o que me tornei, ou pelo menos
como fui forçada a entrar na nessa vida de
vampira, mas isso não muda o fato de que sou
a melhor pessoa com quem isso poderia ter
acontecido, pelo menos para o bem dos
Draugur e de Baetal.
As lâminas de Nikolai não me dizem nada
superficialmente, exceto que ele está imune ao
vírus agora, o que significa que ele realmente
não mentiu sobre eu curá-lo quando me atacou.
Marque um ponto na coluna de “prós” dele. Ele
não parece mentir, mesmo que a verdade não o
beneficie. — Ao contrário do maldito Arsen, que
mente até quando respira, aparentemente, —
murmuro, amarga que ainda esteja me
perguntando o que era que fez barulho quando
deixei o pacote cair do lado de fora da porta.
Eu jogo um pouco do sangue de Niko no
espectrômetro de massa e digito meu código de
acesso, enfileirando mais testes que podem ser
executados enquanto encontro Jackson para
alguma interação humana muito necessária e
almoço. Um arrepio percorre minha espinha e
suspiro pesadamente. — Achei que teria um
pouco mais de “silêncio” antes de você voltar,
Nikolai. — Eu olho para o relógio. Faz apenas
três horas.
— Você disse uma ou três horas. Eu te dei
três. E te dei meu sangue. Não ofereço meu
sangue a ninguém. Gostaria de saber o que
você descobriu com isso. — Ele se senta em
minha estação de trabalho, tamborilando seus
longos dedos na superfície previamente
esterilizada.
Aperto meus lábios e afasto sua mão. —
Mantenha suas mãos cheias de germes longe de
minhas superfícies. — Eu aceno minha mão,
envolvendo todo o equipamento brilhando ao
meu redor. — Os testes levam tempo. Quando
terminar, poderei lhe dizer alguma coisa. A
ciência real leva tempo. Não é como os
programas de TV em que eles estalam os dedos
e pronto, o DNA do assassino foi encontrado
instantaneamente. — Eu me inclino contra o
balcão, de frente para ele. — A propósito, eu
queria perguntar... como diabos você pode
pagar todo esse equipamento?
Os custos de manutenção do microscópio
crio elétron de transmissão de última geração é,
em média, de cem mil dólares por ano. E esse
nem é o custo de comprar o produto real. E este
laboratório é como o sonho de qualquer
cientista. Equipamento e tecnologia novíssimos.
Coisas que meu orientador no campus tem
babado e implorado aos chefes de departamento
por anos para comprar, apenas parado aqui,
neste laboratório, para meu uso.
— Os investimentos sempre lucram se você
os deixar por tempo suficiente. — Nikolai ri com
a carranca no meu rosto. — Compre terras e
cem anos depois, valerá mais quando você as
vender. Financie uma empresa iniciante, com
opções de lucro inteligentes, e você ficaria
surpresa com o resultado. — Ele ri alto e sorri
de alguma coisa e, por um momento, tenho
medo de saber o que é. — Fiz uma matança
durante a proibição.
Sim, tenho certeza que ele fez. Literalmente.
— Recebi outra caixa de Arsen. Você pode
garantir que ela seja enviada de volta?
— Por que enviar de volta? Queime não me
importo.
Olho de volta para a porta e balanço a
cabeça. — Não sei. É mais provável que esteja
cheio de sangue infectado que ele deseja curar.
Essa é a única coisa que vocês dois têm em
comum. Encontrar essa cura esquecida por
Deus.
Nikolai passa um dedo longo e fino pela
minha bochecha e meu cabelo se ergue na
nuca. — Eu acho que você sabe de pelo menos
uma outra coisa que temos em comum, Sasha,
— ele murmura no meu ouvido. — Mas você
tem trabalho a fazer, e tenho pessoas que
precisam de uma cura real, não medidas
paliativas enquanto você brinca com o seu
coração.
Afasto sua mão, com raiva por ele poder ver
através de mim tão facilmente. — Estou aqui
todos os dias e todas as noites. Eu trabalho até
desmaiar na minha mesa e ainda assim você
acha que isso é algum tipo de vingança.
Nikolai encolhe os ombros. — Infelizmente,
eu não sou instruído quando se trata de
assuntos relacionados ao coração e às emoções
humanas. Eu apenas escolhi ignorá-los. Você
se sairia melhor se fizesse o mesmo.
Eu vou resolver isso. Basta apertar um
botão e todas as minhas emoções se apagam.
Não tenho décadas de prática em ser um idiota
insensível. — Tanto faz, Nikolai. Tenho planos
para o almoço, esses testes estão em execução,
e você sabe que não pretendo estragar a raça
dos vampiros. Afinal, você garantiu que eu
também investisse em encontrar essa cura,
graças ao seu ataque.
— Gastei uma pequena fortuna neste seu
laboratório. Consiga alguns resultados e prove
que não foi um erro deixar você lamber suas
feridas aqui.
— Oh, vá se foder, Nikolai. Sério, apenas
saia da minha frente.
Rápido como um relâmpago, suas unhas
cavam em minha pele enquanto ele aperta
minha mandíbula e puxa meu rosto para perto
do dele. — Agora, tudo o que tenho a mostrar
para ganhá-la são milhões de dólares em
equipamentos e um clã de vampiros doentes.
Minha paciência não durará para sempre,
Sasha.
Eu me afasto apesar da dor e do sangue
que sinto escorrendo pelo meu pescoço. As
feridas já estarão curadas quando encontrar
Jackson. — Então pare de pairar e me deixe
fazer o meu trabalho. Podemos continuar tendo
essa discussão todos os dias, ou você pode ficar
fora do meu caminho. Não esqueça que não fui
eu quem deixou todos vocês doentes. Sou quem
trabalha para resolver o problema, e não pedi
esse emprego. Fui forçada a isso.
Uma emoção que não consigo descrever
cruza seu rosto antes que ele feche a boca com
um estalo alto. Ele gira e sai em disparada, e eu
levanto os dois dedos do meio para as costas
dele.
O fato de finalmente tê-lo atingido é uma
vitória vazia, e temo que pagarei mais tarde.
Mas, por enquanto, ganhei um pouco mais de
tempo. Um pouco mais de espaço para respirar.
Espero que este seu cientista realmente saiba
algo sobre a genética dos vampiros e possa
ajudar porque estou quase perdendo a cabeça.
Quem diria que ser um dos mortos-vivos
seria tão complicado?
CAPÍTULO 2

Eu rotulo outro conjunto de testes que


falhou e os coloco de volta na geladeira assim
que meu telefone toca, o tom estridente me
assustando. Passei por dois telefones no mês
passado, um sendo destruído no meu ataque e
o outro desaparecido em algum momento.
Graças a Deus pela nuvem mantendo todas as
minhas coisas protegidas para mim. Minha
dama Espectrometria de Massa e seu outro
amante, o Sr. Sequenciador de DNA, ainda estão
a horas de minha bateria de análises mais
recente, e não consigo pensar em nada que
preferiria fazer mais do que mudar meu cenário
e minha companhia. Jackson e eu desligamos
rapidamente depois que ele me disse onde
estaríamos comendo, e eu saí.
Não estou surpresa que ele tenha escolhido
o Forage, o café ao virar da esquina do campus.
É o seu lugar favorito para comer e eles têm
smoothies incríveis. É bom ver Jackson, mesmo
tendo que guardar todos esses segredos dele. É
perturbador para mim. Sempre contamos tudo
um ao outro, mas não sei exatamente como
lidar com o fato de agora ser uma sugadora de
sangue em uma conversa educada.
— O que parece bom para você? — Jackson
me olha por cima de seu menu. — Acho que
vou apenas pedir o meu normal.
Eu reprimo a vontade de responder com
“sua carótida”, e mastigo o interior da minha
bochecha enquanto examino minhas opções.
Sempre adorei a comida daqui, e minha
indecisão atrapalha meu bom humor. — Acho
que vou querer um sanduíche de carne e cinco
litros de cafeína.
Jackson sorri e coloca seu cardápio de lado.
— Parece bom. Vou adicionar a cafeína ao meu
pedido. — Ele esfrega as mãos na frente dele,
sua excitação pela comida é cativante. Seu colar
sempre presente desliza para fora da camisa
polo e o metal brilha sob as luzes acima. Algo
sobre o design aciona uma memória. Você já viu
isso um milhão de vezes, idiota. Eu me
repreendo por minha paranoia. É o Jackson. Eu
o conheço desde sempre. Antes que possa
perguntar, o telefone vibra na mesa e ele faz
uma careta. — Eu tenho que atender isso. Você
se importa?
— De modo nenhum. Vou pedir para você.
Ele atende o telefone, pedindo desculpas
antes de falar com quem está do outro lado da
linha. — Sim, espere, deixe-me ir para algum
lugar mais calmo. Estou no meio do almoço. —
Ele se afasta da mesa, colocando sua bolsa em
seu assento. Penso em pegar meu próprio
telefone e procurar por alguma mensagem de
Nikolai. Não que queira quaisquer mensagens
dele. Metade de mim espera que Arsen me envie
uma mensagem. A outra metade espera que
não. Só não tenho certeza de como responderia.
— Bem-vindo ao Forage, o que posso fazer
por você hoje? — A garçonete fala ao meu lado.
— Puta merda! — Eu deixo escapar,
surpresa por não ouvi-la chegar.
— Me desculpe, eu te assustei? — Ela me
dá um sorriso de desculpas. — Eu não quis.
— Não, desculpe, está tudo bem. Minha
culpa. Estava tão envolvida no meu próprio
mundo que não ouvi você chegar. — Eu sorrio
para ela.
— Então, você está pronta para pedir ou
devo esperar até que seu amigo volte? — Ela
muda de pé para pé, claramente não querendo
ficar por aqui e conversar comigo.
— Não, ele precisou atender uma ligação,
mas quer um sanduíche de carne com as
batatas fritas e uma coca para beber, por favor.
— Claro. E pra você? — O cheiro doce de
seu perfume é quente e convidativo quando
respiro fundo para responder, e instintivamente
pressiono minha língua contra meus dentes
superiores.
— O mesmo, mas eu gostaria de uma
salada à parte também, se for possível? —
Odeio quão insegura pareço, mas meu cérebro
está confuso por sua proximidade. E estou com
medo de que minhas presas saiam a qualquer
segundo. Minha boca enche de água com seu
cheiro como se ela fosse um biscoito de
chocolate recém-saído do forno, e eu não me
importo se dar uma mordida nela iria queimar
minha boca.
— Posso pegar quase tudo que você quiser.
Mudamos as coisas o tempo todo. Vou pedir
isso para você e volto com suas bebidas. —
Agradeço a ela quando ela abre um sorriso para
mim e se afasta.
Puta que pariu. Sinto-me em partes iguais
repelida por meus instintos e fascinada. Eu
sabia que isso ia acontecer. Sou uma vampira.
Preciso de sangue para sobreviver. Mas em
público assim, não esperava que a atração fosse
tão forte. Sempre tive outro vampiro comigo
para me manter ocupada. Ou eu estava muito
preocupada na faculdade para perceber
qualquer outra coisa.
— Não é fácil ignorar quando te atinge, não
é? — Uma voz familiar atrás de mim murmura
tão baixinho que, por um momento, acho que
estou ouvindo coisas.
Giro no meu assento e olho para ele, a boca
aberta em choque. Arsen Eskandar. Em carne,
parecendo comestível como sempre. Faço uma
careta para meus próprios pensamentos, mas
meu coração me trai ao vibrar loucamente ao
vê-lo. Por que ele não pode parecer mais
esfarrapado como eu? Tenho bolsas sob os
olhos, apesar de ser vampira. Por que não
consegui o upgrade de beleza instantâneo que
Bella recebeu em Crepúsculo? Tão injusto.
— Sasha. — Ele me faz uma pequena
reverência antes de puxar o assento ao meu
lado, deslizando graciosamente para ele.
— Arsen. — Sento-me ereta na cadeira e ajo
como se a proximidade dele não fosse gloriosa.
— Por que você está aqui? Não tenho nada para
lhe dizer e estou tentando aproveitar o almoço
com meu amigo. — Eu deixo a metade
implorando/metade da ameaça tácita para ele
sair antes que Jackson volte de sua ligação. Ele
olha para mim e eu bufo de aborrecimento. —
Arsen?
Ele limpa a garganta. — É Annabelle.
Meu estômago cai e eu descanso minha
mão sobre a dele na mesa. — Oh, Deus, Arsen.
Ah não. Ela não está... ela está?
— Ela está viva, mas mal. Claudette está
sentada com ela enquanto estou fora. Sasha,
ela está tão fraca da doença que não reconhece
mais ninguém, nem mesmo eu. Preciso saber
onde você está com a cura, ou preciso de um
pouco da cura que você deu a Nikolai para ela.
Concordo e respiro agora que sei que ainda
temos tempo para salvar Annabelle. Ela é
inocente em tudo isso. Embora não tenha
certeza de como ela está segura com Claudette,
ex amante de Arsen. Se alguém está no
caminho de Claudette recuperar Arsen ou
desviar sua atenção dela, ela tenta acabar com
eles. — Claro. Mas não desbloqueei a chave
para reproduzi-lo. Vou ajudá-lo se puder, mas
juro que não tenho nada perto de uma cura no
momento. A morte é iminente? Você pode me
falar sobre os sintomas dela?
— Você viria vê-la? Não sei o que procurar
para fornecer as informações necessárias para
ajudá-la. — Ele aperta minhas mãos entre as
dele e me inclino para trás, frustrada por ele
estar usando meus sentimentos por ele como
uma ferramenta para conseguir o que quer. De
novo.
Tiro minhas mãos do seu alcance, raiva
agitando meu interior. — Você sabe que não
posso voltar para lá. Não depois de tudo o que
aconteceu. — Balanço a cabeça e rio
amargamente. — Sabe, pensei que você
estivesse aqui para pedir desculpas, não para
usar meus sentimentos por você como uma
arma contra mim para conseguir o que deseja.
Mais uma vez.
Ele olha para as mãos no colo e, por um
momento, parece completamente humano em
seu desamparo. — Eu cometi erros por
desespero. Annabelle não merece sofrer por
eles.
Eu concordo que ela não merece, mas por
que está tudo bem que eu sofra? Não expresso
meus pensamentos, e ele continua como se
meu silêncio fosse concordância.
— Você está aqui. Você pode voltar comigo
agora mesmo.
Balanço a cabeça. — Não. Agora, estou aqui
com meu amigo, que nunca me usou ou me
traiu. Farei o que puder por Annabelle, mas
agora tenho que pedir para você ir.
Ele aperta minha coxa debaixo da mesa, o
calor de sua mão inflamando as lembranças de
todos os momentos íntimos que
compartilhamos. Não consigo me afastar, seu
toque é tão bom e me recuso a encontrar seus
olhos, sabendo que ele verá o conflito e o
desejo.
Mordo o lábio, mantendo a minha decisão,
mesmo que queira tanto esquecer o que
aconteceu. — Eu não posso, Arsen.
— Está tudo bem aqui? — Jackson
pergunta, avaliando a situação enquanto se
senta.
— Sim, está tudo bem. Arsen estava indo
embora. — Eu puxo meus lábios em uma
aparência de sorriso para o benefício de
Jackson.
— Sasha... — Arsen começa, mas Jackson
o interrompe.
— Cara, ela pediu para você ir. Respeite
seus desejos.
Arsen levanta uma sobrancelha e a
arrogância masculina aparece.. Deus me salve
dos homens e seus egos.
Arsen zomba e olha furioso do outro lado da
mesa para Jackson. — Claro, só poderia ser
você com quem ela está aqui, Jackson.
Mas não vou deixá-lo chegar a Jackson,
não importa o que aconteça. A compreensão me
atinge; tenho que contar tudo a Jackson. Eu
gemo internamente e olho entre os dois homens
que seguram mais do meu coração do que
qualquer outro, o vampiro que não consigo
parar de querer, não importa o quanto tente e
meu melhor amigo humano.
Não sei por que há tanta tensão. Eles só se
encontraram brevemente no hospital quando
fui atacada, e a mente Jedi de Arsen enganou
Jackson para que pudéssemos escapar.
— Mas não estou aqui para falar com você.
Hoje não. — Diz Arsen.
— Bem, isso é um alívio, porque odiaria ter
que removê-lo à força na frente de um
restaurante cheio de pessoas, se você estivesse.
— Gente, vamos diminuir um pouco o tom.
— Eu observo os olhares curiosos de outros
clientes no restaurante.
Arsen me ignora e devolve o olhar de
Jackson com um desdém divertido. Deus. O
nível de testosterona é suficiente para sufocar
alguém, mas não sei como impedi-los, além de
chutar os dois. Não quero ser expulsa antes de
satisfazer pelo menos uma fome que rói meu
estômago.
— Você não conseguiria, mesmo que
tentasse, Tate.
Jackson bufa. — Você a ouviu, cara. Não
cause uma cena. Apenas vá embora e a deixe
em paz. — A voz de Jackson mal contém
violência e o ódio entre eles aumenta como
ondas de calor no pavimento. Eu não acho que
já vi Jackson reagir assim a ninguém antes com
uma aversão instantânea.
Arsen fica de pé, zombando de Jackson
antes de virar para falar comigo. — Você acha
que ele é seu amigo, porque ele está entre nós,
Sasha. Talvez você precise perguntar a ele o que
realmente está procurando, em vez de seguir
cegamente alguém que esconde muito de si
mesmo de você.
Ele se foi antes que pudesse entender sua
declaração confusa e estranha, me deixando
boquiaberta com Jackson em um pedido de
desculpas envergonhado. — Eu não esperava
vê-lo novamente, tipo, nunca. — Digo, pegando
a toalha da mesa e resistindo à vontade de
chutar meus pés e gritar com o espaço onde
Arsen estava. — Acho que ele pode ter te
perseguido um pouco porque somos amigos.
Isso é super assustador e sinto muito.
— Salvo pela comida, — ele responde, com
o queixo tenso. A garçonete se inclina para
frente para colocar meu almoço na minha
frente. Olho para qualquer lugar, menos para o
pescoço dela, onde sua pulsação bate,
prendendo a respiração para não inalar seu
perfume novamente.
— Aproveite a comida. Se precisar de
alguma coisa, é só me avisar. — As
sobrancelhas de Jackson disparam até a linha
do cabelo quando ela sem cerimônia joga o
prato na frente dele e se afasta sem dizer mais
uma palavra.
— Você realmente precisa examinar seus
namorados com mais cuidado, — ele continua
nossa conversa de antes dela chegar.
— Talvez deixar de ter namorados, —
brinco, e no momento, a tensão é quebrada.
Mas ela retornará, como sempre faz
ultimamente. Ele vai pensar que sou louca, mas
Arsen está certo sobre uma coisa. Preciso parar
de guardar segredos de Jackson e contar tudo.
Ele vai pensar que enlouqueci, mas pelo menos
vou tirar esse peso de mim.
O almoço é menos apetitoso após a
aparição de Arsen, e uma vez que tudo que
Jackson quer fazer é me interrogar sobre ele, eu
como o máximo que posso aguentar o mais
rápido possível, para que possamos partir.
Jackson também devora a comida, porque ele é
Jackson e esse é o seu normal, mas ele ainda é
capaz de me encher de perguntas entre dar
mordidas e respirar. Antes que possa dar
minhas desculpas e ir embora, ele empurra o
prato para frente e se inclina em minha direção
sobre a mesa.
— Ei, sinto muito que esse cara tenha te
chateado. Eu não queria te incomodar tanto
sobre isso. Deixe-me levá-la de volta ao
campus.
Aceno para ele. — Tudo bem. Eu sei que
você tem coisas melhores para fazer do que me
conduzir por aí.
Ele suspira e coloca a mão sobre a minha, o
calor penetrando na minha pele fria e esse
instinto dentro de mim se aproxima da
superfície. Fome de sangue. Para nutrição,
apenas uma bolsa de sangue ou humano pode
fornecer. — Eu preciso falar com você sobre
algo, e não é realmente o tipo de conversa para
um restaurante lotado.
— Tudo bem? — Eu pergunto, e ele
assente, deixando algumas notas sobre a mesa
para o nosso almoço.
— Sim, só acho que não precisamos ter
essa conversa aqui.
— Ok. — Pego minha mochila e o sigo até o
carro, com o estômago revirado pela
preocupação com o que ele vai dizer. Eu me
concentro em reprimir minha sede de sangue,
lembrando a mim mesma que posso pegar uma
bolsa de sangue no laboratório de Niko quando
terminarmos.
O carro clica quando ele pressiona o botão
de destravar no seu chaveiro, e eu entro,
prendendo o cinto de segurança e mexendo nas
aberturas de ventilação enquanto evito olhar
para ele. Ele permanece em silêncio até
estarmos na estrada, depois dirige por uma rua
tranquila, sem casas, apenas um antigo parque
cercado por cercas de arame.
— Como você está se sentindo? — Ele
finalmente começa, me pegando desprevenida.
— Péssima, obrigado por perguntar. — Abro
o quebra sol e olho no espelho para o meu
rosto. Eu estou pálida, mas ainda sou eu. —
Por que você pergunta? E por que estamos
descendo o que só pode ser descrito como o
local para a filmagem de cada filme de serial
killer de todos os tempos?
— Bem, ataques de vampiros como o que
você sofreu apenas terminam de duas
maneiras, e você não está morta, então estava
curioso para saber como ser um vampiro está
afetando você.
Porra. — Espere, — Eu gaguejo, então olho
para ele através do console central, meu aperto
branco na alça do meu cinto de segurança
afrouxando em meu choque. — Você... sabe?
Ele assente, e eu ajusto minha posição até
minha parte superior do corpo encará-lo, meu
olhar sério.
— Tipo sabe, sabe? Como em saber.
— Quantas vezes mais você vai dizer saber
assim?
— Seu idiota. Você sabia? — Balanço a
cabeça. — Você sabe? Sobre vampiros e toda
essa merda sendo real, e nunca me contou?
Ele empalidece, obviamente não esperando
que reaja com raiva de sua revelação. — O que
poderia ter dito? “Ei, sei que os vampiros
existem.” Você teria me dito para crescer. Fiquei
pensando que você viria falar comigo, mas
depois da visita de Arsen hoje, imaginei que um
de nós tivesse que quebrar o silêncio.
Sem pensar, dou um soco no braço dele,
empurrando-o contra a porta com força
suficiente para sacudir o carro inteiro. — O que
diabos eu poderia ter dito? Achei que você me
internaria. — Luto com o cinto de segurança
para soltá-lo. O carro está fechado e sufocante,
e tudo em que consigo pensar é sair e afastar a
confusão que nubla minha cabeça. — Pare o
carro! Deixe-me sair! Preciso de um pouco de
ar.
Jackson encosta e se junta a mim depois
que saio do carro, encostando na porta lateral.
— Você está bem?
— Acho que sim. Acho que estou em
choque. É um alívio gigante não ter que
esconder isso de você. Não preciso ter cuidado
com o que digo e não tenho medo de dizer mais
nada. — Eu suspiro impaciente para mim
mesma. — Sinto-me péssima, estou anêmica e
me recuso... recuso-me a morder um ser
humano e beber seu sangue como um enorme
mosquito.
— Você não mordeu ninguém?
— Não uma pessoa. Não de propósito. Acho
que o vampiro que me atacou me deu um pouco
de seu sangue quando eu estava inconsciente, e
é por isso que sou assim. — Eu chuto o pneu e
faço beicinho para ele. — Eu preciso de sangue
de verdade e temo que, se ficar muito fraca,
aqueles idiotas vão conseguir exatamente o que
querem de mim.
Jackson me dá um sorriso raro e me abraça
pela primeira vez em muito tempo. — Então
vamos ter certeza que não consigam, ok?
— O que você quer dizer? — Eu relaxo em
seus braços, me perguntando por que nunca
poderia simplesmente ter uma vida fácil e
querê-lo do jeito que quero Arsen. Ele inclina
minha cabeça para trás e bate minha testa com
a dele, como costumava fazer quando
brigávamos e fazíamos as pazes quando
crianças.
— Quero dizer, você precisa de alguém do
seu lado, certo? Então você e eu precisamos
ficar juntos.
— Sim, isso seria ótimo. Estou feliz por
estarmos do mesmo lado e não precisar
esconder nada de você.
Ele se encolhe quando digo, mas não posso
culpá-lo. Sou uma vampira agora, mesmo que
esteja tentando ficar domesticada.
Ele se afasta, mexendo no meu cabelo,
bagunçando tudo. — Bem, agora que isso está
fora do caminho, vamos para a aula,
preguiçosa. Você tem que terminar esse projeto.
Eu rio. — Escute, não é como se eu
planejasse ser atacada por um vampiro e perder
tantas aulas.
— Sim, sim. Só porque você tem todo o
tempo do mundo agora não significa que vou
deixar você abandonar a faculdade e desistir de
seus sonhos. — Ele liga o motor e segue em
direção ao campus.
Eu sorrio para ele quando ele liga o rádio e
cantamos desafinadamente uma das populares
canções pop. Ele tem razão. Tenho todo o tempo
do mundo. Eu sou imortal agora. Mas há outros
que não têm tanto tempo quanto eu.
E cabe a mim encontrar a cura para eles.
CAPÍTULO 3

Desço correndo os degraus do escritório do


meu professor de sociologia direto para o
laboratório no campus, onde Jackson e eu
planejamos nos encontrar e jantar antes de
trabalhar no meu projeto. Viro a esquina e vejo
Jackson conversando com um grupo de amigos.
— Apresse-se, idiota, pensei que você
tivesse dito que iria me ajudar. — Seu braço
aparece no ar, seu dedo médio estendido, e eu
rio para ele, devolvendo-o. Ele faz o abraço de
lado com os caras e acena adeus antes de
correr para mim, onde espero na entrada do
laboratório.
— Eu disse que te encontraria em vinte,
perdedora. Faz apenas dez. — Ele ri.
— Eu sei, mas vi uma oportunidade de
zombar de você na frente de seus amigos. Como
poderia deixar passar? — Eu sorrio e abro a
porta para o conversível que Nikolai me deu
para dirigir. — Vamos jantar primeiro porque te
devo uma por me ajudar a terminar isso a
tempo. E queria mostrar meu carro novo.
Jackson puxa a jaqueta com mais força por
cima dos ombros e me dá um olhar sujo. —
Onde você conseguiu essa coisa? — Quando
levanto uma sobrancelha, ele levanta a mão. —
Não importa, não quero saber. Bem, não
podemos ter você trabalhando noite e dia e
ainda falhando no programa, podemos?
Eu acelero, aproveitando o ar quente
enquanto meu cabelo voa selvagem ao vento.
Ele não diz mais nada até eu parar no
semáforo. — Sério, você pode fechar isso? Estou
congelando minhas bolas aqui.
— Adoraria, mas meus dedos estão
congelados no volante. — Eu rio quando ele
geme e aperta o botão para elevar o teto e
aumentar o calor. — Ok, então talvez estivesse
um pouco frio para ter a capota abaixada. — Eu
encolho um ombro. — Não me arrependo de
nada.
Ele olha para mim algumas vezes, e sei que
ele está pensando em dizer alguma coisa. É a
deixa dele. Espero, observando-o pelo canto do
olho enquanto ele elabora o que quer dizer.
— Como é para você?
— Como é o que, Jackson? Diga ou deixe
pra lá, cara. Temos comida para comer e um
projeto de genética para terminar.
— Agh, não me encha o saco. Eu não sei
como perguntar essas coisas em voz alta sem
soar louco. Sentir frio... você ainda pode sentir
isso? Ou você está imune agora?
— Sim. Eu sinto tudo. Sou uma vampira,
não uma pedra.
— E a dor?
Lembro-me da surra que levei de Arsen na
noite do desafio, quando ele chutou minha
bunda e a de Nikolai, e descobri que ele
trapaceou. Estremeço. — Isso é definitivamente
um sim. A dor não se importa se você é humano
ou vampiro. Ainda vai deixá-lo apagado, se for
ruim o suficiente.
Ele não diz mais nada pelo resto do
caminho até o restaurante, e eu o deixo ficar
com seus pensamentos. Afinal, ainda estou
processando o que significa ser uma vampira. E
o que significa agora que posso falar com
alguém sobre isso, embora seja humano. Eu
vou pegar o que puder. Não posso esperar que
ele fique tranquilo com isso e não tenha
perguntas ou temores.
Pedimos vinho e guloseimas com queijo frito
para mim, o especial e uma cerveja para
Jackson, e dividimos um aperitivo de cascas de
batata carregadas com bacon. — Ok, — ele fala
novamente enquanto coloco o bacon caído de
volta na minha metade de batata crocante,
gordurosa e oca, — por que você come comida?
Enfio o último pedaço na boca e o faço
esperar até mastigar e engolir. — Porque tem
um gosto bom. — Eu pego a última batata sem
perguntar se ele quer. — Além disso, porque
não posso engordar agora. — Ele arqueia uma
sobrancelha e eu sorrio, limpando o creme de
leite do canto da minha boca.
— Não só posso comer, posso comer tudo
que sempre amei e não me permitia comer
antes, porque meu jeans ainda vai caber mais
tarde.
— Então você ainda é Sasha em todos os
outros sentidos, exceto por beber sangue e ser
mais difícil de matar.
Eu não tinha pensado em ser mais difícil de
matar, mas se aplica, acho. Eu concordo. — E
nunca estarei envelhecendo.
— Certo, — ele concorda — e nunca
envelhecer.
Dou de ombros e ele vira o resto de sua
cerveja e pede outra. — Você está bem,
Jackson? — Ele mexe com os talheres e não
responde imediatamente, descascando o rótulo
da garrafa e não encontrando meus olhos até
que não aguento mais. — Oh, meu Deus! Basta
perguntar. O quê, você acha que vou atacá-lo
de repente se disser a coisa errada?
Ele faz uma careta para mim. — Bem. E os
outros?
— Outros... o que? Outros pares de
sapatos? Coragem. Qual é a questão? Seja
específico.
Ele faz um movimento de punhalada com o
garfo em minha direção, fingindo estar zangado
comigo por provocá-lo. — E os outros vampiros?
Você gosta deles?
A pergunta não deveria me surpreender,
mas surpreende. — Na verdade, não. Quero
dizer, sim, alguns deles. Eles são pessoas,
alguns deles são pessoas super ruins, mas
outros são... — penso em um bom adjetivo. —
Legais não é uma boa palavra para nenhum
vampiro, mas alguns são... decentes, acho. —
Eu rio dele e mergulho um dos pequenos palitos
de mozarela no molho de tomate, apreciando o
sabor forte na minha língua. Comida é vida. Ou
bem, costumava ser. Agora sangue é vida? Mas
ainda estou feliz por poder comer. — É estranho
como você me faz pensar em coisas que
realmente não pensei ainda. — Eu estive tão
ocupada entre o ataque, os desafios do
Provokar para decidir a qual clã eu pertencia,
minha mudança e encontrar a cura, é um
milagre ainda saber meu próprio nome neste
momento.
— Sou naturalmente curioso, — ele diz, e
mostro a língua para ele.
— Você é naturalmente intrometido, você
quer dizer.
— Oh, tanto faz. Os cientistas têm
necessidade dos fatos.
— Mmm-hmm, claro, claro. E ser policial
também não tem nada a ver com isso. — Nós
dois comemos nossa comida, comentando como
está boa, e eu finjo esfaqueá-lo de volta com
meu próprio garfo enquanto ele rouba um palito
de queijo.
A conversa sobre meu recém-descoberto
vampirismo acabou e a conversa volta ao
projeto e quais fontes de computador o Dr.
Lyons odeia ver nos documentos. Nunca
conheci um cientista que se importasse com a
fonte que usamos, contanto que não seja um
arranhão de galinha escrito à mão, mas o Dr.
Lyons é uma diva. O vinho espumante é
saboroso e rimos enquanto passamos por tudo.
É normal. Habitual. Completamente humano e
é algo que sempre tomei como garantido.
Jackson paga pela nossa refeição, recusando
meu dinheiro para cobrir minha metade, e
deixo para lá, decidindo dar a ele um cartão de
presente para o Starbucks ou algo assim para
que possa tomar todas aquelas doses de café
expresso nos turnos da noite.
Quando voltamos para o carro, desta vez
com Jackson ao volante, encosto a cabeça no
encosto e sorrio para ele. — Obrigado por hoje à
noite, Jackson.
Ele clica na fivela e se afasta do meio-fio. —
Pelo que?
— Por me aceitar com meus dentes
pontudos extras e por não me deixar esquecer
do que significa ser humano.
Ele agarra minha mão na dele e aperta. —
Estou com você até o inferno congelar. E
mesmo assim.

De volta ao laboratório, começamos a


trabalhar. Copio e colo o relatório escrito que
acompanha o meu projeto até que finalmente se
assemelhe a pensamentos coerentes em um
documento do Word. Jackson tira mais fotos do
experimento em si, já que ele é o melhor
fotógrafo e as formata de uma maneira que faz
sentido. Posso entender biologia e genética, mas
o Microsoft Word já me bateu à submissão mais
de uma vez. Ele faz mais perguntas sobre
vampiros enquanto trabalhamos, e respondo as
que posso. Por tudo isso, enquanto ele pede
mais detalhes, percebo que nem sei muito sobre
o que sou agora.
— Mas eles matam pessoas, Sasha. Quero
dizer, por que só saem à noite se não são
perigosos e são capazes de ser bons?
— Eu não sou perigosa, sou? — Dou de
ombros e me concentro no papel, enviando-o
para a estação de impressão mais próxima para
a cópia impressa que vou entregar. — Não há
nada errado em ser noturno. Acho que é como a
norma cultural deles. Deus, Jackson, você toma
o turno da noite por que quer e é humano,
então o que isso diz sobre você?
— Mais coisas ruins acontecem à noite. Eu
quero fazer o melhor.
— E talvez nós, você sabe, eu e os outros
vampiros, só queremos ficar fora do caminho.
— Mas a luz do sol não tem efeito, então
por que não assimilar a sociedade normal? Por
que ficar à margem?
— Quão bem isso funcionou no passado
quando as pessoas que desafiam a norma
entram na luz? Qualquer julgamento para as
bruxas de Salem? E a Inquisição? — Eu estalo
minha língua. — Nunca acaba bem para
aqueles que não se encaixam na caixinha que a
sociedade criou para o que é aceitável.
Ele trabalha por um minuto, mas posso ver
a tensão em seus ombros e sei que ele não
terminou. Ele enche uma impressora com o
papel fotográfico que eu trouxe e imprime as
imagens para o projeto, espalhando-as e
classificando-as cronologicamente, removendo
as que não preciso. Ele é tão meticuloso quanto
eu em nosso trabalho no curso. Se não
estivesse um pouco irritada com as suposições
dele sobre o que é certo e errado sobre fazer
parte do clube das presas, isso me faria sorrir.
— Admita, Sasha, eles se escondem porque
estão machucando pessoas. Não estão?
Não tenho uma resposta fácil e olho para
ele por cima da mesa de desenho. — Quantos
filmes de vampiros você já viu? Você não ficaria
longe do escrutínio público, se soubesse que
seria acusado de toda aquela carnificina por
estranhos antes que se preocupassem em
conhecê-lo? O que aconteceu com inocentes até
que se prove o contrário?
— Como você pode defender vampiros,
quando você vê em primeira mão o que eles
fazem? Você esqueceu como é ser perseguida e
atacada?
Empurro meu laptop para um lado e me
inclino para ele. — Não, não esqueci o que um
vampiro demente fez comigo. Também não
esqueci que sou uma deles. Você se lembra
disso?
— Olha, só estou preocupado. Sou policial,
lembra? É meu trabalho desconfiar. — Ele me
entrega a pasta de fotografias e conto até dez
antes de responder, fazendo o possível para
reprimir os comentários espertinhos que quero
fazer.
— Você prendeu todos os tipos de bandidos,
certo? — Ele assente, me observando deslizar
cada página do meu projeto em repartições
transparentes que o professor nos disse que
não eram necessárias. — Você acha que todos
os homens são maus?
Ele bufa e arqueia uma sobrancelha. — A
maioria deles.
— Oh, certo, sim, é por isso que você tem
noite de pôquer com “os caras” e vai correr com
um monte de, oh, como eles se chamam? Oh,
certo, pessoal, e quando eu ligar para vocês e
vocês estiverem no Rowdy Robber, vocês estão
com... espere...
— Gente, — ele termina para mim. — Sim,
tudo bem. Onde você quer chegar?
— Você está aqui comigo agora, não está?
— Sua boca faz um O redondo quando meu
argumento é assimilado por ele. — Os dois não
são sinônimos. Eu não sou um cara mau,
Jackson, mas sou uma vampira.
— Uma recém-transformada.
Eu gemo alto e cubro meu rosto com as
mãos. Sinto que acabei de trazer Jackson de
volta, e agora ele está escapando novamente.
Ele é o único amigo com quem posso contar
para estar lá por mim, e a única maneira que
parece que pode fazer isso é se eu fingir que
nunca fui atacada. — Ok, sou uma vampira
nova. Que nunca mordeu ninguém. Uma
vampira que só quer dar o fora desse projeto em
que ambos trabalhamos tanto.
— Bem, trabalhei duro nisso. — Ele enxuga
o rosto, um sorriso largo se estende por ele.
— Oh, foda-se. — Eu rio, a tensão quebrada
no momento, mas nossa discussão ainda
pesava na minha mente.
Se o homem que me conheceu a vida inteira
parece não conseguir superar meu status não
humano, o que isso indica para o meu futuro?
Ser uma vampira apaga todas as coisas boas
que fiz? Isso me mudou tão completamente que
nem consigo ver? Ou Jackson tem outra coisa
que não está me contando? Algo sobre o que
Arsen disse anteriormente surge na minha
memória, e de repente estou com raiva. Furiosa
com Nikolai por me atacar. Lívida por gostar do
charme de Arsen e, apesar de tudo, sentir falta
dele. E magoada que nem mesmo Jackson, meu
único contato mortal, possa me tratar com
decência humana.
CAPÍTULO 4

Meus dedos apertam o tubo de ensaio na


minha mão e depois relaxam. O cilindro
escorrega e bate no chão, o líquido dentro
fazendo uma poça do tamanho da minha unha
do polegar. Ainda estou xingando baixinho
enquanto Jackson se aproxima para pegar o
resto da bandeja antes que eu possa causar
mais danos. Olho para as minhas mãos
trêmulas, depois para o relógio. Já passa da
meia-noite. Estamos trabalhando há horas, e
minhas mãos não estão firmes o suficiente para
lidar com essas coisas. Preciso me alimentar, e
não há sangue viável à vista.
— Jackson, quer saber? Não preciso da sua
ajuda. Dê o fora daqui. Eu preciso terminar.
Você não precisa estar aqui. Vou te dar dinheiro
para dar uma volta. — Pego minha mochila e
minha carteira, meu estômago apertando com
partes iguais de fome, raiva e desespero para
afastar Jackson de mim antes que eu lanche
ele.
Ele empurra minha mão estendida para um
lado e balança a cabeça. — Que porra é essa?
Pensei que estávamos bem? Eu não queria
incomodá-la com minhas perguntas sobre
vampiros, e estamos quase terminando aqui. O
que há com a mudança repentina de humor?
Você recebeu uma mensagem desse cara ou
algo assim?
Não posso dizer a ele que preciso de
sangue, não depois da discussão que tivemos
sobre eu continuar sendo praticamente normal,
apesar de ser uma vampira. É minha culpa que
ele esteja aqui, em vez de beber no Rowdy
Robber com seus amigos policiais ou perseguir
saias. Preciso da faculdade, de uma vida e de
um amigo ao meu lado que não tenha um
motivo oculto. Não posso perder Jackson para
isso. Simplesmente não posso.
— Apenas saia. Estou cansada e mal-
humorada e você sabe que posso chutar sua
bunda, então por que discutir comigo? — Alivio
meu tom, mas minhas palavras ainda são
duras. Coloquei meu relatório final ao lado do
experimento físico e finjo verificar meu espaço
de trabalho em busca de algo que esqueci de
limpar.
O único sangue no frigobar debaixo da
minha mesa está contaminado. Faço um
inventário mental rápido, mas não tenho
contrabandeado bolsas de sangue fresco há
dias, muito focada no meu trabalho para
pensar no que aconteceria se eu ficasse no
campus por muito tempo quando estou com
tanta fome.
— Sério, está tudo bem? — O rosto
preocupado de Jackson apenas intensifica
minha irritação. É horrível para mim que suas
emoções o façam parecer mais comestível para
mim, e uso o pensamento para sufocar minha
sede de sangue.
— Não, preciso ficar sozinha agora. Me
desculpe se estou sendo abrupta, só preciso
terminar aqui e pensar em algumas das coisas
sobre as quais conversamos hoje à noite.
— Eu não me importo se você quer ficar
sozinha agora. Não tenho certeza de que seria
uma boa ideia, considerando todas as coisas.
Só quero saber o que diabos mudou nos
últimos trinta minutos. — Seu rosto está corado
de raiva crescente, fazendo suas veias se
destacarem contra a pele, pulsando, latejando,
chamando-me como uma sereia para um
marinheiro sedento. Estou sedenta.
Não tenho certeza de como posso tirá-lo
daqui antes de fazer algo que nunca poderei
voltar atrás, eu o empurro em direção à porta.
— Jackson, vamos lá... — Eu busco um
argumento que não pareça insano ou
mesquinho, mas fico em branco. Jackson firma
os calcanhares, usando seu corpo e peso
maiores contra mim. Eu provavelmente poderia
dominá-lo, mas prefiro não jogá-lo como uma
boneca de pano. — O que importa se vou
encontrar alguém ou se quero terminar isso
sozinha? Aproveite sua liberdade e corra
enquanto tem chance.
— Que diabos isso significa? O que você vai
fazer se eu não for embora?
Além atacar sua jugular? Ah, não sei, fazer
alguns testes? Me dar uma manicure? O de
sempre. Eu quase rio com o absurdo desse
argumento. — Não seja teimoso. Não tenho
mais nenhuma resposta sobre vampiros para
você, e tenho muito trabalho a fazer e tem que
ser sozinha. Honestamente, só preciso limpar
minha cabeça.
Pego seu pulso e o puxo em direção à porta.
Depois que ele passa por ela, não importa para
onde ele vai ou com quem termine, desde que
possa tirá-lo daqui e trancar a porta atrás de
mim antes de perder o controle.
Ele fica para trás e eu puxo sua manga
para movê-lo mais rápido. — Vamos, estúpido,
mova esses pés. Se você se apressar,
provavelmente encontrará um pedaço de rabo
antes da última chamada. — A farpa é
destinada a picar e funciona. Ele agarra a porta
como se fosse batê-la ao sair, mas a fecha com
ele dentro.
— Apenas me diga o que está acontecendo,
e posso ajudá-la. Posso dizer que isso não é
sobre um cara.
Mas é sobre um cara, o único cara que
posso chamar de amigo de verdade. Abro a
porta e me esforço para empurrá-lo para fora ao
mesmo tempo, mas fico presa em seu tornozelo
e ele agarra meu ombro, colocando seu pulso
dentro do alcance.
Sem pensar, minhas presas descem, mal
arranhando a pele fina e macia de seu pulso.
Afasto minha boca dele assim que ele me joga
para trás, minha bunda deslizando pelo chão de
azulejos. Cubro minha boca com a mão. — Eu
sinto muito. Não quis. Foi apenas instinto. Não
ia te morder, juro.
Seus traços estão tensos com medo e raiva
e algo mais que não consigo definir. — Você
queria que eu saísse antes que não pudesse
deixar de me comer?
— Pare de fazer disso um grande negócio.
Poderia ter mordido você uma dúzia de vezes
hoje à noite. Ou você esqueceu a hora que
passamos revisando meus rótulos com nossas
cabeças a apenas alguns centímetros de
distância? — Meu coração bate na garganta,
minhas presas escondidas onde elas pertencem.
— Lamento que você tenha visto minhas
presas, mas foi involuntário. Eu não fiz isso
acontecer, elas simplesmente aparecem às
vezes. Estou tentando aprender a controlá-las,
mas nem sempre tenho sucesso. Ainda sou
nova nessa merda. — Minhas desculpas soam
ridículas, até para mim, mas é a verdade, e não
tenho nada melhor para lhe dar.
Levanto-me, estremecendo, e dou alguns
passos em sua direção, palmas das mãos em
sinal de rendição. Ele pula para trás como se eu
estivesse pegando fogo, e a culpa pulsa através
de mim. Merda. Merda, merda, merda. Meu
estômago dói tanto pela censura quanto pela
fome, mas largo minhas mãos e me afasto da
porta, colocando espaço entre nós. — Me
desculpe por ter assustado você. Espero que
você saiba que nunca morderia meu melhor
amigo.
Ele balança a cabeça e joga a bolsa por
cima do ombro. — Claro que você não faria. —
Mas ele não me dá um abraço de despedida ou
discute sobre ficar mais tempo. Eu sei que isso
não é algo que qualquer um de nós possa
consertar com um comentário espertinho. Parte
de mim quer segui-lo e garantir que ele chegue
em casa seguro, mas a fome torturante me
incita a procurar no laboratório por qualquer
sangue viável que não fará falta.
O único sangue que encontro é cheio do
vírus ou de outros vírus sendo pesquisados.
Felizmente, não estou tão desesperada. Jackson
se foi, a fome corrói minha capacidade de
pensar com clareza, e o laboratório oferece
tanto conforto quanto normalmente. Pode muito
bem ser uma tumba, é tão claustrofóbico.
Eu deslizo minha papelada na minha
mochila e deixo o espaço opressivo fechado para
trás. O campus está silencioso, graças a Deus,
e corro para o meu carro antes de encontrar
acidentalmente outro ser humano e não
conseguir me conter. Tenho sido tão cuidadosa
com o meu tempo em torno dos seres humanos
e certificando-me de que tenho algo para me
alimentar para me controlar. Não sei o que fazer
para obter o que preciso quando não tenho
minhas reservas à mão.
A música soa do dormitório mais próximo
do carro e eu xingo todos os idiotas que acham
que a semana anterior às aulas é a hora certa
para uma festa. — Ótimo, posso ver a manchete
agora. “Ataque de vampiro na festa da
fraternidade. Estudante, Sasha Keleterina,
drena toda a população de Harper Hall. O seu
campus poderia ser o próximo? “
Eu me abstenho de mudar de direção para
o dormitório barulhento e jogo minha bolsa no
banco do passageiro do meu carro, entrando.
As estradas são claras no meio da noite e
afundo meu pedal do acelerador enquanto
atravesso a rodovia mais rápido do que já ousei
dirigir antes. A alegria empurra minha sede
para o fundo por um tempo. Lágrimas caem
enquanto repasso o que aconteceu com
Jackson no laboratório. Eu grito no topo dos
meus pulmões, deixando todas as minhas
frustrações flutuarem com o vento passando
por mim. Não sei se são meus novos reflexos de
gato, ou melhor, de vampiro que mantêm todas
as quatro rodas na estrada enquanto me
aproximo do complexo ou apenas pura sorte,
mas estaciono no quarteirão, mantendo abertas
minhas opções para escapar dos portões
trancados.
Meu controle escorrega, rasgando minhas
entranhas como garras de lobos ferozes,
lutando por apoio para me soltar. Eu tropeço,
usando o carro para me equilibrar enquanto
espero a capota terminar de travar no lugar.
A fome nunca foi tão avassaladora,
colorindo tudo com um tom vermelho que vi
apenas em filmes de terror extravagantes. Sei
que se tivesse um espelho, pareceria um
monstro, meus olhos desesperados, presas
descendo, pele tão pálida que quase brilha ao
luar.
Afasto-me do carro, quase plantando o
rosto no chão enquanto caminho em direção às
portas da frente do complexo Baetal. Sinto que
fui drogada. Estou desajeitada, meus membros
estão pesados e meu cérebro está nebuloso. Eu
caio contra o prédio mais próximo e luto contra
o desejo de circular e caçar presas na
escuridão.
Meus instintos de sobrevivência entram em
ação, recusando-se a me deixar definhar, sem
alimentação. O único pensamento na minha
cabeça é lutar. Lute contra a fome. A
compulsão alimentar cimenta meus pés no
lugar. Há um perfume metálico no ar, sutil o
suficiente para que eu pudesse ignorá-lo se não
fosse tão teimosa e recusasse a me alimentar
por tanto tempo. Uma voz dentro da minha
cabeça me diz que não posso confiar fora das
paredes do complexo, mas a besta dentro de
mim argumenta, me pedindo para desistir.
Pressiono as palmas das mãos nos meus
olhos, um gemido angustiado escapando dos
meus lábios enquanto luto para me agarrar à
minha humanidade. Pressiono minhas costas
na parede de tijolos do armazém ao lado do
complexo, a pedra áspera raspando minha pele
enquanto deslizo para baixo, dobrando minha
cabeça nos joelhos, lutando para acalmar meus
pensamentos.
Se eu puder prender o diabo no meu ombro
mais um pouco... Não vou me tornar o monstro
dos contos de fadas.
CAPÍTULO 5

— Sasha. — A voz de Arsen perto da minha


orelha me assusta. — Sasha, você está
morrendo. Venha aqui. — Braços fortes me
pegam e sou levantada neles, seu batimento
cardíaco forte no meu ouvido.
— Arsen? — Eu pisco rápido para limpar
minha visão nebulosa. — Eu dirigi para o
complexo errado? — Ele ri suavemente da
minha confusão, e eu lembro que ele é o cara
mal e o odeio por mentir para mim. Eu luto
para me afastar dele, mas ele me abraça forte.
— Espere, você precisa se alimentar. É mais
importante do que qualquer coisa que tenha
acontecido entre nós. Deixe-me ajudá-la. — O
rosto dele está enterrado no meu cabelo. O
cheiro dele me deixa louca, mas não sei se é
porque quero comê-lo ou transar com ele.
Definitivamente, não quero transar com ele,
lembro-me severamente. — Não preciso da sua
ajuda. O que você está fazendo aqui? — Eu
empurro seu peito e ele me deixa no chão e me
segura firme enquanto se ajoelha. — Pare com
isso.
— Não.
— Apenas me deixe entrar, Arsen, deixe-me
ir ao meu suprimento e ficarei bem.
— Você estacionou do lado de fora do
complexo. Mesmo se eu conseguir que eles
abram o portão para mim, você poderá perder o
controle e matar o primeiro escravo que passar
no corredor. — Ele aperta meus pulsos em uma
mão e coloca o braço na minha boca. — Apenas
beba. Isso vai clarear sua cabeça. Não vou
deixar você ir longe demais, prometo. —
Balanço a cabeça sobre o pulso estendido.
— Não. Eu estou no controle agora. Posso
esperar até entrar. Não vou machucar ninguém.
— Acho que não, de qualquer maneira. Não
tenho certeza de nada agora. Nem me lembro de
desmaiar na calçada.
— Eu nunca quebrei uma promessa para
você, Sasha, não importa o que mais tenha dito
ou feito.
Sua pele cheira a tudo o que é Arsen. O
cheiro nítido de sua colônia amadeirada e sexo
cru e atrevido. É o último que me leva a morder,
a me concentrar na fome, não em nossa história
ou na sensação de tê-lo me abraçando
novamente. Apenas necessidade primitiva crua.
Minha primeira mordida é hesitante, mas
ele solta minhas mãos e segura a parte de trás
da minha cabeça. Eu o aperto em minhas
mãos, meu aperto inquebrável quando a fome
substitui meu controle. Seu sangue é
escorregadio, acobreado e doce na minha
língua, o primeiro jorro atingindo meu
organismo como uma dose de uísque.
Ele me coloca em seu peito, então minhas
costas pressionam contra ele. Seu braço livre
envolve minha cintura enquanto agarro seu
braço, bebendo o mais profundamente que
posso, minha respiração rasa entre cada
puxada da substância vivificante. Sinto seu
coração disparar, batendo um ritmo staccato1
nas minhas costelas.
— Espere, baby. Você já teve o suficiente. —
Eu o ouço, mas o sangue que canta em minhas
veias é mais poderoso do que a atração de sua
voz hipnótica. — Sasha, você tem que parar.
Agora. — Ele torce o braço e agarra um
punhado do meu cabelo, puxando minha
cabeça para trás em seu ombro e longe das
marcas de mordidas em seu pulso.
Nossos olhos se encontram e seus lábios
encontram os meus e eu não protesto,
deixando-o provar seu sangue na minha boca
enquanto me levanta aos meus pés em um
movimento longo e suave. Eu viro,
pressionando minha frente na dele sem romper
o beijo. Suas mãos deslizam pelo meu corpo
enquanto ele me apoia, um passo de cada vez,
até sentir o concreto frio e áspero nas minhas
costas.
— Diga-me que você não sente falta disso,
Sasha.
Eu rosno para ele, mas ele apenas rosna de
volta para mim, me beijando novamente, suas
presas raspando contra as minhas. Ele rompe
nosso beijo, arrastando as pontas afiadas
contra a minha garganta, enviando arrepios na
minha espinha. Ele lambe a minha clavícula,
salpicando mordidas enquanto provoca.

1
Staccato é um termo musical usado para indicar que duas notas devem ser tocadas com uma pausa
brusca entre elas.
— Ainda estou chateada com você, — eu
ofego, mas meu corpo me trai, minha boceta
encharcada em segundos após o contato. Ele
arrasta a boca pela parte superior dos meus
seios, gemendo de prazer.
Sinto-me mais viva do que em semanas,
como se tocasse uma tomada elétrica e meu
corpo inteiro pulsasse com energia. Eu tenho
uma liberação perfeita para a onda de
necessidade e desejo que tomou conta de mim.
Sexo. Seus dedos deslizam sob minha camisa,
segurando minha carne inchada e pesada em
uma mão, rolando meu mamilo com os dedos
enquanto captura meus gemidos em sua boca.
Eu não deveria estar fazendo isso. Ele me
traiu. Estou furiosa com ele por tudo. Mas não
posso evitar. Não posso deixar de ser egoísta e
ter um pouco de prazer com ele para mim.
Posso usá-lo como ele me usou e depois me
afastar.
— Deus, estou feliz que você esteja usando
uma saia. — Ele arfa quando finalmente rompe
nosso beijo, seus dedos passando pela barra da
minha saia e pelos meus quadris antes que
rasgue minha calcinha. É preta e rendada, e
por um momento estou desapontada por ele
não ter visto o modo como ela ficava no meu
corpo antes de destruí-la. A cabeça do seu pau
pressiona contra as minhas dobras e agora
nada mais importa.
— Não me provoque, Arsen. — Eu prendo
meu joelho atrás de sua coxa, inclinando meus
quadris para cima, me preparando para sua
entrada. Ele me ignora, me segurando antes de
deslizar dentro de mim em um impulso áspero.
— Porra. — Suspiro e tranco meus tornozelos
atrás de sua bunda, aproveitando o ângulo
exato que quero.
Coloco uma mão contra a parede, a outra
enrolada na parte de trás de seu pescoço
enquanto ele bate em mim, seu ritmo instável.
— Jesus, Sasha. Nada se compara com sua
boceta ao meu redor. Você foi feita para mim,
baby.
Ele desliza sobre o ponto doce dentro de
mim, seu intenso olhar fixo no meu enquanto
mordo meu lábio, lutando para ficar quieta
enquanto ele acende cada terminação nervosa
como uma porra de fósforo na gasolina. Agarro
seus ombros, precisando de algo para segurar
enquanto salto em seu pênis, minhas unhas
afundando nele. Eu balanço meus quadris,
esfregando meu clitóris contra ele com cada
impulso que ele dá. Minha boceta aperta forte
em torno de seu comprimento duro enquanto
meu orgasmo me atinge sem aviso.
— Arsen. Tão bom pra caralho. — Abafo
meus gritos em seu pescoço, quase chorando
pela intensidade.
— Isso mesmo, baby, — ele murmura no
meu cabelo, empurrando cada vez mais rápido.
— Porra, eu amo estar dentro de você. — Suas
palavras se tornam rosnados ininteligíveis, e ele
perde o ritmo antes de soltar um rugido, a
cabeça jogada para trás, o pau latejando
enquanto me enche com sua liberação quente.
Ele se inclina contra mim, sua respiração
quente contra o meu peito, onde sua cabeça
repousa no meu ombro. O brilho pós-sexo
desaparece lentamente até que o ar frio da noite
atinge minhas pernas nuas. O arrependimento
é um gosto amargo na minha língua quando
solto meus tornozelos, recostando-me o máximo
que posso para colocar espaço entre nós. Ele
me coloca no chão suavemente, seu olhar
cauteloso enquanto avalia minha resposta ao
que acabou de acontecer.
Desvio o olhar, incapaz de encontrar seu
olhar esperançoso. Empurro minha blusa para
baixo, desenrolando minha saia de onde ela
subiu até minha cintura e torço até que o zíper
esteja centralizado. Minhas roupas estão uma
bagunça enrugada, minha calcinha
desapareceu em algum lugar no beco escuro, e
agora que o sangue de Arsen nada nas minhas
veias, minha mente está completamente clara.
O que diabos acabei de fazer?
— Por que você estava me esperando? Na
esperança de me convencer a ajudá-lo? —
Engasgo na acusação, ainda me atrapalhando
para colocar meu cabelo de volta no rabo de
cavalo que estava usando para trabalhar no
laboratório.
— Não, só queria falar com você. Eu sinto
muito sua falta. — Ele aponta para o carro
estacionado a alguns metros de distância. —
Você tem sorte de eu ter encontrado você.. Por
que você simplesmente não dirigiu até o portão?
— Eu não estava no meu juízo perfeito, e
você sabe disso. Que tipo de idiota tira
vantagem disso? — Eu ainda sinto sua pele
contra a minha, e minha boceta está doendo
pela segunda rodada. São necessários dois para
dançar o tango, e a culpa não é toda dele. Sou
uma mulher crescida e poderia ter parado o que
estávamos fazendo. Em vez disso, escolhi ser
egoísta e tirar o prazer dele. Franzo a testa com
meus próprios pensamentos, rezando para que
ele não possa dizer o quanto quero deixá-lo nu
e transar com ele corretamente.
Ele zomba, fechando as calças. — A única
coisa que fiz foi dar exatamente o que nós dois
precisávamos.
— Não é a mesma desculpa que você usou
quando trapaceou no Provokar? Você poderia
ter me matado e a Nikolai, mas de alguma
forma, era o que eu precisava? Para você me
trair?
— Foi o melhor, e se você tivesse ficado
comigo, em vez de fugir para ele, hoje à noite
não teria sido necessário.
Necessário. Como se tudo fosse minha
culpa. Minhas mãos se fecham quando ele dá
alguns passos mais perto de mim. — Ah, não.
Nem tente me atacar com essa besteira. Não
corri para ninguém e não pertenço a ninguém
além de mim mesma. Seu bastardo presunçoso.
— Eu rio sem alegria, balançando a cabeça com
a sua estupidez. — Você realmente ainda
acredita que estava fazendo o que é certo para
mim?
— Não. — Sua resposta baixa me
surpreende em silêncio por alguns segundos. —
Nada que faça você me deixar e fugir para um
complexo Baetal pode ser a escolha certa, não
importa minhas intenções.
— Você está certo sobre isso. — Olho para
os portões que eu tenho vivido. — Você me
usou, Arsen. Você fingiu que estava melhor com
você, mas você me usou para fortalecer sua
posição em uma guerra com a qual não tenho
nada a ver.
Ele está tão perto que posso sentir o cheiro
do almíscar suave de sua pele sob o sexo,
sangue e a colônia que ele usa, e eu recuo.
— Fiz o que tinha que fazer para proteger
meu povo. Não vou me desculpar por isso.
— Eu não sou uma peça do jogo para ser
movida no seu tabuleiro de xadrez. — Sufoco as
palavras com um grito.
— Por favor. — Nikolai ri, sua presença
repentina nos surpreende. Nós pulamos longe
um do outro e giramos para encará-lo. — Você
não vai se desculpar por nada, nunca. Na
verdade, não, Arsen. — Ele se inclina contra o
capô do carro, então sou a única coisa que os
separa. É um instantâneo da minha vida como
vampira. Eu, presa entre os dois, amarrando-os
juntos, enquanto eles tentam me rasgar em
duas. — Movimento clássico Draugur.
Esperando até que ela esteja fraca demais com
fome para recusar você.
Arsen rosna para Nikolai, seu lábio
enrolado em um rosnado. — Como é saber que,
mesmo fraca de fome, ela não conseguia se
forçar a voltar para você?
— Oh, calem a maldita boca. Vocês dois. —
Interfiro. — Não sei o que você está fumando,
Nikolai. Você está muito atrasado para ser o
cavaleiro de couro preto brilhante, chegando
para me salvar. Os dragões já me devoraram
inteira. — Dou um passo para longe dele, o que
infelizmente me coloca mais perto de Arsen. Ele
sorri para mim. — E não me olhe como se
estivesse do seu lado, porque prefiro me
acender em chamas neste momento. Nenhum
de nós estaria aqui se você não tivesse tentado
trapacear em um golpe político.
— Parece-me que você fez de novo. Como
sabemos que você não impediu Sasha de entrar
no complexo onde ela estaria segura? — Nikolai
estende a mão para mim e olho para a mão dele
como se fosse uma cobra. — Vamos lá. Não há
mais nada para você aqui fora.
— Claro, pai, já vou, — eu zombo dele,
recusando sua mão estendida. — Tenho uma
ideia melhor. Por que você não deixa a luz da
varanda acesa e espera lá dentro? Seu queixo
pulsa ante a minha resposta.
— Você deveria ter vindo até mim. Sou seu
criador. Eu cuido de você. Não tenho sido nada
além de paciente com você.
— Não, eu cuido de mim. Eu escolho
quando me alimentar, como fazê-lo e com quem
me associar. — Eu rio, mesmo que nada do que
está acontecendo seja engraçado. — A única
reivindicação que você tem de mim é que você
tentou me matar antes de Arsen.
— Estava louco com o vírus quando fiz isso,
— ele argumenta.
Dou de ombros e aponto para Arsen. —
Qual é a sua desculpa? Seu pau tem uma
mente própria?
— Não tenho desculpa. Eu nunca pretendi
te machucar. — Arsen consegue parecer pelo
menos um pouco mais arrependido do que
Nikolai, mas não o suficiente para compensar a
porcaria que ele me fez passar.
— Mas você ainda o fodeu, — Nikolai
aponta como uma criança petulante.
Eu me recuso a dar a Arsen a satisfação de
brigar com Nikolai sobre o meu momento de
fraqueza na frente dele. Não depois que ouvi
Arsen se gabando sobre o quanto eu o desejava
depois do Provokar. Arsen jogou fora sua
chance de ficar entre mim e meu criador
quando pegou o sangue de bruxa antes do
terceiro desafio Provokar e quase me matou em
seu esforço para me manter.
— Você quer saber? Vamos levar essa
conversa para dentro. — Olho para Arsen,
ainda me olhando com os olhos entrecerrados.
— Você estava aqui para algo importante, ou
pode esperar até que tome banho, durma e faça
algum trabalho?
— Estou aqui por você. Sempre foi você. —
Finalmente, ouço sinceridade em sua voz, e ela
corta o gelo ao redor do meu coração.
— Então a melhor coisa que você pode fazer
é me deixar trabalhar. Estou ausente há horas
e não faço ideia do que meu novo assistente
vem fazendo no meu laboratório sem
supervisão.
Arsen abre a boca para discutir, mas pensa
melhor e fecha novamente, com os lábios cheios
comprimidos em uma linha fina e infeliz.
— Boa noite, Sasha. Obrigado por trabalhar
tão duro em uma cura. Para Annabelle. Os
Draugur estão em dívida com você.
Sua formalidade queima, mas
silenciosamente me lembro de que distância é o
que quero enquanto ele se afasta. — Boa noite,
Arsen. Avisarei quando tiver a cura. — Ele não
se vira, mas vejo a tensão em seus ombros e
nas costas se soltar um pouco. Ele sabe que
não vou deixar Nikolai esconder a cura dele
quando chegar a hora. Gostaria de poder ter a
mesma fé neles que eles parecem ter em mim.
Nikolai abre a porta do passageiro e eu
entro, ignorando-o enquanto ele atravessa o
portão e estaciona em frente à casa principal. —
Você deveria ter vindo para mim para se
alimentar, — ele finalmente sussurra para mim
quando estamos na varanda. — Sou seu
mestre, goste ou não. — Ele anda e, quando
vira, fica em frente ao meu rosto. — Você é uma
Baetal, não uma maldita puta Draugur.
Eu passo por ele, não dignificando suas
palavras com uma resposta e vou para o
laboratório, mas ele me segue todo o caminho.
Eu sei que ele está bravo por não me alimentar
dele, mas depois do que fiz com Arsen, estou
feliz que não foi Nikolai quem me encontrou.
Estou ligada a ele porque ele é meu criador.
Não preciso ter outras cordas que nos liguem se
eu beber o sangue dele e fortalecer esse vínculo.
— Existe uma razão para você estar me
seguindo, Niko? Ou você estava apenas
pensando em se prender na minha bunda como
um rabo? — Paro do lado de fora do laboratório
e cruzo os braços sobre o peito.
Seu rosto empalidece de raiva e vejo sua
mandíbula trabalhando sob sua pele quase
cinza. Me ocorre o quanto ele e os outros
vampiros parecem mais humanos quando suas
emoções aumentam. — Este é meu complexo,
meu laboratório, e você não me diz onde posso e
não posso estar. Você me disse que teria os
resultados dos meus exames de sangue. Então,
onde eles estão? — Ele pergunta entre os
dentes cerrados.
— Sério? — Fico boquiaberta para ele por
um segundo. — Você acabou de me
acompanhar até o complexo. Ainda não tive a
chance de conversar com seu cientista de
estimação. Qual o nome dele? Demetri, certo?
Bem, não tive a chance de conversar com ele
sobre as novas amostras. Deixei-lhe instruções
sobre o que fazer enquanto estive fora.
Esperançosamente, ele as seguiu.
— É melhor você esperar que sim, porque
você está ficando sem tempo.
— Do meu ponto de vista, é você quem está
ficando sem tempo. Eu não tenho o vírus, e a
menos que ele milagrosamente sofra mutação e
acabe com todos vocês, terei vampiros na fila
para a cura quando a encontrar, de um jeito ou
de outro.
— Sua putinha. Se você acha...
— Deixe-me parar você aí. Eu não sou uma
puta. Sou a cientista que você tentou matar, e
já que você não conseguiu fazer isso, por que
deveria ter medo de você agora, quando você
precisa tão desesperadamente de mim? — Seu
rosto empalidece ainda mais, até que sou
tentada a tocar sua bochecha para ver se meu
dedo passará por sua pele fantasmagórica.
— Você pertence a mim, Sasha. Você vai me
obedecer.
— Não, não vou. — Ele parece surpreso
com a minha calma e composta resposta. — Eu
era uma pessoa independente, com liberdade e
consequências tanto boas e más, dependendo
das minhas escolhas. Você tentou roubar isso
de mim quando rasgou minha garganta.
— Eu também te salvei.
Abro a porta do laboratório, mas paro e
olho para ele antes de entrar. — E daí? Não
tenho nada para falar sobre sua política e
tradições de vampiros arcaicas. Se você não
gosta, então talvez pense duas vezes antes de
transformar a próxima garota, porque, Nikolai?
Eu não sou uma anomalia. Sou apenas uma
garota comum que conhece meu valor. E é mais
do que você pode pagar.
CAPÍTULO 6

Abelhas zangadas invadem meu sono,


zumbindo ao lado de minha orelha até que
acordo, piscando rápido para clarear minha
visão turva. Meu telefone vibra na mesa a
centímetros do meu rosto, onde o coloquei
antes de tirar uma soneca revigorante para
recarregar.
Os cochilos fazem parte da minha nova
rotina de autocuidado. É mais fácil do que
deixar o laboratório sem vigilância com
Demetri, meu novo assistente, e dormir por oito
horas completas. Demetri ainda está se
provando para mim, mas ele responde a Nikolai
com muita prontidão para o meu gosto. Ele é
como seu cachorrinho leal, e não confio em
ninguém que está tão metido na bunda de Niko.
Toda vez que saio do laboratório, fico mais
nervosa ao encontrar o chefe do clã Baetal
sentado à minha mesa, remexendo papéis e
perdendo minhas descobertas.
O telefone começa a tocar novamente e
desta vez pego com um resmungo. Arsen. O
nome dele pisca na tela e, se esse não fosse
meu terceiro telefone em tão pouco tempo, eu o
jogaria na parede. Em vez de me sentir
revigorada depois da minha soneca, estou tão
exausta, senão mais, do que antes. E agora
tenho um Draugur angustiado exigindo minha
atenção. Eu respondo, meu dedo se movendo
antes de reconhecer minha própria escolha. —
É melhor que seja importante, Arsen. — Eu
rosno as palavras no telefone.
— Preciso falar com você, longe do
complexo de Nikolai. É urgente... por favor.
Meu coração gela. — É Annabelle? Ela
ainda está aguentando? — Há um longo silêncio
e, apesar de não a conhecer bem,
arrependimento por não encontrar a cura ainda
traz o ardor de lágrimas aos meus olhos. Apesar
de tudo, não posso deixar de me machucar
quando Arsen se machuca.
— Obrigado por perguntar, — ele
finalmente responde, sua voz cheia de emoção.
— Ela ainda está lutando. Você se importar o
suficiente para pensar nela primeiro significa
muito para mim.
Fico em silêncio, sem saber como terminar
a conversa, e o silêncio se alonga
desconfortavelmente. — Por que você está
ligando de novo? O que está acontecendo? —
Parte minha teme a resposta, esperando que ele
não ache que estou disponível para sexo casual
só porque me pegou em um momento de
fraqueza alguns dias atrás. Ele não responde, e
olho para o telefone para me certificar de que
ainda está conectado. — Você está aí? Olá?
— Preciso falar com você, sozinha. E o mais
rápido possível, — ele responde. Sua voz parece
cansada. Infeliz mesmo. Eu deveria estar feliz
por ele não estar pensando em sexo, mas ele
parece tão perturbado que pode significar mais
complicações ou perigo para mim. Agora,
prefiro uma chamada de sexo casual indesejado
a mais política vampírica.
— Não posso voltar para o complexo
Draugur.
Ele suspira. — Não pode ou não vai?
— Bem. Não irei ao seu complexo para
encontrá-lo. — Eu cerro os dentes com irritação
por ele poder me ler tão bem. — Francamente.
Não posso confiar que você vai me deixar voltar
ou que seu clã me deixará sobreviver à visita,
para começar. — Ele começa a argumentar,
mas o corto. Meus dias de medo dos vampiros
mestres que constantemente manipulam
minhas emoções e minha vida acabaram. —
Vou me encontrar com você, mas em terreno
neutro, e quando terminar, vou embora e você
não vai me parar.
— Tudo bem. Se é disso que você precisa, é
isso que faremos. — O tom cansado de sua voz
endurece. — Não sei quantas vezes tenho que te
provar que você é o que importa para mim, mas
não vou parar até que acredite em mim.
É a minha vez de esperar em silêncio,
mesmo que suas palavras me façam querer
derreter em uma pilha de gosma e felicidade.
Não sei se poderei confiar nele novamente, mas
sei que não quero que ele pare de tentar.
Ele finalmente sugere um encontro em um
café perto do campus, e eu concordo em
encontrá-lo em uma hora. Ground Up sempre
está loucamente cheio 24 horas por dia, 7 dias
por semana, mas tem cabines privativas que
você pode fechar para reuniões ou sessões de
estudo. Se o que ele tem a dizer é tão
importante, não consigo pensar em um lugar
melhor para uma conversa que não queremos
que ouçam.
Eu costumava acreditar nele. Ser capaz de
aceitar sua palavra e não pensar em duplo
significado para cada palavra que ele fala. Até
que ele quase custou minha vida e minha
liberdade. Entendo o seu desespero de me
manter fora das garras de Nikolai. Inferno, eu
quero estar fora do alcance de Niko, mas não
preciso me preocupar em querer pular em seu
pau sempre que ele estiver ao meu redor por
mais de cinco segundos. Minha desconfiança
não me impede de tirar um minuto para
escovar meu cabelo e mudar para uma blusa de
botão rosa claro, apenas o suficiente para exigir
um sutiã por baixo para usar em companhia
educada.
Eu retoco meu brilho labial e inspeciono
meu reflexo. Ainda outro mito de vampiro
desmascarado. E graças a Deus por isso, eu me
lembro. Mostro a língua para mim no espelho e
sorrio, ainda assustada quando minhas presas
brilham para mim. Vou ter que falar com alguém
sobre conseguir uma cópia do manual de como
ser um vampiro. As pessoas com quem
conversei disseram que leva tempo para se
acostumar a ser o que somos. Infelizmente,
tempo para processar ser uma vampira é algo
que simplesmente não tenho, porque estou
muito ocupada salvando a bunda de todos eles.
Meus pés automaticamente me levam ao
laboratório para verificar Demetri, mas decido
deixá-lo sozinho, me parabenizando por ser
magnânima. Felizmente, não me arrependo da
decisão mais tarde.
Em vez disso, vou para a frota de carros
que estão estacionados no amplo pátio de
cascalho do lado de fora do prédio principal e
pressiono o botão no meu chaveiro para
destravar meu pequeno conversível. Nikolai
acha que sou idiota por trancá-lo dentro das
paredes do complexo, mas velhos hábitos são
difíceis de morrer, e este carro é a coisa mais
legal que já dirigi, quanto mais possuí.
Ground Up está ainda mais lotado do que
eu esperava, mas um barista fofo com o lábio
perfurado me aponta para um estande perto da
parte de trás antes que eu possa procurar
Arsen. Eu aceno meus agradecimentos e ele me
dá um sorriso largo, mostrando presas
suficientes para que eu olhe em volta para ver
se mais alguém percebe. Ele pega minha
surpresa e ri, entregando-me uma xícara
grande e cheia de café gelado preto.
— É por conta da casa.
— Obrigada! — Pego algumas notas
amassadas da minha bolsa, enfiando-as na
jarra de gorjetas, e volto para a mesa que ele
apontou.
— Ele disse que vai se juntar a você em
breve.
Franzo a testa por cima do ombro enquanto
me sento na cabine e observo a porta da frente.
Tomo meu café, sufocando um gemido quando
o gosto amargo atinge minha língua.
O barista estava certo. Só espero cerca de
um minuto antes de Arsen entrar pela porta da
frente, tirando os óculos escuros e examinando
a sala. Ele está sendo examinado também,
noto, enquanto várias conversas param
enquanto as mulheres o encaram. Seu terno
escuro faz sua pele parecer ainda mais pálida,
mas acentua o azul profundo de seus olhos
enquanto ele observa a sala dos fundos e se
concentra em mim. Levanto minha mão como
uma idiota total e estremeço quando algumas
das mulheres olhando para ele riem com a
minha resposta a ele.
Ele caminha pelas pessoas, nem mesmo
olhando para a mesa da irmandade digna de
supermodelos. As pessoas saem do caminho,
como se ele fosse da realeza, e me pergunto se
algum dia vou ter esse tipo de habilidade. Eu
suspeito que sua graça e charme são
principalmente por ele mesmo, apenas parte da
habilidade vindo por ser vampiro, então
provavelmente não.
Arsen se inclina para um beijo, e dou a ele
minha bochecha. Seus lábios carnudos se
separam na minha pele e tremo com o contato.
Seu toque é como uma droga, e sou uma
viciada que não quer seguir nenhum programa
e perder a adrenalina que tenho quando estou
com ele.
— OK. Estou aqui. O que está acontecendo?
— Ele se senta à minha frente, com um sorriso
no rosto enquanto me dá toda a atenção. A
decepção das senhoras é quase palpável, e
pisco para uma das meninas olhando feio para
mim no canto. Morra de inveja, irmandade
Barbie.
— Você parece linda hoje. — Arsen ignora
minha pergunta, agradecendo ao barista que
serve uma pequena xícara de cerâmica com
duas doses de café expresso na frente dele,
deslizando para ele uma nota de cinquenta
dólares.
— Oh... hum... obrigado, — ela diz, e foge
rapidamente como se Arsen estivesse
preocupado com a resposta.
Traço as gotas de condensação na minha
xícara. — Eu estava pensando a mesma coisa
sobre você... mais ou menos. — Eu me
atrapalho no final, percebendo que pareço
ridícula. — Sinto muito, mas tenho muito
trabalho a fazer. O que você precisa falar sobre
o que não podíamos discutir por telefone?
— Não estou tentando ser misterioso. Só
queria ter certeza de que você poderia falar
livremente e não ser coagida.
Suspiro e esfrego os olhos, tomando
cuidado para não manchar meu rímel. — Eu
não sou uma vítima de sequestro. Estou
trabalhando com meu próprio clã, lembra? —
Eu me distraio com a visão de sua camisa
aberta no pescoço, os três primeiros botões
abertos. Me pergunto se ele fez isso de
propósito.
Seu pescoço nu é quase o suficiente para
fazer me dar água na boca, e me imagino
subindo na mesa para deslizar em seu colo,
bebendo tão profundamente dele quanto antes,
minhas pernas trancadas em torno dele
enquanto ele desliza profundamente dentro da
minha boceta, me levando em direção a um
orgasmo, ou cinco.
— Precisamos conversar sobre a outra
noite, — diz ele, e por um segundo, me
pergunto se ele está lendo minha mente. —
Você não pode deixar ficar esgotada. Sei que
você está trabalhando duro, mas precisa se
cuidar.
— Você realmente me trouxe aqui apenas
para me dizer o que já sei? — Não vou admitir
que estou desapontada por ele não querer me
ver apenas por me ver, e estar perto de mim
como quero estar perto dele.
— Eu cuidaria de você se me deixasse. Sabe
disso.
Eu sei disso, e a lembrança de seu sangue
poderoso escorrendo pela minha garganta
acende um fogo baixo na minha barriga. Já
estou pronta e disposta apenas com a
lembrança de beber dele... e o sexo quente
improvisado que se seguiu.
— Tenho uma vida para viver. Não tenho
tempo nem energia para lembrá-lo de que não
pertenço a você ou a mais ninguém. — Sai mais
irritado do que pretendo, mas meu peito dói
com a proximidade dele e sinto minhas paredes
cuidadosamente construídas desmoronando.
— Bem. Você não pertence a mim e não
posso protegê-la. Mas se você vai se rebelar
contra o bom senso e a tradição, deve ser
responsável por si mesma. Alimentação. Correta
e regularmente. Não espere até que esteja tão
faminta que desmaie na calçada novamente.
Pense no que teria acontecido se um humano
tivesse verificado você.
Eu luto contra a tensão nos meus ombros e
me recosto no assento. — Eu não tinha
pensado nisso sozinha, — eu respondo
sarcasticamente.
Ele faz uma careta e eu amaldiçoo
silenciosamente. Não é isso que quero. Nada
disso está funcionando da maneira que queria.
Uma dor fresca aperta meu peito. Arsen é a
razão pela qual nos encontramos em um espaço
público. Ele é quem estragou tudo, não eu. Mas
olhando para ele agora, gostaria de poder voltar
para o Provokar e mudar de ideia. Pará-lo antes
que ele me force a escolher o Baetal e Nikolai
em vez dele.
— Por favor, tenha cuidado em quem você
confia, em quem você se deixa confiar.
Sento-me, inclinando-me para ele do outro
lado da mesa, com as mãos trêmulas
escondidas no colo. — Bom conselho. Gostaria
que você tivesse me dado no dia em que nos
conhecemos.
— Há coisas em jogo que você ainda é nova
demais para entender. Por favor, tenha cuidado
com quem você confia. Não quero que você se
machuque.
— Você quer dizer, machucar como chutar
minha bunda no Provokar ou como ser traída
pelo cara com quem estou dormindo, e sendo
usada como um colchão? — Eu zombo dele,
ignorando seu aviso no momento. — Você tem
que estar brincando comigo. Além de ser
transformada em vampira, ninguém me
machucou tanto quanto você.
— Esse fato não me escapou, — ele suspira,
estendendo a mão sobre a mesa. — Afastá-la é
possivelmente o pior erro que já cometi e tive
tempo de cometer alguns. — Ele deixa a mão lá,
oferecendo-a, esperando que eu lhe dê um ramo
de oliveira. — Não posso voltar atrás, mas
espero que você saiba que eu faria se pudesse,
e passarei feliz o resto da minha eternidade
fazendo as pazes com você.
— Eu acredito em você. — Coloco minha
mão na mesa, perto da dele sem tocá-lo, e ele
sorriu fracamente para mim.
— Preciso te avisar sobre alguém...
— Sasha! — Jackson chama meu nome da
porta da frente antes que possa perguntar a
Arsen de quem diabos ele está falando, e eu
aceno de volta para ele.
Arsen fica de pé e fica entre nós, quase
bloqueando minha visão, e eu toco suas costas.
— Ei.
Ele olha para mim sem falar, depois dá a
Jackson um olhar irritado.
— O que você está fazendo? — Jackson
pergunta a ele.
Ele suspira e balança a cabeça, relaxando
os ombros sob o meu toque. — Eu tenho que ir.
Te ligo mais tarde. Por favor se cuide. E lembre-
se do que disse.
— Você sabe que não poderia ser mais
obtuso se tentasse, certo?
Sua expressão se suaviza e ele sorri para
mim. Arsen se preocupa comigo, assim como se
preocupa com o que eu posso fazer por ele ao
mesmo tempo. Não tenho certeza de que algum
dia ficarei bem em saber disso, mas é difícil
resistir ao cara com quem não consigo parar de
fantasiar.
— Tenha cuidado, — Arsen me lembra em
voz baixa, quando Jackson se aproxima.
— Você novamente. — Jackson bufa e se
inclina contra a coluna mais próxima. — Por
que toda vez que te vejo com Sasha, você a está
incomodando?
Os músculos de Arsen se contraem, e é
sexy pra caralho, mas assustador pensar no
que ele poderia fazer com o pobre Jackson se
for pressionado demais.
— Ligo para você quando voltar ao
laboratório, ok? — Eu deixo escapar, dividindo
minha atenção entre os dois homens enquanto
se enfrentam, e os espectadores inocentes
prestes a se tornarem danos colaterais. —
Entendo o que você está dizendo e vou manter
meus olhos abertos.
Ele se inclina para o lado, não dando as
costas para Jackson, mas me encarando. — É
tudo o que posso pedir, linda. — Ele beija
minha bochecha, um toque de seus lábios que
faz minhas coxas formigarem e meu coração
parar, então ele se foi, e Jackson preenche
minha visão.
Ele sorri para mim e desliza para o assento
do outro lado da mesa. — Presumo que este
assento não esteja ocupado?
CAPÍTULO 7

— Ei, você fica por um minuto, sim? —


Jackson pergunta e concordo, minha mente
ainda nos avisos de Arsen. Ele pula da cadeira
e dá um passo antes de se virar e apontar para
mim. — Quer dividir um folhado? — Minha
cabeça balança em concordância e ele corre até
o balcão, aproveitando uma pausa na fila para
recarregar seu café e pegar um lanche para nós.
Enquanto ele está fora, observo a cafeteria
com o benefício dos meus poderes de vampira.
Ouço um cara conversando com um amigo
sobre como ele vai pedir sua namorada depois
da formatura e assisto uma loira bonita
enquanto ela discute com a mãe ao telefone
sobre o custo dos livros didáticos.
É uma sensação inebriante poder conhecer
essas pessoas enquanto estou invisível para
elas, completamente despercebida enquanto me
sento no canto de trás. Um rosto familiar
aparece na minha visão e quase aceno para
uma estudante de graduação que não vejo há
um tempo. Ela toca o braço de Jackson e,
quando ele a encara, ela vira em minha direção,
com o estômago redondo e apertado sob a
camisa como uma bola de basquete.
Jackson a parabeniza enquanto me afundo
em ciúmes. Eu não tinha decidido sobre
crianças, esperando até depois da faculdade
para pensar sobre essas escolhas. Não sei se
algum dia gostaria de ter meus próprios filhos,
mas o ponto é discutível agora. Como tantas
outras opções, essa foi tirada de mim, e parece
que todas essas vidas e sua liberdade de
escolha estão zombando de mim, quase me
provocando.
Um garçom entrega a Jackson sua comida e
café fresco e ele abraça a garota
desajeitadamente em torno de seu estômago,
fazendo os dois rirem me afundando ainda mais
em depressão. Antes que ela vá embora, ele diz
algo que a faz olhar na minha direção e ela sorri
e acena. Aceno de volta, forçando um sorriso
alegre no meu rosto, agradecida por ela ir em
vez de se juntar a nós.
— Eu não a vejo há algum tempo, — digo
enquanto Jackson se senta. — Parece que ela
está ocupada.
Jackson ri alto com o meu tom sarcástico e
coloca um folhado de creme de queijo na minha
frente, rasgando o invólucro do muffin ao
mesmo tempo. — Os muffins são frescos, não
poderia dizer não. — Ele tira um pedaço do topo
quebradiço e o enfia na boca.
— Você nunca pode dizer não à comida. —
Eu o provoco antes que meus pensamentos
voltem para nossa colega de classe e sua
iminente maternidade. — E quanto a você? —
Eu pergunto de repente. — Quando vou receber
um convite de casamento de você e da Sra.
Certa?
— Minha vida não tem espaço para isso
agora. — Ele encolhe os ombros e coloca mais
um pouco de muffin na boca. — Meu trabalho é
muito perigoso para trazer vidas inocentes para
minha vida.
— Muitos policiais têm esposas e famílias.
Ele zomba e arqueia uma sobrancelha para
mim. — Muitos policiais que conheço estão no
terceiro ou quarto casamento, e esses também
não parecem estar indo bem. — Seu telefone
vibra e ele verifica, depois o enfia em sua bolsa.
Algo pisca sob a luz fluorescente da cafeteria.
Um par de paus grossos de madeira
espreitam para fora da bolsa, afiado nas
extremidades. Isso são estacas? Eu me encolho
interiormente e finjo que não vejo nada no
momento. Ele tem medo de mim? Carregando
proteção contra mim? Me movo novamente,
incapaz de deixar de lado o que vi.
— Jackson, tenho que fazer uma pergunta.
— Ele endurece, sua mastigação diminuindo,
mas ele assente. — Você se juntou a alguma
fraternidade policial estranha? O tipo que olha
para o outro lado para brutalidade e merdas
estranhas como essa?
O choque completo seguido de confusão em
seu rosto é uma resposta suficiente, mas eu o
encaro de qualquer maneira, até que ele ri de
mim.
— Que diabos? Por que você acha isso? —
Aponto para sua bolsa. — Minha bolsa? Como
minha bolsa me torna um policial malvado e
assassino em um clube secreto de policiais
malvados?
Suspiro e olho minhas mãos sobre a mesa,
mudando a abordagem. — Você sabe que pode
confiar em mim, certo? Você pode me dizer
qualquer coisa?
Ele limpa a garganta. — Eu sei e confio em
você. Você sabe que sim.
— Ok, mas quero dizer, você sente que
precisa se proteger de mim depois do que
aconteceu no outro dia? Eu sou a razão de sua
vida ser muito perigosa para uma família?
Ele amarra as tiras na bolsa e a enfia
embaixo da mesa ao lado dele. — Não é sobre
você.
— Então quem? — Para quem mais ele teria
estacas de madeira?
— Oh, não sei, que tal o monstro que
transformou você? — Ele pergunta. — E
milhares como ele, apenas na costa oeste?
— Você vai enfrentar toda a população de
vampiros de repente? — Eu suspiro
dramaticamente. Eu riria se o pensamento não
fosse tão assustador. — Você não acha que
precisa, oh, não sei, de treinamento, melhores
armas...
Ele levanta as mãos em sinal de rendição.
— Não preciso que você se preocupe comigo. Eu
cuido disso.
— Você vai cuidar do que exatamente? Eu
não preciso de um policial de ronda se matando
porque pensa que de repente é algum tipo de ...
algum tipo de Van Helsing moderno, caçador de
vampiros. — Ele não responde, apenas
pressiona os lábios e olha para mim, as
sobrancelhas fechadas. Olho para onde a bolsa
estava, depois de volta para ele, sentindo meu
rosto se fechar. — Jackson?
Ele levanta a bolsa no colo e abre a aba,
revelando não apenas as estacas de madeira,
das quais existem várias mais do que eu já
havia visto, mas uma arma automática e
munição extra. Gravado nas estacas está o
mesmo símbolo que tinha visto no medalhão
pendurado em seu pescoço.
— Não sou um cara ingênuo, atacando
cegamente os monstros, sabe.
— E, no entanto, vendo isso, estou com
medo de você.
Ele geme alto. — Bem, obrigado, mas não
fique. — Nenhum de nós toca a comida por um
longo momento, enquanto nos encaramos.
— O que quer que você esteja brincando,
você precisa parar. Isso não é um jogo.
Ele se inclina para trás e estala os nós dos
dedos. — Eu sei mais sobre vampiros do que
você pensa, — ele diz calmamente enquanto o
olho, pasma. — Vamos, Sash, como você acha
que sabia o que aconteceu com você? Não foi
apenas um palpite de sorte. Os vampiros são
tão antigos quanto a humanidade. Você
realmente acredita que os humanos nunca
descobriram como revidar? Como se organizar
contra a ameaça que eles enfrentam?
— Você está me dizendo que é um
verdadeiro caçador de vampiros. — Recosto-me
com força no estande. — Desde quando, porra?
— Sim, e desde que tinha idade suficiente
para andar. — Ele fecha a bolsa e levanta o
medalhão da camisa e sobre a cabeça,
colocando-o na mesa entre nós.
Eu pego, examinando o sol com uma flecha
e uma espada cruzada no centro. Sei que já vi
isso antes, mas não me lembro onde. Eu corro
meu polegar sobre a imagem, meus dedos
detectando um script levantado na parte de trás
do símbolo. Viro-o, lendo a inscrição em latim
em voz alta. — Mortum et Malum. — Morte ao
mal. Que doce.
— Puta merda. Caçadores de vampiros são
reais. E meu melhor amigo é um. — Eu balanço
minha cabeça em descrença. — Claro que sim,
por que não tornar minha vida mais complicada
do que já é?
Ele assente e se inclina para frente. —
Agora, por que você acha que nenhum de seus
novos amigos já lhe contou isso?
Eu meio que espero ver Arsen na porta da
frente, nos observando. — Você não está
brincando comigo, certo? Isso não é uma piada?
Arsen não te perseguiu, não é? — Seguro o
medalhão na minha mão, esfregando o polegar
sobre o símbolo gravado na frente.
— Não, isso não é uma piada e Arsen não
me perseguiu. Minha família está no ramo há
um tempo.
— Vocês já se conhecem? Sei que vocês se
encontraram no quarto do hospital quando fui
atacada, mas não sabia que você o conhecia
antes disso.
— Eu o encontrei algumas vezes, sim.
— Então você sabia que ele era um vampiro
quando estávamos no hospital, mas ainda
assim, você me deixou ir com ele? — O
pensamento me enfurece. Ele estava me usando
como isca ou algo assim?
— Não. Eu não tinha controle sobre minhas
ações naquela noite. Eu estava cansado e
preocupado com você e não no meu auge. Ele
mexeu na minha mente e conseguiu me
convencer a procurar meu parceiro. — Ele
amaldiçoa e os nós dos seus dedos estão
totalmente brancos quando envolvem sua
xícara. — Se pudesse impedi-lo de levá-la, eu
teria.
— Por que há tanta animosidade entre
vocês dois? Você já lutou com ele antes? Você já
matou o povo dele? É por isso que ambos estão
tão tensos um com o outro? Uma luta antiga ou
algo assim?
— Nunca matei nenhum vampiro que não
matou um humano primeiro. Temos nossas
próprias leis a serem seguidas, assim como a
sua espécie.
Sua espécie. Essas duas palavras doem
ainda mais do que o fato de ter escondido
segredos e mentido para mim sobre quem era.
Eu tinha feito a mesma coisa recentemente, e
pensei que estava protegendo-o enquanto fazia
isso..., mas não menti para ele por toda a vida.
— Minha espécie? Isso tudo é uma grande
piada para você? Meu ataque? O que sou
agora? Você tem alguma ideia de como isso tem
sido difícil para mim?
— Oh, vamos lá, você sabe que não deveria
perguntar isso. Você tem que saber que se
estivesse com você, teria feito tudo ao meu
alcance para protegê-la.. para. impedir que isso
acontecesse.
— Certo, porque obviamente nunca mereci
a verdade. A simples verdade do que você é... o
que... é demais para minha débil mente
feminina? — Como diabos eu nunca soube
disso?
Suas mãos estão sobre a mesa e me
preparo para o seu ataque, mas ele apenas abre
uma mão e a segura, palma para cima,
esperando por seu medalhão. — Você não é
muito estúpida para saber a verdade. Mas
antes, você teria acreditado em mim ou
pensado que estava louco?
— Acho que você está louco agora. Eu já vi
o que essas pessoas podem fazer, quais são
suas ideias de diversão e jogos. — Coloco o
colar na mão dele. — Isso deveria te proteger de
mim? Porque não queimou nem nada.
Ele ri e relaxa um pouco, mas ainda quero
fugir, com medo de que ele possa estar me
enganando com uma falsa sensação de
segurança antes de cuidar de mim por quase
tê-lo mordido outro dia. — Não, não deveria
machucar você. É ferro, não prata. Só dói se
enfiar no seu corpo, como qualquer outra
pessoa. — Meu sangue parece que está
lentamente se transformando em gelo em
minhas veias enquanto ele fala sobre me
machucar como se não houvesse nada de
errado nisso. — É um símbolo de quem sou,
uma maneira de meus irmãos e vampiros me
identificarem.
— Mas você não conseguiu encontrar uma
maneira de me falar sobre isso ou me avisar
sobre nada disso? — Eu fico cansada demais da
dor e das traições para sequer tentar entender
por que mais pessoas de quem gosto estão se
aproveitando de mim para seus próprios
propósitos. — Mas você ficou feliz em ajudar
com o meu trabalho, me interrogar sobre onde
estava hospedada, com quem estava. —
Lágrimas picam minhas pálpebras. — E se
alguém lhe dissesse que você precisava proteger
alguém de mim? Você me mataria? — Eu
sussurro, inclinando-me sobre a mesa para que
nossos rostos fiquem a centímetros de
distância. Minhas lágrimas caem nas costas
das minhas mãos, deixando trilhas molhadas e
frias enquanto correm pelos lados. Seu silêncio
é uma resposta suficiente para mim e me
afasto, meu braço puxando para trás quando
ele agarra meu pulso.
— Não estou te caçando, — ele me garante.
— Não vou machucá-la porque sei que você não
machucou mais ninguém e que não machucará.
Não é quem você é.
Penso no sabor doce e inebriante do sangue
fresco fluindo sobre minha língua e descendo
pela garganta, o alto que quase me levou ao
orgasmo quando mordi Arsen e seu sangue
circulou em meu corpo. Bolsas de sangue me
mantêm viva, mas sei que não há nada como
sentir a pulsação de alguém sob seus dedos
enquanto empurra o sangue de uma artéria
para sua boca.
— Mas e se machucar? — Eu pergunto,
diminuindo a distância entre nós, em vez de
nos afastarmos e fazer uma cena. Ele se
encolhe, me fazendo suspirar. — Não quero,
mas e se isso acontecer acidentalmente, se eu
perder o controle? — Ele olha fixamente para
mim como se o pensamento nunca lhe tivesse
ocorrido. Ele abre a boca, mas o interrompo. —
Certo. Você é um policial e um caçador de
vampiros. Caçar bandidos é literalmente toda a
sua visão de mundo.
Agora tiro meu pulso de seu alcance e saio,
adrenalina correndo pelas minhas veias.
Quanto mais eu posso aguentar? Jackson é meu
último e único amigo de verdade sem sua
própria agenda, ou assim eu pensava. Não
tenho mais ninguém em quem confiar, ninguém
para me ajudar a manter minha sanidade
mental enquanto luto com a minha nova vida e
como me manter, enquanto navego pelas regras
e desafios da minha nova vida como vampira.
— Ele está certo, não vou machucar
ninguém. Não se puder evitar, — murmuro
enquanto fecho a porta do carro e giro a chave
na ignição.
Ser uma vampira não é como filmes e livros,
e provavelmente também não é muito parecido
com o que Jackson aprendeu. Todo sentido é
aprimorado, toda experiência mais colorida,
todo sabor mais rico. Arsen do caralho não
tinha sido apenas melhor do que qualquer
outro sexo que já tive, era melhor do que
qualquer coisa que imaginei. Perder a sensação
dele ao meu lado na cama, a sensação dele
profundamente dentro de mim, parece que fui
privada de oxigênio às vezes.
Agora provavelmente perdi o último fio que
me ligava à minha humanidade e a última
pessoa que me deu um motivo para confiar.
Jackson pode não ser um vampiro, mas
desabafar com ele foi quase terapêutico, e
agora, em vez disso, sou forçada a reconhecer
que poderia ter dito a ele algo que ele poderia
usar para me matar ou ao meu clã. Inferno,
vampiros que nunca conheci podem estar em
perigo.
Faço o possível para me lembrar de cada
pequeno detalhe que contei a ele. — Deus, sou
uma idiota. — É por isso que Arsen me ligou.
Ele sabe o que Jackson é, e estava me
avisando.
Parte de mim entende que Arsen quer ser
alguém em quem eu possa confiar novamente, e
nunca me machucaria se eu cedesse à minha
fome e o impensável acontecesse. Mas ele já
quebrou tanto minha confiança. Não importa o
que queira fazer, tenho que ter cautela com ele.
Eu me sinto mais sozinha do que antes de
contar a Jackson o que havia acontecido
comigo. Deus, como fui estúpida, pensando que
estava compartilhando algum segredo profundo
e obscuro, quando ele soube o tempo todo o que
havia acontecido comigo e o que me tornei.
— Idiota do caralho. — É assim que minha
vida será a partir de agora? Todo mundo
tentando conseguir o que pode de mim,
enquanto tento me proteger de ser usada? Eu
deveria ter prestado mais atenção quando me
disse que sabia o que aconteceu comigo em seu
carro.
Limpo impaciente minhas bochechas
úmidas e ligo o carro. Vou me concentrar na
cura para os vampiros, porque, francamente,
não tenho mais nada para me fazer continuar.
Mas não consigo parar a dor no canto do meu
coração que me lembra que Arsen ainda tem
um pedaço dele. Se ele pudesse ser o tempo
todo a pessoa que é quando estamos sozinhos,
e não apenas algumas vezes.
Talvez um dia ele o faça, mas até então não
estou prendendo a respiração. Mesmo que
possa sobreviver sem respirar.
CAPÍTULO 8

Faz três dias desde a revelação de Jackson


e ainda estamos incomunicáveis. É chato, mas
tenho muitas outras coisas para me manter
ocupada. Missão: Salvar a raça dos vampiros.
Quando termino mais um dia cansativo de
Nikolai me tratando como sua cientista louca
pessoal, meu estômago está além de irritado. O
rosnado começou no início da tarde, mas a
irritação e a obsessão de me provar me
impedem de fazer o lanche que tanto preciso.
Agora estou com fome, a fase final da fome
que se transforma em raiva indomável, que já é
suficientemente ruim para o ser humano. Para
um vampiro? É um outro monstro. Tenho me
alimentado com mais regularidade, mas meu
corpo aparentemente ainda anseia por açúcar
de comida real. E um Snickers não vai saciar
essa fome. Estou pensando em um bolo inteiro.
Chocolate duplo.
Não ajuda no meu humor que Nikolai faça
questão de me irritar, às vezes com dicas não
tão sutis de flerte e outras vezes, ele procura
uma atualização de progresso. Aparentemente,
tenho um pai, um pretendente e um chefe.
Impressionante.
Limpo o suor da minha testa, me
perguntando se Bill Nye2 já trabalhou tão duro.
2
Bill Nye é um cientista educacional, comediante, apresentador de televisão, ator, escritor e cientista
que iniciou sua carreira como engenheiro mecânico da Boeing. Multitarefas é o sentido da menção ao
seu nome.
O leão em minha barriga ruge novamente,
exigindo uma pausa e eu finalmente cedo. Vou
até a cozinha para ver que tipo de comida
bizarra vou encontrar desta vez. Alguém no clã
de Niko tem uma afinidade por órgãos de
animais e eu notei, em mais de uma ocasião, o
cheiro de revirar o estômago de tripas cozidas e
rins.
Passo pelos recipientes preparados dessas
coisas e mergulho no freezer, infeliz por
encontrar apenas uma pizza congelada. Espio o
bolo de chocolate escondido atrás da tigela de
frutas no balcão, e mal consigo pegar um garfo
e dar minha primeira mordida quando o
supermodelo de vampiro em questão entra na
sala. Juro que ele implantou um rastreador em
mim ou ele tem alguém seguindo todos os meus
movimentos. Qualquer resposta é irritante.
Agora, tudo que quero é um pouco de paz e
sossego enquanto encho a barriga. Isso é muito
para uma garota pedir?
Ele anda gingando pela sala. Ele não pode
se conter. Ele exala erotismo, e ele sabe muito
bem, mantendo seus ombros largos de maneira
a enfatizar as melhores partes de sua anatomia.
Estranho que possa saber que ele é
devastadoramente atraente e ainda ter zero
interesse sexual nele. Não que ele se importe.
Ele pensa que, eventualmente, vou aceitar a
verdade e ceder. Grande chance.
E 3... 2... 1...
Niko tira a cadeira na minha frente,
girando-a e montando o plástico com um
sorriso sedutor no rosto. — Como foi o trabalho
hoje, querida? Mais perto de salvar o mundo?
Espertinho. — Ajudaria se alguém parasse
de aparecer a cada hora para ver como estou
indo, — respondo.
Niko ri, sua risada sombria e sexy. — Não
posso evitar. Estou garantindo que meus
investimentos sejam cuidados. Além disso, você
torna isso muito fácil.
Quero comentar, mas recuso e me
concentro no meu lanche açucarado.
— Que tal você se juntar a nós esta noite
para uma festinha na cidade? Isso vai te dar
uma pausa e mostrar que sou mais do que
apenas um rosto bonito.
— Você quer dizer mais do que um ditador
autoritário.
— Mas um ditador bonito. Não tenho um
bigode hediondo, o que deve valer alguma coisa.
Uma mordida de chocolate paira diante dos
meus lábios. — Não estou interessada.
— Não seja um pé no saco.
— Diz o maior pé no saco do mundo.
Ele suspira. — Sabe, aqui estou eu,
tentando ser um cara legal e oferecer uma folga,
um ramo de oliveira, e ainda assim você luta
comigo.
— Oh, sim, — eu digo. — E qual é o
problema?
— Sem problemas, apenas um pouco de
diversão à moda antiga.
Empurro outro pedaço na minha boca,
fingindo pensar sobre isso. — Não. Ainda não
estou interessada.
Ele fica em silêncio por alguns minutos,
passando a mão na mandíbula. Eu posso ver as
partes sorrateiras de sua mente funcionando.
— Isso é bom. — Ele se senta de volta. — Na
verdade, estou muito interessado em aprender
mais sobre doenças do sangue. Podemos fazer o
pedido e passar a noite inteira juntos, sozinhos
no laboratório, revisando todos os seus
pensamentos. Posso escolher seu cérebro. —
Ele rapidamente salta da cadeira. — Você quer
saber? Parece muito mais atraente de qualquer
maneira.
De jeito nenhum. — Sair parece ótimo, —
eu digo. — Que horas?
Ele ri, satisfeito com sua pequena vitória. —
Esteja pronta por volta das sete. — Em um
movimento suave, ele está do outro lado da
sala. Ele para na porta e se vira. — Oh...
certifique-se de se vestir bem.
— Agh. Tenho que me vestir elegante?
— Não muito chique, apenas algo que te faz
justiça. — Ele pisca. — Há um belo vestido de
seda em seu armário, importado de Dubai. Você
vai amar.
Não há como passar a noite suando minha
bunda em seda ou cetim. São fivelas, correias e
sapatos ou busto. Me demoro para comer o
bolo, saboreando a solidão luxuosa antes de me
retirar para o meu quarto para decidir qual
roupa devo usar para irritar ainda mais Niko.
Horas depois, Niko está encostado em um
Mercedes Benz SUV preto, conversando com
um grupo de seus companheiros vampiros
quando me junto a eles. Ele examina meus
jeans pretos, alpargatas e uma camiseta cinza
com uma expressão não divertida. Bom. Era
exatamente o que queria. Se ele não gostar, ele
que se lixe.
— Olha quem finalmente chegou? — Niko
brinca, meio irritado, quando chego ao seu
lado.
— Só passaram 5 minutos.
— A pontualidade é a mais alta forma de
perfeição.
— Os vampiros têm todo o tempo do
mundo, ou assim eu pensava, — digo. — O que
os minutos significam no esquema da
eternidade?
Niko se inclina para frente. — Quando você
tiver tempo infinito, aprenderá que são as
pequenas coisas que mais importam.
— Tanto faz. Elegantemente atrasada ainda
é uma coisa.
Todos subimos no Benz e partimos. Apenas
meia dúzia de vampiros por uma noite na
cidade.
— Então, você está gostando de ser a garota
de Niko? — Um dos vampiros enormes ao meu
lado pergunta.
Estou parcialmente chocada, considerando
que a maior parte do clã de Niko se afastou de
mim. Posso ser Baetal de sangue, mas minhas
lealdades de Draugur com Arsen deixaram a
maioria fria.
Este vampiro tem quase 1,98m de altura e
tem o corpo de um jogador de defesa. Não que
aquele do meu outro lado seja melhor. Esses
caras devem ter crescido em Minnesota antes
de se tornarem vampiros.
— Não sou a garota de ninguém. — Eu me
contorço no meu lugar, forçando-me a não me
inclinar contra ele, bufando. — Agora você se
importa de me dar algum espaço? Seus braços
excessivamente largos estão me esmagando.
O vampiro do meu lado oposto dá um soco
no braço do amigo, quase pegando meu rosto.
— Veja, te disse, Brady. Você assusta todas as
mulheres bonitas.
Inclino-me para a frente para respirar e
conversar com Niko. — Eu realmente espero
que estejamos indo para algum lugar por perto.
Não sei se posso aguentar ficar entre
Tweedledee e Tweedledum3 aqui por mais de
alguns minutos.
— Ah, vamos lá. — Brady me dá uma
cotovelada gentil. — Nós não somos tão ruins
assim. Afinal, você é uma de nós agora, certo?
Não por escolha.
Claro, sendo parte do clã de Niko, deveria
saber. Se seu mestre é um playboy brincalhão,
3
Tweedledee e Tweedledum são personagens de animação, aparecem também como os gêmeos do
filme Alice no País das maravilhas.
não deveria ficar chocada que o resto de seus
vampiros sigam o exemplo. Farinha do mesmo
saco e tudo mais. Embora, neste caso, ache que
sejam imortais com as mesmas presas?
Vinte minutos insuportáveis depois,
paramos em um prédio de tijolos com luzes de
neon amarelas em forma de asas de anjos.
Quase salto pelo colo de Brady para sair do
carro e respirar ar fresco. A viagem encheu
minhas narinas com o perfume avassalador de
colônia e arrogância masculina.
Leio a placa pendurada na entrada. — High
Stakes4? Sério?
— Quem disse que os vampiros não têm
senso de humor? — Brady ri.
Eu bufo. — Um extravagante.
— Melhor do que nada, — diz Niko
enquanto caminha ao meu lado e oferece o
cotovelo. Não vai acontecer. Não vou entrar
neste bar como se estivéssemos indo ao baile ou
algo assim. Em vez disso, estendo meu braço e
sinalizo para que sua majestade nos guie
adiante. Seus lábios desenham uma linha fina,
mas ele não faz um alvoroço sobre isso.
Fora de suas óbvias propostas de vampiros,
o interior não é muito diferente da maioria dos
bares ou clubes baratos da cidade, exceto por
estar cheio de vampiros amontoados com
clientes humanos. Não sei ao certo qual é o
itinerário para a noite, mas um copo potente de
álcool parece um bom começo.
4
High Stakes (Alto Risco) eles fazem um trocadilho, a frase também pode ser entendida como grandes
estacas.
Enquanto vou direto para o bar, nossa
comitiva se dispersa pelos diversos cantos
sombrios, evaporando na multidão até que eu
possa ver mais alguém que conheço ou pelo
menos estou familiarizada. Sento-me em um
banco macio de canto, os cotovelos apoiados no
balcão, enquanto observo a devassidão ao meu
redor. Luzes estroboscópicas piscam sobre a
pista de dança, as diferentes cores iluminando
o suor cobrindo a barriga nua dos dançarinos e
os rostos vermelhos.
Cabines abertas alinham-se nas paredes,
deixando muito espaço para mesas altas e para
a multidão de pessoas e imortais, enquanto
jogam a cabeça para trás e se soltam. Um
movimento acima de mim chama minha
atenção para o segundo andar. É isolado por
uma corda vermelha grossa, e quatro grupos
diferentes de vampiros e seus convidados
humanos, suponho, supervisionam a massa de
pessoas abaixo deles.
Não posso deixar de me perguntar se todos
os humanos aqui sabem que estão dançando e
flertando com vampiros. E se sabem, é pela
emoção? Eles realmente acreditam nisso? Ou
eles acham que é uma farsa muito bem feita?
Alguns parecem estar plenamente conscientes,
olhando com admiração ou calmamente,
esperando o próximo comando de seu mestre
como um cão bem treinado.
Eu aceno para o barman reabastecer,
minha segunda bebida me faz sentir mais leve e
menos estressada do que em semanas. Eu tive
alguns homens humanos andando e se
oferecendo para me comprar um coquetel, mas
minhas vibrações fodidas retardam isso para
uma parada sólida. Niko se senta ao meu lado,
inclinando-se para a bancada com um sorriso
largo.
— O que? — Ele está arruinando meu
sossego.
— Você está pronta?
Eu levanto o copo aos meus lábios. — Para?
— Hoje à noite, vou te ensinar a caçar como
um vampiro de verdade.
— Caçar? Como caçar humanos?
— Sim.
Bato meu copo no topo do balcão de mogno.
— Temos bolsas de sangue e doadores em seu
complexo. Os escravos humanos. Agora você
está caçando pessoas inocentes? Para quê? Por
esporte? Eles não são malditos veados.
— Diz a vampira novata, — ele zomba.
— Diz a vampira com um código moral, —
eu digo.
— Bem, não é apenas o esporte. Pode
chegar um momento em que você vai precisar.
Balanço a cabeça. — Não, obrigada. Estou
bem.
A expressão de Niko escurece. — Isso não é
um pedido, Sasha.
— Ainda bem que não é, porque se fosse, eu
diria a você: “Claro que não”.
Ignorando meus protestos, ele se inclina
contra o bar ao meu lado e examina a multidão
até que seu olhar cai sobre uma loira peituda
no canto sozinha. — Assista e aprenda.
— Não vou estar assistindo.
— Claro que não vai, — zomba Niko
enquanto se afasta.
Tento não olhar, mas estou meio curiosa,
meio preocupada com a segurança da loira.
Niko vai até a mulher, ativando o mesmo
charme que ele usa quando flerta comigo... e
todas as outras mulheres. Ele olha para mim
por cima do ombro e pisca antes de deslizar na
cabine em frente à mulher.
Niko é exagerado, e a mulher mal consegue
manter seus seios incrivelmente grandes em
seu espartilho com ela balançando animada na
esperança óbvia de que ele morda a isca. Droga,
se ela apenas percebesse o quão longe ela está
tentando o destino esta noite. Ela está
brincando com fogo agora. Tenho certeza de que
Niko é uma pessoa adequada o suficiente, mas
a parte de ter a jugular rasgada pode não ser
exatamente o que a mulher está esperando,
enquanto faz beicinho para ele.
É chocante como isso é fácil para eles, para
nós.
Olho para o outro lado do bar e vejo Brady,
que tem uma ruiva debaixo do braço,
acariciando seu peito. A alguns metros de
distância, a vampira que veio com a gente está
quase transando com um hipster. Cada um
deles parece estar fazendo o possível para
conseguir uma... engulo em seco, não querendo
dizer a palavra... refeição fácil.
— Então?
Eu quase pulo da voz de Niko nas minhas
costas. — Cara, não me assuste!
Percebo uma pequena mancha de sangue
perdida que ele esqueceu no canto da boca. —
Isso, — digo apontando — é nojento.
Ele serpenteia a língua e a lambe.
— Não achei que você pudesse ficar mais
repulsivo, mas mais uma vez, você provou que
eu estava errada.
— Você realmente vai ter alguns problemas
sérios, Sasha querida, se você não aceitar quem
é agora. O que você é agora.
— Sim essa sou eu. A vampira com uma
conta de terapia pesada devido aos meus
problemas em atacar humanos.
Uma loira platinada entra no bar com uma
camisa tão apertada que parece que poderia
rasgar a qualquer momento, e um sorriso se
estende pelo rosto de Niko. — De repente, estou
com sede de novo, — diz ele.
Sua saia é curta o suficiente para exibir um
conjunto de nádegas firmes e visíveis de trás.
Quando ela passa por Niko, ela sorri
timidamente, afastando os cabelos do rosto e
lambendo os lábios em um convite aberto.
Olho para Niko. O mesmo sorriso ilumina
seu rosto. — Eventualmente, Sasha, beber
sangue humano direto da fonte será tão natural
para você quanto respirar.
Eu aceno para ele se afastar, mas ele já
está a caminho da recém-chegada enquanto ela
se senta, pronta e esperando, no final do bar.
À medida que a noite passa, meu estômago
se agita cada vez mais me desconfortável. Vez
após vez, humano após humano, os vampiros
se alimentam, deixando suas presas sorrindo
alegremente inconscientes de terem sido
mordidas, ou para aqueles que sabem, e
desejam sua mordida, saciada e voando alto do
coquetel de ecstasy que nossa saliva em sua
corrente sanguínea dá.
Sim, não sou mais oficialmente humana.
Mas isso não significa que tenho que
desacreditá-los como pessoas importantes.
As coisas se agravam rapidamente como se
algum tipo de fervor assumisse Niko e seu clã.
Algum tipo de instinto primitivo amortecendo
seu bom senso, ou devo dizer qualquer
resquício de humanidade que eles tinham. Suas
ações são mais descaradas, tomando os seres
humanos apenas segundos após o encontro em
vez de jogar o jogo da sedução lenta.
Eles estão ficando mais agitados a cada
minuto, e assim como acho que é hora de
seguirmos em frente, Niko e seu clã lideram um
trio de mulheres e um homem lá para fora,
usando a porta lateral ao lado do clube que sai
para um beco.
Corro atrás deles, empurrando a porta de
metal pela qual desapareceram, apenas para
descobrir que o grupo se foi. Mas então ouço os
gritos. O som estridente de uma mulher
apavorada e o timbre trêmulo do homem.
Eu corro pelos becos entrelaçados,
seguindo os ecos até encontrar Niko e seu clã
circulando em torno do grupo de quatro
humanos, rindo de seu terror.
— Por favor. Por favor, daremos o que vocês
quiserem. Por favor, não nos machuque. — O
homem implora por sua vida, protegendo as
mulheres atrás dele. O medo nos olhos deles
envia adrenalina pelas minhas veias. É puro
instinto, e a euforia da perseguição pode
rapidamente tornar-se viciante, mas não
esquecerei quem sou.
Meu desejo de salvá-los supera minha
reação primordial à caça, e sei que ter o sangue
de Arsen nas veias me dará mais força do que o
habitual. Mas mesmo com isso, as chances não
estão a meu favor contra os seis dos vampiros
sanguinários de Niko.
— É fácil, não é? Com que rapidez caem de
joelhos e imploram. — Niko ri ao meu lado.
Suas palavras são selvagens e ferozes, a
pequena quantidade de seu bom julgamento
normal está ausente.
— Niko, pare com isso.
— O que? Por quê?
— Porque isso está errado.
— Quem disse?
— Eu!
Mas Niko me ignora e ri quando Brady se
lança contra o homem novamente. Sem pensar
duas vezes, jogo todo o meu peso nele,
deixando-o sem equilíbrio e longe do homem.
Vince tenta me contornar e agarrar um dos
pulsos das mulheres, mas eu consigo colocar
meu corpo entre eles. Ele dá um passo à frente
na tentativa de me fazer recuar, mas não faço.
Ele é mais velho e mais forte, mas tenho a
convicção do meu lado.
Brady se recupera do meu golpe anterior e
dá um passo para o meu outro lado, na
tentativa de impedir qualquer chance dos
humanos recuarem. Tenho o cuidado de usar
meu corpo como escudo.
— Depressa! Não sei quanto tempo posso
segurá-los! Corram! — Eu grito com os
humanos aterrorizados atrás de mim.
— O que está acontecendo? Uma mulher
tenta perguntar através das lágrimas.
— Oh, pelo amor de Deus! — O que é esta
cena de um filme de terror em que a vítima
tenta fazer perguntas quando deveria estar
correndo? — Não há tempo para explicar! Se
você não quer morrer, precisa correr. Agora! —
Minhas palavras parecem mais um rosnado do
que um discurso real. — Mova sua bunda!
Eles se afastam pelo beco, abalados e
instáveis, mas ainda vivos e respirando.
— Que porra é essa, Sasha? Porque você fez
isso? —Brady grita, mas eu o ignoro e
mantenho minha posição entre os humanos e
os vampiros.
— Estava impedindo você de matar pessoas
inocentes para saciar sua sede de sangue!
— Nós somos vampiros, sua puta burra. —
Vince rosna e percebo que os três outros
vampiros formaram um círculo, me
encurralando em um canto.
Niko aparece diante de nós, seu olhar
assassino. O vampiro normal paquerador é
substituído pelo mestre do clã. Ele olha entre
mim e os humanos em fuga, e quando ele fala,
sua voz é como aço líquido. — Pegue esses
humanos e traga-os de volta. Vou lidar com ela.
Afasto-me dele apenas para ser agarrada
pelo pulso. — Você vem comigo.
— Não. — Tento libertar-me, mas não
consigo livrar-me dele. — Você vai matá-los.
Ele se vira. — Sim, nós vamos! Nós somos
vampiros, Sasha. Quando você aceitará seu
destino e abraçará sua nova vida?
Eu mostro meus dentes para ele, furiosa
com suas ações. — Aceitarei minha nova
existência na mesma época em que você parar
de matar por esporte.
Niko joga a cabeça para trás e ri. — É quem
nós somos. É o que devemos fazer.
— Não. Pode ser quem você se deixou
tornar, mas não é quem eu sou.
— Ainda não, ainda não é.
— Nunca, Niko. Significa que jamais, não
vai acontecer de eu matar alguém por outra
coisa que não seja legítima defesa.
CAPÍTULO 9

Desapontamento e raiva avassaladores


assolam minha mente. Niko me leva de volta
para o carro, mas só depois de me forçar a
assistir Brady e os outros beberem das pessoas
inocentes até que deem seu último suspiro.
Ele afirma que foi para provar um ponto.
Estou chamando de besteira. Ele acha que me
mostrar a brutalidade de seu mundo me forçará
a me tornar tão cruel quanto ele. Ele está
errado. De qualquer forma, isso me deixa ainda
mais rancorosa não apenas pelo que me tornei,
mas por ele e seu clã. E isso me faz sentir falta
de Arsen.
Posso ver como eles são semelhantes, mas,
ao mesmo tempo, não consigo imaginar Arsen
fazendo alguma dessas coisas que Niko faz. Ele
lidera com respeito, não com medo.
E sim, ainda estou chateada com ele.
Completamente chateada por ele me fazer sentir
usada e enganada. Mas, novamente, quem não
está me usando neste momento?
Arsen pode ser o melhor homem e, sim, ele
trapaceou e mentiu, mas recuei e vi quatro
pessoas morrerem ontem à noite. Talvez eu não
seja melhor que Niko. Poderia ter lutado mais,
lutado contra ele, e talvez não tivesse
sobrevivido, mas pelo menos teria morrido
lutando por algo ao invés de ficar viva por nada.
Olho para o meu telefone. A parte de mim
que realmente quer estar com Arsen está em
conflito com a parte de mim que quer dar um
soco nele pelo que fez. Meu telefone vibra mais
uma vez com outra mensagem de Arsen, me
implorando para falar com ele.
Quero falar com você. Por favor. Quero dizer
que sinto muito. Sei que estava errado. Sei que
você está brava, mas não sabia mais o que
fazer. Podemos conversar pessoalmente ou por
telefone, o que você preferir. Só quero ouvir sua
voz.
Pego meu telefone, rosnando.
Se você se arrepende, então admita que me
traiu e admita que MENTIU para mim.
O silêncio permanece na tela por alguns
minutos. Bato meu pé em crescente frustração.
Não me importo se Arsen admitir a todos que
me traiu. Eu quero que ele admita suas falhas
para mim. Mais importante, admitir que,
mesmo que tenha sentimentos por mim, ele me
usou. Talvez ele ainda esteja tentando me usar.
Sasha, para o Provokar, o que está feito está
feito. Mas com você e eu, há mais que precisa ser
dito.
Oh, sim? Como o quê? Soletre para mim. Eu
não leio mentes.
Fale comigo. Venha até mim. Eu prometo a
você total autonomia sobre si mesma. Sem
pressão. Sem mais mentiras.
Então, você não admite que me usou?
Eu não posso fazer isso.
Então não há acordo.
Porque não usei.
Eu jogo meu telefone e Arsen não envia
mais mensagem quando não respondo a sua
última. A dor no meu peito traz lágrimas aos
meus olhos. Eu quero tanto estar perto dele,
mesmo sabendo que não deveria. Por dentro, eu
sei o que quero. Estar com ele. Quero abraçá-lo
e dizer que o perdoo, mas não posso, não
importa o quanto sofra querendo estar perto
dele novamente.
Olho em volta do laboratório que se tornou
minha casa. Eu preciso de espaço. Espaço
longe de Niko e do Baetal e apenas de outros
vampiros em geral. Pego minhas chaves e uma
jaqueta leve e saio para um passeio sem um
destino real em mente.
Sei das nuvens pesadas acima da minha
cabeça que provavelmente podemos esperar
muita chuva no futuro próximo. É sempre
emocionante ver o clima mudar conforme as
estações vão e vêm. Pelo menos era antes.
Fantástico. Minha fadiga está claramente
evoluindo para depressão. Não posso deixar
isso acontecer. Muitas vidas dependem do meu
sucesso ou fracasso. Mas estou desesperada
para fazer algo familiar. Algo reconfortante e
calmante.
Felizmente, o Ground Up ainda está aberto,
oferecendo café e lattes para todos os
estudantes universitários que se esforçam para
fazer seus exames e projetos de pesquisa antes
das férias de inverno. Eu sempre amei a
atmosfera aqui. Os garçons se animam, rindo
com colegas de trabalho e clientes, enquanto
elaboram seus produtos cafeinados. Há um
zumbido suave na conversa, mas não é
avassalador ou muito perturbador. É o
equilíbrio perfeito de algo para preencher o
silêncio e não tão alto que você não consegue se
ouvir pensar.
Pego meu café gelado do balcão e volto para
o estande que compartilhei com Arsen e
Jackson outro dia. Eu ignoro a pontada no meu
coração com o pensamento deles e me
concentro em comer meu bolinho de chocolate.
Eu só preciso descobrir como me proteger
de ser usada ou dominada por esses vampiros e
todas as suas ideias distorcidas de diversão e
jogos.
Como se fosse uma sugestão, meu celular
vibra novamente. Secretamente, espero ver uma
mensagem de Arsen, mas o nome de Jackson
pisca na tela.
Eu sinto muito.
Olho o texto por alguns momentos. Meu
polegar pairando sobre as teclas, digitando uma
resposta e depois apagando cada resposta ao
pedido de desculpas de três palavras. Quanto
mais o encaro, mais frustrada fico.
Ele está arrependido pelo quê? Mentir para
mim sobre ser um caçador de vampiros a vida
inteira? Deixando-me pensar que estava
sozinha enquanto me transformava em uma
sugadora de sangue? Ou sua sutil ameaça de
que se eu mordesse alguém, ele me caçaria e
mataria.
Outro texto chega, interrompendo meu
discurso mental, e esfrego minhas têmporas
para aliviar a tensão.
Você ainda é minha melhor amiga. Mesmo
você sendo uma deles. Mesmo sendo de mundos
separados agora.
Você ainda é minha melhor amiga. Eu
realmente sinto muito.
Sinto uma pontada no coração ao ler essas
palavras. O desejo de dizer que está tudo bem
pode ser visto através delas. Eu ainda não sei o
que dizer. Não está tudo bem, mas também
tenho culpa.
Não posso dizer que está tudo bem, mas
também sinto muito. Fui muito rude com você. Eu
não deveria ter gritado.
Você ainda é meu melhor amigo também.
Meu polegar treme sobre a tecla “Enviar” na
última frase. Não sei porque. Talvez uma
sensação de medo? Realmente sinto muito ou é
mais seguro para ele ficar à distância, já que
realmente não entendo toda a extensão do que
está acontecendo comigo?
Aperto o botão enviar. A antecipação de sua
resposta me deixa ansiosa.
Então um pensamento me atinge. Quem
melhor para me ajudar a ficar mais forte? Para
me ajudar a aprender a me defender de um
vampiro do que de um caçador de vampiros?
Como caçador, Jackson tem que conhecer
todos os meus pontos fracos e como explorá-
los. As habilidades que ele pode me ensinar me
dará uma vantagem e garantirão que não estou
desamparada na próxima vez que Nikolai e sua
equipe atacarem pessoas inocentes.
Outro texto chega em meu telefone no
momento em que me preparo para escrever o
meu.
Compreendo. Ligue-me quando estiver
pronta para conversar.
Jackson, preciso te pedir um favor. Você
pode me encontrar ao lado da biblioteca? Na
calçada perto da unidade científica de
armazenamento a frio.
Sim, eu estarei lá. Que horas?
A que horas sais do trabalho? Depois disso
está bom.
Saio por volta das 6:30. Nos encontramos em
torno de 19:00?
Com certeza.

Observo o relógio pelo resto da tarde como


uma criança desesperada pelo início das férias
de verão. Nikolai me surpreende com uma visita
no laboratório, mas depois sai de repente sem
uma explicação quando não o reconheço. Sua
raiva é palpável, preenchendo meu espaço de
trabalho como uma toxina nociva. Não que
esteja preocupada com os sentimentos ou
desejos dele. Estou feliz por poder deixá-lo
irritado. Além disso, a última coisa que preciso
fazer é explicar para onde estou indo.
Embora parte de mim adorasse jogar essa
bomba no colo dele. Onde você está indo? Oh,
apenas ter algumas lições com um caçador de
vampiros.
Às 18h45, tiro o jaleco e saio furtivamente
do complexo, abandonando a babá que Niko
designou para me vigiar, e dirijo pela cidade de
volta ao laboratório no campus. Juro que
costumava viver fora dos laboratórios de
ciências, mas não consigo me lembrar da
última vez em que não fui para um laboratório
ou saí dele.
Jackson anda do lado de fora da biblioteca
na calçada. Costumava ser um pedaço de
grama, mas depois que o reitor da escola
tropeçou em um monte de terra durante uma
visita ao campus, foi pavimentado com concreto
para facilitar a passagem.
O toque alto do relógio da escola ecoa por
todo o campus quando me aproximo do prédio.
— Já era hora, Sasha. Estava planejando ir
e te encontrar. Por que demorou tanto?
— Desculpe. Tive que escapar do meu
guarda.
Ficamos parados e quietos, nenhum de nós
sabendo como quebrar o gelo primeiro.
— Então, qual é o favor que você precisava
me pedir? — Jackson finalmente pergunta.
— Eu preciso que você me ensine como me
defender dos vampiros.
Jackson balança nos calcanhares, soltando
um suspiro surpreso. — Você quer que te
ensine a combater vampiros?
— Bem, sim. Você é um caçador. Você
conhece todas as suas fraquezas e como
combatê-las. — Eu ajo como se soubesse do
que estou falando e tento não me chutar por
quase dizer “todas as nossas fraquezas” e
“como nos combater”.
Jackson me observa pensativamente. —
Você está falando sério.
— Muito sério.
— Está bem então. — Ele concorda. —
Provavelmente vai ser mais difícil do que
qualquer coisa que você já fez. Já imaginou.
Mesmo como vampira. Eu não vou pegar leve
com você.
— Acho que posso lidar com isso. Apenas
me ensine como me defender e lembre-se de
que você não pode me apunhalar com nada
pontiagudo enquanto me treina.
— Bem pensado. Vou garantir que não
usemos nada que possa resultar em morte
permanente. — Ele ri.
Ele está quieto novamente e não consigo
parar de pensar em como essa conversa é
ridícula. Tenho certeza de que há algum tipo de
manual de vampiros que argumenta
terrivelmente contra o acordo que acabei de
fazer. Mas eu não sou como os outros vampiros,
e Jackson não é apenas um caçador de
vampiros. Ainda assim, provavelmente há um
cartaz em todos os compostos com a minha foto
e uma legenda que diz: — Auto aversão com
fortes tendências autodestrutivas.
— Então, quando você quer começar?
Esfrego minhas mãos juntas em emoção. —
Que tal hoje à noite?
CAPÍTULO 10

— Diga-me novamente por que estamos


praticando Tai Chi? Você estava indo me
ensinar a lutar.
Jackson suspira enquanto se afasta da
posição chamada “puxando a cauda do
guindaste”, e me encara. — Você está bem? —
Jackson franze as sobrancelhas em
consternação.
— Sim. Você disse que me ensinaria a lidar
com meus oponentes, como surpreendê-los
quando eu atacar, em vez de me fazer agitar
meus braços como uma maldita bailarina.
O rosto de Jackson fica vermelho. Eu atingi
um ponto dolorido. O ar sussurra e minhas
costas batem contra a parede do nosso ginásio
improvisado, com o antebraço dele esmagando
minha laringe.
— Você quer dizer assim? — Ele rosna. Sua
mandíbula aperta e seus olhos seguram a
morte com tanta certeza quanto meus novos
“amigos” vampiros. Seu hálito quente atinge
minha pele com o calor que não tenho mais em
meus ossos.
Eu engoliria, mas o braço dele teria
impedido o reflexo se eu ainda o tivesse. Meu
vampirismo silenciou essa resposta. Acho que
muitas reações humanas, como respirar e
piscar, são mais hábitos do que necessidade, e
isso me assusta. Ok, mais do que me assusta.
À noite, sozinha no meu quarto, resisto com
cada centímetro do meu ser ao chamado de
presa que canta através do meu sangue e me
tortura. À medida que meu vampirismo fica
mais forte, eu ouço o bater de corações e
capturo o cheiro de carne fresca na minha
língua, implorando para eu caçar e beber até
me fartar. Meu lado humano resiste,
debatendo-se e lamentando-se contra a
absoluta injustiça do que aconteceu comigo, e
do que faria com qualquer humano infeliz que
cruzasse meu caminho. Sinto meu controle
escorregando e não sei quanto tempo tenho
antes de me tornar uma criatura insensível e
fria que pensa nos humanos como alimento.
Entendo a perda de controle, e é por isso
que deixo Jackson me encarar como o monstro
que sou.
Emoções diferentes brincam no rosto dele.
Como ele odeia o que sou. Por mais que ele
entenda que a maldição foi imposta a mim, ele
não consegue conciliar completamente minha
realidade atual com a garota que ele conhece há
anos. Ele quer acabar comigo ou pelo menos
com a vampira que agora quer vagar a noite em
busca de sua próxima refeição. Mas fazer isso
mataria a amiga que ele ama.
Ele estremece e abaixa o braço. Minhas
costas deslizam contra a parede até meus pés
encontrarem o chão da academia.
— Desculpe, — diz ele. — Eu pensei que
estava demonstrando algo.
— Você fez, — eu digo friamente. Posso
entender como ele se sente, mas não preciso
gostar disso.
— Vamos retomar isso outra hora, — diz
ele. O arrependimento em sua voz é palpável.
Eu não aguento isso. Desde a
transformação, toda defesa humana foi
retirada de mim. Não posso mais racionalizar
alegremente minhas emoções ou atribuir outro
motivo à ação de uma pessoa. Cada emoção me
atinge em sua forma bruta, sem carga de
significado existencial. E eu odeio isso. Quero
atacá-lo por me machucar, por ousar me
ameaçar.
— Sim, claro, — eu digo, em vez de “Que
porra foi isso?”, enquanto passo por ele.
— Sinto muito, — diz ele, impotente.
Eu levanto minha pilha de coisas, um
suéter e minha mochila, em um movimento
que parece um borrão, até para mim.
— Você não tem por que se desculpar, — eu
digo enquanto as lágrimas caem o canto dos
meus olhos.
— Eu não machucaria você, — ele admite.
Droga. Ele parece tão patético quando suas
palavras chegam aos meus ouvidos.
Eu giro e avanço em Jackson com tanta
força que ele recua contra a parede.
— Você não entende. Não é sobre você me
machucando. É sobre o dia em que te
machucarei. E nesse dia, você deve escolher,
você ou eu. Se você se escolher, eu vou morrer.
E se você me escolher, você morrerá e perderei
o resto da minha humanidade.
A mandíbula de Jackson enrijece. — Não
vamos chegar a isso, — ele diz com tanta
convicção que quase acredito no fundo da
minha alma.
— Você não sabe disso, — eu digo.
— Nem você. Ser uma vampira não faz você
saber tudo.
Eu zombo. — Você está certo, não é. — Eu
chuto o chão, frustrada por mais uma vez
estarmos em desacordo. — Eu deveria saber
que isso não funcionaria. — Vou em direção à
porta, parando com a mão na porta quando
Jackson chama.
— Sasha, espere.
— Descanse um pouco, Jackson, — eu
suspiro.
— Vamos nos reunir mais tarde para tipo,
jantar ou bebidas.
Eu lanço um olhar de reprovação por cima
do ombro em direção a ele.
— Sim claro. Há um bom e pequeno banco
de sangue no Glisan Center. Ouvi dizer que eles
acabaram de receber um novo fluxo de sangue
positivo. Hum, hum, hum, delicioso. — Eu
lambo meus lábios para ter efeito. — O
ambiente está um pouco morto, e ele tem
apenas três estrelas no Yelp, mas nós vamos
sobreviver.
O rosto de Jackson empalidece.
Sim, foi o que pensei.
Ele não me chama quando abro a porta.
Bom. Não suporto mais um segundo com meu
melhor amigo.
Além do que, quem tem um melhor amigo,
afinal? Eu deveria caçar uma amiga vampira.
Dessa forma, podemos falar dos prós e contras
do Team Niko ou do Team Arsen, trançar
nossos cabelos e conversar sobre as últimas
fofocas de celebridades. Eu deveria ligar para
Claudette e fazer a oferta. Okay, certo. É tudo o
que preciso... mais uma “amiga” que me quer
morta.
Crescer como uma garota nerd prodigiosa
em um orfanato não me fez nenhum favor no
departamento de amizade. Ao longo do
crescimento não consegui me conectar com
garotas da minha idade que estavam mais
interessadas em pôneis cor de rosa com cabelos
longos do que realizar experiências com
bicarbonato de sódio e vinagre. Minha única
festa de aniversário aos nove anos foi um
desastre total, porque eu queria dormir durante
a festa do pijama.
Nada se compara ao isolamento que senti
quando criança. Exceto, talvez, este momento,
agora. Ou nestas últimas semanas da minha
vida. Não, o único calor que sinto agora é na
presença de Arsen. Maldito seja aquele vampiro.
E agora eu nem mesmo tenho Jackson
como amigo para contar. Ou não vou ter por
muito tempo.
Bem, talvez sim, mas isso não faz nada
para melhorar meu senso de absoluta solidão e
vulnerabilidade. Eu tenho que ser muito boa
em qualquer arte marcial para ter uma chance
de derrotar qualquer vampiro. E contra muitos
deles? Eu sou carne morta-viva. Não, preciso de
outra coisa para me proteger.
Encontrar uma defesa toma conta da
minha mente, e não posso deixar passar. Esta é
outra consequência da minha condição. Assim
que tenho uma ideia, é muito mais provável que
fique obcecada por ela. Esse pensamento me
assusta porque não apenas meu corpo mudou,
mas também minha mente. Eu tenho me
concentrado como humana, mas como vampira,
sou como um míssil térmico armado e pronto
para destruir qualquer missão que esteja à
minha frente.
Eu me acalmo instantaneamente quando
finalmente entro no laboratório silencioso de
Niko.
Demetri não está aqui pela primeira vez, e
posso desfrutar de ter o laboratório só para
mim novamente. Pelo menos por um tempo.
Esta é uma sala cheia de respostas, se você
aplicar um esforço consistente, e eu não sou
nada além de consistente. É o que me tornou a
melhor da classe e me rendeu minhas bolsas de
estudo.
Está terrivelmente difícil tentar identificar
ou mesmo classificar o vírus, e isso me dá nos
nervos. Sim, sei que, como pesquisadora, devo
ser analítica e paciente, mas a parte da
paciência parece se desintegrar à medida que
meu vampirismo se apodera.
Abro uma gaveta na minha estação de
trabalho e examino minhas anotações e
resultados. Existem cerca de 320.000 vírus que
infectam espécies de mamíferos, portanto,
identificar o que está causando o problema com
os vampiros é como encontrar uma agulha no
palheiro. E você pensaria que apenas examinar
o sangue dos infectados, ou mesmo apenas o
meu, daria respostas... mas isso não está certo.
Não há como considerar as diferentes
coisas que circulam no sangue como
causativas. Não é como se o vírus piscasse uma
luz neon e dissesse: “Aqui estou eu. Me mate”.
Não. E os diferentes processos com os quais
experimento não revelam uma única pista do
agente infeccioso. É mesmo um vírus?
Vou para o canto mais distante do
laboratório, onde a geladeira contém minhas
amostras de sangue armazenadas. Com um
suspiro, pego o frasco de sangue da irmã de
Arsen. Só me resta um pouco e preciso de mais.
Eu deveria aparecer e pegar outra amostra. O
pensamento de ver Arsen novamente me dá
mais prazer do que deveria sentir. Odeio Arsen
pelo que ele fez comigo. E cada vez que penso
sobre isso, quero arrancar a cabeça dele dos
seus lindos ombros. Tenho vergonha de como
meu núcleo esquenta pensando no idiota de
duas caras.
Eu sou uma cachorrinha doente.
Depois de tirar uma caixa de lâminas do
armário de suprimentos, ligo o microscópio
eletrônico na minha estação de trabalho. Coloco
um par de luvas e coloco meus óculos de
segurança. O que quer que tenha infectado a
irmã de Arsen está nesse sangue, e eu não
quero sofrer o mesmo destino que ela.
— O que você está fazendo?
A voz fortemente acentuada de Demetri me
faz pular e eu quase largo a lâmina que estou
prestes a preparar. Esse cara deveria me
ajudar, mas juro que ele é mais um obstáculo
do que uma ajuda. Ele comete tantos erros e faz
coisas suficientes contra o procedimento, que
me pergunto se ele é um pesquisador. Eu
pensei que ele era útil, e estava certa. Nas
tarefas administrativas, não executando testes.
— Estou dando uma outra olhada no vírus
no microscópio eletrônico.
— Estabelecemos que não achamos nada
informativo com o microscópio.
Sim, porque você está me pressionando,
idiota.
— Não custa olhar mais uma vez. Eu posso
ter perdido alguma coisa.
— Se você o fez, perdeu um tempo valioso
que deveria ter sido gasto em encontrar uma
cura.
— Escute, — digo, levantando-me do
banquinho — você quer fazer a pesquisa?
Continue.
Ele me dá um olhar frio. — Minhas
instruções são claras. Você deve liderar a
pesquisa.
— Tudo bem, — eu digo. — Em seguida,
prepare esta lâmina com o sangue deste frasco.
— Enfio minha mochila no ombro. Vou ao
armário de suprimentos novamente e pego uma
seringa e alguns tubos de sangue.
— Onde você vai? — Ele pergunta.
— Sair, — eu digo, como se fosse uma
adolescente desafiadora.
— Para onde? — Ele diz, estreitando os
olhos.
— Para onde nenhum homem foi antes, —
eu zombo. Se eu ficar mais tempo, farei algo de
que não me arrependerei, como bater na cabeça
dele com meu microscópio caríssimo.
CAPÍTULO 11
Como sempre, é um aborrecimento quando
tento entrar no complexo de Arsen. Há sempre
algum idiota que tenta me manter fora como se
fosse um segurança no clube mais quente e não
estou na lista de convidados. Parece que nunca
dura muito, porque Arsen sempre chega à porta
e afasta o agressor.
Ok, tecnicamente, sou membro de seus
maiores rivais, mas também já fui quase
companheira de Arsen. Até que ele estragou
tudo. Nós estragamos tudo. Tanto faz.
Ele parece genuinamente satisfeito em me
ver, mesmo quando eu retribuo seu sorriso com
uma careta.
— Sasha, a que devemos esse prazer?
— Deixe as gentilezas à mesa. Não estou
aqui para você, estou aqui para mais amostras.
— Desdém mal mascarado vaza de minhas
palavras, dando a Arsen a dica de que não
estou aqui para ser amigável, embora queira.
Eu não vou mostrar fraqueza na frente dos
vampiros que o ajudaram a me enganar, mesmo
que ele pareça como um pedaço de mau
caminho com sua camiseta justa, calça preta e
cabelo úmido e despenteado. Ele acabou de
tomar banho?
Não. Pare Sasha. Nem deixe sua mente ir até
lá.
A coleção de vampiros de Arsen me encara
com choque e hostilidade. Eles podem nem
sempre ouvir seu mestre, mas eles serão
condenados se algum vampiro recém
transformado o tratar com desrespeito, mesmo
se ele mais do que merece.
— Estou aqui para trabalhar, não para
socializar. Preciso de mais amostras do sangue
da sua irmã.
O sorriso de Arsen se dissolve e cai em uma
expressão mais neutra. É um que quase todos
os vampiros dominam. Se eles estivessem
interessados em jogar cartas, provavelmente
pegariam Vegas de surpresa.
— Por aqui, — diz ele. Os outros vampiros
se separam diante dele e meu nariz enruga.
— Você fez algum progresso? — Ele
pergunta.
— Não, — eu digo claramente. Não sinto
vontade de oferecer esperança a Arsen. Sua
irmã não o ajudou a partir meu coração, mas
ela é a única pessoa com quem ele parece se
importar com todos os outros.
— Você tem certeza?
Eu paro no meu caminho. — Você acha que
não estou dizendo a verdade? — Eu pergunto
intencionalmente.
— Sei muito bem como Nikolai pode ser
persuasivo, — responde Arsen. — Ele esperaria
sua lealdade. E obediência.
— Como se eu fosse obedecer, — eu bufo.
Arsen ri. — Bom. Eu estava com medo de
que ele tivesse ganho você.
— Com o que? Sua beleza deslumbrante?
Charme irresistível? Inteligência cintilante? —
Uma luz desperta nos olhos de Arsen.
— Sim, — ele diz com um sorriso. — Só
isso.
— Ha! Você é hilário.
Ele passa o braço pela minha cintura e, por
um segundo, quero me inclinar para ele, mas
me afasto.
— Nada disso.
— Ok, — ele diz casualmente.
— Realmente? — Eu arqueio uma
sobrancelha.
— O que você quer que eu faça? — Ele diz
com um suspiro. — Você deixou seus
sentimentos claros.
Sim, deixei. Estou surpresa que ele esteja
cedendo. Não quero que pare de tentar, mas
também não tenho certeza de quando estarei
pronta para seguir em frente. Não é justo, e
tenho certeza que meus sinais são confusos pra
caramba, mas não tenho certeza se posso
confiar em meu julgamento quando se trata do
efeito que Arsen tem em mim. — Leve-me para
Annabelle. Eu não sei como me virar em sua
adorável morada, porque da última vez que
estive aqui, você me manteve ocupada.
— Tudo bem.
Embora os corredores de seu complexo não
sejam tão complicados quanto pensava, ainda
não consigo encontrar o caminho para o porão,
onde eles mantêm trancado os infectados com o
vírus. Ele acena com a cabeça para os guardas
parados em cada lado da porta em estilo cofre
de banco, e eles giram a trava, abrindo a porta.
Entramos e ficamos cara a cara com Claudette,
ex amante de Arsen e atual líder do Fan Clube
Odeiem Sasha. Seus olhos estreitam quando ela
me vê, mas ela me ignora, concentrando-se em
Arsen.
— O que ela está fazendo aqui?
— Sasha precisa ver Annabelle.
Com uma curva do lábio, ela dá um passo
para o lado e vejo a infeliz mulher em sua
cama. Seus pulsos e tornozelos estão
amarrados às pernas de metal da cama do
hospital, fixadas no chão. Pobre Annabelle.
— Isso é necessário? — Eu pergunto.
— É o melhor que podemos fazer até termos
uma cura.
Entendi. Eles não querem que ninguém
saia e faça vampiros doentes desde o início.
Mas parece tão desumano.
Eu me aproximo da mulher de aparência
esfarrapada e ela inclina a cabeça, assobiando
para mim como uma cobra zangada. Ela se
lança para mim e Arsen avança, acariciando
seus cabelos para acalmá-la.
— Sssh, Annabelle, — diz ele suavemente.
— É apenas Sasha. Ela vai te ajudar. Seja boa
agora, enquanto ela coleta as amostras,
querida.
— Segure o braço dela, ou acabarei
machucando-a.
Sombriamente, Arsen faz conforme as
instruções, enquanto Annabelle se debate. A
agulha quase quebra quando ela consegue se
libertar das mãos de Arsen, e tenho que me
afastar. Entre Arsen e Claudette, eles seguram
o braço dela com firmeza, e consigo extrair um
bom tanto quando ela solta um grito agudo.
Quando retiro a agulha, eles soltam e Annabelle
treme na cama.
Arsen me lança um olhar suplicante.
— Você vai deixá-la se alimentar de você?
Pode ajudá-la, mesmo que por pouco tempo.
— Arsen, não vai ajudar. Ela está assim há
o quê, três meses? Tenho certeza de que Niko
conseguiu meu sangue dentro de 24 horas
depois de ficar selvagem. Esse parece ser o
ponto crítico. Além disso, ele basicamente me
drenou, e não posso me dar ao luxo de morrer...
novamente. — Afasto meu cabelo do meu rosto.
— Se e quando encontrar uma cura, aí posso
ajudar.
— Mas você trará aqui, certo? Para ela? —
A angústia em sua voz me corta em pedaços,
mas ao contrário de Jackson, ele sabe disso.
Como ele ousa brincar com minhas emoções
depois do que fez? Faço um pequeno ruído de
irritação e indecisão.
— Por favor, — diz ele, e eu desmorono,
incapaz de vê-lo sofrer dessa maneira.
— Não se rebaixe a ela, Arsen. Ela está
abaixo de você. — Claudette zomba, mas nós
dois a ignoramos, perdidos um no outro.
— Sim, vou trazer. Você tem minha palavra
de que não vou abandonar Annabelle. — Ou o
resto dos Draugur, mas deixo essa parte não
dita. Não tenho certeza se não deixaria
Claudette suar um pouco se ela estivesse
infectada. Vaca rude.
— Você não me deu escolha, — Claudette
uiva. — Eu tentei jogar bem, mas isso não
funciona com você.
Arsen e eu focamos nossa atenção nela, a
confusão no meu rosto provavelmente
combinando com a dele.
— Sobre o que você está divagando agora,
Claudette?
Ela tira um telefone do bolso, brandindo-o
como um machado de batalha.
Eu tenho que segurar minha risada. —
Desculpe querida, mas não é assim que você
usa essa coisa. O que você vai fazer? Me
mandar mensagens até a morte?
Ela gira em suas mãos e olho mais de perto.
Esse telefone é o meu telefone. Meu velho. A
putinha roubou! Eu pulo nela, mas ela se
esquiva.
— Você não pode confiar nela, Arsen. Ela
está trabalhando com um caçador de vampiros
para nos destruir. Veja, o número dele está
neste telefone.
Eu me forço a rir, mesmo quando minha
barriga fique gelada. — E agora? Ela disse
caçador de vampiros? — Eu olho para Arsen. —
Isso é realmente uma coisa? Ou ela está apenas
brincando comigo?
Arsen sabe tudo sobre o meu
relacionamento com Jackson, mas não sabe
que já sei que Jackson é um caçador de
vampiros. Por enquanto, pretendo continuar
assim. Olho para Claudette, imaginando que
vantagem ela acha que essa declaração idiota
lhe dará enquanto espero que Arsen não esteja
percebendo meus pensamentos no momento.
Sei que ele pode desligar e ligar, e estou
rezando para que ele esteja muito focado no
drama de Claudette para escanear minha
mente.
— Não se faça de boba. Seu melhor amigo é
um dos caçadores de vampiros mais mortais
que já vimos.
— Me dê o telefone, Claudette, — diz Arsen,
sombrio.
Ao mesmo tempo, finjo suspirar em choque,
rezando para que seja convincente.
— Jackson Tate! — ela grita. — Ela está
trabalhando com Jackson Tate.
— Do que ela está falando, Arsen? — Eu
adiciono um tremor na minha voz, mas acho
que soou como se estivesse sufocando na água.
Arsen balança a cabeça. — Você realmente
acha, Claudette, que não sabia sobre a
associação de Sasha com o Sr. Tate? Eles se
conhecem há muitos anos, desde o colegial,
quando sua família se mudou para cá. Você
sabe. Eu tenho observado a família Tate esse
tempo todo. Agora, me dê o telefone.
Arsen observou Jackson e sua família por
anos? E ele sabia sobre mim antes de nos
conhecermos? O mundo se inclina e se reajusta
com vertigem nauseante enquanto imagino
Arsen espionando Jackson e eu voltando da
escola para casa.
— Que diabos está acontecendo, Arsen?
Você está observando Jackson? Eu o conheço.
Não há como ele ser um caçador de vampiros.
Ou até que saiba o que é um vampiro.
Arsen me dá um olhar estranho antes de se
virar para Claudette, estendendo a mão para o
telefone que ela está segurando na mão. — Dê
para mim, Claudette.
Seu rosto se transforma em pura raiva e
ódio quando ela o deixa cair na palma da mão
dele. Ele entrega para mim, seus dedos roçando
os meus e nem sequer olha para Claudette
quando ele faz seu próximo pedido.
— Vai.
— Mas...
— Vai! — ele rosna. — Antes que eu faça
algo de que se arrependa.
Claudette bufa e bate a porta quando ela
sai.
— Espero, — diz ele, — que isso não impeça
você de ajudar minha irmã.
Eu levanto e inclino a cabeça para evitar o
pedido em seus olhos.
— Não, — eu digo baixinho. — Um acordo é
um acordo. — Tropeço na perna da cama e
Arsen me apoia com a mão no braço. Estou
encontrando essa cura por um motivo e quando
os olhos de Arsen encontram os meus, ele
também sabe.
— Sasha... — Arsen me puxa para seu
corpo, minhas curvas suaves se moldam às
suas extremidades mais duras.
Suspiro e deixo que ele me leve para fora do
quarto de Annabelle.
Ficamos parados, mal separados no
corredor. Essa conexão é tão estranha, tão
diferente de como pensava que as coisas iriam
acontecer com quem me apaixonasse. “Felizes
para sempre”, significa que um homem se
ajoelha e proclama seu amor eterno com um
anel em uma caixa de veludo azul. Um vestido
branco e um bolo de casamento é
compartilhado com familiares e amigos. Não é
uma criatura da noite que prefere O negativo a
B positivo.
— Você acha que sou um monstro, — diz
ele com voz rouca.
Oh, inferno. Ele ouviu meus pensamentos.
— Sim, Sasha. Eu ouço tudo.
Compartilhamos sangue, uma união mais
íntima do que as palavras ditas em uma igreja.
Posso não ser seu criador, mas estamos e
sempre estaremos intimamente ligados. Não
posso lhe dar lindos vestidos brancos ou bolo
de casamento, mas posso lhe dar minha
devoção eterna. Posso protegê-la, prover e
garantir seu bem-estar sobre o meu, mas nunca
serei um tipo de homem com cerca branca.
— Eu sei disso. — Como se fosse uma
sugestão, a sede de sangue me atinge. Olho a
veia em seu pescoço antes de desviar o olhar,
envergonhada da minha necessidade. Do meu
desejo pelo sangue dele para saciar minha
fome.
Ele me pega lambendo os lábios e sem dizer
uma palavra, levanta o pulso e minhas presas
descem. Ataco sem piedade, mas ele não vacila.
Sua força masculina flui para dentro de mim e
aviva meu corpo. Eu bebo, sugando sua
essência e é melhor do que qualquer vinho que
já tive. O gosto acobreado formiga na minha
língua e eu não consigo o suficiente. Estou
perdida enquanto me alimento, o fluxo e refluxo
do sangue dele em meu corpo me hipnotizando.
Ele geme, o som profundo e estridente.
— Mulher, — ele sussurra. Sua voz rouca
ataca todos os meus nervos e eu chupo com
mais força, mais fundo até que ele me afaste.
— Pare.
Tropeço para trás como se a perda de seu
toque e seu sangue fosse um golpe físico.
Parece assim. Eu limpo a minha boca,
removendo o excesso de sangue dos meus
lábios. — O que?
Ele pega minha mão e me puxa. — Não
aqui, — diz ele. Sua voz é caramelo líquido e
mel em uma só, e farei qualquer coisa para
segui-la. Tropeço atrás dele no corredor, bêbada
de sangue e necessitada. Ele abre outra porta,
uma que não tinha notado antes.
— Aqui, — diz ele.
Uma cama de quatro colunas com dossel de
veludo castanho pesado fica no centro contra
uma parede de pedra. À direita, há uma lareira,
que queima mais por ambiente do que por
necessidade, já que os vampiros não ficam
realmente quentes ou frios.
— Agora, — diz Arsen roucamente. Sua
mandíbula está rígida, e em sua calça há uma
tenda armada, e sei por experiência direta o
quão duro está seu pau. Um tremor percorre
seu corpo enquanto traço minhas mãos pelos
braços dele.
— Onde?
— Cama, — ele diz asperamente.
Ando até a cama, empolgada com seu
sangue e seu desejo por mim, o calor elétrico
correndo pela carne entre as minhas pernas.
Lanço lhe um olhar provocador por cima do
ombro. Ele estuda todos os meus movimentos,
como o predador que ele é, esperando o
momento perfeito para pegar e devorar sua
presa.
Nosso vínculo eleva nossas necessidades
vorazes em um ciclo contínuo de resposta. Nós
dois preparados e prontos, esperando para ver
quem dá o primeiro passo. Essa deve ser a
melhor parte de ser uma vampira. Todo
sentimento, toda sensação é tão crua quanto a
primeira vez que você a experimenta. Sua
luxúria se estende e rola sobre mim, e eu gemo
enquanto acaricio a colcha de seda. Santo
Inferno. Eu poderia querer ele mais do que
agora?
— Incline-se sobre o colchão, — ele ordena,
e o faço porque o quero assim. Áspero e não
refinado. Seus dedos apertam a carne da minha
bunda, antes que ele dê um tapa. Eu gemo com
o contato.
— Arsen. — O nome dele é uma prece
ofegante nos meus lábios, e ele chega na minha
frente, soltando o botão da minha calça jeans
antes de puxá-la com minha calcinha de renda
preta nos tornozelos. Eu tento chutar meus pés
livres, mas ele pisa no tecido no espaço entre as
minhas pernas abertas.
— Não, mantenha-as lá. — Ele arrasta um
dedo grosso sobre minha boceta úmida e geme.
— Você está tão molhada para mim, que brilha,
baby.
Eu quero dizer: “O que você está esperando
então”? Mass o desejo dele por mim vibra
através do nosso vínculo e tudo o que posso
fazer é gritar de prazer.
— Coloque as mãos sobre a cabeça, — ele
ordena e eu cumpro, segurando a colcha nos
meus punhos. O som do zíper atravessa o
quarto e, sem preâmbulos, a cabeça de seu
pênis esfrega na minha entrada. Eu recuo,
sufocada pela espera, pela saudade, e ele bate
na minha bunda com a mão novamente, antes
de acalmá-la com uma carícia de sua palma.
— Você vai esperar até eu dar isso para
você.
— Sim, — eu expiro. Toda a pretensão da
gentileza de Arsen se foi. De qualquer maneira,
era apenas uma fachada, a frente que ele
apresenta aos vampiros sob seu domínio. Este é
ele, o homem de verdade, exigindo controle e
conseguindo, porque essa é sua prerrogativa.
— Boa menina. — Ele afunda dentro de
mim com um movimento rápido, e eu sou
incapaz de fazer outra coisa senão deixar as
ondas de prazer tomarem conta de mim.
Dentro de minutos, estou à beira do clímax.
Ele também está lá, eu sei, e ele adora
prolongar meu prazer o máximo que puder. Mas
ele não pode parar completamente seus
movimentos.
— Foda-se. Arsen...
— Eu sei, Baby. Estou bem aí com você.
Ele me monta com força, cada impulso me
empurrando mais para dentro do colchão,
abafando meus gritos de êxtase. O mundo gira
e depois explode em chamas. Grito o nome dele
e ele chama o meu, e estamos unidos, alma a
alma, em um breve momento que parece durar
para sempre.
CAPÍTULO 12

Na fortaleza subterrânea de Arsen, o tempo


não tem sentido. Quando nos desembaraçamos
e eu olho para o meu telefone, descubro que o
dia se transformou em um novo, e é hora de
continuar com minha vida. Arsen me olha com
cautela.
— Tenho que ir e voltar para o laboratório.
Ele concorda. Não pode haver palavras
entre nós agora que tenham algum significado.
Nossas almas se juntaram para esse espaço e
qualquer coisa que dissermos será trivial em
comparação com isso. Nós nos entendemos de
uma maneira molecular. Para alguém como
Arsen, que se achava intratavelmente solitário,
a experiência o deixa sem alicerces.
O mesmo para mim.
Mas, além de estar no mesmo lugar, com
Nikolai como meu criador e me reivindicando,
esse vírus e o fato óbvio de que alguém quer
que todos os vampiros sejam varridos da face
da Terra, a única coisa entre tudo isso e o fim
da espécie vampírica sou eu. É mais do que
humilhar; é dobrar a alma.
Há muito espaço para o fracasso e tão
pouco espaço para o sucesso.
Não quero ir. Aqui, com Arsen, posso
excluir o mundo.
Meu telefone emite um sinal sonoro e um
texto aparece de Jackson perguntando se quero
me reunir para praticar hoje. Não sei o que isso
significa, porque pensei que fui clara ontem.
— Jackson? — Arsen espia por cima do
meu ombro.
Dou de ombros, sem saber o que dizer. Amo
Jackson como amigo, até irmão, mas nas
minhas circunstâncias atuais esse é um
relacionamento mortal.
— Se você passar muito tempo com
Jackson, ninguém em nenhum dos clãs
confiará em você, Sasha.
Talvez ele não tenha recebido o memorando
quando nos juntamos, eu praticamente
torpedeei minha amizade com Jackson.
— Eu não planejo isso.
Mas outra emoção sai de Arsen e não é
agradável. De fato, faz minha pele coçar.
Ciúmes.
— Fique. Passe mais tempo comigo. Deixe-
me mostrar que o que sinto é real.
Seu ressentimento e raiva por Jackson me
atingem como um maremoto. Eu luto como um
nadador em correnteza, mas não estou
chegando mais perto da costa. Droga. Arsen
sabe que sempre vou querer ele? Dói, como
uma faca hari-kari presa no intestino por ele
não confiar em mim.
É demais e a única maneira de saber lidar
com isso é partir. Para nos dar algum tempo
para processar. Agora, sinto que estou
amarrada à frente de um trem de alta
velocidade e estou prestes a sair dos trilhos.
— Não tenho tempo para isso, Arsen. Estou
atrasada.
— Para Jackson?
Suas palavras escorrem amargura e isso
agride minha psique esfolada. Saio da cama e
visto minhas roupas. Se responder, minhas
palavras vão machucar, e não quero fazer isso.
A minha raiva aumenta e explode como um
fogo de artifício de 4 de Julho. — O que? Você
acha que é o único homem com quem passo o
tempo? Estou autorizada a ter amigos do sexo
masculino.
Arsen me olha com frieza ártica, seu
controle externo absoluto.
— Não, não acho. Eu só gosto de ter certeza
de que as pessoas de quem gosto estão seguras.
Apesar de suas palavras cobertas de mel, a
raiva de Arsen brilha logo abaixo da superfície.
Isso torce meu interior como uma cobra
selvagem escorregando para longe de um
manipulador, e tenho que colocar distância
entre mim e ele.
— Jackson está garantindo que eu sempre
esteja segura.
Os lábios de Arsen se erguem em uma
careta cruel.
— Há muita coisa que ele não sabe e o que
ele não sabe, ele não pode ensinar. Você precisa
aprender essas coisas. Deixe-me treiná-la.
Lá está novamente. A insistência
presunçosa de que só ele sabe o que é bom para
mim. Ele está tentando mascarar sua inveja
com sua oferta, mas está fazendo um mau
trabalho.
— Droga, você não pode se forçar a entrar
na minha vida, Arsen. Não posso simplesmente
esquecer o que você fez.
— Você esqueceu a noite passada. — Ele se
levanta e coloca as roupas de costas para mim.
Eu me odeio por querer mais um vislumbre
daquele corpo perfeito, pela labareda de desejo
que corre através de mim enquanto encaro sua
bunda.
Quero que ele se vire para que eu possa
bater meus punhos contra o seu peito e, ao
mesmo tempo, quero me perder em seus
braços. Como posso fazê-lo entender que isso,
nós, está ferrado de muitas maneiras. Eu o
quero, mas não devo, e a merda acabará
atingindo o ventilador por causa disso. Ainda
temos que discutir isso. As palavras que ele
falou, os objetivos que ele tinha, as mentiras
que me alimentou.
— Eu sempre lembrarei o que você fez.
Pronto. Eu disse isso. Ele tem que saber
que não posso largar isso tão facilmente. Uma
má ação nos separa e sempre será a linha na
areia que nos impede de estar totalmente
juntos. De me deixar aproveitar nosso tempo
juntos por mais tempo do que alguns
momentos roubados.
E ele sabe disso. Arsen gira e enfia as mãos
nos bolsos, parecendo o modelo de colegial pego
beijando uma das garotas no recreio. É adorável
e assustador. Normalmente, qualquer ação
amável ou gentil de Arsen é uma pretensão de
mascarar o caçador mortal interior, então
minhas suspeitas aumentam.
— Ok, então deixe-me levá-la ao seu
laboratório, — acrescenta. — Por favor.
Eu balanço de surpresa com a palavra “por
favor’, porque Arsen não pergunta, ele pega.
Meu olhar passa pelos ângulos cinzelados de
sua mandíbula até os olhos, avaliando sua
sinceridade, e apenas por um segundo, pego
um vislumbre de desejo. Pelo quê? Alguém com
quem pode compartilhar esta vida eterna? Uma
pessoa em quem confiar? Eu quase rio porque
quando você vive com um grupo de hienas, você
não conta com boa vontade comunitária para
sua sobrevivência. Você se torna o que Arsen é,
um predador de ponta, e existe por pura força
de vontade.
E ele quer tudo comigo.
Não consigo resistir a passar mais tempo
com ele e aceno com a cabeça como uma idiota.
— Ok, — afirmo, e ele sorri. — Você pode
me levar. Mas não vou me encontrar com
Jackson. Estou voltando para o meu laboratório
no Niko. — Deus me ajude, mas assim outro
tijolo da parede que defende meu coração dele
se desfaz.
Eu o amo e odeio por isso.
Ele mantém a mão nas minhas costas
enquanto me guia até a porta da frente. Como
uma tola apaixonada, minha atenção está
totalmente em Arsen, então não percebo de
quem ele recebe as chaves do Porsche. Um
chaveiro passa de mão em mão e entramos na
luz fraca da tarde. Ele aperta um botão e o teto
rola para baixo. Ele abre minha porta para mim
e entro no veículo reluzente.
O passeio é um borrão, porque ele não
obedece às leis de trânsito ou mesmo às leis de
bom senso, e nós entramos e saímos do trânsito
sem levar em conta as linhas amarelas na
estrada. Ele é louco, esse vampiro, bêbado de
luxúria, e talvez até um pouco de alegria. Ele ri
dos carros buzinando, e o vento sopra em
nossos cabelos enquanto mal escapamos de um
desastre veicular após o outro. Fico feliz que
meu coração não bate mais como o humano,
porque, se o fizesse, certamente pularia do meu
peito. Enquanto minha mente percorre as
visões hollywoodianas do meu coração
explodindo em meu peito como uma criança
alienígena, ele se aproxima abruptamente do
complexo Baetal.
— Obrigado— diz ele com a maior
sinceridade que já ouvi em sua voz.
Eu franzo o cenho para ele. — Por quê?
— Por se importar com minha irmã, apesar
do que aconteceu entre nós. Muitas pessoas
perderam a esperança de uma cura para seus
entes queridos.
Chupo meu lábio porque não sei se consigo
encontrar a cura a tempo de salvar Annabelle.
Na verdade, estou secretamente preocupada
que ela esteja longe demais. — Eu gostaria de
poder descobrir isso. Estou tentando o meu
melhor. Apesar do que Claudette pensa, não
estou trabalhando com caçadores de vampiros
para destruir todos os vampiros. — Uso aspas
no ar em torno de caçadores de vampiros,
fingindo que ainda não acredito no que ela
disse.
— Eu sei que você não está. E peço
desculpas pelo comportamento dela. Vou me
certificar de marcar nela as consequências de
suas ações.
— Oh, meu Deus, não. Isso só a fará me
odiar mais. O que não tenho certeza se é
absolutamente possível.
— Ela está com ciúmes de você. — Arsen
esfrega o queixo. — O que tivemos juntos
acabou há séculos.
Bela maneira de manter o fogo aceso. Ou
uma obsessão. É uma pena querer tanto
alguém por séculos, quando eles não retornam
os sentimentos.
Eu o enfrento. — Como você poderia sentir
algo por ela? Ela é vingativa e cruel e não é uma
pessoa legal em geral. — E ela está claramente
querendo me pegar.
— Ela era diferente naquela época. Não
tenho certeza se ela quer te pegar. — Ele
responde minha declaração tácita sem pausa.
— Claudette sempre colocou a segurança do clã
em primeiro lugar. Tenho certeza de que ela tem
boas intenções.
— Ela está desesperada o suficiente para
roubar meu telefone e tentar dizer que estou
aliada aos caçadores de vampiros, então só
posso imaginar o que mais fará para recuperar
você.
— Ssh, — diz ele, inclinando-se e beijando
meu pescoço suavemente. — Ela nunca me terá
de volta. Desde o momento em que olhei em
seus olhos, soube que você era a única para
mim.
Quero dizer algo sarcástico, para
interromper o momento doce para o qual não
tenho certeza se estou pronta, mas ele pega
meu queixo com sua mão forte e me beija, me
oprimindo com seu carisma, e meu estômago
gira de desejo mais uma vez. Ele se afasta.
— Droga, — eu sussurro as palavras contra
seus lábios.
— A condenação é a recompensa do
pecador por uma vida bem vivida, — diz ele com
uma piscadela.
Bastardo arrogante.
— Bem, não viva a vida muito bem
enquanto eu estiver fora.
— Eu prometo. Não é nem metade da
diversão quando você não está comigo.
— Tenho certeza, — eu digo enquanto saio
do carro. — Vou te ligar.
Ele bufa uma meia risada e sai em alta
velocidade em uma corrida sobre rodas e um
total desrespeito à segurança no trânsito.
Apesar de tudo, não consigo imaginar
minha vida sem ele de alguma forma. Mesmo
enquanto luto contra o nosso vínculo, não
tenho certeza do que diabos faria sem ele.
Para adicionar uma cereja ao meu dia,
Demetri assustador já está no laboratório. Ele
está parado na geladeira, fazendo só Deus sabe
o que.
— Ei, — eu digo, enquanto deslizo minha
mochila sob minha estação de trabalho.
— Olá, Sasha, — ele murmura.
— Novidades?
— Não muito, — ele diz. — Você sumiu pelo
resto do dia de ontem. Eu preciso lembrá-la da
seriedade disso?
Oh infernos não. Hoje não, Satanás. Não
vou deixar que ele puxe minha corrente. —
Você preparou a lâmina que pedi para você
fazer?
— Sim, — ele diz com um rosnado. —
Tenho aqui mesmo.
— Então leve-o ao microscópio eletrônico e
vamos dar uma olhada.
— Não sei o que você quer encontrar. Você
já fez isso. E a lâmina é muito antiga.
Ele tem razão. Eu precisava olhar para
aquela lâmina ontem, mas não vou deixar que
ele me intimide.
Coloco algumas luvas. — Como eu disse,
não faz diferença para mim quem faz a
pesquisa.
Seu lábio superior se curva em um tom de
escárnio quando me entrega a lâmina com o
sangue de Annabelle. Eu pisco e o grande idiota
tropeça, a lâmina em sua bandeja de aço
inoxidável voando no ar. Não tenho chance de
pensar. Minha mão serpenteia e agarra o vidro
voador, e ele quebra quando minha palma se
conecta a ele. Que diabos? Não há como essa
lâmina ter quebrado assim quando a peguei.
Abro a mão para descartá-la, quando estilhaços
atravessam o Neoprene de minhas luvas,
raspando minha palma e dedos. Encaro
horrorizada quando a amostra de sangue
infectado da lâmina se mistura com a minha.
Porra.
— Saia! Sai fora do meu laboratório! —
Grito, enquanto vou para a pia da
descontaminação.
— Sinto muito, — ele oferece em voz baixa
enquanto me segue.
— Desculpe? — Eu digo incrédula. — Desde
o primeiro dia, você foi o assistente mais
incompetente que já vi e supostamente tem seu
doutorado. Onde você conseguiu seu diploma?
A escola de charlatanismo do Pato Donald?
— Não se preocupe, — diz ele. — Você deve
ficar bem. Seu sangue é a cura e você deve
estar imune.
— Deveria, teria, poderia, — eu digo raiva,
pegando uma toalha de papel do suporte com
tanta força que a coisa toda voa para fora da
parede. — Não há como voltar atrás. Saia e não
me deixe ver seu rosto no meu laboratório
novamente.
Seus olhos estreitam, mas ele sai da sala
enquanto pego uma pinça e puxo os pedaços de
vidro da minha mão. Enquanto faço, os
pequenos cortes selam, e não há chance de
desinfetar as feridas. Estou além de lívida. As
garantias de Demetri não fazem nada para me
confortar, enquanto olho para minha palma.
Quando Niko me drenou pela primeira vez,
eu era totalmente humana e tudo o que fazia
parte desse elixir no meu sangue provavelmente
já se foi há muito tempo. Agora que sou uma
vampira, não posso ter certeza de que não vou
contrair essa coisa maldita ou se uma mutação
não aconteceria e me tiraria do jogo. Eu poderia
estar tão maldita quanto Annabelle.
Meu estômago revira e penso
desesperadamente com quem posso entrar em
contato para me ajudar com essa situação
impossível. Não posso confiar no Niko. Ele
drenaria todo o meu sangue para conseguir a
cura que pudesse antes que eu estivesse
totalmente e irremediavelmente fodida. E não
posso ligar para Arsen, cuja resposta
provavelmente seria matar Demetri e continuar
trabalhando na cura a sério agora que eu
poderia estar infectada.
Pense, Sasha, pense. Fecho os olhos com
força, rezando para que um curso de ação
chegue até mim.
Olho em volta do laboratório, tentando
pensar em quem mais eu poderia confiar para
fazer a pesquisa comigo. Existe apenas uma
pessoa.
Jackson.
Niko ou Arsen não ficarão bem comigo
entrando em contato com ele sobre isso, mas
realmente não dou a mínima no momento. Pego
meu telefone e envio uma mensagem para ele.
Acho que estou com sérios problemas.
Preciso da sua ajuda.
CAPÍTULO 13

Jackson me manda uma mensagem quase


imediatamente.

Tudo certo? Como posso ajudar?


Encontre-me no laboratório da faculdade.
Estou indo para lá agora. Por favor, apresse-se.

Afundo contra a borda da minha estação de


trabalho, grata por essa pequena medida de
contato com a humanidade. Peço ajuda e um
amigo responde, pronto e disposto a fazer o que
puder por mim.
Eu não tenho certeza do que Jackson pode
fazer, mas ele é meu único elo com a
humanidade agora, e preciso disso para manter
um controle sobre minha sanidade. Devo poder
continuar trabalhando nos primeiros dias, pelo
menos, se tiver contraído o vírus. Acabei de
tomar um pouco do sangue de Arsen, e sua
força ainda está pulsando em mim.
Há microssegundos interminavelmente
longos em que espero sua confirmação de que
virá para o laboratório. Deus, o que o está
segurando?

Aguente firme. Eu estarei lá.

Instantaneamente, parte da tensão sai do


meu corpo. Jackson estará lá para me ajudar.
Vai dar tudo certo. Pego os cacos da lâmina que
me cortou, guardo-os em um recipiente e enfio
todas as minhas anotações e pesquisas na
mochila antes de sair.
Quando chego ao laboratório, não há
ninguém lá. Eu olho em volta, curiosa para
saber por que está tão morto, e então percebo
que é um fim de semana. Pelo menos não
teremos que nos preocupar com alguém fazendo
perguntas desconfortáveis sobre o que estamos
trabalhando. Espalho minha pesquisa,
tentando organizá-la para que eu pudesse
atualizar Jackson rapidamente quando ele
chegar aqui.
A porta do laboratório se abre com um
estrondo e Jackson entra, com a estaca de
madeira aberta. Assustada, não posso fazer
nada além de rir da sua pose de figura de ação.
Neste show de merda da minha vida, Jackson
oferece alívio cômico.
Seus olhos vasculham a sala
descontroladamente, procurando por perigo. —
O que? — Ele abaixa o braço. — Por que você
está rindo? Você disse que era uma emergência.
Onde está o fogo?
— E é, — eu digo. — Apenas não é o tipo
que pode ser resolvido com uma estaca... ainda.
— Ainda? — Ele me estuda com suspeita.
— Talvez mais tarde, — eu digo. Jackson
pode ser minha última esperança para evitar a
existência como uma dos mortos-vivos loucos.
— Essa coisa pode ter uma boa utilidade ainda.
— Eu levanto minha mão vampiricamente
curada. — Estou infectada.
— O que?
— Uma lâmina com sangue infectado
quebrou e cortou minha mão.
— Não parece cortada.
— Vampira, lembra?
— E o que você quer dizer com sangue
infectado? Você é uma vampira. Você não pode
ficar doente.
— É aí que você está errado. — Eu caio no
banquinho próximo. — Deixe-me explicar.
Existe um vírus circulando que torna os
vampiros completamente loucos. Meu sangue
parece ser a cura. Ou era... ou é. Não sei, mas
curou Niko quando ele me atacou, e tenho
tentado descobrir como isolar o que está no
meu sangue para usá-lo como vacina.
— Ok... — Jackson coça a cabeça. — Então,
como você foi infectada?
— Hoje, no meu laboratório, o cientista que
Niko trouxe para me ajudar fodeu tudo, o que
nos leva ao agora. Eu, sem saber se estou
infectada. O vírus pode ter sofrido mutação, ou
o que quer que estivesse em meu sangue que
curou Niko, poderia ter mudado com meu
vampirismo, ou qualquer uma das milhares de
maneiras que a biologia pode te ferrar.
Jackson me avalia, provavelmente
avaliando quanto perigo represento. Eu não o
culpo. Ele está fazendo seu trabalho,
protegendo a humanidade. — O que você quer
que eu faça?
— Me ajude a descobrir o que pode curar os
vampiros doentes. E me prometa que, se não
conseguirmos encontrar uma cura a tempo,
você não me deixará machucar ninguém.
— Não vou te matar, Sasha... não sou forte
o suficiente para sobreviver a isso, — diz ele.
— Eu não estou pedindo para você me
matar. Apenas me mantenha contida. Ou me
leve para Arsen. Ele vai se certificar de que
estou bem até que uma cura seja encontrada.
— Talvez esse vírus seja uma benção
disfarçada— diz ele. — Todos eles devem
morrer.
Eu afundo contra minha mesa
pesadamente e me seguro com meus braços
enquanto o ódio de Jackson me atinge como um
caminhão Mack. — Pare, — eu digo fracamente.
— Apenas pare o ódio. Deus, você sabe que a
maioria dos vampiros não consegue escolher o
que são.
— Isso não os impede de agir como animais
raivosos.
— Não, não impede. Mas se eu conseguir
encontrar uma cura para essa coisa e impedir
que os vampiros briguem entre si, talvez tenha
uma chance de descobrir como curar o
vampirismo também. Então aqueles que
escolherem ser humanos novamente podem ser,
e você pode continuar matando aqueles que se
recusam a deixar humanos inocentes em paz.
Meu pedido é insano. Quem pensaria em
curar o vampirismo? Alguém já tentou antes? E
se eles fizeram, falharam? Ou conseguiram
apenas ser silenciados?
Mas, novamente, há avanços na ciência
médica todos os dias. Novos processos são
criados, novos equipamentos construídos. Niko
e Arsen têm bolsos fundos e podem mais do que
comprar os melhores e mais recentes aparelhos.
— O que há de errado com você? — Ele diz.
Seu ódio se transforma em preocupação e o
peso no meu peito diminui. Maldição. Eu odeio
ser o equivalente vampiro de um anel de
humor.
— Pouco fato conhecido sobre vampiros.
Nós captamos todas as emoções e as sentimos.
A boca de Jackson se abre. — Eles o que?
— Sim. Bem, pelo menos eu sinto. Longe de
ser uma criatura indiferente, capto emoções de
outras pessoas com força total. Não há
barreiras, filtros, racionalizações.
— Uau, — diz ele lentamente, absorvendo
tudo. — Isso tem que ser um inferno.
— Na maioria das vezes sim, mas nem
sempre.
— O que estou sentindo agora?
— Principalmente você odeia minhas
entranhas, mas estou tentando não levar isso
para o lado pessoal.
— Eu não... — ele para e o reconhecimento
pisca. — Você sabe que é porque, oh inferno,
Sasha. — Amor e perda exalam através de suas
emoções, e levanto minha mão para detê-lo.
— Olha, eu entendo.
— Não, não entende, — diz ele. Uma
expressão torturada passa por seu rosto. — É
minha culpa que isso tenha acontecido com
você.
— Não, não é. — Como ele pode pensar
isso?
— Sim. É. Eu não dei ouvidos à minha
família. Fiz um amigo não caçador e coloquei
você em risco. Inferno, sabia que aqueles
vampiros estavam me observando, observando
todos nós. Só não contei com eles tentando me
punir atacando você.
É a minha vez de me surpreender. — Eles
atacaram o laboratório por sua causa?
— Acho que sim. Não tenho certeza, mas é
a única coisa que faz sentido para mim.
— Não. Não importa. Niko estava louco com
o vírus. Em fúria. Não é como se ele viesse aqui
especificamente procurando por você. Acho que
foi apenas o primeiro lugar em que ele
encontrou várias pessoas para comer.
Mesmo que Niko estivesse atrás de
Jackson, que diferença isso faz? As coisas são o
que são. Eu sou uma vampira e infectada com
um vírus assustador. Essa situação exige um
pensamento lúcido, não uma explosão de
emoções improdutivas.
— Você não está chateada comigo?
— Talvez mais tarde, quando tiver todo o
tempo do mundo. Agora mesmo, tenho que
encontrar uma solução para o meu problema e
rápido. E você, amigo, é escolhido como meu
braço direito.
— Ok, farei o meu melhor. O que acontece
primeiro?
— Preciso entrar em outro laboratório no
campus. Aquele em que guardam todo o sangue
doado. Deve haver algum sangue meu
armazenado lá que não esteja contaminado. Me
ajudaria tremendamente ter isso para fazer
testes. Até agora, tinha esquecido
completamente disso.
— E você quer que eu faça o que? Encantar
meu caminho para dentro do laboratório?
— Você poderia usar seu crachá para nos
fazer entrar? Convença o professor de que você
precisa examinar seu laboratório, porque pode
haver pistas dos assassinatos, e eu cuidarei do
resto.
— Você está pedindo muito. Não devo usar
minha autoridade enquanto estiver de folga, a
menos que seja uma situação de emergência.
Fiz uma careta para ele, porque agora ele
deve muito mais do que algumas desculpas
sórdidas. A boca de Jackson torce.
— E se conseguir entrar sem usar meu
distintivo?
— Sim, o que for preciso, desde que
consigamos meu sangue.
— Mais alguma coisa que você precisa de
mim?
— Apenas esteja aqui comigo, Jackson.
Esta é provavelmente a coisa mais difícil que
vou fazer, e não tenho muitos amigos ao meu
lado agora.
— Pensei que você tinha muitos amigos
vampiros agora.
Eu assobio puro e primitivo. — Eles não são
meus amigos e nunca serão meus amigos. Clãs
são para proteção de pessoas como você, que
querem matar sem entender, tirar vidas sem
saber. Eu sei que alguns vampiros são cruéis.
Eles não são humanos. Não mais. Eles são
diferentes e as mudanças que ocorrem quando
você se transforma são algo que você não pode
compreender, a menos que tenha passado por
isso. Portanto, não ouse fazer seus julgamentos
preconcebidos sobre o que é e o que não é
verdadeiro para mim.
É preciso todas as minhas forças para não
avançar sobre ele e puxá-lo do chão com a mão
na garganta. Seus pulsos jugulares e seu
coração aceleram e por um momento eu o vejo
como presa, como algo para saciar a sede
dentro de mim.
— Está bem, está bem. Entendi, desculpe.
Não há mais confusão com o resto dos
vampiros. Que laboratório tem seu sangue?
Eu digo a ele e ele assente. — Espere aqui.
Eu vou buscá-lo.
— Você não quer que te ajude?
Carrancudo, ele balança a cabeça e sai do
laboratório. Penso no que ele havia dito
anteriormente sobre como sabia que os
vampiros o estavam observando. Nos
observando. Não importa que ele pense que é
responsável pela minha mudança. Talvez ele
seja, ou talvez Niko realmente tenha entrado em
colapso após contrair o vírus, e o laboratório e
eu fomos os alvos azarados. Duvido que Niko
estivesse em condições de fazer distinções sobre
quem eu era na época. Mas os resultados são
os mesmos, e agora tenho que puxar um coelho
grande e gordo da minha pequena bunda de
vampira para salvar não apenas a mim mesma,
mas também à raça da qual agora sou membro.
Enquanto espero por Jackson, limpo a
lâmina quebrada que trouxe, pincelando
qualquer resíduo de sangue. Há uma boa parte
dela que permanece intacta, e noto que um lado
da lâmina está marcado como se tivesse sido
feito com um cortador de vidro. Isso é...
estranho. Pego a caixa de lâminas que trouxe
da minha mochila e olho através deles. Cada
um é claro e perfeito. Cada vez mais curioso.
Eu coloco algumas luvas e cuidadosamente
separo as duas metades da lâmina quebrada. O
sangue secou, mas se eu o reidratar, seria
capaz de confirmar se era realmente o sangue
de Annabelle na lâmina ou se o Dr. Idiota havia
se enganado quando preparou a lâmina com
defeito. Raspo o sangue do vidro, deixando-o de
lado antes de pingar algumas gotas de metanol
na lâmina. Enquanto deixo o líquido secar,
preparo um banho de nódoas onde possa
mergulhar a lâmina. Não sei o que espero
encontrar com este teste, mas qualquer
informação é valiosa.
Demora trinta minutos para a mancha
desaparecer, então pego meu caderno da minha
mesa para analisar as fotografias de diferentes
resultados enquanto espero. Nada. Isso é
frustrante. Os testes genéticos não mostram
marcadores para nenhum tipo de vírus
conhecido. A maioria dos vírus é tão pequena
que você precisa de um microscópio eletrônico
para vê-los. As bactérias são muito maiores e
podem ser vistas em um microscópio composto.
Mas eu não vi nenhuma bactéria nas lâminas
que Demetri havia preparado, mas ele é um
idiota, provavelmente cometeu um erro.
Uma batida na porta dispersa meus
pensamentos e minha cabeça gira, sem saber
quem esperar em um fim de semana. Jackson
desliza para dentro com dois frascos de sangue
em uma mão.
— Isso é tudo que eles tinham.
— Nós podemos trabalhar com isso. Vamos
começar. — Devia ter pensado nisso antes e
ignorado as perseguições em que o Demetri me
mandou. Talvez sem ele, e Jackson me
ajudando, eu possa fazer um progresso real.
Pego os frascos e lembro que o sangue de
Annabelle ainda está na minha mochila.
Normalmente, eu teria me preocupado com sua
viabilidade, mas descobri cedo que o sangue de
vampiro não precisa permanecer a uma certa
temperatura como o sangue humano.
Começo outra lâmina, desta vez com meu
sangue humano, concentrado na lâmina. Logo
esse a lâmina está em outro pequeno prato
recebendo a nodoa necessária, e eu preparo
outro com o sangue de Annabelle. Agora eu
tenho três lâminas, e sou como uma criança em
uma loja de brinquedos no dia de Natal,
dançando com alegria em antecipação.
O primeira lâmina está pronta e a coloco na
tela de visualização do microscópio composto. É
a amostra antiga de Annabelle e espero
comparar a mais nova que tirei ontem com esta
danificada de seu início anterior.
Quando eu movo meu olho para a lente, eu
fico olhando. Não pode ser. Não vi nada
parecido em nenhuma outra lâmina. Mas aí
está. Não é um vírus ou bactéria, mas um
parasita. Uma criatura viva de verdade e o que
é mais incrível, apesar de secar ao ar, balança
na lâmina, dando um salto para o lado. — Filho
da puta.
Os parasitas são maiores do que vírus e
bactérias e são mais nocivos. Enquanto você
vive com a maioria dos vírus e podemos matar a
maioria das bactérias, é difícil erradicar os
parasitas. Eles podem hibernar por décadas em
um corpo humano e causar danos neurológicos
a longo prazo se não forem tratados. E um
parasita é facilmente transmissível, o que faria
sentido em como se espalha por toda a parte e
rapidamente. Mas algo está me atormentando.
Eu não vi isso na lâmina antes e, mesmo agora,
não acho que teria, que poderia, ter perdido
algo tão grande.
Espero até a nova amostra de Annabelle
estar pronta. Com o quanto ela progrediu, sua
nova amostra deve estar repleta de parasitas.
Em vez disso, está completamente ausente
deles, apenas portando o vírus. O que me leva a
uma única conclusão. Existem dois culpados
matando os vampiros. Um vírus e um parasita.
E o parasita é novo.
Puta merda.
— Jackson! — Eu chamo. — Venha aqui.
Você precisa ver isso.
Minha emoção me domina. Este é o avanço
que tenho procurado. Mas não há resposta, e
quando verifico, Jackson não está mais no
laboratório.
Ele se foi.
Bem, inferno.
Quanto poderia esperar que Jackson
aguentasse? Ele é um caçador de vampiros. Sou
um anátema para tudo em que ele acredita.
Meu velho amigo pode se sentir responsável por
mim, mas em um certo ponto, tenho que
esperar que ele quebrará.
Pego meu telefone e digito uma mensagem
para ele.

Eu fiz uma descoberta. Mas o tempo não


está do meu lado. Prometa-me, que se precisar,
você vai acabar com isso quando eu estiver
muito longe.

Espero que ele me assegure que não vai me


deixar machucar ninguém, mas não há
resposta. Não posso culpá-lo por manter
distância, mas sua partida furtiva ainda dói.
Eu não tenho tempo para me preocupar
com Jackson e o que está passando pela cabeça
dele agora. Há um parasita crescendo em mim e
preciso encontrar uma maneira de erradicá-lo.
Permanentemente.
Antes que isso me mate.
CAPÍTULO 14

Excitação induzida pela adrenalina


misturada com uma dose inebriante de náusea
agourenta faz uma combinação do inferno. Meu
estômago está uma bagunça terrível e eu
gostaria de poder me acalmar, mas estou
chapada como um foguete agora em minha
descoberta. Meus próximos passos são
confirmar minha hipótese e identificar esse
parasita. Espero ter mais sucesso do que com o
vírus. Estou bastante certa de que um me
levará ao outro.
Mas isso não é tão fácil quanto parece,
porque eu tenho que fazer testes genéticos para
ver o que é. Até agora, essa coisa não é como
nenhum outro parasita para que possa
encontrar informações. É um mundo amplo por
aí com bactérias e protozoários que ainda
precisamos descobrir, mas acho estranho que
meus testes não estejam produzindo
informações construtivas.
Porém, por que eles fariam isso? Sim, a
ciência é inspiradora, mas a maior parte é
baseada em doenças e problemas humanos ou
animais. Até agora, ele se alimenta apenas de
um hospedeiro morto-vivo. Tento misturar a
amostra contaminada com uma amostra de
sangue humano, mas nada acontece. Nenhuma
transferência ou replicação. Então eu chamo
isso de parasita zumbi.
Mas não consigo deixar de me perguntar,
estou fazendo algo errado?
As doenças infecciosas não são minha área
de especialidade. Estou escrevendo, ou devo
escrever, uma tese de mestrado sobre tipos
raros de sangue. Todo mundo sabe A, O e B,
mas na verdade existem outros tipos raros e
esses me fascinam. Esse trabalho vai além do
meu conhecimento e a internet só me leva até
aí.
Vou ter que falar com Nikolai ou Arsen para
descobrir mais sobre quando e onde a doença
apareceu.
E mesmo assim, se a sorte for gentil e eu
obtiver a resposta, ainda tenho que descobrir
como matá-la e curá-la, e é disso que tenho
mais medo. Mesmo sendo um deles, não tenho
ideia de como tratar um vampiro. Eles, nós,
temos habilidades extremas de cura e alguém
tem que trabalhar muito para contornar isso.
Um pensamento horrível me congela onde
estou sentada na minha estação de trabalho.
Alguém tem que trabalhar muito duro para
contornar as habilidades de cura dos vampiros.
Puta merda. Não se trata de onde veio, mas
de quem veio. Porque se há uma coisa de que de
repente tenho certeza, essa coisa é projetada. O
vírus e o parasita. Eles são muito parecidos
para não serem e isso não ocorre naturalmente,
um truque aleatório do destino desencadeado
para os mortos-vivos.
Isto é guerra biológica.
Como diabos alguém encontrou um vírus
ou parasita que afetaria os vampiros?
Não tenho certeza se estou empolgada com
o meu avanço ou tão horrorizada que preciso
contar a alguém. Pego meu telefone do bolso
para ligar para Niko. Então paro.
Eu confio no Niko? Não, não confio. Nem
ninguém em seu complexo. E o assustador Dr.
Demetri Idiota trabalha para ele, e ele criou o
maior número possível de obstáculos para
retardar meu progresso.
Na verdade, depois que ele saiu, resolvi o
problema em poucas horas. O que teria
conseguido se ele não estivesse por perto para
me “ajudar”? Claramente, ele adulterou todas
as lâminas que preparou para mim. E foi ele
quem fez com que a lâmina voasse no ar e,
como a boa vampira que sou, só tive que
arrebatá-la. E com a pontuação no vidro, ela se
quebrou em pedaços e o sangue me infectou.
Então o que isso quer dizer?
Mas o que não faz sentido é um Nikolai
infectado que iniciou minha vida no caminho da
perdição. Ele estava furioso quando atacou o
laboratório e me transformou. Não faz sentido
que Niko tenha se infectado de propósito sem
cura. O risco era muito grande. E ele não sabia
que meu sangue mataria o parasita.
O Dr. Esquisito está trabalhando para
outra pessoa além de Niko? Se sim, quem
diabos é?
Não sei, e se entrar no complexo de Niko,
talvez não saia viva.
A voz desconfiada no fundo da minha
mente pergunta: Arsen faz parte deste plano?
Não. Ele não pode fazer.
Ele quer Nikolai morto. A rivalidade entre
clãs empurra sua sobrevivência para os limites.
Talvez ele ache que um parasita seria uma
maneira rápida e suja de eliminar seu rival.
Mas não. Arsen parece tão ignorante quanto
Niko sobre a causa da doença. E a irmã dele
está doente. Seja como for, ele não deixaria isso
acontecer com ela.
Minha cabeça gira e fiz todo o trabalho
genético que posso fazer.
Vai demorar algumas horas para o meu
último lote de testes genéticos processar, e
tenho que sair daqui, de qualquer maneira.
Pego uma moeda e a jogo. Niko ou Arsen.
Eu aperto a moeda porque não gosto do
resultado.
Niko.
Não preciso entrar na cova dos leões. Mas é
importante ver o rosto dele quando digo o que
descobri. Preciso de respostas, e não há nada
mais revelador do que olhar nos olhos de
alguém. Além disso, Nikolai gosta de mim, quer
eu queira ou não. E ele não teria lutado muito
para me manter viva e bem, ou morta-viva e
bem, apenas para me matar.
Só espero saber o que diabos estou fazendo.
Vinte minutos depois, o Uber chega aos
portões do complexo de Niko e diminui a
velocidade.
— Você tem certeza que quer que te deixe
aqui? — O motorista pergunta, olhando para o
portão formidável.
— Claro, — eu digo. — Eu moro aqui.
— Ok, então, — ele respira. — Faça-me um
favor e não me peça novamente.
— Claro, Menino Rude. Só para você saber,
sem gorjeta.
— Tudo bem, tanto faz.
Eu zombo e vou para o portão e bato
enquanto o carro ruge.
— Quem é?
— Diga a Niko que Sasha está aqui, e que
quero vê-lo.
— Sim, certo, — responde o Sr. Não Muito
Rápido. Eu preciso de um melhor conjunto de
amigos.
— Bem. Não conte a ele. Para dizer a
verdade, prefiro não falar com o idiota, mas
seus colhões, não são os meus na linha.
— Co... o que?
— Afaste-se do alto-falante. — É Niko e ele
não parece muito feliz.
— Sasha...
— Em carne morta-viva.
A campainha soa e os portões se abrem. Eu
ando pelo longo caminho de cascalho até a casa
que serve como fachada do complexo
subterrâneo que Niko construiu para seu clã. A
casa está escura, como sempre, mas a porta
está parcialmente aberta.
Empurro aberta e entro para o vestíbulo de
mármore.
— Niko?
Meus ouvidos de vampiro se agitam nas
sombras, mas ignoro os curiosos membros do
clã que vieram espionar a vampira
recentemente transformada de Niko. Outra
porta se abre misteriosamente à frente e é a
grande sala.
— Venha, — Niko chama.
Embora eu só queira falar com ele aqui, em
uma parte menos íntima da casa, entro na sala
grande. Pesadas cortinas cobrem as janelas não
deixando entrar nenhuma luz da tarde, e armas
penduradas nas paredes como pinturas finas,
intimidantes e avassaladoras.
Niko se senta em uma cadeira Rainha Anne
diante do fogo. Seu rosto está pensativo e
infeliz. Eu me importo? Na verdade, não. Estou
apenas medindo o nível de perigo em que estou
e agora está na zona vermelha.
— Estou feliz que você está aqui, coelhinho,
— diz ele com suavidade oleosa. — Você tem
alguma novidade sobre o vírus?
Eu o odeio se referindo a mim assim. E
penso em Demetri. Ele deve saber o que está
causando a doença nos vampiros, se trabalhou
tanto para me impedir de descobrir que não é
um vírus, mas um parasita. Se o próprio
funcionário de Niko não compartilha as
informações, por que devo?
— O vírus me ilude. Sinto muito, Niko.
— Você sente muito, — ele zomba
amargamente.
— Eu preciso fazer algumas perguntas. Isso
pode me ajudar a acertar essa coisa.
Ele acena com a mão, cansado. — O que
você quer saber?
— Quando seu clã começou a ficar doente?
Ele bufa. — Cerca de nove meses atrás.
— Quem foi o primeiro que ficou doente?
— Eu não sei. Você não pode obter essas
informações de Demetri?
— Suas respostas não são úteis. Estava
esperando uma contabilidade melhor de você,
— digo suavemente, o mais profissional
possível. — Quando você ficou doente?
— Pouco antes de atacar o laboratório no
campus. Acho que quase duas semanas.
— Então, desde o primeiro sintoma até o
momento em que você atacou o laboratório,
levou o quê? Quatorze dias? Nove dias?
— Quase isso. Isso ajuda você?
— Considerando que é um intervalo de
tempo bem grande, receio que não.
O braço de Niko serpenteia e agarra meu
bíceps. Ele é forte e a dor rasga minha carne
como uma faca marcando minha pele.
— Você está mentindo para mim, — ele
rosna.
— Pare, Niko. Você está me machucando.
— Pare,Niko. Você está me machucando—
ele zomba. Nikolai puxa meu pulso para sua
boca e suas presas brilham.
— Claro, faça isso, se você quiser ficar
doente de novo, — eu digo. Meu tom sombrio
indica que algo está seriamente errado.
— Por quê?
— Porque também estou infectada.
— O que você quer dizer? — Ele parece
genuinamente chocado, e estou começando a
pensar que ele pode não estar nos planos do Dr.
Morte para mim. Para os vampiros.
— Por que você não pergunta ao seu
cientista de estimação. É culpa dele.
Niko pula e se ergue sobre mim, a raiva
brilhando em seus olhos. — Você mente.
— Isso mesmo, Niko. Eu minto. Todo o
tempo do caralho. Porque realmente gosto de
você agindo como um idiota total para mim.
Porque realmente amo quando você questiona
minha ética profissional. E enquanto estamos
nisso, vamos falar sobre o quanto adoro o fato
de você ter me transformado em uma criatura
que se alimenta de pessoas e destrói minha
humanidade.
Niko passa a mão pelos cabelos. — Eu te
dei um presente. Eu não tinha que deixar você
viver.
Ele realmente acreditava nisso? Que
trabalho de louco. Quem escolheria viver assim
sozinho? Certamente não eu.
— É assim que você chama? Um presente?
Nós nos enfrentamos, desafiando um ao
outro a dar o primeiro movimento, enquanto a
tensão entre nós se arrasta pelas paredes da
sala. Ele poderia me matar ainda, arrancar
minha cabeça com sua força sobrenatural. As
rodas agitando em sua cabeça provavelmente
estão imaginando exatamente isso. Suas
sobrancelhas franziram.
— Você já terminou? — Ele diz friamente.
— Gostaria de ter terminado, mas agora
estou morrendo. Novamente. Então, obrigado
por isso também.
Ele me afasta com um forte empurrão, não
me dando ilusões sobre como ele se sente sobre
mim. — Você sabe que posso sentir o cheiro
dele em você.
Se me importasse, eu teria corado com a
menção dele ao meu sexo com Arsen. Mas não
me importo. Eu dou de ombros.
Ele rosna, um resmungo baixo e selvagem.
— Oh, sim. Não tive tempo de tomar banho.
Eu tinha trabalho a fazer depois de ter sido
infectada.
— Então vá em frente enquanto ainda
puder e encontre a maldita cura, como
prometeu. Se não, eu vou ter certeza de que
você sofra. Não há mais truques. Sem mais
atrasos, Sasha.
Esfrego meu braço onde ele me agarrou. —
Claro, Niko, não há problema. Como não estou
mais trabalhando com Demetri, devo conseguir
resultados mais rápidos agora que ele não está
mexendo nas minhas amostras.
— Claramente, o vírus já está afetando sua
mente se você acha que Demetri não está
trabalhando tão duro quanto você para
encontrar a cura para nossa espécie. Não
cometa mais erros. Tempo é essencial.
— Terei cuidado, posso prometer isso a
você.
— Claro que você vai. Como se você fosse
cuidadosa em seu laboratório. — Seu tom é
estranhamente calmo, considerando a situação.
Ele poderia estar envolvido com Demetri? Eu
assumi que ele sairia do controle depois de
descobrir que seu cientista de estimação
parecia estar trabalhando contra nós.
— Tudo o que você disser, Niko. Eu só vim
pelo resto das minhas anotações. Eu tenho
testes em execução no laboratório do campus e
precisava verificar algumas coisas. Alguns
minutos e eu estarei fora de seu alcance. —
Esperançosamente para sempre.
Não sei qual é o jogo final dele, ou o que ele
e Demetri ganham com isso, mas não vou ficar
para descobrir. Não quando ele parece que quer
jogar futebol com a minha cabeça.
CAPÍTULO 15

Minha cabeça fica zonza quando desperto


de outra noite sem dormir.
Faz dois dias desde que deixei o complexo
de Niko e, embora ele não tenha vindo atrás de
mim, sei que está por perto. Talvez seja minha
imaginação, mas não ajuda que esteja me
sentindo pior do que nunca. Fico cansada e
minha fome aumenta, mas estou exausta
demais para fazer algo a respeito, aumentando
minhas reações selvagens. E sei o que está por
vir. Eu já vi. Loucura pura e absoluta.
E agora, atravesso o campus até o prédio da
administração porque estou em uma missão.
Passo pelo estacionamento dos estudantes
onde estacionei o carro que Niko me comprou.
Dirigir não é tão divertido sem Arsen, e não
posso chegar perto dele enquanto estou
infectada. É bastante óbvio que não podemos
tirar as mãos um do outro, e como não sei se
esse parasita é sexualmente transmissível, não
posso correr o risco de expô-lo. Pedi ajuda, no
entanto, enviando-lhe um questionário por
telefone perguntando o que precisava saber.

Quem ficou doente e quando? Qual era a


coisa ou pessoa que eles estavam fazendo? Eles
participaram de sexo em grupo? Qual ou quem
foi a última coisa que eles comeram antes de
terem sintomas?
É claro que leva algum tempo para que os
primeiros sintomas se desenvolvam e as
perguntas são tiros no escuro. Se eu conseguir
encontrar uma coisa comum que reduza a
forma como é transmitida, isso pode levar a
uma pista sobre qual é a fonte do parasita e
talvez a fonte me mostre quem. Apenas me
chame de Nancy Drew5.
Os testes retornam resultados confusos e
apenas confirmam minha suspeita de que o
parasita seja projetado em vez de cultivado em
casa, como eu suspeito que o vírus seja. E isso
traz implicações assustadoras. Quem quer que
tenha projetado algo que possa destruir as
habilidades de cura não naturais dos vampiros
tem um conhecimento íntimo de nós. Tenho
certeza de que o criador e o líder não são o
mesmo. A mente científica por trás dessa
doença é verdadeiramente perigosa. Ele é a
verdadeira ameaça para todos nós.
Não estou satisfeita por ter começado a me
ver como uma vampira, e não como humana,
nem aprecio minha atitude cada vez mais
insensível em relação aos meus colegas
humanos. Sem meu trabalho para me manter
focada, aterrada, acho que ficarei louca.
Essa coisa de “assumir as emoções de
todos”, é uma chatice total. Sento-me no pátio e
sou atacada por uma dúzia de sentimentos
conflitantes. Num segundo, quero chupar o

5
Nancy Drew é uma série televisiva sobre investigações.
rosto do cara ao meu lado e no outro quero
arrancar a cabeça dele e ver o sangue dele
pingar no concreto. É desorientador ao extremo,
e encontrar equilíbrio é impossível. Eu gostaria
de saber como desligar as emoções de todos que
estão me atacando para que pudesse apenas
resolver as minhas emoções em paz.
Com a possibilidade de me transformar em
uma psicopata selvagem e estúpida surgindo no
horizonte, preciso acessar o laboratório
principal à noite, depois do expediente, se
quiser continuar trabalhando. Enquanto eu
ainda posso. Tarde da noite é a minha única
opção, e terei que pedir uma chave ao meu
orientador, já que sou uma estudante de pós-
graduação humilde.
Viro a última esquina e entro no prédio de
ciências onde está localizado o escritório do
meu professor.
— Professor Higby. Você tem um momento?
— Sasha, estava pensando em você, — diz
ele sem levantar os olhos da tela do
computador. — Estávamos conversando sobre
as tarefas do professor assistente para o
próximo semestre e, — Ele para quando olha
para mim.
Sua boca se contrai quando ele me olha de
cima a baixo. Apesar do dia quente do início de
outubro, uso um cachecol no pescoço, um
suéter pesado, um boné e um par de óculos de
sol. Eu não consigo me aquecer o suficiente, e
não sei se isso é um efeito da minha
transformação de vampira ou os efeitos do
parasita lentamente tomando conta do meu
corpo.
— Você está doente? Sua pele está mais do
que pálida.
Eu pego sua emoção, um pavor assustador.
Oh, meu Deus, ele suspeita que estou usando
drogas. Isso tirará minhas bolsas
instantaneamente.
— Não, quero dizer. Tenho anemia. É algo
que sempre tive e temos que observar com
atenção. Tomo suplementos de ferro para isso.
Mas a anemia é uma das razões pelas quais
tenho tanto interesse em trabalhar com sangue.
Meu vampiro interior ri da minha perfídia.
Anemia? Suplementos de ferro? Okay, certo.
Quando eu consegui ser tão boa em mentir?
Isso me faz desprezar a parte de mim que gosta
de superar esses humanos estúpidos. E odeio
pensar no professor Higby, que não foi nada
além de bom para mim, como um humano
estúpido. A arrogância faz parte da equação do
vampiro? Eu não acho que encontrei alguém
saudável que não tenha confiança suprema em
sua superioridade.
— Realmente? Você não mencionou isso na
sua inscrição na escola.
— Me perdoe. Não queria que o conselho de
admissão achasse que estava muito doente
para o trabalho.
Ele aperta as teclas no teclado. — Seus
professores não têm queixas até agora. Tudo
bem quanto às suas notas até agora, é por isso
que pensei que você se encaixaria bem em uma
aula de biologia para calouros. Mas agora não
tenho certeza.
— Vê? — Eu digo. — Meus medos se
realizando.
— Eu suponho, — ele diz lentamente. —
Bem, vou mantê-la sob consideração. É um
pouco cedo para pedir para você dar uma aula,
de qualquer maneira.
— Prefiro me concentrar em tirar minhas
principais aulas do caminho para poder
começar minha tese a sério no próximo outono.
Deus, sou muito boa em mentir. Eu nem
sei se vou estar aqui no próximo outono, e
muito menos no próximo semestre.
O peso dos meus problemas me atinge
então, e eu caio contra o batente da porta do
escritório de Higby.
— Sasha? Você está bem? Posso pegar uma
coisa para você?
— Sabe, realmente gostaria da chave do
laboratório, — digo. — Apenas uma.
O que acontece depois me surpreende. O
desejo em mim de conseguir essa chave é forte
e eu realmente espero que ele diga sim. Seus
olhos se arregalam, e ele estremece, e algo
parece quebrar ou reorganizar em seu cérebro.
— Claro. Não sei por que não lhe ofereci
antes. — Ele pega o chaveiro e tira uma chave.
— Você pega a minha. Vou pegar outro da
unidade física.
Eu pisco e pego a chave. — Obrigada,
professor Higby. Isso vai me ajudar muito.
— Estou feliz em ajudar, — diz ele
automaticamente, em um tom tedioso.
Acho que é um bom momento para sair de
cena, porque não sei o que ele fará quando sair
do que fiz.
O choque total desce sobre mim quando eu
saio para o corredor. Puta merda. Apenas
compeli um humano à minha vontade. Eu já
tinha visto Arsen e Niko fazerem isso. Inferno,
Niko fez isso comigo, mas não achei que um
vampiro tão novo quanto eu poderia fazer isso.
Deveria falar com Arsen sobre isso.
De repente exausta, afundo em um banco
no corredor.
E meu telefone toca com uma notificação de
texto. Com um suspiro, antecipo que é Arsen,
mas meu nariz enruga de desgosto quando vejo
que é Niko.
Não. Coloco o telefone de volta no bolso
quando ele toca novamente. Este deve ser o
Arsen.
Não. Niko novamente. Que diabos?
Enfio-o de volta no bolso, deixo o prédio do
meu orientador e quase corro pelo campus até o
prédio de ciências. O telefone toca de novo e de
novo, enquanto ignoro as chamadas do meu
criador para prestar atenção no prédio. Dane-se
ele e toda a comunidade de vampiros. Por que
devo trabalhar duro para salvá-los? O que eles
significam para mim?
Apenas Arsen significa algo para mim, e por
causa dele, sua irmã, e se eu não fizer algo para
ajudá-la, isso partirá seu coração.
Estou ferrada, não importa como eu olhe.
Na décima chamada, pronta para jogar a
maldita coisa na fonte do pátio, eu atendo.
— O que? — Esbravejo.
— O que? — Rosna Niko. — Você bateu o
carro?
O carro? É sobre isso que ele está
explodindo meu telefone?
— Não. Está bem.
— Você não devolveu.
— Não sabia que deveria.
— Você deveria, quando se reportou para
fazer o seu relatório.
— Escute, mestre, — digo o mais
desagradável que posso — estive ocupada,
trabalhando. Eu sei que você não sabe o que
isso significa, vendo que você é
independentemente rico e tudo, mas algumas
pessoas precisam trabalhar.
— Sim, eu sei. Foi por isso que lhe permiti
encontrar a cura para o meu povo.
— Você permitiu? Parece que me lembro de
um bom número de ameaças.
— Você não tem ideia do que é uma
ameaça, novata. Por ser tão nova, você não tem
ideia de quais perigos verdadeiros esperam por
você como uma vampira. É por isso que você
deve morar no complexo até aprender o
suficiente para não se matar. Você acha que
transformo qualquer um?
Essa observação atinge um nervo, e lembro-
me da confissão de Jackson sobre ele me
envolvendo.
— Você está dizendo que me escolheu? Por
causa de Jackson?
Silêncio.
— Niko, — eu digo em um rosnado de aviso.
— Escolho quem quero trazer para minhas
fileiras.
— Isso não é resposta.
— Não te devo respostas. Você me deve
obediência e lealdade.
Uma confissão total de culpa. Quero
arrancar-lhe a cabeça e dá-la de comer aos
peixes no lago de carpas de botânica. Não. Isso
é bom demais para o bastardo espertinho.
Quero alimentar os peixes com seus dedos
enquanto ele observa. Vou arrancar a cabeça
dele e deixar a carne ser despedaçada pelos
corvos. Então usar sua cabeça como suporte
para vela meu apartamento. Sim, isso parece
adequado. Só que não quero a cabeça dele perto
do meu apartamento.
Estou tão confusa.
É chato ser uma vampira. Muita coisa
minha quer reinar em retaliação, e não posso
porque ele é meu criador e líder de um dos
meus clãs. Se eu tentar fazer qualquer uma das
coisas que minha mente criativamente inventa,
sou a única que é carne morta-viva.
— Você vai voltar para casa, agora.
Quem diabos ele pensa que é? Meu pai. De
jeito nenhum. Eu não vou voltar para o
complexo de Niko. Deixe-o arrastar sua bunda
até aqui e me forçar a voltar. Essa é a única
maneira de entrar naquele buraco do inferno
novamente.
— Escute, seu bastardo, eu não vou chegar
perto, a menos que queira. E adivinha? Eu não
quero. O seu não é o único clã de que faço
parte. Tecnicamente, o clã de Arsen está mais
do que disposto a me aceitar. Então, pense
sobre isso, porque sei que ele está morrendo
por um motivo para lhe dar um tapa na cara.
Como se costuma dizer em Hollywood, não me
ligue. Eu vou te ligar.
Desligo o telefone mais agitada do que
nunca. E não me sinto bem e provavelmente
preciso comer. Jackson não cumpriu sua
promessa desta manhã de me trazer comida,
então acho que me resta cuidar de mim mesma.
— Você quer doar? — Diz uma jovem à
minha direita.
Eu olho para cima e vejo um veículo de
doação de sangue, um trailer convertido com o
nome da empresa de doação estampado na
lateral. No início, abro a boca para dizer “não”,
mas depois penso em todos aqueles lindos litros
de sangue fresco lá dentro e na minha
habilidade recém-adquirida de compelir.
— Claro, — digo em sua mão acenando.
Sasha Keleterina, você é uma horrível merda
de pessoa. Você sabe disso, certo?
Minhas presas doem e silencio minha
consciência antes de subir os degraus e entrar
no pequeno mundo médico onde humanos
infelizes doam seu sangue na vã esperança de
ajudar os outros. Um homem da minha idade
me diz para me esticar em uma cadeira
reclinável, e eu sorrio timidamente para ele.
— Sua primeira vez? — Ele pergunta.
— Doando sangue? — Eu digo. —
Dificilmente. Eu costumava dar mais do que
minha parte à causa.
Ele franze a testa enquanto dá uma
picadinha para tipificar meu sangue e o cheiro
sobe entre nós, e eu sorrio, esperando não
parecer um palhaço louco. A jugular do jovem
pulsa enquanto seu coração acelera de
nervosismo. Ele pode não saber por que, de
repente, seu coração começa a dançar uma
rumba, mas eu sei. A mente pode não
reconhecer quando um predador entra no
caminho de um ser humano, mas seu corpo
sempre sabe. E eu, definitivamente, sou um
predador.
Olho para o crachá de novo.
— James, — eu digo sem problemas. —
Gostaria de dar uma olhada em algumas
doações recentes.
Assim como fiz com a chave, enrolo meu
desejo em torno de duas bolsas de doação de
sangue, que desejo muito. Mas a mente do
jovem James não se parece com a do professor
Higby. James é jovem e flexível e não se cansa
de lutar contra as exigências acadêmicas
ridículas. Então eu tenho que empurrar com
mais força, a boca de James se contrai e seus
olhos se estreitam enquanto carrego minha
vontade com mais força.
— Eu... eu... — ele gagueja. Ele está muito
envolvido em combater a dissonância entre
enviar e negar.
— Está tudo bem, — eu digo suavemente.
— Sou pesquisadora. Preciso de sangue para o
meu trabalho.
Isso parece fazer sentido para o jovem
James, confuso, e ele abre uma porta da
geladeira atrás dele.
— Que tipo você quer? — Ele pergunta.
— O que você tem mais? — Eu pergunto.
Por mais que eu queira dizer: — Um de cada, —
sei que alguns tipos de sangue são mais raros
que outros, e estou tentando limitar minha lista
de “coisas de merda que Sasha fez hoje”, a um
número habitável.
— O? — Ele diz.
— O está bem. É o doador universal. — Eu
quase ri dessa piada de que apenas um vampiro
teria ouvido pela primeira vez, mas acho que
pode quebrar o feitiço que tive em James. E não
sei se consigo aguentar.
Ele me entrega duas bolsas que felizmente
ainda não esfriaram, e eu sorrio calorosamente
para ele.
— Não se preocupe em lembrar de mim, —
eu digo enquanto empurro a sugestão nele. —
Eu não sou tão memorável.
— Claro, — ele diz automaticamente. —
Você é esquecível.
Não gosto de como isso soa, mas os
mendigos não podem escolher. E vampiros
idiotas egoístas não podem ser ingratos. Eu
levanto e deixo a caminhonete com minha
refeição enfiada dentro do meu suéter.
CAPÍTULO 16

Estou em conflito com o roubo de sangue


do caminhão de doação, mas já estou
racionalizando.
Ninguém se feriu.
As pessoas não sentirão falta do sangue
que já doaram.
E estou com muita fome.
Depois de reduzir minha culpa com
desculpas esfarrapadas para o meu
comportamento de merda, tenho que encontrar
um lugar para comer, porque tenho certeza de
que beber direto de uma bolsa de doação como
se fosse uma bolsa de suco chamaria atenção
para mim. Meu cérebro enevoado não consegue
pensar em um lugar privado o suficiente no
campus. Nesta instituição de ensino superior,
as pessoas estão por toda parte, movendo-se
em um redemoinho vertiginoso de atividades.
Então me lembro da torre do sino no prédio de
ciências. As pessoas raramente vão para lá,
então vale a pena tentar.
Corro em direção a ela enquanto aumenta
minha expectativa pela minha refeição
sangrenta.
— Sasha! — chama uma voz familiar.
Oh, inferno. É o Jackson. Ele não pode, não
vai entender o que acabei de fazer. Apenas
enfatizará as crescentes diferenças entre nós.
Eu acelero, esperando que ele acredite que não
o ouço me chamando.
Mas talvez seja a coisa errada a fazer com
um caçador de vampiros? Seus passos ficam
mais altos na minha audição desenvolvida
sobrenaturalmente, e então sua mão cai no
meu ombro. Eu giro e ele esbarra em mim, o
que é a pior coisa que poderia acontecer. Eu já
posso sentir sua suspeita crescendo ao meu
redor.
Seus olhos se arregalam, enquanto sua
mão empurra contra o meu peito.
— Ei, você se importa? — Eu falo. —
Minhas partes femininas estão fora dos limites!
— O que é isso?
— O que?
— Não se faça de inocente. O que é isso no
seu suéter?
— Não é da sua conta. — Eu mantenho um
palavrão fora do meu vocabulário porque não
quero antagonizar meu melhor amigo. Eu só
quero que ele me deixe em paz pelos próximos
trinta minutos.
Ele coloca a mão dentro do meu suéter, o
que pareceria para qualquer pessoa como o
toque brincalhão de um namorado, mas para
mim é uma intrusão grosseira.
— Ei! — Eu protesto.
Ele se afasta e franze os lábios.
— Onde você conseguiu isso?
— O caminhão do almoço, — digo
inocentemente.
Ele olha por cima do ombro para o veículo
de doação de sangue e engole em seco.
— Diga-me que você não machucou as
pessoas de lá.
— Não machuquei as pessoas de lá. — Eu
cruzo meus braços. — Mais ou menos.
— Mais ou menos? O que você quer dizer
com isso?
Nesse momento, quero obrigar Jackson a
me deixar em paz, mas parece totalmente
errado fazê-lo. Talvez isso signifique que ainda
resta uma parte da minha humanidade intacta?
Pelo menos espero que sim.
— Ninguém está machucado fisicamente,
Jackson. Mas algumas células cerebrais podem
ter sido manipuladas ao longo do caminho.
Nada mais do que uma boa bebedeira na sexta
à noite.
— Jesus, Sasha, — ele xinga. — O que você
fez?
— Eu posso ter obrigado o técnico a me dar
isso. — A desaprovação de Jackson pesa muito,
e tento me afastar, mas ele agarra meu braço.
— Obrigado? — Suas sobrancelhas estão
mais altas do que já vi antes. — Cristo, Sasha.
Você sabe que é uma habilidade de nível
superior, não é? Como diabos você desenvolveu
isso?
— Isto o quê? — Eu digo estupidamente.
— Você sabe muito bem o que.
— Eu não sei nada do tipo. Tudo o que sei é
que queria a chave do laboratório e o professor
Higby me deu a dele, e então estava com fome e
vi o caminhão de doações tão...
— Você não pode simplesmente fazer as
pessoas fazerem coisas que não deveriam!
— Eu não posso? Bem, porque não? Não é
como se as pessoas me dessem o que quero ou
preciso. Inferno, você deveria me trazer comida
e não trouxe. Você me abandonou.
Acho que o meu lado egoísta não acabou.
— Abando...? Sasha, você está se ouvindo?
— Pânico se reúne em seu rosto bonito, e seu
medo se projeta em mim. Eu olho para ele,
realmente olho para ele como a presa que ele é.
A predadora em mim quer que ele corra, para
que possa persegui-lo e derrubá-lo
adequadamente. Quero reivindicar sua carcaça
como minha e tirar dela o que preciso.
Estremeço ao pensar em um Jackson
morto, e o que resta da minha humanidade está
horrorizada. Aparentemente, minha fome
homicida supera alguém, que apenas ontem,
importava mais para mim do que minha própria
vida.
— É melhor você sair agora, Jackson. Estou
com fome e talvez não consiga me controlar se
você continuar me assediando.
— Eu não estou...
Mas arqueio uma sobrancelha. — Na
verdade, como posso ter certeza de que você
não está aliado a Nikolai? — Eu sei que estou
forçando, mas não consigo me conter. — Quero
dizer, todas as suas melhores ferramentas
fazem exatamente isso... me assediar
indefinidamente... como Demetri.
— Como você pode sugerir isso? Niko é meu
inimigo.
— E ele é meu criador. — Enfatizo as
palavras através de presas cerradas. — O que
isso me torna para você, hein?
A expressão de Jackson muda como se eu
lhe desse um golpe fatal. Idiota que sou, forço-o
a ver a realidade da nossa situação, despindo-a
e devolvendo-a, sangrando.
Ele levanta as mãos. — Tudo bem, — diz
ele. — Beber de bolsas de sangue é uma boa
opção, se isso a impedir de atacar seres
humanos.
— Obrigado, capitão Óbvio.
— Sasha, esta não é você. Você vê isso,
certo?
Meu corpo palpita novamente e minha
necessidade de comer, de alimentar-me,
assume o controle de minhas palavras. — Ou
talvez você esteja finalmente me vendo como
sou agora. — Dou um passo em sua direção. —
Isso te assusta? Que sou uma vampira egoísta e
nojenta?
— Pare, — diz ele.
— Me obrigue.
— Que porra é essa?
Dentes à mostra, eu o empurro com uma
mão e ele tropeça para trás um passo.
Ele imediatamente pega algo debaixo da
camisa e percebo que minha fome irracional me
roubou o bom senso. Estamos congelados,
olhos focados um no outro, como se fossemos
estranhos perigosos e não amigos queridos. —
Tudo bem, pegue a porra das bolsas. Mas aviso,
se você machucar alguém, vou acabar com
você. Não terei outra escolha.
— Vá em frente e tente, — eu rosno.
Jackson, levanta a mão, se afasta
lentamente, ciente de que qualquer predador,
quando despertado, acha uma figura em
retirada uma atração irresistível.
Eu me afasto de Jackson, as lágrimas
molhando meu rosto, e esqueço meu plano de ir
para a torre do sino, beber e assistir os alunos e
professores cruzarem o pátio. Em vez disso, vou
para o meu apartamento negligenciado, um
pouco fora do campus. Nem penso no Audi caro
que pode ou não ficar no estacionamento do
campus porque não tenho um adesivo de
estacionamento e mais cedo ou mais tarde será
rebocado, o que provavelmente deixará Niko
irritado.
Bom. Eu quero isso.
É tudo culpa dele, tudo isso. Eu sou
desumana agora, pronta para comer meu
melhor amigo e consumi-lo como se ele fosse
uma refeição de cinco pratos porque algum
sugador de sangue insano tinha que me comer
no almoço. Não é justo. Não mereço isso, e tudo
que quero é a minha antiga vida de volta.
Nem me lembro de chegar ao meu
apartamento. Tudo o que sei é que meus passos
atingem as escadas de madeira com pancadas
fortes, e minhas mãos tremem como se
estivesse tentando tomar alguma droga
enquanto destranco a porta.
Deslizo pela minha correspondência,
espalhada por todo o chão, de onde a
proprietária a enfiou no slot da
correspondência, e caio no meu sofá. Cristo,
parece uma eternidade desde que estive aqui.
Pego as bolsas de sangue, mas não consigo vê-
las através da névoa das minhas lágrimas.
Eu fui perfeitamente horrível com Jackson
e tive pensamentos terríveis e irredimíveis, e
morro por dentro, revivendo-os em minha
cabeça. Querido Deus. No início, disse a mim
mesmo que não seria um monstro como os
outros, mas como posso saber? Veja como tratei
Jackson e o que pensei sobre ele. Como serei
daqui a cinquenta anos? Cem? Duzentos? Se
sobreviver a esse parasita. Em breve, tudo o
que sou pode ser perdido para uma loucura
feroz. Chega de Sasha, a aluna, a pesquisadora,
a salvadora da humanidade por meu brilhante
trabalho de pesquisa em tipos de sangue raros.
Okay, certo.
Eu deveria ceder a esta doença e deixar que
ela me leve enquanto ainda estou ciente de
minhas escolhas morais e implorar a Jackson
para acabar com minha vida antes que
enlouqueça. Eu daria as boas-vindas a uma de
suas estacas para que pudesse terminar esta
paródia de vida.
O cheiro do sangue me chama, então eu
trago uma bolsa para a minha boca e
automaticamente minhas presas descem e
cortam o plástico. Droga, é como beber suco de
canudinho, e os canudos são minhas presas e o
sangue dança na minha língua e escorre pela
minha garganta. Está um pouco frio e meu
próximo pensamento insano é que deveria
aquecer o próximo no micro-ondas. De forma
bastante lógica e fantástica, me pergunto se o
plástico da bolsa de doação aguenta o micro-
ondas. Talvez deva ligar para Arsen e perguntar
a ele.
Estou fodida ou o que?
Sinto-me um pouco melhor quando o
sangue atinge meu estômago, e alguma
aparência de pensamento normal retorna.
Ainda não estou feliz e o ressentimento é maior
que a porra de um planeta. Mas, pelo menos,
não quero atacar o infeliz humano mais
próximo e fazer dele meu almoço.
Agora não, pelo menos.
Uma batida na minha porta me tira do meu
devaneio, e eu atravesso cautelosamente a sala,
mas depois sinto o cheiro familiar do outro lado
da porta.
Jackson?
— O que você quer? — Eu digo através da
madeira.
— Deixe-me entrar, por favor.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Você comeu?
— Sim.
— Então está tudo bem. Por favor.
Estou quase com vergonha de vê-lo depois
do meu comportamento há menos de uma hora.
Mas mantê-lo fora seria a cereja do bolo do meu
tratamento anterior com ele. Com um suspiro,
abro uma fresta na porta.
— O que você quer.
— Trouxe presentes. — Ele levanta um saco
de papel comum e eu sinto um frisson do cheiro
de sangue.
— Onde você comprou esses?
— Deixe-me entrar e vou te dizer.
Abro a porta e ele entra. Não é como se ele
nunca tivesse estado aqui antes, mas ele
examina a sala como se fosse um lugar que ele
nunca tinha visto antes.
— Por que você está aqui?
Ele empurra a bolsa para mim.
— Vim me desculpar. Você está certa. Não
tenho cumprido minha parte do negócio e
minhas promessas. De agora em diante eu vou.
É apenas, você sabe, difícil, porque ando na
linha tênue entre...
— Seu trabalho diurno e noturno?
Ele concorda. — Sim. E é minha culpa que
você ficou um pouco louca comigo hoje porque
não fiz o que prometi. De tudo o que sabemos,
desde que os vampiros se alimentem, eles não
são levados à violência.
— Exceto pela doença.
— Sim. Exceto por isso. Você precisa
entender que me apresentou um dilema.
— Que sua melhor amiga agora é a coisa
que você mais odeia?
— Droga, Sasha. Pare de terminar minhas
frases.
— Você não está me dizendo nada que eu
não saiba. E você está certo. Eu sou um
monstro.
— Não, você não é.
— Sim, eu sou. Minhas percepções, todo
meu modo de pensar está mudando
diariamente de uma maneira fundamental. E
isso me torna perigosa. Não posso confiar em
mim mesma em torno de qualquer humano.
Ele pega minha mão e eu vacilo. O calor
dela penetra na minha e não sei o que dizer.
Quero que minha mão seja quente, se junte à
dele, mas a mão dele é tão estranha para mim
quanto a minha para ele.
Ele a afasta, seu rosto mostrando seu
desconforto.
— Eu sinto muito.
— Por favor, pare de se desculpar.
— É difícil não fazê-lo. Eu... perdi minha
melhor amiga e eu...
— Você pode dizer, — eu digo baixinho. —
Você quer chorar.
Ele acena com a cabeça.
— Mas garotos grandes não choram, não é?
— Acho que preciso abrir uma exceção, —
diz ele.
— Eu concedo.
Ele olha para cima, surpreso, e eu levanto
uma sobrancelha como se fosse minha
competência conceder tal coisa, e ele ri.
Eu fungo porque as lágrimas se acumulam
nos meus olhos também, e enquanto as
meninas grandes choram, não tenho tanta
certeza sobre os vampiros.
CAPÍTULO 17

Depois que Jackson sai, jogo as bolsas de


sangue no meu pequeno refrigerador e vou para
o laboratório de Niko. Não quero ver ele ou o Dr.
Judas Idiota, mas também sei que as
instalações de Niko estão melhor equipadas que
as do campus.
Livre da minha névoa de sangue, lembro-
me de quem sou e do que sou capaz. Este não é
o fim do mundo. Se alguém pode passar por
isso, sou eu. Mas ainda preciso tomar cuidado e
preciso trabalhar rápido.
Se estou combatendo um vírus e um
parasita, um forte o suficiente para superar
minha imunidade, é ainda mais perigoso do que
pensávamos. Existem apenas duas opções por
trás da chegada do parasita zumbi. A: Alguém
gosta de espalhar doenças e pensou: — Inferno,
quanto mais, melhor, — ou B: quem quer que
esteja por trás disso sabia da minha imunidade
ao vírus e, por sua vez, introduziu um parasita
na mistura, que nem mesmo eu posso resistir.
Não posso me arriscar a espalhar essa cepa
para mais ninguém e duvido que
encontraremos outro portador imune milagroso
como eu. Ou como eu fui. Essa foi uma chance
em um milhão para começar.
Então, estou entrando no modo de
quarentena. É a única maneira de limitar a
exposição.
A menos que já esteja lá fora. Porra, não
consigo pensar assim. O que quer que aconteça
comigo, pelo menos eu não vou espalhar isso de
bom grado para mais ninguém e causar um
apocalipse de vampiro. Sem mencionar
possivelmente machucando alguém quando
essa coisa come meu cérebro e me transforma
em um monstro selvagem. Pensamentos não
agradáveis.
Se Niko sabe que estou de volta aqui, ele
não diz, e não vou anunciar minha volta. Em
vez disso, concentro-me em preocupações mais
otimistas enquanto configuro minha área de
quarentena no laboratório. Felizmente, Niko
gastou todos os avanços adicionais que eu
havia recomendado e tem uma sala limpa
hermeticamente fechada. Um simples quadrado
de Plexiglás com pesadas portas de ventilação e
persianas de privacidade, inicialmente
destinado a observar com segurança pacientes
em quarentena e lidar com amostras delicadas.
Tem até seu próprio suprimento de ar e água
filtrada. Por mais que a doença se espalhe, ela
não sairá daqui. E, se eu ficar louca, também
não vou sair disso.
Montei uma cama pequena em um canto e
uma estação de trabalho no outro com minhas
anotações e qualquer outra coisa que eu possa
precisar para resolver isso. Pego um frigobar de
uma sala próxima para colocar meu sangue e
amostras. Pedirei desculpas mais tarde a todos
cujas bebidas deixei na mesa. Para qualquer
outra coisa, espero que Demetri seja capaz de
me passar o que preciso através da câmara.
Vou explicar o que está acontecendo sempre
que ele aparecer. Não que ele precise de uma
explicação. Ele provavelmente está emocionado
por eu estar doente, sentado em um canto
escuro e dedilhando os dedos como um vilão de
desenhos animados.
Tudo pronto, me fecho e caio de volta na
cama com uma pilha de anotações de pesquisa
e uma bolsa de sangue fresco. Não leio muito
quando meu celular vibra. Respondo assim que
vejo o nome de Arsen na tela.
— Ei, — ele diz enquanto eu atendo. —
Como você está?
— Bem, — eu minto, decidindo não trazer à
tona toda a questão do parasita zumbi viral.
Essa coisa de relacionamento que temos passou
por uma montanha-russa o suficiente
ultimamente sem essa bomba. — Você?
— Eu sinto sua falta.
Não sei o que dizer. Eu o quero, e a última
vez que nos vimos, saímos em bons termos,
mas tudo isso ainda é tão ambíguo e
complicado.
— Onde você está? — Ele pergunta, e não
tenho certeza se quero contar a ele.
— No laboratório de Niko.
Há uma breve pausa, e não tenho dúvida de
que o ciúme está lá novamente. Eu me
preocupo com Arsen, profundamente, mas não
tenho tempo para acalmar o ego dele, não com
a minha desgraça potencial iminente, e a
desgraça de uma raça inteira pairando sobre
minha cabeça.
— Você comeu hoje à noite? — Ele dirige a
conversa de volta para águas calmas.
— Fazendo isso agora, na verdade. Jackson
me trouxe uma pilha de bolsas de sangue mais
cedo. Aparentemente, ele tem contatos.
— Sério? — Arsen diz, parecendo
genuinamente surpreso. — Eu não sabia que os
caçadores de vampiros estavam inclinados a
fornecer refeições para seus inimigos.
— Sim, eu disse que ele é bom quando você
o conhece, — eu digo. — Ele é apenas um idiota
para vampiros.
— Exceto para você, aparentemente.
— Bem, o sangue é uma espécie de
suborno.
— Achei que havia um problema.
Voltamos a uma conversa confortável e
estou me sentindo segura o suficiente para
contar a ele sobre a ideia que Jackson discutiu
comigo na minha casa. — Ele quer trabalhar
conosco. Descobrir quem está por trás da
doença e, por sua vez, nos ajudar a derrubar
vampiros perigosos. Apenas aqueles que não
deveriam mais estar por perto.
— E quem decide quais vampiros não
merecem mais viver? — Arsen pergunta
intencionalmente. — Ele?
— É por isso que vamos ajudá-lo, — eu
digo, tentando não ficar na defensiva. —
Podemos ser a voz da razão. Se ele acha que um
vampiro está causando problemas, podemos
tentar resolvê-lo sem violência primeiro. E se
eles realmente são um perigo e não há outra
maneira...
— Eu não gosto disso.
Bebo meu sangue, pensando que também
não amo o plano, mas não tenho certeza de que
outro compromisso poderíamos fazer.
— Enfim, — eu digo. Eu deveria desligar,
mas acho reconfortante ao ouvir sua voz. —
Estou me sentindo mais confortável com toda
essa coisa de beber sangue.
— Sim?
— Estou bebendo essa bolsa como um suco
concentrado há uns cinco minutos. Só enfiei
um canudo lá dentro, sem sequer pensar no
fato de que isso costumava ser uma pessoa.
Estou apenas relaxando, bebendo sangue
humano como se fosse suco tropical aqui.
Maldito suco de frutas super vitaminado. Eu
me pergunto o quão difícil seria fazer o sangue
humano ter o gosto do Pacific Cooler6? Aposto
que eu poderia fazer uma fortuna com isso.
Arquive isso para mais tarde, quando não
estiver tentando curar uma praga monstro
mortal.
Arsen ri e o som traz um sorriso ao meu
rosto. Eu amo ser capaz de fazê-lo rir. Quem
sabe por quanto tempo ainda vou conseguir
ouvir? Não estou sendo completamente
pessimista, apenas realista. Minha vida de
imortal não é garantida. Pelo menos não mais.

6
Pacific Cooler é um suco natural, sem conservantes e produzido com ingredientes frescos.
— Vamos ver se alguém do clã tenta
esnobá-la depois que você os salvar da peste e
também lhes fornecer opções de bebidas com
sabor, — diz Arsen. — Eu disse a eles que você
era incrível.
— Bajulação o levará a qualquer lugar, —
digo a ele, sorrindo para o meu telefone.
— Que tal um encontro hoje à noite? Depois
que você terminar?
Fico quieta por um momento, enquanto
penso na maneira correta de me expressar sem
recuar cinquenta passos.
— Eu não posso, — digo a ele, o
arrependimento em minha voz é óbvio. — Estou
presa no laboratório. Literalmente. Estou
trabalhando com amostras na sala estéril e
estou lacrada até terminar.
Tecnicamente não é uma mentira. — Pode
ficar para a próxima?
— Sim, claro, — diz Arsen, tentando
esconder sua decepção. — Eu entendo. Salvar
toda a raça de vampiros é definitivamente mais
importante do que namorar. Leve o tempo que
precisar. Posso esperar. Eu tenho esperado, e
vou.
— Obrigada.
— Não é necessário agradecer, — diz ele, e
posso ouvir o sorriso em sua voz. — Você vale a
pena esperar.
Ele é realmente um cara legal, e ainda
temos grandes problemas para resolver. Eu
abro minha boca, considerando dizer a ele a
verdade, mas aqueles sentimentos sombrios de
antes retornam. Ele deveria ter a opção de
desistir, não deveria? Ele não deveria estar
esperando alguém que pudesse enlouquecer e
morrer qualquer dia.
Antes que possa tomar uma decisão, meu
telefone emite um sinal sonoro para que saiba
que recebi uma ligação.
— Espere, — digo a Arsen. — Tenho outra
ligação.
Verifico o número, meu nariz enrugando
quando reconheço o telefone de Niko. Aperto o
botão de recusar a chamada com prazer.
— Quem era? — Arsen pergunta.
— Niko. — Digo o nome dele como as
pessoas descrevem o que está em seus sapatos
logo depois de pisar em cocô de cachorro. —
Aparentemente, sua bunda preguiçosa não
pode andar sessenta metros.
— Você não deveria ter atendido a ligação?
— Arsen pergunta, e há uma dica de outra
coisa em sua voz. — Ele é seu criador e seu
líder agora.
— Niko pode chupar um pau, — eu digo. —
Eu não estou em dívida com ele. Só estou aqui
para encontrar a cura e ele sabe disso.
— Inferno, sim, lute contra o poder, —
Arsen ri. — Eu já te disse que você é fofa pra
caramba quando está chateada?
— Bem, você saberia, não é? — Eu o
provoco. — Acho que nem Niko é tão bom em
me irritar quanto você.
— Como posso resistir?
— Acho que você só gosta que gritem
contigo.
— Talvez goste. Talvez quando finalmente
conseguirmos esse encontro, possamos testar
essa teoria.
— Oh, sim? — Eu pergunto, a pele
aquecendo com a implicação. — Você vai me
pedir para pisar em você?
— Depende, — ele responde. — Se eu
comprar um espartilho de couro e saltos altos,
você os usará?
— Eu diria um forte talvez.
— Sim?
— Sim. Dependendo de como você é bom
em implorar.
Eu ouço uma risada baixa e gutural do
outro lado do telefone.
— O que você está vestindo? — Ele
pergunta, e eu sorrio e fecho as cortinas de
privacidade no interior da sala estéril. Eu
deveria voltar ao trabalho. Não é que não tenha
um negócio sério que precise ser resolvido, mas
essa pode ser uma das minhas últimas chances
de ter isso com Arsen, e desde que me tornei
uma vampira, me tornei mais egoísta. Então,
por um momento, não luto contra o instinto.
Desisto e deixo que o desejo egoísta me leve
aonde for.

Acordo várias horas depois com o som das


portas do laboratório batendo, sentando-me
bruscamente na minha cama, cabelos colados
ao lado do meu rosto e piscando em confusão
enquanto tento me lembrar de onde diabos
estou. Eu apaguei as luzes na sala estéril antes
de adormecer e com as cortinas fechadas, está
mais escuro. Vantagens do vampirismo: ainda
posso ver muito bem.
Ouço vozes discutindo no laboratório e fico
parada por um momento para ouvir quando
reconheço uma das vozes como Nikolai.
— ... três novos casos hoje, — diz Niko em
um rosnado abafado. — Se se espalhar muito
mais, teremos uma epidemia em nossas mãos!
— O que você esperava? —A outra pessoa
responde, e percebo que é Demetri. — Eles
estão se alimentando da mesma população
humana que todos os outros clãs infectados!
Devia haver alguns casos.
— Alguns casos controlados, — Niko
retruca. — Algo com o qual poderíamos lidar
imediatamente. Nem uma dúzia ou mais,
surgindo aleatoriamente! Se começar a se
espalhar dentro do clã, estaremos da mesma
forma que todos os outros.
— Eu disse que deveríamos ter esperado até
que tivesse uma vacina preparada.
— Teria parecido muito suspeito! Todos no
nosso clã recebem um reforço surpresa e, de
repente, são os únicos que não ficam doentes?
Além disso, foi você quem decidiu ficar
desonesto e desenvolver um parasita. Eu nunca
concordei com isso.
Eu saio silenciosamente da cama e
atravesso a sala limpa o mais silenciosamente
possível para espiar através de uma fenda nas
cortinas. Niko e Demetri estão do outro lado da
sala perto das portas, e a expressão de Niko é
assassina.
— Você não pode ter os dois lados! —
Demetri diz com um gesto exasperado. — Você
quer que alguns deles fiquem doentes ou não?
— Alguns, nem todos! Não o suficiente para
colocar o clã em risco!
— Sou cientista, não mágico! Não consigo
controlar para quem essa coisa se espalha!
— E ainda assim você pode criar um
parasita com habilidades semelhantes? Um
para infectar minha mulher?
— O parasita é mais potente e dez vezes
mais eficaz. Ela precisava ser controlada!
Niko bate com o punho. — Eu a controlo. É
seu trabalho controlar a outra situação e
mantê-la ocupada, não aumentar meus
problemas.
— Sasha é a única com o parasita. Se os
outros entrarem em contato com vampiros
infectados de outros clãs, ou se alimentarem de
humanos que tiveram contato com infectados,
eles podem se infectar. Não posso impedir que
isso aconteça até que tenha uma vacina.
— Então faça uma, — Niko exige com um
rosnado, inclinando-se para o espaço pessoal
de Demetri.
— Estou tentando, — responde Demetri,
sem recuar. — Eu estaria trabalhando mais
rápido se você não estivesse constantemente me
interrompendo para me repreender. E se não
estivesse sobrecarregado com seu bichinho de
estimação... eu não sou o idiota que escolheu
lançar um vírus sem uma cura preparada.
Niko agarra Demetri tão rapidamente que
quase não vejo, e joga o cientista do outro lado
da sala. Demetri bate na parede da sala estéril,
sacudindo as persianas e deslizando para o
chão. Eu saio rapidamente do caminho,
esperando não ser vista, mas Niko está com
raiva demais para perceber que está sendo
observado. Ele atravessa o laboratório, pega
Demetri pela garganta e o arrasta de pé,
empurrando-o contra o acrílico da parede da
sala estéril.
— Você esqueceu com quem está falando,
— diz Niko, sua voz perigosamente calma,
enquanto Demetri engasga e chuta. — Não
confunda minha tolerância com seu desrespeito
diário com dependência. Eu poderia arrancar
sua cabeça agora e encontrar uma dúzia de
outros homens para substituí-lo. Eliminar você
seria um inconveniente tedioso, mas
incrivelmente menor, ao qual você deveria ser
imensamente grato que atualmente não estou
com disposição para empreender. Você
desenvolverá uma cura. Você o fará o mais
rápido possível. E quando minha praga acabar
com os Draugur e nos tornar ricos e poderosos
além dos nossos sonhos mais loucos, você me
agradecerá por permitir que você faça algo
significativo com seu desperdício de existência
completamente inútil. Isso está entendido?
Demetri assente rapidamente e Niko o
libera, deixando-o cair no fundo da parede da
sala estéril novamente. Niko vai em direção à
porta, aparentemente terminado com a
conversa. Eu fico onde estou, escondida nas
sombras da sala estéril e escura, observando-os
através das cortinas.
— Ela é uma responsabilidade agora, — diz
Demetri através de sua tosse, a voz tensa. —
Seu animal de estimação, ela deve ser
queimada com os outros infectados. Faça pelo
menos isso e me liberte de sua interferência
constante. Ela já passou da utilidade de
qualquer maneira. Quando o parasita seguir
seu curso, você não poderá mais controlá-la.
Niko faz uma pausa por um momento e
depois olha para Demetri.
— Quando chegar a hora, — ele diz, — eu
vou lidar com Sasha. Se posso tolerar você,
então você pode tolerá-la um pouco mais.
Considere a presença dela como motivação para
terminar a cura. Afinal, não há nada que a
impeça de infectar você também, certo?
Com isso, Niko sai. Observo, tremendo,
enquanto Demetri lentamente se levanta, tenso
de raiva. Ele agarra um contador de
estabilidade, tentando se acalmar, depois cede e
arremessa o equipamento de laboratório mais
próximo à porta.
Eu o assisto fazer uma birra, aterrorizada
que ele me encontre onde estou me
escondendo. Mas uma vez que ele está
destruído o suficiente para acalmar seu ego, ele
pega seu casaco e algumas de suas anotações e
sai furioso.
Depois que a porta se fecha atrás dele,
afundo no chão frio da sala limpa, minha
cabeça girando.
Deus, não admira que tantos Draugur
estejam infectados e quase nenhum Baetal
tenha sido tocado.
Essa doença é falsa. Eu deveria saber.
Jesus, deveria ter descoberto no minuto em que
olhei para o rostinho presunçoso de Niko! Ou
pelo menos quando comecei a trabalhar no
maldito laboratório!
Eu sou uma idiota! Nenhum vampiro na
história do vampirismo foi tão burro.
Lágrimas picam meus olhos e pressiono as
palmas das mãos nas pálpebras para tentar
detê-las. Eu não tenho tempo para isso. Niko
está planejando minha morte, e a morte de
todos os vampiros Draugur, e de qualquer outra
pessoa infeliz o suficiente para atrapalhar seu
caminho. Ele nunca teria compartilhado a cura
com eles ou com qualquer outra pessoa. Pelo
menos não de graça. E agora estou carregando
algo pior. Um parasita dez vezes mais poderoso
que o vírus, pelo menos segundo Demetri, que é
o criador. Eu sou tão idiota por pensar por meio
minuto que Niko tem o melhor interesse de
alguém além do seu. Isso é muito pior do que a
traição de Arsen no Provokar. Porque sei que
Niko é escória e confiei nele de qualquer
maneira, como uma grande imbecil, burra,
ingênua e fodida.
Eu me forço a respirar fundo. Não posso
continuar me martirizando. Há muito o que
fazer. E então preciso me afastar de Niko antes
que ele possa me matar e, por extensão, todo
mundo que conheço. Pego minha bolsa, jogando
às pressas minhas anotações e amostras de
sangue. Eu preciso levar tudo que puder
comigo, porque não há nenhuma maneira de
voltar.
Um som se quebra e acho que ouço a porta
do laboratório se abrir novamente, mas quando
dou uma olhada, não há ninguém por perto.
Mova-se, Sasha.
Entro na parte principal do laboratório
onde Niko e Demetri discutiram e pego as
pastas que havia deixado no balcão. Pego
minhas coisas apenas para sentir um forte
golpe na parte de trás da minha cabeça que me
deixa de joelhos.
Há um breve arrastar de pés, então sinto a
picada do que reconheço ser uma agulha no
pescoço. O frio de algum tipo de líquido entra
em minhas veias.
Então o laboratório desaparece restando
nada além de preto.
CAPÍTULO 18

Minhas pálpebras tremulam e a luz pisca


em um padrão nauseante de claro e escuro,
como se alguém permitisse a uma criança
louca, sem restrições, acesso a uma lanterna.
Meu cérebro bate um solo de bateria e meu
estômago revira, e se comesse comida de
verdade em vez de sugar sangue para dentro do
meu estômago, seu conteúdo espirraria no
chão.
Um gemido desliza espontaneamente dos
meus lábios, e aperto minha cabeça, desejando
que os demônios da dor de cabeça se calem,
mas os idiotas ignoram meus pedidos.
Dane-se.
Alguém me largou descuidadamente em
uma superfície plana. A familiaridade
desgastada do colchão irregular e o aroma
estéril e acre de desinfetantes me dão uma pista
da minha localização atual, ainda estou no
laboratório daquele desgraçado do Niko.
A estocada no meu pescoço, minha reação
assustada e minha resposta desacelerada pelas
drogas se fundem em uma lembrança
convincente. Merda. Nem saí pela porra da
porta antes que alguém enfiasse uma agulha
em mim. Eu não tenho que perguntar quem fez
isso comigo porque só há uma pessoa que tem
tanta raiva de mim que faria essa manobra
maluca, o cientista contratado por Niko.
— Que diabos, Demetri? — Niko engasga.
— Eu deveria rasgar sua garganta onde você
está.
— Ela é um risco, Niko, — diz o mentiroso.
— Ela estava prestes a desaparecer com cada
pedaço deste laboratório em sua bolsa. E há
apenas uma razão... porque ela sabe tudo.
O baque de um corpo atingindo a parede e
o grunhido oco de Demetri atravessa o
laboratório.
— Você deveria ter tido o antídoto em
primeiro lugar, — rosna Niko. Uma ameaça
venenosa envolve sua voz, sinalizando que a
vida de imortal de Demetri está em sério perigo.
— Eu te disse. O parasita era necessário.
Ela tem que ser controlada. O vírus não poderia
pegá-la, e você precisava de algo que pudesse.
Eu realmente, realmente gostaria de poder
cortar sua língua traiçoeira e de merda.
— Não preciso de conselhos de um humilde
subalterno, — rosna Niko. — E quanto mais
espero por essa cura, menor a vantagem que
vejo em mantê-lo vivo.
— Me mate, — diz Demetri, com um medo
cheio de raiva tremendo em sua voz. — Seu
povo vai morrer sem mim. — Seu corpo trai seu
terror, liberando o aroma acre do medo,
corroendo a situação precipitadamente para
Demetri. — Eu fiz esse vírus e o parasita dela.
Eles só podem ser derrotados por mim, — diz
ele.
— O tempo está passando e, se você não
conseguir produzir, vou colocar sua cabeça na
minha lareira como a porra de um cervo
premiado? Entendeu? — Grita Niko.
Eu posso imaginar Niko olhando para ele
com sua sede de sangue animalesca
sombreando seus olhos azuis prateados. Eles
brilham com uma luminescência aterrorizante
que o marca como o mercador final da morte.
O medo de Demetri aumenta mais e me
atinge como uma onda de Maui de três metros,
me fazendo me contorcer na minha posição de
bruços. Mas mordo meu lábio porque não quero
que eles descubram que estou acordada. Com o
Dr. Muito Esquisito ficando todo afiado com
agulhas, estou captando a informação que ficar
no complexo de Niko não vai promover minha
saúde e bem-estar futuros.
Eu preciso sair. O mais rápido possível.
Como agora.
— Vá em frente, — Demetri empurra para
trás como se ele tivesse um par de bolas. —
Você quer uma pequena novata, com apenas
um mês de idade, segurando a chave da vida ou
da morte para seu povo? Isso vai funcionar
bem, se ela descobrir como parar o que a está
matando a tempo.
Ele ri e estou começando a me perguntar se
ele está infectado, porque seu comportamento
está além do óbvio.
— Sasha odeia você e sua espécie, e ela não
chegou a entender o fato de ser exatamente
como você. A putinha ainda pensa que é
humana, e é para esse time que ela jogará. Você
vê como ela mantém a companhia daquele
caçador de vampiros. Por que você acha que faz
isso? Porque ela é toda sentimental sobre seu
amigo humano? Então você é um tolo. Ela te
odeia porque você a transformou e continuará
odiando após o tempo em que você vire pó em
sua cova.
Niko assobia como um gato rosnando e um
baque surdo bate na parede.
— Você fecha sua boca patética sobre ela.
O cheiro de sangue libera, e Demetri geme
de dor. Só posso deduzir que Niko abriu seu
crânio, o que não poderia acontecer com um
cara melhor. A ameaça paira na atmosfera
carregada, e meus ouvidos supersensíveis
pegam os dedos de Demetri segurando uma
mesa de aço inoxidável.
— Você acha que me bater vai salvar
alguém? — Pergunta Demetri.
— Não, — diz Niko. — Isso apenas fornece
uma certa medida de satisfação. Considere isso
sua avaliação oficial de desempenho. Você está
pronto para produzir a cura e, se Sasha
precisar, você o fará. Com ela, sem ela, não me
importo, mas se você machucar um fio de
cabelo do que é meu, vou acabar com a sua
vida.
Demetri murmura: — Você está obcecado
por ela e, no final, isso o destruirá. Ela vai te
destruir.
— Está certo, doutor, — diz Niko. —
Estamos focados no que possuímos. No
momento, tenho o contrato de seus serviços, o
que lhe dá um certo valor para mim. Meus
filhotes são meus para possuir e comandar
porque eu os fiz. Assim como Claudette fez
você.
Essa boceta de merda. Sabia que ela fazia
parte disso.
Niko continua. — Eu tenho meu sangue
dentro deles e é por isso que os possuo. Eles
são mais queridos que as crianças humanas e
mais valiosos, porque cada um que faço
aumenta minha influência. Mal posso esperar
até que todos os outros caiam aos meus pés.
Querido Senhor, que megalomaníaco. Niko
e Claudette, os dois são farinha do mesmo saco
de merda. Demetri está correto sobre uma
coisa. Destruirei Niko na primeira
oportunidade.
Penso em quantas vezes me alimentei de
Arsen e me pergunto se sou levada a beber dele
para ocultar a influência de Niko em mim. O
sangue de Arsen está me emprestando
resiliência à dominação do meu criador? É por
isso que estou tão disposta a cuspir na cara de
Niko?
O pensamento de Arsen me ajudando a
resistir aos encantos duvidosos de Niko me
conforta enquanto me deito nessa ridícula cama
cuja armação de arame corta o colchão fino,
enquanto tento planejar uma fuga impossível.
Niko anda como um animal enjaulado em
torno de Demetri, os pés roçando o chão de
linóleo. Por que não notei seus passos
irregulares antes disso? Seu passo arrastado
descoordenado faz suas solas rangerem no
chão. Por mais que Niko goste de projetar uma
imagem de perfeição, ele não é perfeito.
O vampiro rosna para Demetri, e um
pequeno gemido escapa da garganta do homem.
Demetri finalmente percebe que Niko vai tirar
sua vida, quer ele consiga ou não. Ele não
receberá o dinheiro que Niko prometeu, e ele
sofrerá uma morte sangrenta e dolorosa porque
sua ganância o levou a lidar com o pior tipo de
monstro.
Dirigir esta casa para Demetri é uma
estratégia ruim da parte de Niko, e me pergunto
se ele percebe o preço que pagará por
aterrorizar o cientista. Se Demetri provou ser
alguma coisa, é que é oportunista. E odeio que
essa semelhança horrível de vampiro esteja
certa. Eu ainda me considero humana. Uma
humana pobre e doente que, com alguns
truques de biologia, pode consertar o que está
errado. A profundidade do meu autoengano me
surpreende.
Demetri, apesar de sua censurável moral, é
um filho da puta inteligente e até astuto.
Quanto tempo demorei para perceber que
Demetri estava deliberadamente mexendo
comigo para desacelerar o trabalho? Muito
tempo e me sinto uma idiota absoluta por isso.
Ok, sim, eu estava lidando com as mudanças
perturbadoras que meu vampirismo fez no meu
corpo e Jackson, meus trabalhos escolares e a
pesquisa que Niko exigiu de mim. Ainda assim,
estou no topo da minha classe, uma força a ser
reconhecida, e deixei o palhaço me enganar.
Agora, Demetri tenta aproveitar a pouca
influência que tem sobre Niko.
— Estou perto, — diz ele. — Eu prometo.
Vou criar a cura que vai fazer de você o herói. O
mestre de todos.
— Suas garantias são inúteis. Quero
resultados. — O tom de Niko expressa sua total
falta de paciência.
— Eu voltarei ao trabalho, mas primeiro
vou verificar Sasha.
— Não há necessidade. Ela está acordada e
nos ouvindo, não é, coelhinho?
Eu rosno.
Ele diz coelhinho da maneira mais irônica
possível. — Levante-se e deixe-me vê-la.
Eu levanto minha mão, exibindo o símbolo
universal do que ele poderia fazer com essa
sugestão.
— Eu devo? — Ele diz. — Pegar a sua
sugestão e te foder?
Com um gemido, me levanto. — Não me
sinto bem. Sua arma contratada bateu em mim
com coisas desagradáveis. Nem sei o que havia
naquilo.
— Acho que foi tranquilizante de cavalo,
com suficiente para matar um, — diz Niko.
— Você acha?
— Dei para ele no caso de você ficar fora de
controle. Aparentemente, ele tomou liberdades
com esse conselho.
Ele dá um passo em minha direção com um
olhar malicioso. Em um vampiro, é ainda mais
nojento do que em um humano, porque para
criá-lo, ele precisa torcer os lábios de maneira
não natural. À luz muito brilhante do
laboratório, é fácil ver onde a maioria dos
músculos de seu rosto não funciona mais. Ele
poderia ser um modelo em uma sessão de fotos,
todo congelado em uma beleza não natural,
botox permanentemente durante o resto de sua
vida imortal. Não acredito que alguma vez senti
algo além de ódio e nojo por ele. Mesmo
momentaneamente.
Sua mão agarra minha mandíbula e levanta
meus olhos para os dele. Estreito os meus, um
hábito humano.
— Você está com medo, — diz ele. — Por
que você está com medo?
— Você pode não ter notado, mas a
dominação arrogante não cai bem com as
mulheres.
Ele ri. — Como amo sua natureza ardente,
— Niko zomba friamente. Então ele me afasta e
me manda voando para a cama.
— Mas você não deveria ter isso de forma
alguma. Arsen te influenciou muito. É hora de
você aprender a se submeter ao seu mestre.
Cansei de jogar.
Ele vira as costas para mim, o que deveria
ter sido uma coisa perigosa. Mas não é porque
ele me chocou com seu movimento áspero, e
minha cabeça ainda lateja com a força de um
rock solo. Eu só quero rastejar na minha cama
e descansar deste pesadelo.
— Sasha, — Niko diz com a força de
comando. — Comece a trabalhar.
Niko volta para Demetri, que vejo agora com
sangue escorrendo da testa e um objeto de
metal pontiagudo está enfiado em seu ombro
direito. Seus olhos estão um pouco atordoados.
Ele vai viver. Infelizmente. — Parece que ele
precisa ser limpo antes que possa fazer
qualquer coisa, — eu digo.
Niko encolhe os ombros, mas acena com a
cabeça em direção à porta. — O banheiro do
outro lado do corredor terá o que você precisa.
— Eu? Você espera que eu o ajude?
— Você é a única incomodada por isso.
Eu levanto minha mão. — Não, obrigada.
Existem apenas alguns sabores de idiota que
não aprecio, e ele tem uma porra de estaca em
seu ombro.
— E? — Diz Niko sem preocupação.
— Eu não estou tirando essa coisa. Ele é
destro. — Aponto para o braço dele. — Ele vai
precisar desse lado para fazer qualquer coisa
que valha a pena. Precisa ser retirado para
curar.
Ele estica o braço para eu fazer as honras.
— De jeito nenhum. Estou uma bagunça e
não tenho forças para isso, no meu corpo ou no
meu estômago.
Niko suspira e entro no corredor. — Fique
aí, — ele ordena para mim enquanto ajusta as
mãos ao redor do objeto preso em Demetri.
Eu me inclino contra a parede e recupero
minha força. O maldito parasita está minando
tudo o que tenho e, entre eles e a tentativa do
Dr. Cabeça de Pau em medicina veterinária,
mal consigo passar pela porta. Mas eu lanço
um olhar por cima do ombro e vejo Niko se
divertindo em atormentar Demetri enquanto ele
o “ajuda”, e eu encontro minha chance.
Ele está distraído e estou do lado de fora, e
ele levará alguns momentos para perceber que
fui embora. Ele é arrogante o suficiente para
acreditar que suas ameaças e ações me
forçariam a obedecer. Não é provável, imbecil. E
sua arrogância é sua queda, porque isso o leva
a cometer erros. Erros como confiar em sua
filha vampira para obedecer a sua palavra
através do medo. Eu tenho medo, mas não é de
Niko.
Meus passos tropeçam sob meus pés
enquanto caminho pelo corredor, e meu peito se
agita de irritação. Mas não tenho tempo para
me confortar. Niko não se distrairá por muito
tempo.
Não digo nada enquanto caminho até a
porta, mas vejo um chaveiro familiar pendurado
com os outros na porta. O Audi. Niko o
recuperou depois de tudo. Bom. Vou reivindicar
isso como meu prêmio pelo sequestro de Niko.
Nem me importo que quebre a grade
brilhante e a frente quando corro pelos portões
de ferro do complexo de Niko.
CAPÍTULO 19

É noite e as estrelas brilham como rodas de


fogo no céu, assim como Vincent Van Gogh as
viu mais de um século atrás.
Talvez sejam meus olhos de vampiro que
captam mais intensidade e movimento. Eu não
sei. Mas isso me faz pensar naquele pobre
homem lutando contra os demônios em sua
cabeça enquanto criava pinturas magníficas
cheias de cor e luz, enquanto as rodas do carro
de alta potência giravam embaixo de mim,
rasgando a estrada.
Tenho minhas próprias criaturas da noite
para lutar.
Oh, Niko ficará lívido, mas tenho prazer
nisso. O que ele fez é imperdoável e ele está
errado, muito errado, em dar qualquer medida
de confiança a Demetri. Será a morte do Baetal
e provavelmente do Draugur se ele o fizer.
Você vê, eu cometi um erro. Posso
racionalizar que precisava de cautela para
escapar do complexo de Niko viva, ou da droga
de Demetri ou que me sinto um lixo por causa
do parasita, mas esqueci minha bolsa e minha
bolsa tinha minhas anotações. Ou pelo menos
tinha antes de Demetri me nocautear.
Primeira prioridade, tenho que me salvar.
Eu sei que isso soa uma merda e totalmente
egoísta, mas logicamente é a única coisa que faz
algum sentido. Eu sou a única esperança que
resta agora. Demetri e Niko têm outros planos
nefastos. Planos que tenho que parar.
Pior ainda, percebo que meu domínio do
pensamento racional está diminuindo porque
não consigo reunir as cadeias genéticas que
identificam o possível culpado. E tenho que
descobrir porque é a única maneira de
desenvolver uma droga que poderia matar essa
coisa sem acabar com a vida do hospedeiro ao
mesmo tempo. O hospedeiro sendo eu. O tempo
está ficando curto. Minhas faculdades racionais
estão escorregando e se não tiver isso resolvido
antes de ter que ser acorrentada a uma cama
como a irmã de Arsen, estaremos todos mortos.
Eu tenho que voltar e realmente não quero
fazer isso sozinha. Há apenas um lugar onde
posso procurar segurança e obter a ajuda
necessária para recuperar meu notebook. Mas
isso não impede que meu interior se aperte
enquanto paro nos portões da propriedade de
Arsen. Só espero que ele possa me ajudar. A
política dos vampiros está repleta de regras
difíceis de obedecer.
Essas mesmas políticas de vampiros
ocorrem quando recebo a dor de sempre à
porta. É absolutamente uma pena que,
tecnicamente, esteja no limbo dos membros do
clã, o que significa duas vezes mais absurdo,
enquanto eles descobrem se eu tenho o direito
de entrar em seu espaço.
Balanço enquanto espero Arsen chegar a
uma das convocações de seu lacaio. Droga, se
não descansar um pouco, todos podemos
esquecer que eu encontrarei uma cura. Não
sobrará nada de mim para fazer o trabalho.
Tropeçando, encosto na parede e coloco minha
cabeça na pedra fria, grata por essa pequena
graça.
— Sasha? — Uma voz familiar rouca e
melosa retumba de preocupação.
— Oi, Arsen, — eu digo levantando minha
cabeça. — Eu me peguei dirigindo pelo bairro e
disse: “Puxa, que vampiro bonitão posso visitar
agora”? e pensei em você.
Ele coloca um braço firme em volta da
minha cintura e puxa minha cabeça em seu
peito. A cara colônia de Arsen me envolve e
seus braços fortes me seguram.
— Você está bem?
— Estou agora.
— Você parece fraca. Está com fome?
Eu encolho os ombros. — Se estiver, não
adianta muito.
Arsen procura meu rosto e sei que tenho
que contar tudo a ele. Suas sobrancelhas se
contraem em consternação enquanto ele estuda
as mudanças na minha tez e o cansaço na
minha postura. Estou ciente de outros
vampiros nas sombras, especialmente
Claudette me observando. Eu quero gritar
“prostituta traidora”, mas não vai adiantar nada
agora. Ela gerou Demetri, mas ela faz parte do
plano maior ou apenas uma pequena porção?
Não condenarei mais ninguém até ter certeza.
Os vampiros não tendem a seguir todo o lema
“inocente até que se prove o contrário”. Se eles
acreditam em algo com convicção suficiente,
você está morto.
— Podemos conversar em particular?
— Claro.
Ele me leva pela mão até as escadas e,
quando olho para baixo, elas oscilam.
— Você deveria ter me dito que estava
doente, — diz ele.
— Eu não queria te preocupar.
— Notícia de última hora. Cada momento
que estamos separados eu me preocupo com
você.
É incrivelmente doce e fico ainda mais
impressionada quando ele me tira do chão e me
carrega escada abaixo. Logo ele me coloca em
sua cama. Então senta-se na beira e puxa uma
colcha até o meu queixo.
— Como isso aconteceu? — Ele faz uma
careta enquanto fala.
— Um a lâmina quebrada. Contato direto
através de cortes na minha pele. Mas aqui está
o problema. Esta doença que tenho é um
parasita, não um vírus.
— Um parasita?
— Eu vi em um a lâmina do sangue de sua
irmã. — Espero que ele se afaste de mim ou
coloque distância entre nós, mas ele nem
sequer se encolhe por estar perto de mim.
— Annabelle tem um parasita? Isso é o que
a está matando?
— Não. — Balanço a cabeça. — Sua nova
amostra estava limpa. Alguém infectou a lâmina
que toquei. O parasita foi feito para mim. Para
eu pegá-lo.
Os olhos de Arsen se arregalam e sua voz
fica a uma oitava do perigoso. — Quem?
— Demetri, o cientista de Niko.
— Nikolai faz parte disso?
— Sim.
— Mas o Baetal... também existem
vampiros doentes em seu clã. Isso não faz
sentido.
— Ele quer o poder. O poder de controlar os
imortais com a morte.
Arsen se levanta e caminha. — Filho da
puta. — Ele dá voltas na cama. — E acho que
esse parasita é pior que o vírus?
Eu concordo. — Com um vírus, ele mata o
hospedeiro ou os anticorpos do hospedeiro o
matam. Demora cerca de duas semanas para o
corpo humano se reunir e produzir anticorpos
suficientes para matar um vírus. Mas o sistema
imunológico humano não é tão eficiente com os
parasitas, e quanto maior o inseto, mais difícil é
matar. E quem sabe que tipo de sistema
imunológico os vampiros têm?
— E esse vírus e parasita são do mesmo
fabricante?
— Sim.
— Mas você é imune ao vírus.
— Apenas o vírus. O parasita foi projetado
para contornar minha imunidade. Ele me
queria infectada.
— E não há cura esperando por nós no
Niko, certo?
— Não. Não existe.
— Então o que você está dizendo?
— Estou dizendo que estou doente com um
parasita dez vezes mais poderoso que o vírus, e
se você não me ajudar a voltar ao laboratório e
pesquisar, vou morrer. De verdade, desta vez.
— Que tal um hospital humano?
Poderíamos misturar sangue com um desses
medicamentos que elimina parasitas. Vale a
pena arriscar.
— Mas esse parasita não está ocorrendo
naturalmente. Alguém o projetou especialmente
para matar vampiros. Para me matar.
— Como você descobriu isso? Seus olhos
encontraram os meus, e eu me preocupo que
muita raiva ferva embaixo de sua fachada fria.
Eu não quero que ele saia meio louco atrás de
Niko e Demetri.
— Eu ouvi Niko e Demetri quando
pensaram que eu estava dormindo. Niko o
encarregou de criá-lo.
— Niko, — ele assobia. — Então por que ele
se deixou ficar doente se não tem a cura?
— Niko esperava que Demetri entregasse
uma cura imediatamente. Ele não o fez, mas
prometeu que o teria em breve. Ele nunca
entregou, provavelmente porque temia que Niko
o matasse quando o fizesse. — Não digo em voz
alta, ou talvez porque ele não possa fazer uma.
— E esse bastardo permitiu que ele saísse e
infectasse todos nós? Até o seu próprio povo?
— Que melhor maneira, — digo
amargamente, — de afastar as suspeitas de si?
Arsen percorre a sala novamente, cada
passo atingindo o chão de forma sólida e com
propósito.
— Aquele bastardo. Pedaço de merda total e
completo. Eu vou matá-lo. Ele não merece
menos. — Raiva pura irradia de Arsen e,
embora não o culpe, isso não vai nos ajudar.
— Arsen, — digo bruscamente. — Foco.
Precisamos nos concentrar em descobrir que
tipo de parasita é esse. Se me salvarmos, posso
tentar salvar todos os outros.
— Claro. — Ele acena com a cabeça, seu
foco em algum lugar distante. — E como nós
fazemos isso?
— Preciso de minhas anotações e as
amostras do laboratório de Niko.
— Eu vou quebrar seus portões e pegá-los
eu mesmo.
— Na verdade, — eu digo timidamente. —
Eu já quebrei os portões quando deixei o
complexo.
— Você fez?
— Verifique o carro que dirigi.
Arsen me lança um olhar depreciativo, mas
pega o telefone e abre um aplicativo que mostra
os feeds de segurança em toda a casa. Eu olho
para ele.
— O que? Você observa todo mundo?
— Somente quando preciso, — diz ele. —
Droga, você destruiu a parte da frente, — Ele
mostra a foto do carro e eu vislumbro minhas
tendências destrutivas. O para-choque
dianteiro pende torto e apenas metade da grade
permanece.
— Ele funcionou bem. Sem tremores ou
estrondos. É um carro de construção sólida. E
Niko disse que ninguém quer dirigi-lo de
qualquer maneira.
— Hmm, — diz ele. — Vou ter isso em
mente quando chegar a hora de emprestar a
você um dos meus carros. — Arsen brinca
enquanto coloca o telefone de volta no bolso. —
Talvez eu precise comprar um carro para você.
— Um o quê?
— Como um Cadillac. construído como um
tanque. Praticamente indestrutível.
— Vou escolher meus próprios carros,
obrigada. Eu mal consigo me segurar dirigindo
um Audi.
— Entendo, — diz ele com um brilho de
alegria nos olhos. — Talvez eu tenha que
comprar um Hummer para você. Dessa forma,
você pode quebrar portões à vontade e não
arriscar a vida e os membros. Essa parece ser a
opção mais segura.
Eu gosto de brincar assim. Isso me dá paz,
pensando que as coisas podem ser como eram.
— Não tenho certeza se um veículo militar
sofisticado está na moda ou é rápido o
suficiente para fazer compras em shopping
centers. Talvez eu precise complementar minha
renda com uma vida de crime, já que é bastante
óbvio que não serei uma pesquisadora científica
de ponta.
— Quem disse isso? — Arsen pergunta,
enquanto se deita ao meu lado e me reúne em
seus braços. — Parece que precisamos de
alguém que possa fazer pesquisas para
vampiros. Se um vampiro tenta esse absurdo,
quem diz que outro não vai? Existem muitas
facções entre os vampiros. O Baetal, o Draugur,
o Istria e o Kresova.
— Há outros dois clãs?
— Oh, sim, embora a rainha Kresova afirma
que tem domínio sobre todos nós, ou pelo
menos deseja.
— Eu gostaria de vê-la.
— Não, você não gostaria. Ela tem fome de
poder, cruel e implacável. Alguns a chamam de
louca. Nós a evitamos o máximo possível.
— Eu me considero avisada.
— Bom, — ele murmura, apertando seu
abraço sobre mim. — Eu senti sua falta. Não
gosto quando você fica longe de mim por tanto
tempo.
— Não demorou tanto tempo.
— Para mim demorou.
Não está tudo consertado, mas agora seus
braços são a única coisa que me impede de me
afogar no medo de que eu possa falhar e nunca
me recuperar.
— Você? Grande, mau, vampiro imortal?
— Sim. Isso é tão difícil de imaginar?
— Sim. — Eu ri. — Mas estou feliz.
— Bom.
— Então você vai me ajudar. Me ajude
antes... — paro porque minhas palavras ficam
presas na minha garganta quando uma imagem
da irmã doente de Arsen brilha em minha
mente. Como posso sujeitá-lo a ver outra
pessoa de quem ele gosta cair na loucura? Não
posso deixar isso acontecer.
— Claro, eu vou ajudá-la. Você está fazendo
o possível para ajudar, e eu farei o mesmo. —
Arsen se inclina sobre mim e gentilmente roça
meus lábios nos dele.
— Você não deveria. Nós não sabemos
como...
— Sasha, cuido da minha irmã, ajudo
pessoas doentes ao meu redor e não tenho
medo.
— Devemos testar seu sangue. Agora que
sei o que estou procurando...
— Sssh, — diz ele. — Vamos conversar
amanhã depois de descansar um pouco.
— Você não dorme à noite.
— Eu posso fazer uma exceção para manter
uma novata rebelde na cama para seu próprio
bem.
— Novata?
— Sim, — diz ele, antes de me beijar
novamente deslizando seus lábios ao longo da
varredura da minha bochecha e traz seus lábios
aos meus. Ele hesita e olha tão profundamente
nos meus olhos que eu tremo.
— Tudo bem? — Ele pergunta.
Isso é tão diferente do nosso último e
exigente encontro, em que ele saqueou meu
corpo completamente. Agora, em meus braços,
há um homem terno, procurando o lado mais
suave do que podemos compartilhar.
Eu aceno com a cabeça e me inclino mais
para ele.
— Sasha, quero que você saiba que tenho
toda a confiança no que você pode fazer. Eu sei
que você encontrará uma cura para o nosso
povo e para você. E quando isso acontecer,
quero você aqui, ao meu lado, no meu clã.
— Arsen?
— Sim?
— Cale a boca e me abrace.
— Sem beijo? — Ele parece decepcionado.
— Depois que eu encontrar a cura, haverá
muitos beijos. Agora, porém, abraçá-lo é o
presente mais precioso que você pode me dar.
— Eu ofereci a você um Cadillac e um
Hummer, e tudo que você quer é que a abrace?
Estendo a mão e afasto uma mecha de
cabelo na testa dele.
— Sim. É mais do que quero. É o que
preciso.
— Garota esperta, — diz ele, aprovando.
— Sim. É o que eu continuo dizendo.
CAPÍTULO 20

Eu pedi a Arsen para ajudar, mas ele não


sabia completamente a extensão do que tinha
em mente.
Sei que ele vai odiar. Lembro-me do que
Arsen disse sobre a política dos vampiros e,
embora eu seja uma novata, sei que os
vampiros são muito cuidadosos em honrar as
terras do clã e a presença de estranhos neles.
Mas preciso entrar no complexo de Niko e
preciso mais do que apenas a ajuda de Arsen
para fazer isso.
Minhas mãos tremem quando ligo para
Jackson do telefone de Arsen. Não nos falamos
desde que ele ofereceu sua ajuda, e o Senhor
sabe que provavelmente está tentando falar
comigo.
— Olá? Sasha! — Ele está praticamente
gritando. — Onde você está? Você está bem?
— Sim, estou bem.
— Ótimo. Onde você está? Eu vou buscá-la.
— Bem, tenho algumas coisas para
conversar com você, então se você puder vir na
casa do Arsen...
— Casa do Arsen? —A linha fica muda e
espero que ele conclua seu pensamento. —
Você está de brincadeira?
— Não. — Balanço a cabeça, mesmo
sabendo que não pode me ver.
— Você espera que eu entre em uma casa
de vampiros?
— Vai ficar tudo bem. Arsen irá protegê-lo
aqui, e o que tenho a dizer, preciso dizer a vocês
dois.
— Arsen? O líder dos Draugur, me
protegerá? Você passou no teste de
Rorschach7?
— Por favor, Jackson. Preciso que você
confie em mim.
Jackson suspira antes de me dar uma
resposta e nesse espaço entre minhas palavras
e as dele, temo que me rejeite. E eu não posso
ter isso. O sucesso do meu plano depende de
ele fazer a sua parte.
— Tudo bem, — diz ele. — Isso não era o
que eu tinha em mente antes, quando disse que
a ajudaria, Sash. E acho que é uma loucura,
mas estarei aí.
— Obrigada, — digo e desligo a ligação.
— Quem era?
Me assusto com sua voz. Arsen entra no
quarto de repente. Ele segura uma bandeja com
dois pacotes de sangue.
— Jackson...
Arsen endurece. — Por que você está
falando com ele?
— Porque ele é meu amigo, — eu digo. Isso
é verdade, mas é apenas metade da história.
A política vampírica sendo o que é, com
várias facções tentando superar umas às
7
Teste de Rorschach é um questionário, muito utilizado nos processos de avaliação psicológica, que usa
cartões com manchas de tinta para identificar traços da personalidade de uma pessoa.
outras, eu preciso de uma parte neutra para
levar a notícia do que aconteceu e quem fez
isso. Jackson não está na lista de ninguém
como o cara certo para a diplomacia vampírica,
mas conhece os jogadores. Eu tenho fé absoluta
que Jackson fará tudo ao seu alcance para
transmitir a mensagem, para que quem sobrar
não caia em culpas e brigas inúteis.
Esta não sou eu agindo altruísta. Estou
fazendo isso por Arsen.
Porque ele se ofereceu em casamento para
mim e me hospedou em sua casa, outros
vampiros poderiam pensar que ele conspirou
comigo para causar a queda dos vampiros. E
não tenho dúvidas de que alguém poderia
confundir “o vírus”, comigo sendo uma
estudante de pesquisa e tirar as conclusões
erradas, e então Arsen estaria morto, carne
morta-viva.
Eu não posso deixar isso acontecer. Espero
que Arsen concorde. Isso me faz sentir
terrivelmente culpada, sabendo que minha hora
pode estar chegando em breve e posso não
concluir minha tarefa. Mas com meu caderno e
histórico médico, espero deixar um legado
suficiente para que quem quer que comece a
trabalhar depois de mim possa terminar isso.
Arsen oferece uma das bolsas para mim. —
Beba, — diz ele. — Você precisa manter sua
força.
Eu aceito sua oferta de sangue e a perfuro
com minhas presas, que têm uma mente
própria quando se trata de uma refeição. A essa
altura, sou especialista nisso e não derramo
uma gota enquanto chupo o elixir. Arsen me
olha com uma consideração fria enquanto
consumo minha refeição para qualquer bem
que ela me faça. Estou alimentando o parasita
mais do que estou alimentando meu corpo
faminto.
Arsen espera que eu termine. — Sente-se
melhor agora?
Coloco a bolsa vazia na bandeja e a pego,
colocando-a em cima da cômoda. Então pego
suas mãos e o levo para a cama. Agora tenho
uma dor de cabeça perpétua e meu corpo está
ficando mais fraco.
Meus olhos procuram os dele, segurando
suas mãos nas minhas, com um apelo
silencioso para ele ouvir e entender que só
estou tentando fazer a melhor coisa.
— Você precisa entender que estou doente.
— Entendo, Sasha. É por isso que estou tão
preocupado com você.
— E esse negócio desagradável está longe
de terminar. Se houver algum sobrevivente,
então os vampiros podem terminar o trabalho
que Niko e Demetri começaram entre vocês.
— Não sou bobo. Entendo essas coisas,
talvez melhor que você.
— Sem dúvida, Arsen. Mas uma coisa que
notei em todos os vampiros, incluindo você, é
que os vampiros demoram a aceitar ajuda.
Vocês “nós” não confiamos em pessoas de fora
em nossos pequenos círculos, e a suspeita e a
paranoia enlouquecem.
— Enlouquece? — Ele diz com um pequeno
sorriso brincando nos lábios.
— Sim. Exatamente isso. O que quero dizer
é que precisamos de alguém que leve a
mensagem de quem fez isso para evitar essa
situação. Vamos dar a Jackson todas as
informações e encarregá-lo de entregá-las a
diferentes facções.
— Isso o matará, — diz Arsen. Seu tom é
agudo como se ele o tivesse passado sobre uma
pedra de amolar.
Ouço uma campainha e percebo que o som
vem do telefone de Arsen. Ele o pega da cama
onde o coloquei, olhando para o aplicativo de
segurança que ele tem na frente e no centro, e
pressiona um botão na lateral.
— Deixe-o entrar.
— Mas Arsen, — protesta o vampiro
porteiro.
— Eu disse, deixe-o entrar e peça a alguém
que o traga para o meu quarto. E verifique que
todos saibam. Ele está sob minha proteção e
não deve ser ferido ou ameaçado. Fui claro?
— Sim.
Sombriamente, ele coloca o telefone na
mesa de cabeceira. Seu rosto pensativo se volta
para mim mais uma vez. Ele não ama o meu
melhor amigo e não posso culpá-lo.
Penso nos bons e maus momentos que
compartilhamos durante a adolescência. Minha
mente reluz então naquela noite anos atrás,
quando ele segurou minha mão. Na noite em
que meu encontro do baile me abandonou e
lágrimas vieram aos meus olhos. Chegamos até
aqui, nós dois, desde então, mas o mais triste é
que desembarcamos nos campos opostos de
uma guerra sobrenatural que não leva
prisioneiros.
É realmente uma merda.
Uma batida na porta anuncia a chegada de
Jackson e nós dois estamos de pé. De alguma
forma, não parece certo que Jackson me veja na
cama de Arsen em um ambiente tão íntimo.
— Sr. Tate, — murmura Arsen. — Obrigado
por ter vindo. Espero que você tenha recebido
toda a cortesia.
— Sim, — diz Jackson de forma neutra.
Arsen acena com a cabeça, e a escolta
vampira desaparece no corredor externo. Talvez
ele assuma uma posição de sentinela lá.
Jackson fica sem jeito no meio do quarto,
sem saber por que ele está aqui. Todos os
músculos de seu corpo ficam tensos, apesar de
seu esforço para parecer despreocupado. Não
ajuda que Arsen o encare com um olhar
predatório, avaliando o quão rápido Jackson
pode correr ou quanto dano meu amigo pode
fazer se ele se jogar em uma luta.
A mandíbula de Jackson enrijece e ele fica
mais ereto, encontrando o olhar de Arsen em
um desafio. A tensão aumenta no quarto e
tenho que intervir antes que isso saia do
controle.
— Meninos, — eu digo. Quando falo, quebro
o feitiço de agitação que meu melhor amigo e
meu amante tem entre eles. — Ponham de lado
as réguas que estão usando para medir os paus
um do outro. Nós precisamos conversar.
Arsen resmunga, mas Jackson protesta. —
Você me conhece...
— Desista, caçador, — diz Arsen. —
Fizemos exatamente isso e Sasha nos convocou.
Podemos entender a necessidade dessas
pequenas exibições, mas as mulheres
raramente entendem. — Então, incrivelmente,
Arsen sorri. — Podemos medir nossos paus
outro dia.
O humor inesperado de Arsen sacode
Jackson e a surpresa se espalha por seu rosto.
Eu ri. — Bem, isso seria uma visão, exceto,
e sem ofensa, Jackson, não quero ver seu pau.
— Anotado, — diz Arsen em tons cortantes
enquanto desliza o braço em volta da minha
cintura. Apesar de minha tentativa de garantir
a ele que não tenho interesse em Jackson, o
ciúme rouba seu coração imortal.
Vampiros, penso com exasperação.
— Então, por que estou aqui?
— Você sabe que a situação com os
vampiros é sombria.
— E? — Jackson cruza os braços sobre o
peito.
— Você é o único em quem posso confiar
para fazer isso. Se algo acontecer comigo e não
encontrar uma cura, então preciso que você
continue meu trabalho.
— Eu farei qualquer coisa por você, Sasha.
Você sabe disso. E não vou deixar isso levar
você.
O braço de Arsen aperta minha cintura
pelas palavras afetuosas de Jackson.
— Então aqui está o acordo. Para a
segurança de todos, alguém precisa informar as
diferentes facções de vampiros sobre quem
criou essa doença e por quê. Porque senão eles
irão para a guerra.
— Além de meu carinho por Sasha, não
tenho lealdade aqui. Se algo acontecer com ela,
estou fora, — Jackson diz teimosamente. —
Depois disso, parece que todos ganham se os
vampiros se destruírem.
— Sr. Tate, — diz Arsen. — Você sabe
muito bem que, quando meu povo vai para a
guerra, os humanos são um dano colateral.
— Você aprova esse plano incompleto de
Sasha?
— Não, não aprovo, — diz Arsen com uma
finalidade sombria que me choca. — Mas ela
não está errada. Espero que possamos
encontrar outro enviado que não seja um
assassino de vampiros.
— Eu não sou um assassino.
— Isso é uma questão de perspectiva. Mas
não vamos nos perder na semântica. Não temos
mais ninguém e Sasha confia em você.
— Então, pronto, — eu digo. — É você...
— E se eu não quiser o emprego?
— Então, — diz Arsen — você viverá com o
peso de trair sua melhor amiga em seu tempo
de necessidade e com a culpa da morte de seu
povo em seu coração. Você é um homem sério,
Sr. Tate. Isso é motivação suficiente para
aceitar a proposta de Sasha?
É isso? Jackson é um benfeitor, um maldito
cavaleiro de armadura brilhante, pronto para
derrubar as forças do mal com nada mais do
que uma estaca de madeira e um sorriso
corajoso. Seria cômico se não fosse tão
mortalmente sério.
Eu assisto Jackson pesar os prós e contras
em sua mente. Ele olha para mim e depois de
alguns instantes, ele assente com força. —
Tudo bem, mas eu quero saber tudo. E quero
saber agora.
Passamos os dez minutos seguintes
informando Jackson sobre Niko e Demetri, o
que aprendi sobre o vírus, e a lâmina
contaminada por parasitas da irmã de Arsen, a
reunião secreta que ouvi e o ataque de Demetri
a mim e tudo mais. Quando termino de falar,
sinto que Jackson está bravo, confuso e um
pouco chocado.
Ele finalmente olha para Arsen: — Eu ainda
vou fazer isso, mas estou fazendo isso por
Sasha. Confio em seu julgamento, mesmo que
ela tenha gostos questionáveis para namorados.
— Você é inteligente, Sr. Tate, para um
humano.
Aperto o braço de Arsen. — Olha, há algo
mais que precisamos de você Jackson. — Olho
de volta para Arsen e sei que ele sabe o que vou
pedir ao meu melhor amigo.
— O que?
— Precisamos que você nos ajude a invadir
o complexo Baetal.
CAPÍTULO 21

É uma noite quente, mas eu tremo quando


nos reunimos nas sombras atrás do complexo
de Niko. Eu tenho pulado entre febre e calafrios
por todo o caminho até aqui, e sei que é um
mau sinal. Estou ficando pior e rápido.
— Precisamos fazer isso rapidamente, —
sussurro para Arsen e Jackson. — Entramos e
saímos o mais rápido possível. Permanecemos
sob o radar, se pudermos, mas a velocidade é
mais importante aqui.
Não tenho certeza se estou fisicamente apta
para isso, mas visto minhas calças de menina
grande e espero que isso aconteça. A
possibilidade de morte tem um grande efeito na
capacidade de executar.
Jackson concorda com a cabeça, já focado
na tarefa a frente. Arsen coloca a mão no meu
ombro, encontrando meu olhar por um
momento. Ele sabe por que estou com pressa.
Eu tenho tentado me refrescar e não mostrar o
quão ruim estou ficando, mas ele vê através de
mim como sempre. Eu sorrio para ele
tranquilizadoramente, o máximo que posso
controlar agora. Então volto minha atenção
para o assunto em questão.
— Há uma maneira de passar por cima
dessa cerca, — eu disse. — Uma porta de
segurança para o prédio principal. Geralmente,
ela só pode ser aberta por dentro, mas o guarda
que patrulha o salão a mantém aberta para que
ele possa fazer uma pausa para fumar. Eu ouvi
Niko repreendendo as pessoas por deixá-la
aberto pelo menos três vezes, mas Demetri
também a usa para fumar, então ele os deixa
escapar impunes. Contanto que tiremos o
guarda antes que ele soe o alarme, deve ser
uma viagem bem direta para o laboratório.
Permanecemos abaixados e quietos o máximo
que podemos.
— E você fique para trás, — diz Jackson,
dando às minhas mãos trêmulas um olhar
significativo. — Deixe que eu e o sugador de
sangue lidamos com quaisquer obstáculos. Não
precisamos que você se perca lá.
Isso deixa um gosto amargo na minha boca,
mas concordo, aceitando que ele tem razão.
Escalamos a cerca, caindo silenciosamente
na sombra de um anexo. Ficamos na sombra do
muro enquanto avançamos em direção ao
edifício principal. Felizmente, não há muitas
pessoas vagando pelo complexo hoje à noite.
Por um momento, acho que podemos chegar à
porta completamente sem contestação. Então
Jackson estende um braço, parando Arsen e eu
em nosso caminho. Ficamos parados, em
silêncio como fantasmas na sombra, ouvindo o
barulho de passos no cascalho se aproximando
da esquina do edifício anexo. Sem pressa, mas
também não um passeio casual. Um guarda em
patrulha provavelmente. Jackson pega uma
estaca no cinto, mas Arsen o impede, pegando
sua mão. Eles trocam um olhar breve e
perigoso, mas Arsen levanta um dedo. Um
segundo.
Jackson cede e eu assisto Arsen se mover
mais rápido do que jamais imaginei, sua
velocidade fazendo subir um vento, suave no
começo e depois mais forte, levantando poeira.
O guarda para, tossindo, enquanto o vento
joga poeira em seu rosto. Nós corremos para a
frente sob a cobertura da nuvem de poeira, a
porta de segurança aberta à vista, luz artificial
brilhando do corredor além dela.
Um momento depois, estamos em
segurança, e chuto o tijolo que mantem a porta
aberta, deixando-a fechar silenciosamente.
— Dedos cruzados para que seja um cara
em sua pausa para fumar, — eu sussurro para
Arsen.
— Shh, — Jackson assobia, lembrando-nos
que estamos em território inimigo.
O corredor em que estamos parados está
vazio no momento e parece bastante deserto,
mas está bem iluminado e não sabemos quanto
tempo levará até que alguém apareça.
— Por aqui, — eu digo, e os conduzo para o
laboratório. Eu ainda me lembro do caminho
muito bem, e mesmo se não o fizesse, posso
rastreá-lo com meus próprios poderes
vampíricos.
Prendo minha atenção no meu microscópio
favorito do laboratório, focando nele. É mais
difícil do que deveria ser. Meus pensamentos
estão dispersos e estou distraída pelas ondas de
calor e frio que passam inquietos por mim.
Tento focar meus poderes parece ser atingida
por estática e feedback de um rádio mal
sintonizado. Estremeço e desisto. Isso me dá
uma direção geral, que é tudo que preciso. Sei
para onde estou indo. Na maioria das vezes.
— Como você está? — Arsen me pergunta
baixinho enquanto paro em uma junção no
corredor, apertando os olhos enquanto tento me
lembrar do caminho mais rápido, minha cabeça
está doendo. Há uma frustração crescente em
mim que está ficando mais difícil de reprimir.
— Tudo bem, — eu minto, escolhendo uma
direção. — Estamos quase lá.
— Aguente firme, — ele diz suavemente,
algo próximo a um apelo em sua voz. — Nós
vamos te curar em breve.
Concordo, mas não posso fingir que não
estou começando a me preocupar. Há uma
escuridão nos limites da minha visão, pulsando
com as ondas de calor. Mas ainda estou de pé.
Assim que começamos a avançar
novamente, uma porta se abre diretamente à
nossa frente, tão de repente que tropeço de
volta nos braços de Arsen, meus joelhos de
repente não confiáveis. Um homem sai, pisca
para nós em confusão por apenas um segundo
antes de Jackson se lançar para frente,
empurrando uma pequena seringa no pescoço
do estranho. Ele cai imediatamente, sem som.
— Solução de nitrato de prata, — explica
Jackson, abaixando o estranho no chão e
embolsando suavemente a seringa novamente.
— Ele ficará apagado por algumas horas. É
assim que se faz.
Ele sorri para mim presunçosamente, mas
então nós dois ouvimos o raspar de uma
cadeira contra o chão, de dentro da sala que o
estranho acabara de sair. Lá dentro, outro
vampiro muito assustado se levanta e pega um
rádio. Jackson puxa uma faca e Arsen se lança
contra ele, mas é tarde demais.
— Intrusos! — o vampiro grita em seu
receptor. — Intrusos perto do laboratório oeste!
A lâmina de Jackson cava nas costelas do
homem e Arsen o ataca, mas todos sabemos
que estamos ferrados.
— Em dobro, — ordeno, apoiando-me no
batente da porta por um momento enquanto
minha visão oscila. — Vamos lá.
Arsen tenta me apoiar, mas eu o empurro,
minha pele está muito sensível para ser tocada,
e me afasto, lutando para manter meu foco
enquanto os conduzo ao virar da esquina. As
portas do laboratório estão à vista, mas os
vampiros estão saindo para o corredor entre
nós e ele, a maioria deles parecendo confusa,
mas pronta para lutar enquanto a notícia dos
intrusos se espalha.
— Vá para o laboratório, — diz Arsen,
puxando uma espada curta das costas.
Onde diabos ele conseguiu isso?
— Nós cobrimos você.
Estou ficando muito confusa para discutir
com ele. Sinto o parasita correndo como um
veneno em minhas veias.
Arsen e Jackson entram na luta como uma
máquina bem oleada, aproveitando a confusão
desorganizada do oponente para abrir um
caminho para mim.
Os golpes de Arsen espalham os vampiros
para a esquerda e para a direita, levando-os em
direção a Jackson, que puxa uma espingarda
de suas costas e dispara rajadas de chumbo
tratado com nitrato de prata em suas fileiras.
Balas de chumbo normalmente não causam
muito dano, mesmo para humanos. Eu tinha
visto meu tio acidentalmente ser atingido por
uma carga delas quando caçava faisão quando
era criança. Dói pra caramba e deixa um
grande ferimento bagunçado, mas os projéteis
não penetram o suficiente para atingir os
órgãos, geralmente. Isso nunca poderia parar
um vampiro em seu caminho. Mas com a bala
tratada, não é necessário. Depois que a prata
está em sua corrente sanguínea, eles não ficam
de pé mais do que alguns minutos. Não é tão
imediato ou eficaz quanto o tiro direto da
solução de prata que ele usou antes, mas posso
ver que certamente é o suficiente para tirar a
força de alguém.
Eu fico perto de Arsen, observando suas
costas, mas a visão de até mesmo o mínimo
derramamento de sangue pela espingarda de
Jackson é o suficiente para fazer minha cabeça
girar. A frustração selvagem continua
crescendo, metade do parasita, metade do meu
pânico com a rapidez com que está
progredindo. Parte de mim quer gritar, se
debater e lutar, enterrar os dentes em qualquer
coisa que aguente o suficiente. O medo faz uma
casa no fundo do meu peito.
Arsen me leva através de outro caminho,
mesmo enquanto ele lança uma dúzia de golpes
para manter os vampiros longe. Mas eles estão
começando a se recompor agora. Estou vendo
armas e lutas mais organizadas. Arsen e
Jackson são fortes e trabalham bem juntos,
mas não serão capazes de resistir a uma horda
como essa por muito tempo, principalmente
porque os vampiros mais fortes, com poderes
tão fortes ou mais fortes que os de Arsen,
começam a aparecer. Corro para o laboratório,
sabendo que não temos tempo.
Eu empurro as portas duplas e Arsen e
Jackson fecham as fileiras de vampiros do
outro lado para me proteger. As portas se
fecham entre nós e estou sozinha no
laboratório.
Por um momento, sinto conforto no
ambiente familiar, recuperando o fôlego.
Minhas presas estão fora e minhas garras
cravam no laminado do balcão em que me
apoio. Estou indo longe demais. Tenho de
controlar isto ou não serei capaz de fazer a
cura, se houver.
Eu examino a sala, vendo as anotações de
Demetri em sua mesa no canto de trás. Duvido
que ele teria me infectado com isso sem um
plano de backup, caso ele decidisse que
precisava de mim e do meu sangue milagroso
novamente. Ele quase certamente tem uma
cura formulada, se não já inventada.
Dou dois passos em direção à mesa antes
de ver alguma coisa balançando na minha
cabeça pelo canto do olho.
Pego o que reconheço tardiamente como um
suporte intravenoso e o arranco das mãos do
meu atacante com uma explosão repentina de
força e agressão, levantando-o para atingir a
outra pessoa antes mesmo de reconhecer que é
Demetri, aparentemente pego de surpresa
durante a madrugada no laboratório. Eu
congelo por um momento em reconhecimento, e
Demetri aproveita a oportunidade para me
atacar.
Nenhum de nós é lutador por natureza,
mas ele é um vampiro um pouco mais velho,
mais forte e mais experiente. Ele passa os
braços em volta do meu tronco e eu bato no
chão, o suporte intravenoso derrapando.
— Você já deveria estar morta agora! —
Demetri grita, cortando minha garganta com
suas garras. Eu mal consigo bloquear o golpe,
dando um soco na cabeça dele e o pegando na
orelha. Ele tropeça, atordoado, e luto para
voltar a ficar de pé. Demetri rosna em
frustração. — Por que você não pode
simplesmente morrer quando deveria?
— Acho que não sou cooperativa assim, —
digo, mas minha visão pulsa para dentro e para
fora, e não tenho certeza quanto tempo mais
posso ficar de pé. Eu não acho que seja uma
luta que possa vencer. — Isso não precisa
terminar mal para nenhum de nós. Você é
inteligente o suficiente para saber que o plano
de Niko nunca vai funcionar da maneira que ele
quer. Ajude-me a encontrar a cura para todos e
você será um herói.
— Pensei que você era mais esperta do que
isso, — zomba Demetri. — É claro que vai
funcionar. Já funcionou. Todas as empresas
farmacêuticas do mundo estão envolvidas no
mesmo golpe e faturando bilhões por isso.
Encontre uma doença que mata pessoas de
forma lenta e terrível e venda-lhes um
tratamento parcialmente eficaz que terão de
tomar pelo resto de suas vidas. E porque eles
literalmente não podem se recusar a comprar o
seu produto sem se resignar a uma morte
dolorosa, você pode cobrar o que quiser por
isso! Se você fizer uma cura permanente,
realmente, por que você se incomodaria? Você o
torna exorbitantemente caro e o vende
exclusivamente para as pessoas poderosas que
deseja em seu bolso. Essa é a fórmula para
governar o mundo!
— É assassinato! — Eu grito horrorizada
com o próprio conceito. — É uma fórmula para
uma multidão enfurecida queimando seu
laboratório! Ninguém permitirá que isso
aconteça!
— Eles já estão! — Demetri diz com uma
risada maníaca. — É o que eu continuo
dizendo! Diabetes, AIDS, metade dos cânceres
registrados. Os humanos já argumentaram com
sucesso no tribunal que o fato de as pessoas
morrerem sem o tratamento apenas aumenta a
demanda!
— Esse plano pode ser de duas maneiras.
Ou o resto dos clãs descobre e você e todos os
envolvidos nisso são pulverizados, ou sua
pequena praga continua ficando cada vez mais
fora de controle, do jeito que já está, estúpido, e
extermina toda a nossa espécie.
— Isso está completamente sob meu
controle, — insiste Demetri, mas posso ver o
palpite defensivo em seus ombros. Ele está tão
preocupado com a praga que continua a se
espalhar fora de controle quanto eu. — Eu
consegui. Eu posso controlar!
— Você é um idiota! — Eu grito com ele. —
Você cria uma doença que você nem consegue
curar? Então não satisfeito cria um parasita
que você não pode controlar? Você não está no
controle de nada!
Eu vejo os olhos de Demetri se arregalarem,
mas ele se recusa a admitir qualquer
irregularidade. Ele ruge e se joga em mim
novamente. Afasto-me do caminho, mas minhas
pernas estão bambas. Tropeço e ele me agarra
pela camisa, me jogando de volta em um dos
balcões. Esmago um banquinho de madeira ao
cair e bato a cabeça na beira do balcão. Ele
pula em mim enquanto estou tonta, colocando
as mãos em volta da minha garganta.
— Bem! — Ele rosna enquanto aperta,
sufocando o ar de mim. — Se você é a paciente
zero da nova doença então vou matá-la agora,
antes que possa infectar mais alguém!
Eu luto, arranhando suas mãos e chutando
para jogá-lo fora. Estou muito desorientada pelo
parasita bombeando em minhas veias, a febre
nublando meu raciocínio.
— Apenas desista, — Demetri sussurra,
aproximando-se, colocando o peso do corpo nas
mãos esmagando minha traqueia. — Apenas
morra! Se isso faz você se sentir melhor, os
dados que recebo da sua autópsia serão uma
enorme contribuição para encontrar uma cura
para ambas as doenças. Então, morra!
Eu me debato, o medo e a raiva
aumentando sem ter para onde ir. Não há nada
que possa fazer, até minhas mãos agitadas
tocarem madeira afiada. Um pedaço do
banquinho quebrado. Balanço com a última
força que tenho e dou um murro na cabeça de
Demetri. Ele solta um grito, mas mantenho
meu aperto na madeira enquanto me afasto,
tossindo e ofegando, sentindo a sensação
horrível da minha cura vampira tentando
reabastecer minha traqueia esmagada, lutando
para respirar em volta dela.
Eu o ouço se mover, pronto para me atacar
novamente. Eu me viro, e quando ele avança,
eu o encontro no meio do caminho, a perna
quebrada da cadeira apoiada na minha frente.
Sem tempo suficiente para se conter, ou
mesmo perceber o que estou fazendo, Demetri
se empala.
Estaca de madeira no coração. O truque
mais antigo de matar vampiros do livro. Os
olhos de Demetri são do tamanho de discos,
olhando para o pedaço de madeira saindo dele.
Também estou olhando para o sangue
correndo, lavando minhas mãos trêmulas.
Minha visão pulsa dentro e fora. Há um rugido
nos meus ouvidos.
— Oh, bem, — Demetri murmura suas
últimas palavras. — Você matou nós dois.
Quando ele atinge o chão, uma pequena
bolsa de couro cai de debaixo da camisa e no
chão, e um caderno espiral de 3x5, um que eu
nunca vi antes, desliza para fora e se abre.
CAPÍTULO 22

Eu luto para deixar minha cabeça clara e


pego o pequeno caderno de Demetri no balcão,
esperando não ter manchado nada de
importante com a grande impressão sangrenta
que deixei nele.
Jackson e Arsen finalmente deram
pontapés suficientes em Baetals para me
alcançar no laboratório. Eles estão do outro
lado do balcão que mantenho cuidadosamente
entre nós. Eles vieram o mais rápido possível,
quando me ouviram lutando com Demetri, mas
não rápido o suficiente. Eles empurram as
portas. Arsen usa sua força para dobrar o metal
e torcer em um parafuso improvisado. Mas não
vai durar. Eu ouço os outros vampiros batendo
nas portas e procurando outras maneiras de
entrar. Não temos tempo. E mesmo que
consigamos fazer isso, não tenho certeza se
conseguiremos lutar.
Não consigo olhar Arsen na cara. O horror
em seus olhos, o medo por mim, corta como
uma faca. Não consigo parar de tremer, não
consigo guardar minhas presas e garras. Eu me
sinto como um animal encurralado, cercado por
inimigos. Arsen começa a contornar o balcão
em minha direção e preciso de grande esforço
para não me voltar e não atacá-lo.
— Não faça isso! — Esbravejo, raiva fazendo
minha voz áspera. — Não se aproxime de mim!
— Sasha, — A voz de Arsen é suave com
preocupação.
— Escute-a, — diz Jackson, pegando Arsen
pelo ombro e puxando-o para trás. — Ela está
enlouquecendo.
— Ainda podemos fazer isso, — digo com os
dentes cerrados. — Ainda posso fazer isso. Só
preciso ... só preciso me concentrar. Vigie a
porta.
Eles voltam para a porta e um pouco da
raiva selvagem recua. Não muito, mas o
suficiente para chamar minha atenção para as
anotações de Demetri. Eu as examino o mais
rápido possível, descartando qualquer coisa que
não seja sobre o vírus, o parasita e as possíveis
curas. Há muita coisa aqui. Tanta coisa que
nunca vi. Coisas que poderiam ter ajudado, se
eu tivesse acesso a elas antes. Ele manteve todo
o trabalho que fiz sobre ele, reivindicando-o
como seu, é claro. Idiota.
— Arsen, — eu digo ríspida, empurrando as
anotações relevantes deixadas no caderno
espiral para ele. Eu pareço mais irritada do que
pretendo, parcialmente porque minha garganta
ainda está se recuperando do meu quase
estrangulamento. — Pegue isso. Guarde com
sua vida. Isso é tudo o que temos sobre a
doença. Demetri estava escondendo as coisas
de mim. Não posso passar por tudo isso, mas
deve haver o suficiente para fazer uma cura
eficaz.
— E quanto a você? — Ele pergunta,
dobrando-os cuidadosamente e colocando-os
em seu casaco. — Isso vai funcionar com você?
Balanço a cabeça... um movimento cortante
e brusco.
— Foi baseado nas proteínas do meu
sangue que pararam o vírus, — explico. — O
que Demetri me deu já é resistente a essa cura,
ou não teria funcionado comigo. Pode haver
algo mais, mas... apenas... apenas observe a
porta.
Eu continuo lendo as outras notas
enquanto falo, certamente Demetri deve ter tido
pelo menos uma ideia de como matar o parasita
com o qual ele me infectou. Ele era um idiota,
mas ainda era um cientista. Ele teria um plano
para exposição acidental. Por favor, deixe que
ele tenha sido esperto o suficiente para planejar
a exposição acidental.
— Oh! Graças a deus. — Meus joelhos
quase cedem quando encontro uma página com
instruções sobre a preparação de emergência de
um antibiótico, mas é apenas uma nota parcial.
Não há nada específico no parasita e não sei se
pode me curar, mas isso pode diminuir a
velocidade. E é a melhor chance que tenho. A
única chance que tenho.
— Você achou? — Arsen pergunta, a
esperança em sua voz.
— Talvez, — eu digo a ele.
— Bom, porque não temos muito tempo, —
acrescenta Jackson, apoiando-se na porta
enquanto ela estremece sob o impacto de algo
batendo no outro lado. — Acho que eles têm
uma porra de aríete lá fora.
Não perco mais tempo conversando,
marcando a página e recolhendo o caderno
rapidamente, o que seria mais fácil se não
estivesse me descontrolando. Minhas mãos não
param de tremer, minhas pernas não me
sustentam, e todo revés suave desencadeia uma
onda de raiva ofuscante.
Eu bato um frasco de vidro com minhas
mãos nervosas e grito, lutando contra o desejo
de esmagar qualquer outro frasco com ele. Seria
tão fácil ficar selvagem, apenas me soltar e cair
na inconsciência.
— Sasha...
Arsen toca meu ombro e eu quase bato nele
antes que possa me parar. Ele me agarra pelos
braços para me parar e é preciso de esforço
para não atacá-lo. Cerro os dentes, lutando pelo
controle.
— Sasha, você precisa parar, — diz ele, me
abraçando com força. — Você está
descontrolada.
— Eu não estou! — Eu bato nele. — Eu
posso fazer isso! Me solte!
Ele tira as mãos de mim com relutância.
— Pelo menos me deixe ajudar, — ele
implora.
Eu quero tanto recusá-lo. A raiva selvagem
dentro de mim adoraria fazer dele um alvo,
atacá-lo, forçá-lo a se afastar ou encontrar um
motivo para atacá-lo.
— Por favor, — eu me forço a dizer. — Eu
não posso.
— Sasha, fale comigo.
— Se eu tentar o antiviral para a cepa do
vírus, isso pode ajudar. Pode parar com isso.
— Onde eu consigo? — Arsen pergunta,
olhando em volta.
— Eu tenho que fazer isso.
Ele aperta o ombro. — Me diga o que você
precisa.
— As notas. — Eu estendo minha mão para
elas e ele coloca os papéis na minha palma.
— O que mais? — Arsen diz, incapaz de
esconder o tom elevado em sua voz.
— Lá. — Aponto para o frasco de
Erlenmeyer. Ele o agarra imediatamente e me
segue de volta ao balcão, onde estou me
preparando para ligar o fogo com as mãos
trêmulas. Estou lutando para ler as instruções
de Demetri. O suor goteja na minha testa
enquanto preparo uma solução, minhas mãos
tremendo muito derramando constantemente.
Paro, tento de novo e tremo tanto que jogo a
porra da solução salina por toda a minha
camisa. Vou ter que começar de novo e vai levar
tempo que não tenho. Eu grito de frustração
novamente, batendo os punhos na mesa e
Arsen, o idiota, me alcança, tentando me
confortar.
Eu o ataco sem sequer pensar, e ele volta
com um corte sangrento no braço, olhando para
mim como se não me reconhecesse. Eu olho
para ele, meu horror refletido em seus olhos, e
não tenho certeza se me reconheço.
— É isso aí, — Jackson chama de onde está
segurando a porta. — Ela está ficando perigosa.
— Não, — diz Arsen imediatamente, se
colocando entre mim e Jackson. — Isso foi
minha culpa. Ela vai ficar bem. Só precisamos
de mais tempo.
— Não, — eu digo com um gemido,
cobrindo meu rosto com as mãos, agora
molhada com o sangue de Arsen também. —
Não, ele está certo. Eu não posso fazer isso.
Lágrimas ardem nos meus olhos e luto para
controlar os soluços indefesos que me sacudem.
Arsen, apesar do que aconteceu, me pega pelos
ombros novamente, me fazendo olhar nos olhos
dele.
— Você ainda pode fazer isso, — diz ele, sua
determinação dura como aço. — Ainda podemos
fazer isso. Apenas deixe-me ajudá-la. Faremos
isso juntos.
Eu fecho meus olhos.
— Jackson, — eu chamo. — Você tem
alguma restrição que possa parar um vampiro
selvagem?
— Eu os carrego desde que descobri que
você estava infectada, — ele admite, puxando
um complicado mecanismo de couro e ferro da
bolsa.
Ele coloca em mim, e preciso de todas as
minhas forças para não lutar contra ele. Os
braços de Arsen ao meu redor por trás me
mantêm imóvel e mantêm minha alma firme.
Uma ampla gola de couro imobiliza meu
pescoço, restringindo minha capacidade de
morder. Ela está ligada em uma barra de ferro a
um par de algemas de couro que cobrem
minhas mãos como luvas. Também não vou
conseguir agarrar ou arranhar ninguém. É
humilhante, mas pelo menos eles ficam mais
seguros se me descontrolar completamente.
— Como você está se sentindo? — Arsen
pergunta.
— Como se estivesse em pé na corda
bamba, — digo a ele. — E há um grande abismo
preto de um lado e um inferno do outro. Estou
tão cansada, e a raiva está ficando pior.
— Estou com você, — Arsen me garante,
beijando o topo da minha cabeça. — Você vai
ficar bem. Eu não vou deixar você cair,
prometo.
Algo bate nas portas do laboratório
novamente quando Jackson termina de me
conter e ele corre para trás do outro lado da
sala para segurá-la. As marcas de soldagem de
Arsen se abrem e alguém tenta entrar, só para
tomar uma rajada de nitrato de prata de
Jackson. Esse cara provavelmente não vai se
levantar de novo.
Arsen corre para ajudá-lo, fechando as
portas novamente, mas estamos ficando sem
tempo.
— Depressa, — diz Jackson assim que as
portas estão um pouco seguras. — Se vamos
fazer isso, temos que fazê-lo agora.
Eu me preparo em um balcão onde posso
ver as anotações de Demetri.
— Arsen, — digo bruscamente. —
Precisamos reiniciar a solução. Coloque o soro
fisiológico no queimador e comece a preparar as
proteínas. As que estão no frasco agora estão
arruinadas. Há mais na geladeira. Os frascos
com as tampas verdes. Vá, vá! — Eu descanso
minha cabeça na palma da mão.
Arsen corre para a geladeira e o oriento, um
passo de cada vez. Aqueça isso, meça isso,
verifique a acidez. Ele não conhece metade dos
termos, então eu tenho que simplificar tudo o
que puder. Mas está acontecendo, e muito mais
rápido do que quando estava tentando fazer
isso com meu nervosismo.
— Qual o próximo passo? — Arsen
pergunta, e meus olhos percorrem as
anotações, checando tudo. As palavras nadam
na minha frente. A raiva palpita em minhas
têmporas. O colar irrita minha garganta. Todo
barulho e textura é insuportável. Eu quero
gritar e chorar, mas estamos tão perto. Estou
lutando contra a raiva para dizer cada palavra.
Não estou apenas na corda bamba agora. Estou
em pé na corda bamba em frente a uma versão
monstruosa e sem sentido de mim mesma que
não quer nada além de me empurrar.
— Estamos quase... — Eu luto para dizer as
palavras, choramingando. É difícil descrever
estando em pânico e exausta ao mesmo tempo.
A tensão só torna a exaustão mais aguda. Eu
quero me enrolar em algum lugar escuro e
fugir. Mesmo sabendo o que isso significa, é
difícil imaginar que possa haver algo pior do
que ficar acordada agora. Então, continuar a
lutar. Eu só quero descansar. — Quase... você
só precisa... há...
A escuridão desaba como uma cortina
caindo. Um momento estou de pé e no outro
estou nos braços de Arsen, sendo abaixada no
chão.
— Sasha! — ele implora. — Sasha, espere!
O que eu faço, Sasha? O que eu faço a seguir?
— Arsen! — Jackson grita do outro lado da
sala, com pânico em sua voz. Eu ouço o estalo
dos pontos de solda se dividindo novamente e a
gritaria quando os outros vampiros forçam a
porta aberta. — Arsen, preciso de você aqui
agora!
— Sasha, por favor, — Arsen pressiona sua
testa na minha, me segurando com força. — Por
favor, me diga o que fazer. Eu te amo muito,
amor. Eu te amo.
Eu quero dizer a ele o que fazer. Quero
dizer a ele que também o amo. Mas as palavras
não virão. Meu corpo não é mais meu. Estou
caindo em um vazio profundo e silencioso.
— Espere, — Arsen sussurra para mim. Eu
ouço Jackson gritar e o estrondo das portas
falhando. — Espere, Sasha. Estou contigo. Não
vou a lugar nenhum.
Minha visão encolhe a um ponto, como o
minúsculo ponto de iluminação deixado no
centro da tela depois de desligar uma velha
televisão de cátodo. Não consigo ver o rosto de
Arsen. Não posso dizer para ele não morrer por
mim. A escuridão me engole, e a última coisa
que ouço é a voz dele, promissora...
— Nunca.

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