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FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO

ALIANÇA NOÉTICA: CONDICIONAL OU INCONDICIONAL?

Dilean Baptista de Melo Souza

SÃO PAULO
2017
Dilean Baptista de Melo Souza

ALIANÇA NOÉTICA: CONDICIONAL OU INCONDICIONAL?

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito final no
curso de Pós-Graduação A
atualidade do Antigo Testamento.
Prof. Luiz Sayão

SÃO PAULO
2017
Sumário

1. Introdução ...................................................................................................... 1
2. As alianças no Antigo Testamento ................................................................. 2
3. A aliança divina com Noé ............................................................................... 4
3.1 O contexto da aliança ............................................................................... 4
3.1 A aliança. .................................................................................................. 5
3.2 Análise de Gênesis 6.18 ........................................................................... 7
4. Conclusão ...................................................................................................... 8
5. Bibliografia...................................................................................................... 9
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1. INTRODUÇÃO

O Antigo Testamento apresenta em seu escopo um tipo específico de


literatura que tem ao longo do tempo trazido divisão e discussão entre os
teólogos: as alianças.

Sem sombra de dúvidas, ao lermos os textos do AT cada uma das


alianças nos salta aos olhos, nos mostrando o favor de Deus para com pessoas
ou para com Seu povo escolhido. Elas nos respondem, de certa forma, o agir de
Deus naquele momento específico da história.

Em alguns pontos, ela é a introdução precisa de Deus para que o povo


compreenda especificamente o que Deus espera deles, como no caso de Ex 20,
quando Deus dá ao povo os 10 mandamentos, lembrando-os que Ele os havia
tirado do Egito, da terra da servidão.

Compreender as alianças nos fornece direção e iluminação para a


compreensão do texto. Porém, precisamos analisar os textos para identificarmos
claramente onde estão as alianças, quais seus contextos e obviamente, o que e
como elas nos ajudam a compreensão da dinâmica da revelação de Deus na
história.
2. AS ALIANÇAS NO ANTIGO TESTAMENTO

O termo hebraico traduzido para o português como aliança é ‫ב ִ֣רית‬,


ְּ que

significa, de acordo com o DITAT (Dicionário Internacional de Teologia do Antigo


Testamento)

Pode ser relacionada com a palavra acadiana burru, que significa


‘estabelecer uma situação legal por meio de um testemunho
acompanhado de juramento’; alguns, porém, relacionam o termo com
a palavra acadiana birtu, ‘grilhão’, que é um derivado da palavra que
tem o sentido de ‘entre’. L. Kohler sustenta que a palavra está
relacionada com a raiz brh, que tem relação com a comida e a porção
envolvida na refeição da aliança. A raiz não é usada em parte alguma
como verbo no AT, como também nenhum derivado desta raiz; todavia,
a ação que envolve o estabelecimento de uma aliança emprega a
expressão ‘cortar (fazer – ARA) uma aliança’, isto é, fazer um sacrifício
de sangue como parte do ritual de aliança. (HARRIS, 1998, p. 215
verbete: ‫)ב ִ֣רית‬
ְּ

Merril, traz outra perspectiva para o termo. Ele diz que a etimologia é
incerta, mas que o mais provável é que venha do cognato acadiano birūtu, que
significa “unir, prender, restringir”. Porém, Merril reconhece que o consenso
maior dos teólogos do Antigo Testamento é de que a palavra deve ser traduzida
como aliança, no sentido de um pacto ou tratado entre duas pessoas. Lidando
com o caso específico do AT, essa aliança sempre foi iniciada por Deus.
(MERRIL, 2009, p. 240)

A ideia de fazer aliança no Antigo Oriente Médio era algo comum. As


alianças eram feitas entre pessoas e entre nações. Harris, no DITAT, ainda nos
diz que “A aliança como tratado ou acordo entre nações ou indivíduos deve ser
entendida com base no fato de as partes serem equivalentes ou ser uma delas
superior à outra” (HARRIS, 1998, p. 215).

Segundo Sayão1, as alianças no Antigo Oriente Médio eram divididas em


“concessão real”, quando um rei fazia aliança com um inferior, sem que este
pudesse oferecer nada em troca; aliança “suserano-vassalo”, quando um

1Anotação pessoal das aulas da matéria A atualidade do Antigo Testamento, do curso de Pós
Graduação da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, ministrada pelo prof. Luiz Sayão.
soberano fazia aliança tornando a outra parte sua propriedade ou “aliança de
paridade”, quando um rei fazia aliança com outro rei.

Bruce Waltke define aliança como o “... compromisso solene que alguém
assume de cumprir uma obrigação”. (WALTKE, 2015, p. 325). Para Waltke, Deus
elaborou as alianças pela Sua graça e depois se obriga a favorecer seus
escolhidos em aliança. Pentecost, em seu livro Manual de Escatologia, define
aliança com as palavras de Lincoln, que diz

Aliança divina é 1) uma disposição soberana de Deus, mediante a qual


Ele estabelece um contrato incondicional ou declarativo com o homem,
obrigando-se, em graça, por um juramente irrestrito, a conceder, de
Sua própria iniciativa, benção definidas para aqueles com que
compactua ou 2) uma proposta de Deus, em que Ele promete, num
contrato condicional e mútuo com o homem, segundo condições
preestabelecidas, conceder bênçãos especiais ao homem desde que
este cumpra perfeitamente certas condições, bem como executar
punições precisas em caso de não cumprimento. (LINCOLN apud in
PENTECOST, 2006, p. 97)

A definição de Lincoln nos mostra que Deus realizou dois tipos de


alianças, as quais podemos chamar de aliança incondicional e aliança
condicional. Pentecost define cada uma delas assim

Numa aliança condicional, o cumprimento do que foi acordado


depende do receptor da aliança, não do outorgador. Algumas
obrigações ou condições devem ser satisfeitas pelo receptor da aliança
antes que o outorgador da aliança se obrigue a cumprir o que foi
prometido. [...] Na aliança incondicional, o cumprimento do que foi
acordado depende unicamente daquele que fez a aliança. O que foi
prometido é soberanamente concedido ao receptor da aliança com
base na autoridade e na integridade daquele que faz a aliança, à parte
do mérito ou resposta do receptor. (PENTECOST, 2006, p. 98)

Outro conceito importante quando lidamos com aliança no AT, é o que


vimos com Kohler, quando diz que o termo aparece juntamente com o verbo ‫כָּ רַ֧ת‬

“cortar”. Esse verbo recebe uma conotação teológica especial no AT quando


ligado a ‫ב ִ֣רית‬.
ְּ Segundo o DITAT

O uso mais importante da raiz é o de cortar uma berit, “aliança”. Aqui a


palavra está repleta de conteúdo teológico. Uma aliança tem de ser
cortada porque o abate de animais era parte do ritual da aliança.
Quanto a isso, Gênesis 15 é uma passagem significativa. O Senhor fez
(cortou) uma aliança com Abrão (v.18), envolvendo uma cerimônia
misteriosa. Animais eram cortados ao meio, e as partes era postas uma
defronte da outra. (HARRIS, 1998, p. 753 verbete: ‫)כָּ רַ֧ת‬
James Barr, citado por Smith acrescenta que a expressão cortar uma
aliança é idiomática. Sendo assim, segundo a definição clássica de expressão
idiomática ...

... uma expressão idiomática é uma expressão cujo significado é


diferente dos significados independentes das partes que a constituem.
‘Cortar uma aliança’ referia-se originalmente ao ato de cortar um
bezerro a ser usado na cerimônia cultual que selava a aliança. O
bezerro era cortado, não a aliança. (BARR apud in SMITH, 2001, p.
141)

Compreender corretamente as alianças é dar luz ao entendimento de


todas as áreas do AT. Albright, citado também por Ralph Smith, diz que o
conceito de aliança

... domina toda vida religiosa de Israel em tal medida, que a aparente
posição extremada de W. Eichrodt é plenamente justificada. Não
podemos compreender a religião, organização política ou instituição
dos Profetas dos israelitas sem reconhecer a importância da ‘Aliança’.
A palavra em si aparece como uma incorporação de origem semita nos
séculos XV a XII na Síria e no Egito e remonta claramente aos
primeiros períodos de Israel. (ALBRITGHT apud in SMITH, 2001, p.
134)

3. A ALIANÇA DIVINA COM NOÉ

3.1 O CONTEXTO DA ALIANÇA

O contexto da narrativa de Noé nos mostra que Deus decidiu, através de


uma catástrofe natural, acabar com toda a humanidade criada, preservando
somente a família de Noé, por este ser encontrado como justo (Gn 6. 9; 7.1). A
degradação da humanidade era tamanha que Deus condenou todos os seres
vivos sobre a terra (Gn 6.17). Porém, Deus se achega a Noé e com ele faz uma
aliança (Gn 6.18), dando ordens a Noé que construísse uma arca para se
preservar do dilúvio, e não somente ele, mas que preservasse também na arca
sete casais, macho e fêmea, de cada animal puro e um casal, macho e fêmea,
de cada espécie de animal impuro, assim como também de aves (Gn 7.2,3).

Da forma como Deus havia dito que faria, aconteceu. O texto de Gênesis
capítulo sete e oito nos narra quando as águas cobriram toda a terra (Gn 7. 6,10).
Depois que as águas baixaram, Noé pode sair da arca com sua família e os
animais que havia salvado, por ordem divina. O texto nos narra que quando
saíram da arca, Noé ofereceu ao Senhor animais e aves puras como holocausto
(Gn 8.20). A atitude de Noé agradou ao Senhor que então diz “Nunca mais
amaldiçoarei a terra por causa do ser humano ...” (Gn 8.21).

É dentro desse contexto de calamidade que Deus chama Noé no capítulo


seis e lhe propõe fazer uma aliança. Para Waltke, Deus propõe duas alianças,
uma primeira condicional e a segunda incondicional. Em suas palavras

A aliança condicional que no início da narrativa Deus estabelece com


Noé preserva a ele e a terra durante o Dilúvio, e a aliança incondicional
que após o Dilúvio Deus estabelece com o mesmo Noé garante que a
terra resistirá até o fim do mundo. (WALTKE, 2015, p. 322)

Desta forma, Bruce Waltke propõe que na narrativa de Gênesis sobre Noé
encontremos os dois tipos de aliança divina, a condicional e a incondicional.
Desta forma, analisaremos agora a proposta de Waltke a luz das alianças do
Antigo Testamento.

3.1 A ALIANÇA.

A ordem divina em que o termo aliança aparece nos diálogos de Deus


com Noé está registrada nos textos de Gênesis 6. 17 a 22 e Gênesis 9. 8 – 17
que dizem

17“ Preste atenção! Em breve, cobrirei a terra com um dilúvio que


destruirá todos os seres vivos que respiram. Tudo que há na terra
morrerá. 18Com você, porém, firmarei minha aliança. Portanto, entre
na arca com sua mulher, seus filhos e as mulheres deles. 19Leve na
arca com você um casal de cada espécie de animal selvagem e
doméstico, um macho e uma fêmea, para mantê-los com vida. 20Um
casal de cada espécie de ave, de cada espécie de animal e de cada
espécie de animal que rasteja pelo chão virá até você, para que os
mantenha com vida. 21Cuide bem para que haja alimento suficiente
para sua família e para todos os animais”. 22Noé fez tudo exatamente
como Deus lhe havia ordenado. (Bíblia Sagrada: Nova Versão
Transformadora, 2016, p. Locais do Kindle 552–560)

8Então Deus disse a Noé e seus filhos: 9“ Confirmo aqui a minha


aliança com vocês, seus descendentes 10e todos os animais que
estavam com vocês na embarcação: as aves, os animais domésticos
e os animais selvagens, todos os seres vivos da terra. 11Sim, confirmo
a minha aliança com vocês. Nunca mais os seres vivos serão
exterminados pelas águas; nunca mais a terra será destruída por um
dilúvio”. 12Então Deus disse: “Eu lhes dou um sinal da minha aliança
com vocês e com todos os seres vivos, para todas as gerações futuras.
13Coloquei o arco-íris nas nuvens. Ele é o sinal da minha aliança com
toda a terra. 14Quando eu enviar nuvens sobre a terra, nelas aparecerá
o arco-íris, 15e eu me lembrarei da minha aliança com vocês e com
todos os seres vivos. Nunca mais as águas de um dilúvio destruirão
toda a vida. 16Ao olhar para o arco-íris nas nuvens, eu me lembrarei
da aliança eterna entre Deus e todos os seres vivos da terra”. 17Então
Deus disse a Noé: “Este arco-íris é o sinal da aliança que confirmo com
todas as criaturas da terra”. (Bíblia Sagrada: Nova Versão
Transformadora, 2016, p. Locais do Kindle 646–659)

Para Merril, o termo “minha aliança” que aparece no texto de Gênesis 6.18
nos indica que não é uma nova aliança, mas uma já conhecida (MERRIL, 2009,
p. 290). Waltke concorda com Merril e acrescenta que

O termo ‘ele estabeleceu/confirmou’ (qûm), em vez de ‘fez’ (karat),


significa a confirmação de termos preexistentes, seja uma promessa
(Nm 23.19), um voto (Nm 30.14), um juramento (Gn 26.3), uma aliança
(Gn 17.7, 19,21; 2Rs 23.3) ou algo afim. Uma aliança soleniza e
confirma uma relação social já em existência. O auditório sabe, à luz
de Gn 6.8, que Noé desfruta do favor de Deus antes mesmo desta
aliança confirmativa ... Podemos inferir que Deus se obrigou a
abençoar e fazer prosperar seu servo favorecido e escolhido.
Entretanto, no ano seiscentos e um da vida de Noé, Deus mais
especificamente se obriga a preservá-lo por meio do dilúvio iminente.
(WALTKE, 2010, p. 164)

Para Waltke e Merril, a aliança de Deus com Noé é, de certa forma, uma
continuação de uma aliança anterior, da qual Deus fez com Adão. O problema
que encontramos nesta proposta é o fato de que o texto de Gênesis não declara
explicitamente nenhuma aliança que Deus tenha feito com Adão.

Corroborando com Waltke e Merril, Zuck nos diz acerca do mesmo


assunto que

Noé, embora justo e inocente, foi escolhido não por causa da sua
condição reta, mas como objeto da graça eletiva de Deus [...] Noé tinha
que ser um novo empreendimento de compromisso do concerto, um
novo vice-regente por meio de quem os propósitos soberanos de Deus
se [sic!] tornar-se-iam realidade [...] Este é, sem dúvida, o significado
de Gênesis 6.18: ‘Mas contigo estabelecerei o meu pacto’. Meu pacto
só pode se referir a algo antecedente e o único possível antecedente é
o concerto implícito por Gênesis 1.26-28. (ZUCK, 2016, p. 36)

Como resposta ao fato de que em Gênesis 1, e em Gênesis 6 temos


somente os critérios básicos de uma aliança, Merril nos diz que os elementos
básicos para qualquer aliança são 1 – outorgante real; 2 – o beneficiário e 3 – os
elementos da concessão e acrescenta quanto as diferenças nos tratados bíblicos
e os tratados do Antigo Oriente que os textos bíblicos
... embora baseados em textos análogos bem documentados do
Oriente Próximo da Antiguidade, foram adaptados às necessidades e
preocupações especiais do programa teológico do Antigo Testamento.
Elementos encontrados nos modelos seculares podem estar ausentes
aqui, e outros encontrados nos textos bíblicos podem ser exclusivos
deles. Sem falar que o conteúdo do material do Antigo Testamento e
que a linguagem em que é expresso, em grande parte, são distintos
dos exemplos do Oriente Próximo da Antiguidade. Mesmo assim, o
estudo atento das alianças do Antigo Testamento à luz daqueles do
contexto cultural do Antigo Testamento fornecem profunda percepção
exegética e até mesmo teológica dos textos bíblicos. (MERRIL, 2009,
p. 290 – 291)

Jones contrapõe Merril dizendo que não há necessidade de entendermos


o pronome pessoal em ‘minha aliança’ como uma aliança anterior, mas sim que
o termo se refere ao fato de que “... é o próprio Deus que faria a aliança, não o
ser humano.” (JONES, 2015, p. 174) e acrescenta que a estrutura do capítulo
6.18 indica que esta aliança seria futura.

O centro da discussão está no verso dezoito do capítulo seis. Deus está


propondo que fará (no futuro uma aliança, esta então concretizada no capítulo
9) ou está naquele momento firmando uma aliança condicional com Noé?

3.2 ANÁLISE DE GÊNESIS 6.18

Conforme mencionado acima, Waltke entende que são duas alianças,


uma condicional e outra incondicional, e traduz o texto de Gn 6.18 como Deus
naquele momento fazendo uma aliança com Noé. Jones, discorda de Waltke e
acredita que exista somente uma aliança no texto de Gn 6 – 9, prometida no
capítulo 6 e concretizada no capítulo 9.

O verbo em questão é ‫מ ִ֥תי‬


ֹ ‫ )קום( הֲק‬que está no tempo Perfeito do Hifil.

Allen Ross, em sua gramática nos diz que o tempo perfeito “... reflete,
essencialmente, a ação completada.” (ROSS, 2008, p. 94) Carlos Osvaldo diz
que “Os usos do perfeito podem ser mais amplamente divididos em aspecto
momentâneo e aspecto contínuo.” (PINTO, 1998, p. 54).

Baseado nas questões gramaticais, portanto, não parece haver exigência


de que o verbo seja traduzido no futuro. O verbo pode ser traduzido conforme
Waltke propõe. A força do Hifil, que é causativo, indica que Deus está causando
aquela aliança naquele momento.
Outro argumento para elucidar o texto é o capítulo nove, onde no verso
onze aparece novamente o verbo ‫ֹתי‬
ִ֥ ‫ הֲקמ‬e aqui é traduzido livremente como

“estabeleço a minha aliança”. A expressão é exatamente a mesma de Gênesis


6.18, mas com modificações na sua estrutura posterior. Em Gênesis 6, Deus
ordena a construção da arca; em Gn 9 Deus promete nunca mais destruir a
humanidade.

4. CONCLUSÃO

Conforme pudemos ver neste trabalho, quando lidamos com o assunto


das alianças no Antigo Testamento, teremos um amplo campo de debate.
Lidando mais especificamente com a aliança de Deus com Noé, muitos teólogos
acreditam que ela é a primeira aliança do texto do Antigo Testamento, outros
teólogos acreditam que já no primeiro capítulo de Gênesis temos uma aliança de
Deus com Adão.

Quanto a condição do capítulo 6, basear-se somente na tradução futura


do verbo ‫מ ִ֥תי‬
ֹ ‫ הֲק‬para com isso indicar que não é condicional não é uma boa

fonte, pois no próprio livro de Gênesis, na continuação da mesma narrativa,


temos o mesmo verbo sendo usado em seu sentido normal no capítulo 9.11. Não
obstante, creio que forçar alianças no primeiro capítulo de Gênesis para apoiar
uma continuidade da aliança com Noé não faz jus ao texto. Creio que o texto
destaca claramente a obediência de Noé, mas concordo com Jones quando diz
que a expressão “minha aliança” não precisa estar vinculada a outra passada, e
sim com o fato de que Deus estava fazendo aquela aliança.

Noé encontrou o favor de Deus, e isso é claro no texto. Deus preservou a


Noé e sua família por Sua graça e não por qualquer mérito de Noé ou da sua
família. Mas da mesma forma que Abrão obedeceu ao chamado de Deus, Noé
obedeceu a ordem da construção da arca e sua obediência é registrada
positivamente nas Escrituras, quando dizem que ele fez “exatamente como Deus
lhe havia ordenado” (Gn 6.22; 7.5) e no Novo Testamento é mencionado em
Hebreus 11. 7 que diz
Pela fé, Noé construiu uma grande embarcação para salvar sua família
do dilúvio. Ele obedeceu a Deus, que o advertiu a respeito de coisas
que nunca haviam acontecido. Pela fé, condenou o resto do mundo e
recebeu a justiça que vem por meio da fé. (Bíblia Sagrada: Nova
Versão Transformadora, 2016, p. Locais do Kindle 79498–79500)

A aliança que Deus faz com Noé é sem dúvida incondicional,


principalmente à luz do capítulo 9. Sua promessa é muito mais abrangente do
que a família de Noé. De acordo com o verso 16 do capítulo 9, Deus estabelece
a aliança como eterna entre Deus e todos os seres vivos da terra.

5. BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão,


2016.

HARRIS, R. L. (ED.). Dicionário internacional de teologia do Antigo


Testamento. Traducao Márcio Loureiro REDONDO; Luiz Alberto T. SAYÃO;
Carlos Osvaldo Cardoso PINTO. São Paulo: Vida Nova, 1998.

JONES, L. O Deus de Israel: na teologia do Antigo Testamento. São Paulo:


Hagnos, 2015.

MERRIL, E. H. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Shedd


Publicações, 2009.

PENTECOST, J. D. Manual de escatologia. Traducao Carlos Osvaldo Cardoso


Pinto. São Paulo: Editora Vida, 2006.

PINTO, C. O. C. Fundamentos para exegese do Antigo Testamento: manual


de sintaxe hebraica. Sao Paulo: Vida Nova, 1998.

ROSS, A. P. Gramática do Hebraico Bíblico. Segunda Edição ed. São Paulo:


Vida, 2008.

SMITH, R. L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem.


Traducao Hans Udo FUCHS; Lucy YAMAKAMI. São Paulo: Vida Nova, 2001.

WALTKE, B. K. Gênesis. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

WALTKE, B. K. Teologia do Antigo Testamento: uma abordagem exegética,


canônica e temática. São Paulo: Vida Nova, 2015.

ZUCK, R. B. Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.

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