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Coordenação pedagógica: a

importância da observação de sala de


aula e do acompanhamento no ensino
remoto
Objetivo é identificar se dinâmicas estão adequadas ao ambiente
virtual e se há trocas entre alunos e professores, para que os
docentes possam aprimorar suas práticas pedagógicas
POR:
Camila Cecílio
26 de Abril | 2021
Revista Nova Escola

A observação da sala de aula é uma prática realizada pelo coordenador


pedagógico para acompanhar o trabalho do professor e ajudá-lo a aprimorar
a didática e outras dinâmicas docentes.

“Trata-se de uma estratégia formativa que pode favorecer a reflexão sobre a


prática docente, o que é importante tanto para compreendê-la quanto para
aprimorá-la”, afirma Paula Stella, professora do curso “A função do
coordenador pedagógico na construção de uma escola integradora”,
realizado pela Comunidade Educativa CEDAC.

A educadora diz que, além da observação ser uma forte aliada na hora da
coordenação conversar com o professor sobre aspectos que já estão bem
resolvidos em sala de aula e outros que precisam ser melhorados, as
informações coletadas são matéria-prima para a capacitação da equipe
docente. Mas, com a pandemia e os desafios do ensino a distância, como
adaptar essa prática para o contexto remoto?

Planejamento e cultura de parceria


Assim como no presencial, o planejamento é o ponto de partida para bons
resultados no formato digital. É fundamental, por exemplo, que o
coordenador combine previamente com o professor quando a observação
vai acontecer e o que será considerado. “É sempre interessante mostrar que
a coordenação pedagógica é uma parceira do professor, que pode antecipar
questões e buscar soluções para futuros problemas”, destaca Paula
Estabelecer uma relação de parceria, de acordo com a especialista, é crucial para
enfrentar desafios e evitar eventuais desconfortos -- por exemplo, quando há o
entendimento de que o intuito do coordenador é fiscalizar a aula. Se coordenador
e professor já tinham algum nível de relacionamento antes da pandemia, lidar
com as adversidades desse momento pode ser mais simples do que em uma
relação que começa no ensino remoto. Em todo caso, o gestor deve se empenhar
para mostrar à equipe que a cultura de parceria vale a pena.

Especificidades do modelo remoto


Esse tem sido o esforço empreendido por Jussimara de Souza Nascimento,
coordenadora pedagógica da Educação Infantil ao Fundamental 2 na EMEIEF
Boa Vista do Sul, em Marataízes (ES). Com a pandemia, a comunidade escolar,
que já era bastante unida, precisou se organizar para se adaptar ao ensino a
distância.
Para dar conta disso, Jussimara dividiu as demandas com a colega de
coordenação e, juntas, contaram com o apoio da diretora da escola para
replanejar 2020. Depois de um ano de ensino remoto, a escola conseguiu
encontrar um ponto de equilíbrio com aulas no Zoom, Meet e WhatsApp,
plataformas pelas quais Jussimara faz as observações das aulas, e também com
materiais enviados aos alunos.

O acompanhamento realizado pela coordenadora é semanal e conta com a


participação de toda a equipe. Os pontos que serão observados, como o tipo de
aula que será dada, material usado e dinâmicas e estratégias pedagógicas
utilizadas para atender a turma, são combinados previamente a partir das
conversas com o grupo de professores. A ideia é que cada um possa se organizar
e saber quais aspectos da aula passarão pelo crivo da coordenação.

Durante a observação no contexto remoto, Jussimara procura identificar se o


professor usa didáticas adequadas para atender os alunos, se as explicações são
claras, se ele não está dando aulas rápidas demais e, principalmente, se está
havendo troca entre aluno e professor. A coordenadora observa, ainda, a postura
do professor nos vídeos produzidos em casa.

e acordo com Jussimara, toda a dinâmica da observação tem sido adaptada para o
atual momento, o que difere bastante do contexto presencial, quando o
acompanhamento incluía visitas à sala de aula e conversas com os alunos.
Mesmo assim, a gestora tem se empenhado em participar dos 16 grupos de
WhatsApp da escola, por onde algumas das aulas acontecem e, também, onde os
professores ficam à disposição para tirar dúvidas dos estudantes.

“Fazer esse acompanhamento é uma forma de poder auxiliar o professor, que


também vive um período difícil, e de saber o que está acontecendo no processo
do ensino, pensando em uma educação de qualidade para o aluno. É um
momento de conversar, promover trocas e fazer sugestões e melhorias”, pontua.
Apoio e trocas com os docentes
A coordenadora Tatiana Dias de Moura, responsável pelas turmas da Educação
Infantil ao 5º ano na Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio
de Janeiro, conta que na instituição as aulas acontecem apenas pelo WhatsApp,
ferramenta que a equipe tem mais familiaridade e pela qual acessa mais
facilmente os alunos. Desse modo, cada professor tem um grupo com sua turma,
que é, basicamente, a sua sala de aula virtual. O professor estipula o seu horário
de atendimento com os alunos, que pode ser na parte da manhã ou da tarde.
No horário combinado, as crianças, em casa, aguardam para começar a aula. O
professor grava vídeos e áudios com o conteúdo do dia ou posta vídeos do
YouTube para explicar as atividades. A aula dura, em média, 1h30, por dia,
período em que as crianças podem interagir entre elas e com o professor. É nesse
momento que a coordenadora coloca em prática a observação e acompanha as
interações na “sala de aula virtual”. Mesmo após a aula online, o educador segue
à disposição para atender as crianças no privado, já que muitas vezes, por
dificuldades de acesso, elas não podem estar na aula.

Uma vez por semana, Tatiana se reúne com os professores para ouvi-los, saber
como foi a semana de aula, se tiveram dificuldades e como está a participação
das crianças. Ela aproveita o momento com a equipe para dar orientações, fazer
observações que viu em alguns grupos e compartilhar o que achou interessante
para que outros professores possam se inspirar também. “Nessa troca, vão
surgindo novas ideias, e a gente planeja a semana seguinte de aula considerando
as particularidades de cada turma”, explica.

Recentemente, a coordenadora observou, por exemplo, que os alunos de uma


turma de 2º ano estavam em níveis diferentes de aprendizagem, com crianças
ainda na fase inicial de alfabetização e outras que já liam fluentemente. “A partir
disso, sugeri que a professora responsável fizesse um trabalho de tutoria,
dividindo a turma em pequenos grupos de acordo com esses níveis”, lembra.

Além da aula no horário pré-estabelecido, a professora reservou um tempo para


atender grupos específicos, em outro momento, a fim de auxiliar os alunos que
estavam no início do processo de alfabetização. “Temos percebido o efeito
positivo, e essa é uma ação que está acontecendo a partir de uma observação que
fiz em uma aula remota”, reforça.

A gestora reconhece as limitações da observação de aula feita por Whatsapp, que


se restringe às interações entre professores e alunos, mas destaca a importância
dessa proximidade com os docentes, para que se sintam mais confiantes e
seguros. “Muitos estão tendo que se reinventar, e a função do coordenador
pedagógico é passar essa segurança”.
Ponto de vista do professor
Ao sentir esse suporte no dia a dia, a professora de alfabetização Jacira Monteiro,
que faz parte da equipe de Tatiana, destaca a importância de poder contar com o
apoio da coordenação pedagógica, principalmente durante o contexto remoto.
Ela conta que, no ano passado, realizou um show de talentos com a turma do 1º
ano pelo WhatsApp, com o apoio da coordenadora e contribuições que ela tinha
feito com base em observações de aula. “Quando eu apresento uma ideia, ela vai
‘frutificando’ esse pensamento. Por exemplo, quando falei do show de talentos,
ela já idealizou um palco, um cenário montado pelo aluno e responsável,
figurinos, e anunciou a possibilidade para os demais professores. E na hora da
apresentação, ela estava lá dando a maior força”, recorda Jacira.

“Toda semana nos reunimos para fazer o planejamento e isso, com certeza,
melhora a nossa prática pedagógica. O trabalho na nossa escola tem sido
participativo, todos falam e todos são ouvidos. Eu me sinto muito privilegiada e
amparada por saber que posso contar com a coordenação sempre que precisar”,
afirma Jacira.

Dicas práticas de observação de sala de aula durante o ensino


remoto
Veja alguns cuidados e procedimentos que o coordenador pode adotar para
aproveitar ao máximo esse recurso

1. Combine previamente com o professor o que será observado e quando a


observação irá acontecer. O planejamento é fundamental não só para coletar
informações, mas também para reforçar uma cultura de parceria entre coordenador e
docente.
2. Apresente-se, mas não interfira na aula. Muitas vezes, a presença do coordenador
pode instigar a curiosidade dos estudantes. Por isso, vale explicar o motivo de estar ali.
Se a aula acontecer por aplicativos como Zoom e Meet, é preferível ficar com câmera e
microfone desligados.
3. Tenha um conhecimento preliminar. Caso seja o primeiro contato com a turma,
participe de atividades anteriores à observação para conhecer os alunos e saber como
é o funcionamento do grupo.
4. Quando possível, grave a aula. Aplicativos como Zoom e Meet têm recursos de
gravação, o que pode ajudar a recuperar as informações e os pontos a serem
analisados com o professor. Vale lembrar que, para fazer isso, é preciso sempre contar
com o consentimento do docente.
5. Preste atenção nos registros escritos. O coordenador pode encontrar no chat
desses aplicativos dúvidas, respostas e comentários, que podem dar pistas do que está
dando certo e do que precisa ser melhorado.
6. Dê devolutivas. Assim que possível, compartilhe com o educador o que foi observado
e marque uma conversa para ouvi-lo, considerando os aspectos positivos, o que
precisa ser melhorado e as possibilidades de formação.

Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/20294/coordenacao-pedagogica-a-


importancia-da-observacao-de-sala-de-aula-e-do-acompanhamento-no-ensino-
remoto?gclid=Cj0KCQjwzYGGBhCTARIsAHdMTQxoBaNwkzGKwmuqpFNQpObK8ejygb4X-
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