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Capítulo 2 -Planificação urbanística

O direito do urbanismo é a disciplina jurídica que abrange o conjunto de normas e institutos


que disciplinam a expansão e renovação dos aglomerados populacionais assim como o complexo
das intervenções no solo e das formas de utilização do mesmo que dizem respeito às edificações,
valorização e proteção das belezas paisagísticas e dos parques naturais, à recuperação de
centros históricos, etc.. Resumindo, o direito do urbanismo é o ramo do direito que regula as
mais importantes formas de intervenção nos solos, dele fazendo necessariamente as normas
definidoras dos parâmetros urbanísticos, quer sejam emanados pelo Estado, quer pelas próprias
autarquias locais, onde se incluem, com especial relevo, as normas de planeamento.

O planeamento urbanístico afirma-se, assim, como um dos domínios de intervenção mais


importantes do direito do urbanismo (através deste define-se zonas de construção e zonas de
não-construção), apresentando com este uma relação de necessidade, por ser atualmente
impensável uma administração e uma prática urbanística realizadas ao acaso, devendo estas,
antes, ser devidamente enquadradas e orientadas por instrumentos de planeamento que
procuram programar racionalmente a sua intervenção.

O plano não constitui figura típica de atuação de administração pública.

O planeamento enquanto processo abrange a elaboração de planos (planeamento em sentido


estrito) mas também a sua execução, seja ela material- concretização das determinações do
plano que se traduzem em regras de ocupação e uso dos solos- ou jurídica- concretização das
disposições do plano que implicam uma distribuição de benefícios e encargos dele decorrentes-
, e a respetiva monitorização e avaliação.

Dos tipos de planos que a AP utiliza, realçam-se os planos económicos ou socioeconómicos-


visam o estabelecimento de opções relativas à evolução económica, definindo orientações para
a mesma- e os planos territoriais – têm por objeto com o intuito de intervir diretamente sobre
ele. Podemos definir plano como um instrumento que visa a realização de um certo fim,
estabelecendo, para esse efeito, um leque de medidas que permitam alcançá-lo; é um ato de
um órgão da AP que, através de diferentes medidas interligadas, visa a realização de uma
situação de ordenamento. Os planos urbanísticos integram-se nos planos territoriais, mas estes
são uma categoria mais extensa, abrangendo um conjunto de outros instrumentos de
planeamento. A este conjunto de instrumentos de planeamento designamos o sistema de
gestão territorial. (ATENÇÃO: art. 37º e 38º da Lei de Bases e art. 2º da RJIGT- este artigo é
taxativo, ou seja, só existem os planos territoriais previstos na lei).

→ Princípio da tipicidade dos instrumentos de gestão territorial: De acordo com este princípio,
a AP não pode elaborar os planos que entender mas apenas aqueles que a lei prevê de um modo
típico- art. 2º RJIGT. Isto é, o sistema de planeamento territorial está concebido como um
conjunto articulado de planos tipificadamente identificados pelo legislador (quer quanto ao seu
conteúdo, quer quanto aos respetivos efeitos, quer, ainda, quanto ao procedimento da sua
elaboração) que a AP deverá utilizar consoante a finalidade que pretenda atingir.

• Princípios jurídicos subjacentes aos instrumentos de gestão territorial:

a) Princípio da legalidade: os instrumentos de gestão territorial devem obediência à


lei (ou seja, devem respeito ao bloco da legalidade- não o podem violar). Este
princípio desdobra-se em vários princípios:
1- Princípio da homogeneidade de planificação: todo o solo é objeto de planificação;
2- Princípio do desenvolvimento territorial de acordo com os planos- ou seja, toda a
organização do território ocorre conforme o disposto dos planos;
3- Princípio da obrigatoriedade de planificação: todos os municípios são obrigados a ter,
pelo menos, o PDM;
4- Princípio da definição legal do procedimento de formação dos planos: tem de ser
cumprido o procedimento sob pena de invalidade;
5- Princípio da determinação legal do regime particular para certo tipo de bens: por
exemplo, se alguém quiser construir casa perto de um edifício de interesse nacional,
esta construção vai ter regras especiais/específicas.

b) Princípio da Hierarquia- os planos inferiores devem respeitar os superiores;

c) Princípio da proporcionalidade ou proibição do excesso

d) Princípio da igualdade- o direito do urbanismo não pode ser igual em todas as zonas

• Funções dos planos/objetivos:

A) Inventariação da realidade ou situação existente: corresponde ao levantamento da situação


existente e respetivas causas, que confere um grau de realismo aos planos, de modo a que
intervenha de forma eficaz e adaptada às necessidades de ordenamento do espaço de
intervenção.

- Ponto de vista fáctico: arts. 41º, nº3 e 45º, nº2, a) RJIGT e art. 97º, nº2, a) RJIGT

- Ponto de vista jurídico: art. 97º, nº3, c) RJIGT (planos municipais acompanhados por relatório
que indique licenças; autorizações; informações prévias favoráveis em vigor-ex. relatório que
diz que para aquele território, em vigor, estão uns determinados alvarás, para conferir um certo
realismo.

B) Conformação do território: corresponde à programação/organização do desenvolvimento


harmonioso, através da definição de regras e princípios respeitantes à organização e
racionalização da ocupação e utilização do espaço. (É um princípio subjacente à organização dos
vários tipos de planos)

Artigos importantes: arts. 30º e 31º; 39º, 42º e 43º; 52º e 53º; 61º e 62º; 69º e 75º RJIGT

C)Conformação do direito de propriedade dos solos: Relaciona-se com o facto de os planos


estabelecerem prescrições que tocam o direito de propriedade, como por exemplo, a
classificação do uso e do destino dos solos; a divisão do território em zonas e a definição de
parâmetros de ocupação, uso e transformação dessas zonas. Esta função não pertence aos
planos gerais- uma vez que não estabelecem o conteúdo do direito da propriedade- (aqueles
que fixam regras gerais, como o Programa Nacional, os programas setoriais e os programas
intermunicipais), mas sim aos planos mais específicos (aqueles que desenvolvem os planos
gerais e têm conteúdo mais concreto e especifico, como os planos municipais- PDM´S; PU´s;
PP´s). Neste princípio, os planos permitem a redefinição do direito de propriedade e a
determinação das possibilidades de edificação.

D)Gestão do território: Relaciona-se com o facto de os planos conterem disposições relativas à


execução concreta das suas previsões; com a execução do plano de maneira a concretizá-lo
efetivamente. Esta função espelha-se nos artigos 33º, nº3; 40º, al. a); 55º, nº2, al. f); 64º, nº2,
al. d); 86º, nº1; 100º, nº2, al. c); e 107º, nº2, al. d) RJIGT.

Classificação dos planos:

- Os planos podem ser classificados de acordo com diferentes critérios:

 Finalidade dos instrumentos de planeamento: visa sistematizar os planos territoriais de


acordo com os objetivos que os mesmos visam prosseguir.
 Planos globais ou gerais- estabelecem um ordenamento integrando território
por eles abrangido (aplicando-se, por isso, à totalidade do seu território) e
disciplinam todos os usos e destinos do solo ou espaço, com vista à satisfação
dos interesses com repercussão essa área. Ex.: Programa Nacional do
Ordenamento do Território; Programa Regional; Programa Intermunicipal;
Programa Municipal.
 Planos setoriais- visam apenas a disciplina ou a prossecução de um interesse
público específico. Por visarem uma função ou finalidade específica, os planos
setoriais abrangem somente a área territorial que interessa a essa finalidade.
Dizem respeito a programas e estratégias de desenvolvimento de setores, por
exemplo, da defesa, da segurança pública, da prevenção de riscos, do ambiente,
dos recursos hídricos, da conservação da natureza e da biodiversidade, dos
transportes, das comunicações, da energia, da cultura, da saúde, do turismo, da
agricultura, das florestas, do comércio ou da indústria- art. 40º, nº3 da Lei de
Bases
 Planos especiais- visam a fixação de princípios e regras de ocupação, uso e
transformação do solo nas áreas por eles abrangidas, com vista à satisfação de
um interesse público concreto, em regra de ordem ambiental; têm objetivos
específicos relativos ao território, nomeadamente a salvaguarda dos recursos
naturais. Ex.: Programas da orla costeira, das áreas protegidas, de albufeiras de
águas públicas e dos estuários. – art. 40º, nº5 da Lei de Bases

 Âmbito espacial/ territorial de aplicação: Este critério reporta-se à área territorial de


incidência do plano. De acordo com estes critérios podemos organizar os instrumentos
de planeamento em 5 níveis:
 Nível nacional: Aqui integra-se o PNPOT- art. 40º da Lei de Bases;
 Nível regional: Aqui integra-se os planos regionais de ordenamento do território
(áreas das CCDR) -art. 52º RJIGT;
 Nível supramunicipal: Aqui integra-se os planos intermunicipais de
ordenamento do território, que abrangem a totalidade ou parte das áreas
territoriais pertencentes a 2 ou mais municípios vizinhos, desde que se trate de
áreas que, pela interdependência dos seus elementos estruturantes,
necessitam de uma coordenação integrada. Ex.: Programas e planos
intermunicipais- art. 61º RJIGT
 Nível Municipal: relativo ao território do município. Aqui integra-se o PDM- art.
43º da Lei de Bases e 95º da RJIGT
 Nível submunicipal: Relativo a parte do território. Aqui integra-se o Plano de
Urbanização- art. 98º RJIGT- que abrange qualquer área do território municipal
integrada no perímetro urbano e solo rural complementar que se revele
necessário para estabelecer uma intervenção integrada de planeamento, bem
como outras áreas do território municipal (solo rural) que, de acordo com os
objetivos e prioridades do plano diretor municipal, possam ser destinadas a
usos e funções urbanas, como sucede com áreas destinadas a parques
industriais, logísticos ou de serviços e ainda a empreendimentos turísticos e
equipamentos e infraestruturas associadas; e também o Plano de Pormenor-
art. 101º RJIGT- que tratam em detalhe áreas continuas do território municipal
correspondentes, designadamente, a uma unidade ou subunidade operativa de
planeamento e gestão, ou a parte delas.

 Grau Analítico das Previsões- Esta classificação fundamenta-se na ideia de que a


planificação territorial se realiza segundo um processo de concretização progressiva,
havendo planos com um maior grau de analiticidade ou concretização do que os outros.
Assim, os planos podem ser classificados como:
1- Planificação/Planos projetiva: caracterizam-se pelo seu grau de abstração elevado-
são genéricos, definem opções e linhas do ordenamento do espaço. Ex.: PNOT e
programas regionais.
2- Planificação/Planos determinativa: Caracterizam-se por possuírem um grau de
analiticidade intermédio; desenvolvem tanto sob o ponto de vista territorial tanto
sob o ponto de vista das matérias, o conteúdo dos planos projetivos e, por outro
lado, são recebidos em planos de maior concretiza. Por outras palavras,
desenvolvem os programas regionais; são planos de maior concretização. Ex.: PDM.
3- Planificação-ato: Compreende os planos que possuem o mais elevado grau de
analiticidade ou concretização, no sentido de que as suas previsões não encontram
ulterior concretização em outras etapas planificatórias. Por outras palavras,
constituem planos mais concretos que o PDM. EX.: Plano de Pormenor.

 Eficácia Jurídica- pretende diferenciar os planos em função dos respetivos destinatários


que estes vinculam.
1- Autoplanificação: Vinculam todos os sujeitos a quem cabe a sua elaboração e
aprovação (Todos os Planos Territoriais) - Art. 46º, nº1 da Lei de Bases e art.3º, nº1
do RJIGT.
2- Heteroplanificação: Vinculam as entidades públicas que os elaboram bem como
outras entidades públicas (Todos os Planos) - Art. 46º, nº1 da Lei de Bases e art. 3º,
nº1 do RJIGT.
3- Planificação Plurisubjetiva: Planos que vinculam direta e imediatamente os
particulares (Planos Municipais) - Art. 46º,nº2 da Lei de Bases e art. 3º, nº2 do RJIGT.

ATENÇÃO: Todas as entidades públicas devem obediência a todos os planos. Os


privados/particulares só devem obediência ao PDM.

Tipicidade dos instrumentos de gestão territorial:

 À luz do p. da tipicidade, a Administração Pública não pode elaborar os planos que


entender, mas apenas aqueles que a lei prevê.
 O sistema de planeamento territorial está concebido como um conjunto articulado de
programas e planos identificados pelo legislador (conteúdo, efeitos e procedimento).
 ATENÇÃO: art.38º de Lei de Bases e art. 2º da RJIGT.
Programas Planos
-Programa Nacional de Política de - Plano Diretor Intermunicipal12
Ordenamento do Território
- Programas setoriais - Planos de Urbanização Intermunicipais
- Programas especiais - Planos de pormenor Intermunicipais
- Programas regionais - Plano Diretor Municipal3
- Programas Intermunicipais - Planos de Urbanização
- Planos de Pormenor

 Programa Nacional da Politica do Ordenamento do Território- Lei nº 95/2019, de 5 de


setembro
 É um instrumento de desenvolvimento territorial de âmbito nacional- art. 40º,
nº1 da Lei de Bases e art.31º da RJIGT;
 Estabelece o quadro de referência para os restantes planos, ou seja, dá
diretrizes.- Isto é, trata-se de um instrumento essencialmente orientador, na
medida em que define as diretivas e orientações fundamentais em matéria da
organização do território nacional.
 O PNPOT estabelece as opções estratégicas com relevância para a organização
do território nacional, consubstancia o quadro de referência a considerar na
elaboração dos demais programas e planos territoriais e constitui um
instrumento de cooperação com os demais programas e planos territoriais e
constitui um instrumento de cooperação com os demais Estados-Membros para
a organização do território da União Europeia- art. 30º RJIGT. (Noção)
 Objetivos: os referidos no artigo 31º RJIGT.
 Conteúdo material e documental: referidos nos artigos 32º e 33º RJIGT.
(nomeadamente, regras de definição da organização espacial; constituído por
relatório e programa de ação);
 Eficácia Jurídica: Autoplanificação e Heteroplanificação (vinculam todas as
entidades públicas) - artigo 46º, nº1 da Lei de Bases e artigo 3º do RJIGT.
 Elaboração e aprovação: artigos 34º, nº1, 35º e 38º RJIGT (ver desde 35º a 38º)
– elaborado pelo Governo, acompanhado por uma comissão consultiva,
divulgado para discussão pública e aprovado pela Assembleia da República.
 Publicação e Depósito: art.191º, nº1 e 193º RJIGT (ATENÇÃO: se um
instrumento de gestão territorial não for publicado, não é eficaz).

 Programas Setoriais
 São instrumentos de política setorial, que abrangem a área territorial necessária
para a respetiva intervenção, sendo em regra uma área supramunicipal- art.
40º, nº3 da Lei de Bases;
 Incidem sobre a prossecução do interesse público qualquer que ele seja.
 São instrumentos que visam a programação ou concretização das diversas
politicas com incidência na organização do território- artigo 39º RJIGT (ver nº2)
(Noção);

1
Abrange a área de 2 ou mais municípios.
2
PDM e PDIntermunicipal têm a mesma função só difere a área que abrange.
3
Só abrange a área de um município.
 Não tem como objetivo o bom planeamento do território, mas prosseguir
interesses públicos.
 Conteúdo material e documental: os referidos no artigo 40º e 41º RJIGT
 Eficácia Jurídica: Autoplanificação e Heteroplanificação (vinculam todas as
entidades públicas) - artigo 46º, nº1 da Lei de Bases e artigo 3º do RJIGT.
 Elaboração e Aprovação: arts. 46º a 51º RJIGT- São elaborados pela
Administração Central, aprovados pelo Governo, após despacho do ministro
competente em razão de matéria (art.46º RJIGT); dependem de parecer da
CCDR competente, das entidades ou serviços da administração pública
competentes e municípios abrangidos (art.48º RJIGT); sujeitos a discussão
pública (art.50º RJIGT); aprovados por resolução do Conselho de Ministros
(art.51º RJIGT);
 Publicação e Registo: arts. 191º, nº1 e 193º da RJIGT.
 Exemplo de programa setorial: Rede Natura 2000.

 Programas Especiais de Ordenamento do Território


 São instrumentos de natureza especial - art. 40º, nº 4 e 5 da Lei de Bases-
envolvendo a área necessária para o interesse a prosseguir (âmbito territorial);
 São elaborados pela administração central e visam a prossecução de objetivos
considerados indispensáveis à tutela de interesses públicos e de recursos de
relevância nacional com repercussão territorial, estabelecendo,
exclusivamente, regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais- artigo
42º, nº1 da RJIGT (Noção)
 Tipos de programas especiais: ver nº2. Ex.: Programa de Ordenamento da Orla
Costeira e áreas protegidas;
 Objetivos: os referidos no artigo 43º RJIGT;
 Conteúdo material e documental: arts. 44º e 45º RJIGT (nomeadamente,
regime de salvaguarda de recursos naturais através da fixação de regime de
gestão do solo; Regulamento e peças gráficas, relatório e planta de
condicionantes).
 Eficácia Jurídica: Autoplanificação, Heteroplanificação e Planificação
Plurisubjetiva- arts. 46º, nº1c e 2 Lei de Bases e art.3º,nº1 e 2 RJIGT.
 Elaboração e Aprovação: artigos 46º a 51º RJIGT (Competência do governo- art.
46º-, acompanhado por comissão de acompanhamento- art. 49º-, assegurada a
participação dos interessados- art. 50º- e aprovado por resolução de Conselho
de Ministros- art. 51º)
 Publicação e Registo: art. 191º e 193º RJIGT
 Exemplo: Resolução do Conselho de Ministros nº 142/2000

 Programa Regional de Ordenamento do Território


 É um instrumento de desenvolvimento de âmbito regional- art.41º Lei de Bases
(abrange, em regra, a área correspondente à respetiva CCDR- art. 53º, nº3 a
contrário).
 São os programas que definem a estratégia regional de desenvolvimento
territorial, integrando as opções estabelecidas a nível nacional e considerando
as estratégias sub-regionais e municipais de desenvolvimento local,
constituindo o quadro de referência para a elaboração dos programas e dos
planos intermunicipais e dos planos municipais.- Art. 52º, nº1 RJIGT (Noção)
 Objetivos: referidos no artigo 53º RJIGT (nomeadamente, desenvolver as
opções do programa nacional);
 Conteúdo material e documental: arts. 54º e 55º RJIGT ( Nomeadamente, a
definição de um modelo de organização do território regional; opções
estratégicas, normas orientadoras e conjunto de peças gráficas, esquemas e
relatório).
 Eficácia Jurídica: Autoplanificação e Heteroplanificação (não vincula
diretamente os particulares porque as suas normas apenas definem o quadro
estratégico, as diretrizes orientadoras de carácter genérico, e as orientações
para o ordenamento do território, sendo que, deste modo, as suas disposições
não podem servir de base para decisões concretas da Administração em relação
aos particulares).
 Elaboração e Aprovação: arts. 56º a 60º RJIGT (Elaborado pela CCDR, por
proposta/determinação do0 Governo- art.56º-, acompanhado por uma
comissão consultiva, devendo ser obtido acordo/concertação com aqueles que
discordem, o qual pode ser ultrapassado mediante parecer da Comissão
Nacional do território- arts. 57º e 58º RJIGT.) ATENÇÃO: art. 60º, nº2, al.a).
 Exs. Resolução do Conselho de Ministros nº 102/2007, de 3 de agosto;
Resolução do Conselho de Ministros nº 64º-A/2007, de 6 de agosto, etc.
 Programas Intermunicipais de Ordenamento do Território
 É um instrumento de desenvolvimento territorial- art. 42º da Lei de Bases- e
abrange a totalidade ou parte das áreas territoriais pertencentes a 2 ou mais
municípios- art. 61º,nº2 RJIGT.
 São instrumentos que asseguram a articulação entre o programa regional e os
planos intermunicipais e municipais, no caso de áreas territoriais que, pela
interdependência estrutural ou funcional ou pela existência de áreas
homogéneas de risco, necessitem de uma ação integrada de planeamento- art.
61º, nº1 RJIGT (Noção)
 Objetivos: os referidos no artigo 62º do RJIGT;
 Conteúdo Material e Documental: artigos 63º e 64º RJIGT (nomeadamente,
estabelece as regras para uso integrado no território abrangido; relatório, peças
gráficas, planta de enquadramento, programa de ação principal).
 Eficácia Jurídica: Autoplanificação e Heteroplanificação
 Elaboração e Aprovação: ver artigo 20º, nº3 Lei de Bases e arts. 65º a 68º RJIGT
(elaborado pela comissão consultiva metropolitana, conselho intermunicipal ou
pelos municípios associados após proposta nas Assembleias Municipais ou
Assembleia Intermunicipal (art. 65º RJIGT), acompanhado por comissão
consultiva e sujeito a concertação (art. 67º), aprovado por deliberação das
Assembleias Municipais ou Intermunicipal (art. 68º);
 Publicação e Registo: arts. 191º, nº2 e 193º RJIGT.

 Planos Intermunicipais e Municipais de Ordenamento do Território


 São instrumentos de planeamento territorial- art. 43º RJIGT;
 São instrumentos de natureza regulamentar e estabelecem o regime do uso do
solo (artigo 70º RJIGT), definindo modelos de ocupação territorial e da
organização de redes e sistemas urbanos e, na escala adequada, parâmetros de
aproveitamento do solo, bem como de garantia da sustentabilidade
socioeconómica e financeira e da qualidade ambiental- artigo 69º RJIGT
(Noção);
 Artigo 71º - estabelece a classificação do solo; artigo 74º- estabelece a
qualificação do solo.
 Arts. 8º e 9º DL nº 15/2015- possibilidade de transformar o solo rústico em solo
urbano.

Classificação do solo

Rural Urbano
Atenção: DL nº15/2015

- Espaços Naturais; - Espaços centrais;

- Espaços agrícolas; - Espaços residenciais;

- Etc. - Etc.

 Planos Municipais
 Ver o que referi acima.
 Objetivos: artigo 75º RJIGT;
 Elaborados pela Câmara Municipal- artigo 76º RJIGT;
 Participação dos interessados- artigo 88º RJIGT;
 São aprovados pela Assembleia Municipal, mediante proposta da Câmara
Municipal- arts. 90º, nº1 e 2 RJIGT
 Âmbito Territorial: estabelece a estrutura espacial de todo o território
municipal.
 Ver artigos entre os artigos 76º a 94º RJIGT.
 Tipos de planos municipais: Plano Diretor Municipal- art.95º e ss RJIGT; Plano
de Urbanização- art. 98º e ss RJIGT; Plano de Pormenor- art. 101º e ss RJIGT.
Plano Municipal PDM PU PP
Objeto Art. 95º- É um Art.98º- concretiza Art.101º-
instrumento que o PDM, fornecendo desenvolve e
estabelece a o quadro de concretiza em
estratégia de referência para a detalhe as
desenvolvimento aplicação das propostas de
territorial municipal. políticas urbanas ocupação de
definindo a qualquer área do
localização das território
infraestruturas e municipal.
dos equipamentos
coletivos.
Acompanhamento Obrigatório- art.83º Facultativo- art. 86º Facultativo- art.
86º
Conteúdo Arts. 96º e 97º Arts. 99º e 100º Arts. 102º e 107º
Ratificação Art. 91º
Nota: A regra é que haja respeito pelos programas regionais, especiais e setoriais; porém,
pode haver desrespeito desde que o Governo proceda à ratificação. (Dúvidas)
 Planos Intermunicipais
 São instrumentos de natureza regulamentar que prosseguem os objetivos
previstos no art. 75º, relativamente ao território de 2 ou mais municípios
vizinhos- art. 110º, nº1 (Noção)
 Elaboração e aprovação: arts. 111º e 112º
 Tipos: Plano Diretor Intermunicipal (art.113º), Plano de Urbanização
Intermunicipal (art. 114º) e Plano de Pormenor Intermunicipal (art.114º)

Atenta ao seguinte comentário “ O PDM tem maior crença/adesão do que o PDIntermunicipal”

1. Não existe nenhum PDIntermunicipal;


2. Não há grande crença no PDIntermunicipal, porque os PDM é que são um dos motores
da economia dos municípios;
3. O PDM pode ser suspenso temporariamente desde que o município o acorde, se houver
o PDIntermunicipal não pode um município suspende-lo sem o outro acordar
4. O PDM faz mexer a economia do município no sentido em que se existir um bom
planeamento e se alguém quiser fazer uma casa, essa pessoa vai ter de recorrer a um
arquiteto para projetar a casa, de um solicitador para obter o licenciamento e as outros
profissionais, como engenheiro civil, eletricista, etc.- ou seja, vai criar postos de
trabalho.

A dinâmica dos planos

 Os planos podem ser objeto de alteração, de correção material, de revisão, de


suspensão e de revogação, mediante die dispõe o arrigo 115º RJIGT;
 Quanto à alteração, nos de âmbito nacional e regional é aplicável o artigo 116º RJIGT;
nos de âmbito intermunicipal aplica-se o artigo 117º RJIGT; e nos de âmbito municipal
aplicam-se o artigo 118º RJIGT.
 Quanto às correções materiais, estas encontram-se reguladas no artigo 122º
 A Revisão dos planos está disposta no artigo 124º RJIGT,
 A suspensão nos de âmbito nacional e regional está no artigo 125º e nos de âmbito
municipal está no artigo 126º RJIGT (atenção: nº3 e 7);
 Quanto há revogação, disposta no artigo 127º RJIGT, esta ocorre por força de uma
revisão, assim, sempre que haverá uma revisão esta importa uma revogação.

Relação entre os instrumentos de gestão territorial

 Tendo em consideração a complexa tipologia dos instrumentos de gestão territorial em


vigor, o facto de estes serem imputáveis a distintas entidades públicas e ainda a
possibilidade de ocorrência de sobreposição territorial entre eles, torna-se
indispensável identificar as formas de relacionamento entre eles, de modo a evitar
colisões de normas e conflitos normativos, que se apresentam sempre como negativos
para uma política que se pretenda eficaz, como é a política de ordenamento do
território.
 Os princípios de relacionamento entre planos são o princípio da hierarquia e o princípio
da articulação dos planos. O princípio da hierarquia consiste numa organização
hierárquica dos instrumentos de gestão territorial, sendo que tal significa que as
disposições de um plano de hierarquia inferior devem respeitar as determinações dos
planos hierarquicamente superiores.
 Mais importante que o princípio da hierarquia dos planos é o principio da articulação
dois planos, isto é, embora vigore o principio da hierarquia entre os vários instrumentos
de gestão territorial, é mais importante a existência de uma articulação entre eles
(planos inferiores e planos superiores) e a coordenação das entidades responsáveis
pelos diferentes instrumentos, de maneira a que não estejam em vigor sobre a mesma
área planos com soluções de ordenamento do território opostas, que suscitem conflitos,
mas sim soluções que são ponderadas e discutidas entre as várias entidades
responsáveis na matéria. Com este princípio pretende-se acentuar a capacidade das
várias entidades responsáveis pela elaboração dos instrumentos de gestão territorial
têm de coordenar entre si as suas atuações.

 Relações entre os instrumentos da responsabilidade do Estado (PNOT, Programas


Setoriais, Programas Especiais e Programas Regionais)
 A regra estabelecida no art. 26º, nº1 RJIGT é que entre o PNOT, os programas
setoriais, programas especiais e programas regionais haja um compromisso
reciproco de compatibilização das respetivas opções, ou seja, que as normas
destes sejam compatíveis entre si.
 O PNOT é um programa superior a todos os instrumentos de gestão territoriais,
assim todos o têm de respeitar, não existindo qualquer exceção. (artigo 26º, nº3
RJIGT);
 Do nº2 e 4 deste art.26º resulta que os programas regionais estão subordinados
aos programas setoriais e regionais, considerando-se assim que estes são
inferiores aqueles.
 Há uma flexibilidade prevista no artigo 60º, nº2 que indica a possibilidade do
programa regional alterar o programa setorial e especial.
 Relações entre programas e planos territoriais- art.27º RJIGT
 Os programas e planos intermunicipais e municipais inferiores aos programas
nacionais e regionais. (ter em atenção a possibilidade consagrada no art. 91º
RJIGT, em que o PDM excecionalmente através do mecanismo da ratificação,
pode alterar o programa regional, sanando as incompatibilidades)
 Os planos municipais são inferiores aos programas intermunicipais
preexistentes
 Os planos municipais e os planos intermunicipais estão ao mesmo nível, sendo
que só pode existir 1 deles num município.- Atendendo ao art.27º, nº4
percebemos que estes planos não podem abranger a mesma área.
 Os planos de pormenor e os planos de urbanização são inferiores aos planos de
diretor municipal e intermunicipal.- Art. 27º, nº5 RJIGT

Concluindo, atualmente existe uma grande flexibilidade entre os instrumentos de gestão


territorial. Atendendo ao art.28º RJIGT, evidenciamos que o princípio da hierarquia implica a
atualização dos instrumentos de gestão territorial.

 Violação dos Planos:


 Consequências de violação dos planos por outros planos:
o Os planos elaborados e aprovados em violação de qualquer instrumento de
planeamento é nulo.
o Os arts. 126º a 128º (mais o 128º) RJIGT estabelecem que a compatibilidade e
conformidade dos instrumentos de gestão territorial é condição de validade destes,
estabelecendo o artigo 129º RJIGT que caso falte essa compatibilidade e conformidade
o plano é nulo. (ver arts. 26º e 27º)
o O desrespeito pela relação hierárquica dos planos culmina em nulidade
o Art.129º, nº3 RJIGT- a declaração de nulidade não prejudica os efeitos dos atos
administrativos praticados com base num plano. Tal visa garantir a estabilidade dos
efeitos dos atos administrativos praticados. Esta regra aplica-se a todas as declarações
de nulidade independentemente do vício que a gerou e não apenas à violação do
princípio da hierarquia.

Consequências da violação dos planos por atos administrativos de gestão


urbanística
o Os atos administrativos que violem os instrumentos de gestão
territorial são nulos. Ex. O Sr. A faz um pedido de licenciamento e a CM
autoriza em violação do PDM. Este ato administrativo é nulo.
o Atenção: artigos 130º RJIGT e 68º, alínea a) RJUE;
o A nulidade dos atos administrativos praticados em violação dos planos
não podem ser invocados a todo tempo, ocorrendo assim uma exceção
à regra do Direito Administrativo (art,162º CPA), aplicando-se o artigo
69º, nº4 RJUE (prazo de 10 anos, para conferir segurança e certeza
jurídica);~
o A limitação dos 10 anos deve-se à sobreposição dos efeitos entretanto
produzidos em relação ao interesse público da legalidade.
 Consequências da violação dos planos por atos materiais de realização de
operações urbanísticas (art.131º RJIGT?) (constroem sem licenciamento)
o Neste caso existem 2 tipos de medidas: o ilícito de mera ordenação
social e o embargo dos trabalhos e a demolição das obras
(art.132ºRJIGT).
o Quanto ao ilícito de mera ordenação social, este corresponde a um
ilícito administrativo punível com coima e aplica-se na realização de
obras e utilização de edifícios;
o O embargo de trabalhos é uma medida cautelar/preventiva, que visa
protege o solo em questão, para que não continue a ser posto em causa.
Consiste numa ordem que impede a continuidade dos trabalhos.
o A demolição de obras é uma medida definitiva/executiva e ocorre
quando não se pode mesmo legalizar aquelas obras.
 O contencioso dos planos:
 A violação dos princípios jurídicos fundamentais da atividade de planificação
territorial inquina (corrompe) os planos ou alguma das suas disposições de
ilegalidade. ´
 Há vícios que originam a invalidade do plano na sua totalidade (vícios relativos
as sujeitos, vícios relativos ao procedimento, etc.) e outros que originam a
invalidade parcial do plano (vícios relativos a conteúdo, ao fim, etc.).
 Neste contexto, os administrados (os cidadãos) têm garantias (maneiras de
fazerem valer os seus direitos) - estas são garantias políticas, administrativas e
jurisdicionais.
 Garantias políticas: compreendem o direito à petição (art. 52º, nº1 e 2 CRP) e o
direito de queixa ao provedor de justiça (art.7º, nº1, al.b) RJIGT);
 Garantias administrativas: compreendem as garantias gerais dos administrados
(art. 7º, nº1 RJIGT); as garantias petitórias (direito de petição administrativa,
direito de queixa e direito de participação procedimental); garantias
impugnatórias- estas compreendem a reclamação- que pode ser um pedido de
reapreciação do plano (arts. 191º e ss CPA) -; pedido de reapreciação do plano
e recurso hierárquico- art. 193º CPA- mas neste caso não se aplica porque no
caso do PDM, este é aprovado pela Camara Municipal e ela já é o órgão
superior.
 Garantias jurisdicionais- são distintas consoante os planos sejam dotados de
eficácia plurisubjetiva (planos) ou não sejam dotados de eficácia plurisubjetiva
(os programas)
 Dotados de eficácia plurisubjetiva- os planos podem ser impugnados
diretamente pelos particulares, mediante o disposto no art. 7º, nº2 RJIGT e
podem ser impugnados por:
1- Impugnação indireta: ocorre quando se faz recurso de anulação de um ato
administrativo praticado com base num plano ilegal- ex. Emissão de uma
licença baseada num plano que se entenda ilegal. Se o tribunal considerar
que o plano é ilegal, não se aplica o ato administrativo em concreto e por
consequência anula o ato. Esta ilegalidade do plano só produz efeitos entre
as partes processuais, anulando o ato e não o plano ainda que ilegal.
(impugna-se diretamente o ato e indiretamente o plano)
2- Impugnação direta (pedir declaração de ilegalidade): a impugnação do
plano ou das suas normas pode ser feita de 2 formas:
a) Declaração de ilegalidade com força obrigatória geral- pode ser
invocada pelo Ministério Público sem dependência de pressupostos
(art. 73º, nº1 CPTA) - o MP tem essa obrigação quando tenha
conhecimento de 3 decisões de desaplicação das normas do plano com
fundamento na sua ilegalidade (art. 73º, nº4 CPTA); pode ser invocada
pelo lesado ou previsível lesado pela vigência da norma,
independentemente da prática de ato- art. 73º, nº1 CPTA. Os efeitos
desta declaração estão previstos no artigo 76º CPTA.
b) Declaração de ilegalidade sem força obrigatória geral- os
fundamentos de ilegalidade são os previstos no art. 281º, nº1 da CRP.
É invocada para o interessado- art. 73º, nº2 CPTA. É uma declaração de
ilegalidade do plano com efeitos circunscritos ao caso concreto- ex. A
vê o seu plano cheio de inconstitucionalidades e vê o seu solo urbano
ser entendido como solo rustico, este pede que o plano seja declarado
nulo na sua situação concreta.
 Sem eficácia plurisubjetiva- são os planos com normas genéricas ou diretivas,
vinculam as entidades públicas- as que estão sujeitas a eles- e não os
particulares, daí não poderem ser impugnados diretamente pelos particulares,
que estão sujeitos, no entanto, a direito de ação popular- arts. 52º, nº3, al.a)
CRP e art.7º, nº1, al.a) RJIGT.

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