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Acórdão do Tribunal da Relação de Évora 20/07/21, 12:46

Acórdãos TRE Acórdão do Tribunal da Relação de


Évora
Processo: 26/12.1TBPTG-D.E1
Relator: ALBERTINA PEDROSO
Descritores: COMPETÊNCIA MATERIAL
ALIMENTOS A MENORES
MAIORIDADE
ALTERAÇÃO
Data do Acordão: 09-03-2017
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Sumário:
I - No domínio da anterior redacção do artigo 1905.º do Código
Civil, a jurisprudência dominante perfilava o entendimento de
que atingida a maioridade caducava a pensão de alimentos,
pelo que, quando fixada durante a menoridade do alimentado
tal pensão, para que a fixação da obrigação de alimentos, nos
quadros do artigo 1880.º do Código Civil pudesse operar, tinha
o filho, agora maior de idade, que requerer, em processo
próprio, a fixação de alimentos através do processo previsto no
artigo 1412.º do Código Civil.
II - Atenta a redacção introduzida pela Lei n.º 122/2015, de 1
de Setembro, que acrescentou o n.º 2 no artigo 1905.º do CC,
considerando a referida divergência de entendimentos, e o teor
do segmento inicial da alteração introduzida, sublinhando o
legislador que, para efeitos do disposto no artigo 1880.º,
entende-se que se mantém para depois da maioridade, deve
concluir-se que estamos perante lei que é interpretativa do
artigo 1880.º do CC, quanto à extensão da obrigação de
alimentos a cargo dos progenitores durante a menoridade, e
até que o filho complete 25 anos.
III - Assim, a regra actualmente estabelecida no artigo 1880.º
do CC, é a de que a pensão fixada em benefício do filho menor
mantém-se até que este complete os 25 anos, cabendo deste
modo ao progenitor obrigado aos alimentos fixados durante a
menoridade o ónus de cessar essa obrigação demonstrando
que ocorre uma das três situações elencadas pelo legislador
no segundo segmento do preceito em questão: que o filho
completou o respectivo processo de educação ou formação
profissional; que o interrompeu livremente; que a exigência de
alimentos seja irrazoável.
IV - Acresce que, de modo inovador, com a alteração
efectuada ao regime substantivo, a referida Lei n.º 122/2015
procedeu à correspondente alteração no âmbito processual,
mormente no n.º 3 do artigo 989.º do CPC, conferindo agora

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legitimidade ao progenitor que suporta o encargo de pagar as


despesas dos filhos, para exigir a contribuição do obrigado a
alimentos.
V - A aplicação do disposto no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º
272/2001, tem de ser concatenada com as disposições do
Código de Processo Civil e do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível, requerendo um esforço de interpretação do
sistema e não apenas deste diploma, porquanto, em face da
multiplicidade de situações da vida que podem ocorrer, o
legislador estabeleceu um leque de meios processuais a que o
impetrante que invoca a necessidade de alimentos pode
recorrer, consoante a situação em presença.
VI - Assim, não podendo o legislador desconhecer a existência
do referido Decreto-Lei n.º 272/2001, e considerando que a
LOSJ expressamente cometeu aos tribunais, nos termos
expostos, a competência para a decisão dos processos em
que estejam em causa alimentos a filhos maiores ou
emancipados, com fundamento no artigo 1880.º do CC,
perante um processo desta natureza não pode o juiz, sem
mais, rejeitar de imediato a respectiva competência, devendo
antes analisar os fundamentos em que a parte que formula o
pedido assenta a respectiva pretensão.
VII - Da interpretação do artigo 983.º, n.º 2, do CPC, efectuada
de acordo com o disposto no artigo 9.º do CC, decorre que: a)
- se estiver a correr o processo de regulação das
responsabilidades parentais e ainda não tiverem sido fixados
os alimentos devidos ao filho, a maioridade ou emancipação
que entretanto ocorram não impedem que tal processo se
conclua, podendo consequentemente tal fixação ocorrer já
após a maioridade; b) - se durante a menoridade do filho tiver
havido decisão a fixar alimentos a suportar por um ou ambos
os progenitores no âmbito do processo de regulação das
responsabilidades parentais, a maioridade ou emancipação
que ocorram posteriormente a tal fixação não impedem que os
incidentes posteriores quer de alteração quer de cessação dos
alimentos corram por apenso àquele processo de regulação.
VIII - Assim, enquanto o meio processual de concretização do
direito a alimentos do filho maior a que alude o artigo 1880.º do
CC, que não foram fixados durante a respectiva menoridade, é
o recurso à Conservatória do Registo Civil ou ao processo de
jurisdição voluntária previsto no artigo 989.º do CPC, caso não
exista ou não seja viável a obtenção de acordo; nos demais
casos em que esteja em causa peticionar alimentos devidos

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por ascendente a filho maior, sem escopo educativo e sem


limitação temporal, seguir-se-á a forma processual comum
actualmente regulada nos artigos 552.º e seguintes do CPC.
IX - Já nos casos em que foi fixada uma prestação de
alimentos em processo que correu termos durante a
menoridade do filho, e após a entrada em vigor da Lei n.º
122/2015, de 1 de Setembro, podemos surpreender três
possibilidades adjectivas de concretização do direito a
alimentos do filho maior, com fundamento no disposto no artigo
1880.º do CC: a) - o progenitor obrigado a alimentos deixou de
pagar voluntariamente e o filho pretende que lhe seja satisfeito
tal montante: o meio próprio é o recurso à execução por
alimentos, servindo a decisão homologatória de acordo
abrangente de pensão de alimentos para o então menor, como
título executivo relativamente aos alimentos para o filho maior
vencidos após a entrada em vigor da referida lei; b) – o filho
maior pretende ver alterado o montante da prestação de
alimentos anteriormente fixada: para o efeito deduz incidente
de alteração por apenso ao processo de regulação das
responsabilidades parentais; c) – o progenitor que assume a
título principal o encargo de pagar as despesas do filho maior,
e que pretende ver alterado o montante da prestação de
alimentos anteriormente fixada: deduz incidente de alteração
por apenso ao processo de regulação das responsabilidades
parentais.
X - No caso dos autos, visando a progenitora exigir do pai da
sua filha, agora maior, o pagamento de uma contribuição para
o sustento e educação desta, em valor superior àquele que o
progenitor se encontrava obrigado a pagar por via de anterior
processo de regulação das responsabilidades parentais, nos
termos inovatórios actualmente consentidos pelo n.º 3 do
artigo 989.º, o meio processual próprio para o fazer, por força
do n.º 2 do mesmo artigo, é deduzir incidente de alteração do
montante dos alimentos fixados no processo, por apenso
àqueles autos de regulação das responsabilidades parentais.
Decisão Texto Integral:
Processo n.º 26/12.1TBPTG-D.E1
Tribunal Judicial da Comarca de Portalegre[1]
*****
Acordam na 1.ª Secção Cível do Tribunal da Relação de
Évora[2]:

I – RELATÓRIO

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1. AA, no dia 7 de Julho de 2016, propôs a presente acção


acção de alimentos devidos a sua filha, CC, maior, contra o
seu pai, BB, pedindo que este seja condenado a pagar à filha
de ambos, uma pensão de alimentos, invocando - para o que
importa neste recurso -, que por acordo extrajudicial, datado
de 30 de Outubro de 2015 e homologado por sentença de 12-
11-2015, já transitada em julgado, nos autos que correram
seus termos sob APENSO B, ficou acordado que “o pai passa
a pagar a pensão de alimentos de 87,15€ (oitenta e sete euros
e quinze cêntimos) para cada filho, que deverá ser descontada
no seu salário mensal e entregue directamente pela sua
entidade patronal à mãe dos seus filhos; acontece que a CC
nasceu a 5 de Julho de 1998; fez recentemente 18 anos;
porém, o pai, deve continuar a contribuir para o seu sustento
mantendo pelo menos a pensão mensal de alimentos fixada
em seu benefício durante a menoridade; a CC está
matriculada no 12º ano do ensino secundário, no curso de
Línguas e Humanidades; pretende continuar a estudar,
estando inscrita e, neste momento a realizar, os exames de
acesso ao ensino superior; e pretende concorrer ao ensino
superior e frequentar o curso superior de Direito em Lisboa, o
que ocorrerá a partir de Setembro deste ano; a CC, apesar de
maior, quer continuar a estudar e não pode sustentar-se
porque não tem emprego, pelo que estará, como agora,
necessariamente a cargo dos pais.
2. Por despacho proferido em 7 de Setembro de 2016 foi o
requerimento inicial liminarmente indeferido, com o
fundamento de que o Tribunal não é competente em razão da
matéria para apreciar o pedido, em face do disposto nos
artigos 5.º, n.º 1, alínea a) do DL 272/2001, de 13 de Outubro,
96.º, n.º 1, e 590.º, n.º 1, alínea a), do Código de Processo
Civil[3], e terminando com a consideração de que deve a filha
maior de idade, caso tenha essa pretensão, apresentar o
respectivo requerimento na competente Conservatória do
Registo Civil.
Em fundamento, aduziu-se, no despacho recorrido, para além
do mais, que:
«(…) desde 01/01/2002, o tribunal não tem competência, ou
melhor, jurisdição, para apreciar o pedido de alimentos de filho
maior.
Trata-se efectivamente, ab initio, de falta de jurisdição do
tribunal.
A competência para o efeito inicia-se na Conservatória do

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Registo Civil, não obstante poder o processo posteriormente


transitar para o tribunal (no caso de falta de acordo), daí que
não esteja a matéria contemplada na competência exclusiva
do Conservador, nos termos do artigo 12.° do diploma citado.
(…)
A aferição da consensualidade é apreciada na Conservatória,
mediante a oposição apresentada e uma vez ali constatada a
impossibilidade de acordo, então aí, e só aí, será o processo
remetido ao tribunal, nos termos dos artigos 7.° e 8.°. do
mencionado Decreto-Lei n.º 272/2001. (…)
Diga-se, ainda, que a acção em causa não deve correr por
apenso ao processo de regulação do exercício do poder
paternal no âmbito do qual foi regulado o modo de exercício do
poder paternal sobre a filha da ora Requerente.
Na verdade, o n.° 2 do artigo 989.° do novo CPC, só tem
aplicação às situações em que exista processo ainda a correr
termos, no momento em que acontece a maioridade ou a
emancipação do alimentando menor, ou quando se suscitem
incidentes de alteração ou cessação da prestação alimentar ali
fixada ao menor.
Idêntico raciocínio se deve empreender mutatis mutandis
quanto ao disposto no artigo 5.º, n.º 2 do Decreto-Lei n.°
272/2001, de 13 de Outubro, uma vez que não constituem um
caso de cumulação, incidente ou dependência de acção
pendente, pendência essa que, de igual modo, não existe pois
que não existe nenhum processo pendente.
Ora, a acção em apreço trata-se de uma acção de alimentos,
nos termos do artigo 1880.° do CC, intentada a favor de uma
pessoa maior de idade, pelo que nenhuma razão existe para
que deva correr por apenso ao processo, já findo, que
efectuou a regulação do respectivo exercício do poder
paternal. (…)
In casu, nem a progenitora requerente tem legitimidade para
representar a sua filha maior de idade, pois com a maioridade
da mesma extinguiram-se as responsabilidades parentais, e
consequentemente, os poderes de representação da mesma
(cfr. artigos 1877.º e 1881.º, ambos do Código Civil).
Note-se que, in casu, o teor dos artigos 1880.º e 1905.º, n.º 2
do Código Civil em nada altera o explanando, pois que o que a
requerente pretende não é a manutenção mas o aumento da
pensão fixada em benefício da sua filha durante a menoridade
a partir deste mês de Setembro».

3. Inconformada, a Recorrente apresentou o presente recurso,


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finalizando a respectiva minuta com as seguintes conclusões:


1 - «O douto despacho sob recurso ao abrigo das disposições
conjugadas dos artigos 5º nº1,alínea a) do DL 272/2001 de 13
de Outubro, artigos 96º, nº1, e 590º, nº1 alínea a), do novo
CPC e 1880º do Código Civil, indeferiu liminarmente a petição
inicial apresentada pela Recorrente, por considerar que carece
de jurisdição para conhecer do pedido e que, bem assim que a
Recorrente carece de legitimidade para o formular.
2 – Entendeu o respeitoso Tribunal que pedido formulado
haveria de caber à filha maior de idade da Recorrente e que
esta o deverá apresentar na Conservatória do Registo Cível,
caso tenha essa pretensão,
3 - Com o devido respeito, não perfilha a Recorrente o douto
entendimento do Tribunal a quo.
4 – Pois que, na acção proposta, a Recorrente requereu na
qualidade de progenitora residente, que o Requerido fosse
condenado a pagar-lhe uma contribuição para o sustento da
filha de ambos agora maior ao abrigo das disposições
conjugadas nos art.ºs 989 nº1 e 3 do CPC e 1880 do Cciv e
não que o Tribunal fixasse uma pensão de alimentos a favor
desta.
5 – Nos termos do legalmente previsto no Cap. III do DL nº
272/2011 de 13 de Outubro, o pedido de alimentos de filho
maior, no exercício de um iure proprio, é apresentado pelo filho
maior e deve ser apreciado pelo conservador do registo civil.
6 – Contudo, o nº3 do art.º 989 do Código do Processo Civil
em conjugação com os art.ºs 1880 e 1905 do Cciv, na
redacção que lhe foi dada pela Lei 122/2015 de 1 de
Setembro, passou a prever a prerrogativa do progenitor
residente poder exigir do outro progenitor o pagamento de uma
contribuição para o sustento e educação dos filhos agora
maiores, que dependam deste economicamente e quanto às
despesas que com eles mantém.
7 – Ao propôr a acção que propôs e nos termos em que a
propôs, a Recorrente respeitou a “nova” previsão do nº3 do
art.º 989 do CPC.
8 – Por no exercício de um iure proprio não carece a
Recorrente de legitimidade processual, outrossim a lei confere-
lha (a legitimidade para tal)
9 – A contrario do que o douto despacho de indeferimento
liminar defende, deve a pretensão da ora Recorrente ser
apreciada pelo Tribunal, não carecendo ele de competência
material atentas as disposições conjugadas dos art.ºs 989 nº1

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do CPCiv, e assim o art.º 6º na sua al. d) do Regime Geral


Tutelar Cível ex vi art.º 45 e ss do mesmo diploma legal.
10 - De facto, manda o art.º 989 nº 1 do CPCiv aplicar às
situações, como a da petição liminarmente indeferida, em que
haja a necessidade de se providenciar sobre alimentos a filhos
maiores ou emancipados, nos termos dos artigos 1880.º e
1905.º do Código Civil, o regime previsto para os menores –
art.º 45 e ss do RGTC – , prevendo por sua vez o art.º 6 al. d)
do mesmo regime que são da competência principal das
secções de família e menores, as acções judiciais destinadas
a fixar os alimentos devidos à criança e aos filhos maiores ou
emancipados a que se refere o artigo 1880.º do Código Civil e
preparar e julgar as execuções por alimentos.
11 - Por acordo extrajudicial, datado de 30 de Outubro de 2015
e homologado por sentença de 12-11-2015, já transitada em
julgado, proferida nos autos que correram seus termos sob
APENSO B do processo nº 26/12.1TBPTG, pelo J1 da secção
cível da Instância Local de Portalegre do Tribunal da Comarca
de Portalegre, ficou estabelecido que “o pai o pai passa a
pagar a pensão de alimentos de 87,15€ (oitenta e sete euros e
quinze cêntimos) para cada filho, que deverá ser descontada
no seu salário mensal e entregue directamente pela sua
entidade patronal à mãe dos seus filhos, através de
transferência para a conta bancária com o NIB ... .
12 - Devendo, e salvo melhor opinião, em face do exposto, e
da previsão do art.º 989 nº 2 do CPCiv, correr a presente
acção por apenso aos autos de regulação das
Responsabilidades Parentais, em que foi determinada pensão
de alimentos a favor da então menor, filha da Recorrente, que
correu seus termos na Instância Local, Secção Cível, J1, do
Tribunal da Comarca de Portalegre, sob o processo nº
26/12.1TBPTG.
Termos em que, nos melhores de Direito e com o sempre mui
douto suprimento de V. Exas., deve a decisão da 1ª instância
ser revogada e, em consequência, substituir-se por outra que
declare competente o Tribunal da Comarca de Portalegre,
mormente a sua instância local, para conhecer da presente
acção proposta pela Recorrente nos termos das disposições
conjugadas dos art.ºs 989 nº1 do CPCiv, e assim o art.º 6º na
sua al. d) do Regime Geral Tutelar Cível ex vi art.º 45 e ss do
mesmo diploma legal e bem assim que reconheça a
legitimidade ativa da Recorrente na dita acção (art.ºs 989 nº1 e
3 do CPCiv e art.º1880 do Cciv) seguindo esta os seus termos

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legais até final».

4. Observados os vistos, cumpre decidir.


*****
II. O objecto do recurso.
Com base nas disposições conjugadas dos artigos 608.º, n.º 2,
609.º, 635.º, n.º 4, 639.º, e 663.º, n.º 2, todos do Código de
Processo Civil, é pacífico que o objecto do recurso se limita
pelas conclusões das respectivas alegações, evidentemente
sem prejuízo daquelas cujo conhecimento oficioso se imponha,
não estando o Tribunal obrigado a apreciar todos os
argumentos produzidos nas conclusões do recurso, mas
apenas as questões suscitadas, e não tendo que se pronunciar
sobre as questões cuja decisão esteja prejudicada pela
solução dada a outras.
Assim, no caso em apreço, a única questão que importa
decidir é a de saber se o tribunal é ou não competente para
conhecer da presente acção.
*****
III – Fundamentos
III.1. – De facto
A tramitação processual relevante para a decisão do presente
recurso é a que se referiu no relatório supra.
*****
III.2. – O mérito do recurso
III.2.1. – Enquadramento jurídico
III.2.1.1. – Direito a alimentos e extensão da obrigação de
alimentos
A requerente pretende fazer valer por via da presente acção o
direito a obter do pai da sua filha, agora maior, a continuação
do pagamento de uma prestação mensal a título de alimentos,
porquanto a mesma pretende continuar a estudar e não
trabalha.
Conforme é sabido, a noção de «alimentos» é-nos dada, para
o que ora importa, pelo artigo 2003.º, n.º 1, do Código Civil[4],
de acordo com cuja previsão «por alimentos entende-se tudo o
que é indispensável ao sustento, habitação e vestuário»,
sendo a sua medida determinada nos termos do disposto no
artigo 2004.º do CC, ou seja, «os alimentos serão
proporcionados aos meios daquele que houver de prestá-los e
à necessidade daquele que houver de recebê-los», atendendo-
se ainda na respectiva fixação «à possibilidade de o
alimentando prover à sua subsistência».

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Tentando concretizar a noção legal de alimentos à luz de uma


existência digna, a doutrina e a jurisprudência têm ainda
densificado o princípio da proporcionalidade ínsito no artigo
2004.º, através do binómio necessidade do
alimentando/possibilidade do obrigado, e da avaliação da
possibilidade de aquele prover à sua subsistência.
De acordo com o disposto nos artigos 2009.º, n.ºs 1 e 2, e
2010.º do Código Civil, a vinculação à obrigação de prestar
alimentos encontra-se legalmente deferida pela ordem ali
indicada nas sucessivas alíneas, encontrando-se em igualdade
de posições nessa obrigação os ascendentes [alínea c)], salvo
se algum dos onerados não puder satisfazer a parte que lhe
cabe, caso em que o encargo recai sobre os demais
obrigados.
Por seu turno, o artigo 1879.º do CC, a respeito das Despesas
com o sustento, segurança, saúde e educação dos filhos, que
os pais ficam desobrigados de prover ao sustento dos filhos e
de assumir as referidas despesas, na medida em que os filhos
estejam em condições de suportar, pelo produto do seu
trabalho ou outros rendimentos, aqueles encargos. Assim,
deve entender-se logo deste preceito e, a contrario, que se os
filhos não estiverem nestas condições, a obrigação dos pais
proverem às sobreditas despesas mantém-se.
Diz-nos ainda o artigo 1880.º do CC, sob a epígrafe Despesas
com os filhos maiores ou emancipados, que rege quanto à
extensão da obrigação de alimentos que “se no momento em
que atingir a maioridade ou for emancipado o filho não houver
completado a sua formação profissional, manter-se-á a
obrigação a que se refere o número anterior na medida em
que seja razoável exigir aos pais o seu cumprimento e pelo
tempo normalmente requerido para que aquela formação se
complete.”
Não obstante a redacção destes dois preceitos, no domínio da
anterior redacção do artigo 1905.º do Código Civil, a
jurisprudência dominante perfilava o entendimento de que
atingida a maioridade caducava a pensão de alimentos[5], pelo
que, quando fixada durante a menoridade do alimentado tal
pensão, para que a fixação da obrigação de alimentos, nos
quadros do artigo 1880.º do Código Civil pudesse operar, tinha
o filho, agora maior de idade, que requerer, em processo
próprio, a fixação de alimentos através do processo previsto no
artigo 1412.º do Código Civil.
Ora, no dia 1 de Outubro de 2015 entrou em vigor a Lei n.º

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122/2015, de 1 de Setembro[6], que alterou o Código Civil e o


Código de Processo Civil quanto ao regime dos alimentos aos
filhos maiores ou emancipados.
Assim, de acordo com a redacção introduzida pela referida Lei
que acrescentou o n.º 2 no artigo 1905.º do CC, estabelece
agora este preceito legal que “Para efeitos do disposto no
artigo 1880.º, entende-se que se mantém para depois da
maioridade, e até que o filho complete 25 anos de idade, a
pensão fixada em seu benefício durante a menoridade, salvo
se o respectivo processo de educação ou formação
profissional estiver concluído antes daquela data, se tiver sido
livremente interrompido ou ainda se, em qualquer caso, o
obrigado à prestação de alimentos fizer prova da
irrazoabilidade da exigência”.
Considerando a referida divergência de entendimentos, e o
teor do segmento inicial da alteração introduzida, sublinhando
o legislador que, para efeitos do disposto no artigo 1880.º,
entende-se que se mantém para depois da maioridade, deve
concluir-se que estamos perante lei que é interpretativa do
artigo 1880.º do CC[7], quanto à extensão da obrigação de
alimentos a cargo dos progenitores durante a menoridade, e
até que o filho complete 25 anos.
Efectivamente, lei interpretativa “[é] aquela que intervém para
decidir uma questão de direito cuja solução é controvertida ou
incerta, consagrando um entendimento a que a jurisprudência,
pelos seus próprios meios, poderia ter chegado”[8], o que,
como ficou suficientemente demonstrado supra chegou a
ocorrer, decidindo alguma jurisprudência no sentido ora
consagrado.
Na verdade, “[p]ara que a lei nova possa ser interpretativa são
necessários dois requisitos: que a solução do direito anterior
seja controvertida ou pelo menos incerta; que a solução
definida pela nova lei se situe dentro dos quadros da
controvérsia e seja tal que o julgador ou o intérprete a ela
poderiam chegar sem ultrapassar os limites normalmente
impostos à interpretação e aplicação da lei.
Se o julgador ou o intérprete em face de textos antigos não
podiam sentir-se autorizados a adoptar a solução que a lei
nova veio a consagrar, então a lei é inovadora”[9].
Como vimos, na situação vertente a nova lei veio claramente
consagrar um regime que a própria jurisprudência já tinha
entendido como sendo possível e adequado em face da lei

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antiga, pelo que devemos considerar que a nova lei é


interpretativa por acolher uma das soluções objecto da querela
jurisprudencial.
Ora, «o que está na base do normativo do art. 1880º do
Código Civil é a incapacidade económica do filho maior para
prover ao seu sustento e educação, quando as circunstâncias
impõem aos pais, não obstante a maioridade do filho, a
obrigação de, em nome do bem-estar e do futuro deste,
continuar a suportar tais despesas. (…)
A obrigação excepcional prevista neste normativo tem um
carácter temporário, balizado pelo “tempo necessário” a
completar da formação profissional do filho, e obedece a um
critério de razoabilidade – é necessário que, nas concretas
circunstâncias do caso, seja justo e sensato, exigir dos pais a
continuação da contribuição a favor do filho agora de
maioridade.(…)
Por isso, a lei impõe o dever de contribuição “pelo tempo
normalmente requerido para que a formação se
complete”»[10].
Daí que, conforme observa o Conselheiro Rodrigues
Bastos[11] em comentário ao referido artigo 1880.º do Código
Civil, “…Não se trata de um caso de direito a alimentos, mas
de uma extensão da obrigação dos pais para além da
menoridade dos filhos, de modo a que a estes seja, na prática,
possível alcançar o termo da sua formação profissional. O
auxílio assumirá a forma que melhor permita alcançar esse
desígnio”.
Assim, a regra actualmente estabelecida por lei é a de que a
pensão fixada em benefício do filho menor mantém-se até que
este complete os 25 anos, cabendo deste modo ao progenitor
obrigado aos alimentos fixados durante a menoridade o ónus
de cessar essa obrigação demonstrando que ocorre uma das
três situações elencadas pelo legislador no segundo segmento
do preceito em questão: que o filho completou o respectivo
processo de educação ou formação profissional; que o
interrompeu livremente; que a exigência de alimentos seja
irrazoável.
Vista a vertente substantiva é tempo de apreciar como é que o
legislador configurou o exercício deste direito do ponto de vista
processual.
Para possibilitar a concretização desta modificação ao regime
substantivo, a referida Lei n.º 122/2015 procedeu à
correspondente alteração no âmbito processual, atribuindo
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agora também ao progenitor que suporta o encargo de pagar


as despesas dos filhos maiores a legitimidade para exigir do
obrigado a alimentos a respectiva contribuição.
Portanto, não pode concordar-se com o expendido na decisão
recorrida ao considerar que «in casu, nem a progenitora
requerente tem legitimidade para representar a sua filha maior
de idade, pois com a maioridade da mesma extinguiram-se as
responsabilidades parentais, e consequentemente, os poderes
de representação da mesma (cfr. artigos 1877.º e 1881.º,
ambos do Código Civil), porquanto à data em que a tutela
jurisdicional foi requerida já se encontrava em vigor a nova
redacção do preceito que expressamente atribui tal
legitimidade ao progenitor que assume a título principal o
encargo de pagar as despesas do filho maior, que exija do
outro progenitor o pagamento de uma contribuição para o
sustento desse filho.
De facto, tal é o que decorre cristalinamente da inovação
introduzida com o aditamento no artigo 989.º do CPC - que na
redacção da Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho, correspondia ao
anteriormente estatuído no artigo 1412.º do CPC 95/96 -, dos
n.ºs 3, e 4, com a seguinte redacção:
«3 - O progenitor que assume a título principal o encargo de
pagar as despesas dos filhos maiores que não podem
sustentar-se a si mesmos pode exigir ao outro progenitor o
pagamento de uma contribuição para o sustento e educação
dos filhos, nos termos dos números anteriores.
4 - O juiz pode decidir, ou os pais acordarem, que essa
contribuição é entregue, no todo ou em parte, aos filhos
maiores ou emancipados.»
Acresce que, para além da sobredita alteração, devemos
atentar também no artigo 6.º, alínea d), da Lei n.º 141/2015, de
8 de Setembro[12], que aprovou o novo Regime Geral do
Processo Tutelar Cível, de acordo com o qual «Para efeitos do
RGPTC, constituem providências tutelares cíveis: A fixação
dos alimentos devidos à criança e aos filhos maiores ou
emancipados a que se refere o artigo 1880.º do Código Civil e
a execução por alimentos».
Considerámos necessário efectuar previamente este
enquadramento jurídico porquanto, nos termos do artigo 5.º,
n.º 1, do CPC, às partes cabe alegar os factos essenciais que
constituem a causa de pedir, incumbindo-lhes ainda formular
ao tribunal competente a pretensão cuja tutela pretendem ver
assegurada por via da acção que introduzem (artigo 3.º, n.º 1,

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do CPC).
Postas estas considerações gerais, cabe agora olhar a
questão suscitada no presente recurso, à luz do sobredito.
*****
III.2.1.2. – Competência em razão da matéria
Conforme é entendimento pacífico, a competência do tribunal
em razão da matéria afere-se pela natureza da relação jurídica
tal como ela é apresentada pelo autor na petição inicial, ou
seja, analisando o que foi alegado como causa de pedir e
confrontando-a com o pedido formulado pelo demandante[13].
No caso dos autos a Senhora Juíza entendeu que a
competência se encontrava ab initio deferida à Conservatória
do Registo Civil porque o pedido se enquadrava no
preceituado no artigo 1880.º do CC e deveria ser ali
directamente formulado pela filha maior, não correndo por
apenso à acção de regulação das responsabilidades parentais.
Porém, também neste segmento não podemos sufragar tal
entendimento. Relativamente à afirmação de que tinha que ser
formulado pela filha maior, pelas razões referidas no ponto
anterior, e no que tange à afirmação de que se trata de
competência ab initio deferida à Conservatória do Registo
Civil, pelas que aduziremos seguidamente.
Conforme se afirmou no Acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça de 08-04-2008[14] «O Decreto-lei nº 272/2001, de 13
de Outubro, (…) procedeu à transferência de competência
para as Conservatórias do Registo Civil de um conjunto de
matérias respeitantes a processos de jurisdição voluntária
relativos a relações familiares, até aí atribuídas aos tribunais
judiciais.
Um procedimento administrativo, a decorrer nas
conservatórias de registo civil, seguramente mais célere,
simples e vantajoso para as partes.
Conforme resulta do respectivo preâmbulo, teve o legislador
por objectivo “desonerar os tribunais de processos que não
consubstanciem verdadeiros litígios, permitindo uma
concentração de esforços naqueles que correspondem
efectivamente a uma reserva de intervenção judicial”, mas
também na estrita medida em que se verifique ser a vontade
das partes conciliável salvaguardando-se o acesso à via
judicial com a remessa dos processos para efeitos de decisão
final sempre que se constate existir oposição de qualquer
interessado.
Esse deferimento de competência material não se concretizou,
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todavia, de modo uniforme, pois que se surge exclusiva nos


casos enunciados no art. 12º, nº 1 do mencionado diploma
(reconciliação dos cônjuges separados, separação e divórcio
por mútuo consentimento, e declaração de dispensa de prazo
internupcial), é concorrente com a dos tribunais judiciais nas
matérias e circunstâncias descritas nos nºs 1 e 2 do seu art.
5º, porque só pode ser exercida na ausência de cumulação
com outras pretensões ou de dependência de outras acções
processuais.
Tal concorrência ocorre quando estejam em causa: alimentos
devidos a filhos maiores e emancipados, atribuição da casa de
morada de família, privação do direito ao uso dos apelidos do
outro cônjuge, autorização do uso dos apelidos do ex-cônjuge,
e conversão de separação judicial de pessoas e bens em
divórcio».
Ora, como dito, «a competência em razão da matéria dos
tribunais e agora das suas secções para a preparação e
julgamento de uma ação deve ser aferida em concreto, tendo
em atenção o respetivo regime legal (i) e a natureza da relação
substancial em causa, a partir dos seus sujeitos, causa de
pedir e pedido (ii)»[15].
No caso em apreço, a Recorrente alicerça precisamente a
respectiva pretensão na obrigação de cariz temporário prevista
no artigo 1880.º do CC, e não na obrigação de alimentos
prevista no artigo 2003.º e seguintes do Código Civil, posto
que assenta o respectivo pedido na alegação de uma
necessidade de sustento decorrente do facto de a filha
pretender continuar a estudar, no caso, para obtenção de uma
licenciatura.
Efectivamente, importa neste tipo de situações proceder à
distinção entre o que é a extensão da obrigação de alimentos
existente relativamente ao filho menor e que apenas se
prolonga na maioridade até completar o respectivo processo
educativo - visando, no fundo permitir que o filho alcance a sua
autonomia económica por via da formação profissional -, à
qual se reporta o artigo 1880.º do CC, e aqueloutra que é a
obrigação geral de alimentos cuja consagração legal se mostra
plasmada na alínea c) do n.º 1 do artigo 2009.º do CC, e que
os ascendentes devem aos descendentes mesmo após a
respectiva maioridade, obrigação esta que não se encontra
sujeita ao condicionalismo circunstancial e temporal previsto
naquele indicado preceito, regendo para os casos em que o
filho carece de alimentos não para a sua formação académica

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ou profissional mas antes para a sua própria subsistência e


que pode eventualmente manter-se durante toda a vida do
obrigado e daquele que tem a necessidade de ser sustentado,
mormente nos casos em que existe uma deficiência profunda
dos filhos que impede que consigam prover ao respectivo
sustento.
Na verdade, esta distinção não é inócua, relevando, desde
logo, em termos processuais, e na determinação da
competência material, já que, enquanto o meio processual de
concretização do direito a alimentos do filho maior a que alude
o artigo 1880.º do CC é o recurso à Conservatória do Registo
Civil[16] ou ao processo de jurisdição voluntária previsto no
artigo 989.º do CPC, caso não exista ou não seja viável a
obtenção de acordo; nos demais casos em que esteja em
causa peticionar alimentos devidos por ascendente a filho
maior, sem aquele escopo educativo e sem limitação temporal,
seguir-se-á a forma processual comum actualmente regulada
nos artigos 552.º e seguintes do CPC.
Mas, no tocante ao processo de jurisdição voluntária previsto
no artigo 989.º, importa ainda precisar que o mesmo não se
restringe aos casos em que não seja viável a obtenção de
acordo, por isso que, também não se pode concordar com a
interpretação efectuada na decisão recorrida de que o n.° 2 do
artigo 989.° do novo CPC, só tem aplicação às situações em
que exista processo ainda a correr termos, no momento em
que acontece a maioridade ou a emancipação do alimentando
menor, ou quando se suscitem incidentes de alteração ou
cessação da prestação alimentar ali fixada ao menor.
Efectivamente, pese embora o referido preceito não tenha sido
alterado pela Lei n.º 122/2015, não se nos afigura que da
respectiva redacção resulte tal entendimento. Na verdade, o
que se mostra estabelecido no indicado n.º 2 do artigo em
referência, é que «tendo havido decisão sobre alimentos a
menores ou estando a correr o respectivo processo, a
maioridade ou a emancipação não impedem que o mesmo se
conclua e que os incidentes de alteração ou de cessação dos
alimentos corram por apenso».
Por isso, entendemos que da interpretação do preceito,
efectuada de acordo com o disposto no artigo 9.º do CC,
decorre até o sentido inverso, ou seja, que:
a) - se estiver a correr o processo de regulação das
responsabilidades parentais e ainda não tiverem sido fixados
os alimentos devidos ao filho, a maioridade ou emancipação

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que entretanto ocorram não impedem que tal processo se


conclua, podendo consequentemente tal fixação ocorrer já
após a maioridade;
b) - se durante a menoridade do filho tiver havido decisão a
fixar alimentos a suportar por um ou ambos os progenitores no
âmbito do processo de regulação das responsabilidades
parentais, a maioridade ou emancipação que ocorram
posteriormente a tal fixação não impedem que os incidentes
posteriores quer de alteração quer de cessação dos alimentos
corram por apenso àquele processo de regulação.
Ora, no caso vertente, como vimos, estamos em presença de
uma acção de alimentos a filho maior com fundamento no
artigo 1880.º do CC, posto que, de acordo com a factualidade
que alegou na petição inicial, a autora visa continuar a obter
uma prestação de alimentos pelo requerido com vista a que a
filha maior de ambos possa completar a respectiva formação.
Acresce que, durante a menoridade da filha foi fixada no
âmbito do processo de regulação das responsabilidades
parentais uma prestação de alimentos a pagar pelo pai da
menor.
Assim, visando a mãe da menor exigir do pai o pagamento de
uma contribuição para o sustento e educação da filha, nos
termos previstos no n.º 3 do referido artigo 989.º, em valor
superior àquele que o progenitor se encontra a pagar, o meio
processual próprio para o fazer, por força do n.º 2 do mesmo
artigo, é deduzir tal incidente de alteração do montante dos
alimentos fixados no processo, por apenso aos autos de
regulação das responsabilidades parentais.
Se dúvidas houvesse que é este o meio processual próprio
para o efeito, bastaria atentar na redacção do n.º 4 do mesmo
preceito, onde claramente se afirma que o juiz pode decidir, ou
os pais acordarem, que essa contribuição é entregue, no todo
ou em parte, aos filhos maiores ou emancipados.
Claro está que a conclusão a que chegámos não surge
evidente da mera leitura do disposto no artigo 5.º do Decreto-
Lei n.º 272/2001, requerendo um esforço de interpretação do
sistema e não apenas deste diploma.
Aliás, em anotação ao artigo 1.º do mesmo, já em 2004 Lopes
do Rego[17] alertava precisamente para «a pouca cautela
posta pelo legislador na articulação deste novo regime, quer
com as normas do Código de Processo Civil atinentes à
jurisdição voluntária, quer com os próprios preceitos da Lei n.º
3/99 (de algum modo afectados, no que se refere ao elenco

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das competências dos Tribunais de Família) e da Organização


Tutelar de Menores é susceptível de criar numerosas dúvidas
e dificuldades na sua aplicação prática». Ora, basta atentar na
inúmera jurisprudência produzida a este respeito para
concluirmos que a previsão do Ilustre autor se concretizou e,
mais, que na actual Lei de Organização do Sistema Judiciário
a competência se mantém nestes casos deferida aos tribunais.
Vejamos.
Conforme é sabido, os tribunais judiciais têm a sua
competência regulada desde logo na Constituição da
República Portuguesa, cujos artigos 202.º, n.º 1; 209.º; 210.º, e
211.º a 214.º, regem sobre a respectiva categoria e instâncias,
podendo estas ser especializadas por matérias, encontrando-
se a concretização da previsão genérica da lei fundamental
actualmente consagrada na Lei n.º 62/2013, de 26 de
Agosto[18], e, no que tange à concreta jurisdição de família e
menores, também pelo Código de Processo Civil actualmente
vigente, que - à semelhança do que já sucedia anteriormente -,
nos artigos 64.º a 95.º faz a concretização da repartição da
competência pelos tribunais judiciais, em razão da matéria, do
valor, da hierarquia e do território, atribuindo às leis de
organização judiciária a determinação das causas que, em
razão da matéria, são da competência dos tribunais e das
secções dotados de competência especializada – cfr. artigo
65.º do CPC.
Assim, no que respeita à competência em razão da matéria, os
tribunais podem ser de competência especializada, mista e
genérica, desdobrando-se em instâncias centrais e locais,
sendo que, em face do disposto no artigo 80.º da LOSJ, em
regra, se uma determinada causa não couber na competência
de uma instância central de competência especializada ou
mista, caberá na competência residual da instância local de
competência genérica[19].
Cabe, pois, primeiramente atentar no que nos diz a actual
LOSJ sobre a competência das instâncias centrais de família e
menores, verificando-se, desde logo que a respectiva
competência se concentra nas questões respeitantes: i) ao
estado civil das pessoas e família (122.º), ii) a menores e filhos
maiores (123.º); iii) e à matéria tutelar educativa e protecção
(124.º).
Estando em causa um pedido de alimentos de um filho ao seu
progenitor, atento o preceituado no artigo 123.º, n.º 1, alínea
e), da LOSJ, a competência daquelas instâncias centrais
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abrange apenas a fixação dos alimentos devidos a menores e


aos filhos maiores ou emancipados a que se refere o artigo
1880.º do Código Civil, e a preparação e julgamento das
execuções por alimentos, ressalvando o n.º 3 os casos em que
a lei reserve a competência referida nos números anteriores a
outras entidades, situação em que a competência das secções
de família e menores respeita à reapreciação das decisões
dessas entidades.
Conforme decorre do próprio elemento literal do preceito em
análise, a competência só se mostra deferida às instâncias de
competência especializada quando está em causa a obrigação
prevista no artigo 1880.º do CC, pelo que, as acções em que
se pretenda a fixação de alimentos a filho maior que ali não
sejam enquadradas[20], serão da competência da secção cível
da instância central ou da secção de competência genérica da
instância local, em função do valor do processo, nos termos
previstos nos artigos 117.º, n.º 1, alínea a), e 130.º, n.º 1,
alínea a) da LOSJ.
Acresce ainda na situação vertente que a LOSJ veio a ser
regulamentada pelo DL n.º 49/2014, de 27 de Março, que
estabeleceu o Regime Aplicável à Organização e
Funcionamento dos Tribunais Judiciais, ressaltando quanto ao
Tribunal Judicial da Comarca de Portalegre o desdobramento
constante do artigo 92.º, do qual resulta que nesta Comarca
não foi criada a especialização na área de Família e Menores,
pelo que, mesmo a competência para a tramitação das acções
referidas no artigo 123.º da LOSJ, cabe à instância central
cível prevista na alínea a) ou à instância local, secção de
competência genérica, desdobrada em matéria cível e criminal,
com sede em Portalegre, prevista na alínea d), consoante o
valor da causa, aplicando-se evidentemente também neste
caso, a ressalva a que alude o citado n.º 3 do artigo 123.º da
LOSJ.
Tudo para dizer que não podendo o legislador desconhecer a
existência do referido Decreto-Lei n.º 272/2001, - em cujo
artigo 5.º regulou um conjunto de procedimentos relativamente
aos quais deferiu a competência para a fase liminar, no dizer
da lei, tendente à formação de acordo das partes, ao
Conservador do Registo Civil -, tendo presente que em termos
de hierarquia entre os diplomas, a lei e o decreto-lei têm o
mesmo valor na ordem jurídica portuguesa, aplicando-se, em
caso de conflito, o diploma que for mais recente ou aquele que
contiver a regra que se adeqúe melhor ao caso concreto; e

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considerando que a LOSJ expressamente cometeu aos


tribunais, nos termos expostos, a competência para a decisão
dos processos em que estejam em causa alimentos a filhos
maiores ou emancipados, com fundamento no artigo 1880.º do
CC, perante um processo desta natureza não pode o juiz, sem
mais, rejeitar de imediato a respectiva competência, devendo
antes analisar os fundamentos em que a parte que formula o
pedido assenta a respectiva pretensão.
De facto, tentando sistematizar o regime adjectivo verificamos
que em face da multiplicidade de situações da vida que podem
ocorrer, o legislador estabeleceu um leque de meios
processuais a que o impetrante que invoca a necessidade de
alimentos pode recorrer, consoante a situação em presença.
Assim, quando está em causa a obrigação prevista no artigo
1880.º do CC, e não existiu previamente um processo de
regulação das responsabilidades parentais nem se pretende
cumular a pretensão com outro pedido, estando a competência
liminar para a formação de acordo entre as partes, cometida
ao conservador do registo civil, o requerimento deve ser
apresentado na Conservatória do Registo Civil.
Neste caso, a competência da Conservatória para a tramitação
do procedimento afere-se nos termos do artigo 6.º e o
procedimento segue a tramitação prevista no artigo 7.º do
citado decreto-lei. Frustrando-se este procedimento por ter
havido oposição do requerido e ter sido constatada a
impossibilidade de acordo em sede de tentativa de conciliação,
o processo é remetido ao tribunal competente em razão da
matéria no âmbito da circunscrição a que pertence a
conservatória (artigos 8.º e 9.º) seguindo-se o procedimento
previsto nos artigos do Código de Processo Civil que regulam
os processos de jurisdição voluntária.
Se, porém, correu termos um processo de regulação das
responsabilidades parentais, no âmbito do qual foi fixada uma
prestação de alimentos, em face do n.º 2 do artigo 5.º do DL
n.º 272/2001, não se aplica o procedimento tendente à
formação de acordo entre as partes, porquanto as pretensões
relativas a alimentos constituem um incidente ou dependência
da acção principal.
Neste sentido, reportando-se ao então vigente artigo 1412.º,
Lopes do Rego[21] ensina que o procedimento tendente à
formação de acordo entre as partes previsto no DL n.º
272/2001, é aplicável aos processos regulados no artigo
1412.º do CPC – actualmente correspondente ao artigo 989.º

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do CPC -, salvo se forem cumulados com outros pedidos, no


âmbito de acção judicial, ou constituírem incidente ou
dependência de acção pendente (cfr. n.º 2 do artigo 5.º do
referido DL).
«Daqui decorre (…) que tenha de se considerar reduzido o
âmbito dos procedimentos regulados nos artigos 1412.º e
1413.º», e ainda que, «o processo regulado no artigo 1412.º
continuará a ser aplicável quando ocorra a situação prevista no
n.º 2, constituindo o pedido de alimentos ao filho maior
incidente do precedente processo de fixação de alimentos ao
menor».
Assim, nestes casos em que foi fixada uma prestação de
alimentos em processo que correu termos durante a
menoridade do filho, após a entrada em vigor da Lei n.º
122/2015, de 1 de Setembro, podemos surpreender três
possibilidades adjectivas de concretização do direito a
alimentos do filho maior, com fundamento no disposto no artigo
1880.º do CC: a) - o progenitor obrigado a alimentos deixou de
pagar voluntariamente e o filho pretende que lhe seja satisfeito
tal montante: o meio próprio é o recurso à execução por
alimentos, servindo a decisão homologatória de acordo
abrangente de pensão de alimentos para o então menor, como
título executivo relativamente aos alimentos para o filho maior
vencidos após a entrada em vigor da referida lei[22]; b) – o
filho maior pretende ver alterado o montante da prestação de
alimentos anteriormente fixada: para o efeito deduz incidente
de alteração por apenso ao processo de regulação das
responsabilidades parentais; c) – o progenitor que assume a
título principal o encargo de pagar as despesas do filho maior,
e que pretende ver alterado o montante da prestação de
alimentos anteriormente fixada: deduz incidente de alteração
por apenso ao processo de regulação das responsabilidades
parentais.
Em qualquer destes casos, incumbe ao progenitor obrigado
aos alimentos fixados durante a menoridade o ónus de cessar
essa obrigação demonstrando em sede de oposição à
execução ou de contestação, que ocorre uma das três
situações elencadas pelo legislador: que o filho completou o
respectivo processo de educação ou formação profissional;
que o interrompeu livremente; que a exigência de alimentos
não é razoável.
Concluindo, pelas razões expendidas, atenta a legitimidade da
progenitora e o pedido formulado na presente acção, não

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restam dúvidas que o tribunal recorrido é competente para


conhecer da mesma, impondo-se a revogação do despacho de
indeferimento liminar e o subsequente processamento dos
autos, como for de direito.
Pelo exposto, procede o presente recurso.
*****
III.2.3. - Síntese conclusiva:
I - No domínio da anterior redacção do artigo 1905.º do Código
Civil, a jurisprudência dominante perfilava o entendimento de
que atingida a maioridade caducava a pensão de alimentos,
pelo que, quando fixada durante a menoridade do alimentado
tal pensão, para que a fixação da obrigação de alimentos, nos
quadros do artigo 1880.º do Código Civil pudesse operar, tinha
o filho, agora maior de idade, que requerer, em processo
próprio, a fixação de alimentos através do processo previsto no
artigo 1412.º do Código Civil.
II - Atenta a redacção introduzida pela Lei n.º 122/2015, de 1
de Setembro, que acrescentou o n.º 2 no artigo 1905.º do CC,
considerando a referida divergência de entendimentos, e o teor
do segmento inicial da alteração introduzida, sublinhando o
legislador que, para efeitos do disposto no artigo 1880.º,
entende-se que se mantém para depois da maioridade, deve
concluir-se que estamos perante lei que é interpretativa do
artigo 1880.º do CC, quanto à extensão da obrigação de
alimentos a cargo dos progenitores durante a menoridade, e
até que o filho complete 25 anos.
III - Assim, a regra actualmente estabelecida no artigo 1880.º
do CC, é a de que a pensão fixada em benefício do filho menor
mantém-se até que este complete os 25 anos, cabendo deste
modo ao progenitor obrigado aos alimentos fixados durante a
menoridade o ónus de cessar essa obrigação demonstrando
que ocorre uma das três situações elencadas pelo legislador
no segundo segmento do preceito em questão: que o filho
completou o respectivo processo de educação ou formação
profissional; que o interrompeu livremente; que a exigência de
alimentos seja irrazoável.
IV - Acresce que, de modo inovador, com a alteração
efectuada ao regime substantivo, a referida Lei n.º 122/2015
procedeu à correspondente alteração no âmbito processual,
mormente no n.º 3 do artigo 989.º do CPC, conferindo agora
legitimidade ao progenitor que suporta o encargo de pagar as
despesas dos filhos, para exigir a contribuição do obrigado a
alimentos.

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V - A aplicação do disposto no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º


272/2001, tem de ser concatenada com as disposições do
Código de Processo Civil e do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível, requerendo um esforço de interpretação do
sistema e não apenas deste diploma, porquanto, em face da
multiplicidade de situações da vida que podem ocorrer, o
legislador estabeleceu um leque de meios processuais a que o
impetrante que invoca a necessidade de alimentos pode
recorrer, consoante a situação em presença.
VI - Assim, não podendo o legislador desconhecer a existência
do referido Decreto-Lei n.º 272/2001, e considerando que a
LOSJ expressamente cometeu aos tribunais, nos termos
expostos, a competência para a decisão dos processos em
que estejam em causa alimentos a filhos maiores ou
emancipados, com fundamento no artigo 1880.º do CC,
perante um processo desta natureza não pode o juiz, sem
mais, rejeitar de imediato a respectiva competência, devendo
antes analisar os fundamentos em que a parte que formula o
pedido assenta a respectiva pretensão.
VII - Da interpretação do artigo 983.º, n.º 2, do CPC, efectuada
de acordo com o disposto no artigo 9.º do CC, decorre que: a)
- se estiver a correr o processo de regulação das
responsabilidades parentais e ainda não tiverem sido fixados
os alimentos devidos ao filho, a maioridade ou emancipação
que entretanto ocorram não impedem que tal processo se
conclua, podendo consequentemente tal fixação ocorrer já
após a maioridade; b) - se durante a menoridade do filho tiver
havido decisão a fixar alimentos a suportar por um ou ambos
os progenitores no âmbito do processo de regulação das
responsabilidades parentais, a maioridade ou emancipação
que ocorram posteriormente a tal fixação não impedem que os
incidentes posteriores quer de alteração quer de cessação dos
alimentos corram por apenso àquele processo de regulação.
VIII - Assim, enquanto o meio processual de concretização do
direito a alimentos do filho maior a que alude o artigo 1880.º do
CC, que não foram fixados durante a respectiva menoridade, é
o recurso à Conservatória do Registo Civil ou ao processo de
jurisdição voluntária previsto no artigo 989.º do CPC, caso não
exista ou não seja viável a obtenção de acordo; nos demais
casos em que esteja em causa peticionar alimentos devidos
por ascendente a filho maior, sem escopo educativo e sem
limitação temporal, seguir-se-á a forma processual comum
actualmente regulada nos artigos 552.º e seguintes do CPC.

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IX - Já nos casos em que foi fixada uma prestação de


alimentos em processo que correu termos durante a
menoridade do filho, e após a entrada em vigor da Lei n.º
122/2015, de 1 de Setembro, podemos surpreender três
possibilidades adjectivas de concretização do direito a
alimentos do filho maior, com fundamento no disposto no artigo
1880.º do CC: a) - o progenitor obrigado a alimentos deixou de
pagar voluntariamente e o filho pretende que lhe seja satisfeito
tal montante: o meio próprio é o recurso à execução por
alimentos, servindo a decisão homologatória de acordo
abrangente de pensão de alimentos para o então menor, como
título executivo relativamente aos alimentos para o filho maior
vencidos após a entrada em vigor da referida lei; b) – o filho
maior pretende ver alterado o montante da prestação de
alimentos anteriormente fixada: para o efeito deduz incidente
de alteração por apenso ao processo de regulação das
responsabilidades parentais; c) – o progenitor que assume a
título principal o encargo de pagar as despesas do filho maior,
e que pretende ver alterado o montante da prestação de
alimentos anteriormente fixada: deduz incidente de alteração
por apenso ao processo de regulação das responsabilidades
parentais.
X - No caso dos autos, visando a progenitora exigir do pai da
sua filha, agora maior, o pagamento de uma contribuição para
o sustento e educação desta, em valor superior àquele que o
progenitor se encontrava obrigado a pagar por via de anterior
processo de regulação das responsabilidades parentais, nos
termos inovatórios actualmente consentidos pelo n.º 3 do
artigo 989.º, o meio processual próprio para o fazer, por força
do n.º 2 do mesmo artigo, é deduzir incidente de alteração do
montante dos alimentos fixados no processo, por apenso
àqueles autos de regulação das responsabilidades parentais.
*****
IV - Decisão
Pelo exposto, acordam os Juízes deste Tribunal em julgar
procedente o recurso, revogando o despacho de indeferimento
liminar, e determinando o prosseguimento dos autos, como for
de direito.
Custas do recurso pela parte vencida a final.
*****
Évora, 9 de Março de 2017
Albertina Pedroso [23]
Tomé Ramião

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Acórdão do Tribunal da Relação de Évora 20/07/21, 12:46

Francisco Xavier
__________________________________________________
[1] Portalegre, Instância Local, Secção Cível, Juiz 1.
[2] Relatora: Albertina Pedroso;
1.º Adjunto: Tomé Ramião;
2.º Adjunto: Francisco Xavier.
[3] Doravante abreviadamente designado CPC.
[4] Doravante abreviadamente designado CC.
[5] Dessa divergência dá nota J. H. Delgado de Carvalho, in “O novo regime de
alimentos devidos a filho maior ou emancipado; contributo para a interpretação da Lei
n.º 122/2015, de 1/9”, disponível no Blog do IPPC, acessível in
http://blogippc.blogspot.pt/2015/09/o-novo-regime-de-alimentos-devidos.html, referindo
que “Embora a obrigação de alimentos fixada durante a menoridade não cesse com a
maioridade do filho enquanto este não tenha completado a sua formação profissional
(cfr. art. 1880.º do CCiv), prevalecia na jurisprudência o entendimento segundo o qual o
pedido de alimentos, formulado em processo pendente (Cr. art. 989.º, n.º 2, do NCPC)
ou na instância renovada de processo findo (Cr. art. 282.º, n.º 1, do NCPC), apenas
podia ser apreciado até ao momento em que o filho completasse 18 anos. A
maioridade gerava a inutilidade superveniente da lide no que se refere à subsistência
da obrigação para além desse momento.”.
[6] Cfr. artigo 4.º.
[7] Cfr. neste sentido, Ac. TRC de 15-11-2016, proferido no processo n.º
962/14.0TBLRA.C1, e disponível em www.dgsi.pt.
[8] Cfr. Pires de Lima e Antunes Varela, “Código Civil Anotado”, nota l ao art. 13°.
[9] Cfr. J. Baptista Machado, “Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador”, 1983,
pág. 247.
[10] Cfr. Acórdão do STJ de 08-04-2008, proferido no Processo n.º 08A493, disponível
em www.dgsi.pt.
[11] Citado no indicado Acórdão, in “Notas ao Código Civil”, edição de 2002.
[12] Que entrou em vigor no dia 8 de Outubro de 2015, ex vi do disposto no respectivo
artigo 7.º.
[13] Cfr. neste sentido o Ac. STJ de 18-06-2015, proferido no processo n.º
13857/14.9T8PRT.P1.S1, disponível em www.dgsi.pt referindo-se que o
enquadramento genérico seguinte já foi por nós afirmado no acórdão deste TRE
proferido em 03-11-2016, no processo n.º 490/16.0T8PTG.E1, disponível no mesmo
sítio, mas que se reporta a pedido de alimentos de um filho maior, que invocou a
respectiva deficiência como fundamento daquele direito.
[14] Proferido no processo n.º 08A493, e disponível em www.dgsi.pt.
[15] Cfr. Acórdão do TRP de 5-2-2015, processo n.º 13857/14.9T8PRT.P1, disponível
em www.dgsi.pt, que exaustivamente efectua o enquadramento da questão, com
recurso a elementos sistemáticos e históricos.
[16] Em face do que estabelece o art. 5º, nº 1, al. a) do citado Decreto-lei nº 272/2001
que “O procedimento regulado na presente secção aplica-se aos pedidos de alimentos
a filhos maiores ou emancipados”.
[17] In Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, 2.ª edição, Almedina 2004,
pág. 539.
[18] Doravante abreviadamente designada LOSJ.
[19] Cfr. neste sentido, J.F. Salazar Casanova, in Lei de Organização do Sistema
Judiciário, Revista da Ordem dos Advogados, ano 73, II/III – Lisboa, Abr-Set. 2013,
pág. 468.
[20] Veja-se o caso que tratámos no Acórdão citado.
[21] Obra citada, pág. 543.
[22] Cfr. neste sentido, Ac. TRL de 30-06-2016, proferido no processo n.º
6692/05.7TBSXL-C.L1.-2, disponível em www.dgsi.pt.
[23] Texto elaborado e revisto pela Relatora.

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