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Lição 1 - Noções Gerais de Direito

O Direito surgiu da necessidade de estabelecer regras nas relações exis­


tentes na sociedade para que surgissem mecanismos para melhorar o
convívio pacífico entre todos, com a criação de procedimentos a serem
adotados para o bem da coletividade.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


a) avaliar as condições possíveis de serem viabilizadas dentro do
ordenamento jurídico brasileiro;
b) identificar os elementos norteadores do Direito, suas fontes e princípios;
c) Avaliar as condições possíveis de serem viabilizadas dentro do
ordenamento jurídico brasileiro.

1. O que é o Direito?
O Direito é o conjunto de normas, regras, princípios, costumes, doutrinas,
jurisprudências, adotado por uma sociedade para estabelecer a organização,
prevenindo e resolvendo eventuais conflitos. O objetivo do Direito é garantir
o equilíbrio, a harmonia e a paz social.

O Direito é dividido em: Direito Objetivo e Direito Subjetivo.


• Direito Objetivo: é o sistema legal, é o conjunto de leis e normas, que
asseguram a ordem social e o bem comum.
• Direito Subjetivo: é a possibilidade de cada um, assegurada por lei, de
tornar exigíveis e obrigatórios os seus direitos assegurados por lei perante
terceiros. Exemplo: Direito de Ação.

2. Teoria Tradicional das Fontes do Direito


É uma das mais antigas e todos os autores fazem referência a essa teoria. É o
ponto comum, citado por todos, seja concordando ou discordando. Vejamos
quais são as fontes primárias ou diretas de Direito:
• Leis: norma imposta pelo governo, obrigatória em sua observância e cuja
sua desobediência gera uma pena.
• Costumes: o homem vivendo por meio dos costumes criará para ele um
Direito que será o consuetudinário.

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Há outras fontes denominadas indiretas:
• Doutrina: são os autores de livros, estudiosos e juristas do Direito que
mostram os diversos fatos jurídicos e constroem seu pensamento para
torná-lo o mais científico possível. Assim, eles apresentam novas vertentes
para o Direito.
• Jurisprudência: são as decisões proferidas pelos tribunais quando não há
lei e por ter surgido na sociedade um fato novo, para o qual ainda não há
uma norma específica.

2.1 Fontes Diretas

As fontes diretas são formadas pelo costume e pelas leis.

O costume é a prática uniforme e a constante repetição de determinado com­


portamento considerado correto e aceito como regra de Direito. São práticas
habituais que o juiz pode aplicar na falta da lei. Exemplo: cheque predatado.

A lei é a norma geral – para todas as pessoas – e abstrata – para todas as


situações semelhantes e futuras – imposta pelo Estado para todos os cidadãos
de um país. Desconhecer a lei não é razão que justifique o seu descumprimento.

Ponto-chave
A lei é:
a) Geral – vale para todas as pessoas.
b) Abstrata – vale para todas as situações semelhantes e futuras.

2.2 Fontes Indiretas

As fontes indiretas são formadas pela doutrina e pela jurisprudência.

A doutrina é a interpretação que os estudiosos do Direito fazem das leis,


em seus livros, pareceres e artigos científicos. Não tem força vinculante na
aplicação da lei, mas influenciam os juízes e os tribunais nas tomadas de
decisão.

A jurisprudência é o conjunto de decisões de segunda instância, em que se


aplicam as leis aos casos concretos. Exemplo: você moveu uma Reclamação
Trabalhista contra seu antigo empregador por meio de advogado e não
satisfeito com a decisão – sentença – do juiz – primeira instância –, recorreu
– Recurso Ordinário – fazendo subir sua causa para a segunda instância. A
decisão que o Tribunal – corpo de três juízes – proferir sobre sua ação receberá
o nome de Acórdão e passará a fazer parte da Jurisprudência Trabalhista.

As fontes do Direito devem estar antes da divisão do Direito em Público e


Privado, pois facilita a compreensão do aluno ao estudar.

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3. Divisões do Direito
O Direito Público rege as relações que envolvem o Estado e os interesses
gerais da coletividade. Ele trata da organização, da administração e do
funcionamento do Estado e de seus poderes, da arrecadação e da distribuição
da receita, da implementação e da prestação dos serviços públicos.
Regulamenta as relações entre o Estado e os particulares.

4. Ramos do Direito
Como o Direito é um conjunto de normas para estabelecer o equilíbrio na
sociedade, muitos são os interesses dela para observar os mais diversos
assuntos. O Direito é dividido em: Direito Público e Direito Privado.

4.1 Direito Público

É o ramo do Direito que rege as relações que envolvem as normas que tem
por interesse do Estado, como a função e a organização, a ordem e segurança,
a paz social.

Essas normas regulam as relações entre o Estado e os particulares, visando à


concretização do interesse público, conforme as previsões da lei. O interesse
público se concretiza por meio da atuação da Administração Pública, com
a organização e a prestação dos serviços públicos e utilização de recursos
financeiros públicos.

O Direito Público se divide em:


• O Direito Público Interno: rege os interesses estatais e sociais. São as suas
ramificações: Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Processual,
Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito do Consumidor, Direito
do Trabalho, Direito Eleitoral, Direito Ambiental, Direito Financeiro.
• Direito Público Externo: trata das relações internacionais entre Estados
soberanos. São as suas ramificações: Direito Internacional Público – rege
as relações jurídicas dos países entre si – e Direito Internacional Privado
– rege as relações e os negócios jurídicos internacionais ocorridos no
exterior.

4.2 Direito Privado

Este tipo de Direito disciplina as relações entre particulares relativas à vida


privada e as relações patrimoniais ou extrapatrimoniais. As normas de Direito
Privado encontram-se no Direito Civil e no Direito Empresarial/Comercial.

O Direito Público Interno se subdivide em:


• Direito Constitucional: regido pela Constituição da República Federativa
do Brasil, a qual contém normas que asseguram direitos e garantias

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individuais – art. 5º, por exemplo: direito de propriedade, liberdade de
expressão, direito a acesso à Justiça – e direitos sociais – art. 6º a 11, por
exemplo: direitos trabalhistas, direito à saúde, direito à educação – dentre
outros, e dispõe sobre a organização e o funcionamento do Estado e dos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Contém normas de Direito
Tributário, Financeiro, Administrativo, Trabalhista, Ambiental e do
Consumidor.
• Direito Penal: define os crimes, as contravenções e as penas a serem
aplicadas aqueles que praticarem atos proibidos pelas leis penais. Baseia-
se em várias leis, como: o Código Penal, a Lei das Contravenções Penais, a
Lei dos Tóxicos e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
• Direito Processual: disciplina a organização e o funcionamento do Poder
Judiciário, disciplina a atuação de juízes, promotores, defensores públicos e
advogados nos processos, a resolução dos conflitos de interesses. Divide-se
em Processo Civil e Processo Penal e é regido pelos Códigos de Processo
Civil e Penal, respectivamente.
• Direito Tributário: estabelece os limites e as possibilidades da atividade
estatal de criar, estabelecer e cobrar tributos. É voltada para criação,
imposição e fiscalização de tributos – impostos, taxas e contribuições
–, que os particulares devem ao Estado. É o ramo do Direito que regula
a arrecadação de receita para o Estado. É regido pelo Código Tributário
Nacional e pela Constituição Federal de 1988, dentre outras leis específicas.
• Direito Administrativo: é o conjunto de regras que disciplina a atividade
dos órgãos e agentes que integram a Administração Pública, a relação
entre servidores públicos e o Estado, os procedimentos legais para a
prestação dos serviços públicos. Estabelece os requisitos para o exercício
do poder de polícia. As regras de Direito Administrativo estão previstas na
Constituição e em diversas leis brasileiras.
• Direito do Consumidor: disciplina as relações de consumo, estabelecendo
os direitos do consumidor e os deveres dos fornecedores, fabricantes e
prestadores de serviços. Foi introduzido no Brasil pelo Código de Defesa
do Consumidor.
• Direito do Trabalho: regula as relações de emprego e demais atividades
de trabalho e produção para proteção do trabalhador. Cuida das relações
de emprego e das relações sindicais. É previsto na CLT – Consolidação das
Leis do Trabalho.
• Direito Eleitoral: regulamenta a criação, a formação, o funcionamento,
a fiscalização e as competências dos partidos políticos. Regulamenta
as eleições, as propagandas eleitorais e as sanções por infração às leis
eleitorais.
• Direito Ambiental: é o conjunto das normas que regulamentam o uso
dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente, natural e cultural.

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Exemplos: Lei nº 9.605/1998 que dispõe sobre os crimes ambientais e o
Código Florestal – Lei nº 12.651/2012.
• Direito Financeiro: trata das regras para o uso e a aplicação das receitas
arrecadadas pelo Estado na execução do bem comum. Exemplo: Lei das
Diretrizes Orçamentárias.

O Direito Público Externo organiza as relações internacionais entre Estados


e entre Estados e Organizações Internacionais por meio de Acordos,
Convenções, Tratados Internacionais e Decisões de Organizações Inter­na­
cionais. Divide-se em:
• Direito Internacional Público: rege as relações jurídicas dos países entre
si e as relações entre os países e as organizações internacionais. Exemplo:
instalação de Embaixadas e Consulados estrangeiros em território
brasileiro ou vice-versa, Acordos Comerciais entre Brasil e outros países.
• Direito Internacional Privado: disciplina as relações jurídicas
internacionais ocorridas no exterior e em que uma das partes é cidadão
brasileiro ou ocorridas no Brasil, em que uma das partes é um cidadão
estrangeiro, dentre outros casos. Por exemplo: um brasileiro que faleceu
deixando bem imóvel situado no exterior para seus herdeiros aqui no
Brasil. Uma empresa estrangeira que queira abrir filial ou representação
no Brasil.

O Direito Privado disciplina as relações privadas entre particulares desde o


nascimento até depois da morte. Estabelece dois tipos de direitos: os direitos
patrimoniais – propriedade, responsabilidade civil, contratos, obrigações,
direito das empresas, herança – e os direitos existenciais – família, estado
civil, direito ao nome, direito à imagem, entre outros. É formado pelo Código
Civil, Código Comercial, entre outras leis.

5. Conceitos Gerais
5.1 Fato Jurídico

É todo ato voluntário e consciente que cria, modifica, extingue, resguarda


ou transfere direitos. Pode ser lícito ou ilícito, voluntário ou natural. Os fatos
jurídicos voluntários dividem-se em: Atos Materiais e Negócios Jurídicos. O
Novo Código Civil, no artigo 185, define Ato Jurídico Lícito e, no artigo 186, traz
o conceito de Ato Ilícito.

5.2 Bem e Coisa

Coisa é sempre um bem material, físico. Os bens nem sempre são uma coisa,
pois podem ser imateriais e impalpáveis. Existem bens imateriais que por
sua própria natureza não possuem um valor econômico definido, não são

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comercializáveis, mas são passíveis de indenização pecuniária1 face à sua
preciosidade e valoração subjetiva de seu titular. Exemplos: a vida, a honra e
a liberdade.

5.3 Bem de Família

Está previsto nos artigos 1.711 a 1.722 do Código Civil. Os cônjuges ou entidade
familiar podem destinar um terço de seu patrimônio líquido, com escritu-
ra pública ou testamento, para constituição do bem de família, mantendo-se
a impenhorabilidade do imóvel residencial, com a Lei nº 8.009/90. Todos os
pertences e os acessórios existentes na residência são considerados bens de
família e, portanto, impenhoráveis. O bem de família, para ter validade contra
terceiros, deve obrigatoriamente ter seu título de constituição registrado no
registro de imóveis.

Os tribunais aplicam a proteção do bem de família também aos domicílios


dos solteiros, dos separados e dos viúvos, pois a moradia é um direito
fundamental previsto na nossa Constituição.

O bem de família só pode ser objeto de execução por suas respectivas dívidas
tributárias e de condomínio, e perdurará enquanto viver um dos cônjuges ou
na falta deles até que todos os filhos completem a maioridade.

Atenção!
A jurisprudência recente dos Tribunais afastou a proteção do bem de família do fiador de
contrato de aluguel, ou seja, o bem de família do fiador responde pelas dívidas do contrato
de aluguel.

5.4 Prescrição e Decadência

Prescrição é um modo de acabarem os direitos pela perda da ação em razão


da inércia do titular do direito que não o exerceu no prazo legal, isto é, que
não propôs a ação para fazer valer seus direitos, no prazo de lei. Decadência é
a perda do direito pelo decurso do tempo.

5.5 Procuração

É o instrumento público ou privado de representação judicial, isto é, peran-


te os tribunais, ou extrajudicial, para casos que podem ser resolvidos fora da
Justiça. A procuração é particular quando é feita entre particulares, sem a
presença do tabelião, ou seja, fora de cartório; mas com reconhecimento de

1. Pecuniária
1 relativo a dinheiro
Ex.: transação p.
2 que consiste ou é representado em dinheiro
Ex.: reservas p.
fonte: dicionário Houaiss digital

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firma da assinatura do outorgante. A Procuração Pública é feita pelo cartório
de títulos e documentos.

A procuração é um documento em que alguém, chamado de outorgante,


transfere poderes a outra pessoa, chamado de outorgado, para que ela, em
seu nome, pratique atos ou administre interesses.

Quando a procuração atribui apenas poderes de representação extrajudicial


ao outorgado, significa que ele tem poderes limitados e não poderá utilizá-
la para representar o outorgante em processos judiciais. Pode ocorrer da
procuração deferir poderes de representação judicial e extrajudicial, ou
apenas poderes representativos judiciais ou extrajudiciais.

Toda vez que a procuração atribuir poderes que envolvam representação


judicial, será denominada de procuração ad judicia e a assinatura do
outorgante deverá ser reconhecida em cartório.

Para ter validade, a procuração de pessoa física deverá estar acompanhada


de cópia autenticada do CPF/MF e/ou da cédula de identidade do outorgante.
Já a procuração conferida por pessoa jurídica deverá ser validada com cópia
completa e autenticada, do contrato social da empresa outorgante.

5.6 Obrigações

As obrigações nascem das relações mercantis, gerando direitos e deveres


entre as partes, que recebem a denominação de credor, que é o titular do
direito, e devedor, que é o titular do dever.

As obrigações classificam-se, pelo Novo Código Civil, quanto às partes e ao


objeto, em:
• Simples: quando existe um só credor, um só devedor e um só objeto.
• Complexas: quando há mais de um credor ou vários devedores ou mais de
um objeto.
• Cumulativas: quando o devedor tem que cumprir mais de uma prestação e
só se isenta da obrigação cumprindo todas.
• Alternativas: quando existe mais de uma prestação e o devedor se exonera
da obrigação cumprindo apenas uma delas.
• Solidárias: quando há multiplicidade de credores ou de devedores,
sendo que cada credor pode cobrar do(s) devedor(es) a obrigação em sua
totalidade, devendo posteriormente se entender com os demais credores.
Quando houver solidariedade de devedores, a prestação pode ser exigida
em sua totalidade de qualquer um deles, ficando o que saldar a obrigação
com direito regressivo contra os demais codevedores.

Quanto ao fim, as obrigações se dividem em:


• De Resultado: o devedor só se exime quando atingir o resultado para

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o qual foi contratado. Exemplo: um pedreiro que foi contratado para
construir um muro. A obrigação só será extinta quando terminar
totalmente o muro.
• De Meio: o devedor deve empenhar-se para realizar a prestação,
considerando-se satisfeita a obrigação mesmo que o resultado não seja
positivo. Exemplo: o advogado tem uma obrigação de meio, que consiste
na defesa dos interesses de seu cliente. Sua obrigação é considerada
satisfeita mesmo que ele não ganhe a Ação Judicial, desde que efetue seus
serviços – propositura e andamento da ação, se pelo autor, ou defesa, se
pelo réu, atuação em audiências etc.

6. Exercendo seus Direitos


O acesso à Justiça para fazer valer os seus direitos é assegurado consti­
tucionalmente. O Código de Processo Civil exige que sejam cumpridos
determinados requisitos para que a lide2 se estabeleça e prospere a demanda
até a decisão final. Esses requisitos são:
• Legitimidade de partes: as partes têm que ter relação com a lide.
• Interesse de agir: a parte requerente deve ter tido um direito violado ou
ameaçado efetivamente.
• Possibilidade jurídica do pedido: a proteção a este direito deve estar
assegurada pela lei. Exemplo: não se pode pleitear em juízo uma dívida de
jogo que não é legalizado.

Além das condições da ação, para que possa ingressar em juízo, a parte tem
que ter capacidade civil e estar devidamente representada por profissional
habilitado e inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

Quanto à capacidade civil – capacidade de ser sujeito de direitos e deveres e


exercê-los por si só, como parte em uma relação jurídica –, temos:
• Capacidade civil plena: a partir dos 18 anos.
• Capacidade civil relativa: devem ser assistidos por pais, tutores ou
curadores.
• entre 16 e 18 anos;
• ébrios habituais e viciados em tóxicos;
• os pródigos;
• os que têm a capacidade de discernimento reduzida face à deficiência
mental;
2. Lide
1 trabalho penoso; faina, labuta
2 luta, peleja, combate
3 Rubrica: termo jurídico.
pleito judicial pelo qual uma das partes faz um pedido e a outra resiste; pendência, litígio
Fonte: dicionário Houaiss digital

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• deficientes mentais com deficiência mental incompleta.
• Incapacidade civil absoluta: devem ser representados por pais, tutores ou
curadores.
• menores de 16 anos;
• os que por deficiência mental não têm o mínimo discernimento para os
atos da vida civil;
• os que por enfermidade não puderem exprimir a sua vontade.
7. Arbitragem
Atualmente, como via alternativa, vem sendo utilizada de modo crescente
e com sucesso na solução dos conflitos a justiça privada pelo instituto
da arbitragem. As partes capazes podem resolver questões de direitos
patrimoniais disponíveis, pela aplicação da Lei nº 9.307/96, mediante a
cláusula compromissória ou compromisso arbitral – cláusula contratual
que prevê a possibilidade de se resolver pendências ou problemas durante
o cumprimento do contrato perante um árbitro privado, uma espécie de juiz
escolhido e contratado pelas partes, e não mediante ação judicial. Essa forma
de resolução de conflitos é, normalmente, mais rápida que um processo na
Justiça, mas é realizada por grandes empresas devido ao seu alto custo. Esse
instituto está também referendado e aprovado pelo Código Civil – artigos 851
a 853.

A arbitragem é uma forma pura de diminuir controvérsias e resolver


interesses de duas partes, que de livre e espontânea vontade, pactuam a
forma, o local e a competência do Tribunal ou árbitro(s), mantendo o sigilo de
seus conflitos e resguardando-se de qualquer consequência danosa, que uma
eventual publicidade do fato poderia acarretar.

A arbitragem proporciona às partes envolvidas o exercício do livre arbítrio


e do direito de escolha, conduzindo-as a uma reflexão, na medida em que
são elas que estabelecem, de certa forma, as regras gerais que permearão e
ordenarão o procedimento.

Essa liberdade é amparada pela Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, que


em seu artigo 2º, determina que:

Nota Jurídica
“A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes:
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na
arbitragem desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos
princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais do comércio.”

Essa liberdade das partes não é total, pois, em defesa da ordem pública, da
moral e dos bons costumes, o legislador estabeleceu limites no primeiro
parágrafo do artigo.

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A ordem pública é mais ampla que o conjunto de leis e normas que visam a
assegurá-la, engloba a moral, o bom senso dos cidadãos e o desejo expresso
desses respeitarem uns aos outros e ao Estado, buscando um equilíbrio e a
paz social.

A arbitragem é a representação e a expressão da vontade das partes, na


medida em que elas escolhem renunciar à apreciação de sua causa pelo
Poder Estatal e elegem um árbitro ou um Tribunal de Justiça Privada, de sua
confiança, para trazer de volta a paz entre elas, restituindo patrimonialmente
a parte efetivamente lesada.

No procedimento arbitral, o demandante e o demandado são aproximados


pelo árbitro, que os coloca frente a frente para declararem suas razões um ao
outro e chegarem a um meio termo, conciliando-se espontaneamente.

Por acordo e transação, as partes convencionam o valor e os termos da


indenização e a forma de pagamento dela, podendo o árbitro estipular uma
multa para o eventual inadimplemento da devedora.

Toda a transação é reduzida a termo pelo árbitro na sentença arbitral, que


deverá analisar cada ponto de divergência enumerado no compromisso ar-
bitral, sob pena de nulidade, declarando ao final se a questão foi resolvida
por equidade, ou por acordo e transação das partes ou com base no direito
vigente, caso em que fundamentará com o dispositivo legal pertinente. Se as
partes na primeira audiência não chegaram a uma conciliação, o juiz arbitral,
após a produção de provas – se houverem, decidirá a questão.

O juízo arbitral ao avaliar o caso concreto e durante todo o procedimento e a


produção de provas pelas partes, quando necessário, deverá dar entendimento
de ambas as faces da legislação pertinente e com base no conjunto probatório
e na situação de fato e de direito apresentada, decidir o objeto da lide em sua
totalidade.

Poderá o árbitro, ao sentenciar de acordo com o Direito, utilizar-se de outra


norma não citada pelas partes, mas que se aplique melhor ao caso e traga
uma decisão mais justa.

A arbitragem pretende ser bem mais ampla que a Justiça estatal, ter mais
flexibilidade de interpretação da lide e satisfazer ambas as partes, com
celeridade3 e de forma definitiva.

Os limites do poder de atuação do juízo arbitral devem ser preestabelecidos


por acordo e transação voluntária das partes, na convenção arbitral, entendida
como “cláusula compromissória” e/ou compromisso arbitral.

3. Celeridade
característica do que é célere; agilidade, rapidez, velocidade
Ex.: a c. dos meios de comunicação
Fonte: dicionário Houaiss digital

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O objetivo da arbitragem é a solução do conflito de forma rápida e eficaz,
sendo que a prevalência da vontade das partes é imperativa em relação à
vontade de terceiros.

Exercícios Propostos

1. O que é Direito?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

2. Associe as duas colunas, relacionando o ramo do Direito com a sua defi­


nição:
1. Direito Constitucional ( ) É o conjunto de regras sobre rela-
2. Direito Judiciário ou Processual ções de emprego.
3. Direito Privado ( ) É o conjunto de regras que disci-
4. Direito do Trabalho plina as relações privadas entre
5. Direito do Consumidor particulares desde o nascimento
até depois da morte.
( ) É o conjunto de regras que disci-
plina as relações de consumo.
( ) É o conjunto de regras que
disciplina a atuação de juízes e
advogados nos processos.
( ) É o conjunto de regras que prevê
as garantias individuais e os
direitos sociais dos cidadãos
brasileiros.

A sequência correta dessa associação é:


( ) a) (1), (2), (3), (4), (5)
( ) b) (2), (3), (4), (5), (1)
( ) c) (3), (4), (2), (1), (5)
( ) d) (4), (3), (5), (2), (1)
( ) e) (4), (5), (3), (2), (1)

3. Para dar início a uma ação na Justiça, é preciso satisfazer as condições


exigidas no ________________, que são as chamadas condições da
ação. Essas regras de _____________ se aplicam a todo tipo de causa
judicial civil. Um bom advogado conhece todas essas regras e também
____________ dos Tribunais.

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Assinale a sequência que preenche as lacunas de forma correta:
( ) a) Código de Processo Civil, Direito Processual, a Jurisprudência.
( ) b) Código Penal, Direito Processual, a Doutrina.
( ) c) Constituição, Direito Privado, os Costumes.
( ) d) Código de Processo Civil, Direito Privado, a Jurisprudência.
( ) e) Código Civil, Direito Processual, a Doutrina.

4. Direito Subjetivo é possibilidade de cada um de tornar exigíveis e obriga­


tórios os seus direitos assegurados por lei perante terceiros, como no
direito de ação:

( ) Verdadeiro ( ) Falso

5. Leia as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:


III. Os tribunais aplicam a proteção do bem de família também aos domicílios dos
solteiros.
III. Doutrina é a interpretação que os estudiosos do Direito fazem acerca das leis,
em seus livros, pareceres e artigos científicos.
III. A lei é geral e concreta.
IV. Desconhecer a lei é motivo para descumpri-la.

São corretas as assertivas:


( ) a) I e IV.
( ) b) II e IV.
( ) c) II e III.
( ) d) III e IV.
( ) e) I e II.

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