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Físico-Química I

Material Teórico
Termoquímica e Energia Livre

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Fabiana Maria Salvador Navarro
Termoquímica e Energia Livre

• Introdução;
• Calorimetria;
• Como as Reações Liberam ou Absorvem Calor;
• Entropia e Energia Livre.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Entender como as reações químicas liberam ou absorvem o calor e aplicar, matematica-
mente, esses conceitos definidos ao cotidiano, como, por exemplo, a energia envolvida na
forma de calorias liberadas ao corpo pelos alimentos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Termoquímica e Energia Livre

Introdução
Qualquer atividade realizada necessita de energia, mesmo ela sendo humana,
animal, vegetal ou industrial. A energia necessária para a execução de atividades é
proveniente de diversas fontes e, a seguir, exemplificaremos a utilização de algumas
fontes de energia. Por exemplo, o alimento ingerido é absorvido pelo nosso organis-
mo e se transforma na energia que nos ajuda para a realização de nossas atividades
diárias; a queima de combustíveis – na sua grande maioria, fósseis - gera energia
para indústrias, casas, meios de transporte entre outros; já a energia solar ajuda as
plantas na conversão dessa forma de energia em alimento (açúcar) e gás oxigênio.

Podemos ressaltar que associada às reações químicas há essa variação de ener-


gia e que essa variação de energia pode gerar ou absorver calor. Exemplificando:
a reação química da queima do carvão gera uma variação de energia manifesta-
da pela produção de calor, esse calor produzido pode ser utilizado em inúmeras
aplicações, mas a aplicação mais conhecida ao longo da história é o cozimento de
alimentos. O calor é a variação de energia mais frequente como consequência de
uma reação química.

Assim, as reações químicas podem ser classificadas em reações exotérmicas e


reações endotérmicas. Por definição, uma reação química endotérmica é a reação
em que o calor é absorvido, em oposição a uma reação química exotérmica, que é
aquela em que o calor da reação é liberado.

Calorimetria
Quando a variação de energia de uma reação química produz calor podemos
quantificá-lo, isto é, representá-lo por meio de uma medida da quantidade de calor
gerado durante a reação. Essa quantidade de calor pode ser tanto o calor liberado
quanto o calor absorvido na reação química analisada.

Usualmente, a unidade de medida dessa quantidade de calor é dada em calorias.


Após a execução de vários testes e estudos a esse respeito, conforme diagrama
ilustrativo apresentado na Figura 1, chegou-se a uma definição de caloria: “caloria
é a quantidade de calor necessária para elevar de 1ºC a quantidade de 1 grama de
água”. É preciso tomar um certo cuidado, pois, muitas vezes, principalmente em
nutrição, fala-se em caloria (cal), mas, na verdade, o adequado seria falar em quilo-
caloria (kcal). Vale ressaltar que 1000 cal = 1 kcal.

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Figura 1 – Calorímetro de água
Fonte: Adaptado de FELTRE, 1997

Existem outras formas de expressar as quantidades de calor; por exemplo, no Sistema Inter-
Explor

nacional de Unidades (SI) é o Joule (J):


1cal = 4,18 × 107 erg = 4,18 J

Podemos medir a quantidade de calor com o auxílio de um calorímetro, que é


um equipamento utilizado justamente para essa medida. No calorímetro, pode-se
aquecer ou resfriar uma amostra de água e determinar numericamente essa quan-
tidade de calor por intermédio da seguinte fórmula matemática:
Q = mc∆t

Onde:
• Q = quantidade de calor absorvido ou liberado pelo sistema;
• m = massa do sistema;
• c = calor específico do sistema;
• ∆t = variação de temperatura do sistema.

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Exemplos de Aplicação
1. Uma reação química libera certa quantidade de calor, que é capaz de
aquecer de 20ºC a 30ºC uma massa de 3 kg de água. Sabendo que o
calor específico da água é igual a 1cal/g.ºC, determine essa quantidade
de calor liberada.

Resolução
m 3=
= kg 3000 g
1cal
c=
g ⋅º C
Ti = 20º C
Tf = 30º C

Substituindo na equação
Q = mc∆t
Q = 3000 × 1 × (30 – 20)
Q = 30.000 calorias
ou Q = 30 kcal

2. Têm-se 70 mL de uma solução 1 molar de ácido clorídrico e também 70


mL de uma solução 1 molar de hidróxido de sódio e ambas são mantidas
em condições constantes para se determinar o calor liberado nessa reação.
Tanto a solução ácida quanto a solução alcalina possuem uma temperatura
inicial de 25ºC, porém, após a mistura, a solução obtida atingiu uma tempe-
ratura de 32ºC. Adotando 100 gramas como massa da solução, determine:
a. A quantidade de calor liberada na reação após a mistura das soluções
ácida com a alcalina.
b. Qual a quantidade de calor para 1 mol de cada reagente?
c. Como pode ser classificada essa reação?

Dado: Considere que as soluções diluídas têm calor específico da água


igual ao da água: c = 1cal/g.ºC

Resolução
msolução = 100 g
Tiácido = 25ºC
Tibase = 25ºC
Tfsolução = 32ºC

a.
Q = mc∆t
Q = 100 × 1 × (32 – 25)
Q = 700 cal

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b.
ViHCl = ViNaOH = 70 mL = 0,07 L

MHCl = MNaOH = 1 mol/L

V × M = 1 × 0,07 = 0,07mol

Se 0,07 mol → 700 cal

1 mol → x

Portanto x = 10.000 cal (10kcal)


c. Como a reação liberou 10 kcal, a mesma é classificada como reação
exotérmica.

Como as Reações Liberam


ou Absorvem Calor
Conforme descrito anteriormente, toda reação química envolve uma quantidade
de calor, essa quantidade de calor pode ser liberada ou absorvida. Quando o calor
é liberado pela reação química, essa reação é classificada como sendo uma reação
exotérmica, já quando o calor é absorvido pela reação química, esta é classificada
como sendo uma reação endotérmica.

Para melhor compreender esse calor de reação, vamos analisar com mais deta-
lhe a Energia Interna e a Entalpia das reações.

Energia Interna
Supondo que uma reação ocorra em um recipiente hermeticamente fechado
e que nele podemos observar se a quantidade de calor vai ser liberada ou absor-
vida. Qualquer substância possui uma energia própria que pode ser oriunda, por
exemplo, da energia de valência ou da energia de ligação. Assim, essa energia é
denominada Energia Interna, representada pela letra E. Essa energia fica armaze-
nada entre os átomos que compõem a substância e, no decorrer da reação química,
podem ocorrer duas situações: a liberação ou absorção de calor.

Se ao somarmos as energias internas dos reagentes e estas forem maiores que as


energias internas dos produtos formados nesta mesma reação, então teremos uma
sobra de energia e essa energia é liberada em forma de calor. A reação é, portanto,
exotérmica. Simbolicamente, a reação exotérmica pode ser representada por inter-
médio da seguinte expressão:

∆E = Eprodutos – Ereagentes < 0

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Vale ressaltar que, nesse caso, ∆E < 0 e seu valor negativo reforça que a energia
interna dos reagentes é maior que a energia interna dos produtos gerados, confor-
me se pode observar no Figura 2 a seguir.

Calor potencial
Calor
A+B liberado pela
Σ Ereagentes reação (Q)

C+D
Σ E produtos

Caminho ou tempo da reação

Figura 2 – Representação gráfica de uma reação exotérmica


Fonte: Adaptado de NEHMI,1998

Por outro lado, se as energias internas dos reagentes somadas forem menores que
as energias internas dos produtos gerados na reação química, essa reação somente
ocorrerá se fornecermos uma energia mínima para isso; portanto, a reação absorve-
rá energia na forma de calor para ocorrer e será denominada reação endotérmica.
Matematicamente, podemos expressá-la por meio da seguinte representação:

∆E = Eprodutos – Ereagentes > 0

Vale ressaltar que, nesse caso, o ∆E > 0 e este valor positivo reforça que a
energia interna dos reagentes é menor que a energia interna dos produtos gerados,
conforme podemos observar na Figura 3 a seguir.

Calor potencial

T+U
∑E
produtos

Calor absorvido
R+S pela reação (Q’)
∑ E reagentes
Caminho ou tempo
da reação

Figura 3 – Representação gráfica de uma reação endotérmica


Fonte: NEHMI, 1998

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Entalpia
Dificilmente temos a situação descrita anteriormente de uma reação química em
um reservatório hermeticamente fechado, pois é muito mais frequente que as reações
químicas ocorram em ambientes abertos, ou seja, na pressão atmosférica e tempera-
tura ambiente. A maioria das reações químicas libera gás, formando um fluxo gasoso
contrário à pressão do ar atmosférico. Logo, os gases liberados realizam trabalho
contra a pressão atmosférica e este trabalho pode ser chamado de Trabalho de
Expansão (τ). Esse trabalho é obtido por conta da energia da reação, ou seja, da
medida do calor como resultado na variação da energia potencial de uma substância
sob pressão constante, chamada de Entalpia e representada pela letra H.

Expressando matematicamente os calores de reação, podemos compreender a


determinação da variação da entalpia das reações químicas observando a Figura 4 e
como ocorre esse armazenamento de energia do sistema. Lembrando que a unidade
de energia no Sistema Internacional (SI) é o joule (J).

Reação química
Estado Inicial Estado Final

Reagentes Produtos

Hinicial = Hreagentes = H r H final = Hprodutos = H p

Calor da Reação = ∆H = Hp – Hr

Reação Reação
exotérmica endotérmica
Hprodutos < Hreagentes Hprodutos < Hreagentes
Hp < Hr Hp < Hr
Hp Hr < 0 Hp Hr < 0
∆H < 0 ∆H < 0

∆H  calor liberado ∆H  calor absorvido


Figura 4 – Representação matemática da variação de entalpia para reações exotérmicas e endotérmicas
Fonte: CARVALHO, 2003

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Graficamente, também podemos representar se a reação é exotérmica ou endo-


térmica por intermédio de sua variação de entalpia. Na Figura 5, está representada
a entalpia de uma reação exotérmica em função do caminho percorrido da reação.

entalpia (H)
reagentes
Hr
Hr > Hp

∆H < 0

Hp
produtos

caminho da reação

Figura 5 – Representação de uma reação exotérmica


Fonte: Adaptado de CARVALHO, 2003

Já na Figura 6, está representada a entalpia de uma reação endotérmica em


função do caminho percorrido da reação.

entalpia (H)
produtos
Hp

Hr > Hp

∆H > 0
reagentes
Hr

caminho da reação

Figura 6 – Representação de uma reação endotérmica


Fonte: Adaptado de CARVALHO, 2003

O Princípio de Conservação de Energia diz que a energia não se perde e nem


se cria, pois ela é sempre transformada de uma modalidade em outra. Matematica-
mente, definimos esse conceito por intermédio da seguinte expressão:

∆H = ∆E + τ

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em que:
• ∆H = variação de entalpia;
• ∆E = variação da energia interna;
• τ = trabalho de expansão,que pode ser calculado através de:

τ = ∆nRT

em que:

=∆n ∑n produtos − ∑ n reagentes


= R 2cal / mol ⋅ K
T = temperatura em Kelvin

Exemplos
1. Uma reação química ocorre em fase gasosa a uma temperatura de 130,
ocasionando um aumento do número de mols igual a 2. Determine a va-
riação de entalpia da reação sabendo que a variação de energia interna da
mesma é de – 8,4 kcal.

Resolução:
∆n = 2 mols

∆E = –8,4 kcal

T = 130 + 273 = 403 K

Aplicando na equação do trabalho:


τ = ∆nRT

τ = 2 × 2 × 403

τ = 4806 cal

Substituindo na equação da variação de entalpia:


∆H = ∆E + τ

∆H = – 8400 + 4806

∆H = – 3594 cal (3,594 kcal)

2. Determine o trabalho de expansão obtido por intermédio da seguinte rea-


ção química, que foi realizada a uma temperatura de 27ºC.

2C2H6 (g) + 7O2 (g) → 4CO2 (g) + 6H2O (g)

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UNIDADE Termoquímica e Energia Livre

Resolução
Vale ressaltar que só podemos determinar o trabalho de expansão para os rea-
gentes e os produtos na fase gasosa.

=∆n ∑n produtos
− ∑ n reagentes
∆n = ( 4 + 6 ) − ( 2 + 7 ) = 1mol
T =27 + 273 =300 K

Substituindo na equação:
τ = ∆nRT

τ = 1 × 2 × 300

τ = 600 cal

Observação: a quantidade de calor que pode ser absorvida ou liberada em uma


reação química pode estar relacionada com a quantidade de reagentes e produtos
envolvidos na mesma, mas também com alguns fatores físicos, tais como: o estado
físico, a concentração e a temperatura de todos os que participam da reação.

Equação Termoquímica
Uma equação termoquímica é aquela que, ao lado da reação química estudada,
estão indicadas a temperatura, a pressão e a variação de entalpia da mesma, como
exemplificado a seguir.

68,5kcal
H 2 ( g ) + 1 O2 ( g ) → H 2O ( l ) ∆H =− ; 25 º C ;1atm
2 mol

Ou ainda podemos representar a reação da seguinte forma:

H 2 ( g ) + 1 O2 ( g ) → H 2O ( l ) + 68,5 kal ( 25º C ;1atm )


2

Exemplo de aplicação:
Observe o gráfico de entalpia a seguir e ordene as reações abaixo em ordem
crescente de liberação de calor.

S(s) + O2 (g)→ SO2 (g) ∆H1

S(l) + O2 (g) → SO2 (g) ∆H2

S(g) + O2 (g) → SO2 (g) ∆H3

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S (g) + O2
S ( ) + O2
S (s) + O2
Entalpia

∆H1 ∆H2 ∆H3

SO2 (g)

Figura 7

Resolução
Conforme pode ser observado no gráfico, a reação com o enxofre como rea-
gente na fase gasosa é o que possui maior energia, ou maior variação de entalpia,
seguido do enxofre na fase líquida e por último o enxofre na fase sólida. Portanto,
como devemos colocar em ordem crescente de variação de entalpia, podemos es-
crever da seguinte maneira:

∆H1 < ∆H2 < ∆H3

Lei de Hess
A Lei de Hess é oriunda de muitos experimentos realizados no estudo da Termo-
química, que determinou que, ao analisarmos a variação de entalpia de uma reação
química, observaremos somente os estados inicial e final da mesma, conforme
representado no esquema a seguir.

(estado inicial) A ∆H1 C (estado final) A  C: ∆H1


∆H2 ∆H3 A  B: ∆H2

B B  C: ∆H3
(estado intermediário)
Figura 8

Com o auxílio da lei de Hess, podemos escrever: ∆H1 = ∆H2 + ∆H3

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UNIDADE Termoquímica e Energia Livre

Para facilitar a compreensão da lei, podemos exemplificá-la pela reação de trans-


formação do grafite (C) em CO2,

Primeiro caminho:

C(grafite) + O2 (g) → CO2 (G) ∆H = –94,1 kcal

Segundo caminho:

C(grafite) + 1 ⁄ 2 O2 (g) → CO(g) ∆H1 = –26,4 kcal

CO(g) + 1 ⁄ 2 O2 (g) → CO2 (g) ∆H2 = –67,7 kcal

Somando os ∆H’s:

∆H1 + ∆H2 = –26,4 + (–67,7) = –94,1 kcal

Podemos observar que, independente do caminho, o ∆H será o mesmo. Algu-


mas vezes, pode-se adequar as equações para aplicarmos a Lei de Hess, conquanto
que essas adequações sejam:
a. as equações podem ser somadas como normalmente se faz com as ex-
pressões matemáticas;
b. pode-se inverter alguma reação (vale ressaltar que, ao inverter a reação,
o ∆H também é invertido, por exemplo, de negativo para positivo e
vice-versa); e
c. pode-se adequar uma equação, multiplicando-a ou dividindo-a por qual-
quer número diferente de zero, ressaltando que o ∆H também tem de
ser multiplicado.

Exemplos
1. Observe as seguintes reações termoquímicas e determine a variação de
entalpia que ocorre na mesma.
S(s) + O2 (g) → SO2 (g) ∆H = –71 kcal

SO2 (g) + 1 ⁄ 2 O2 (g) → SO3 (g) ∆H = –23,4 kcal

Resolução
Aplicando a Lei de Hess, podemos somar as equações para se obter a va-
riação de entalpia.
S ( s ) + O2 ( g ) → SO2 ( g ) ∆H =−71 kcal

+ SO2 ( g ) + 1 O2 ( g ) → SO3 ( g ) ∆H − 23, 4 kcal


2
S ( s ) + 3 O2 ( g ) → SO3 ( g ) ∆H =−94, 4 kcal
2

Portanto, a variação da entalpia corresponde a – 94,4 kcal.

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2. Observe as reações termoquímicas a seguir e determine a variação de en-
talpia na transformação do grafite em diamante.

C(grafite) + O2 (g) → CO2 (g) ∆H = –94,1 kcal

C(diamante) + O2 (g) → CO2 (g) ∆H = –94,55 kcal

Resolução
Aplicando a Lei de Hess, vamos inverter a segunda reação e depois somá-las
para, finalmente, obtermos a reação desejada na questão. Lembrando que o
∆H também tem de ser invertido.

C ( grafite ) + O2 ( g ) → CO2 ( g ) ∆H =−94,1 kcal

+ CO2 ( g ) → C ( diamante ) + O2 ( g ) ∆H =+94,55 kcal

C ( grafite ) → C ( diamante ) ∆H =+0, 45 kcal

Portanto, a variação da entalpia, em decorrência da inversão dos valores corres-


pondentes a entalpia na segunda equação corresponde a +0,45 kcal.

Entropia e Energia Livre


Sabemos que as reações liberam ou absorvem calor em um sistema aberto.
Um processo espontâneo é aquele que ocorre sem a injeção externa de energia.
A quantidade de calor liberada ou absorvida é medida pela variação de entalpia,
mas vários estudos afirmam que devem haver outros fatores para influenciar a
espontaneidade de uma reação química além do calor.

Pode-se observar que toda reação ou sistema possui uma tendência natural de
ocorrer no sentido de aumentar a desordem de um sistema. Para um melhor enten-
dimento, vamos observar o processo de evaporação da água. Ao passar do estado
líquido para o estado gasoso, as moléculas de água ficam desagrupadas ou mais
livres, gerando uma desordem maior.

Pode-se medir esse grau de desordem do sistema ou reação por intermédio da


entropia, que é representada pela letra S. Quanto maior a desordem na reação
maior será a entropia. Matematicamente, pode ser expressa da seguinte maneira:

∆S = Sf – Si > 0

Analisando todas as teorias e afirmações a respeito das equações termoquímicas,


sabemos que as reações espontâneas, em sua maioria, são reações exotérmicas.
Inicialmente, os cientistas pensaram que somente as reações exotérmicas seriam
espontâneas, mas existem várias reações endotérmicas que ocorrem espontânea-
mente. Assim, a liberação de calor não é o fator que decide a espontaneidade de

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UNIDADE Termoquímica e Energia Livre

uma reação química, mas o estado final, se ele irá apresentar uma desordem maior
que o estado inicial. Como resultado, pode-se definir uma nova grandeza, a Ener-
gia Livre de Gibbs, representada pela letra G. Matematicamente, ela é definidapela
seguinte fórmula:

∆G = ∆H – T∆S

Onde:
• ∆G = variação de energia livre;
• ∆H = variação de entalpia;
• T = temperatura absoluta em kelvin;
• ∆S = variação de entropia;
• T∆S é denominada energia de organização.

Quando os valores obtidos por intermédio dessa expressão matemática para a


variação da energia livre for maior que zero (∆G > 0), a reação não é espontânea;
por outro lado, quando a variação de energia livre for menor que zero (∆G > 0), a
reação é espontânea. Podemos notar que a espontaneidade ou não de uma reação
química depende também da temperatura absoluta do sistema.

Exemplos
1. Determine a variação da energia livre de uma reação química que ocorre
a 727ºC, sabendo que essa reação possui uma variação de entalpia igual a
25 kcal⁄mol e uma variação de entropia correspondente a 75 cal⁄(mol · K).

Resolução
∆H = 25 kcal⁄(mol = 25000 cal⁄mol)

∆S = 75 cal⁄(mol · K)

T = 727ºC + 273 = 1000K

Substituindo na equação
∆G = ∆H – T×∆S

∆G = 25.000 – (1.000×75)

∆G = –50.000 cal/mol

ou ∆G = –50 kcal/mol.

Percebe-se que, pela variação da energia livre ser negativa, a reação é espontânea.

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2. Analise a reação a seguir e determine se essa reação é espontânea ou não,
sabendo que reação possui uma variação de entalpia igual a 9,1 kcal⁄mol
e uma variação de entropia correspondente a 39 cal⁄(mol × K). Dada a
temperatura absoluta da reação: T = 27 + 273 = 300K

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I 2 ( g ) + Cl2 ( g ) → ICl ( g )
2 2

Resolução
∆H = 9,1 kcal⁄(mol = 9100 cal⁄mol)

∆S = 39 cal⁄(mol × K)

T = 27ºC + 273 = 300K

Substituindo na equação
∆G = ∆H – T×∆S

∆G = 9100 – (300 × 39)

∆G = –2600 cal/mol

ou ∆G = –2,6 kcal/mol

Como ∆G < 0, a reação é espontânea.

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UNIDADE Termoquímica e Energia Livre

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
Tipos e fontes de energia
http://bit.ly/2x5t3fJ
Construção de um calorímetro simples para determinação da entalpia de dissolução
WOLF, L. D. et. al. Construção de um calorímetro simples para determinação da
entalpia de dissolução. Eclética Química, v. 36, n. 2, p. 69-83, 2011.
http://bit.ly/2Q5zaaP
Estratégias para estudo das correlações de energia livre em acoplamento aril-aril de Suzuki: elucidando ciclos
catalíticos através da equação de Hammett
ROSA, G. R. Estratégias para estudo das correlações de energia livre em acoplamento
aril-aril de Suzuki: elucidando ciclos catalíticos através da equação de Hammett. Quím.
Nova, São Paulo, v. 35, n. 5, p. 1052-1056, 2012.
http://bit.ly/2Tzhoxe
Biomassa e energia
GOLDEMBERG, J. Biomassa e energia. Quím. Nova, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 582-
587, 2009.
http://bit.ly/2TFbpav

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Referências
ATKINS, P. W.; PAULA, J. de. Físico-Química. v.1 e 2. (8ª Ed.). LTC, 2008.

_______. Físico-química – Fundamentos (3ª Ed.) LTC, 2003.

BALL. D. W. Físico-Química. V.1 e v.2. Thomson.

CARVALHO G. C; SOUZA, C. L. (2003). Química. (1ª Ed). Scipione, 2003

CASTELLAN, G. W. Fundamentos de físico-química (3ª Ed.). LTC, 1986.

CHANG, R. Físico-química: para as ciências químicas e biológicas. São Paulo:


McGraw-Hill, 2010.

FELTRE, R. Fundamentos da Química. (2ª Ed.). Moderna.

KOTZ, J. C.; TREICHEL, P. Química e reações químicas. Vol. 1 e 2 (4ª Ed.)


LTC, 2002.

MOORE, W. J. Físico-Química. Vol. 1 - Tradução da 4ª Edição Americana.

NEHMI, V. Química. São Paulo: Editora Ática, 1998.

RANGEL, R. N. Práticas de físico-química. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Edgard


Blücher, 2006.

RUSSEL, J. B. Química Geral. Vol. 1 e 2. (2ª Ed.) Makron Books, 1994.

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