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Braz. J. Food Technol., 5:117-130, 2002 117 Recebido / Received: 02/04/2001. Aprovado / Approved: 25/01/2002.
F. P. COLLARES Revisão: A Transição Vítrea em
et al. Produtos Alimentícios
Um material vítreo é formado quando um líquido indica a mudança do calor específico na região da temperatura
típico, com uma estrutura molecular desordenada, é resfriado de transição vítrea (ROOS, 1995a).
abaixo de sua temperatura de fusão do equilíbrio cristalino
(T m ) ou temperatura de congelamento, a uma taxa
suficientemente alta, de modo a não permitir a cristalização
do líquido (FERRY, 1980). TABELA 1. Valores de temperatura de transição vítrea (Tg)
para diferentes compostos anidros e água.
A mais importante mudança, característica do estado
amorfo que envolve a transição de um sólido vítreo para um
estado borrachudo ou gomoso, ou ao contrário de um estado Compostos Tg (oC)
borrachudo para um vítreo, ocorre na chamada temperatura
de transição vítrea (Tg).
- Frutose 5a ; 7 b; 10c; 11 d;13 e
A temperatura de transição vítrea (Tg) não é um ponto - Glicose 21 f;29 g; 30h; 31a,d; 35d
nitidamente localizado (Figura 1), mas define o centro de uma - Lactose 101 a,d
região em torno de 20 oC ou superior, na qual a transformação - Maltose 43 ; 70 ; 87 k; 91l ; 92c; 95 b
d j
1
onde ∆Cpi é a variação nas capacidades caloríficas de cada Tg = Tg ( ∞) − Kg (3)
componente que constitui o material analisado. M
TABELA 2. Métodos para a medida da transição vítrea A análise termomecânica (TMA) é definida como uma
(SCHENZ, 1995). técnica na qual a deformação de uma substância sob carga
não-oscilatória (compressão, tensão, flexão ou torção) é
Análises térmicas Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) medida como uma função da temperatura, enquanto sujeita
Calorimetria Diferencial de Varredura a um programa de temperatura controlada. Já a análise
Modulada (MDSC) mecânica dinâmica (DMA) é uma técnica para a medida de
Propriedades mecânicas Análise Termomecânica (TMA) propriedades mecânicas (módulo, características de
Análise Mecânica Dinâmica (DMA) amortecimento) de materiais quando eles são deformados
Análise Termomecânica Dinâmica (DMTA) por força periódica. Como a faixa de módulo do DMA é
Espectrofotômetro Reométrico Mecânico muito alta para vários materiais alimentícios, sua aplicação
(RMS) está limitada a alguns alimentos congelados (MA et al.,
Propriedades dielétricas Análise Dielétrica Diferencial (DDA) 1990).
Espectrofotometria Ressonância Magnética Nuclear (NMR) Uma série de produtos, incluindo queijo, caseína,
glúten, isolados de soja, amidos e chocolates, foi testada para
a medida de Tg usando a análise termomecânica dinâmica
A variação da capacidade calorífica pode ser (DMTA). Em 1989, WETTON, MARSH citado por NIKOLAIDIS,
determinada pelos valores de mudança no fluxo de calor, ∆Y , LABUZA (1996) demonstraram o grande potencial da aplicação
da taxa de aumento da temperatura (scanning rate) e peso da desta técnica em materiais poliméricos não-sintéticos, tais
amostra, de acordo com a seguinte equação: como queijo e chocolate. O DMTA também mostrou ser uma
técnica apropriada para a medida de Tg de produtos
∆Y alimentícios compostos, como para o biscoito cracker
∆Cp = (7)
mm × rsc comercial (NIKOLAIDIS, LABUZA,1996).
Em 1991, COCERO, KOKINI estudaram as mudanças
onde : ∆C p é a capacidade calorífica (J/ g oC ); ∆Y é a variação nas propriedades reológicas devido à transição vítrea da
do fluxo de calor (mW ); mm é a massa de material (g); rsc é a glutenina hidratada (amostras com 4 a 14,4 % de umidade),
taxa de variação da temperatura (oC /s ) através do espectrômetro reométrico mecânico (RMS). As
temperaturas de transição vítrea obtidas pelo RMS foram
superiores àquelas obtidas por DSC, porque o DSC detecta a
O DSC é insensível a Tg quando a mudança no calor
contribuição do volume livre para a capacidade calorífica,
específico é pequena. Além disso, complicações existem com
resultando na mobilidade molecular da amostra depois de
sistemas multicomponentes quando os vários constituintes
sua transição, enquanto o RMS detecta o amolecimento real.
sofrem muitas transições térmicas pequenas dentro da mesma
Com a exceção das amostras com umidades extremas, a
faixa de temperatura. A interpretação dos dados do DSC para
correlação entre as temperaturas obtidas pelas duas técnicas
estes sistemas é difícil (BILIADERIS, GALLOWAY, 1989).
se apresentou muito boa.
Em 1993, READING et al . descreveram a teoria
A ressonância magnética nuclear (NMR) foi utilizada
operacional do calorímetro diferencial de varredura modulada
por RUAN et al. (1998) e RUAN et al. (1999) na determinação
(MDSCTM) e demonstraram que mudanças térmicas reversíveis
da temperatura de transição vítrea (T g) de polímeros
e irreversíveis podiam ser separadas usando esta técnica. A
alimentícios, como maltodextrina, pão, bolo e biscoito. A NMR
transição vítrea, sendo reversível, poderia ser diferenciada das
é uma técnica espectroscópica baseada nas propriedades
mudanças irreversíveis, tais como a relaxação endotérmica de
magnéticas do núcleo atômico e é freqüentemente usada
materiais amorfos, a gelatinização, a recristalização e a
para monitorar as propriedades de movimento das moléculas
desnaturação protéica.
pela detecção das características de relaxação do núcleo ativo
Segundo BELL, TOUMA (1996), o MDSC diferenciou com do NMR, tal como 1H, 2H, 3H, 13 C, 17 O, 23Na e 31 P. Estes
sucesso a transição vítrea de outras mudanças térmicas pesquisadores encontraram que os tempos de relaxação do
irreversíveis em componentes alimentícios simples. Entretanto, NMR experimentaram mudanças dramáticas acima e abaixo
esta técnica não pode determinar a transição vítrea para de certas temperaturas, que são característica do tipo de
sistemas alimentícios mais complexos a baixos conteúdos de material e conteúdo de água. Os resultados para as amostras
água. Para estes últimos, o MDSC não foi mais sensível do que de maltodextrina (DE 15), que foram usadas como modelo,
o DSC padrão, enquanto para soluções, o MDSC foi mais indicam que as temperaturas características determinadas
adequado. Os valores obtidos de Tg através de MDSC foram pelo NMR concordaram com os valores de Tg determinados
reprodutíveis e consistentes tanto em relação aos obtidos pelo usando DSC.
DSC padrão, como aos dados publicados na literatura. A Tg de muitos polímeros alimentícios anidros de
Como a medida de eventos térmicos é muito menos alta massa molecular, tais como amido e proteínas, não
sensível à transição vítrea que a medida de propriedades podem ser determinados experimentalmente, pois eles
mecânicas do sistema, mudanças volumétricas e mudanças começam a se decompor antes de alcançar a Tg. Neste caso,
reológicas podem também ser analisadas na determinação de a Tg pode ser predita (BUSIN et al., 1996; ROOS, 1995a)
Tg, utilizando-se métodos como TMA, DMA, respectivamente pelo coeficiente angular ( Tg∞) em um gráfico de Tg em função
(SCHENZ, 1995, VODOVOTZ, CHINACHOTI, 1996). de 1/M (inverso da massa molecular). Alternativamente,
uma análise em sistema multicomponente poderia ser quantitativa do fenômeno de transição vítrea e seu impacto
usada, pela adição de diferentes quantidades de agente nas propriedades físicas do material (PELEG, 1992).
plasticizante, como a água, e novamente determinar a A exata relação das curvas de viscosidade com a
intersecção da reta, quando o conteúdo de água tender a temperatura, a qualquer composição, é importante na
zero (BHANDARI, HOWES, 1999). avaliação da estabilidade devido à importância da região
borrachuda ou gomosa para os eventos cinéticos controlados
por difusão.
4. A CINÉTICA DA TRANSIÇÃO VÍTREA Existem muitas equações desenvolvidas para
relacionar a viscosidade, η, e a temperatura. Uma delas é a
equação de Arrhenius (SCHENZ, 1995):
A transição vítrea em sistemas amorfos é um fenômeno
cinético de mudança no estado físico que depende da
−B T
temperatura, do tempo (ou freqüência) e da composição do η = Ae (11)
material específico (FERRY, 1980; WUNDERLICH citado por
LEVINE & SLADE, 1992; GOFF, 1992).
onde o fator pré-exponencial A e o fator exponencial B são
Em termos termodinâmicos, a transição vítrea é constantes para um dado sistema e T é a temperatura absoluta.
definida como uma transição de segunda ordem (em contraste
com a fusão de um cristal, que é de primeira ordem), ou seja, A equação de Arrhenius se aplica para valores de
as duas fases envolvidas diferem nas segundas derivadas da temperatura T > Tm ou T < Tg, como pode ser visto pela
energia livre, G, com respeito à temperatura e pressão, mas Figura 4.
não nas suas energias livres por si mesmas ou nas suas
derivadas primeiras. Portanto, a transição vítrea é caracterizada
por (KAUZMANN, 1948; LEVINE & SLADE, 1992):
1 ∂V 1 ∂ 2G
α = = (8)
V ∂T P V ∂p ∂T
(ii) Descontinuidade na capacidade calorífica : FIGURA 4. Viscosidade como uma função da temperatura
reduzida (Tm/T) para vidro e polímeros parcialmente cristalinos
Similarmente ao item anterior, a entalpia, H, que é (LEVINE, SLADE, 1992).
dada por:
Quando a temperatura (T) é reduzida abaixo daquela
∂G do estado líquido de baixa viscosidade (Tg < T < Tm), uma
H = G − T (9)
∂T P cinética não-linear completamente diferente da cinética de
Arrhenius, torna-se operante e é caracterizada por uma
não se altera, mas a capacidade calorífica, Cp , que é definida dependência da temperatura extraordinariamente grande
por: (Figura 4) (LEVINE, SLADE, 1992). Esta última é chamada de
cinética de WLF ou teoria de Williams-Landel-Ferry.
∂H ∂ 2G A equação semi-empírica de WLF (Equação 12),
Cp = = − T 2 (10)
∂T P ∂T P derivada da teoria de volume livre, descreve a natureza cinética
da transição vítrea e define a dependência exponencial da
sofre uma mudança brusca durante a transição. temperatura com propriedades viscoelásticas de polímeros
amorfos e líquidos formadores de vidro para a faixa de
A transição vítrea pode também ser definida temperatura do estado gomoso ou borrachudo de Tg a
operacionalmente, baseada nas propriedades mecânicas, em Tg+100oC (LEVINE, SLADE, 1986, LEVINE, SLADE, 1992).
termos de um processo de relaxação mecânica, tal como a
WILLIAMS et al. (1955) observaram que a diminuição
viscosidade (FERRY, 1980).
da viscosidade acima de Tg de várias substâncias formadoras
Os modelos que relacionam a viscosidade à de vidro era aproximadamente igual e podia ser expressa pela
temperatura são uma ferramenta essencial em qualquer análise seguinte equação:
o mesmo fenômeno físico relacionado à transição vítrea, mas As temperaturas do ponto de pegajosidade e de
são observações de um grau diferente de colapso. A colapso diminuem com o aumento do conteúdo de água
temperatura de colapso é uma medida do endurecimento concorrentemente com Tg (devido ao efeito plasticizante da
inicial, enquanto a temperatura de pegajosidade mede um água na matriz), e a viscosidade crítica se correlaciona com a
estágio avançado do colapso. viscosidade de materiais amorfos a temperaturas 10-20o C
acima de Tg (ROOS, KAREL, 1991c).
LEVINE, SLADE (1986) consideraram o colapso de
materiais desidratados ser governado pelo fenômeno de
transição vítrea. ROOS, KAREL (1991e) observaram que os
valores de T g de maltodextrinas determinados por DSC
(Calorimetria Diferencial de Varredura) foram menores que os
correspondentes valores de T co apresentados por
TSOUROUFLIS et al. (1976), mas mostraram similar decréscimo
com o aumento no conteúdo de água.
A Figura 8 mostra que a relação entre Tg e Tco é linear
para as maltodextrinas com valores de dextrose-equivalentes
de 10, 15, 20 e 25, e que Tco ocorre ao redor de 40 a 70oC
acima de Tg.
A alta correlação entre os valores experimentais de Tg
e Tco sugere que a determinação de Tco é um método aplicável
para a determinação de Tg de alimentos amorfos (ROOS,
1995b). A diferença de temperatura entre Tg e Tco é uma medida
da diferença entre a escala de tempo experimental da
observação de Tg com DSC e os métodos de determinação de
FIGURA 6. Temperatura de transição vítrea (Tg) e ponto de Tco, incluindo a determinação da temperatura de pegajosidade,
pegajosidade de uma mistura amorfa de sacarose e frutose como foi também exposto por CHUY, LABUZA (1994).
(7:1) mostrando a relação entre Tg e a pegajosidade (ROOS,
Assim como Tg e Tco, o ponto de pegajosidade de pós
1995a). alimentícios também diminui com o decréscimo da massa
molecular e os produtos com baixos Tg têm também baixas
temperaturas de pegajosidade (ROOS, 1995c).
Maltodextrinas com relativamente baixa dextrose equivalente ser usada para explicar o amolecimento de produtos
(DE ) são freqüentemente usadas como materiais que extrusados (STRAHM, 1998), a cristalização da sacarose em
diminuem o stickiness e melhoram a estabilidade de pós sólidos amorfos, a mudança nas propriedades de textura do
alimentícios (ROOS, KAREL, 1991d). pão, a perda de textura de produtos liofilizados (BONELLI et
al., 1997) e a gelatinização (VODOVOTZ, CHINACHOTI, 1996)
O resfriamento das paredes do secador a temperaturas
e retrogradação do amido (BAIK et al., 1997). Algumas reações
inferiores a Tg tem sido empregado para evitar a pegajosidade
em secadores por atomização (LAZAR et al., 1956). Vários químicas, controladas por difusão, podem também ser
influenciadas pela transição vítrea, como a influência nas taxas
aditivos, geralmente de alta massa molecular, têm sido
de escurecimento não-enzimático (reação de Maillard)
também usados para elevar a temperatura de transição vítrea
do material a ser desidratado, combatendo a pegajosidade (LIEVONEN et al., 1998, WHITE, BELL, 1999) e na estabilidade
térmica da enzima lisozima (BUERA, KAREL, 1995, BEL,TOUMA,
do produto nas paredes do secador e também a compactação
1996).
durante a estocagem (BRENNAN et al., 1971).
No entanto, como observado por SHEBOR et al. (1996)
A influência do fenômeno de transição vítrea no
e CARDONA et al. (1997), a inativação enzimática de sistemas
processo de secagem de pastas alimentícias sobre a superfície
de materiais sólidos foi avaliada por COLLARES (2001). amorfos desidratados em uma matriz polimérica (ou
carboidrato), não pode ser predita com base na teoria da
Segundo este estudo, comprovou-se que o desprendimento
transição vítrea. Isso é particularmente verdade para a
de filmes de maltodextrina, melaço de cana-de-açúcar e goma
arábica durante a secagem sobre a superfície de materiais inativação térmica (T > 90oC) da invertase em matriz amorfa
de trealose, para a qual eles verificaram que existe um
sólidos (placas de vidro comum, aço inoxidável, Nylon e
mecanismo adicional de proteção. A trealose mesmo tendo
Teflon ) é governado pela transição vítrea do material
alimentício. De acordo com COLLARES (2001), para haver temperatura de transição vítrea, Tg = 100 oC (ROOS, 1993a),
inferior à matriz de maltodextrina DE 10, Tg = 160oC (ROOS,
desprendimento natural da película seca de pasta alimentícia,
KAREL, 1991e) exerceu maior grau de proteção à enzima
sem auxílio externo, é necessário que a umidade do filme
atinja valores correspondentes aos de transição vítrea, na invertase em relação à matriz amorfa de maltodextrina.
temperatura de operação. Portanto, a operação de secagem Em 1996, SCHMIDT e LAMMERT estudaram o
deve propiciar condições de transição vítrea ao produto, no fenômeno de envelhecimento físico de maltose vítrea, que
final do processo, ou pela diminuição da temperatura do ar, consiste na alteração das propriedades físicas do material
ou pela formulação da alimentação, utilizando-se aditivos de vítreo em função do tempo, a temperaturas abaixo de sua Tg.
alta massa molecular. Este termo foi usado por STRUIK (1978) para distinguir o
envelhecimento devido às transformações físicas do
Em produtos lácteos desidratados, o conteúdo de água
envelhecimento devido a reações químicas, degradação ou
aumenta com o aumento da umidade relativa até que ocorre
a cristalização da lactose, resultando em perda de umidade. A alterações na cristalinidade. O envelhecimento físico afeta
muitas propriedades físicas, como densidade, deslizamento,
cristalização de açúcares em alimentos desidratados em pó
relaxação da resistência, constante dielétrica e perda dielétrica.
ocorre depois dos fenômenos de pegajosidade e colapso,
acima de Tg (ROOS, 1995a). O conhecimento deste processo de envelhecimento para
materiais poliméricos é importante por causa das mudanças
A influência do fenômeno de transição vítrea também nas suas propriedades físicas com o tempo que afetam
tem sido observada na estabilidade de produtos alimentícios grandemente o uso final e a estabilidade destes materiais; o
armazenados por longos períodos em temperaturas típicas mesmo podendo se dizer para os alimentos e ingredientes
de congelamento (-18oC). Segundo LEVINE, SLADE (1989), alimentares. SCHMIDT, LAMMERT (1996) observaram que há
esta estabilidade está relacionada com a diferença de mudança na entalpia das amostras vítreas de maltose a 13oC
temperatura entre a temperatura de estocagem e a temperatura abaixo do ponto médio da Tg, demonstrando que a mobilidade
de transição vítrea da matriz maximamente concentrada (Tg’ ). molecular pode existir abaixo da temperatura de transição
Este conceito de crioestabilização assume a estabilidade do vítrea.
alimento abaixo de Tg’ e rápida diminuição da mesma acima
A transição vítrea, portanto, não pode ser usada
de Tg’ de acordo com a cinética de WLF. A temperaturas acima
de Tg’, ocorre um aumento na mobilidade dos constituintes sozinha para caracterizar um material em relação às condições
de umidade e temperatura prevalecentes durante a estocagem,
do alimento congelado. No estado vítreo (temperaturas abaixo
e também T g não pode ser considerada como um limiar
de Tg’), a amostra é estável em relação à recristalização e reações
deteriorativas devido à alta viscosidade. A crioestabilização absoluto de estabilidade.
de produtos congelados pode ser atingida pela elevação da
Tg’ (fazendo-se a reformulação adequada dos ingredientes)
ou pela estocagem a temperaturas inferiores a Tg’. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A temperatura de transição vítrea é, portanto, um
importante parâmetro físico na ciência de alimentos, pois ajuda Os diagramas de estado, onde as relações entre a
a explicar o comportamento químico e físico dos sistemas composição e o estado físico do material alimentício são
alimentícios. Além do problema de aglomeração e estabelecidas, fornecem meios para a formulação de produtos
compactação de pós alimentícios durante o processo de para satisfazer requerimentos de processamento e estabilidade
desidratação e estocagem, a transição vítrea pode também na estocagem quando a reformulação é possível. Estes
diagramas de estados e, conseqüentemente, a temperatura CHAMPION, D., LE MESTE, M., SIMATOS, D. Towards an improved
de transição vítrea (T g) podem também ser usados para o understanding of glass transition and relaxations in foods: molecular
desenvolvimento de processos, equipamentos, embalagens mobility in the glass transition range. Trends in Food Science &
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