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22/09/2021
Número: 0729174-12.2021.8.07.0000
Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO
Órgão julgador colegiado: 7ª Turma Cível
Órgão julgador: Gabinete do Des. Fabrício Fontoura Bezerra
Última distribuição : 10/09/2021
Valor da causa: R$ 500.000,00
Processo referência: 0704085-30.2021.8.07.0018
Assuntos: Atos Processuais, Consulta
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
DISTRITO FEDERAL (AGRAVANTE)
DEFENSORIA PÚBLICA DO DF (AGRAVADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
29139642 19/09/2021 Decisão Decisão
10:58
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Gabinete do Des. Fabrício Fontoura Bezerra
DECISÃO
Cuida-se de Agravo de Instrumento, com pedido liminar, interposto pelo Distrito Federal em face da
seguinte decisão, proferida na Ação Civil Pública ajuizada em seu desfavor pela Defensoria Pública do DF,
verbis:
“(...)
(...)
10.1 - Sem prejuízo, intime-se a parte autora a anexar aos autos 3 (três)
orçamentos detalhados clínicas que forneçam o exame, contendo os
seguintes dados: a) nome e CNPJ da empresa; b) endereço, telefones e
e-mail da empresa; c) número do banco, agência e conta corrente da
empresa, para fins de eventual transferência bancária ou número da
chave pix.
(...)”
Em suas razões, o agravante sustenta que o atual contexto de pandemia justifica o número de atendimentos
pendentes para realização de exames, seja pela escassez de leitos, seja em razão da escassez de profissionais,
como pelo tempo gasto com higienização dos aparelhos necessários.
Destaca que em fevereiro corrente foi realizada reunião do corpo administrativo pertinente para retomada
das polissonografias, como também para o aumento da oferta de vagas.
Insurge-se contra o que denomina “judicialização da saúde” e invoca as limitações jurídicas desta espécie de
ordem judicial.
Requer o deferimento de efeito suspensivo e, no mérito, postula a anulação ou a reforma total da decisão
agravada.
É o relatório. Decido.
É cabível a interposição do presente Agravo de Instrumento, uma vez reunidos os requisitos do art. 1.017, do
CPC, e ter a hipótese vertente previsão no inciso I do art. 1.015 do Codex processual.
O relator poderá suspender os efeitos da decisão agravada ou, sendo esta de conteúdo negativo, conceder a
medida pleiteada como mérito do recurso, nos termos do art. 1.019, inc. I, do CPC.
O efeito suspensivo em exame baseia-se no parágrafo único do art. 995 do CPC, e tem feição de tutela
emergencial, que exige a demonstração da probabilidade do direito e do perigo na demora da prestação
jurisdicional, cumulativamente, conforme art. 300 do CPC.
O Distrito Federal pretende a suspensão da eficácia da decisão que lhe impôs, sob pena de sequestro de
verbas públicas: i) a inserção das solicitações de polissonografia no sistema de regulação; ii) a informação
atualizada da quantidade de pessoas que estão na lista de espera, bem como da estimativa de novas
solicitações e do tempo que o usuário aguarda a prestação do serviço; iii) o atendimento de todos os
pacientes regulados em prazos fixados de acordo com a ordem de gravidade e, por fim, iv) a juntada de três
orçamentos detalhados de clínicas que realizam o exame.
Em que pese as determinações postas na decisão agravada transpareçam uma solução organizada para a
demanda reprimida de polissonografias na rede pública de saúde distrital, não se pode desconsiderar que
esta ordem será cumprida em um contexto singular de pandemia causa pelo Covid-19, e de vacinação para
conter a situação pandêmica.
Logo, a paralisação nos tempos atuais dos exames indispensáveis à manutenção da vida guarda coerência
com as diversas medidas determinadas pelas autoridades sanitárias de proteger os cidadãos do contágio e da
disseminação do novo vírus.
Aqui não se pode perder de vista que o exame citado de POLISSONOGRAFIA visa medir a atividade
respiratória durante o sono para investigar possíveis distúrbios de respiratórios durante o sono, causador de
roncos e apneia, que, certamente, necessitam de tratamento para melhorar a qualidade de vida das pessoas
que sofrem destes distúrbios respiratórios noturnos, mas que, efetivamente, não interfere de forma essencial
que pudesse colocar em vida os pacientes que necessitam deste exame, com raríssima exceções, como
imprescindível para sua sobrevivência de classe de paciente, como cirurgias cardíacas, ortopédicas, de
Além desta limitação fática, evidencia-se uma correlação entre o argumento de limitações jurídicas na
denominada "judicialização das políticas públicas", notadamente as relacionadas à saúde. Isso porque as
decisões do Poder Judiciário não podem se justapor à atuação do Poder Executivo, sob pena de afronta às
delimitações especificadas na Carta Magna, e de retirar do Poder Executivo a capacidade de solução e
priorização de acordo com sua capacidade de enfrentamento das prioridades de sua população, o que não
impede, diante da situação específica de atuação excepcional do Poder Judiciário, o que não é o presente
caso, mesmo reconhecendo a necessidade de oferecimento desse exame para a população carente que tem
somente a saúde pública para se socorrer, porém, observando a liberdade do Poder Público nas opções de
suas priorizações.
Por outro lado, a eminente aplicação de punição financeira diante da possibilidade de descumprimento da
decisão, caracteriza o risco de dano de difícil ou incerta reparação, sem falar na interferência do Poder
Judiciário de forma indevida, e justamente para retirar do Poder Executivo numerário que poderia ser
aplicado na saúde pública que se encontra debilitada com a necessidade de atendimento de gastos
elevadíssimos para atendimento de número imenso de paciente contagiados com o coronavirus e/ou
necessitados de exames, cirurgias e medicamentos de alto custo para a manutenção de vidas.
Ademais, a espera da tutela pleiteada para o exame do mérito recursal não comprometerá os cidadãos
tutelados pela demanda ajuizada pela Defensoria Pública, porquanto nesta ocasião poderá ser analisada a
efetividade do plano de ação noticiado pelo agravante.
Ante o exposto, DEFIRO o pedido de atribuição de efeito suspensivo à eficácia da decisão impugnada, até o
julgamento do mérito do recurso.
Oficie-se para comunicar a presente decisão ao Juízo a quo, com a ressalva de que ficam dispensadas as
informações.
Publique-se. Intimem-se.
Relator