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ENG 01156 – Mecânica - Aula 03 16

Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM

3. MOMENTO DE UMA FORÇA

Os problemas que foram abordados até aqui consideram que todas as forças são
concorrentes num ponto. Entretanto, esta condição não é muito comum nos problemas reais.

3.1 PRODUTO VETORIAL

A Fig. (3.1) ilustra o produto vetorial que tem como principais características:
• A linha de ação de V é perpendicular ao plano π, que é definido pelos vetores P e Q;
• O módulo de P e Q vezes o seno do menor ângulo formado entre os dois vetores fornece o
o
módulo de V ( θ ≤ 180 );
• O sentido de V é dado pela regra da mão direita.

V=PxQ

Q
θ

P
π

Figura 3.1 – Ilustração do produto vetorial.

Propriedades de interesse.
• P × (Q1 + Q 2 ) = P × Q1 + P × Q 2 ;
• (P × Q ) × S ≠ P × (Q × S ) ;
• i×i = 0 , j× j = 0 , k×k = 0;
• i × j = k , j × k = i , k × i = j;

 i j k
 
• V = P × Q =  Px Py Pz  = (Py Q z − Pz Q y )i + (Pz Q x − Px Q z ) j + (Px Q y − Py Q x )k
Q Qy Q z 
 x

O produto vetorial pode ser facilmente calculado pela HP. Para tal basta fornecer dois
vetores conforme procedimento apresentado no exemplo 2.1. Depois basta pressionar as
teclas [MTH]+[A]+[C]. A tecla [C] corresponde a escolha da operação CROSS que está
indicada na parte inferior da tela.
Em algumas situações é útil fazer o produto vetorial em função dos vetores unitários,
para tal faz-se P = P ⋅ u P e Q = Q ⋅ uQ , e escreve-se o produto vetorial como

V = P × Q = P ⋅ Q ⋅ u P × uQ
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3.2 MOMENTO DE UMA FORÇA EM RELAÇÃO A UM PONTO

O momento de uma força em relação a um ponto é definido como o produto vetorial


entre o vetor posição r, que localiza o ponto de aplicação da força, e o vetor força F. A figura
(3.2) ilustra o cálculo deste momento.

Mo

O r F s
d
θ

Figura 3.2 – Cálculo do momento de uma força.

Na figura acima r é o vetor posição, θ é o menor ângulo entre os vetores r e F, Mo é o vetor


momento e d é a distância ortogonal entre a reta suporte da força F (reta s) e o ponto em
relação ao qual se deseja calcular o momento (ponto O). A distância d é normalmente
chamada de braço de alavanca.
Características do momento de uma força:
• M o = r × F , momento é uma grandeza vetorial;
• Módulo: M o = r ⋅ F ⋅ sen θ = F ⋅ d ;
• Direção: Ortogonal ao plano definido pelos vetores r e F;
• Sentido: Regra da mão direita;
• Ponto de aplicação: Ponto O;
• Unidade: força x distância ( Nm, Nmm, kgfcm);
• Para existir momento deve existir uma força e um braço de alavanca.


O momento Mo (também pode ser representado como M o ) mede a tendência de a
força F fazer o corpo rígido girar em torno de um eixo fixo dirigido segundo a direção de

M o . Deve-se observar que o momento de uma força em relação a um ponto, embora dependa
do módulo, da linha de ação e do sentido da força, não depende da posição real do ponto de
aplicação desta ao longo de sua linha de ação.
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Em problemas que envolvam sistemas de forças coplanares, Mo é representado por


uma seta que indica o sentido de rotação induzida por F. Momentos saindo do plano da página
são positivos e momentos entrando no plano da página são negativos. O momento no plano
sempre terá a direção k ou seja M o = M o k . A Fig. (3.3) ilustra os três casos possíveis quanto
ao cálculo do momento no plano.

Convenção:

+ -

Mo = - F.d Mo = F.d
Mo = 0

F F
Mo d Mo d

O O
O

Figura 3.3 – Três situações possíveis quanto ao cálculo do momento no plano.

Componentes cartesianas de um momento. Como o momento é um vetor, pode-se


expressá-lo em função das suas componentes ou seja M o = M ox i + M oy j + M oz k . O cálculo
do momento através do produto vetorial é feito pela equação (3.1).

 i j k
 
M o = r × F =  rx ry ( ) (
rz  = ry Fz − rz Fy i + (rz Fx − rx Fz ) j + rx Fy − ry Fx k ) (3.1)
F Fy Fz 
 x
Como calcular o momento no espaço. Para se calcular o momento que uma força
aplicada num ponto B causa num ponto A, ver Fig. (3.4), pode-se proceder de dois modos:
cálculo através de determinante ou cálculo direto.

Fz Figura 3.4 – Cálculo do momento


Fy em 3D.
Fx B
rz
A
Y
rx
ry

X
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No caso do cálculo por determinante, o vetor posição é definido como a diferença


entre o ponto de aplicação da força e o ponto em relação ao qual se deseja obter o momento
( )
ou seja r = (B − A) = B x − Ax ; B y − Ay ; B z − Az . Para completar o cálculo basta substituir
este vetor na equação (3.1).
Para o cálculo direto devem ser observadas as seguintes regras:
• Calcular os momentos separadamente para cada um dos eixos (Mox, Moy, Moz);
• Forças paralelas ao eixo em relação ao qual se deseja calcular o momento, não causam
momento neste eixo;
• Forças concorrentes com um certo eixo, não provocam momento neste eixo.
Tomando-se como exemplo a força Fx, verifica-se que esta é paralela a X e portanto
não causa momento Mx. Por outro lado, Fx gera momento na direção Y, que vale Fx ⋅ rz (este
momento é positivo porque a tendência de giro está na direção positiva do eixo Y), e
momento na direção Z, que vale − Fx ⋅ ry .

3.3 TEOREMA DE VARIGNON (MATEMÁTICO FRANCÊS 1654 – 1722)

A soma dos momentos de todas as forças de um sistema de forças concorrentes em


relação a um dado ponto, é igual ao momento criado pela resultante do sistema em relação ao
mesmo ponto. Vale a pena mencionar que este teorema foi proposto muito antes do
conhecimento da álgebra vetorial. A Fig. (3.5) e a equação (3.2) ilustram este teorema.

R
F2
d
P F1
d1
d2
O

Figura 3.5 – Representação do teorema de Varignon.

R ⋅ d = F1 ⋅ d1 + F2 ⋅ d 2 (3.2)
Obs. Considerando-se que força é uma grandeza vetorial, este teorema é obtido diretamente
pela propriedade distributiva da álgebra vetorial.

Exemplo 3.1. Calcular o momento da força de 600 N em torno do ponto O na base do


poste ilustrado na Fig. (3.6).

Fx = 600 ⋅ cos 40 = 460 N , F y = −600 ⋅ sen 40 = −386 N


O sinal negativo indica que a força Fy está orientada para baixo na direção vertical. Este sinal
é opcional já que pelo desenho está indicado o sentido da força. Logo, este sinal não tem
influência no sinal do momento que é obtido pela regra da mão direita.
M o = −4 ⋅ 460 − 2 ⋅ 386 = −2612 Nm ou M o = −2612 k Nm
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2m

40o
600 N

4m
O

Figura 3.6 – Ilustração do exemplo 3.1.

Exemplo 3.2. Calcular o momento no ponto A, causado pela força de 160 kN,
conforme ilustrado na Fig. (3.7).

m
15

30o
160 kN

2m
4,5 m

4m A

Figura 3.7 – Ilustração do exemplo 3.2.


y = 15 ⋅ sen 30 = 7,5 m , x = 15 ⋅ cos 30 = 13 m
Fx = 160 ⋅ sen 30 = 80 N , F y = −160 ⋅ cos 30 = −138,6 N
M A = −80 ⋅ (4,5 + 7,5) − 138,6 ⋅ (13 − 2 ) = −2484,6 kNm

3.4 MOMENTO DE UMA FORÇA EM RELAÇÃO A UM EIXO DADO

Em algumas situações pode ser necessário o calculo do momento de uma força em


relação a um eixo inclinado (que não seja os eixos X, Y e Z). Tomando-se como exemplo a
Fig. (3.8), deseja-se calcular o momento da força F em relação ao eixo OL. O primeiro passo
é calcular o momento de F em relação ao ponto O. Depois deve-se projetar o momento
resultante na direção do eixo OL, para tal deve-se definir um vetor unitário λ , que tem a
mesma direção do eixo OL, e fazer o produto escalar entre os vetores λ e M o . Esta operação
resulta na equação (3.3).
 λx λy λ z 

M OL = λ • M o = λ • (r × F ) =  rx ry rz  (3.3)
 
 Fx Fy Fz 
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Mo F
MOL
A
r

Figura 3.8 – Cálculo do momento de uma força em relação a um eixo.

Na equação (3.3), λx, λy, e λz são os cossenos diretores do eixo OL e MOL é a projeção do
momento Mo sobre o eixo OL. A operação representada por esta equação é chamada de
produto misto.
O momento MOL mede a tendência da força F transmitir ao corpo um movimento de
rotação em relação ao eixo OL. O momento MOL é facilmente escrito na notação vetorial
fazendo-se M OL = M OL ⋅ λ .
A operação indicada em (3.3) pode ser executada na HP em duas etapas: primeiro faz-
se o produto vetorial entre r e F, e depois faz-se o produto escalar entre λ e o vetor resultante
do produto vetorial. O produto escalar entre dois vetores é feito através das seguintes teclas:
[MTH]+[A]+[B]. A tecla [B] corresponde à opção DOT que está apresentada na parte inferior
da tela da calculadora.
Pode-se demonstrar que o vetor r pode ser traçado a partir de um ponto qualquer do
eixo OL até o ponto de aplicação da força. Considerando-se a Fig. (3.9) tem-se

ua

Mo
Ma
F
r
O A
r'
O'

Figura 3.9 – Ilustração da independência do ponto de escolha para o cálculo do


momento em relação a um eixo.
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M a = u a • (r × F ) e M a ' = u a • (r '×F ) em que r ' = (O − O ' ) + r . Com estas considerações


pode-se escrever
M a ' = u a • [(O − O ' ) × F] + u a • (r × F ) = u a • (r × F ) = M a

O termo u a • [(O − O ' ) × F] se anula porque o produto vetorial gera um vetor que é
ortogonal ao vetor (O − O ' ) , e como este vetor é paralelo a ua , esta expressão termina se
anulando.

3.5 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

3.1) O poste AB é sustentado por 3 cabos. Determine o momento em relação a C da força


exercida pelo cabo BE no ponto B, sabendo que a força no cabo BE é de 840 N.

Solução:
M C = r × F = (B − C ) × F
Y
B
D
(B − C ) = (3,4,−3)
FBE = FBEλ

BE (3,−6,2 )
6m

5m λ = =
840 N BE 7
840
(3,−6,2 ) = (360,−720,240) N
3m 3m
C A X FBE =
3m
2m 7
2m
E  i j k 
 
Z MC =  3 4 −3
 360 − 720 240 
 
M C = (− 1200,−1800,−3600) Nm ou M C = 4200(− 0,29,−0,43,− − 0,86) Nm

3.2) A barra Ab é submetida a uma força de 60 N orientada de C para B. Determine o


momento criado por F em relação a A.

Solução:
Z
M A = rB × F = rC × F

rB = (1,3,2 ) , rC = (3,4,0)

B FBC = FBCλ → λ =
(B − C )
B−C
60 N
(B − C ) = (− 2,−1,2)
2m
A FBC = (− 40,−20,40) N
1m Y
3m
3m  i j k
4m  
M A = rB × F =  1 3 2
X C  − 40 − 20 40 
 
M A = (160,−120,100 ) Nm ou M A = 223,6(0,72,−0,54,0,45) Nm
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Fazendo-se M A = rC × F deve-se obter a mesma resposta.

3.3) Determine o momento de F em relação ao eixo BC.

Solução: Uma solução possível é trabalhar apenas com a notação vetorial.


Z Inicialmente vamos definir o vetor unitário que indica a direção do eixo
BC.
B C
u BC =
(C − B ) = j Pode-se observar pela ilustração que o vetor unitário
2m 2,5 m
(C − B )
uBC é o próprio vetor j.

As componentes de F são obtidas fazendo-se


A Fx = 400 ⋅ cos 30 = 346,41 N , F y = 400 ⋅ sen 30 = 200 N
Y
400 N
30o
 0 1 0 
 
X M BC = u BC• (rBA × F ) =  0 0 − 2,5  = −866 Nm
 346,41 200 0 

M BC = M BC ⋅ u BC = −866 j Nm

Uma outra solução possível é fazer


M BC = −400 ⋅ cos 30 ⋅ 2,5 = −866 Nm

O sinal negativo é obtido aplicando-se a regra da mão direita.

3.6 EXERCÍCIOS PROPOSTOS

3.1) Determine o momento da força de 100 N, aplicada em A, em relação ao eixo que passa
por OC.

Resposta: M OC = (0 ; 30 ; 30) Nm ou MOC = 42,43 Nm

4
1 C
1
O
5 Y
100 N 3

A
X

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