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Ética Geral e Profissional
Ética Geral e Profissional
Sumário
1- INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4
2-A ÉTICA E A MORAL ............................................................................... 6
3-A HISTÓRIA ............................................................................................ 10
4 – CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA PROFISSIONAL HOJE .................... 18
5 - COMO OS CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DEVERIAM SER .. 22
6 – CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DE UMA CONDUTA ÉTICA . 25
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 27
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FACULESTE
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1- INTRODUÇÃO
Etimologicamente, a palavra “ética” vem do grego Ethos que significa morada coletiva
e vida coletiva. Daí o conceito ser usado para ações que promovam o bem comum
ou a justiça no meio social. Devido ao fato de que os gregos a utilizavam no sentido
de hábitos e costumes que privilegiassem a boa vida e o bem viver entre os cidadãos,
com o tempo tal palavra passou a significar modo de ser ou caráter. Enfim, um modelo
de vida que deveria ser adquirido ou conquistado pelo homem por meio da disciplina
rígida que lhe formaria o caráter e que seria transmitida aos jovens pelos adultos. Na
Grécia, o homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral, uma
vez que para sua cultura até os deuses eram humanos com seus defeitos e
qualidades. O primeiro filósofo que escreveu sobre ética foi Aristóteles. Com esse
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título, Aristóteles escreveu duas obras: ética a Nicômaco (seu filho) e ética a Eudemo
(seu aluno).
“mores”; que significa “moral”. No direito romano a palavra ética refere-se a normas
de conduta ou princípios que regem a sociedade ou um determinado grupo e em uma
determinada época. Numa palavra: lei.
Assim, não é possível o agir ético sem uma reflexão entre o que eu devo fazer e o
que eu gostaria de fazer em um determinado momento. A ação ética sempre deve
buscar o bem comum e consiste na recusa de todas as ações que propiciem o mal.
O agir ético vai além de um conjunto de preceitos relacionados a cultura, crenças,
ideologias e tradições de uma sociedade, comunidade ou grupo de pessoas. Muitas
vezes nossa ação vai ao sentido oposto a essas crenças, pois sendo a noção de
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dever seu principal valor estrutural, em algumas ocasiões, o nosso dever é justamente
indignar-se com tais crenças. Uma vez que guiada pela razão e não pelas crenças, a
ética, via de regra, está fundamentada nas ideias de bem e virtude, que nossa
civilização considera como valores que devem ser perseguidos por todo ser humano
para a promoção da vida, da maneira e onde quer que ela se manifeste.
Frequentemente se confunde ética com moral e isso tem uma razão de ser. É que a
palavra “moral” vem do latim mos (singular) e mores (plural), que significa
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“costumes”. Por isso, muitos utilizam a expressão “bons costumes” como sinônimo de
moral ou moralidade. Ética e moral são sinônimos perfeitos, só modificados
semanticamente devido às diferentes línguas de origem das duas palavras. Até o
século XVIII, já que a língua oficial do saber acadêmico era o latim, a palavra usada
é moral.
Alguns filósofos modernos passam a usar as duas palavras com sentido diferentes.
Kant, por exemplo, define como moral o conjunto de princípios gerais (valores
civilizatórios) e ética sua aplicação concreta. Portanto, ética é sempre um agir ético.
Outros filósofos concordarão em designar por moral a teoria dos deveres para com
os outros, e por ética a doutrina de salvação e sabedoria desvinculada de crenças
religiosas. Hoje nós temos duas palavras usadas por muitos autores com o mesmo
significado: “ética” e “moral”.
Devido ao fato de o pensamento kantiano ter uma importância medular para quem se
interessa pela reflexão sobre ética no mundo capitalista, preferimos compreender que
ética se diferencia de moral. Moral está mais relacionada a crenças estruturadas em
valores acumulados desde a mais tenra infância e transmitidos pelos grupos sociais
de interação afetiva, tais como a família e a Igreja. Moral está diretamente relacionada
à consciência de que é o lócus privilegiado dos valores, enquanto que a ética é a
exteriorização da conduta humana em sociedade. Além disso, desde o início os
pensadores liberais preferiram a palavra “ética” para expressar normas de conduta
de grupos organizados, como, por exemplo, as categorias profissionais e seus
códigos de ética.
Assim, em uma cidade como São Paulo, em que convivem muitas culturas, podem
também coexistir diversos tipos de moral. Esses diversos grupos de moral específicos
sempre se reportam aos valores éticos fundamentais que, na verdade, são os traços
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comuns da civilização. Portanto, ética é um conjunto de valores morais que permitem
a permanência da civilização. Sem esses valores a civilização como conhecemos
desapareceria. Seus fundamentos foram construídos durante todo o processo
civilizador, e são iguais para todos os cidadãos do mundo ocidental,
independentemente de cultura ou religião. Ela carrega fundamentos que tiveram
origem no pensamento cristão na medida em que esses fundamentos contribuíram
para a formação do pensamento ocidental. Contudo, não é a transposição pura e
simples dos valores da religião para o campo civilizatório.
Hoje a imprensa costuma usar a palavra “ética” com muita frequência, às vezes até
de forma abusiva. Essa insistência com que se fala de ética hoje se deve ao fato de
o capitalismo ter-se mundializado pois sem os valores éticos é impossível a
reprodução da sociedade capitalista. Isso porque o capitalismo é irmão gêmeo da
democracia, uma vez que ambos nascem do pensamento liberal e um não vive sem
o outro. Como os pilares basilares da democracia são a liberdade pessoal, a busca
da felicidade e o individualismo, não há espaço para a vigilância constante das ações
individuais numa sociedade de direitos plenos. Tal sociedade é a única possível para
o bem-estar do Capital.
Para a mentalidade moderna, ética não pode ser entendida como algo que resulta de
um poder punitivo explícito, como é o caso da Moral. A punição que a transgressão
do agir ético traz é de consciência individual, portanto, absolutamente individual, e
essa consciência é formada no processo educativo. Se nossa consciência não
considerar a apropriação da propriedade alheia, por exemplo, como um mal e sim
como uma esperteza, isto é, um bem; não haverá como impedir que façamos uso
indevido do que não é nosso.
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que a sociedade tem um conjunto de regras, normas e valores, que não se identifica
com os princípios e normas de nenhuma moral em particular, mas com os valores
formadores do núcleo da civilização, sem os quais a civilização entra na barbárie, a
luta de todos contra todos em que os direitos, inclusive à propriedade e ao lucro são
destruídos, pois não há como obrigar as pessoas a cumprirem seus deveres. A ética
é, nesse sentido, a própria defesa da civilização.
Sendo cultural, a moral é o conjunto de regras que se impõem às pessoas pelo grupo
ao qual pertencem, numa ação coletiva que tende a agir de determinada maneira,
sendo a consolidação de práticas e costumes observados no geral pelo receio de uma
reprovação social (a pressão é externa). Partindo desse pressuposto, todo ser
humano é moral ao cumprir normas de conduta oriundas de um conjunto de crenças
inquestionáveis dentro de sua cultura. No entanto, ética envolve reflexão, por isso não
significa apenas um conjunto de normas, mas vai além. Ela é um conjunto de juízos
valorativos (racionais) construídos pela civilização, assumidos e manifestados na
ação individual de cada um (a pressão é interna). Está estruturada em valores de
conduta. É sempre civilizatória.
Como ao tratar de ética sempre nos referimos ao conceito de valor, é importante um
olhar, ainda que breve, sobre esse conceito. Ele aparece pela primeira vez no sentido
que hoje damos nos primeiros trabalhos sobre economia. A ciência econômica
moderna difere das demais ciências sociais pela capacidade de quantificar, senão a
atividade econômica, pelo menos seus frutos, ou seja, o produto social. Está
estruturada em leis universais tais como: lei da oferta e da procura, a lei do valor da
moeda, entre outras. O que torna possível de medição e avaliação das relações
econômicas, como acontecem e em que medidas acontecem, é o conceito de valor,
cuja ideia essencial foi, segundo Weber, retirada da ética protestante cristã.
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A axiologia ou “teoria do valor” tem suas raízes no solo econômico e somente nos
sécs. XIX e XX vai expandir-se como expressão infinita daquilo que “deve ser”,
abrangendo todas as criações do espírito humano.
3-A HISTÓRIA
Para muitos autores a experiência ética fundamental ocorre quando sentimos que o
agir das pessoas está desconectado dos valores caros à civilização. É a experiência
de „estranhamento‟ frente à realidade, de sentir-se estranho (fora da normalidade)
diante do modo como funciona a sociedade, ou até mesmo em relação ao modo de
ser e agir de outrem. Cada vez que a sede de justiça, o que deveria ser ou o que se
deveria fazer para buscar o funcionamento justo da sociedade, se estabelece, há um
avanço da ética.
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A história da ética, portanto, se confunde com o próprio processo civilizatório. É a
própria história das ideias morais da humanidade, desde os tempos pré-históricos até
nossos dias, isto é, a história da reflexão humana de como instituir normas que
regulem a conduta social, na busca da felicidade individual e ao mesmo tempo o bem
comum, e, portanto, instaurem a diminuição da violência. Os filósofos faziam a crítica
da realidade social de sua época e a partir dessa crítica ofereciam saídas de como
teria de ser a conduta das pessoas para evitar os infortúnios que levariam ao
desaparecimento do ethos comum.
Antes de Sócrates não houve, ao menos que se saiba, uma reflexão metódica sobre
a ética e o “homem moral”, por isso é que se diz que ele é o “pai da ética”. Entretanto,
é preciso ponderar que desde períodos mais antigos havia uma identidade perfeita
entre o bem comum e o bem individual tão arraigada na mente grega que talvez tal
reflexão não fosse necessária ou sequer capaz de ser concebida. Só a dissociação
entre bem comum e bem individual (o público e o privado), que começa a ocorrer
durante o período da decadência grega, é que justifica a necessidade de alguma
teoria que explicasse esta dualidade.
Nossa visão de ética, hoje, deve muito, também, a Platão. Na verdade, como Sócrates
nada escreveu, é em seus textos que aparece pela primeira vez o conceito de ética.
Platão constrói idealmente a “Cidade Perfeita”; nela tudo e todos são guiados por uma
ética muito semelhante ao ideal de perfeição social de hoje.
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A ética de Platão está relacionada intimamente com sua filosofia política, porque, para
ele, a polis (cidade-estado) é o terreno próprio para a vida moral. Assim, buscou um
Estado ideal, um estado-modelo, utópico, cujo modelo seria o corpo do ser humano.
Daí vem o costume de dizermos até hoje o “corpo social”, como sinônimo de
sociedade. Assim como o corpo possui cabeça, peito e baixo-ventre, também o
Estado deveria possuir, respectivamente, governantes, sentinelas e trabalhadores. O
bom Estado é sempre dirigido pela razão em busca da prática da justiça, que seria o
equilíbrio entre os direitos e os deveres dos cidadãos na construção de uma polis
virtuosa. Portanto é necessária a prática das virtudes. As virtudes são funções da
alma humana, determinadas pela sua natureza e pela divisão de suas partes. Tais
virtudes seriam todas aquelas que produzem a beleza, o bem e a verdade absoluta.
Para tal prática seria necessário, à vontade, o ânimo, o que para Platão significava o
domínio das paixões pela razão.
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verdadeira pela Igreja Católica, a ética de Aristóteles finca vínculos indeléveis em
nossa compreensão de ética. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça,
coragem, fortaleza e sinceridade, a felicidade pessoal e o bem comum), tidas como
propensas tanto a provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age,
quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. Portanto, a felicidade
pessoal só é possível onde o bem comum também o é. A ética aristotélica
compreende a humanidade como parte da ordem natural do mundo, por isso é
denominada: ética naturalista.
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Cristo. Essa nova visão dos logos provoca mudanças profundas na compreensão do
que é o bem e, portanto, da ética. O cristianismo traz uma concepção revolucionária
que cristaliza até nossos dias: a nova concepção de amor.
A moral passa a ser entendida como a busca da perfeição “à imitação de Cristo” como
característica de cada ser humano Essa nova concepção da pessoa humana, do
indivíduo, é o próprio cerne do processo civilizador ocidental, resultando em todos os
direitos da pessoa humana; contudo, é na compreensão do que é a liberdade que o
cristianismo vai promover uma revolução, se comparada ao conceito da Antiguidade
Clássica.
Uma vez que todos são livres e iguais porque filhos do mesmo Deus e com direito à
salvação vinda de Cristo, logo, toda a humanidade é composta por irmãos, fraternos
entre si. Essa nova noção de fraternidade era desconhecida pelos antigos. No
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cristianismo a noção de responsabilidade individual é ao mesmo tempo universal e
faz surgir uma virtude também desconhecida pelos antigos que é a caridade, ou seja,
a responsabilidade pela salvação do outro, material e espiritual, seja o outro quem
for. O amor passa de uma noção pessoal e carnal, o amor paixão, para um amor de
compaixão, o amor ao próximo, sendo o próximo o outro em geral, já que todos são
irmãos. A compaixão, a benevolência, a solicitude, para com os outros, até mesmo
com outras formas de vida, passam a ser regras de comportamento ético.
Ser virtuoso, portanto ético, passa a ser agir em conformidade com a vontade de
Deus, e esse agir é um dever, e, como Deus se manifesta na pessoa humana, a
responsabilidade com o outro passa a ser um valor ético. Portanto, a autonomia tão
cara aos gregos antigos dá lugar ao conceito de dever, como limite da liberdade.
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Para Weber, tais valores são incorporados na ética ocidental como estrutura da
confiança, valor essencial à manutenção da sociedade do contrato, que é a sociedade
burguesa.
Durante o período compreendido entre os séculos XVII e XX, pouco a pouco, a ética
deixa de estar em conformidade com a Natureza ou com Deus para centrar sua
reflexão na condição humana. No século XVIII, Rousseau faz uma crítica ao
pensamento de Aristóteles, segundo o qual o homem se diferenciaria dos animais por
ser racional. Para Rousseau o que diferencia o ser humano dos animais é sua
capacidade de decisão por si só: a liberdade e a capacidade de aperfeiçoar-se ao
longo da História. Como consequências dessa nova definição de humanidade: a
historicidade, a igual dignidade entre os seres humanos. Por ser livre e por não ter
nada a dirigir suas ações é que o ser humano é moral. É seu espírito crítico que vai
dotar o homem de valores morais, pois o ser humano sempre busca o bem e nasce
intrinsecamente bom.
O maior representante da ética nos últimos séculos foi sem dúvida Immanuel Kant
(1724 – 1804), talvez o mais importante filósofo da modernidade, sobretudo para
quem se interesse pelo estudo da ética e mais ainda pela ética profissional. Seu
pensamento talvez seja aquele que mais contribuiu para a forma de pensar ética tal
como pensamos hoje. O homem é livre, diz Kant, porque não está sujeito às leis
físicas da natureza. Sua virtude reside na ação ao mesmo tempo voltada para
interesses individuais e universais. Esses são os princípios basilares da ética
kantiana: o desinteresse e a universalidade. A ação moral é a única ação
verdadeiramente humana, e a liberdade consiste na faculdade de transcender as
tendências naturais. Uma vez que as tendências naturais nos levam sempre ao
egoísmo é preciso resistir a essas tendências. Tal resistência é denominada por ele
de “boa vontade”, ponto que ele vê como princípio de toda a moralidade verdadeira.
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Para Kant, na natureza há leis, na ética, deveres; e a existência do dever me diz que
sou naturalmente livre. Do “dever”, porque, pelo fato de ser livre e ter boa vontade e
preocupação com o interesse geral, há algo em nós que ordena uma resistência e até
mesmo um combate contra a naturalidade ou animalidade que exista em nós. E Kant
dá um exemplo: se um tirano obriga alguém a testemunhar de modo falso contra um
inocente, ele pode ceder e dizer o que é falso; mas depois teria remorso, pois algo
em nós nos orienta para o bem que é a voz da razão. Isto demonstra que a
testemunha sabia que podia dizer a verdade: sabia, devia, podia. E sabia por que
seria irracional, uma vez que num mundo em que todos dissessem o que é falso, seria
impossível viver, sendo, portanto, para nossa razão, obrigatório dizer a verdade. Essa
é a prova da universalidade e necessidade da norma ética.
Essa voz da razão, que aparece sob a forma de ordens indiscutíveis, é chamada por
Kant de imperativo categórico: imperativo, porque não se pode subtrair a ele, não é
um conselho; e categórico, porque não admite o contrário daquilo que está
mandando. Com a concepção de perfectibilidade, a ética kantiana vai propor que a
liberdade humana consiste justamente na nossa capacidade de ir além das
determinações naturais, de satisfazer nossos interesses particulares, para agir de
acordo com os interesses gerais, isto é, universais. Por isso, a ética moderna vai
repousar na ideia do mérito, ou seja, todos nós temos dificuldades em realizar nosso
dever, em seguir os mandamentos da moral, apesar de todos nós o considerarmos
legítimos. Daí nosso mérito em agir em conformidade com o bem comum e não em
conformidade com nossos desejos e paixões. A modernidade vai valorizar toda a ação
de dever, é a ética moderna fundamentalmente meritocrática de inspiração
democrática.
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social harmônica e feliz. E essa harmonia é uma construção humana e não mais um
fato pronto pela natureza ou dada por Deus, ou seja, os homens vivendo em
liberdade, mas com a vontade dirigida pelo dever (responsabilidade), na construção
de uma sociedade com valores comuns que Kant chama de “reino dos fins”. Como
seres dotados de dignidade absoluta, os homens não poderiam ser tratados como
meios usados para objetivos pretensamente superiores, ou seja, o fim absoluto digno
de respeito absoluto: o centro do universo é a humanidade.
Kant propõe um valor absoluto para servir como fundamento objetivo dos imperativos.
E esse valor absoluto é a pessoa humana. O objeto de nossos desejos tem valor
relativo, é apenas um meio de alcançar nossos objetivos, pois só o homem tem valor
absoluto. Sob dois prismas as pessoas diferem dos demais seres. Primeiro, uma vez
que as pessoas têm desejos e objetivos, as outras coisas têm valor para elas em
relação aos seus projetos, as meras coisas, e isto inclui os animais, que não são
humanos, considerados por Kant incapazes de desejos e objetivos conscientes.
Segundo, e ainda mais importante, os seres humanos têm um valor intrínseco, isto é,
dignidade, porque são agentes racionais, ou seja, agentes livres com capacidade
para tomar as suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios objetivos e guiar
a sua conduta pela razão. Uma vez que a lei moral é a lei da razão, os seres racionais
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são as encarnações da lei moral em si. E a única forma de bondade moral poder
existir são as criaturas racionais apreenderem o que devem fazer e, agindo a partir
de um sentido de dever, fazê-lo.
Kant deixou para o Ocidente a ideia de que o ser humano é a única coisa com valor
moral; assim, se não existissem seres racionais a dimensão moral do mundo
simplesmente desapareceria. Tal reflexão foi essencial para que a humanidade
deixasse de considerar seres humanos como coisa e abandonasse a ideia da
escravidão de outros seres humanos como direito de propriedade, além de estruturar
teoricamente a luta por direitos iguais, independentemente de diferenças físicas,
psicológicas, culturais e étnicas. E como são os seres cujas ações são sempre
conscientes? Kant conclui que o seu valor tem de ser absoluto, e não comparável
com o valor de qualquer outra coisa. Se o seu valor está acima de qualquer preço,
segue-se que os seres racionais têm de ser tratados sempre como um fim e nunca
como um meio para atingir um determinado fim. Lança, aqui, numa construção
racional, a ideia cristã da igualdade entre os homens e que será o núcleo do Estado
democrático.
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O Estado democrático é o conjunto de iguais dentro de um determinado espaço
geográfico. Isto significa que temos o dever estrito de buscar a prática do bem, não
só para nós mesmos como para as outras pessoas. Temos de lutar para promover o
seu bem-estar; temos de respeitar os seus direitos, evitar fazer lhes mal, e, em geral,
empenhar-nos, tanto quanto possível, em promover a realização dos fins dos outros.
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4 – CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA PROFISSIONAL HOJE
O termo deontológico, usado como sinônimo de ética profissional, surgiu para definir
um tipo de conhecimento que pretendia orientar os indivíduos a irem ao encontro do
prazer, evitando o desprazer e a dor. Jeremy Bentham, adjudicava a ele a tarefa de
ensinar aos homens administrarem suas emoções, usando-as em benefício próprio.
Etmologicamente, o termo vem do grego "déon" que quer dizer o obrigatório, o justo,
o adequado – ou de "déontos", também do grego, que significa necessidade.
Percebemos que em ambas as definições, fica evidenciado o caráter finalista da
deontologia, ou seja o pressuposto de que é preciso seguir normas para se atingir
fins. A evolução desse entendimento levou a identificá-Ia, presentemente, como "o
tratado dos deveres" a ser seguidos em determinadas relações sociais,
principalmente nas de caráter profissional.
individuais a fim de promover uma adaptação aos desejos sociais e criar condições
para unia vida societária Essa necessidade estende-se a qualquer agrupamento
social, como aqueles de caráter profissional, tão comuns nas sociedades modernas.
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A deontologia ou clica profissional, caracteriza-se como um conjunto de normas e
princípios que tem por fim orientar as relações dos profissionais com os seus pares,
destes com os seus clientes, com a sua equipe de trabalho, com as instituições a que
servem entre outros. Como a sua margem de aplicação é limitada ao círculo
profissional, faz com que essas normas sejam mais específicas e objetivas.
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A primeira delas, e a mais difundida, é identifica por alguns teóricos como mero
exercício tautológico no sentido de servir apenas para sacralizar a prática exercida.
As normas são orientadas por uma posição positivista onde o que vale são os fatos.
Assim, se no dia a dia o profissional usa o seu cliente como meio de ganhar dinheiro
e não como o fim último da sua ação, essa prática será vista como legítima e
assegurada oficialmente. Esse tipo de código visa tão somente apaziguar a
consciência dos profissionais e protegê-los fazendo com que os mesmos sintam-se
honestos, humanos e justos mesmo quando só prestem seus serviços a quem possa
pagá-los.
Outra tendência bastante comum é aquela que se diz disposta a enfrentar as práticas
estabelecidas e colocar-se diante delas com olhar crítico e questionador. Alicerçando
em um discurso lógico e referendado na literatura mais avançada, essa tendência
pretende ser séria e verdadeira, todavia, o que se constata é uma total falta de
objetividade e de clareza no texto da norma, a ponto de não viabilizar, na prática, a
sua execução, como exemplifica o professor A. A. Andery em relação a um código de
ética da área da saúde,
" ... devemos ater-nos á maior cientifieidade possível nas nossas atividades
profissionais; ao maior rigor técnico científico; devemos esforçarnos por
escolher as práticas mais honestas, as mais eficazes possíveis; as mais
respeitosas para com o ser humano. Devemos humanizarão máximo as
relações profissional-cliente ... "
O que podemos entender como maior rigor científico. Em que consiste humanizar as
relações profissionais? O que é possível exigir do profissional? Responder essas
questões é uma missão difícil, senão impossível. Na impossibilidade de saber o que
exigir, acaba-se exigindo o mínimo, questionando pouco e não proporcionando as
mudanças necessárias. Assim, resta-nos saberem que essa tendência difere da
anterior? Na nossa avaliação, apenas no aspecto de escamotear a verdade. Pois,
além de legitimar o comportamento habitual ela se apresenta como diferente, como
estando comprometida com os princípios de justiça e honestidade e isto serve para
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desarticular os possíveis focos de inconformismo, de crítica e de confronto que
poderiam proporcionar o salto.
A terceira tendência não chega, ainda, a ter grande repercussão e apresenta-se como
uma ensaiar raticente e desconfiado. A mesma consiste em uma tentativa real de
avaliação dos códigos elaborados e da prática cotidiana dos profissionais, tendo em
vista verificar os seus méritos e os seus defeitos a fim de sugerir as alterações
necessárias. Esse processo de análise parte do princípio que não existem verdades
absolutas, nem mesmo no campo da ciência, pois também ela é um fazer humano
comprometido ou, no mínimo, permeado pela subjetividade. Sua preocupação não é
fazer da norma um escudo para o profissional e sim um instrumento paro o exercício
correio da profissão e da descoberta da verdade. Com esse fim, busca entender o
exercício profissional nas suas relações sociais e econômicas, desvelar o seu vínculo
com o poder instituído, bem como entender até que ponto essa prática está servindo
para a manutenção das relações sociais de manipulação.
É fácil entender que essa terceira orientação deveria ser aquela seguida por todas as
éticas profissionais. Porém, longe de ser, ainda é atacada pelo poder constituído,
pelas lideranças conservadoras e pelos seus pares. Isto porque, ela acena com a
desarticulação da moral instituída e com o advento de uma moral instituinte, elaborada
a partir das relações sociais de trabalho e das condições histórico-sociais e da
consciência dos indivíduos. Tal passagem só é possível quando se admite viver a
contradição, quando se permite viver a crise, pois só assim será possível realizar uma
revisão nos valores tradicionais e, se preciso, construir novos valores.
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5 - COMO OS CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DEVERIAM SER
Não propomos, aqui, dar nenhuma receita ou colocar princípios que devam ser
seguidos dogmaticamente: ao contrário, nossa intenção é continuar no caminho da
reflexão. Para tanto, levantaremos alguns pontos que julgamos servirá continuação
desse caminhar. Neste sentido, alguns questionamentos básicos se impõem: porque,
apesar do imenso poder que o homem moderno conquistou, ele não se apresenta
como um ser feliz? O que explica a tendência, cada vez maior, dos homens irem de
encontro aos valores estabelecidos? Em que se balizam os valores morais da
modernidade?
A primeira pergunta julgamos ser possível responder, entre outros argumentos, pela
situação de transitoriedade em que o homem se instalou. Diria Karel Kosik:
Esta situação não se caracteriza como ausência de valores e sim como o advento de
uma nova concepção, onde foram deixados de lado alguns "universais concretos" do
campo político e social e escolhidos outros. Esta substituição fez do homem moderno
um ser insatisfeito e em contínua busca, vivendo uma vida sem sentido no plano do
ser, pois elegeu o ter como a meta prioritária. Além disto, ele vive uma inversão entre
os meios e os fins e não consegue identificar a verdadeira felicidade.
No que diz respeito á insatisfação coletiva com os valores estabelecidos, nota-se uma
recusa a aceitar as bases absolutistas, racionalistas e dogmáticas em que eles se
articulam, uma vez que elas produzem valores meramente moralistas, baseados na
obrigação e na obediência á lei. Valores que, em observância aos interesses sócio-
econômicos, reprimem, neurotizam e levam a condutas aberrantes e até
contraditórias.
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Como registra Pierre Weil em nome da paz se faz a guerra, em nome da desigualdade
combatem os orgulhosos, em nome do amor, criticam os que se mostram insensíveis.
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exterioridade das imposições sociais para a interioridade dos indivíduos, de onde os
valores devem emergir.
Entende-se, este deve ser o paradigma também das relações de trabalho e da vida
profissional. Respeitando as individualidades, reconduzindo os homens a uma vida
mais humana, onde o culto ao lucro possa ser substituído pelo culto à vida,
contemplação, lazer, etc. e onde o progresso não seja identificado com acumulação
material e sim com uma melhor qualidade de vida individual e coletiva. Onde a
humanidade possa utilizar os avanços científicos e tecnológicos, tão ricos na
modernidade, para acabar com a fome, a ignorância e a desigualdade. Onde o Estado
possa servir, de fato, ao progresso humano, assegurando aos homens as suas
condições de existência.
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como meio e não como fim. E preciso entender que cada indivíduo é único cliente,
colega, colaborador e tem o seu ritmo próprio, por isso faz-se necessário cultivar a
paciência, deixar que cada um caminhe, se desenvolva e cresça no tempo que lhe for
apropriado, sem a ânsia de fazê-los queimar etapas a fim de adquirir resultados
imediatos.
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Moralidade: conjunto de valores que conduzem o comportamento, as
escolhas, decisões e ações.
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consequências dos atos praticados) pessoal e coletiva .
BIBLIOGRAFIA
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32
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