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Recursos Terapêuticos

Físicos II
Hidroterapia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Igor Phillip dos Santos Glória

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Hidroterapia

• Instalações Aquáticas;
• Príncípios e Propriedades da Água;
• Benefícios da Hidroterapia.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Proporcionar ao aluno o entendimento sobre os aspectos referentes à hidroterapia, os prin-
cípios físicos da água e do tratamento, os principais equipamentos e como utilizá-los, os
benefícios e suas contraindicações.
UNIDADE Hidroterapia

Instalações Aquáticas
Antes mesmo de começarmos a abordar os aspectos que envolvem a hidroterapia
em si, é necessário falarmos sobre as instalações que toda piscina terapêutica deve
ter, para conseguir ofertar um local adequado de atendimento aos pacientes.

Figura 1 Figura 2 – Piscina terapêutica


Fonte: Getty Images Fonte: portal.facema.edu.br

Equipamentos de segurança
Todo equipamento de segurança deve ficar em um local que seja visível e de fácil
acesso aos terapeutas. As pessoas que trabalham no local devem estar treinadas
para um plano de ação emergencial e quaisquer procedimentos ou políticas relacio-
nadas a esse plano. Os alarmes e incêndio são essenciais e devem estar posicionados
em um local de fácil acesso. Todos os terapeutas que utilizam o local devem estar
treinados em ressuscitação cardiopulmonar, salvamento básico em água e primeiros
socorros (BATES; HANSON, 1998). Dentre os equipamentos de primeiros socor-
ros, deve-se incluir esparadrapo à prova d’água, prendedores nasais, protetores de
ouvido, pranchas de coluna e outros itens básicos.

Equipamento terapêutico
Na área da piscina, existe a obrigatoriedade da instalação de equipamentos que
facilitem a passagem dos pacientes e também a transferência dos mesmos de fora
para dentro da piscina e vice-versa. Alguns dos equipamentos são de extrema im-
portância: elevadores, barras paralelas, corrimão, bancos aquáticos, cadeira de rodas
e macas.

Os meios mais adequados para transferir o paciente para dentro da piscina são os
elevadores, que podem ser fixos ou móveis. Importante salientar que todo equipamen-
to elevatório deve ter uma adequada e corriqueira manutenção para evitar acidentes.

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Figura 3 – Modelo de elevador para transporte de
paciente de fora para dentro da piscina
Fonte: semanaacademica.org.br

Já as barras paralelas devem estar instaladas e fixas no fundo da piscina, sendo


o aço inoxidável o material mais indicado e resistente e as pontas das barras parale-
las devem ser arredondadas e emborrachadas para evitar lesões traumáticas. Corri-
mãos e barras devem estar fixos em todas as paredes que ficam ao redor da piscina
e dentro dos vestiários, pois permitem a movimentação dos pacientes com maior
segurança, e os pisos devem ser de material antiderrapante, também para evitar
possíveis acidentes e quedas.

Tipos de equipamentos aquáticos


Nos dias atuais, existem diversos equipamentos que são utilizados para facilitar
o tratamento do paciente, gerando resistência, facilitando a flutuação, fornecendo
apoio para o paciente, melhorando a amplitude de movimento, dentre outras funções.
Abaixo, listaremos os equipamentos aquáticos mais utilizados para hidroterapia.
• Boias: estão disponíveis em uma grande variedade de espessuras e diâmetros.
Tendo a função de ajudar na flutuação e aumentar a segurança e conforto do
paciente na água;
• Cinto flutuador: cinto com fivela ajustável, com o objetivo de aumentar a flutu-
abilidade do paciente;
• Halteres para água: são barras de polivinilcloreto com partes de espuma nas
pontas. São utilizados para proporcionar resistência aos exercícios utilizados
no tratamento;
• Pranchas: equipamentos de alta intensidade, de espuma de acetato-vinil-etileno.
Utilizadas para apoiar o corpo na posição prona com os membros superiores
estendidos. Também podem ser utilizadas com o propósito de gerar resistência
durante a caminhada e outros exercícios;

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• Bastão: rolo de plástico de aproximadamente 61cm de comprimento e aberto


dos dois lados. Utilizado para dar assistência e aumentar a amplitude de movi-
mento da parte superior do corpo e promover pequena resistência;
• Palmar de resistência: são palmares de plástico com tiras de velcro para fixa-
ção, providenciando um aumento da área de superfície durante a execução de
vários exercícios. Tal equipamento é utilizado para gerar resistência em diversos
exercícios, podendo ser amarrados nos tornozelos ou seguros nas mãos;
• Pesos de punho e tornozelo: existem de vários tamanhos e possuem tiras de
velcro para fixação, para fixá-los de forma correta nos punhos e/ou tornozelos
durante os exercícios. Também podem ser utilizados para gerar resistência ou
promover estabilidade, tanto no solo quanto na água;
• Caneleiras: são feitas de espuma de acetato-vinil-etileno, possuindo três lados
com um cinto com tiras ajustáveis, uma fivela e uma tira adicional ajustável que
passa sob o calcanhar para evitar que a caneleira suba para a perna durante os
exercícios. São equipamentos flutuantes utilizados para apoiar o membro infe-
rior numa posição supina ou prona e podem ser utilizadas como resistência e
assistência quando trabalhando nas várias amplitudes de movimento;
• Banco Step: grande área de superfície de altura variável, que pode ser colo-
cada no fundo da piscina. Pode ser utilizado como equipamento de apoio para
ser pisado repetidamente e, também, para pacientes com menor estatura, com
objetivo de melhorar o posicionamento dentro da piscina.

Príncípios e Propriedades da Água


• Densidade relativa: a densidade relativa de um objeto é o que determina se ele
irá flutuar ou não, sendo ela a relação entre a massa do objeto e a igual massa de
volume de água deslocado. Se esse valor for maior que 1,0, o objeto irá afundar,
se for menor que 1,0 o objeto flutuará;

A densidade relativa de um corpo depende da sua composição. Sendo que a


massa gorda, a massa magra e os ossos têm as densidades de 0,8, 1,0 e 1,5 res-
pectivamente. Dessa forma, uma pessoa magra tende a afundar, enquanto uma
pessoa sobrepeso ou obesa tende a flutuar. Generalizando, as mulheres tendem
flutuar com maior facilidade que os homens devido à sua composição corpórea
e os idosos também tendem flutuar com mais facilidade que os jovens, também
pelas diferenças na composição corpórea;

Outro ponto interessante é a diferença de densidade entre tronco e membros


em diversos indivíduos, exemplificando o fato dos membros tenderem a afun-
dar com mais facilidade do que a região do tronco. Isso se assemelha a pes-
soas com diferenças de densidades entre lados do corpo, o que acontece em
pacientes após AVE/AVC, que evoluem com hemiplegia e densidade relativa
diferente e­ ntre os membros, tendendo a flutuar com mais facilidade o lado he-
miplégico do corpo, pela perda de massa magra. Uma situação similar é vista

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em pacientes com paraplegia, que pode vir após o quadro de lesão medular,
quando o paciente perde massa magra nos membros inferiores e acabam tendo
uma melhor flutuação nessa região;
• Flutuação/empuxo: a flutuação e a densidade relativa estão muito relaciona-
das. O princípio de Archimedes estabelece que quando um corpo está total ou
parcialmente imerso em um fluído em repouso, ele experimenta um empuxo de
baixo para cima igual ao volume do fluído deslocado. Portanto, um objeto com
densidade relativa menor do que 1,0 flutuará porque a massa do objeto é menor
que o volume de água deslocado;

A flutuação pode ser de assistência (assistiva), resistência (resistiva) ou apoio


(suporte). Essa força assiste a qualquer movimento em direção à superfície da
água e resiste a qualquer movimento na direção oposta à superfície da água.
O princípio da flutuação auxilia o retorno venoso do paciente em tratamento;

Figura 4 – Porcentagem do peso corporal suportado pelos


membros inferiores em diferentes profundidades da água
Fonte: BATES; HANSON, 1998

• Pressão hidrostática: a lei de Pascal estabelece que a pressão do fluído é exer-


cida igualmente sobre todas as áreas de um corpo imerso a uma dada profun-
didade. Dessa forma, a pressão é diretamente proporcional a ambas: a profun-
didade e a densidade do fluido. A pressão hidrostática opõe-se à tendência do
sangue de ficar nas porções inferiores do corpo, o que ajuda a reduzir edemas
nos membros inferiores. A pressão hidrostática também ajuda a promover esta-
bilidade nas articulações instáveis;

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• Turbulência: a turbulência consiste no fluxo irregular das moléculas de água, está


relacionado com a pressão e a velocidade através de um fluxo de corrente. Quanto
maior a velocidade do movimento maior a turbulência. Aplicada em ­outras t­éc­
nicas, a turbulência pode funcionar como uma massagem profunda, provocando
a pressão e o alongamento dos tecidos tensos, bem como da estimulação dos
mecanorreceptores levando ao alívio da dor (CANDELORO, 2003);
• Viscosidade: a viscosidade ou resistência do fluido é outra propriedade resul-
tante da fricção entre as moléculas do fluido, que tendem a aderir-se à superfí-
cie do corpo que se move através dele, causando resistência ao seu movimento­.
O aumento da temperatura reduz a viscosidade do líquido, logo, piscinas aque-
cidas apresentam menor viscosidade que piscinas frias. A refração é a deflexão
de um raio ao passar de um meio menos denso a um mais denso ou vice-versa
(CHÃO, 2004).

Métodos de tratamento utilizados na piscina


Existem alguns métodos de tratamentos utilizados na piscina, sendo que, dentre
eles, podemos destacar o Halliwick, Bad Ragaz e Watsu. Tendo cada um uma deter-
minada indicação terapêutica e seu correto modo de ser aplicado.

Método Halliwick
Trata-se de um método multidisciplinar, que utiliza diversas áreas de conheci-
mento, visando ensinar e possibilitar que indivíduos com incapacidade físico e/ou
comportamentais consigam nadar e realizar exercícios no meio aquático, combinan-
do conceitos de mecânica, neurofisiologia, psicologia, dinâmicas em grupo, dentre
outros (CUNNINGHAM, 2000).

Nesse método, o principal objetivo é fazer com que o paciente consiga evoluir a
ponto de ter total independência no meio aquático. Podendo ser utilizado em qual-
quer indivíduo que apresente alterações físicas ou de aprendizado, desde que não
tenha nenhuma contraindicação ao meio aquático (ACCACIO; SACCHELL, 2007).

O Método Halliwick é composto pelo programa de 10 pontos, que é listado abaixo:


1. Ajustamento mental: no qual o paciente deverá desenvolver a capacidade
de responder de forma apropriada a um meio diferente ou uma situação
diferente, sendo importante, durante o exercício, o aprendizado do con-
trole respiratório;
2. Desprendimento: o paciente torna-se física e mentalmente independente;
3. Controle de rotação sagital; 
4. Controle de rotação transversal;
5. Controle de rotação longitudinal;
6. Controle de rotação combinada;

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7. Inversão mental: o paciente deve acreditar que a água irá lhe sustentar,
impedindo que afunde;
8. Equilíbrio em repouso; 
9. Deslizamento turbulento; o terapeuta movimenta o paciente sem que
haja contanto entre os mesmos;
10. Progressão simples e movimento básico.

Método dos anéis de Bad Ragaz


Trata-se de um método que tem como objetivo proporcionar relaxamento, forta-
lecimento, reeducação muscular, alongamento da coluna vertebral, adequação do
tônus, aumento da amplitude do movimento, melhora do alinhamento e da estabi-
lidade do tronco, preparação de membros inferiores para suportar cargas, melhora
da resistência e da capacidade funcional do corpo (GARRETT, 2000; ACCACIO;
SACCHELL 2007).

De acordo com Campion (2000), os padrões utilizados pelo Bad Ragaz permitem
que o fisioterapeuta e o paciente trabalhem juntos em cooperação e a força com a
qual os movimentos são realizados pode ser cuidadosamente monitorada e gradua-
da. Os exercícios somente podem ser realizados se o fisioterapeuta estiver na água,
conduzindo e instruindo o paciente, pois esse profissional age como ponto de esta-
bilidade e fixação.

Segundo Garrett (2000), algumas patologias têm grande aplicabilidade clínica e


bons resultados com a utilização do método, sendo elas:
• Disfunções ortopédicas;
• Reabilitação pré e pós-operatório de cirurgias de tronco e extremidades,
• Artrite reumatoide;
• Osteoartrite e osteoartrose;
• Fribromialgia;
• Paciente que sofreram AVC/AVE;
• Pacientes que sofreram TCE (trauma cranioencefálico);
• Doença de Parkinson;
• Distrofia simpática reflexa;
• Pacientes mastectomizadas;
• Dentre outras.

Watsu
Trata-se de um método criado por Harold Dull em 1980, em razão dos seus
trabalhos com pessoas emersas em uma piscina morna, aplicando os alongamentos
e movimentos do shiatsu zen que havia estudado no Japão (DULL, 2000; ZORNOFF,

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2007). Tal método emprega conceitos peculiares pouco comuns para a medicina oci-
dental. Entre eles, destacam-se a aceitação incondicional, os meridianos e o ­yin-yang.
Foi criado para ser uma técnica de massagem que não era necessariamente destina-
da a pacientes; no entanto, terapeutas de reabilitação aquática reportaram resultados
positivos quando o aplicaram em portadores de distúrbios neuromusculares e nos
músculos esqueléticos (DULL, 2000).

Benefícios da Hidroterapia
O exercício terapêutico realizado na água aquecida pode ser indicado para o trata-
mento de uma infinita gama de patologias, gerando modificações fisiológicas durante
o exercício e diversos benefícios:

Quadro 1

• Aumento da frequência respiratória;


• Diminuição da pressão sanguínea;
• Aumento do aporte sanguíneo para o tecido muscular;
Modificações fisiológicas • Aumento do metabolismo muscular;
• Aumento da circulação periférica;
durante o exercício na • Aumento da frequência cardíaca;
água aquecida • Aumento da taxa metabólica;
• Redução de edemas nas regiões do corpo submersas;
• Redução da sensibilidade dolorosa;
• Relaxamento muscular.

• Melhorar a mobilidade articular;


• Minimizar a atuação da força gravitacional;
• Melhorar a função da musculatura respiratória;
Benefícios terapêuticos • Melhorar a consciência corporal, o equilíbrio e a
dos exercícios na estabilidade articular;
• Reduzir a sensibilidade dolorosa;
água aquecida
• Promover relaxamento muscular;
• Reduzir quadros de espasmos musculares;
• Aumentar a força e resistência muscular.

• Doenças transmitidas pela água (infecções de pele);


• Febre;
• Insuficiência cardíaca;
Contraindicações • Pressão arterial descontrolada;
• Epilepsia;
• Incontinência urinária/fecal;
• Sintomas de TVP (trombose venosa profunda).

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Método Halliwik
CUNNINGHAM, J. Método Halliwik. In: RUOTI, R. G.; MORRIS, D. M.; COLE,
A. J. Reabilitação aquática. São Paulo: Manole, 2000. cap. 16, p. 337-366.
Propriedades físicas da água
ACCACIO, L. M. P.; SACCHELLI, T. Propriedades físicas da água. In:
MONTEIRO, C. G.; GAVA, M. V. (Org.). Fisioterapia aquática. São Paulo: Manole,
2007a. cap.1, p.1-12.
Métodos dos anéis de bad ragaz
GARRET, G. Métodos dos anéis de bad ragaz. In: RUOTI, R. G.; MORRIS, D. M.;
COLE, A. J. Reabilitação aquática. São Paulo: Manole, 2000. cap. 15, p. 319-322.
Hidroterapia princípios e prática
CAMPION, M. R. Hidroterapia princípios e prática. São Paulo: Manole, 2000.

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Referências
ACCACIO, L. M. P.; SACCHELLI, T. Propriedades físicas da água. In: MONTEIRO,
C. G.; GAVA, M. V. (Org.). Fisioterapia aquática. São Paulo: Manole, 2007a.

BATES, A.; HANSON, N. Exercícios aquáticos terapêuticos. São Paulo: Manole,


1998.

PRENTICE, W. E. Modalidades Terapêuticas para Fisioterapeutas. 2. ed. Porto


Alegre: Artmed, 2004.

CANDELORO, J. M.; CAROMANO, F. A.; FILHO THEMUDO, M. R. F. Efeitos


fisiológicos da imersão e do exercício na água. Revista Fisioterapia Brasil. Ano 4,
n. 1, jan/2003.

CHÃO, C. C.; IDE, M. R.; FARIAS N.C. ROSA, A. R.; YNOUE, A. T. Fisioterapia
aquática nas disfunções do aparelho locomotor. Anais do 2º Congresso brasileiro
de extensão universitária. Set./2004.

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