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APLICAÇÃO DO MAPEAMENTO DO
FLUXO DE VALOR (MFV) PARA
MELHORIA DE PROCESSO EM UMA
FÁBRICA DE LATICÍNIOS
Gabriele Lacerda Santos (UNIFEI )
gabriele.lacerda@unifei.edu.br
Jose Antonio de Queiroz (UNIFEI )
queirozunifei@gmail.com
Fabiano Leal (UNFEI )
fleal@unifei.edu.br
1. Introdução
O Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo e o Estado de Minas Gerais é líder
absoluto na produção correspondendo a 27,4% da produção nacional (ABIQ, 2014). Algumas
instituições no país focam o estudo da ciência e tecnologia do leite, porém, poucos estudos
abrangem questões sobre a gestão da produção no segmento. Em contra partida, diversos
autores vêm demonstrando como métodos modernos de gestão da produção, especialmente a
produção enxuta pode ser utilizada para promover melhorias em diversas áreas, tanto da
manufatura quanto do setor de serviços (LU, YANG e WANG, 2011). De acordo com
SULLIVAN et al. 2002, MCKENZIE e JAYANTHI, 2007, o Mapeamento do Fluxo de Valor
- MFV introduzido por Rother e Shook em 1999 consiste num guia prático para a
implementação da produção enxuta em sistemas de produção que visam o melhoramento das
suas atividades industriais.
Neste contexto, o trabalho consiste em uma pesquisa ação cujo objetivo é aplicar o
Mapeamento do Fluxo de Valor para identificar desperdícios, atividades que agregam valor e
o Lead Time do processo de um caso específico da indústria de laticínios, cuja ocorrência de
operações mistas alternando entre discretas e contínuas coexistem. Foram desenvolvidas as
etapas “seleção da família de produtos”, “desenho do mapa do estado atual”, “desenho do
mapa do estado futuro”, seguidos de análise dos resultados e conclusões. A aplicação do
MFV possibilitou identificar desperdícios tais como: superprodução, longas esperas,
transportes excessivos, processos inadequados, estoques elevados e movimentações
desnecessárias, bem como o percentual de atividades que agregam valor de 3,0%. O desenho
do estado futuro propõe a redução do Lead time de 1.303,64 horas para 134,00 horas através
da sincronização da produção junto à demanda, a inclusão de fluxos contínuos, a projeção de
supermercados para controlar a produção, a programação da produção somente no processo
puxador, e do nivelamento do mix e o volume de produção.
2. Referencial Bibliográfico
A produção enxuta foi introduzida nos anos 80, por um grupo de pesquisadores do
Massachusetts Institute of Technology - MIT (ARAUJO, 2013), após um estudo do estilo de
produção japonês com destaque ao Sistema de produção Toyota de Produção - STP
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De acordo Womack e Jones (2004) existem sete tipos de desperdícios identificados no STP:
(1) superprodução: produzir excessivamente, ou antes; (2) espera: lead time longos, ou seja,
longos períodos de ociosidade de pessoas, peças e informações; (3) transporte: movimentação
e transporte de pessoas, peças e informações; (4) processos inadequados: utilização
inadequada de máquinas e sistemas; (5) estoques desnecessários: armazenamento excessivo e
falta de informação. Além de ocultar outros tipos de desperdícios, significam desperdícios de
investimento e espaço; (6) movimentação: desperdício de movimentos nas mais variadas
operações que devem ser eliminadas com estudos de métodos e de trabalho; (7) produtos
defeituosos: problemas no processo, de qualidade ou baixo desempenho na entrega.
Rother e Shook (2003), afirma que na perspectiva da produção em massa, produzir mais e
mais rápido gera produtos mais baratos, no entanto, somente a partir da visão do custo direto
por item medido nas práticas de contabilidade convencionais,pois ignora todos os custos reais
associados ao excesso de produção e aos desperdícios causados. Para Queiroz (2006) o foco
da produção em massa é o desenvolvimento das atividades que agregam valor e a produção
enxuta foca na eliminação das atividades que não agregam valor. Para Womack e Jones
(2004) criação de um fluxo de valor (value stream) é identificar as ações necessárias para
projetar, pedir e produzir um produto específico e dividi-las em três categorias: (1) aquelas
que realmente criam valor, conforme pedido do cliente; (2) aquelas que não criam valor, mas
são necessárias para os sistemas de desenvolvimento do produto, atendimento de pedidos ou
produção (desperdício tipo um) e, portanto, ainda não podem ser eliminadas; e (3) as ações
que não criam valor conforme percebido pelo cliente (desperdício tipo dois) e, assim, podem
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A técnica de MFV introduzida por Rother e Shook (1999) consiste num guia prático para a
implantação da produção enxuta (SULLIVAN et al. 2002, MCKENZIE e JAYANTHI, 2007)
e deve seguir as etapas propostas por Rother e Shook (2003) explicitadas na Figura 1: Etapas
de desenvolvimento do MFV.
3. Classificação da Pesquisa
Como este trabalho envolve a atuação do pesquisador na empresa, sobretudo para a aplicação
das técnicas de produção enxuta, ele pode ser classificado como uma pesquisa ação. Os
passos propostos por Silva e Menezes (2005) foram adotados para auxiliar na formulação do
método de pesquisa. O tema tratado neste artigo é a produção enxuta e o uso dos mapas de
fluxo de valor, o que inspirou o referencial teórico do Capítulo 2. Após o estudo da teoria
sobre produção enxuta, foram refinados os objetivos da pesquisa e a definição do objeto de
estudo como sendo uma fábrica de laticínios. Em seguida foram definidos os procedimentos
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práticos da pesquisa ação, na qual os mapas de fluxo de valor foram desenvolvidos para a
empresa. A seguir são listadas as etapas práticas realizadas para atingir os objetivos
propostos:
Serão descritas três fases na etapa de desenvolvimento. A primeira fase refere-se seleção da
família de produtos, seguindo três passos. A segunda consiste no desenho do mapa do estado
atual com oito passos e a terceira, no desenho do mapa do estado futuro respondendo a oito
questões - chave propostas por Rother e Shook (2003).
A escolha da família de produtos para a aplicação do método foi considerada dentre outros
fatores, pela importância estratégica dos produtos, pela sua similaridade em termos de
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processos, sendo escolhido a família de queijo mussarela que abrange os produtos peças de
queijo de 4kg, 0,8kg e 0,5kg.
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câmara fria e expedidas. A empresa trabalha em 1 turno, de segunda a sábado durante 7,3
horas por dia, com 1 hora de almoço não paga e 15 minutos de café no período da tarde.
Passo 3: Inclusão de fornecedores
Os fornecedores de leite entregam diariamente em média de 7.326 litros, porém, apenas 5.117
litros são destinados ao queijo mussarela.
A Figura 2 – Mapa do estado atual Bufalen mostra o desenho elaborado e a Tabela 1 resume
as informações coletadas a partir do mapa.
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Figura 2: Mapa do estado atual Bufalen
O takt time foi calculado dividindo-se o tempo de trabalho disponível por turno de 25.380
segundos pela demanda por turno de trabalho de 852,5kg, resultando em 29,7 s/kg.
Passo 2: Definição de produção para supermercado de produtos acabados ou para expedição
A demanda dos clientes aumenta e diminui imprevisivelmente, sendo assim, optou-se por
produzir para um supermercado de produtos acabados.
Passo 3: Introdução de fluxos contínuos
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diretamente reduz o T/C da salga para 12,8 s/kg, uma vez que incorporação do sal será na
peça será mais rápida. A terceira consequência é a redução do T/C da secagem de 62 s/kg para
36,6 s/kg, já que as peças ficarão secando durante a noite, prontas para a embalagem no dia
seguinte. O conteúdo de trabalho será de 79s/kg que dividido pelo tak time de 29,7s/kg,
conclui-se que a quantidade necessária de operadores será de três.
A terceira célula compreende os processos empacotamento e selagem. Será necessário
eliminar os desperdícios através do kaizen para trazer o T/C abaixo do takt time, reduzindo o
T/C do empacotamento de 38 s/kg para 26 s/kg. O processo seguinte é a selagem com duas
máquinas de capacidade diferentes. Como 80% da demanda referem-se a essa família de
produtos, conclui-se que deverá ser retirada uma máquina de selagem e disponibilizar dois
operadores (41 s/kg pelo takt time de 29,7 s/kg equivalem a dois) para trabalhar integralmente
para a família mussarela.
A Figura 4 representa o gráfico balanceamento operador estado futuro e resume os novos T/C
e necessidades de funcionários.
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O processo puxador será célula de embalagem que é controlada através de pedidos dos
clientes externos e regulará o fluxo completo de valor da produção de queijos.
Passo 6: Nivelamento do mix de produção no processo puxador
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A imagem takt para a célula embalagem na frequência correta denominada incremento pitch
foi calculado considerando 30 segundos de takt time multiplicado pela quantidade de quilos
de queijo em cada caixa de 32kg, originando o incremento pitch de 16 minutos.
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Figura 6: Mapa do estado futuro Bufalen
O desenho do estado futuro propõe a redução do Lead time de 1.303,64 horas para 134,00
horas, através das seguintes ações: identificação do takt time e sincronização da produção com
a demanda; desenvolvimento de fluxos contínuos, criação de supermercados para controlar a
produção onde termina um fluxo contínuo e inicia outro; identificação do processo puxador e
programação da produção apenas nesse ponto, que definirá o ritmo de produção de todos os
processos anteriores; nivelamento do mix e do volume de produção através do cálculo do
incremento pitch, e finalmente o levantamento dos eventos kaizen necessários para tornar o
mapa do estado futuro possível.
7. Agradecimentos
Os autores agradecem á CAPES, à FAPEMIG e ao CNPQ pelo apoio.
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