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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA JUNTO AO INSTITUTO CHICO
MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
COORDENAÇÃO DE MATÉRIA FUNDIÁRIA

PARECER n. 00048/2021/COMAF/PFE-ICMBIO/PGF/AGU

NUP: 02659.000012/2013-58

INTERESSADOS: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA


BIODIVERSIDADE - ICMBIO

ASSUNTOS: MEIO AMBIENTE

EMENTA: DIREITO AMBIENTAL E AGRÁRIO. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA


NO INTERIOR DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE POSSE E DOMÍNIO
PÚBLICO. FLORESTA NACIONAL DE ITACAIÚNAS. NOTIFICAÇÃO.
COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO. ÁREA PÚBLICA. CONFISSÃO DE
DESOCUPAÇÃO. PERDA DO OBJETO. EXTINÇÃO DO PROCESSO. DECISÃO
JUDICIAL NA ACP 1585-05.2013.4.01.3900 DA 2ª VARA FEDERAL DE
MARABÁ.

RELATÓRIO

Trata-se de consulta formulada pela DISAT em razão da petição (SEI 8440287)


apresentada pelo interessado alegando vício de notificação, e portanto, violação ao
direito de ampla defesa e contraditório, e as seguintes alegações, conforme despacho
interlocutório CGTER (SEI 8580938):
1.  Preliminarmente da Fazenda Esperança não estar totalmente sobreposta na Fauna de
Itacaiunas;
2.      Do desmatamento detectado em 2014 e do reflorestamento em 2021;
3.      Do processo sem procuração nos autos;
4.      Da não intimação do senhor Manoel de Sousa Barros;
5.      Da decisão da  Justiça Federal, processo Nº 1585- 05.2013.4.01.3901; e
6.   Requer a extinção dos autos em epígrafe por estar eivado de vícios;Requer seja
cumprida a decisão da Justiça Federal, processo nº 1585-05.2013.4.01.3901; Requer a
extinção do processo por falta de citação, intimação e procuração;  Requer seja
corrigido a área da Fazenda sobreposta na Floresta Nacional de Itacaiunas, conforme
nota técnica nº 357/2014 —COREG/ CGTER/ DISAT/ ICMBio, de 16 de setembro de
2014, onde consta que a Fazenda Esperança está sobreposta apenas 484 hectares.

Na consulta informou-se que após a notificação inicial foram praticados os seguintes


atos:

a) Foi apresentada procuração do interessado ao advogado Joaquim Luiz Silveira, em


31/07/2012, constituído para acompanhar o processo, em como suas manifestações e
documentos. 
b) Foi encaminhada notificação para o interessado na qual foi solicitada a apresentação
de documentos, por meio de carta com aviso de recebimento (1371877), com
comprovante de recebimento em 28/09/2012.

Relata a consulente que, por tais motivos, entendeu-se que o interessado tomou
conhecimento do processo instaurado.

Acerca dos demais itens, transcrevo as respostas da DISAT no SEI (8595390):

Quanto ao ponto 1, fica evidenciado que o polígono analisado está parcialmente


sobreposto a Unidade de Conservação, tendo através da informação COREG (7777464)
informado que houve emissão de parecer técnico onde a tarefa de análise foi cumprida
de acordo com a Nota Técnica n. 372/2014/COREG/CGTER/DISAT/ICMBio
(1371877), o Despacho Interlocutório (7518978) e a Nota Técnica nº
56/2019/CGTER/DISAT/ICMBio (fls. 124 a 127 do SEI 6039198), quando identificou
que o imóvel sobrepõe parcialmente a FLONA de Itacaiunas, e no imóvel
denominado Fazenda Serra Verde, de interesse do Sr. José Rangel da Fraga, processo
02659.000001/2013-78, sendo que houve um equívoco na informação de que a área
estava integralmente sobreposta, fato este que é corroborado pela Nota Técnica nº
372/2014/COREG/CGTER/DISAT/ICMBio cito a página 36 e 37 da Digitalização de
Processo MANOEL DE SOUZA BARROS (1371877) do qual transpomos os
parágrafos 6 a 9:
6. Considerando que a área pretendida encontra-se sobreposta em 484 hectares com a
Flona e totalmente com a Gleba da União, não houve apresentação de documentos
cartoriais que comprovem o destaque do patrimônio público federal.
7. Conforme a Nota Técnica nº 357/COREC/CGTER/DISAT/ICMBio, a área
pretendida do interessado é de aproximadamente 2.717 hectares, inserida parcialmente
em 484 hectares dentro da Unidade, a área desmatada e implantada pastagem dentro da
UC é de cerca de 175 hectares.
8. Não foi apresentado nos Autos autorização de desmatamento emitido por órgão
público federal e/ou estadual que comprove a boa fé da ocupação da área pública.
9. A Nota Técnica destaca que a área requerida inserida na Flona de Itacaiunas
apresenta sobreposição total com a Gleba Federal Aquiri e sobreposição parcial
aproximada de 270 hectares com área pretendida por José Rangel da Fraga (Processo
02659.000001/2013-78).
Sendo que estas foram as informações subsidiárias da Decisão Presidencial 89/2015-
GABIN/PRESI/ICMBio (1371877 - páginas 82 a 84), que acolheu na íntegra o Parecer
n° 428/2014/AGU/PGF/PFE-ICMBio, (fls 28-39v), e o Despacho n° 46/2015-
CGTER/DISAT/ICMBio (fls. 40), que passaram  a compor a decisão, não
havendo qualquer prejuízo ao interessado.
Diante destas questões o entendimento é que a Decisão do Presidente do ICMBio é
somente sobre a área sobreposta da UC composta por 484 hectares de terras públicas e
de domínio da União, pois não há qualquer comprovação de documentos que alienaram
ao privado tal imóvel, mantendo-se as demais análises que trata-se de detenção em terra
pública.
Quanto ao ponto 2, não temos nada a apontar, pois a análise multitemporal foi realizada
em 2019, conforme os autos e informação constante Nota Técnica nº
56/2019/CGTER/DISAT/ICMBio (6039198 - fls. 124 a 127), momento em que
identificou que o imóvel sobrepõe parcialmente a FLONA de Itacaiunas e o imóvel
denominado Fazenda Serra Verde.
Em relação ao Ponto 3, estão presente nos autos (1371877 - páginas 8 à 16),
documentos encaminhados por Joaquim Luiz da Silveira OAB/GO - 24.356, como
a cópia do RG do Senhor Manoel de Sousa Barros com conferência de original por
servidor deste órgão.
Quanto ao apontado no Ponto 4, apesar das arguições do procurador, estão presentes nos
autos as comprovações de que a intimação foi realizada e entregue a Joaquim Luiz da
Silveira OAB/GO - 24.356, ali entendido como procurador do interessado e que
conforme AR (página 6), recebeu a intimação em 28/09/2012 (1371877). Após a
intimação foram incluídos nos autos documentos do interessado (1371877 - páginas 27
e 28), com assinatura de Manoel de Souza Barros como comprador de uma área de 600
alqueires.
Diante do exposto, encaminhamos os autos a essa PFE para análise jurídica, inclusive
em relação aos pontos 5 e 6, e para que sejam especificadas as demais análises que
deverão ser realizadas no âmbito de competência da CGTER, a fim de auxiliar o
posicionamento judicial do ICMBio.
Ademais, ratificamos que o entendimento dos autos é pela manutenção da Decisão
Presidencial e pela desocupação imediata da área sobreposta a UC.

Pois bem, no início, o processo administrativo foi instaurado em 31/10/2013 para a


verificação da possibilidade de indenização de benfeitorias em um imóvel denominado
"Fazenda Esperança", cuja área declarada é de 2.622,5014 hectares, no município de
São Félix do Xingu/PA, cujo  interessado é MANOEL DE SOUZA BARROS,
qualificado nos autos.

Em 14/09/2012 foi expedida notificação para o interessado apresentar documentos


acerca de ocupação de terras no interior da Floresta Nacional do Itacaiúnas.

Em resposta, foi formulado pedido de regularização (SEI 1371877, pp. 8-29) onde se


afirma que o requerente está sofrendo desapropriação indireta, e que é necessária a
realização de um procedimento demarcatório da área que compõe a Flona Itacaiúnas.
Além disso, requer a avaliação das terras ocupadas tomando-se por parâmetros o valor
da terra nua constante da tabela do Incra na região, mais o valor das benfeitorias,
cobertura florística e o preço venal, de acordo com a atualidade.

Acompanham o pedido documentos pessoais, contrato particular, Cadastro Ambiental


Rural (ano 2010), e memorial descritivo da área (elaborado em junho/2000 - SEI
1371877 - pg.22 - físico fl. 11).

Ademais, destaco da instrução os seguintes documentos:

Nota Técnica nº 357/2014-COREG/CGTER/DISAT/ICMBIO (SEI 1371877 - pp. 32-


34) - Análise de sobreposição na qual se constatou que da área total de 2.717 hectares,
há sobreposição parcial aproximada de 484 hectares, destes 175 hectares de área
desmatada e que a área está sobreposta totalmente com a Gleba Federal Aquiri e
sobreposição parcial com área de outro ocupante José Rangel Fraga (Processo
02659.000001/2013-78)
Nota Técnica nº 372/2014/COREG/CGTER/DISAT/ICMBIO (SEI 1371877 - pp. 36-
40) - na qual se concluiu pela ausência de boa-fé da ocupação das terras públicas da
União.
Nota Técnica nº 101/2014/COREG/CGTER/DISAT/ICMBIO (SEI 1371877 - pp. 42-
46) - na qual o ICMBio interpretou a decisão judicial na ACP 1585-05.2013.4.01.3900
da 2ª Vara Federal de Marabá, e mencionou o Parecer de Força Executória para
cumprimento do julgado de modo que o ICMBio deveria elaborar um plano para a
regularização fundiária na área, e que podia "...autorizar a atividade pecuária que já
existia no local, devendo coibir apenas a abertura de novas áreas de pastagens..."
Encaminhamento à PFE seguido da anexação do Parecer nº 428/2014/AGU/PGF/PFE-
ICMBio proferido em situação análoga.
Despacho nº 46/2015-CGTER/DISAT/ICMBio (SEI 1371877 - pg. 80)
Decisão da Presidência do ICMBio de 08/05/2015 (SEI 1371877 p. 82) pela
desocupação.
Memorando 12/2015 - FLONITA/CR04/ICMBio (SEI 1371877 pp. 90-97) - noticiando
a impossibilidade de notificação do interessado por falta de segurança na região. Noticia
decisão judicial contrária ao ICMBio no Processo Judicial 1585-05.2013.4.01.3901
Despacho 137/2015/CGTER/DISAT/ICMBio (SEI 1371877 p. 98) encaminhando o
processo para a PFE/ICMBio, porém não houve o efetivo encaminhamento, cf. extrato
de movimentação processual  (SEI 1372101).
Nota Técnica nº 56/2019/CGTER/DISAT/ICMBio - que fez uma consolidação de dados
e análise das ocupações no interior da Flona Itacaiúnas.
Informação COREG  (SEI 7777464) - reiterando o já decidido nos autos.

Foi apresentada Petição SEI 8440287 no qual o interessado que é proprietário da


Fazenda Esperança, desde o ano de 1993, e adquiriu a propriedade de forma onerosa,
agindo de boa-fé. Que a Fazenda Esperança não está sobreposta sobre a
Flona Itacaiúnas.

Em seguida, após o devido acesso aos autos foi encaminhado pelo interessado
requerimento (SEI 8566464), apontando que Fazenda Esperança não está totalmente
sobreposta à Flona Itacaiúnas, que há sobreposição de apenas 426 hectares, e que a área
apontada como desmatada está quase totalmente reflorestada. Afirma que o interessado
não utiliza a área para nada, nem pastagem, nem casas, nem guarda maquinários,
portanto essa área. Requer, se possível ser um "preservador ambiental" e colaborar com
o que puder para a preservação da Floresta Nacional de Itacaiúnas, e criar uma Reserva
Particular do Patrimônio Natural e continuar residindo na fazenda onde vive há 28
anos. Sustenta que embora haja procuração nos autos do interessado para o advogado,
não foram apresentados documentos, e portanto o processo seria nulo. Aponta a decisão
judicial no processo nº 1585-05.2013.4.01.3901 e que essa decisão impediria o ICMBio
de retirar os pecuaristas da região. Requereu a extinção do processo por falta de citação,
intimação e procuração; a correção da sobreposição da área à unidade de conservação. 

Após sobrevieram os Despacho CGTER (SEI 8578256),  Despacho CGTER


(SEI 8580938) e o Despacho DISAT (SEI 8595390) encaminhou a consulta para a PFE.

É o relatório.
análise jurídica

O exame da questão se dará sob o enfoque eminentemente jurídico, desconsideradas as


questões de ordem técnica, financeira ou orçamentária, nos termos do art. 10, §1º, da
Lei nº 10.480/2002.

Preliminarmente, é necessário delimitar as questões relevantes para o deslinde da


presente controvérsia, e estabelecer que estamos diante de um processo administrativo,
regido, em geral, pela Lei nº 9.784/1999. Vale dizer, não estamos diante de processo
destinado à apuração de infrações ambientais e aplicação de sanções, que tem outro
regime jurídico. 

Outra questão de ordem no presente processo é que o ICMBio tem atribuições legais
suficientes para fiscalizar a área e coibir qualquer tipo de agressão ao regime jurídico
ambiental, inclusive com a apreensão de bens, embargo de atividades, demolição de
obras e outras medidas. A pendência do presente processo administrativo não traz, de
forma alguma, um salvo conduto para a livre atuação do ocupante no interior da unidade
de conservação. O objetivo do presente processo é solucionar conflitos com a máxima
civilidade, sem o uso do aparato estatal repressivo, e, com isso, dar a oportunidade ao
interessado de explicar porque, no ano de 2021, vinte e três anos depois da publicação
do Decreto nº 2.480/1998 que instituiu a Floresta Nacional de Itacaiúnas, 02/02/1998,
ainda se discute a sua presença na área.

Com efeito, é dever do interessado justificar sua presença ali, de pedir eventual
indenização por benfeitorias, de modo a cumprir a Constituição, e toda a legislação
brasileira, em especial, a Lei 9.985/2000, que rege o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, que não se dirige apenas à Administração Pública, mas a todos, que
devem observar as suas determinações e que não podem alegar desconhecimento.
Diante de tudo isso, o interessado fica sujeito à responsabilização cível, administrativa e
criminal pela simples presença na área. Evidentemente que em áreas com registro
imobiliário, há uma presunção relativa de propriedade ao titular do registro, e que a
Administração não pode desconhecer. Porém, no caso de ocupantes que possuem
apenas documentos particulares, não há, em princípio, nenhuma informação pública que
leve à conclusão pela licitude da presença do ocupante ali. A não ser assim, não seria
possível distinguir alguém que pratica crimes, um infrator ambiental, um desmatador de
alguém que tenha boa-fé na ocupação e direito à indenização por benfeitorias.
No presente caso, ao contrário, a área em questão, seja a sobreposição no interior da
Flona, seja fora é, conforme relatado, comprovadamente pública.

Dito isso, é necessário distinguir o que realmente é decisivo no presente processo. De


logo se percebe que houve recentemente, por duas vezes, comprovado e
inequívoco comparecimento do interessado nos autos, o que, nos termos do art. 26, §5º 
da Lei 9.784/1999, convalida eventual vício de notificação.

No derradeiro comparecimento aos autos o interessado afirmou que:

"Pelas fotos, resta claro, a Fazenda Esperança, de propriedade do Senhor Manoel de Sousa
Barros, não está totalmente sobreposta sobre a FLORESTA NACIONAL ITACAIUNAS,
somente aquela área demarcada na foto acima, ou seja 484 hectares, sendo que o Senhor Manoel
de Sousa Barros não as utiliza para nada, nem pastagem, nem casas, nem guarda maquinários,
portanto essa área, que encontra-se dentro da Fazenda Esperança, não é utilizada para nada, não
se extrai nenhum recurso dela, e o Senhor Manoel de Sousa Barros, reside na Fazenda há 28
anos e se possível requer ser um preservador ambiental, colaborar com o que puder para a
preservação da Floresta Nacional de Itacaunas, preservando a fauna e flora, seja com recursos
financeiros seja com mão de obra própria, nos moldes que o Ministro do meio ambiente Ricardo
Sales vem divulgando, esse é seu desejo, ajudar na preservação e criar uma RESERVA
PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN) E CONTINUAR RESIDINDO NA
FAZENDA QUE RESIDE HÁ 28 ANOS E FOI UM DOS PRIMEIROS A CHEGAR NA
REGIÃO." 

Ou seja, depois de anos de tramitação do processo administrativo, com a tentativa do


ICMBio de solucionar a questão, o próprio apontado como ocupante de terra pública se
apresenta espontaneamente nos autos e confessa que não ocupa a área no interior da
Flona.

Diante dessa confissão do interessado o deslinde da controvérsia é muito simples: não


há ocupação do interessado no interior da Flona, e, por se tratar de área
comprovadamente pública, desaparece, no caso, o interesse processual do requerente.
Sugere-se, portanto, a elaboração decisão declarando que o interessado não é o ocupante
da área, com a subsequente notificação do interessado. Em seguida, recomenda-se que
seja realizada imediata vistoria direta na área para averiguação da sua situação exata e
identificação de eventuais invasores, situação a ser relatada no presente processo, sem a
abertura de novo processo para tanto, de modo que o histórico das tentativas de
regularização seja preservado. Caso haja novos invasores, que sejam notificados no
presente processo, de maneira que não haja mais de um processo administrativo de
regularização pela mesma área. Recomenda-se, ainda, que se comunique à Secretaria de
Patrimônio da União - SPU, ao INCRA e ao Ministério Publico Federal para que tomem
conhecimento da ocupação da gleba pública federal

Resta examinar a alegada decisão no processo 0001585-05.2013.4.01.3901, que


supostamente impediria o ICMBio de retirar os pecuaristas da área, devendo a autarquia
apenas coibir "toda e qualquer ação que importe em abertura de novas áreas para
exploração de pastagem".

O processo encontra-se pendente de julgamento de apelação interposta pelo


ICMBio perante o Tribunal Regional Federal da Primeira Região. A controvérsia, está
resumida nas razões de apelação nos seguintes termos: 

Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública em face do ICMBIO, para que a autarquia
promova a regularização fundiária da UC Flona Itacaiúnas em etapas consistentes no a)
diagnóstico da situação fundiária; b) diagnóstico da situação socioeconômica; c) plano
de regularização fundiária; d) execução do plano; e) comprovação periódica do
cumprimento das etapas e medidas previstas; 2) promover a cessação de qualquer
atividade pecuária realizada no interior da Flona Itacaiúnas, com a consequente retirada
do gado ali existente; 3) restaurar a área degradada, mediante a execução de PRAD a ser
apresentado com vistas ao seu reflorestamento com espécies nativas do bioma
amazônico, na forma e estipuladas no item 95, "c" da inicial.

O d. juízo a quo julgou parcialmente procedente a demanda, condenando a autarquia em


resumo, à elaboração e apresentação de diagnóstico da situação fundiária da área,
elaborar e apresentar o diagnóstico socioeconômico, plano de regularização fundiária e
iniciar a execução do plano.

Quando da referida sentença, foi expedido o PARECER DE FORÇA EXECUTÓRIA


n. 00003/2019/EA/NUMAF/PSFMAR/PGF/AGU  no qual foi transcrito o dispositivo
da sentença:

"[...]
O pedido do MPF, nesse ponto, merece acolhida para que o ICMBIO seja condenado a:
1) elaborar e apresentar diagnóstico da situação fundiária da Flona Itacaiúnas,
sujeito à homologação judicial, ouvido o MPF;
2) após, a partir da homologação do diagnóstico do item 1, elaborar e apresentar o
diagnóstico da situação socioeconômica, também sujeito à oitiva do Ministério
Público e homologação;
3) em seguida, após a homologação do segundo diagnóstico (item 2), elaborar e
apresentar o plano de regularização fundiária da Flona Itacaiaúnas, com o
correspondente cronograma executivo, indicando o prazo de conclusão, ouvindo-se o
MPF e sendo igualmente objeto de homologação do Juizo;  
4) depois disso, em um ano a contar da homologação do plano de regularização
fundiária e seu cronograma, iniciar efetivamente a execução do plano de
regularização, observados formas e prazos nele previstos;
4.1) comprovar, semestralmente, em Juizo o cumprimento das etapas e medidas
contidas no plano de regularização fundiária da Flona Itacaiúnas.
Entendo que eventual retirada do gado deve se dar concomitantemente a execução
do plano de regularização fundiária, já que indissociável a ocupação humana a
própria atividade pecuária predatória. Logo, o pedido do MPF, nos termos como
posto (promover em 06 meses a cessação de qualquer atividade de pecuária realizada no
interior da FLONITA, com a consequente retirada de todo o gado ali existente), não há
de ser acolhido
[...]
O plano de trabalho se encontra desatualizado, razão porque determino ao ICMBIO, em
especial, quanto a não autuação de processos administrativos de ocupantes indicados no
item 02, o seu cumprimento em 30 dias, considerando a data da manifestação do
presidente do ICMBIO em 07/02/2017 (fls. 720/721) e a presente data, em que já
ultrapassamos meados de 2018, sob pena de aplicação de multa diária de R$10.000,00
pelo descumprimento. [...]  já que cumprida a determinação do item 02, deve o
ICMBio cumprir a etapa 03 em três meses, a etapa 04 em três meses, a etapa 05 em
três meses, as etapas 06 e 07 em dez meses. A conclusão total do prazo, considerando
nesta, eventual prazo final para a efetivação real do plano com a real desocupação
depende de circunstâncias e variáveis alheias ao ICMBIO, já que apontado ajuizamento
de ações judiciais. 
Por tais fundamentos, acolho em parte os pedidos, ratificando a tutela antecipada
nos termos da fundamentação, julgando procedente em parte a pretensão formulada
na inicial (art. 487, I do CPC), resolvendo o mérito da demanda para condenar o
ICMBIO a: 
1) elaboração e apresentação de diagnóstico da situação fundiária da Flona Itacaiúnas,
sujeito à homologação judicial, ouvido o MPF;
2) após, a partir da homologação do diagnóstico do item 1, elaborar e apresentar o
diagnóstico da situação socioeconômica, também sujeito à oitiva do Ministério Público
e homologação;
3) em seguida, após a homologação do segundo diagnóstico (item 2), elaborar e
apresentar o plano de regularização fundiária da Flona Itacaiúnas, com o correspondente
cronograma executivo, indicando o prazo de conclusão, ouvindo-se o MPF e sendo
igualmente objeto de homologação do juízo;
4) depois disso, em um ano a contar da homologação do plano de regularização
fundiária e seu cronograma, iniciar efetivamente a execução do plano de regularização,
observados formas e prazos nele previstos, inclusive com a retirada do gado
eventualmente existente nesse momento;
4.1) comprovar, semestralmente, em Juízo o cumprimento das etapas e medidas
contidas no plano de regularização fundiária da Flona Itacaiúnas (grifos no original). 
[...]

Da leitura do dispositivo da sentença se percebe que todos os comandos judiciais são


destinados à promoção da regularização fundiária no interior da Flona Itacaiúnas, em
nenhum momento está se reconhecendo direitos a qualquer dos ocupantes da Flona, o
que está se determinando que é o ICMBio execute suas atribuições de modo a indenizar
quem tiver direito, e quem não tiver direito que seja devidamente retirado do interior da
Flona. Ou seja, a decisão está dizendo: cumpra-se a legislação, não há qualquer restrição
à atuação do ICMBio desde que praticada nos limites da legalidade. Vejamos o que diz
o referido parecer de força executória acerca da liminar deferida nos autos:

Em decisão liminar de fl. 434/484, o juízo antecipou a tutela para determinar que o
ICMBio promovesse a regularização fundiária nos seguintes termos sucessivos:
elaborar e apresentar diagnostico de situação fundiária e promover a cessação da
atividade pecuária dentro de seis meses;
elaborar e apresentar o diagnóstico da situação socioeconômica, dentro de seis meses;
elaborar e apresentar plano de regularização fundiária da Flona Itacaiúnas, com
correspondente cronograma executivo, dento de seis meses
após tudo isso, no prazo de um ano a contar da homologação do plano de regularização,
iniciar efetivamente a execução do plano de regularização e comprovar, perante  o juízo,
semestralmente, o cumprimento da respectivas medidas.

A celeuma de interpretações se deu porque inicialmente, foi deferida tutela antecipada


para que o ICMBio promovesse a cessação da atividade pecuária em seis meses, o que
é, de fato medida drástica e possivelmente inexequível. A referida liminar restou
parcialmente revogada, mais uma vez, de acordo com o parecer de força executória, nos
seguintes termos:

Sobreveio decisão interlocutória determinando a suspensão da ordem de cessação da


atividade de pecuária no interior da floresta, com a remoção do gado existente. O
ICMBio foi também advertido de que deveria ser coibida qualquer ação que
possibilitasse a abertura de novas pastagens. O juízo indeferiu o pedido de ingresso
na lide por parte da Associação dos Produtores Rurais do Aquiri. Determinou, ainda, a
intimação da União Federal  e do INCRA para se habilitarem como litisconsortes (fls.
576/580).
Dessa maneira, suspendeu-se a ordem de cessação geral da atividade de pecuária no
interior da floresta, com a remoção do gado, de modo que o ICMBio não estava mais
obrigado a cessar, contra a sua vontade, em seis meses, a indiscriminadamente, toda a
atividade pecuária, porém, não foi afirmado ou decidido que o ICMBio estaria impedido
de remover o gado ou fiscalizar quem quer que seja.

Foi dada, em seguida, uma ordem para que o ICMBio coibisse a abertura de novas
pastagens, ou seja, o Poder Judiciário, ao constatar a ilegalidade na omissão do ICMBio
em fiscalizar, determinou que se realizasse a fiscalização, restringindo a
discricionariedade do ICMBio nesse sentido. De forma alguma a decisão está a impedir
que o regime jurídico ambiental seja aplicado em sua plenitude.

Até porque a dita "regularização fundiária" em unidades de conservação de posse e


domínio público destinada aos que não têm registro imobiliário da área, em regra, tem
dois desfechos possíveis: desocupação imediata da unidade sem indenização, com
apuração de eventuais condutas ilícitas; desocupação da unidade precedida de
indenização, sem prejuízo de apuração de eventuais condutas ilícitas. As situações
excepcionais dizem respeito às populações tradicionais e vulneráveis. Criar gado no
interior de unidade de conservação de posse e domínio público é, em princípio,
inadmissível. Logo, não foi afirmado na sentença e não faz sentido algum a
interpretação da decisão no sentido de que haveria algum impedimento ou embaraço ao
ICMBio de exercer suas atribuições, uma vez que, está sendo cobrado em juízo
justamente que o ICMBio as exerça a contento.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, recomenda-se que:

1) dada a confissão do interessado de que não ocupa a área no interior da Floresta


Nacional de Itacaiúnas, e, sendo esta comprovadamente pública, seja elaborada decisão
declarando essa situação, sendo o processo extinto em relação ao interessado.
2) o processo prossiga com subsequente vistoria direta na área para averiguação da sua
situação exata e eventual identificação de novos invasores, situação a ser relatada no
presente processo, sem a abertura de novo processo para tanto, de modo que o histórico
das tentativas de regularização seja preservado, e que não haja mais de um processo de
regularização fundiária para a mesma área.
3) seja realizada comunicação à Secretaria de Patrimônio da União - SPU, ao INCRA e
ao Ministério Publico Federal para que tomem conhecimento da ocupação da gleba
pública federal.
4) Nos termos do PARECER DE FORÇA EXECUTÓRIA n.
00003/2019/EA/NUMAF/PSFMAR/PGF/AGU não há qualquer impedimento à atuação
do ICMBio em razão da sentença proferida na Ação Civil Pública nº 1585-
05.2013.4.01.3900 da 2ª Vara Federal de Marabá/PA, ao contrário, há uma imposição
de que se promova a devida regularização fundiária na área.

À consideração superior, com sugestão de encaminhamento à DISAT para ciência e


providências.

Porto Velho, 12 de maio de 2021.

Fábio de Farias Feitosa

Procurador Federal

SEPFE-ICMBio

GR1- Base Avançada de Porto Velho

Coordenação de Matéria Fundiária

Atenção, a consulta ao processo eletrônico está disponível em http://sapiens.agu.gov.br


mediante o fornecimento do Número Único de Protocolo (NUP) 02659000012201358 e
da chave de acesso 91ff1da1

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