Você está na página 1de 5

RESENHA CRÍTICA DA PRIMEIRA PARTE DA TEORIA GERAL

DO DIREITO COMERCIAL DE FÁBIO ULHOA COELHO

PROFESSOR: Ademos Alves

TURMA: 6°Semestre A RGM: 011.5099

TURNO: Matutino

O presente trabalho visa abordar as principais características do estudo do Direito Empresarial


em sua fase inicial, desdobrando temas que envolvam os primórdios e fundamentos da Teoria Geral
do Direito Comercial, dentro da obra do titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo o
professor Fábio Ulhoa Coelho, divididas em 9 subdivisões do capítulo 1°, em seu Manual de
Direito Comercial, edição 23°, de 2011, da editora Saraiva. Serão apresentadas e comentadas
matérias de real importância dentro da disciplina empresarial, desde o próprio objetivo de tal
disciplina no campo geral do Direito; elementos e diferenças entre comércio e empresa, mas
precisamente a evolução da teoria do comercio para a teoria da empresa e seus efeitos, tanto sociais
e históricos como os legais; a definição e conceito profissional do agente empresário, as funções e
requisitos de sua atividade; demonstrar e exemplificar as atividades econômicas civis; apresentar a
figura do empresário individual e suas funções estabelecidas; abordar a denominada EIRELI
(Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) e as implicações de sua execução no mercado;
tecer observações e tratar dos conceitos sobre a figura do preposto do empresário e a necessidade de
sua existência e finalizar abordando sobre a autonomia do Direito Comercial. Todo o
desenvolvimento do atual trabalho possui o escopo de fixar os principais conceitos e diferenciações
dos institutos na Teoria Geral do Direito Comercial para que se possa compreender suas relações e
principais efeitos no Direito Empresarial.

O Direito tem como prisma, observar a realidade, analisar as ações humanas e seus efeitos
dentro de uma determinada ordem social e desenvolver normas que regulamentem a convivência e
proteja princípios e direitos dos indivíduos. Necessitando de recursos para garantir a própria
sobrevivência e a dos seus familiares, cada indivíduo busca satisfazer estas necessidades utilizando
dos produtos produzidos em organizações econômicas na qual disponibilizam tais produtos no
mercado para a negociação. Essas relações econômicas fazem o Direito abrir uma nova esfera em
seu amplo campo denominada de Direito Comercial. São os empresários os responsáveis do
gerenciamento de tais organizações econômicas e possui a atividade de articular os fatores de
produções (mão de obra, capital, insumo e tecnologia). O professor Ulhoa dispõe desse preceito
estabelecendo que (Manual de Direito Comercial, pag.21) ‘‘As organizações em que se produzem
os bens e serviços necessários ou úteis à vida humana são resultado da ação dos empresários, ou
seja, nascem do aporte de capital — próprio ou alheio —, compra de insumos, contratação de mão
de obra e desenvolvimento ou aquisição de tecnologia que realizam’’. Então o empresário,
prevendo o lucro que tal empreendimento poderá lhe aproveitar, organiza as atividades necessárias
a serem exercidas para suprir a demanda exigida por certa parcela- ou grande parte- da sociedade. O
renomado professor continua sua explanação dizendo do árduo trabalho que o empreendedor
necessita empreender para estruturar os processos de produção e de prestações de serviços, reunindo
os recursos financeiros, humanos, materiais e tecnológicos, além de estar sujeito aos riscos inerentes
à atividade. O Direito Comercial surgiria com o objetivo de regular e de estruturar meios de
resoluções de conflitos em que estejam envolvidos os empresários ou as empresas em que sejam
donos. No final da primeira parte do capitulo 1°, o professor explica o motivo de se denominar essa
esfera do Direito como Comercial, ainda que esteja em seu bojo não apenas relações comerciais
(atividade do comercio), mas também as empresarias e as de prestação de serviços. Ao entrar na
segunda parte do capítulo, se trará as relações e diferenças entre empresa e o comércio. As relações
comerciais nem sempre foram nos moldes como são hoje, na Antiguidade, todos os recursos e
produtos eram extraídos diretamente da natureza, em suas formas brutas, e utilizados pela própria
família dos coletores e produtores. A mínima interação econômica que havia de uma família para
outra eram feitas através da troca- ou escambo, utilizando, aliás, somente dos excedentes. Alguns
povos utilizavam da troca em escala mais ampla, como é o caso dos fenícios, estimulando a
circulação de certos produtos numa determinada região. Os romanos, por sua vez, tinham a ideia
mais abrangente de família e comunidade, na qual os principais produtos eram produzidos dentro
dos próprios lares, e os escravos, que serviam de mão de obra, eram partes integrantes da família.
Desse período até os tempos contemporâneos, o comercio sofreu séria transformação para se
adaptar as necessidades dos humanos em cada momento. O desenvolvimento dessas relações
chegou ao ponto de determinadas pessoas começaram a produzir não mais para suprir as próprias
necessidades, ma para suprir necessidades alheias em contrapartida de lucrarem por certa margem.
É o primórdio da atividade industrial. Na Idade Média, o comercio se expandiu para todos os povos.
Durante a Modernidade os comerciantes e profissionais liberais se ajuntavam em burgos e
corporações de ofício, iniciando alguns procedimentos regulares entre os afiliados, surgindo, assim,
normas que disciplinavam essas relações. Com a derrocada do Antigo Regime, no sistema imperial
regida por Napoleão Bonaparte, dois colossais diplomas jurídicos surgem para regular melhor as
interações sociais: O Código Civil de 1804 e o Código Comercial de 1808. Nessa codificação
convencional dividir o direito privado em duas esferas: as relações civis e as comerciais. A teoria
dos atos do comercio dispunha das principais atividades econômicas que eram exercidas naquele
período, a imensa movimentação de produtos pelo comercio, as interações bancários, os primeiros
processos industriais, dentre outros. O desenvolvimento do comercio produziu a evolução da
disciplina jurídica na qual passava da simples proteção dos direitos de alguns (os comerciantes em
si) para a proteção de determinados atos (os atos de comercio). Após desgastes e insuficiência na
tentativa de se manter como teoria eficaz na organização das relações comerciais, a teoria do
comercio foi substituída pela teoria da empresa. A terceira parte do estudo adentra ao surgimento da
teoria da empresa e seu desenvolvimento. Tal teoria nasceu na Itália em meados do século XX, na
qual o direito Comercial começaria abarcando não somente as atividades do comércio, dos bancos,
dos seguros e das indústrias, mas também, voltariam a tratar das relações agrárias e envolveriam as
prestações de serviços, transformando a forma de circulação dos produtos. Em princípio a teoria foi
germinada se baseando na ideologia fascista de Mussolini. Entretanto, ao longo dos anos, ela se
desvinculou da ideologia e se adaptou tecnicamente as novas formas políticas que estavam
aparecendo. Em se tratando do desenvolvimento do Direito Brasileiro, pode-se dizer que ele assume
a teoria da empresa como regra, por meio de sua doutrina e jurisprudência. O professor Fábio
adentra, a partir da 4° parte, no conceito de empresário. De acordo com o Código Civil de 2002, em
seu artigo 966, define o empresário como sendo aquele que ‘‘ exerce profissionalmente atividade
econômica, organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços’’. De tal disposto
se deduzem certas noções como as: de profissionalismo (na qual se caracteriza principalmente pela
habitualidade- a constância no empreendimento-; de pessoalidade, tendo interação direta por meio
dos empregados e pelo monopólio sobre as informações, possuindo o empregador o domínio das
informações sobre seus produtos e serviços; de atividade, na qual o empresário exerce sua atividade,
por meio da empresa, produzindo e circulando produtos e serviços, sendo o termo ‘‘empresa’’
sinônimo de empreendimento e de exercício das funções inerentes; econômica, demonstrando que
alem da produção se visa a busca do lucro, sendo esse o fim almejada ou um meio necessário para
atingir outras finalidades; organização, conseguindo, o empresário, articular os fatores de produção,
no exercício da empresa, trabalhando com o capital disponível, gerindo a mão de obra empregada,
utilizando os insumos adquiridos com tecnologia condizente ao necessário e por fim a noção de
produção e circulação de bens e serviços, em que se trará da produção dos produtos, por meio do
processo industrial e sua circulação, intermediada pelo comércio, assim também ocorrendo com a
prestação de serviços e seu intermédio feito por certas atividades econômicas. Desde a divisão
dicotômica do direito privado feita por Napoleão no início do século XIX, certas atividades que se
podem executar não estão no âmago do juscomercialismo, mas sim, dentro das atividades
econômicas civis. Nesta 5° parte do capítulo da Teoria Geral do Comercio, o doutrinador Fábio
apresenta as quatro hipóteses dessas atividades econômicas civil. A primeira trata do próprio
profissional que buscando lucro e exercendo a habitualidade de sua atividade, não se enquadra na
definição de empresário, por não possui, por exemplo, a organização necessária. Este profissional
estará submetido em um regime civil. A segunda hipótese é do profissional intelectual, assim
disposto no parágrafo único do ar. 966 do Código Civil de 2002, fazendo parte dessa categoria os
profissionais liberais (advogados, médicos, arquitetos, etc) e os escritores, artistas e cientistas,
mesmo que hajam colaboradores que os sirvam. Eles não trabalham visando diretamente o lucro
(pois este é o resultado natural da atividade que professam) e nem se condicionam a organização de
um empreendimento maior. A terceira opção é a do empresário rural, na qual no Brasil se observa
dois sistemas dessa atividade: o agronegócio e a agricultura familiar. Naquela, se utiliza tecnologia
avançada, cultura especializada e maior dimensão da propriedade para o cultivo, enquanto que
nesta, a atividade é exercida por parentes, em terreno menor, é quando muito, possui alguns
empregados. A atividade econômica rural que efetivar seu registro em Junta Comercial será
considerada empresa e estará submetido aos regulamentos do Direito Comercial, e a atividade que
não se registra, não será considera empresa e estará regulada pelas normas civis (opção
predominante dos trabalhadores em sistema familiar). E por fim, a ultima hipótese de atividade
econômica civil é a das Cooperativas. Mesmo que essa cumpra os requisitos de definição para ser
considerada atividade empresarial, esta sujeita somente pelas normas civis, desde 1971, por mando
dos legisladores e não estão sujeitas a falência nem a recuperação judicial. O empresário pode ser
pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, denomina-se empresário individual; no segundo,
sociedade empresarial. A parte 6° traz que os agentes que exercem sociedade empresarial são
denominados de sócios, e normalmente são empreendedores ou investidores, e será a sociedade em
si, por eles constituída, que será empresária para os efeitos legais. E suas regras não serão as
mesmas para os empresários individuais. Estes trabalham nas dimensões econômicas menores e de
baixa escala. Para se tornar empresário individual, a pessoa deve encontrar-se em pleno gozo de sua
capacidade civil, sendo permitido, somente em situações específicas, exercício de empresa por
incapaz, sendo indispensável o alvará concedido pelo juiz para isso. A 7° subdivisão desenvolve o
entendimento sobre a EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) é uma sociedade
limitada constituída por apenas um sócio, portanto, unipessoal. Há muitas imprecisões técnicas que
o legislador, no momento da criação deste instituto, acabou cometendo, como considerar a empresa
um sujeito de direitos e deveres e não uma atividade, puramente, como tecnicamente é de fato.
Enquanto não ocorre esta mudança no campo legislativo a doutrina e a jurisprudência vem
desenvolvendo tal papel reparador de grande importância. O 8° tópico explanará sobre a relevância
do preposto e suas funções. O preposto é a denominação que o Código Civil traz para todos os
agentes que executem funções subordinados ao empresário dentro da organização empresarial,
exercendo justamente as tarefas a eles requeridas. O empregador fica responsabilizado por todo ato
executado por seus prepostos durante o exercício regular que lhes competir. Se este agir com culpa,
a vítima entrará com a demanda requerendo reparação ou compensação direta para o empresário, e
este, poderá posteriormente, exigir indenização por regresso. Se por dolo, o proposto responde
solidariamente com o preponente. E o derradeiro tópico 9° tratará da autonomia do Direito
Comercial. Tal área jurídica é imensamente rica e especializada, sendo um campo autônomo, com
regras e conceitos específicos. Não compromete a autonomia do Direito Comercial a opção do
legislador brasileiro de 2002 no sentido de tratar a matéria correspondente ao objeto desta disciplina
no Código Civil em seu Livro II da Parte Especial. E igualmente importante destacar que não ocorre
limitação por ser a teoria de empresa aquela que fundamenta as bases e serve de incidência aos fatos
e relações que dizem respeito ao Direito Comercial.

O professor Fábio Ulhoa Coelho consegue de forma excepcional elaborar as principais


características da Teoria Geral do Direito Comercial, trazendo profundo rigor metodológico e
imensa clareza por meio da escrita expressiva e satisfatória. Percebo, após a leitura e da breve
análise do material, a grande rede de conceitos e dispositivos elaborados para desenvolver uma
efetiva aplicação do Direito Comercial nas diversas e complexas relações que surgem na sociedade
ao longo do tempo. O Direito privado vem se desenvolvendo a mais de dois séculos equilibrando e
harmonizando as duas esferas que a compõe, a comercial e a civil. Por serem esferas autônomas e
independentes, e mesmo que sua junção na mesma codificação não atrapalhe a efetivação na prática
de suas normas, vejo uma real necessidade de se desenvolver uma codificação específica para a
ordenação comercial, na qual as diferenças das atividades empresariais e civis se tornem mais claras
e definidas. Haver o reajuste nos conceitos e diretrizes que regulam a EIRELI, permitindo que o
instituto possa ser bem diferenciado dos demais, tornando-se um instituto mais bem fundamentado.
Uma codificação própria e bem elaborada poderá permitir que o Direito Comercial esteja mais
preparado para as grandes transformações que irão ocorrer ao longo do tempo com o avanço
tecnológico e as novas formas de relações econômicas e sociais.

Conclui-se, portanto, que a boa compreensão desses conceitos primordiais que principiam a
Teoria Geral do Direito Comercial deve ser buscada e trabalhada constantemente. Entender as
nuances e complexidades que tal campo jurídico abrem é um dever de todo estudante e estudioso do
direito em se tratando das relações privadas. O capitulo elaborado pelo doutrinador Ulhoa é de
expressiva clareza e de altíssimo grau, desenvolvendo os principais problemas e questões que
surgem no campo jurídico comercial e apresentando as discussões necessárias que devem ser feitas
para que se apresentem resoluções e respostas capazes de sanar tais pontos, sendo, portanto,
indispensável a leitura dessa obra de indiscutível importância.

Luiz Henrique Menezes de Paula Maciel- discente da disciplina de Direito Empresarial I


na faculdade de Direito da Universidade da Grande Dourados (UNIGRAN)

Você também pode gostar