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Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas


Benjamin Leader e David E. Golan

Introdução Grupo III: Vacinas com Proteínas


Caso Grupo IV: Proteínas para Diagnóstico
Usos das Proteínas em Medicina Desafios das Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas
Grupo I: Proteínas Terapêuticas com Atividade Enzimática ou Conclusão e Perspectivas Futuras
Reguladora Leituras Sugeridas
Grupo II: Proteínas Terapêuticas com Especificidade de Ligação

dos em proteínas têm, com freqüência, menos possibilidade


INTRODUÇÃO de interferir nos processos biológicos normais e causar efeitos
adversos. Em terceiro lugar, como o organismo produz natu-
Mais do que qualquer outra classe de macromoléculas no cor- ralmente muitas das proteínas que são utilizadas como formas
po humano, as proteínas desempenham funções dinâmicas e de terapia, essas substâncias são freqüentemente bem toleradas
diversas. As proteínas catalisam reações bioquímicas, formam e têm menos tendência a desencadear respostas imunes. Em
receptores e canais nas membranas, proporcionam um suporte quarto lugar, para doenças com mutação ou deleção de genes, as
intracelular e extracelular e transportam moléculas no interior modalidades terapêuticas baseadas em proteínas podem propor-
das células ou de um órgão para outro. Nesses últimos 40 anos, cionar um tratamento de reposição efetivo, sem a necessidade
os cientistas não apenas decifraram o código genético — a cópia de terapia gênica, que, no momento atual, não está ainda dispo-
para a produção de proteínas —, como também estabeleceram a nível para a maioria dos distúrbios genéticos. Em quinto lugar,
seqüência genética completa em muitos organismos, incluindo o tempo levado para o desenvolvimento clínico e a aprovação
os seres humanos. Na atualidade, estima-se que existem 25.000 de modalidades terapêuticas baseadas em proteínas pela FDA
a 40.000 genes diferentes no genoma humano, e, com a junção pode ser mais rápido que os da SMD. Um estudo publicado em
(splicing) alternativa dos genes e a modificação pós-tradução 2003 mostrou que o tempo médio de desenvolvimento clínico
de proteínas (por exemplo, através de clivagem, fosforilação, e aprovação foi mais de 1 ano mais rápido para 33 terapias
acilação e glicosilação), é provável que o número de proteínas protéicas aprovadas entre 1980 e 2002, em comparação com
funcionalmente distintas seja muito maior. Quando analisadas 294 SMD aprovadas durante o mesmo período. Por fim, como
sob a perspectiva dos mecanismos de doença, essas estimati- as proteínas são singulares na sua forma e função, as compa-
vas representam um imenso desafio para a medicina moderna, nhias farmacêuticas conseguem obter uma proteção da patente
visto que pode ocorrer doença quando qualquer uma dessas de longo alcance para as terapias protéicas. Essas últimas duas
proteínas exibe mutações ou outras anormalidades ou encontra- vantagens fazem com que as proteínas sejam interessantes do
se presente em concentrações anormalmente altas ou baixas. ponto de vista financeiro em comparação com os compostos
Entretanto, quando analisadas sob a perspectiva da terapêu- químicos, que freqüentemente podem ser copiados com ligeiras
tica, essas estimativas representam uma enorme oportunidade modificações que escapam da proteção da patente e que podem
para utilizar modalidades terapêuticas baseadas em proteínas levar mais tempo para obter aprovação regulamentar.
no alívio da doença. No momento atual, mais de 70 proteínas As modernas terapias protéicas consistem em proteínas puri-
ou peptídios diferentes estão aprovados para uso clínico pela ficadas de uma ampla variedade de diferentes microrganismos e
U.S. Food and Drug Administration (FDA), e um número muito estão sendo cada vez mais produzidas por engenharia genética,
maior encontra-se em fase de desenvolvimento. utilizando a tecnologia do DNA recombinante. As proteínas
As modalidades terapêuticas baseadas em proteínas têm não-recombinantes são purificadas a partir de sua fonte nati-
várias vantagens sobre as substâncias que consistem em peque- va, como as enzimas pancreáticas do pâncreas de suínos e o
nas moléculas (SMD, small-molecule drugs). Em primeiro inibidor da alfa-1-proteinase do plasma humano de vários
lugar, as proteínas desempenham, com freqüência, um conjunto doadores. Os sistemas de produção para as proteínas recombi-
de funções altamente específicas e complexas, que não podem nantes incluem bactérias, leveduras, células de insetos, células
ser imitadas por compostos químicos. Em segundo lugar, como de mamíferos e animais e plantas transgênicas. O sistema de
a ação das proteínas é altamente específica, os fármacos basea- escolha pode ser determinado pelo custo da produção ou pelas
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modificações da proteína (por exemplo, glicosilação, fosforila- tratamento do diabetes melito tipo I (DM-I) e tipo II (DM-II).
ção ou clivagem proteolítica) necessárias para a sua atividade Quando não tratado, o DM-I é uma doença que leva à debili-
biológica. Por exemplo, as bactérias não efetuam reações de dade grave e à morte, devido à falta do hormônio protéico, a
glicosilação, enquanto cada um dos outros sistemas biológicos insulina, que estimula as células a desempenhar diversas fun-
anteriormente mencionados produz um tipo ou padrão diferente ções relacionadas com a homeostasia da glicose e o metabo-
de glicosilação. Os padrões de glicosilação das proteínas exer- lismo intermediário. Em 1922, a insulina foi purificada pela
cem efeitos notáveis sobre a atividade, a meia-vida e a imuno- primeira vez do pâncreas bovino e suíno e utilizada na forma
genicidade da proteína recombinante no corpo. Por exemplo, de injeção diária para salvar a vida de pacientes com DM-I.
a meia-vida da eritropoietina nativa, um fator de crescimento Pelo menos três obstáculos impediram o uso disseminado dessa
importante na produção de eritrócitos (ver adiante), pode ser terapia protéica: (1) a disponibilidade de pâncreas animal para
prolongada através do aumento da glicosilação da proteína. A purificação da insulina; (2) a redução do custo da purificação
darbepoietina é um análogo da eritropoietina desenvolvido da insulina a partir de pâncreas animal; e (3) o controle da
para conter dois aminoácidos adicionais, que são substratos reação imunológica apresentada por alguns pacientes à insulina
de reações de glicosilação de extremidade amino. Quando de origem animal. Esses problemas foram resolvidos através
expresso em células do ovário de hamster chinês (CHO, Chi- do isolamento do gene da insulina humana, “recombinação”
nese hamster ovary), o análogo é sintetizado com cinco cadeias do gene com DNA bacteriano e manejo da Escherichia coli
de carboidrato N-terminais em lugar de três; essa modificação utilizando a tecnologia do DNA recombinante para expressar
faz com que a meia-vida da darbepoietina seja três vezes mais a insulina humana. Mediante cultura de grandes quantidades
longa que a da eritropoietina. dessas bactérias, foi possível obter uma produção em gran-
As proteínas produzidas pela tecnologia do DNA recombi- de escala de insulina humana. A insulina assim produzida era
nante têm todas as vantagens das proteínas não-recombinantes, abundante, barata, de baixa imunogenicidade e livre de outras
com os seguintes benefícios adicionais. Em primeiro lugar, a substâncias pancreáticas animais. A insulina recombinante foi
transcrição e a tradução do gene humano exato leva a uma maior a primeira terapia protéica recombinante comercialmente dis-
atividade específica da proteína e a uma menor probabilidade ponível. Foi aprovada pela US FDA em 1982 e, desde então,
de rejeição imunológica pelo paciente (ver o exemplo adiante tem sido a principal terapia para o DM-I (e uma importante
da insulina bovina, em comparação com a insulina humana terapia para o DM-II).
recombinante). Em segundo lugar, a proteína recombinante é Os 25 anos que se seguiram à aprovação da insulina pela
freqüentemente produzida de modo mais eficiente e econômi- FDA testemunharam uma notável expansão das proteínas no
co e em quantidades potencialmente ilimitadas. Um exemplo arsenal farmacológico utilizado pelos médicos no tratamento da
notável é encontrado na modalidade terapêutica baseada em doença. Conforme assinalado anteriormente, mais de 70 proteí-
proteínas para doença de Gaucher, um distúrbio congênito crô- nas diferentes (das quais mais de 40 produzidas pela tecnologia
nico do metabolismo dos lipídios, causado pela deficiência da recombinante) já estão aprovadas pela FDA para uso clínico. As
enzima beta-glicocerebrosidase. Os pacientes com essa doença modalidades terapêuticas baseadas em proteínas são e continua-
apresentam, em sua maioria, hepatoesplenomegalia, aumento rão sendo fundamentais no tratamento das doenças humanas.
da pigmentação cutânea e lesões ósseas dolorosas. Embora os
pacientes possam ser tratados com beta-glicocerebrosidase
purificada a partir da placenta humana, esse tratamento exi- n Caso
ge a purificação da proteína de 50.000 placentas por paciente
por ano. Essa exigência obviamente representa um limite para a M.R. é um caixeiro viajante de 55 anos de idade que chega à
quantidade de proteína purificada disponível para pacientes que emergência de um pequeno hospital rural com queixa de dor no
apresentam essa doença. Na atualidade, dispõe-se de uma forma peito esquerdo e tonteira. A dor começou de repente há 1 hora,
recombinante (embora de custo extremamente alto) de beta-gli- quando estava carregando uma grande caixa. A princípio, M.R. sentiu
cocerebrosidase. A proteína recombinante não apenas está dis- que ia desmaiar, mas tanto a dor quanto a tonteira melhoraram
ponível em quantidades suficientes para tratar um número muito com o repouso e, por fim, desapareceram por completo depois
maior de pacientes com a doença, mas também elimina o risco de de 20 minutos. M.R. não acusa nenhum outro sintoma e não tem
doenças transmissíveis (por exemplo, virais ou por príons) asso- nenhuma história de problemas clínicos. Não toma remédios, não
ciadas à purificação da proteína derivada da placenta humana. fuma, e seu pai faleceu inesperadamente em um acidente de carro
Isso ilustra o terceiro benefício das proteínas recombinantes em aos 53 anos. O exame físico revela ausência de febre, freqüência
comparação com as proteínas não-recombinantes, que consiste cardíaca de 100 batimentos/min, pressão arterial de 150/90 mm
na redução da exposição a doenças animais ou humanas. Uma Hg e freqüência respiratória de 16 respirações/min. O oxímetro
quarta vantagem é a de que a tecnologia recombinante permite de pulso indica 96% numa cânula nasal com fluxo de 2 litros de
a modificação de uma proteína para melhorar a sua função ou oxigênio por minuto. M.R. parece estar se sentindo confortável, e o
especificidade. Nesse caso também, a beta-glicocerebrosidase restante do exame físico só é notável por uma quarta bulha cardíaca.
recombinante fornece um exemplo interessante. Quando essa Não há evidências de sangue oculto nas fezes. O ECG revela taqui-
proteína é produzida por tecnologia recombinante, a substituição cardia sinusal sem elevação do segmento ST. A radiografia de tórax
do aminoácido arginina-495 pela histidina permite a adição de apresenta-se normal. O painel químico obtido imediatamente revela
resíduos de manose à proteína. A manose é reconhecida pelos níveis normais de sódio, potássio, cloreto, bicarbonato, uréia san-
receptores de carboidratos endocíticos nos macrófagos e em mui- güínea (BUN) e creatinina. Estão sendo aguardados os resultados
tos outros tipos de células, permitindo que a enzima penetre mais dos estudos com biomarcadores cardíacos e provas de coagulação.
eficientemente nessas células e possa clivar o lipídio intracelu- No momento de sua chegada à emergência, M.R. recebe aspirina,
lar que se acumulou em quantidades patológicas, resultando em metoprolol e nitroglicerina sublingual.
melhor desfecho terapêutico. Por ocasião de sua internação, a troponina T de M.R. retorna a
Talvez o melhor exemplo de produção e uso terapêutico das um valor de 1,34 ng/mL (normal: 0 a 0,1 ng/mL), e o paciente
terapias protéicas seja fornecido pela história da insulina no desenvolve uma depressão do segmento ST de 2 mm nas deri-
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vações V1-V3 quando apresenta dor no peito. Nesse momento, resultando em desnutrição. Os pacientes com fibrose cística
recebe também heparina, abciximab e clopidogrel, e a dor no peito são freqüentemente tratados com uma combinação de enzimas
desaparece. A evolução clínica é estável durante a noite. pancreáticas isoladas de suínos — incluindo lipases, amilases
Todavia, no dia seguinte, M.R. apresenta uma dor subesternal e proteases —, que permitem a digestão de lipídios, açúcares
constritiva e diaforese, e o ECG revela elevação do segmento ST e proteínas. Os pacientes que tiveram o pâncreas removido ou
de 4 mm nas derivações V2-V4. Como o cateterismo cardíaco não que padecem de pancreatite crônica também podem benefi-
está disponível no centro cardíaco regional durante pelo menos ciar-se desse tratamento. Outros exemplos notáveis incluem o
4 horas, M.R. recebe tenecteplase na unidade coronariana, e a tratamento da doença de Gaucher com Cerezyme ou Cere-
aspirina, o metoprolol, a nitroglicerina, a heparina e o clopidogrel dase, o tratamento da mucopolissacaridose I com laronidase,
são mantidos. Esse esquema estabiliza o paciente. da doença de Fabry com agalsidase beta, da deficiência con-
Depois de uma hospitalização de 5 dias sem incidentes, M.R. gênita de alfa-1-antitripsina com inibidor da alfa-1-proteinase
é transferido ao centro cardíaco regional para a realização de cate- e da imunodeficiência combinada grave (IDCG) com adeno-
terismo, com diagnóstico de angina instável, que evoluiu para o sina desaminase. Imunoglobulinas de vários doadores são
infarto do miocárdio com elevação do segmento ST. Os planos utilizadas no tratamento de pacientes com imunodeficiências
ambulatoriais incluem reabilitação cardíaca e tratamento com aspiri- primárias.
na, metoprolol, enalapril, espironolactona e nitroglicerina sublingual, Algumas vezes, pode ser conveniente aumentar a atividade
quando necessário. de determinada proteína plasmática que está presente em quan-
tidades normais. As proteínas do Grupo Ib são administradas
QUESTÕES para aumentar a magnitude ou o tempo de atividade de deter-
minada proteína. As proteínas recombinantes incluídas nessa
n 1. Através de qual mecanismo atua o abciximab? categoria têm sido imensamente bem-sucedidas no tratamento
n 2. Como o abciximab pode aumentar a função do clopidogrel de defeitos hematopoiéticos. O exemplo mais proeminente é a
e da aspirina neste caso? eritropoietina recombinante, um hormônio protéico secretado
n 3. Através de qual mecanismo atua a tenecteplase? pelo rim, que estimula a produção dos eritrócitos na medula
n 4. De que maneira a ação da tenecteplase difere daquela da óssea. Em pacientes com anemia ou síndrome mielodisplásica
aspirina? induzida por quimioterapia, utiliza-se a eritropoietina recom-
binante para aumentar a produção de eritrócitos e, assim,
melhorar a anemia. Em pacientes com doença renal crônica,
USO DAS PROTEÍNAS EM MEDICINA cujos níveis de eritropoietina endógena estão abaixo do nor-
mal, administra-se a proteína recombinante para corrigir essa
deficiência. A darbepoietina alfa é uma variante recombinante
As proteínas de fontes tanto recombinantes quanto não-recom-
da eritropoietina, com meia-vida mais longa (ver Introdução).
binantes são utilizadas em uma ampla variedade de aplicações
Os pacientes com neutropenia podem ser tratados com fator
clínicas, incluindo desde alívio de enfermidades digestivas
de estimulação de colônias de granulócitos ou fator de esti-
leves até correção de deficiências letais de proteínas e diag-
mulação de colônias de granulócitos-monócitos (G-CSF ou
nóstico de doenças infecciosas. A classificação dessas terapias
GM-CSF, respectivamente), que estimulam um aumento no
de acordo com o seu mecanismo de ação possibilita uma apre-
número de neutrófilos produzidos pela medula óssea, a fim
ciação dos numerosos usos terapêuticos das proteínas (Quadro
de que esses pacientes possam combater melhor as infecções
53.1; ver também uma versão ampliada desse quadro no final
microbianas. De modo semelhante, pacientes com tromboci-
do capítulo). Algumas dessas proteínas podem ser utilizadas
topenia podem ser tratados com interleucina-11 (IL-11), que
clinicamente em mais de uma aplicação, de modo que essas
aumenta a produção de plaquetas, impedindo, assim, a ocor-
proteínas podem estar incluídas em mais de uma categoria.
rência de complicações hemorrágicas.
A fertilização in vitro (FIV) e a imunorregulação consti-
GRUPO I: PROTEÍNAS TERAPÊUTICAS COM tuem duas outras áreas ativas para a aplicação de proteínas do
Grupo Ib. Imediatamente antes da ovulação, a adeno-hipófise
ATIVIDADE ENZIMÁTICA OU REGULADORA produz normalmente níveis aumentados do hormônio folí-
As proteínas incluídas nessa categoria atuam através de um culo-estimulante (FSH). Esses altos níveis de FSH podem
paradigma clássico, em que uma proteína endógena especí- ser aumentados mediante tratamento com FSH recombinante,
fica encontra-se deficiente, sendo o déficit corrigido mediante resultando em maturação de um número aumentado de folículos
tratamento com proteína exógena. As proteínas do Grupo Ia e em aumento do número de ovócitos disponíveis para FIV.
são utilizadas para repor determinada atividade em casos de De forma semelhante, utiliza-se a gonadotropina coriônica
deficiência ou de produção anormal de proteína. Essas proteí- humana (hCG) recombinante na tecnologia de reprodução
nas são utilizadas em uma variedade de afecções, desde o uso assistida para promover a ruptura dos folículos, um processo
de lactase em pacientes que carecem dessa enzima gastrintes- que precisa ocorrer antes do transporte dos ovócitos nas tubas
tinal até a reposição de fatores vitais da coagulação sangüínea, uterinas para fertilização. Foi desenvolvido um conjunto muito
como o fator VIII e o fator IX em hemofílicos. Conforme maior de proteínas terapêuticas, que são ativamente utiliza-
assinalado anteriormente, um exemplo clássico é fornecido pela das para fins de imunorregulação. A hepatite B e a hepatite
insulina no tratamento do diabetes. Outro exemplo importante C crônicas, o sarcoma de Kaposi, o melanoma e alguns tipos
é o tratamento da fibrose cística, o distúrbio genético letal mais de leucemia e de linfoma têm sido tratados com uma ou mais
comum. Nessa doença, defeitos no canal de cloreto codificado das seguintes formas de interferona: interferona consenso
pelo gene cftr levam à produção de secreções anormalmente (interferona alfa), interferona alfa-2a, peginterferona alfa-
espessas, que podem impedir (entre outros efeitos) a passagem 2a, interferona alfa-2b e peginterferona alfa-2b. A “pegin-
das enzimas pancreáticas do ducto pancreático para o duodeno. terferona” refere-se a uma forma modificada da proteína em
Essa anormalidade impede a digestão apropriada do alimento, que o polímero polietileno glicol (PEG) é acrescentado para
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QUADRO 53.1 Classificação Funcional das Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas


Grupo I: Proteínas Terapêuticas com Atividade Enzimática ou Reguladora
Ia: Reposição de uma proteína deficiente ou anormal
Fator VIII Beta-glicocerebrosidase Enzimas pancreáticas (lipase,
Fator IX Laronidase amilase, protease)
Insulina Agalsidase beta Lactase
Análogos da insulina (lispro, aspart, glargina) Inibidor da alfa-1-proteinase Adenosina desaminase
Hormônio do crescimento (GH) Imunoglobulinas misturadas

Ib: Aumento de uma via existente


Eritropoietina Alfa-interferona tipo I Ativador do plasminogênio tecidual
Darbepoietina alfa Interferona alfa-2a (IFN␣-2a) (tPA), alteplase
Fator de estimulação de colônias de granulócitos Peginterferona alfa-2a Reteplase (muteína por deleção do
(G-CSF) Interferona alfa-2b (IFN␣-2b) ativador do plasminogênio (rPA))
Fator de estimulação de colônias de Peginterferona alfa-2b Tenecteplase
granulócitos-macrófagos (GM-CSF) Interferona beta-1a (rIFN-␤) Fator VIIa
Interleucina-11 (IL-11) Interferona beta-1b (rIFN-␤) Drotrecogina alfa (proteína C
Hormônio folículo-estimulante (FSH) humano IFN-gama ativada)
Gonadotropina coriônica humana (HCG) Interleucina-2 (IL-2), fator de ativação dos Teriparatida (paratormônio humano
timócitos epidérmico (ETAF), aldesleucina 1-34)
Exenatida
Fator de crescimento derivado das
plaquetas (PDGF)
Tripsina
Nesiritida

Ic: Fornecimento de uma nova função ou atividade


Papaína L-asparaginase Lepirudina
Colagenase PEG-asparaginase Estreptoquinase
Dornase alfa, desoxirribonuclease humana I Etanercept
Grupo II: Proteínas Terapêuticas com Atividade Específica Especial
IIa: Interferência em uma molécula ou organismo através de sua ligação, bloqueando, assim, a sua função ou utilizando-o como alvo para
degradação
Rituximab Alefacept Omalizumab
Alentuzumab Efalizumab Palivizumab
Cetuximab Infliximab Enfuvirtida
Bevacizumab Anacinra Abciximab
Muromonab-CD3 Soro inume ovino antidigoxina,
Daclizumab fragmento Fab
Basiliximab Pegvisomanto

IIb: Estimulação de uma via de sinalização


Trastuzumab Tositumomab
IIc: Liberação de outros compostos ou proteínas
Gentuzumab ozogamicina I-131 tositumomab
Grupo III: Vacinas de Proteínas
IIIa: Proteção contra um agente estranho deletério
HBsAg OspA
IIIb: Tratamento de doença auto-imune
Acetato de glatirâmer (anteriormente
copolímero-1)
IgG Anti-Rh

IIIc: Tratamento do câncer


Atualmente em estudos clínicos
Grupo IV: Proteínas para Diagnóstico
DPPD Hormônio de liberação do hormônio de Hormônio tireoestimulante (TSH)
Antígenos HIV crescimento (GHRH) Glucagon
Antígenos da hepatite C Secretina
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prolongar a absorção, diminuir a depuração renal, retardar a e suas funções, como também pode, hoje em dia, modificar os
degradação enzimática, aumentar a meia-vida de eliminação níveis de atividade protéica quando o corpo humano é incapaz
e reduzir a imunogenicidade da interferona. A esclerose múl- de fazê-lo de modo ideal.
tipla pode ser tratada com interferona beta-1a e interferona Em certas ocasiões, a atividade de determinada proteína é
beta-1b. A interferona gama pode ser utilizada no tratamento desejável, apesar de o corpo não expressar normalmente essa
da osteopetrose grave e doença granulomatosa crônica (DCG), atividade. As proteínas do Grupo Ic contêm exemplos desse
enquanto o carcinoma de células renais metastático e o mela- paradigma, incluindo proteínas estranhas com novas funções
noma podem ser tratados com interleucina-2. e proteínas endógenas que atuam em novo tempo ou local no
As proteínas do Grupo Ib também podem ter efeitos sobre corpo. Por exemplo, a papaína é uma protease purificada do
os processos de trombose e hemostasia, salvando a vida de mamão, Carica papaya. Essa proteína é utilizada terapeutica-
pacientes. A alteplase, um ativador do plasminogênio tecidu- mente para degradar restos proteináceos em feridas. A cola-
al (tPA) recombinante, é utilizada no tratamento de coágulos genase, obtida da fermentação pelo Clostridium histolyticum,
sangüíneos potencialmente fatais em afecções como oclusão pode ser utilizada para digerir o colágeno na base necrótica
das artérias coronárias e embolia pulmonar. O tPA endógeno é de feridas. O desbridamento ou a remoção de tecido necrótico
secretado pelas células endoteliais que revestem os vasos san- mediados pela protease mostra-se útil no tratamento de queima-
güíneos. O tPA secretado cliva normalmente o plasminogênio duras, úlceras de decúbito, feridas pós-operatórias, carbúnculo
em plasmina que, a seguir, degrada a fibrina e, portanto, lisa e outros tipos de feridas. A desoxirribonuclease humana I
os coágulos à base de fibrina. Embora o tPA endógeno possa recombinante também tem uma nova aplicação. Essa enzi-
estar presente em níveis normais ou até mesmo aumentados ma recombinante, que normalmente é encontrada no interior
próximo ao local de um coágulo sangüíneo, pode ser necessária das células humanas, pode ser utilizada para degradar o DNA
a administração de quantidades relativamente grandes de tPA que persiste sobre os neutrófilos mortos no trato respiratório
exógeno para degradar esses coágulos. A reteplase, uma for- de pacientes com fibrose cística. Esse DNA poderia formar
ma geneticamente modificada do tPA recombinante, também é tampões de muco, causando obstrução das vias respiratórias e
utilizada no tratamento do infarto do miocárdio com elevação levando ao desenvolvimento de fibrose pulmonar, bronquiec-
do segmento ST. A tenecteplase, outro derivado do tPA obtido tasia e pneumonias recorrentes. Assim, a tecnologia das pro-
por engenharia genética, possui maior especificidade do que teínas recombinantes permitiu à medicina moderna empregar
o tPA para ligação ao plasminogênio e, portanto, produz lise uma enzima normalmente intracelular em um ambiente extra-
mais eficaz da fibrina nos coágulos sangüíneos. A tenecteplase celular.
foi o derivado do tPA utilizado para reabrir a artéria coronária Existem muitos outros exemplos bem-sucedidos dessa abor-
ocluída de M.R. quando sofreu infarto do miocárdio com eleva- dagem inovadora das proteínas terapêuticas. Sabe-se, há muitos
ção do segmento ST no dia seguinte após a sua internação. Ao anos, que certas formas de leucemia linfoblástica aguda (LLA)
contrário do anticoagulante heparina, que poderia ter evitado a são incapazes de sintetizar asparagina, exigindo, portanto, a
propagação do quadro existente mas que não teria sido capaz de presença desse aminoácido para a sua sobrevida. A L-aspara-
lisar o coágulo que lá havia, o agente trombolítico tenectepla- ginase, purificada de E. coli, pode ser utilizada para reduzir os
se conseguiu degradar o coágulo na artéria coronária de M.R. níveis séricos de asparagina nesses pacientes, com conseqüente
(ver Cap 22 e Cap. 24). O fator da coagulação VIIa em níveis inibição do crescimento das células cancerosas. Estudos da san-
suprafisiológicos pode catalisar a trombose e, portanto, inter- guessuga medicinal, Hirudo medicinalis, revelaram que suas
romper o sangramento potencialmente fatal em pacientes com glândulas salivares produzem hirudina, um potente inibidor da
hemofilia A ou B. Estudos recentes sugeriram que a proteína trombina. O gene dessa proteína foi identificado, clonado e
C ativada recombinante pode melhorar a imunorregulação e utilizado com tecnologia recombinante para proporcionar uma
impedir reações de coagulação excessivas em pacientes com nova proteína terapêutica, a lepirudina, que impede a forma-
sepse grave potencialmente fatal e disfunção orgânica. ção de coágulos em pacientes com trombocitopenia induzida
Vários outros estados mórbidos também são tratados com pela heparina (TIH). Os médicos e os cientistas podem utilizar
proteínas do Grupo Ib. A osteoporose grave é tratada com outros organismos para produzir proteínas capazes de degradar
injeções diárias de teriparatida (paratormônio humano coágulos já formados; por exemplo, a estreptoquinase é uma
1-34 [PTH 1-34]), que estimula a formação óssea. O diabe- proteína ativadora do plasminogênio produzida por estrepto-
tes tipo II é tratado com um composto mimético da incretina cocos beta-hemolíticos do grupo C. O etanercept consiste em
recém-aprovado, a exenatida. A exenatida é um peptídio de uma nova fusão de duas proteínas humanas, o receptor do fator
39 aminoácidos recombinante cuja seqüência se superpõe, em de necrose tumoral (TNFr) e a região Fc do anticorpo humano
parte, à do peptídio glucagon-símile-1 (GLP-1). A exemplo do IgG1. A porção TNFr da molécula liga-se ao TNF em excesso
GLP-1, a exenatida diminui os níveis de glicose através de no plasma, enquanto a porção Fc da molécula é direcionada
vários mecanismos, incluindo supressão da produção excessiva para o TNF para destruição (ver discussão adiante). Através
de glucagon, intensificação da resposta da insulina a uma carga da combinação dessas duas funções, o fármaco neutraliza os
de glicose, diminuição da velocidade de esvaziamento gástrico, efeitos deletérios do TNF (uma citocina que estimula o aumento
resultando em absorção mais lenta da glicose, e diminuição de atividade do sistema imune), proporcionando, assim, um
do apetite. A cicatrização de úlceras cutâneas e outras feridas tratamento efetivo para a artrite inflamatória e a psoríase.
pode ser melhorada pelo uso do fator de crescimento derivado
das plaquetas (PDGF) ou tripsina. A insuficiência cardíaca
descompensada pode ser tratada com nesiritida, um peptídio GRUPO II: PROTEÍNAS TERAPÊUTICAS COM
natriurético tipo B recombinante que causa relaxamento do ESPECIFICIDADE DE LIGAÇÃO
músculo liso vascular e que, portanto, permite ao coração bom-
bear contra níveis mais baixos de resistência vascular sistêmi- A aprimorada especificidade de ligação dos anticorpos mono-
ca. Conforme ilustrado pelos exemplos anteriores, a medicina clonais pode ser explorada de diversas maneiras com o uso da
moderna não apenas identificou proteínas humanas importantes tecnologia do DNA recombinante. Muitas proteínas do Gru-
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po IIa, também conhecidas como imunoadesinas, utilizam e do clopidogrel no tratamento do infarto do miocárdio sem
os sítios de reconhecimento de antígenos das moléculas de elevação do segmento ST de M.R. Ao impedir a ligação do
imunoglobulina para orientar o sistema imune do organismo fibrinogênio à gpIIb/IIIa sobre a superfície das plaquetas, o
a destruir alvos moleculares ou celulares específicos. Outras abciximab inibe efetivamente a etapa de agregação plaquetária
imunoadesinas neutralizam as moléculas através da simples da hemostasia primária (ver Caps. 22 e 24).
ocupação física de uma região funcionalmente importante da Muitos processos importantes são modulados por receptores
molécula. As imunoadesinas combinam os sítios de reconhe- de superfície celular, que são ativados mediante ligação de seus
cimento de antígenos das imunoglobulinas conhecidas com a ligantes cognatos. Através de sua ligação a esses receptores, as
região Fc da mesma imunoglobulina ou de uma imunoglobulina proteínas do Grupo IIb podem ativar vias de sinalização celula-
relacionada. A região Fc pode ter uma molécula solúvel como res e afetar profundamente a função das células. Os desfechos
alvo para destruição, visto que as células do sistema imune incluem desde morte celular (através da indução de apoptose) e
são capazes de reconhecer a região Fc, efetuar a endocitose infra-regulação da divisão celular até aumento da proliferação
da molécula aderida e degradá-la química e enzimaticamente. celular. Embora tenha sido difícil provar que uma determinada
Quando ligada a moléculas especificamente reconhecidas sobre proteína de ligação de alvo medeia um efeito in vivo através da
a superfície de uma célula, a região Fc pode direcionar a célula modulação de uma via de sinalização específica, evidências in
para a sua destruição pelo sistema imune. A destruição celular vitro sugerem que esse tipo de modulação constitui o mecanismo
pode ser mediada por macrófagos, por outras células imunes de ação de certas proteínas terapêuticas. Por exemplo, o trata-
ou pela fixação do complemento. mento de certos cânceres de mama, em que as células malignas
O infliximab é uma proteína do Grupo IIa. A exemplo expressam o receptor de superfície celular Her2/Neu, é intensi-
do etanercept (ver anteriormente), esse anticorpo monoclonal ficado pela adição de trastuzumab (um anticorpo monoclonal
produzido por tecnologia recombinante liga-se ao TNF-␣ e anti-Her2/Neu) ao esquema terapêutico. Embora o trastuzumab
é utilizado para neutralizar a ação do TNF-␣ em distúrbios contenha uma região Fc, é improvável que a simples orientação
inflamatórios, como a artrite reumatóide e a doença intesti- do sistema imune para as células cancerosas da mama pelo tras-
nal inflamatória. Outro exemplo do uso de uma proteína do tuzumab seja suficiente para medir a destruição celular. Com
Grupo IIa consiste na prevenção de infecção grave pelo vírus efeito, muitos outros anticorpos monoclonais, com capacidades
sincicial respiratório (RSV), que constitui uma das principais semelhantes de reconhecer as células cancerosas da mama como
causas de admissão hospitalar para doença respiratória infantil. alvo, não conseguiram demonstrar qualquer eficácia in vivo. Na
Os pacientes de alto risco recebem um anticorpo monoclonal verdade, como foi constatado que o anticorpo anti-Her2/Neu in
produzido por tecnologia recombinante, o palivizumab, que vitro induz eventos de sinalização intracelulares que controlam
se liga à proteína F do RSV, dirigindo, assim, a eliminação do o crescimento das células do câncer de mama, é provável que
vírus do corpo mediada imunologicamente. A enfuvirtida é um a sinalização mediada pelo receptor seja responsável pela eficá-
terceiro exemplo de uma proteína do Grupo IIa, que também é cia do trastuzumab in vivo. Outro exemplo pode ser encontrado
utilizada no tratamento de uma doença infecciosa importante; no tratamento do linfoma não-Hodgkin folicular CD20-positi-
através de sua ligação à gp120/gp41, a proteína do envelope vo. Acredita-se que o tositumomab, um anticorpo monoclonal
do HIV responsável pela fusão do vírus com células do hos- dirigido contra CD20, iniba esse tipo de linfoma ao sinalizar as
pedeiro, esse peptídio de 36 aminoácidos impede a alteração células cancerosas a sofrer morte celular através do processo
conformacional da gp41 necessária para a fusão viral e, por de apoptose mediado por CD20. Embora algumas proteínas do
conseguinte, inibe a entrada do vírus na célula. Grupo IIb estejam atualmente em uso clínico, um maior número
O campo da inibição molecular e celular mediada por anti- encontra-se em fase de desenvolvimento e provavelmente estará
corpos praticamente explodiu com novas aplicações no trata- disponível em breve.
mento de doenças humanas. As proteínas terapêuticas do Grupo Um dos grandes desafios da terapia farmacológica consiste
IIa recém-desenvolvidas são demasiado numerosas para serem na liberação seletiva de SMD e de proteínas no alvo terapêutico
descritas detalhadamente; segue-se uma lista parcial de doen- específico. Normalmente, o organismo utiliza proteínas para
ças-alvo e das proteínas do Grupo IIa utilizadas no tratamento efetuar o transporte especializado e a liberação de moléculas.
dessas doenças: linfoma não-Hodgkin de células B (proteína Na atualidade, uma área ativa de pesquisa visa compreender
alvo CD20, rituximab); leucemia linfocítica crônica de células os princípios de liberação específica de moléculas baseada em
B (LLC-B) (proteína alvo CD52, alentuzumab); câncer color- proteínas, de modo que esses princípios possam ser aplicados
retal (inibidores do fator de crescimento epidérmico [EGF], à farmacoterapia moderna. No momento atual, existem dois
cetuximab e bevacizumab); psoríase (inibidor de CD2, ale- exemplos de proteínas do Grupo IIc que permitem a liberação
facept, e inibidor de CD11a, efalizumab); artrite reumatóide de fármacos em local específico. Ambos os exemplos estão na
(antagonista do receptor de IL-1, anacinra); rejeição de órgãos área da terapia do câncer. O gentuzumab ozogamicina liga-
transplantados (inibidor de CD3, muromonab-CD3 [OKT3]); se à região de ligação de um anticorpo monoclonal dirigido
rejeição de transplante renal (inibidores de CD25, daclizumab contra a CD33 com calicheamicina, uma pequena molécula
e basiliximab); asma alérgica sazonal (inibidor do receptor de quimioterápica. Com essa terapia, o composto tóxico é seletiva-
mastócitos, omalizumab); isquemia cardíaca (antagonista da mente liberado nas células da leucemia mielóide aguda (LMA)
glicoproteína plaquetária IIb/IIIa [gpIIb/IIIa], abciximab); CD33-positivas, resultando em destruição seletiva dessas célu-
toxicidade da digoxina (inibidor da digoxina, porção Fab do las. De forma semelhante, as células do linfoma não-Hodgkin
soro imune ovino antidigoxina); e acromegalia (inibidor CD20-positivas podem ser destruídas seletivamente pelo I-131
do receptor de hormônio do crescimento, pegvisomanto). O tositumomab, um anticorpo monoclonal dirigido contra CD20
número desses tratamentos utilizados hoje em dia fornece uma e ligado ao isótopo radioativo do iodo I-131.
indicação de que ainda serão desenvolvidas muito mais proteí- Além desses dois exemplos atuais, existem outros em fase
nas terapêuticas utilizando a notável especificidade dos anti- de desenvolvimento que ilustram o rumo que deverá tomar
corpos monoclonais. O abciximab foi o anticorpo monoclonal esse campo de estudo. Por exemplo, o herpesvírus simples pro-
utilizado para aumentar os efeitos antiplaquetários da aspirina duz uma proteína, a VP22, que penetra nas células humanas.
Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas | 865

A VP22 foi utilizada in vitro para liberar proteínas ou outros um sistema imune hiperativo que ataca o seu próprio corpo
compostos no núcleo. Em uma aplicação, a VP22 foi utilizada ou “a si próprio”. Uma das teorias formuladas é a de que a
para transferir a proteína supressora tumoral p53 em células administração de grandes quantidades de proteína própria faz
de osteossarcoma cultivadas, que careciam do gene p53 (e, com que o sistema imune desenvolva tolerância a esta pro-
portanto, da proteína). A reintrodução da p53 levou à apoptose teína, eliminando ou desativando as células que reagem contra
das células. Acredita-se que uma terapia nova e efetiva para a proteína própria. As proteínas do Grupo IIIb são utilizadas
certas formas de câncer deverá se basear em proteínas para no tratamento de pacientes com distúrbios que se originam
alvejar o gene p53. desse tipo de fenômeno auto-imune. Um exemplo é o uso do
Outra área desafiadora de pesquisa envolve a liberação de acetato de glatirâmer, um peptídio curto de quatro amino-
proteínas e outras macromoléculas no sistema nervoso central ácidos. Quando administrada a pacientes, essa proteína pode
(SNC). Com a tecnologia atual disponível, essa liberação é prati- melhorar os sintomas de certas formas de esclerose múltipla,
camente impossível devido à barreira hematoencefálica (BHE). um distúrbio auto-imune que acomete o sistema nervoso. A
Entretanto, experimentos realizados em animais demonstraram aceitação imunológica de um feto durante a gravidez representa
que as proteínas de fusão, que combinam uma proteína terapêu- uma situação especial em relação ao uso de vacinas. Em certas
tica com uma proteína que naturalmente tem acesso específico ocasiões, uma mulher grávida pode rejeitar o feto após ter sido
através da BHE, podem permitir a liberação bem-sucedida da imunizada contra certos antígenos apresentados por um feto
proteína terapêutica no SNC. Por exemplo, em experimentos de uma gestação anterior. A administração da imunoglobulina
realizados em animais, foi constatado que um fragmento da pro- anti-Rh(D) impede a sensibilização de uma mãe Rh-negativa
teína toxina tetânica, que atravessa naturalmente a BHE, libera por ocasião do parto de um recém-nascido Rh-positivo. Como
a enzima superóxido dismutase no SNC. Esse tipo de terapia a mulher não produz anticorpos dirigidos contra os antígenos
pode ser potencialmente utilizado no tratamento de distúrbios Rh fetais, não ocorrem reações imunes e perda da gravidez em
neurológicos, como a esclerose lateral amiotrófica, em que os gestações subseqüentes, mesmo quando o novo feto apresenta
níveis de superóxido dismutase do SNC encontram-se baixos. os antígenos Rh.
Existe também uma perspectiva alentadora para o tratamento As proteínas do Grupo IIIc provavelmente serão utilizadas
de outros distúrbios do SNC, em que os níveis de determinada como vacinas contra alguns tipos de câncer. Embora não haja,
proteína estão anormais. no momento atual, nenhuma vacina anticâncer recombinante
aprovada pelo FDA, estudos clínicos promissores estão empre-
gando vacinas contra o câncer específicas para determinado
GRUPO III: VACINAS COM PROTEÍNAS paciente. Por exemplo, uma vacina para o linfoma não-Hodgkin
À medida que a tecnologia do DNA recombinante estava sendo de células B utiliza plantas de tabaco transgênicas (Nicotiana
desenvolvida, grandes avanços também estavam sendo feitos na benthamiana). Cada paciente com esse tipo de linfoma apre-
elucidação dos mecanismos moleculares que permitem ao siste- senta uma proliferação maligna de uma célula B produtora
ma imune proteger o organismo de doenças infecciosas e do de anticorpos que exibe um anticorpo peculiar sobre a sua
câncer. Em conseqüência, as proteínas do Grupo III vêm sendo superfície. Através de subclonagem da região idiotípica desse
aplicadas com sucesso na forma de vacinas profiláticas ou tera- anticorpo específico de tumor e expressão da região de modo
pêuticas. Para que o ser humano desenvolva uma imunidade recombinante em plantas de tabaco, obtém-se a produção de um
efetiva contra organismos estranhos ou células cancerosas, é antígeno específico do tumor, que pode ser utilizado para vaci-
preciso que ocorra ativação de células imunes, como as células nar um paciente. (Essa situação é um tanto irônica, visto que o
T auxiliares. A ativação das células imunes é mediada por célu- sistema imune está sendo vacinado para proteger o organismo
las apresentadoras de antígeno, que exibem em sua superfície contra um câncer produtor de anticorpo.) Esse processo leva
oligopeptídios específicos derivados de proteínas encontradas apenas 6 a 8 semanas do momento da biópsia do linfoma até
em organismos estranhos ou células cancerosas. A vacinação a obtenção de uma vacina específica para o paciente. Quando
contra determinados microrganismos, como o poliovírus ou os genomas dos microrganismos infecciosos e a natureza das
o vírus do sarampo, tem sido efetuada mais freqüentemente doenças auto-imunes e do câncer forem elucidados de modo
pela injeção de formas mortas pelo calor ou atenuadas desses mais pormenorizado, não há dúvida de que serão desenvolvidas
patógenos. Infelizmente, esses métodos estavam associados a mais proteínas recombinantes para uso como vacinas.
certo grau de risco inevitável de infecção ou reações adver-
sas. Através da injeção específica dos componentes protéi-
cos imunogênicos (mas não patogênicos) apropriados de um
GRUPO IV: PROTEÍNAS PARA DIAGNÓSTICO
microrganismo, espera-se que possam ser criadas vacinas que Embora as proteínas do Grupo IV não sejam utilizadas no trata-
proporcionem imunidade em um indivíduo sem expô-lo aos mento de doenças, as proteínas purificadas e recombinantes
riscos de infecção ou de reações tóxicas. empregadas para diagnóstico clínico devem ser mencionadas
As proteínas do Grupo IIIa são utilizadas para proporcionar aqui pelo seu inestimável valor no processo de tomada de
proteção contra doenças infecciosas ou toxinas. Um exemplo decisão que precede o tratamento e o manejo de muitas doen-
bem-sucedido é a vacina da hepatite B. Essa vacina foi criada ças. Um exemplo clássico é o teste com derivado protéico
pela produção da proteína HBsAg recombinante, uma proteína purificado (PPD), que determina se o indivíduo foi expos-
não-infecciosa do vírus da hepatite B. Quando seres humanos to a antígenos do Mycobacterium tuberculosis. Nesse teste,
imunocompetentes são expostos e reexpostos a essa proteína, um componente protéico não-infeccioso do microrganismo é
surge uma imunidade significativa na grande maioria dos indiví- injetado por via subcutânea em um indivíduo imunocompe-
duos. De forma semelhante, a lipoproteína não-infecciosa sobre tente. A observação de uma reação imune ativa é interpretada
a superfície externa da Borrelia burgdorferi foi clonada e trans- como evidência de que o paciente foi anteriormente infectado
formada em uma vacina para a doença de Lyme (OspA). pelo M. tuberculosis ou exposto aos antígenos desse microrga-
Além de gerar proteção contra invasores estranhos, as pro- nismo. Outro exemplo importante de proteínas para diagnóstico
teínas recombinantes também podem induzir proteção contra envolve os antígenos do vírus da imunodeficiência humana
866 | Capítulo Cinqüenta e Três

(HIV) naturais e recombinantes, que constituem os componen- afetada por proteases, substâncias químicas modificadoras de
tes essenciais de testes de triagem (imunoensaio enzimático) proteínas ou outros mecanismos de depuração.
e confirmatórios (western blot) comuns para a infecção pelo Uma questão farmacocinética especial é a de que o orga-
HIV. Nesses testes, os antígenos servem de “chamariz” para nismo pode desencadear uma resposta imune contra a proteína
anticorpos específicos contra os produtos dos genes gag, pol e terapêutica. Em alguns casos, essa resposta imune pode neu-
env do HIV que foram produzidos durante a infecção. Versões tralizar a proteína e até mesmo causar uma reação prejudicial
orais dos testes para HIV também tornaram-se disponíveis. A no paciente. Podem ocorrer respostas imunes contra proteínas
infecção pelo vírus da hepatite C é diagnosticada com o uso terapêuticas do Grupo Ia utilizadas para repor um fator ausente
de antígenos da hepatite C recombinantes para detectar a desde o nascimento; por exemplo, pode-se verificar o desenvol-
presença de anticorpos dirigidos contra esse vírus no soro de vimento de anticorpos antifator VIII (“inibitórios”) em pacien-
pacientes potencialmente infectados. tes com hemofilia A grave que são tratados com fator VIII
Outro exemplo que ilustra o uso de proteínas para diagnós- humano recombinante. Entretanto, com mais freqüência, as
tico é fornecido pelo hormônio de liberação do hormônio respostas imunes são desencadeadas contra proteínas de origem
do crescimento (GHRH) recombinante. Essa proteína esti- não-humana. Até recentemente, a aplicação clínica disseminada
mula as células somatotrópicas da adeno-hipófise a secretar de anticorpos monoclonais tem sido limitada pela rápida indu-
o hormônio do crescimento. Quando utilizado para diagnós- ção de respostas imunes contra essa classe de proteínas tera-
tico, o GHRH pode ajudar a determinar se a secreção hipo- pêuticas. Com o advento de métodos para o desenvolvimento
fisária de hormônio do crescimento encontra-se deficiente de anticorpos “humanizados”, em que partes do anticorpo que
em pacientes com sinais clínicos de deficiência do hormônio não são críticas para a especificidade de ligação do antígeno são
do crescimento. De forma semelhante, a proteína humana substituídas por seqüências de imunoglobulinas humanas, que
recombinante secretina é utilizada para estimular as secre- conferem estabilidade e atividade biológica da proteína, mas
ções pancreáticas e a liberação de gastrina, auxiliando, dessa que não provocam uma resposta “antianticorpo”, essa limitação
maneira, no diagnóstico de disfunção pancreática exócrina ou foi superada, pelo menos em alguns casos.
gastrinoma. Em pacientes com história de câncer da tireóide, Para que uma proteína seja fisiologicamente ativa, são fre-
o hormônio tireoestimulante (TSH) recombinante consti- qüentemente necessárias modificações pós-tradução, como
tui um importante componente dos métodos de vigilância glicosilação, fosforilação e clivagem proteolítica. Essas exigên-
utilizados para a detecção de células residuais de câncer da cias podem determinar o uso de tipos específicos de células que
tireóide. Antes do advento do TSH recombinante, os pacien- serão capazes de expressar e de modificar apropriadamente a
tes com história de câncer da tireóide precisavam interromper proteína recombinante. Além disso, as proteínas recombinantes
a sua reposição de hormônio tireoidiano para desenvolver um devem ser sintetizadas em um tipo de célula obtido por enge-
estado hipotireóideo ao qual a adeno-hipófise responderia nharia genética para produção em grande escala. O sistema
através da liberação de TSH endógeno. A seguir, as célu- hospedeiro deve produzir não apenas a proteína biologicamente
las cancerosas estimuladas pelo TSH podiam ser detectadas ativa, como também uma quantidade suficiente desta proteína
pela captação de iodo radioativo. Infelizmente, esse método para atender às demandas clínicas. O sistema deve permitir
exigia que os pacientes sofressem as conseqüências adversas a purificação e o armazenamento da proteína em uma forma
do hipotireoidismo. A disponibilidade do TSH recombinante, terapeuticamente ativa por extensos períodos. A estabilidade, o
em lugar do hormônio endógeno, não apenas permite que os dobramento e a tendência da proteína a sofrer agregação podem
pacientes continuem a reposição de hormônio tireoidiano, ser muito diferentes nos sistemas de produção e armazenamen-
como também resulta em melhor detecção de células residu- to em grande escala do que nos sistemas de pequena escala
ais do câncer da tireóide. Por fim, o glucagon recombinante utilizados na produção da proteína para testes em animais e
pode ser utilizado para diminuir a motilidade gástrica, permi- estudos clínicos. Algumas autoridades propuseram a manipula-
tindo a realização de exames radiológicos de maior resolução ção de sistemas de hospedeiros que co-expressam uma proteína
do trato gastrintestinal. chaperona ou foldase com a proteína terapêutica de interesse;
todavia, essas abordagens tiveram sucesso limitado. Outras
soluções possíveis podem incluir o desenvolvimento de siste-
mas em que cascatas inteiras dos genes envolvidos no dobra-
DESAFIOS DAS MODALIDADES TERAPÊUTICAS mento da proteína são induzidas com a proteína terapêutica; o
BASEADAS EM PROTEÍNAS que motivou esse trabalho foi a observação de que os plasmó-
citos utilizam essas cascatas de genes para produzir grandes
Numerosas proteínas são utilizadas terapeuticamente na medi- quantidades de anticorpos monoclonais. Embora a cultura de
cina clínica. Entretanto, os fracassos associados a essas proteí- bactérias e leveduras seja geralmente considerada fácil, a cultu-
nas de uso terapêutico têm sido muito maiores do que os casos ra de determinados tipos de células de mamíferos pode ser mais
de sucesso. A produção de proteínas biologicamente ativas pode difícil e de maior custo. Outros métodos de produção podem
ser difícil por diversas razões. A liberação do fármaco (farmaco- ser vantajosos, como animais e plantas manipulados genetica-
cinética) representa um dos maiores desafios para o tratamento mente. Vacas, cabras e ovelhas transgênicas foram manipuladas
bem-sucedido com proteínas. As proteínas são grandes molécu- para secretar proteína em seu leite, e, no futuro, há previsão
las com propriedades tanto hidrofílicas quanto hidrofóbicas, de galinhas transgênicas capazes de pôr ovos repletos de pro-
que podem dificultar a sua entrada nas células e em outros teína recombinante. As plantas transgênicas podem produzir
compartimentos do corpo. A solubilidade, a via de adminis- com baixo custo enormes quantidades de proteína sem des-
tração e a distribuição das proteínas constituem fatores que perdícios ou biorreatores, e as batatas podem ser manipuladas
podem dificultar a aplicação bem-sucedida de proteínas como para expressar proteínas recombinantes e, portanto, produzir
modalidade terapêutica. A estabilidade da proteína no interior vacinas comestíveis. Por fim, sistemas de cultura da ordem de
do corpo representa outra questão farmacocinética importante. microlitros podem ser capazes de prever o sucesso de sistemas
A meia-vida de uma proteína terapêutica pode ser drasticamente de culturas em grande escala e, portanto, proporcionar uma
Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas | 867

considerável economia em termos de custo no investimento de porcionando um benefício aditivo ou sinérgico. O tratamento
sistemas que terão mais probabilidade de êxito. do câncer de cólon EGFR-positivo ilustra esse aspecto: a tera-
Outro desafio importante é o fato de que os custos envolvidos pia de combinação com uma SMD, a irinotecana, que impede
no desenvolvimento de proteínas terapêuticas podem ser proi- o reparo do DNA através da inibição da DNA topoisomerase,
bitivos. Como as modalidades terapêuticas baseadas em proteí- e o anticorpo monoclonal recombinante, o cetuximab, que se
nas são desenvolvidas, em sua maior parte, por companhias que liga ao domínio extracelular do EGFR, inibindo-o, resulta em
devem permanecer financeiramente isentas de dívidas, o custo aumento da sobrevida de pacientes com câncer colorretal. O
freqüentemente pode representar o problema mais crucial. Por sinergismo terapêutico entre a irinotecana e o cetuximab pode
exemplo, a substituição da purificação trabalhosa de proteína ser devido ao fato de que ambas as substâncias inibem a mesma
derivada da placenta pela metodologia recombinante permitiu a via de sinalização do EGFR: uma substância (cetuximab) inibe
produção de beta-glicocerebrosidase em quantidades suficientes a iniciação da via, enquanto a outra substância (irinotecana)
para o tratamento da doença de Gaucher em muitos pacientes. inibe um alvo distalmente na via. Embora o sucesso de qualquer
Mesmo assim, o custo da proteína recombinante pode atingir proteína terapêutica dependa de seus perfis farmacodinâmico,
centenas de milhares de dólares por paciente por ano, impedindo farmacocinético e de segurança, é possível prever com toda
que alguns pacientes recebam o tratamento necessário. confiança que as proteínas terapêuticas irão, em breve, desem-
O exemplo da doença de Gaucher ressalta um desafio final penhar um papel cada vez maior.
e significativo associado às proteínas terapêuticas: a ética. A A terapia gênica é uma promessa não concretizada. A noção
possibilidade de tratamentos dispendiosos para populações de que as doenças de base genética poderiam ser tratadas dire-
pequenas de pacientes gravemente enfermos (como os pacien- tamente pela transferência de material genético em células,
tes com doença de Gaucher) impõe um sério dilema para a tecidos e órgãos doentes é muito interessante, e já foram pla-
saúde em termos de distribuição dos recursos financeiros. Além nejadas com sucesso muitas dessas “ogivas” de terapia gêni-
disso, a definição precisa de enfermidade ou doença pode ser ca. Entretanto, surgiram problemas significativos na liberação
contestada neste momento, visto que as proteínas terapêuticas eficiente do material genético, sem provocar efeitos adversos
podem “melhorar” condições anteriormente consideradas como graves. Por exemplo, diversas crianças com uma forma poten-
variantes do normal. Por exemplo, a definição de baixa estatura cialmente fatal de imunodeficiência combinada grave ligada ao
pode começar a mudar com a possibilidade de utilizar o hormô- X (IDCG-X1) desenvolveram leucemia aguda em conseqüên-
nio do crescimento para aumentar a estatura de uma criança. cia da terapia gênica utilizando um vetor retroviral integrado
em um oncogene de leucemia ou próximo a ele, e um voluntário
sadio faleceu em um estudo clínico de fase I destinado a testar
n Conclusão e Perspectivas Futuras a segurança de um vetor adenoviral recombinante manipula-
A medicina moderna depara-se com o momento crítico de uma do. Ainda não existe nenhuma terapia gênica aprovada pela
farmacologia totalmente nova. Pela primeira vez na história, os FDA para uso clínico, embora se espere que muitas dessas
médicos procuram manejar a doença em nível da informação terapias serão desenvolvidas no futuro, à medida que cientistas
genética e protéica subjacente a todos os processos biológicos. e médicos solucionarem as questões de segurança associadas às
As modalidades terapêuticas baseadas em proteínas estão desem- modalidades de liberação de genes atualmente disponíveis. Os
penhando um papel cada vez mais importante no tratamento leitores interessados devem consultar o artigo de revisão por
farmacológico das doenças. O potencial de novas terapias é Verma e Weitzman, citado adiante.
praticamente ilimitado, tendo em vista os milhares de proteínas
produzidas pelo corpo humano e os muitos milhares de proteínas n Leituras Sugeridas
produzidas por outros organismos. O sucesso inicial da produção Banting FG, Best CH, Collip JB, et al. Pancreatic extracts in the tre-
de insulina recombinante na década de 1970 criou uma atmosfera atment of diabetes mellitus. Can Med Assoc J 1922;12:141–146.
de entusiasmo e esperança que, infelizmente, foi seguida de um (Descrição do tratamento do diabetes melito por um extrato de ori-
período de decepção quando as tentativas de produção de vaci- gem pancreática — que mais tarde se constatou ser a insulina.)
nas, os anticorpos monoclonais não-humanizados e os estudos Gross ML. Ethics, policy, and rare genetic disorders: the case of Gaucher
clínicos de câncer na década de 1980 não tiveram, em sua maior disease in Israel. Theor Med Bioeth 2002;23(2):151–170. (Discussão
parte, sucesso. Apesar desses contratempos, houve, recentemente, da interface ética e custos na utilização de terapêutica protéica para
bastante progresso. Os novos meios de produção estão modifi- salvar vidas de portadores de transtornos genéticos.)
cando a escala, os custos e até mesmo a via de administração Hodi FS, Dranoff G. Combinatorial cancer immunotherapy. Adv Immu-
nol 2006;90:341–368. (Revisão da pesquisa clínica e pré-clínica
das proteínas recombinantes terapêuticas, e o grande número de
atual do uso de vacinas contra o câncer, anticorpos monoclonais,
proteínas terapêuticas em uso clínico atual e em estudos clínicos citocinas recombinantes e infusões de células na politerapia do
de fase III atesta a promessa dessa tecnologia. câncer.)
É provável que novas modalidades terapêuticas baseadas Leader B, Golan DE. Recombinant and non-recombinant protein thera-
em proteínas em breve estarão disponíveis para muitos tipos pies in medicine. Nat Rev Drug Discov, 2007. In press. (Revisão com
de câncer, distúrbios auto-imunes, doenças neurológicas, rejei- numerosas referências a partir da qual foi escrito este capítulo.)
ção de enxerto, doenças microbianas e regulação vascular e Mahmood I, Green MD. Pharmacokinetic and pharmacodynamic
hematológica. Com efeito, as proteínas humanas recombinantes considerations in the development of therapeutic proteins. Clin
constituem, no momento atual, a maioria dos medicamentos Pharmacokinet 2005;44:331–347. (Revisão dos desafios farma-
desenvolvidos por biotecnologia aprovados pela FDA, que cocinéticos e farmacodinâmicos na elaboração de proteínas com
fins terapêuticos.)
incluem anticorpos monoclonais, interferonas naturais, vacinas,
Verma IM, Weitzman MD. Gene therapy: twenty-first century medi-
hormônios, enzimas naturais modificadas e várias terapias celu- cine. Annu Rev Biochem 2005;74:711–738. (Revisão dos desafios
lares. Ficou evidente que as proteínas recombinantes não ape- e das oportunidades para a terapia gênica.)
nas proporcionam tratamentos alternativos para determinadas Weiner LM. Fully human therapeutic monoclonal antibodies. J Immu-
doenças, como também podem ser utilizadas em combinação nother 2006;29:1–9. (Revisão dos métodos de criação de anticor-
com substâncias que consistem em pequenas moléculas, pro- pos monoclonais quiméricos e humanizados.)
QUADRO 53.1 Classificação Funcional das Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas
868

CATEGORIA
|

(r, RECOMBINANTE;
n, NÃO-RECOMBINANTE) PROTEÍNA NOME COMERCIAL FUNÇÃO EXEMPLOS DE USO CLÍNICO
Grupo I: Proteínas Terapêuticas com Atividade Enzimática ou Reguladora
Ia: Reposição de uma proteína deficiente ou anormal
Hemofilia (deficiência de fatores da coagulação)
rIa Fator VIII Bioclate, Helixate, Kogenate, Fator da coagulação Hemofilia A
Recombinate, ReFacto
rIa Fator IX BeneFix Fator da coagulação Hemofilia B
Capítulo Cinqüenta e Três

Distúrbios endócrinos (deficiências hormonais)


rIa, rIb Insulina Humulin, Novolin Regula a glicemia, desvia o potássio para o Diabetes melito, cetoacidose diabética,
interior das células hipercalemia
rIa, rIb Insulina lispro Humalog Análogo da insulina com início mais rápido de Diabetes melito
ação e duração de ação mais curta
rIa, rIb Insulina aspart NovoLog Análogo da insulina com início mais rápido de Diabetes melito
ação e duração de ação mais curta
rIa, rIb Insulina glargina Lantus Análogo da insulina com início mais lento de Diabetes melito
ação e duração de ação mais longa
rIa, rIb Hormônio do Genotropin, Humatrope, Efetor anabólico e anticatabólico Parada do crescimento devido à deficiência
crescimento (GH) NorIVitropin, Nutropin, de GH ou insuficiência renal crônica,
Protropin, Saizen, Serostim síndrome de Prader-Willi, síndrome de Turner,
debilitação ou caquexia da AIDS com terapia
antiviral
Distúrbios de armazenamento lisossômico (deficiências de enzimas metabólicas)
rIa Beta-glicocerebrosidase Cerezyme Hidrolisa o glicocerebrosídio a glicose e Doença de Gaucher
ceramida
nIa Beta-glicocerebrosidase Ceredase Hidrolisa o glicocerebrosídio a glicose e Doença de Gaucher
ceramida; purificada de placentas humanas
misturadas
rIa Laronidase Aldurazyme A alfa-L-iduronidase é uma enzima que digere Formas de Hurler e Hurler-Scheie de
os glicosaminoglicanos (GAGs) endógenos mucopolissacaridose I (MPS-I)
no interior dos lisossomos, impedindo, assim,
o acúmulo de GAGs que poderiam causar
disfunção celular, tecidual e orgânica
Distúrbios do trato pulmonar e trato gastrintestinal
rIa Agalsidase beta Fabrazyme Enzima que hidrolisa a globotriaosilceramida Doença de Fabry; impede o acúmulo de
(␣-galactosidase A (GL-3) e outros glicoesfingolipídios, reduzindo lipídios que pode resultar em complicações
humana) o depósito desses lipídios no endotélio capilar renais e cardiovasculares
do rim e de outros tipos de células
nIa Inibidor da alfa-1- Prolastin, Aralast Inibe a destruição do tecido pulmonar mediada Deficiência congênita de alfa-1-antitripsina
proteinase pela elastase; purificada a partir de plasma
humano misturado
nIa Enzimas pancreáticas Arco-Lase, Cotazym, Digere o alimento (proteínas, gorduras e Fibrose cística, pancreatite crônica,
(lipase, amilase, Pancrease, Viokase, Creon, carboidratos); purificadas de suínos insuficiência pancreática, após cirurgia de
protease) Zymase, Donnazyme derivação gástrica de Billroth II, obstrução do
ducto pancreático, esteatorréia, má digestão,
gases, distensão
nIa Lactase Lactaid Digere a lactose; purificada do fungo Gases, distensão, cólicas, diarréia devido à
Aspergillus oryzae incapacidade de digerir a lactose
Imunodeficiências
nIa Adenosina desaminase Adagen (pegademase bovina, Metaboliza a adenosina, impedindo o seu Doença por imunodeficiência combinada grave
PEG-ADA) acúmulo; purificada de vacas (IDCG), devido à deficiência de adenosina
desaminase (ADA)
nIa Imunoglobulinas Octagam Preparação de imunoglobulina intravenosa Imunodeficiências primárias
misturadas
Ib: Aumento de uma via existente
Hematopoiese
rIb Eritropoietina Epogen, Procrit Estimula a eritropoiese Anemia de doenças crônicas, mielodisplasia,
anemia devido à insuficiência renal ou
quimioterapia, preparação pré-operatória
rIb Darbepoietina alfa Aranesp Eritropoietina modificada com meia-vida mais Tratamento da anemia em pacientes com
longa; estimula a produção de eritrócitos na insuficiência renal crônica e falência renal
medula óssea crônica (+/– diálise)
rIb Fator de estimulação de Filgrastim Estimula a proliferação, a diferenciação e a Neutropenia na AIDS ou pós-quimioterapia
colônias de granulócitos migração dos neutrófilos ou transplante de medula óssea, neutropenia
(G-CSF) crônica grave
rIb Fator de estimulação Leukine, Sargramostim Estimula a proliferação e a diferenciação dos Leucopenia, reconstituição mielóide após
de colônias de neutrófilos, eosinófilos e monócitos transplante de medula óssea, HIV/AIDS
granulócitos-macrófagos
(GM-CSF)
rIb Interleucina-11 (IL-11) Neumega Oprelvekin Estimula a megacariocitopoiese e a Prevenção da trombocitopenia grave,
trombopoiese particularmente após quimioterapia
mielossupressiva
Fertilidade
rIb Hormônio folículo- Gonal-F/Follistim Aumenta a ovulação Tecnologia de reprodução assistida para
estimulante (FSH) infertilidade
Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas

humano
rIb Gonadotropina coriônica Ovidrel Estimula a ruptura do folículo ovariano e a Tecnologia de reprodução assistida para
|

humana (HCG) ovulação infertilidade

(Continua)
869
QUADRO 53.1 Classificação Funcional das Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas (Continuação)
870

CATEGORIA
|

(r, RECOMBINANTE;
n, NÃO-RECOMBINANTE) PROTEÍNA NOME COMERCIAL FUNÇÃO EXEMPLOS DE USO CLÍNICO
Imunorregulação
rIb Alfa-interferona tipo I, Infergen Desconhecida, imunorreguladora Infecção crônica pelo vírus da hepatite C
interferona alfacon-I,
interferona consenso
rIb Interferona alfa-2a Roferon-A Desconhecida, imunorreguladora Leucemia de células pilosas, leucemia
(IFN␣-2a) mielógena crônica, sarcoma de Kaposi,
infecção crônica pelo vírus da hepatite C
Capítulo Cinqüenta e Três

rIb Peginterferona alfa-2a Pegasys Desconhecida, imunorreguladora Adultos com hepatite C crônica que
apresentam hepatopatia compensada e que não
foram anteriormente tratados com interferona
alfa; utilizada isoladamente ou em combinação
com ribavirina (Copegus)
rIb Interferona alfa-2b Intron A Desconhecida, imunorreguladora Hepatite B, melanoma, sarcoma de Kaposi,
(IFN␣-2b) linfoma folicular, leucemia de células pilosas,
condiloma acuminado, hepatite C
rIb Peginterferona alfa-2b PEG-Intron Interferona alfa-2b recombinante conjugada com Adultos com hepatite C crônica que
polietileno glicol (PEG) para aumentar a meia- apresentam hepatopatia compensada e que não
vida foram anteriormente tratados com interferona
alfa
rIb Interferona beta-1a Avonex, Rebif Desconhecida, antiviral e imunorreguladora Esclerose múltipla
(rIFN-␤)
rIb Interferona beta-1b Betaseron Desconhecida, antiviral e imunorreguladora Esclerose múltipla
(rIFN-␤)
rIb IFN-gama, interferona Actimmune Aumenta a resposta inflamatória e Doença granulomatosa crônica (DGC),
gama-1b antimicrobiana osteopetrose grave
rIb Interleucina-2 (IL-2), Proleukin Estimula as células T e B, as células natural Câncer renal metastático, melanoma
fator de ativação dos killer e as células killer ativadas por linfocinas
timócitos da epiderme (LAK)
(ETAF), aldesleucina
Hemostasia e trombose
rIb Ativador do Activase Promove a fibrinólise através de sua ligação Embolia pulmonar, infarto do miocárdio,
plasminogênio tecidual à fibrina e conversão do plasminogênio em oclusão de dispositivos de acesso venoso
(tPA), alteplase plasmina central
rIb Reteplase (muteína de Retavase Contém os domínios kringle-2 não glicosilado Manejo do infarto agudo do miocárdio,
deleção do ativador do e protease do tPA humano; funciona de modo melhora da função ventricular
plasminogênio (rPA)) semelhante ao tPA
rIc, rIb Tenecteplase TNKase Ativador do plasminogênio tecidual com Infarto agudo do miocárdio
maior especificidade para a conversão do
plasminogênio; apresenta substituições de
aminoácidos de Asp por Thr103, Gln por
Asp 117 e Ala para os aminoácidos 296-299;
promove a fibrinólise através da ligação da
fibrina e conversão do plasminogênio em
plasmina
rIb Fator VIIa NovoSeven Pró-trombótico (fator VII ativado; dá início à Hemorragia em pacientes com hemofilia A ou
cascata da coagulação) B e inibidores do fator VIII ou do fator IX
rIb Drotrecogina alfa Xigris Antitrombótico (inibe os fatores da coagulação Sepse grave com alto risco de morte
(proteína C ativada) Va e VIIIa), antiinflamatório
Outras
rIb Teriparatida Forteo Aumenta acentuadamente a formação óssea; Osteoporose grave
(paratormônio 1-34 administrada na forma de injeção uma vez ao
humano) dia
rIb, rIc Exenatida Byetta Substância mimética da incretina com ações Diabetes tipo 2 resistente ao tratamento com
semelhantes ao peptídio glucagon-símile 1 metformina e sulfoniluréia
(GLP-1); aumenta a secreção de insulina
dependente de glicose, suprime a secreção de
glucagon, retarda o esvaziamento gástrico e
diminui o apetite
rIb Fator de crescimento Regranex Promove a cicatrização de feridas, aumentando Adjuvante do desbridamento para úlceras
derivado das plaquetas a formação de tecido de granulação e a diabéticas
(PDGF), becaplermina proliferação e diferenciação dos fibroblastos
nIb Tripsina Granulex Proteólise Úlcera de decúbito, úlcera varicosa,
desbridamento de escaras, deiscência de
ferida, queimadura solar
rIb Nesiritida Natrecor Peptídio natriurético tipo B recombinante Insuficiência cardíaca congestiva
descompensada aguda
Ic: Proporcionam uma nova função ou atividade
nIc Papaína Accuzyme, Panafil Protease do mamão, Carica papaya Desbridamento de tecido necrótico ou
liquefação da descamação em lesões agudas
e crônicas, como úlceras de decúbito, úlceras
varicosas e diabéticas, queimaduras, feridas
pós-operatórias, feridas de cisto pilonidal,
carbúnculos e outras feridas
nIc Colagenase Collagenase, Santyl Colagenase obtida da fermentação por Desbridamento de úlceras dérmicas crônicas e
Clostridium histolyticum; digere o colágeno na áreas com graves queimaduras
Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas

base necrótica de feridas


|

rIc Dornase alfa, Pulmozyme Degrada o DNA em secreções pulmonares Fibrose cística; diminui as infecções do trato
desoxirribonuclease purulentas respiratório em pacientes selecionados com
humana I CVF superior a 40% do previsto
871

(Continua)
QUADRO 53.1 Classificação Funcional das Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas (Continuação)
872

CATEGORIA
|

(r, RECOMBINANTE;
n, NÃO-RECOMBINANTE) PROTEÍNA NOME COMERCIAL FUNÇÃO EXEMPLOS DE USO CLÍNICO
nIc L-asparaginase ELSPAR Proporciona uma atividade de asparaginase Leucemia linfocítica aguda (LLA), que requer
exógena, removendo a asparagina disponível do asparagina exógena para proliferação
soro; purificada de E. coli
nIc PEG-asparaginase Oncaspar Proporciona atividade de asparaginase exógena, Leucemia linfocítica aguda (LLA), que requer
removendo a asparagina disponível do soro; asparagina exógena para proliferação
purificada de E. coli
rIc Lepirudina Refludan Hirudina recombinante, um inibidor da trombina Trombocitopenia induzida por heparina (TIH)
Capítulo Cinqüenta e Três

da glândula salivar da sanguessuga medicinal


Hirudo medicinalis
nIc Estreptoquinase Streptase Converte o plasminogênio em plasmina; Infarto do miocárdio transmural em evolução
produzida por estreptococos beta-hemolíticos do agudo, embolia pulmonar, trombose venosa
grupo C profunda, trombose ou embolia arterial,
oclusão de cânula arteriovenosa
rIc Etanercept Enbrel Proteína de fusão dimérica entre o receptor do Artrite reumatóide (AR) ativa moderada a
fator de necrose tumoral solúvel recombinante grave após fracasso de outros tratamentos, AR
(TNFr) e a porção Fc da IgG1 humana juvenil poliarticular ativa moderada a grave
Grupo II: Proteínas Terapêuticas com Especificidade de Ligação
IIa: Interferência em uma molécula ou organismo através de sua ligação, bloqueando, assim, a sua função ou direcionando-a para degradação
Câncer
rIIa Rituximab Rituxan Anticorpo monoclonal (mAb) quimérico Tratamento do linfoma não-Hodgkin de célula
(humano/murino) que se liga a CD20, uma B CD20-positiva de baixo grau ou folicular,
proteína transmembrana encontrada em mais de recidivante ou refratário
90% dos linfomas não-Hodgkin de células B
rIIa Alentuzumab Campath Anticorpo monoclonal humanizado dirigido Leucemia linfocítica crônica de células B
contra o antígeno CD52 nas células T e B (LLC-B) em pacientes que foram tratados com
agentes alquilantes e que não responderam ao
tratamento com fludarabina
rIIa Cetuximab Erbitux mAb que se liga ao receptor do fator de Câncer colorretal
crescimento da epiderme (EGFR)
rIIa Bevacizumab Avastin mAb que se liga ao receptor do fator de Câncer colorretal
crescimento da epiderme (EGFR)
Imunorregulação
rIIa Alefacept Amevive mAb que se liga à CD2 sobre a superfície dos Adultos com psoríase em placas crônica
linfócitos e inibe a interação com o antígeno moderada a grave, que são candidatos ao
3 associado à função dos leucócitos (LFA-3); tratamento sistêmico ou fototerapia
essa associação é importante para a ativação dos
linfócitos T na psoríase
rIIa Efalizumab Raptiva Anticorpo monoclonal humanizado dirigido Adultos com psoríase em placas crônica
contra CD11a moderada a grave, que são candidatos ao
tratamento sistêmico
rIIa Infliximab Remicade Anticorpo monoclonal que se liga ao TNF-␣ e Artrite reumatóide, doença de Crohn
o neutraliza, impedindo a indução de citocinas
pró-inflamatórias, alterações na permeabilidade
das células endoteliais, ativação dos eosinófilos
e neutrófilos, indução de reagentes da fase
aguda e elaboração de enzimas por sinoviócitos
e/ou condrócitos
rIIa Anacinra Kineret, Antril, Synergen Antagonista do receptor de interleucina-1 Artrite reumatóide ativa moderada a grave em
recombinante adultos que não responderam a um ou mais
fármacos anti-reumáticos modificadores da
doença
Transplante
rIIa Muromonab-CD3 Orthoclone/OKT3 Anticorpo monoclonal que se liga à CD3 e Rejeição aguda de aloenxerto renal ou rejeição
bloqueia a função das células T de aloenxerto cardíaco ou hepático resistente
aos esteróides
rIIa Daclizumab Zenapaz mAG IgG1 humanizado, que bloqueia a resposta Profilaxia contra a rejeição aguda de
imune celular na rejeição de enxerto através de aloenxerto em pacientes submetidos a
sua ligação à cadeia alfa de CD25 (receptor de transplantes renais
IL-2), inibindo, assim, a ativação dos linfócitos
mediada pela IL-2
rIIa Basiliximab Simulect IgG1 quimérica (humana/murina) que bloqueia Profilaxia contra a rejeição de enxerto em
a resposta imune celular na rejeição de enxertos pacientes submetidos a transplante renal
através de sua ligação à cadeia alfa da CD25 recebendo um esquema imunossupressor,
(receptor de IL-2), inibindo, assim, a ativação incluindo ciclosporina e corticosteróides
dos linfócitos mediada por IL-2
Distúrbios pulmonares
rIIa Omalizumab Xolair Anticorpo monoclonal IgG que inibe a ligação Adultos e adolescentes (no mínimo, 12 anos
da IgE ao receptor de IgE de alta afinidade de idade) com asma persistente moderada a
sobre os mastócitos e os basófilos, diminuindo grave, que apresentam teste cutâneo positivo
a ativação dessas células e a liberação de ou reatividade in vitro a um aero-alérgeno
mediadores inflamatórios perene, e cujos sintomas são inadequadamente
controlados com corticosteróides inalados
rIIa Palivizumab Synagis mAb IgG1 humanizado que se liga ao sítio Prevenção da infecção pelo vírus sincicial
antigênico A da proteína F do vírus sincicial respiratório em pacientes pediátricos de alto
respiratório risco
Doenças infecciosas
Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas

rIIa Enfuvirtida Fuzeon Peptídio de 36 aminoácidos que inibe a entrada Adultos e crianças (a partir de 6 anos de
do HIV nas células do hospedeiro, através de idade) com infecção avançada pelo HIV
|

sua ligação à proteína do envelope do HIV


gp120/gp41
873

(Continua)
QUADRO 53.1 Classificação Funcional das Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas (Continuação)
874

CATEGORIA
|

(r, RECOMBINANTE;
n, NÃO-RECOMBINANTE) PROTEÍNA NOME COMERCIAL FUNÇÃO EXEMPLOS DE USO CLÍNICO
Distúrbios
cardiovasculares
rIIa Abciximab ReoPro Fragmento Fab do mAb quimérico (humano/ Adjuvante da aspirina e da heparina na
murino) 7E3, que inibe a agregação plaquetária prevenção da isquemia cardíaca em pacientes
através de sua ligação ao receptor de integrina submetidos a intervenção coronariana
glicoproteína IIb/IIIa percutânea ou pacientes prestes a sofrer
intervenção coronariana percutânea com
Capítulo Cinqüenta e Três

angina instável que não responde ao


tratamento clínico
nIIa Soro imune ovino DigiFab Fragmento de imunoglobulina monovalente Toxicidade da digoxina
antidigoxina, com fragmento para a ligação de antígeno (Fab)
fragmento Fab obtido de carneiro imunizado com derivado de
digoxina
Distúrbios endócrinos
rIIa Pegvisomanto Somavert Hormônio do crescimento humano recombinado Acromegalia
conjugado com PEG; bloqueia o receptor de
hormônio do crescimento
IIb: Estimulação de uma via de sinalização
rIIb, rIIa Trastuzumab Herceptin Anticorpo monoclonal que se liga ao receptor Câncer de mama
de superfície celular Her2/Neu e que controla o
crescimento de células cancerosas
rIIb (rIIc) Tositumomab Bexxar Anticorpo monoclonal que se liga ao antígeno Linfoma não-Hodgkin folicular CD20-
de superfície CD20 e estimula a apoptose positivo, com e sem transformação, em
pacientes cuja doença é refratária ao rituximab
e que sofreu recidiva após quimioterapia
IIc: Liberação de outros compostos ou proteínas
rIIc Gentuzumab Mylotarg Anticorpo monoclonal capa IgG4 anti-CD33 Recidiva da leucemia mielóide aguda CD33-
ozogamicina humanizado, conjugado com calicheamicina, positiva em pacientes com mais de 60
um agente quimioterápico que consiste em uma anos de idade e que não são candidatos à
molécula pequena quimioterapia citotóxica
rIIc (rIIb) I-131 tositumomab Bexxar Anticorpo monoclonal acoplado ao iodo-131 Linfoma não-Hodgkin folicular CD20-
radioativo; liga-se ao antígeno de superfície positivo, com e sem transformação, em
CD20 e libera radiação citotóxica (utilizada após pacientes cuja doença é refratária ao rituximab
o tositumomab sem I-131) e que sofreu recidiva após quimioterapia
Grupo III: Vacinas com Proteínas
IIIa: Proteção contra um agente estranho deletério
rIIIa HBsAg Engerix, Recombivax HB Proteína não-infecciosa sobre a superfície do Vacinação contra a hepatite B
vírus da hepatite B
rIIIa OspA LYMErix Lipoproteína não-infecciosa sobre a superfície Vacinação contra a doença de Lyme
externa de Borrelia burgdorferi
IIIb: Tratamento de doença auto-imune
rIIIb Acetato de glatirâmer Copaxone Desconhecida; modifica a resposta imune; Esclerose múltipla em recidiva-remissão
(anteriormente pode não atuar pelos mecanismos clássicos das
copolímero-1, vacinas
consiste em acetato
com L-Glu, L-Ala,
L-Tyr, L-Lys)
rIIIb IgG Anti-Rh Rhophylac Neutraliza os antígenos Rh que, de outro modo, Prevenção anteparto e pós-parto de rotina
poderiam induzir a formação de anticorpos anti- de imunização Rh(D) em mulheres Rh(D)-
Rh em uma mulher Rh-negativa negativas; profilaxia Rh em caso de
complicações obstétricas ou procedimentos
invasivos durante a gravidez; supressão da
imunização Rh em indivíduos Rh(D)-negativos
que recebem transfusões com eritrócitos
Rh(D)-positivos
IIIc: Tratamento do câncer
Atualmente em fase de estudos clínicos
Grupo IV: Proteínas para Diagnóstico
rIV DPPD Derivado protéico purificado Proteína não-infecciosa de Mycobacterium Diagnóstico de exposição à tuberculose
(DPPD) recombinante tuberculosis
rIV Antígenos HIV Imunoensaio enzimático Detecta anticorpos humanos contra o HIV Diagnóstico de infecção pelo HIV
(EIA), western-blot,
OraQuick, Uni-Gold
rIV Antígenos da hepatite Ensaio immunoblot Detecta anticorpos humanos contra o vírus da Diagnóstico de exposição à hepatite C
C recombinante (RIBA) hepatite C
rIV, rIa Hormônio de Geref Fragmento recombinante do GHRH que Diagnóstico de secreção deficiente de
liberação do estimula a liberação do hormônio do hormônio do crescimento
hormônio do crescimento (GH) pelas células somatotrópicas
crescimento (GHRH) da hipófise
rIV Secretina ChiRhoStim, ChiRhoClin Estimulação das secreções pancreáticas e da Auxílio no diagnóstico de disfunção
gastrina pancreática exócrina ou gastrinoma; facilita
a identificação da ampola de Vater e papilas
acessórias durante a colangiopancreatografia
retrógrada endoscópica
rIV Hormônio Thyrogen Estimula as células epiteliais da tireóide ou o Adjuvante do diagnóstico para o teste da
tireoestimulante tecido do câncer da tireóide bem diferenciado a tireoglobulina sérica no acompanhamento de
Modalidades Terapêuticas Baseadas em Proteínas

(TSH), tireotropina captar iodo e produzir e secretar tireoglobulina, pacientes com câncer bem diferenciado da
triiodotironina e tiroxina tireóide
|

rIV, rIb Glucagon GlucaGen Hormônio pancreático que aumenta o nível de Auxílio diagnóstico para diminuir a motilidade
glicemia ao estimular o fígado a converter o gastrintestinal em exames radiográficos;
875

glicogênio em glicose reversão da hipoglicemia

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